Cascos de Insularidades sob CLARIDADEs em Mar Alto - Escritas de Cabo Verde

September 3, 2017 | Autor: Ana Rodrigues | Categoria: Cabo Verde, Literatura caboverdiana
Share Embed


Descrição do Produto

1



Cf. Russel Hamilton, Literatura Africana Literatura Necessária II - Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Lisboa, Lisboa, Edições 70, Biblioteca de Estudos Africanos, 1984, p.93.
Gabriel Mariano, "A mestiçagem: seu papel na formação da sociedade caboverdiana", in Suplemento Cultural, Boletim de Propaganda e Informação, Praia, publicação da Imprensa Nacional, Outubro de 1958, p. 11.
Luís Filipe de Sousa Martins Torres de Carvalho, Rebeldia e Sensualidade no suplemento Cultural (Uma perspectiva de produção literária dos poetas "insubmissos"), Tese de Mestrado na F.L.U.L., acedido em 03/07/2010 em: http://www.fl.ul.pt/posgraduados/teoria_literatura/CarvalhoL1.pdf
Almeida Garret, Viagens na Minha Terra, Cap. I, Porto Editora, Outubro, 2005.
Manuel Brito-Semedo, Divisão das fases da literatura caboverdiana, acedido a 01/07/2010 e consultada em: http://memoria-africa.ua.pt/library/searchRecords/TabId/166/language/pt-PT/Default.aspx?q
Manuel Veiga (coord.), Cabo Verde, Insularidade e Literatura, Ed. Kaithala, Praia, 1998.
Laranjeira Pires (1995), As literaturas africanas de língua portuguesa, Universidade Aberta, Lisboa.

Manuel Veiga (coord.), Cabo Verde, Insularidade e Literatura, Ed. Kaithala, Praia, 1998.
Poesias Lyricas de Medina (1797); Sextinas Elegíacas (1805) Zargueida (1806); Georgeida (1819), entre outras.
Francisco de Paula Medina e Vasconcelos, Zargueida, in Biblioteca Pública Regional da Madeira, consultado a 06/07/2010 e disponível em: http://www.bprmadeira.org/imagens/documentos/File/bprdigital/ebooks/Zargueida1806b.pdf
Maria Luisa V. Paiva Boléo, Antónia Pusich (1805-1885) a primeira jornalista portuguesa, in Portal O Leme, consultado a 08/07/2010 em: http://www.leme.pt/biografias/pusich/
Nuno Catharino Cardoso (1887), in Canadian Libraries, Poetisas Portuguesas, Livraria Scientífica, Lisboa, 1917.
Carla Gastaud, Erudição e Ignorância no Novo Almanach de Lembranças Luzo-Brasileiras para o ano de 1887, Resumo, UFRGS, Brasil, consultado a 12-07-2010 e disponível em: http://www.faced.ufu.br/colubhe06/anais/arquivos/307CarlaGastaud.pdf
Carlos Loures, Eugénio Tavares, Vidas Lusófonas, acedido a 05/07/2010 e consultado em: http://www.vidaslusofonas.pt/eugeniotavares.htm#_ftn5
Alberto Carvalho, A Narrativa Caboverdiana: nacionalidade e nacionalismo, in Revista de Filologia Românica da Univ. Clássica de Lisboa, consultado a 17/0/72010 e disponível em: http://revistas.ucm.es/fll/0212999x/articulos/RFRM0101220085A.PDF
Eugénio Tavares, Triste regresso, Brava, 1900, in Manuel Ferreira, 50 poetas africanos, Lisboa, Plátano Editora, 1ª edição, s.d., p. 145.
Jorge Barbosa, "Prelúdio", António Miranda, Poesia Africana, disponível em: http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_africana/cabo_verde/jorge_barbosa.html
Alberto Carvalho, Do Classicismo ao Realismo na Claridade, Instituto Camões – Revista de Letras e Culturas Lusófonas, nº 1, Abril-Junho 1998, acedido a 01/07/2010 e consultado em: http://www.instituto-camoes.pt/revista/claridade.htm
Alberto Carvalho, De Baltazar Lopes, a Obra e o Homem, Revista ICALP, vols. 16 e 17, Junho-Setembro de 1989, 245-252, in Instituto Camões – Revista de Letras e Culturas Lusófonas.
Maria Aparecida Santilli e Suelly Fadul Vilibor Flory (org.), Literaturas de língua portuguesa, Cabo Verde – Ilhas do Atlântico: em prosa e verso, 2001, II, pp. 85-114, consultado a 17/07/2010 e disponível em: http://www.google.com/books?hl=pt-PT&lr=lang_pt&id=sxDihLdQC58C&oi=fnd&pg=PA13&dq=peri%C3%B3dico+certeza+cabo+verde&ots=iVc3IlyJs5&sig=_yosHhNFehRryaWu8Kz6y6_k0OY#v=onepage&q&f=false
Baltazar Lopes, O Dialecto Crioulo de Cabo Verde, Lisboa, Imprensa Nacional, 1957.
João Nobre de Oliveira, "A Imprensa Cabo-verdiana 1820-1975", edição Fundação Macau, Setembro de 1998, disponível em: http://www.spigamidju.com/BIOGRAPHY/manuel_lopes.htm
Imagem de Tamarindo retirada da Fonte: http://clearingskies.com/Images/tamarind%20tree.jpg
Alberto Carvalho, Do Classicismo ao Realismo na "Claridade", Camões – Revista de Letras e Culturas Lusófonas, nº 1, Abril – Junho 1998.
Simone Caputo Gomes, A poesia de Cabo Verde: um projecto identitário, consultado a 17/07/2010 e disponível em: http://simonecaputogomes.com/textos/a%20poesia%20de%20cabo%20verdeL.pdf






Cascos de Insularidades sob "CLARIDADEs" em Mar Alto
Escritas de Cabo Verde

















Ana de Neves Rodrigues

Frequência de Doutoramento em Línguas, Literaturas e Culturas,
Especialidade Literatura Comparada, na
FCSH – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da
Universidade Nova de Lisboa.
[email protected]


Artigo realizado no âmbito do Mestrado em Estudos Regionais e Locais
Universidade da Madeira, 2010.





ÍNDICE

Introdução
3
Cascos de Insularidades
4
Grandes Escritores Caboverdianos do Século XIX
6
Francisco de Paula Medina e Vasconcelos
6
D. Antónia Gertrudes Pusich
6
D. Gertrudes Francisca Lima e os Almanaques do século XIX
7
Eugénio de Paula Tavares
8
Jorge Vera-Cruz Barbosa
9
Nas vésperas da "Claridade" artística
10
Baltazar Lopes
10
Manuel Lopes
11
"Claridade" – a grandiosa árvore do Humanismo
11
Conclusão
13
Bibliografia
13






Introdução
O alvo deste trabalho é o de tentar encontrar alguns fragmentos da produção literária caboverdiana até ao aparecimento da revista Claridade, em 1936. Por entre passagens e paisagens de Cabo Verde, verificamos que a insularidade se encontra patente em cada esquina e a sua arquitectura é singelamente esculpida por entre translúcidos sentimentos de mar e tórridas experiências de plantações de milho, secas, fomes, doenças, colonizações, servidão, emigrações, saudades e regressos de quem jmais desiste de tentar voltar à sua ilha. Por entre as frinchas de cada escrita surgem imagens da grande dignidade de um povo que se recusa a negar as suas raízes. Perante tal dimensão e riqueza literárias, mencionaremos apenas alguns escritores que deram a conhecer ao mundo a identidade caboverdiana e a intensidade de tal crioulidade.
Reza a História que a posteriormente denominada Ilha da Boa Vista assistiu, pela primeira vez em 1460, à ancoragem das embarcações portuguesas, tendo sido assim nomeada após a longa permanência dos homens no mar. As ilhas de Santo Antão, São Vicente, Santa Luzia, São Nicolau e Santiago, canonizando na memória dos povos o dia do seu achado, destacam-se da Ilha de Maio, reveladora do mês da descoberta, da Ilha do Fogo, cujo vulcão a dominava, da Ilha da Boa Vista e da Ilha do Sal, pelas extensas salinas nela existentes. No entanto, a adversidade flutuante fazia-se sentir perante um restante pedaço de terra à qual foi dado o nome de Ilha Brava. Descoberto o território, apoderam-se dos cerca de 4000 km2, em que os portugueses desempenharam um papel fundamental na colonização porque apresentaram-se com o domínio da tecnologia para cultivo dos solos difíceis, o que criou na população a expectativa de melhoria do nível de vida geral. E foi isto que fez com que os portugueses, contrariamente aos outros povos invasores, fossem aceites na comunidade.
A transplantação de povos para uma região inóspita e com um clima desfavorável deu origem a uma sociedade detentora de características particulares onde prevaleceu, não só a organização e a gestão institucional do colonizador, mas também onde o idioma destes foi aceite como referência identitária. Foi graças a este pormenor que a sociedade caboverdiana se foi metamorfoseando numa "sociedade unitária e homogénea" e a isso não terá sido alheio "um contínuo alargamento da área ou do campo de propagação do mestiço".
Da triangulação do tráfego negreiro intracontinental, em que os escravos eram capturados em África e levados para o arquipélago de Cabo Verde, de onde partiam para a Europa e Brasil para trabalharem nas explorações de cana-de-açúcar, algodão e café, até aos internos movimentos de libertação, viveram-se conjunturas sequenciais de apogeu e queda, dando acesso até à tão desejada conquista da independência em 1975.
Na literatura também se vislumbram "nesgas" desse sol revelador, reflexo das mudanças políticas sofridas no arquipélago e sentidas com o final da monarquia e a implantação da república em 1910, posteriormente interrompida pela ditadura militar em 1926 e a instauração do Estado Novo, que se prolonga até 1933. Sentem-se resquícios de uma outra fase da produção literária até à independência nacional de 1975, seguindo-se a primeira república até 1990, e a segunda república até ao ano 2000. Actualmente, 10 anos passados, também a terceira república tem dado à luz produções literárias de grande interesse.


Cascos de Insularidades
A necessidade que todos os povos possuem de conhecer a matriz histórica do seu passado torna-se fundamental para a auto-afirmação perante as culturas dominadoras, razão pela qual o povo caboverdiano, tal como outras gentes, reivindique para si o mito da Atlântida, com toda essa amplificada cultura e civilização submersas.
A palavra, enquanto suporte de vivências, estimula o despertar das consciências para o brotar de novas árvores que o mesmo solo, regado por chuvas diferentes, começa a produzir. De profundas raízes e troncos consistentes, os seus ramos sólidos e firmes permitem antever a folhagem do Humanismo, enquanto as árvores dão os seus frutos, distinguindo-as de todas as outras espécies. Através das tradições orais, das canções e da literatura, os rebentos espelham bem as imagens da crioulidade que se instala sempre que o ritmo do batuco rima com palavras de finaçon, por entre os contos fantásticos da "boca da tarde". Os cerimoniais espelham bem a ligação do povo com o transcendente, com o milagre do nascimento e com a transição ocorrida na morte. As vivências caboverdianas ganham forma através dos conteúdos das cantigas de trabalho, as quais jamais podem ser ignoradas neste humilde processo de construção da crioulidade esclavagista que se metamorfoseia através da abolição da escravatura e passa a ver-se ao espelho na Escola, essa grandiosa instituição destinada à educação e à homogeneização social e cultural. Apesar da necessária mudança de mentalidades tornar o processo bastante demorado, o ser ou o não querer ser crioulo reflectem bem a indecisão constante entre a aceitação e afirmação dessa mesma crioulidade. Se considerarmos, não o fenómeno em si mesmo, mas a sua origem, então talvez possamos ter em consideração a existência de crioulidades. Se a localização geográfica for o nosso ponto de partida, certamente que consideramos Cabo Verde como um estado africano. No entanto, se de uma perspectiva geoestratégica se tratar, concluímos que a história e cultura caboverdianas resultam de um palimpsesto de influências africanas, mediterrânicas e atlânticas que, em uníssono, construíram um ancoradouro de lusofonia e de latinidade.
As primeiras manifestações literárias surgem aquando da imprensa em Cabo Verde, a qual permitiu a publicação do Boletim Oficial em 1842. O processo foi lento e a imprensa privada só assume o seu papel na sociedade a partir de 1877. É nesta altura que Eugénio Tavares se destaca pois, enquanto compositor das famosas canções crioulas designadas de mornas, ele é um acérrimo defensor da sua terra e da sua gente.
A primeira obra em prosa data de 1856. Intitulada O Escravo é da autoria de José Evaristo de Almeida, e baseia-se num contexto histórico caboverdiano que denuncia a falta de humanidade da escravatura. A primeira publicação em poesia foi a Biographia de António Pusich, datade de 1872 e da autoria da sua filha Gertrudes.





Grandes Escritores Caboverdianos do Século XIX

Francisco de Paula Medina e Vasconcelos (1768-1824),
Ao considerar os escritores de Cabo Verde, e em especial aos que expressam na sua produção literária um elo com a Madeira, não nos devemos cingir apenas aos que nasceram nas ilhas caboverdianas, mas também aos que lá viveram, deixando a sua impressão digital nos seus escritos.
Foi, entre outros, o caso de Francisco de Paula Medina e Vasconcelos que, tendo ingressado na Universidade de Coimbra, foi preso em 1790 após diversas actividades políticas revolucionárias. De regresso ao Funchal em 1792 volta a rebelar-se, sendo preso e condenado a oito anos de degredo em Cabo Verde. Apesar do percurso replecto de turbuência, era considerado um prestigioso poeta, com várias publicações. No entanto, a que obteve mais impacto foi Zargueida: descobrimento da Ilha da Madeira, considerada um poema heróico com informações históricas de relevo, para além dos pormenores da lenda de Manchim e de relevantes descrições, não apenas topográfica, mas também relacionadas com a flora e a fauna da ilha, e do qual inserimos em anexo apenas o Canto V, a título de exemplo.

Antónia Gertrudes Pusich (1805-1883)
A Ilha caboverdiana de São Nicolau assistiu ao nascimento daquela que viria a ser a "dama de ferro" do jornalismo, pois revelou ser a primeira mulher a desafiar a hegemonia masculina ao assinar o cabeçalho de um jornal português sem recorrer a pseudónimos. A educação que recebeu do pai, de origem nobre e detentor de uma vasta fortuna, demonstrou ser fundamental para o seu percurso de vida pois, desde criança, sempre acompanhou os pais na ajuda prestada às populações de Cabo Verde, vítimas de prolongadas secas e das sequentes doenças e fomes. É a própria que alega ter sido o seu pai a terminar com os castigos corporais aplicados em público pelo anterior governador. Ainda em tenra idade, aprendeu a ler e a praticar a arte da escrita através de singelos versos, ao mesmo tempo que aprendia várias línguas. Era ela quem acompanhava o pai quando este percorria as diversas ilhas, e era sua a função de tirar notas, assim como redigir alguns documentos. Só após passar por três casamentos e onze filhos é que teve a sua primeira publicação em 1841. Foi graças à sua enorme persistência e frontalidade que o jornalismo lusófono, através do vespertino O Liberal, assistiu a mudanças culturais que marcaram a história de Cabo Verde. Para além disso, fundou ainda outros três jornais de grande relevo, transmitindo a ideia de que todas as mulheres podiam passar a ser parte activa da vida política e social da sociedade despertando nelas o seu sentido cívico.
Das suas obras destacam-se Olinda ou a Abadia de Comnor Place, inspirada numa novela de Walter Scott. Para além de escrever histórias de terror por entre castelos, ruínas, fugas, salteadores, mortes e tempestades, dedicou-se também a escrever sobre episódios da vida dos elementos das famílias reais com as quais travava enorme amizade, tarefa bastante facilitada pela sua longevidade. Foi, no entanto, o facto de ter sido a fundadora de três periódicos que a assinalou como a primeira jornalista portuguesa, deixando transparecer a sua personalidade multifacetada de pedagoga, para além de activa na vida social e política da época. Das suas produções literárias destaca-se o poema "Madeira", compilado na obra de Nuno Catharino Cardoso publicado em 1917. De regresso a Lisboa passa a residir na Rua de São Bento, tendo vindo a falecer a 6 de Outubro de 1883.

D. Gertrudes Francisca Lima e os Almanaques do Século XIX
Nascida na ilha de Santo Antão, sempre foi considerada uma mulher muito inteligente e instruída. Educada num colégio particular em Coimbra, inicia-se na escrita sob as temáticas do mar, da tempestade, não esquecendo os abismos por entre caminhos que mais pareciam de animais do que para homens, para além das histórias fantásticas de feiticeiras e duendes. Em 1895 foi colaboradora do Almanaque Luso-Africano (1894-1899) tendo também publicado várias poesias no Almanaque das Lembranças.
Os Almanaques exercem aqui um papel educador e informativo de suma importância, não só para os leitores, mas também para os analfabetos que, ao serão, desfrutam destas leituras. Tematicamente orientado para a vida urbana, é direccionado para a toda a comunidade com o intuito de difusão de conhecimentos múltiplos. Para além do habitual calendário, dá espaço à poesia e à prosa, acompanhadas de ilustrações desenhadas para o efeito. Este facto demonstra o importante papel do editor ou fundador, pois é ele que selecciona os autores, os ilustradores e os temas da publicação, facilitando o acesso aos textos originais e incentivando a leitura e a aprendizagem. Os Almanaques do século XIX apresentam temáticas ligadas ao clima, aos transportes marítimos e ferroviários, ao lançamento de selos de correio, ao aconselhamento sobre medicamentos e aos respectivos testemunhos de curas, assim como a temáticas gerais ligadas à história, geografia, agricultura ou etnografia. São, também, expostos casos reais de situações ridículas ou de demonstração de ignorância, lado a lado com a insistência na aquisição de conhecimentos e de instrução para obtenção da formação cívica básica.

Eugénio de Paula Tavares (1867-1930)
Nasce a 18 de Outubro de 1867 na Ilha Brava, tendo a sua mãe morrido no parto. Três anos depois o pai morre em serviço na Guiné, peo que o menino fica a cargo do médico José Martins de Vera Cruz e da sua irmã, D. Eugénia da Vera Cruz Medina e Vasconcelos. Em 1882 é publicado o seu primeiro poema no Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro, numa dedicatória à sua madrinha. Depois de contrair marimónio com D. Guiomar Leça em 1887, publica uma selecção de canções crioulas em 1895, às quais dá o nome de Manidjas. Em 1899 começa a publicar textos na Revista de Cabo Verde que era editada em Lisboa. Em 1900 vê-se obrigado a exilar-se nos Estados Unidos para fugir à perseguição colonial, dando início ao jornal Alvorada, e tendo regressado apenas em 1917. Assim que volta a Cabo Verde envolve-se na colaboração de vários periódicos, entre eles o Manduco, publicado na Ilha do Fogo, o Independente da Praia, o Futuro de Cabo Verde, o Progresso Mindelense de São Vicente, para além de também fundar A Voz de Cabo Verde. Colabora no Correio Português, de New Bedford, colabora com A Tribuna, da Ilha Brava, para além de compor e publicar uma canção dedicada à República. Para além das publicações de Cartas Caboverdianas, Amor que Salva ou A Santificação do Beijo, ou Mal de Amor, após a morte do pai adoptivo, e depois de julgado e absolvido, regressa à Ilha Brava e, juntamente com amigos, cria a Escola Governador Guedes Vaz e funda a Troupe Musical Bravense. Vivia-se o ano de 1927 quando o governador-geral Guedes Vaz visita a ilha e apresenta a Eugénio Tavares um pedido de desculpa pelas ofensas proferidas pela anterior governação. O dia 1 de Junho de 1930 vê-o abandonar este mundo em sequência de uma crise de angina de peito. Edições póstumas surgiram, tais como Mornas – Cantigas Crioulas, mantendo a sua memória viva até à actualidade.

Jorge Vera-Cruz Barbosa (1902-1971)

Nascido em 1902 na Ilha de Santiago, Jorge Barbosa é um nome sonoro da crição da revista Claridade e dos movimentos político-sociais, e também literários, que a mesma representa. Funcionário público de profissão, Barbosa não se cansa de intervir no mundo intelectual da época. O ano de 1936 é considerado o ano de viragem na literatura caboverdiana com o aparecimento da Revista Claridade, onde escreve Arquipélago, um texto que revela mudanças na produção literária e considerada a obra que abriu caminho para a Modernidade e o Realismo insular. As razões de tais afirmações prendem-se com o estilo de poesia que, em tom de lamento, denuncia as problemáticas vigentes: a fome, o drama da chuva, a desilusão, a perda das sementeiras. É desta forma que o abandono da precedente visão romântica e a utilização da poesia para plasmar temas do quotidiano, assume uma estética realista.
Sendo um contador de histórias, publica no nº 2, e último, da revista Certeza (1944), em plena II Guerra Civil, um conto intitulado O Galo que cantou no Baía, cuja peripécia se assume num contexto que explica os grandes motivos da literatura caboverdiana neste novo ciclo de produção literária ligada à emigração, o ir ou ficar.
Anteriormente, tais temas também eram abordados, mas numa perspectiva romântica, como no caso do poema Triste Regresso de Eugénio Tavares, em que apresenta a seca prolongada com os versos "as nuvens vão / fugindo na amplidão / sem que uma gota de água enviem lá e cima…". Barbosa, no entanto, apresenta o quotidiano de forma muito objectiva, sem rodeios mas recheado de pormenores, de que o Poema "Prelúdio" é uma boa ilustração, o qual se encontra, na íntegra, nos Anexos.
Para além disso escreveu ainda Ambiente em 1941 e Caderno de um Ilhéu em 1956, tendo vindo a falecer em Portugal em 1971.




Nas vésperas da "Claridade" Artística

O período anterior ao da primeira publicação da revista Claridade, em 1936 no Mindelo é, por alguns intelectuais, considerado de pré-claridoso, pois era inspirado nas características classicistas e românticas de influência europeia. Com a publicação desta revista, que os intelectuais consideram de emancipação cultural, social e política da sociedade caboverdiana, evolui-se para uma estética denominada de Novo Realismo.
Fundada por Baltasar Lopes, Jorge Barbosa e Manuel Lopes, tinha o alvo principal de se afastar da influência estetico-literária portuguesa e de dar voz ao povo. Dando a primazia à língua crioula, renascida das cinzas após décadas de repressão colonialista, Claridade apresentava-se, também, como um mecanismo de desafio à autoridade estabelecida. Sendo o dia-a-dia o tema fulcral, o objectivo primordial era o de defender as raízes do povo. Assistia-se, assim, não à adopção de uma estética vinda do exterior, mas a um renascimento, um reencontro com a sua essência.


a. Baltazar Lopes (1907-1990)
Com enorme talento multifacetado, licenciado em Direito e em Filologia Românica, foi advogado, e professor no Liceu Gil Eanes, na ilha de SãoVicente, durante vários anos, filólogo, escritor e um dos fundadores da revista Claridade, contribuíndo para a grande mudança ocorrida na literatura caboverdiana e tendo, muitas vezes, assinado os seus poemas sob o pseudónimo de Osvaldo Alcântara.
Entretanto, em 1947, rasga caminho para o novo romance Chiquinho, que a Claridade publica em fascículos, tornando-se o seu romance mais conhecido. Deixou-nos também uma completa descrição dos crioulos de Cabo Verde.


Manuel Lopes (1907-2005)
Nascido na Ilha de São Vicente a 23 de Dezembro de 1907 foi, apesar contrariado, levado por familiares para residir em Coimbra durante quatro anos, onde ficou até aos 18 anos de idade. Na memória permaneceu um indelével desenraizamento que resultou num constante sentimento de nostalgia visível ao longo de toda a sua obra poética. De regresso à sua terra natal, começa a trabalhar no Telégrafo Inglês, ao mesmo tempo que produz variadas obras literárias abrangendo vários estilos, a saber, poesia, ensaios, contos, romances e uma antologia poética. Quando questionado acerca da temática recorrente que aborda, respondeu "sempre o mar ou a ilusão do mar à volta". Aos noventa e oito anos de idade, um dos bairros antigos de Lisboa assiste ao desaparecimento de Manuel Lopes, o último sobrevivente caboverdiano da primeira geração "Claridosa". Poeta sensível e ensaísta perspicaz, distingue-se pela empatia humana visível nas personagens que cria. A 26 de Janeiro de 2005 o seu corpo foi cremado no Cemitério do Alto de São João, em Lisboa, onde repousam as suas cinzas.


"Claridade" – a grandiosa árvore do Humanismo

Cabo Verde vivia uma grande necessidade de mudança a nível intelectual, a qual se iniciou com a publicação da revista Claridade, em 1936. Os momentos vividos com a sua publicação são considerados "claridosos", pois toda a fruição girava ao seu redor.
A revista conta-nos a história de uma aventura em que Cabo Verde é a personificação do viajante que, deslocando-se no colossal cenário do Mundo, percorre as rotas do Humanismo. É precisamente aqui que o rosto da crioulidade começa a assumir novas cores e contornos sem nunca perder as marcas da sua insularidade. Um sentimento brota deste viajante, que é o de conquistar os novos horizontes da irmandade. Enquanto o obscurantismo do Passado o levara, contra a sua própria vontade, para territórios distantes e desconhecidos, o Humanismo iluminista daquele momento Presente instiga-o a conhecer e a conquistar novos torrões existenciais, não permitindo que esse definhar pelo desandar do Tempo o condene à destruição.
É na cidade de Mindelo, palco de emancipação social, política e cultural, que germina a revista Claridade, tornando-se um marco cultural entre o "antes" e o que se almeja para o futuro. O Classicismo e os referenciais românticos portugueses, dominantes ao longo do século XIX, dão lugar ao movimento estético contemporâneo denominado Realismo, visto espelharem "as realidades do quotidiano do povo" apesar de tais iniciativas partirem da nova burguesia liberal. Esta estética realista dava resposta à nova situação social e contribuiu para a realização da nação enquanto Estado.
Ao mesmo tempo, tal realismo bastante apurado permitiu adaptar a revista aos seus colaboradores, entre eles José Lopes, Januário Leite, Félix Monteiro, António Aurélio Gonçalves, Gabriel Mariano, Jaime de Figueiredo, Pedro Corsino de Azevedo, António Nunes, Henrique Teixeira de Sousa, Jorge Pedro Barbosa, Orlanda Amarilis, Guilherme Rochetau, Virgílio Pires, Artur Vieira, Viriato Gonçalves e Arnaldo França, escritores e intelectuais considerados claridosos, também eles participantes na revista Certeza e no "Boletim dos Estudante" do Liceu Gil Eanes, ambos com os seus primórdios em São Vicente.
De entre estes destacamos Nuno Miranda, aluno do último ano do Liceu Gil Eanes, que se vislumbra no nº 2 do periódico Certeza.




Conclusão
Assim nasceu a Modernidade da Literatura Caboverdiana, em que os episódios realistas eram o ponto central da produção intelectual. Em sequência desta fruição do olhar o eu e o outro com olhos iluminados, a década de 60 inicia o que os intelectuais denominaram de fase pós-claridosa. A emergência da literatura caboverdiana afirma-se pela consciência da diferença perante e outro, europeu ou africano. Esta consciência baseia-se, não só na diferença da epiderme, mas também na histórica, social e cultural.
Finalmente, os cascos das insularidades, durante séculos espalhados em mar alto, davam à costa, através das prásinas águas cristalinas que adormecem no fino abraço das areias mornas. É Claridade quando surge a doçura do verdadeiro e divino subtilmente decalcado para que todos os homens, de todas as gerações, recordem que a essência reside, não no nome que damos às coisas, mas na sua própria natureza.





















7. BIBLIOGRAFIA:

BOLÉO, Maria Luisa V. Paiva, Antónia Pusich (1805-1885) a primeira jornalista portuguesa, Portal O Leme, consultado a 08/07/2010 em: http://www.leme.pt/biografias/pusich/

BRITO-SEMEDO, Manuel, História de Cabo Verde, in Porton di nos ilha, consultado a 01/07/2010 e disponível em: http://portoncv.gov.cv/portal/page?_pageid=118,190644&_dad=portal&_schema=PORTAL

_______________, Manuel, Divisão das fases da literatura caboverdiana, consultado a 01/07/2010 e disponível em: http://memoria-africa.ua.pt/library/searchRecords/TabId/166/language/pt-PT/Default.aspx?q

CARDOSO, Nuno Catharino (1887), in Canadian Libraries, Poetisas Portuguesas, Livraria Scientífica, Lisboa, 1917, acedido a 05/07/2010 em: http://www.archive.org/stream/poetisasportugue00carduoft#page/n3/mode/2up

CARVALHO, Alberto (1998) Do Classicismo ao Realismo na "Claridade", Camões – Revista de Letras e Culturas Lusófonas, nº 1, Abril – Junho 1998, acedido a 01/07/2010 e consultado em: http://www.instituto-camoes.pt/revista/claridade.htm

___________, Alberto (1998), De Baltazar Lopes, a Obra e o Homem, Revista ICALP, vols. 16 e 17, Junho-Setembro de 1989, 245-252, in Instituto Camões – Revista de Letras e Culturas Lusófonas, consultado a 11 /07/2010 e disponível em: http://cvc.instituto-camoes.pt/bdc/revistas/revistaicalp/baltasarlopes.pdf

___________, Alberto, A Narrativa Caboverdiana: nacionalidade e nacionalismo, in Revista de Filologia Românica da Univ. Clássica de Lisboa, consultado a 17/0/72010 e disponível em: http://revistas.ucm.es/fll/0212999x/articulos/RFRM0101220085A.PDF


CARVALHO, Luís Filipe de Sousa Martins Torres de, Rebeldia e Sensualidade no suplemento Cultural (Uma perspectiva de produção literária dos poetas "insubmissos"), Tese de Mestrado na F.L.U.L., acedido a 03/07/2010 em: http://www.fl.ul.pt/posgraduados/teoria_literatura/CarvalhoL1.pdf

GARRET, Almeida, Viagens na Minha Terra, Cap. I, Porto Editora, Outubro, 2005.

GASTAUD, Carla, Erudição e Ignorância no Novo Almanach de Lembranças Luzo-Brasileiras para o ano de 1887, Resumo, UFRGS, Brasil, consultado a 12-07-2010 e disponível em: http://www.faced.ufu.br/colubhe06/anais/arquivos/307CarlaGastaud.pdf

GOMES, Simone Caputo, Literopintar Cabo Verde: a criação de autor ia feminina, Revista Crioula, nº 3, Maio 2008, consultada a 11/07/2010 e acedida em:
http://www.fflch.usp.br/dlcv/revistas/crioula/edicao/03/Artigo%20Mestre%20-%20Profa.%20Dra.%20Simone%20Caputo%20Gomes.pdf

HAMILTON, Russel, Literatura Africana Literatura Necessária II - Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Lisboa, 1984, Edições 70, p.93.

LOPES, Baltazar, O Dialecto Crioulo de Cabo Verde, Lisboa, Imprensa Nacional, 1957.

LOURES, Carlos, Eugénio Tavares, Vidas Lusófonas, acedido a 05/07/2010 e consultado em: http://www.vidaslusofonas.pt/eugeniotavares.htm#_ftn5

MARIANO, Gabriel, A mestiçagem: seu papel na formação da sociedade caboverdiana, in Suplemento Cultural, Boletim de Propaganda e Informação, Praia, publicação da Imprensa Nacional, Outubro de 1958.

MIRANDA, António, "Prelúdio" de Jorge Barbosa, in Poesia Africana, consultado a 02/07/2010 e disponível em: http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_africana/cabo_verde/jorge_barbosa.htm

MOSER, Gerald M., More than Mornas: Eugénio Tavares's Other Writtings, Luso-Brazilian Review, Vol. 23 nº 1 (Verão 1986), pp. 17-35, publicado pela University of Wisconsin Press, consultado a 05/07/2010 em: http://www.jstor.org/pss/3513386

OLIVEIRA, João Nobre de, "A Imprensa Cabo-verdiana 1820-1975", edição Fundação Macau, Setembro de 1998, disponível em: http://www.spigamidju.com/BIOGRAPHY/manuel_lopes.htm

PIRES LARANJEIRA, Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa, Universidade Aberta, Lisboa 1995.

SANTILLI, Maria Aparecida e FLORY, Suelly Fadul Vilibor (org.), Literaturas de língua portuguesa, Cabo Verde – Ilhas do Atlântico: em prosa e verso, 2001, II, pp. 85-114, consultado a 17/07/2010 e disponível em: http://www.google.com/books?hl=pt-PT&lr=lang_pt&id=sxDihLdQC58C&oi=fnd&pg=PA13&dq=peri%C3%B3dico+certeza+cabo+verde&ots=iVc3IlyJs5&sig=_yosHhNFehRryaWu8Kz6y6_k0OY#v=onepage&q&f=false

SILVA, António Correia e (1991), História de Cabo Verde Vol. I, ALBUQUERQUE, Luís e SANTOS, Mª Emília Madeira (coord.), in Memória de África consultado a 01/07/2010 e disponível em:
http://memoria-africa.ua.pt/library/searchRecords/TabId/166/language/pt-PT/Default.aspx?q

TAVARES, Eugénio Triste regresso, Brava, 1900, in Manuel Ferreira, 50 poetas africanos, Lisboa, Plátano Editora, 1ª edição, s.d., p. 145.

VASCONCELOS, Francisco de Paula Medina e, Zargueida, in Biblioteca Pública Regional da Madeira, consultado a 06/07/2010 e disponível em: http://www.bprmadeira.org/imagens/documentos/File/bprdigital/ebooks/Zargueida1806b.pdf

VEIGA, Manuel (coord.), Cabo Verde, Insularidade e Literatura, Ed. Kaithala, Praia, 1998, consultado a 03/07/2010 e disponível em: http://books.google.pt/books?id=KJE99vLo1uwC&pg=PA202&lpg=PA202&dq=A+mesti%C3%A7agem:+seu+papel+na+forma%C3%A7%C3%A3o+da+sociedade+caboverdiana&source=bl&ots=ZOGSJeZsa7&sig=jlKB1PoErp_bCiQ5sdn_7BOHkZ4&hl=pt-PT&ei=6SZETN_zLI-ROMX26NMM&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=7&ved=0CC0Q6AEwBg#v=onepage&q&f=false

TLAN, Nikice, In memoriam à esquecida Antónia Gertrudes Pusich, Faculdade de Letras de Zagreb, trabalho científico publicdo a 16 de Dezembro de 2005. Consultado a 08-07-2010 e disponível em:
http://docs.google.com/viewer?a=v&q=cache:J0EcfjzKkmAJ:hrcak.srce.hr/file/26868+gertrudes+pusich+poema+madeira&hl=pt-PT&gl=pt&pid=bl&srcid=ADGEESiHmxbc---AtcMBeZa6JMN5ursIQ4jGQAUsg53rbFDfvXk2-norQIMRvU8XtIX50oOzr2lAJkP0Br7maTOOyZojZac-tnW-IBUA0Exr8vjhtkZ9_x8RU_YqFZ71UGdgTQbigeCF&sig=AHIEtbRmW4GIW_MFCVxaJT4jpNQ8yOmQEA


8. ANEXOS

Zargueida: descobrimento da Ilha da Madeira, poema heróico, de Francisco de Paula Medina Vasconcelos, Lisboa, 1806.

Madeira, poema de D. Antónia Gertrudes Pusich.

Os três periódicos fundados por D. Antónia Gertrudes Pusich

D. Gertrudes Ferreira Lima.

Poema Prelúdio, de Jorge Barbosa.

Reprodução da capa do 1º número da Revista Claridade



1 - Zargueida: descobrimento da Ilha da Madeira, poema heróico, de Francisco de Paula Medina Vasconcelos, Lisboa, 1806.




2- Madeira, poema de D. Antónia Gertrudes Pusich



































3 - Os três periódicos fundados por D. Antónia Gertrudes Pusich
























4 - D. Gertrudes Ferreira Lima




5 – Poema Prelúdio, de Jorge Barbosa
PrelúdioQuando o descobridor chegou à primeira ilhanem homens nusnem mulheres nuasespreitandoinocentes e medrososdetrás da vegetação.Nem setas venenosas vindas do ar nem gritos de alarme e de guerra ecoando pelos montes.Havia somenteas aves de rapinade garras afiadasas aves marítimas de vôo largoas aves canorasassobiando inéditas melodiasE a vegetaçãocujas sementes vieram presasnas asas dos pássarosao serem arrastados para cápelas fúrias dos temporais.Quando o descobridor chegoue saltou da proa do escaler varado na praiaenterrando o pé direito na areia molhadae se persignoureceoso ainda e surpresopensa n´El-Reinessa hora entãonessa hora inicialcomeçou a cumprir-se este destino ainda de todos nós.
Prelúdio

Quando o descobridor chegou à primeira ilha
nem homens nus
nem mulheres nuas
espreitando
inocentes e medrosos
detrás da vegetação.

Nem setas venenosas vindas do ar nem gritos de alarme e de guerra ecoando pelos montes.

Havia somente
as aves de rapina
de garras afiadas
as aves marítimas
de vôo largo
as aves canoras
assobiando inéditas melodias

E a vegetação
cujas sementes vieram presas
nas asas dos pássaros
ao serem arrastados para cá
pelas fúrias dos temporais.

Quando o descobridor chegou
e saltou da proa do escaler varado na praia
enterrando o pé direito na areia molhada

e se persignou
receoso ainda e surpreso
pensa n´El-Rei
nessa hora então
nessa hora inicial
começou a cumprir-se
este destino ainda de todos nós.



















6 - Reprodução da capa do 1º número da Revista Claridade

















Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.