Catalogação e Estudo das Representações da Deusa Atena na Odisseia de Homero

August 31, 2017 | Autor: A. Ribeiro De Barros | Categoria: Homero, Mitologia Grega, Grécia Antiga, Deusa Atena
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INTRODUÇÃO Existem desde a Antiguidade dois poemas de grande excelência, que a partir de suas composições despertam a curiosidade de quem os ouviam e de quem, posteriormente, passou a lê-los. Ilíada e Odisseia, creditados à Homero; a partir desse ponto surgem inúmeras questões a cerca dos poemas e de seu possível autor, que por muitas vezes parecem ser infundadas, mas que olhadas

com

mais

atenção

percebe-se

fundamentação

lógica

nos

questionamentos feitos. Após uma leitura mais atenta à Odisseia, podemos perceber que além do personagem principal, Odisseu, outra também chama muita atenção durante toda a narrativa. A deusa Atena ao longo do poema interfere de forma direta nas ações do personagem principal e dos que o circulam. Com essa informação em mãos e tendo o conhecimento, inicialmente vago, de que Atena é uma deusa multifacetada, percebe-se a importância de catalogar todas essas passagens da Odisseia na qual Homero faz referencia à deusa. Com a proposta do catalogo e uma segunda leitura da obra, já pensando que essa catalogação poderia servir para pesquisas futuras com o uso desse trabalho extenso e de grande importância, a separação das passagens e a montagem do catalogo exigiu um primeiro estudo para que as informações coletadas se tornassem mais claras. Passa-se então para a necessidade de uma pesquisa sobre os temas relacionados ao catalogo, melhor dizendo, sobre a literatura grega, Homero e a deusa Atena. A compreensão do catalogo se mostra muito mais acessível e de fácil compreensão quando sabemos quem possivelmente foi Homero, quais são as características gerais da poesia e da literatura grega e também da poesia de Homero e também o conhecimento da amplitude de características e fatos sobre Atena. Primordialmente, antes da compreensão sobre Homero e Atena, devese se atentar as estruturas da literatura grega e também, o pouco que é possível, a língua grega; só assim então podemos compreender a estrutura que a Odisseia foi composta, seus marcadores, sua falta de rima, seus versos

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hexâmetros, sua divisão em vinte e quatro livros e o desenvolver de todos os tipos literários na Grécia Antiga. A literatura teve na Grécia seu despertar, foi iniciada ainda quando era apenas difundida e produzida oralmente através dos rapsodos e aedos. Iniciando com a poesia, a literatura desenvolveu também a tragédia e a comédia, trazendo juntamente com esses novos estilos algo novo, o teatro; e por fim a prosa, que teve seu desenvolver mais complicado devido exatamente à extraordinária tradição oral. Homero foi o educador da hélade, assim nos conta Platão e Moses Finley “(...) foi o símbolo por excelência deste povo, a autoridade incontestada dos primeiros tempos da sua história e uma figura de importância decisiva na criação de seu panteão, assim como seu poeta preferido, o mais largamente citado.” (1982, p.13). Desde então Homero foi usado na Grécia para educar as crianças e era com seus poemas épicos que isso ocorria. A deusa Atena, filha do grande Olimpiano Zeus, apresenta diversas interpretações durante todo o período de tempo em que é estudada. Deusa da guerra, assim com Ares, porém de forma diferenciada; deusa do burgo, da tecelagem, protetora dos atenienses, nascimento peculiar, o que a faz ter um ligação com Hefesto, mãe virgem. Pierre Grimal diz com exatas palavras sobre Atena “She was tall with calm features, majestic, and was traditionally discribed as ‘the goddess with grey eyes’” (1990, p.67).1 Para a apresentação geral dessa pesquisa, dividiremos em três capítulos; o primeiro capítulo trará um estudo sobre a fonte dessa pesquisa, ou seja, um estudo sobre a Odisseia, sua estrutura literária e características especificam, incluindo sua divisão em livros, mais especificamente em 24 livros, a ‘escolha’ do autor por versos hexametros; neste capitulo também mostraremos um estudo sobre o autor desse poema, Homero, que apresenta enigmas a serem estudados, desde a antiguidade.

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Ela era alta com características calmas e majestosas, e foi tradicionalmente descrita como "a deusa de olhos cinzas”

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No segundo capítulo, será feito um estudo sobre a deusa Atena, suas várias características, incluindo as características que, muitas vezes, são similares a de outros deuses gregos; neste capitulo também mostraremos uma revisão historiográfica sobre como a deusa vem sendo tratada nos trabalhos acadêmicos, em decorrência da peculiaridade de sua ‘existência’ e por ultimo um tratamento especial sobre a questão da representação, que se mostra ser um assunto de intensa importância na composição geral deste trabalho. No terceiro e último capitulo, é apresentado em forma de tabelas e divididas a partir da divisão clássica da obra em livros, a catalogação de todas as aparições e intervenções da deusa durante todo o decorrer da Odisseia. Para facilitar a compreensão do uso e entendimento do catalogo, durante toda a pesquisa há menções ao catalogo quando um assunto tem conexão com alguma passagem que está foi feita referencia na catalogação.

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CAPITULO 1 – Algumas considerações sobre a “Odisseia” Homero 1.1 - Gênero literário da obra: A Literatura na Grécia Para iniciar um estudo sobre uma obra literária, mesmo que sobre aspectos históricos, devemos antes de tudo, entender o que a literatura daquele lugar e época representaram, quais são suas estruturas. Na Grécia Antiga, a poesia épica foi, durante muito tempo, a forma mais importante na literatura, porém não foi a única forma existente, a prosa, a comédia e a tragédia, acabam por se desenvolver. “A poesia grega compreende quase todos os gêneros conhecidos e foi escrita de modo mais ou menos contínuo desde o século VIII a.C, até o presente” (DAVIES, 1981, p.111);

Moses Finley acredita que por ter uma

tradição oral forte, foi-se mais difícil o desenvolver da prosa e mesmo os escritos políticos eram feitos em versos, como se vê nos escritos de Sólon e Xenófonte. Porém na literatura grega, não existiu apenas a poesia, a prosa, a comédia e a tragédia, também fizeram parte do que era mais comumente ouvido e do que lido na Grécia, devido sua cultura oral e de acordo com Finley, “os gregos preferiam falar e ouvir (...)” (cf. FINLEY, 1982, p.82). A literatura grega ficou para quem entendia o grego ou para as pessoas que tinham acesso as escritura em latim e às traduções modernas e como todo e qualquer escrito, foi vista de formas diferenciadas no decorrer dos séculos, sendo um dos motivos para que a deusa Atena apresente diferentes característica, e teve considerável influência na literatura europeia e ocidental em geral, apesar do que afirma A.M. Davies, “Não se pode dizer que tenha sido substancial a influência direta na literatura europeia, desde a Renascença, da poesia grega, que não épica ou a dramática, embora ela possa ser encontrada, aqui e ali, como clara luz ou pura cor.” (DAVIES, 1981, p.112). A literatura ou produção literária da Grécia Antiga não era produzida para a leitura, mas para ser escutada e pronunciada em voz alta (trabalho dos aedos); “Assim o que chamamos de gênero épico, na antiga Grécia, correspondia mais a uma outra modalidade formal ligada ao canto, à dança e mesmo à pura recitação.” (SANTOS, 1989, p.98). A prosa grega teve uma

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lentíssima evolução, como diz Finley, muito por causa da grande qualidade oral que tinha a literatura grega e aparecendo no final do Período Arcaico, ela passa então a conviver com a poesia, porém tratando de assuntos distintos. La prosa estabelece desde sus orígenes discusos especializados o técnicos que pueden considerarse gêneros: El discurso histórico (desde lós lógografos), el cintifico (desde lós autores del corpus de escritos médicos atribuído a Hipocrates), el filosófico (desde Anaximandro, problabemente, pero alternando em este caso com productos poéticos durante el siglo V y em época helenística) 2 (FÉREZ, 2008, p.11) *

“Tal como a tragédia, a comédia clássica era um monopólio ateniense, e as peças eram representadas em copetição, durante os festivais dionisíacos.” (FINLEY, 1986, p.91) e não apresentava qualquer vinculo com a religião. Os comediógrafos usavam todos os recursos estilísticos dos quais tinham conhecimento a fim de fazer com que os seus personagens, muitas vezes pessoas reais, parecessem figuras caricatas e até mesmo ridículas; os temas tratados nas comédias eram sobre política, hábitos, camponeses, soldados, filósofos, ou seja, temas contemporâneos aos autores dessas comédias. A tragédia teve origem nas festas dedicadas à Dionísio, assim como a comédia, “(...) sua forma extremamente elaborada, já no século V a.C., está associada às atividades poéticas do canto coral, mescladas na sua grande maioria aos temas já abordados ou esboçados por Homero.” (SANTOS, 1989, p.101). A tragédia grega foi um tipo de literatura patrocinada, geralmente por tiranos e foi em Atenas, que a tragédia mais foi patrocinada. Sendo a tragédia o gênero que após Homero tomou conta e ficou acima de todos os outros gêneros literários incluindo a poesia. Foi na Atenas clássica, que manteve o monopólio nunca ultrapassado, que ela nasceu, de forma meio obscura, mas no seu momento de nascimento, traz junto de si o teatro; “A conjugação da poesia lírica com o ritual dionisíaco forneceu a pré-história da tragédia (...) 2

A prosa estabelece desde sua origem discursos especializados ou técnicos que podem ser considerados gêneros: o discurso histórico (desde os ‘logógrafos’), o cientifico (desde os autores do corpus de escritos médicos à Hipocrates), o filosófico (desde Anaximandro, provavelmente, porém alternando neste caso com produtos poéticos durante o século V e na época helenística. * Todas as traduções presentes nesse trabalho são ‘traduções nossa’.

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aquilo que surgiu não era nem dança ritual nem celebração do deus, nem uma ligação das duas, mas algo novo e de diferente, a saber, o teatro.” (FINLEY, 1984, p.86). “A tragédia, pois, não era um drama ritual – não se pode sublinhar mais este aspecto – mas mantinha os laços muito apertados com a religião, no primeiro caso pela sua integral associação com os festivais e, por conseguinte, como os Gregos eram gregos, pela sua realização competitiva. A maior parte das tragédias fez a sua primeira aparição nos Grandes Dionísias, realizadas em Atenas, no principio da Primavera, a mais magnificente das quatro festas em hora de Dionisio, que se celebravam em Atenas.” (FINLEY, 1981, p.87)

Em decorrência da tradição oral, a poesia grega foi o tipo de literatura que mais se desenvolveu na Grécia, e não eram apenas escritos religiosos ou com temas pessoais. A poesia tratava também sobre política e filosofia e seguindo essa afirmação de Moses Finley, podemos perceber em Davies essa confirmação quando ele fala sobre os temas tratados nas poesias “Naturalmente, alguns poemas gregos eram mais ou menos religiosos, honrados ou descrevendo os divinos princípios do universo, mas, na sua maior parte, versavam sobre pessoas que viviam suas vidas nesse mundo (...)” (DAVIES, 1981, p.114), percebe-se então que uma afirmação completa a outra, pois quando se trata de pessoas reais, trata-se também de assuntos reias, portanto, podendo tratar, também sobre política e filosofia. Sabemos que a poesia épica era composta em versos hexâmetros dactilicos, porém não sabemos o porquê dessa escolha e para entendermos essa estrutura especifica que a poesia grega era composta tem-se que entender a estrutura da língua grega clássica, pois o ritmo e o tempo da composição esta intimamente ligada ao ritmo e ao tempo da língua em que é composta; sabe-se que os poemas da época Clássica foram compostos para serem cantados e dançados, mas como não apresentam rimas e o ritmo baseado no tempo, fica difícil saber como a poesia grega era recitada. A língua grega, como nos diz A.M. Davies, era modular, rápida e muito mais fluente quando comparada com a língua inglesa. O grego antigo tinha uma considerável variação de formar gramaticais: tratava-se de uma língua modulada com três pessoas (singular, dual e plural); cinco casos (nominativo, vocativo, acusativo,

14 ginitivo e dativo); três gêneros (masculino, feminino e neutro); três vozes ( ativa, média e passiva); quatro modos (indicativo, imperativo, subjuntivo e optativo); e uma variedsade de tempos passados e futuros, bem com o presente. Prestava-se a criação de novas palavras pela combinação de preposição com o verbo ou pela composição de um adjetivo com outro adjetivo ou um advérbio. Embora na poesia, ainda mais que na prosa, o ritmo fosse sempre uma ordem de palavra determinante e houvesse muitas palavras móveis que poderiam ser achadas no começo, no meio ou no fim de uma oração, a despeito dessa flexibilidade a sintaxe grega tendia a ser mais simples que a latina e mais assemelhada à inglesa. (DAVIES, 1981, p.115).

As primeiras formas de escrita foram encontradas em tabuinhas de argila que se conservaram em Cnossos, em Creta e em Pilos, no Peloponeso; o entusiasta Schiliemanm é quem as encontra quando está em sua busca pela Tróia relatava por Homero e só a partir de então é que se pode compreender e questionar um pouco mais sobre o autor das epopeias que o mundo ocidental herdou da Antiguidade Clássica, sobre as próprias epopeias e também sobre o mundo no qual o poeta viveu e também se esse mundo relatado nos poemas era o que ele havia vivido.

Antes do romance, a epopeia é o único gênero onde se mesclam narração e diálogos. Na epopeia, não se hesita em escrever longamente, e em perder tempo substituindo o mecanismo dos encadeamentos factuais, ditos rapidamente, por uma alternância entre narração e encenação” (SISSA & DETIENNE, 1990, p.38)

1.2 – Quem foi Homero. Homero foi sem dúvida foi o maior poeta grego e muitos o consideravam como o educador da toda a Grécia. Figura de tão grande importância e que tem os dois dos maiores e melhores poemas já compostos, necessita que tenha um estudo sobre sua, possível, trajetória, até mesmo para que possamos entender melhor como foi composta esses poemas. Homero foi uma figura polemica desde sua época.

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“Why do we believe that there was a poet called Homer? The answer is evident: we believe it because there is a long-standing and unanimous tradition from antiquity to that effect.” (WEST, 1999, p.364).3 Caso tenha existido Homero (Όμηρο) foi um aedo assim o define Pierre Vidal-Naquet e Ana Penha Gabrecht e não um rapsodo como muitos acreditam e possivelmente as mais famosas obras a ele creditadas não lhe pertençam integralmente. As histórias sobre o poeta são “totalmente lendárias” nas palavras de Vidal-Naquet e se, era tido e representado como cego era porque na Antiguidade acreditava-se que a mente, a inteligência de um homem era muito mais importante e vital do que sua visão. Homero era o nome de um homem, não equivalente grego ‘Anônimo’, e este é o único facto certo de que se dispõe a seu respeito. Quem era ele, onde vivia, em que data compôs os seus poemas são perguntas às quais não podemos responder com segurança, assim como os próprios gregos o não podiam. Na verdade, provável que a Iliada e a Odisseia que nós lemos sejam obra de dois homens, não de um só. (FINLEY,1982, p.14)

Seu nascimento é disputado por várias cidades, do que atualmente está localizada a Turquia; a ilha de Quios que ainda ostenta a ‘pedra de Homero’ ou ‘pedra do mestre escola’, que mais defende sua pátria como a pátria de Homero, pois teria sido ali, naquela pedra, que tem entalhada uma cadeira que o poeta sentava-se para recitar seus versos para as crianças gregas. Em 1955 é encontrado em Nápoles o que se acredita se o primeiro escrito de Homero, datado de 750 e que está presente no canto XI de Ilíada.

Eu sou a taça de Nestor, o que é boa para beber. Aquele que daqui beber será imediatamente arrebatado pelo desejo que inspira Afrodite, a deusa da bela coroa. (VIDAL-NAQUET, 2000, p.16)

A sociedade a qual pertenceu, nomeada posteriormente de sociedade Homérica, é localizada durante os séculos XII – VIII a.C e sabe-se que foi uma 3

Por que nós acreditamos que existe um poeta chamado Homero? A resposta é óbvia: nós acreditamos por que existe uma longa e unanime tradição da antiguidade para este feito.

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sociedade de transição, de inúmeras e importantes transformações (mundo micênico para a polis); a prática da escrita perde-se radicalmente, porém não completamente, abrindo espaço para a tradição que foi a principal forma de ‘divulgação’ dos poemas creditados à Homero, a Ilíada e a Odisseia. O século VIII é de extrema importância para a formação do que conhecemos como Grécia, “(...) época na qual se consolida, na Grécia europeia, insular e asiática, uma forma original de vida em sociedade: a polis.” (VIDAL-NAQUET, 2002, p.15) A pergunta frequentemente feita, por quem lê alguma obra, é sobre quem é ou foi o autor, geralmente essa pergunta é facilmente respondida, pois se tem respostas de fácil acesso, porém quando se trata dos autores da Grécia Antiga e em especial sobre Homero, essas respostas tornam-se mais complicadas de serem respondidas, e quando respondidas geral ainda mais questões, discussões e controvérsias. É facilmente aceito que tanto a Ilíada como a Odisseia tenham sido compostas pelo mesmo autor, nomeado Homero, porém muitos helenistas dedicam sua vida para estudar essa figura que se tornou conhecida para os leitores das obras. No entanto, sabe-se que existem várias teorias para quem teria sido esse homem e possivelmente mais de um. Na introdução da edição da Loeb Classical da Odisseia, essa ideia é a primeira que é discutida por George E. Dimock, autor dessa introdução: “Even in antiquity a few thoughts, as many as today, that Odyssey was not composed by the same poet as the Iliad, but no one doubted that each was the work of a single poet” (MURRAY, 1998, p.01)4, essa primeira questão levantada também é abordada por outros autores, para discutir se houve mesmo mais de um autor para as obras (....), Finley também discorre sobre essa assunto, dizendo que poucos eram os gregos que acreditavam que a Ilíada e a Odisseia, tenham sido compostas por um só homem (FINLEY, 1963, p.17). Discutir sobre as origens, as composições, parece ser temas estranhos, porém quando tratamos Homero, que sempre teve à sua volta essas 4

Mesmo na Antiguidade alguns pensamentos, tanto quanto hoje, que a Odisséia não foi composta pelo mesmo poeta que compôs a Iliada, mas ninguém duvidou que ambos foi trabalho de um único poeta. (tradução nossa)

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dúvidas, que vão sendo respondidas parcialmente ao longo dos anos, percebemos que existem ainda muito mais perguntas do que respostas. M. L. West em sua ânsia em provar, muito mais a não existência de Homero do que seu sua existência, usa o grupo Homeridas, para levantar hipóteses e afirmar sua tese. Homero, afirma ele, não era o nome de um poeta, mas um nome construído, que se tornou fato de interesse após creditar-lhe a composição da Iliada e da Odisseia; West, parte do principio que Homero não foi um homem real, e que ao passar dos tempos, os homeríadas, foram compondo os poemas e creditando ao possível iniciador de seu grupo, “(...) Homer very quickly became an object of admiration, criticism, and biographical construction” (WEST, 1999, p.364).5 Toma-se por base que as epopéias tenham autores diferentes, pois é o que mostra bibliografia recente sobre esse assunto; porém essa premissa levanta outras questões de quem teria sido o outros autor, “But if there are two major authors, we cannot claim to know their names of both of them, and at least on of the epics has to be regarded as anonumous.” (WEST, 1999, p.364).6 Para uma possível origem desse nome, West retorna no tempo e tenta achar a possível origem do nome “Homero”; a crença em um Homero real é antiga e caminha por todo esse tempo junto às poesias que levam seu nome, “(...) the important thing is not how long it has lasted, or wether anyone has questioned it hitherto, but when and how it started.” (WEST, 1999, p.364).7 Para West o aedo seria apenas o cantor das ações dos homens e dos deuses, dos autores dos poemas épicos que colocavam seus nomes em seus poemas, sendo possível para o leitor, para o ouvinte, identificar de quem se tratava, entendendo-se assim que a Iliada e a Odisseia por não terem o nome de seu autor, que não poderiam pertencer assim à Homero.

“(...) in most ancient

literatures, at least in their earlier stages, anonimity is either a rule or at any

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(...) Homero se tornou muito rapidamente um objeto de admiração, critica, e construção biográfica. 6 Porém se existem dois autores principais, não podemos reivindicar saber o nome de ambos, e ao menos sobre os épicos tem de ser considerado anônimo. 7 (...) o importante não é quanto tempo durou, ou se alguém questiona até agora, mas quando e como começou.

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commonplace. We have no idea who wrote most of the books of The Old Testment, apart from the Prophets.” (WEST, 1999, p.365).8 Para tentar achar qual o momento exato que os poemas foram creditados a Homero, West tenta voltar para suas composições e chega a 520, quando Hiparco faz citações dos épicos, porém com uma grande lacuna com faltas de informações torna-se ainda mais complicado provar essas composições “So from the time of the poems composition there is a gap of a century, or a century and a half, during which we have no evidence at all as to who, if anyone, was regarded as their author.[Odyssey and Iliad]” (WEST, 1999, p.364)9, tenta comprovar também a origem do nome “Homero” e para isso recorre a um grupo de aedos chamados Homeridas, que Pindaro define como sendo : “'Homeridai' was the name given anciently to the members of Homer's family, who also sang his poetry in succession .But later it was also given to the rhapsodes, who no longer traced their descent back to Homer.” (WEST, 1999, p.368)10, que era compostos por aedos que recitavam as poesias de Homero, incluindo poemas não conhecidos de sua autoria e também recitavam passagens de sua vida pessoal e acerca do conhecimento da população sobre o poeta, West diz “It looks as if people's ideas about what Homer had been and what he had done were very much determined by what the Homeridai chose to tell them.” (WEST, 1999, p.367)11; a partir desse ponto West passa a afirmar então que possivelmente Homero foi uma invenção desse grupo para dar-lhes credibilidade e legitimidade. Levanta-se algumas suposições para o surgimento, para a origem do nome ‘Homero’ e sua ligação com os Homeridas; a primeira supõe que teria havido um poeta com tal nome e o grupo surgiu após e devido a sua existência; a segunda que não haveria um Homero original e o grupo não teria sido 8

(...) na maioria da literatura antiga, ao menos em seu estágio inicial, anonimato, é uma regra ou um lugar comum. Nós não temos ideia de quem escreveu a maioria do Antigo Testamento, a não ser os Profetas. (tradução nossa). 9 Então da época da composição dos poemas há uma lacuna de um século, ou um século e meio, durante o qual não temos evidência nenhum, se alguém, foi considerado como seu autor [Odisseia e Iliada]. 10 “Homeridas” foi o nome dado antigamente para os membros da família de Homero, que também cantou sua poesia em sucessão. Mas posteriormente foi dada ao rapsodos, que não traçavam sua descendência à Homero. 11 É como se as ideias das pessoas sobre quem Homero foi ou sobre o que ele fez, fosse muito determinado pelo o que os Homéridas escolheram falar para elas.

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nomeado por causa de um poeta e o teriam inventado como ancestral e inventor do grupo e a terceira na qual Homero existiria, porém o nome Homeriadas não teria sido proveniente do poeta; com a improbabilidade da terceira suposição, West “(...)It would mean that an organization which originally had nothing to do with the poet Homer developed into one which was totally devoted to him, because of the similarity of name;” (WEST, 1999, p.373). 12 Apesar da imensa quantidade de hipóteses e ideias sobre Homero, é exatamente só isso que podemos falar sobre tal autor, dificilmente, podemos afirmar categoricamente quem foi, onde nasceu e morreu, se era cego, ou apenas retratado de tal forma. Essas questões, juntamente com enumeras outras, sobre a Grécia Antiga e a Mitológica, estão distantes e muito possivelmente improváveis que se achem respostas concretas ou até mesmo interpretações mais próximas à realidade. Categoricamente, Homero, um ou dois, um grupo com seu nome ou seu nome vindo de um grupo, são questões que levam à extensas pesquisas e procura de possíveis respostas para a figura de Homero.

1.3 – A Poesia de Homero

Embora as epopeias homéricas dependessem da tradição oral, não foram elaboradas em qualquer língua falada comum, mas em estilo profissional altamente estilizado e elaborado, desenvolvido com a finalidade especifica da canção heroica em metro quantitativo, o hexâmetro dactilico, a um só tempo formal e flexível, e que constitui a primeira grande realização da prosódia clássica. (GRANDSDEN, 1998, p.82)

A maior característica da poesia homérica é o grande numero de repetições, de formulas que eram unidades métricas, de fácil memorização que auxiliava o aedo na hora de recitar poemas tão grandes na frente de sua plateia, podendo percebei isso nas repetições na Odisseia do termo “Flashing12

Isso significa que uma organização que originalmente não tinha nada relacionado com o poeta Homero desenvolveu-se em uma que foi totalmente devotada à ele, por causa da semelhança do nome.

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eyed Athena” ou até mesmo nos nomes nos quais ela se transforma 13, “A repetição oral é o selo de qualidade da poesia oral, assim como fugir a ela é o selo de qualidade da poesia escrita.” (GRANDSDEN, 1998, p.84) e apesar de ser apenas um auxilio para o aedo, as unidades métricas de repetição durante muito tempo foram mal interpretadas pelos estudiosos que as enxergavam como uma falta de criatividade da parte do poeta. Porém Heiden, no ano de 2000, passa a afirmar que são exatamente essas unidades de repetições métrica é que fazem da Odisseia um poema mais evoluído e de melhor estrutura poética que a Iliada. Ao falar sobre a poesia de Homero, fala-se sobre Iliada e Odisseia, que representam a qualidade máxima em poesia grega. A Ilíada conta-nos os ocorridos da Guerra de Tróia, porém o relato começa após o inicio da guerra, fazendo com que a narrativa seja não linear assim como na Odisseia, que passados dez anos do termino da guerra, conta o retorno de Odisseu a Ítaca, porém essa não é a única característica da Odisseia, já que ela apresenta um certo tipo de separação, através das unidades de repetição métricas, que permite enxergar uma certa evolução de um poema para o outro.

1.4 - Sobre a Estrutura da Odisseia.

A epopeia de Homero, composta por volta do século VIII a.C, que conta como o herói Odisseu dez anos após o termino da Guerra de Tróia, consegue finalmente retornar à sua terra, para reencontrar sua esposa e filho e retomar seu oikos que a muito estava sendo devastado por pretendentes de Penélope e para que consiga, finalmente, retornar à Ítaca, Odisseu encontra ao seu lado os deuses do Olimpo, exceto Poseidon, e em especial a deusa Atena. En este poema, la Odisea, hay um primer bloque de cuatro cantos, a modo de introducción, llamado Telemaquia porque el protagonista de la acción narrada en ellos es Telemáco, el hijo de Ulisses. Se nos hace saber en este prólogo que de entre los herós que lucharon en Troys unos han muerto, otros ya regresaron a sus hogares y tan sólo Ulises se encuentra retenido, lejos de su patria y su hogar, en poder y 13

Verificar informação no Catalogação das Aparições da deusa Atena na Odisseia de Homero (capitulo 3 da presente pesquisa).

21 entre los brazos de la ninfa Calipso. Los dioses todos, salvo Posídon a cuyo hijo el Cíclope ha dado muerto nuestro héroe, le compadecen, y Atenea, la diosa que especialmente le protege, obtiene de Zeus que Hermes, el dios mensajero, se ponga en camino hacia la isla Ogigia, la isla de Calipso, para dar a ésta la orden de dejar en liberdad a su 14 amante prisionero. (EIRES, 1988, p.35)

É dessa forma que A. Lopez Eires, conta o inicio da Odisseia e o que vem a seguir é o que ele caracteriza como Telemaquia, que segue pelos quatro primeiros livros da epopeia. Os cantos seguintes também seguem certo tipo de separação por temas, os livros V, VI, VII e parte do livro VIII, Homero conta toda a viajem de Odisseu desde o final da Guerra de Tróia até no momento em que Hermes, o deus mensageiro, informa à Calipso que a mando de Zeus, ela deveria libertar Odisseu para que retornasse à Ítaca. Do livro IX ao XII, Odisseu conta, detalhadamente, sua versão de onde esteve e os perigos que enfrentou. A partir do canto XIII, o poema toma novos rumos, pois acabara as viagens do protagonista e passa então a se passar inteiramente em Ítaca, onde Odisseu retoma seu oikos, se faz reconhecer à sua esposa e filho e com sua ajuda de sua protetora Atena, retira os pretendentes de Penélope de sua casa e a partir de então ocorre o que A. Lópes Eire chama de cenas de elevado tom emocional. Maria Helena de Moura Neves, ao também analisar a estrutura do poema, certifica-se de que Homero não conta as aventuras de seu herói de forma linear, assim como Odisseu, dentro da Odisséia, quando também conta por onde esteve não o faz de forma linear. Já no proêmio se anuncia a concentração do herói e seus trabalhos. Centraliza-se a primeira parte (até canto XIII) no tema de Calipso. Ulisses está em Ogigia quando o poema se inicia, isto é, durante as ações de Telemaco nos quatro primeiros cantos. De lá ele parte, fazendo uma escolha consciente, sem ilusões, depois de ter tido obstáculos e de ter descido ao pais dos mortos. Quando interrogado, no canto VII, retrata a ação, narrando a esta estada em Ogigia e a 14

Neste poema, a Odisseia, há um primeiro bloco de quatro músicas, a título de introdução, chamado Telemaquia porque o protagonista da ação narrada neles é Telêmaco, filho de Ulisses. Ele nos permite saber neste prólogo dos heróis que lutaram em Tróia alguns morreram, outros voltaram para suas casas e Odisseu apenas é mantido longe de sua terra natal e casa, e seguro nos braços do ninfa Calipso. Todos os deuses, exceto Poseidon, cujo filho Ciclope nosso herói matou, se compadecem, e Atena, a deusa que o protege especialmente, obtêm Hermes, o deuse mensageiro, a partir de Zeus, se coloca no caminho para a Ilha Ogígia, a ilha de Calipso, para dar-lhe o comando para libertar prisioneiro amante.

22 viagem dessa Ilha até a Feacia. Mais tarde, conta suas aventuras, e, quando chaga a Ogigia, diz que fez o relato. Assim, também a narrativa de Ulisses evita a forma linear. (NEVES, 1981, p.85)

Para alguns autores a divisão em vinte e quatro livros das poesias épicas de Homero provém do próprio autor, porém há os que acreditam que essa divisão foi feita posteriormente à sua composição. Bruce Heiden compõe parte dos autores que acreditam que a divisão não foi

feita naturalmente,

“There is no apparent reason why Homer or any poet could not have composed an epic in twenty four segments just because he like it that way, without an alphabet of twenty-four letters (…)” (HEIDEN, 2000, p. 248)15, somando a isso não há qualquer menção de alfabeto ou divisão em qualquer outro autor da época (Platão, Aristóteles, etc), Heider não sabe a verdade do porque que a Ilíada e Odisseia são divididas em vinte e quatro seguimentos e a Eneida de Virgilio em apenas doze, mas afirma categoricamente que não existe qualquer relação com o alfabeto. Para autores como, Taplin e Olson, a divisão não é autentica, pois dividem uma narrativa fluída, com ritmo e afirmam que essa divisão não parece ser ‘desejada’ pelo poema; já para Stanley, Heiden e Jensey, existem duas conclusões possíveis para a marcação feita por Homero; Stanley enxerga um padrão formalista nas frases que iniciam e terminar cada ‘livro’. As divisões na Odisseia, ou a falta delas, não trariam problemas para a compreensão completa do poema. “As a result, it is possible to say of the segment markers in the Odyssey, as one could not of those in the Iliad, that they might have been omitted without seriously endangering the comprehension of audiences.”16 Os pontos autos dos ‘livros’ não estão perto dos marcadores de divisão (que supostamente iniciam e terminam um livro) por essa razão que a divisão não sofre danos no entendimento Odisseia que quando comparada à Ilíada, mostra segmentos de uma possível divisão diferente; apesar dos dois poemas 15

Não há razão aparente pra que Homero ou qualquer outro poeta não poderia ter composto um épico em vinte e quatro seguimentos só por que ele gostava dessa forma, sem a existência de um alfabeto de vinte e quatro letras (...) 16 Como resultado, é possível dizer dos marcadores de segmentos da Odisseia, como não poderia daqueles da Ilíada, que eles poderiam ser omitidos sem sérios perigos a compreensão do publico.

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serem divididos em 24 livros, a estrutura de divisão da Ilíada não é parecida com a da Odisseia; na Ilíada “(...) the narrative progress through a process of diversion, in which events aproach a foreseen goal only to be redirected by a highly consequential intervention.”17 (HEIDEN, 2000, p.250); já na Odisseia, The plot of the Odyssey, by contrast, throws very few true surprises at either its audience or its characters. One figure, Athena, establishes the homecoming of Odysseus as the epic's program from the beginning, and she oversees almost every stage of its accomplishment. A narrative like this could hardly present many high18 consequence scenes like those of the Iliad.(HEIDEN, 2000, p. 250).

Para Maria Helena de Moura Neves, para compreender a estrutura da Odisseia é fundamental, antes de tudo, buscar sua unidade e os temas que são cantados é um ponto fundamental e a concentração de ação num único personagem, também torna-se ponto fundamental para o entendimento de uma possível unidade da Odisseia. E apesar de Odisseu ser o personagem principal, podemos verificar no catalogo presente no terceiro capitulo dessa pesquisa, que muitas das ações se concentram no que podemos considerar o segundo personagem principal, a deusa Atena.

17

(...) o andamento da narrativa através de um processo de desvio, no qual os eventos se aproximam de uma meta prevista apenas pra ser direcionado por uma intervenção altamente consequente. 18 O enredo da Odisseia, por outro lado, joga poucas surpresas de verdade em seu publico ou em seus personagens. Uma figura, Atena, estabelece o retorno de Odisseu como o programa épico desde o inicio, ela supervisiona quase todas as fazes de sua realização. Uma narrativa como esta dificilmente poderia apresentar cenas como as da Ilíada. – Conferir catalago no capitulo 3 desta pesquisa; Atena sempre intervindo no retorno de Odisseu para Ítaca e o fazendo sempre muito próximo ao herói.

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CAPITULO 2 – A DEUSA ATENA h. Hom. 28: A Atena

Palas Atenaia, gloriosa deusa, comece eu a cantar, a de galucos olhos, muito astuta, com implacável coração, virgem veneranda, protetora das cidades, vigorosa, Tritogênia, a que o próprio Zeus, astuto, gerou de sua augusta cabeça, com bélicas armas áureas totalmente reluzentes; reverência tomava todos os imortais que a viram; ela, diante de Zeus porta-égide, impetuosamente lançou-se da imortal cabeça brandindo aguda lança; o grande Olimpo trepidou terrivelmente sob a força da de olho reluzente; em torno, a terra terrivelmente gritou, e movimentou-se o mar em ondas purpúreas, agitado, e a água salgada deteve-se subitamente; esplêndido, o filho de Hipérion susteve seus cavalos da rápidos pés por um bom tempo, até que a virgem tirasse de seus imortais ombros as divinas armas, Palas Atenaia; e exultou, astuto, Zeus, Assim também, tu, salve, rebento de Zeus porta-égide; em seguida, eu também hei de me lembrar de ti em outro canto.

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h.Hom. 11: A Atena Por Palas Atena, protetora da cidade, começo a cantar, a terrível, que juntamente com Ares se ocupa dos trabalhos da guerra, da destruição de cidades e do combate. Ela também protege o soldado que parte e o que retorna. Salve, deusa! E dá-nos sorte e prosperidade.

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Hino homérico à Atena (h.Hom. 28: A Atena), traduzido por Fernando B. Santos. Hino homérico à Atena (h.Hom. 11: A Atena), traduzido por Wilson A. Ribeiro Jr.

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2.1 – As Características da deusa Atena. Um objeto que há muito tempo é estudado, conforme a época em que é revisto pode surgir novas formas de ser abordado. Com a mitologia grega não se faz diferente; a deusa Atena apresenta características muito diferentes dependendo da época em que é estudada e também da situação de sua atuação e para entender essas várias formas vê-se necessário entender todas as suas características, desde o seu nascimento. O Panteão dos deuses gregos a muito é estudado e intensamente revisitado, por isso nesse segundo capítulo, será realizado, entre outros coisas, uma revisão, uma historiografia sobre a deusa tema deste trabalho. Pierre Grimal em seu The Concise Dictionary of Classical Mythology, faz a definição, entre outros personagens gregos, de quem é a deusa, suas características e origem. Atena, ou a deusa Minerva dos romanos, filha de Zeus (Ζεύς) e de Métis (Μήτις) , que por conselho de Gaia é engolida pelo ‘pai dos deuses e dos homens’ para que ele, assim como seu pai Cronos, não tivesse seu lugar na ordem ameaçado pelo próximo filho que nascesse do ventre da deusa que representa a sabedoria; quando Atena está para nascer é tarefa de Hefesto, abrir a cabeça de Zeus com um machado para que de dentro dela, saia Atena, já com sua armadura e empunhando sua lança e aegis. “Athena, the warrior goddess, armed with spear and aegis (a goatskin shield or short cloak surrounded by Fear, Strife, Force and Pursuit, with a Gorgon-head in the centre and fringe of snakes)” (GRIMAL, 1990, p.66)21; Walter Burkert, aponta duas versões para o nascimento da deusa, a primeira na qual Zeus engole Métis e a partir de então, dá vida à deusa e outra na qual gera Atena completamente sozinho; pronta para a guerra, a Deusa, já nasce guerreira e nunca carrega sua armadura em vão “Hesíodo descreve-a como ‘terrível despertadora do tumulto da batalha, chefe das tropas, uma senhora que se deleita com o clamor da batalha, das guerras e os massacres’” (BURKERT, 1993, p.280). Hesíodo

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Atena, a deusa guerreira, armada com lança e égide (um escudo de pele de cabra ou uma capa curta cercada por Medo, Força e Perseguição, com uma cabeça de gordona no centro e franjas de cobra.)

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trata a deusa Atena de forma diferente de Homero, ele a retira do relato, tratando-a apenas como a deusa da guerra.

A dádiva de Atena não é a oliveira selvagem de Olímpia, mas a oliveira cultivada. Posídon cria violentamente o cavalo, Atena põe-lhe os arreios e constrói o carro. Posídon provoca as ondas, Atena constrói o barco. Hermes multiplica os rebanhos de ovelhas, Atena ensina a utilizar a lã. Até mesmo a guerra, conduzida por Atena, não é puro e simples arrojo – isto foi antes cristalizado na imagem de Ares – mas enobrecida de modo peculiar com a dança, a táctica, a privação: quando Ulisses, astuto e controlado com era, consegue que o exército dos aqueus, apesar do desgaste da guerra e da nostalgia, avance para a batalha, isso é obra de Atena. (BURKERT, 1999, p.283)

Atena não é apenas protetora e defensora da guerra, esse papel é bem representado por Ares, não é apenas a representante dos pacíficos artesões, como fala Burkert, e também não é apenas a deusa dos carpinteiros, ela é um conjunto de tudo e atravessa essa linha, ela é uma deusa complexa e digna de suas características, tem também a oliveira como seu símbolo, mas não como vários outros deuses a tem. Apesar de ter inúmeros dos seus símbolos também associados à outros deuses, Atena sempre os tratam de forma singular de forma a lhe diferenciar e lhe tornar uma deusa única e peculiar . Atena e Ares, ambos deuses da guerra, porém cada um com suas próprias defesas dentro desta, Ares representa a parte irracional, de força bruta e sanguenta; [Ares] (...) personifica a violência avassaladora, a irracionalidade e a agressão ligadas à guerra e as batalhas – mais precisamente, o êxtase do guerreiro pela luta, o frenesi da sangrenta carnificina associada ao combate. O deus representa, aparentemente, a irrefletida violência da guerra dos tempos mais antigos, agressiva, desordenada e disruptiva. (Hinos homéricos, 2010, p.186)

Atena representa a estratégia, a ordem da guerra, a guerra pela polis

As características mais ‘cerebrais’ da guerra, como por exemplo a estratégia, a habilidade e a violência discriminada e eficaz, não eram representada por Ares, mas pela deusa Atena, que simbolizava justamente a guerra ‘organizada’ e ordenada, empreendida apenas em defesa da polis (Hinos homéricos, 2010, p.186)

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Atena foi padroeira, patrona de inúmeras cidades gregas além de Atenas, existia o culto à deusa também em Megara, Argos, Esparta e até mesmo em Tróia onde era adorada na forma de Palladium e também não era apenas a deusa da guerra, com já mencionado, “Athena also preside over the arts and literature, though she was more closely linked with philosophy than with poetry and music. She was the patroness of spinning, weaving, emboindery and similar household activities practice by women.” (GRIMAL, 1990, p.66)22; assim como Grimal afirma que Atena não é única e simplesmente a deusa da guerra, Burkert também o faz, afirmando que a deusa, tem uma relação muito intima com os artesãos e carpinteiros e que devido a sua devoção inventa meios para que seus protegidos vivessem de forma mais confortável23, Burkert então nos diz, A par da crueldade ancestral, encontra-se a proteção dos pacíficos artesãos, sobretudo do trabalho das mulheres com o fuso e o tear. Atena Ergáne é a inventora e a patrona do trabalho da lã, das “obras sumptuosas”, que constituem uma parte tão essencial da propriedade e do orgulho doméstico. Ela própria utiliza o fuso. A comunidade das mulheres de Atenas tece o péplos que é oferecido à deusa durante as festas das Panateneias. Naturalmente, as imagens representadas nestas roupas são geralmente cenas da luta da deusa contra gigantes. Atena é também a deusa dos carpinteiros, ela inventou o carro, bem assim como os arreios para os cavalos, ela constitui o primeiro barco e ajudou a construir o cavalo de madeira. (BURKERT, 1999, p.281)

Na Ática houve a disputa pela cidade com Poseidon, Grimal conta que cada um dos deuses forneceu algo para a cidade e só então foi decidido quem seria o seu protetor, Poseidon caused salt-water to spring up on the Acropolis by throwing his trident into the ground (the sea water was, according to Pausanias, a well of salt-water within the precincts of the Erechtheum); Athena summoned Crecrops as a witness, planted an olive tree (which was still being painted out in the second century AD,

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Atena também preside sobre as artes e literatura, embora ela fosse mais próxima da filosofia do que da poesia e da música. Ela foi a patrona da fiação, tecelagem e bordado e atividades caseiras similares praticadas por mulheres. 23 Destaque nosso.

28 in the Pandroseion), and demanded possession of the land (GRIMAL, 24 1990, p.66-67)

A decisão fica por conta de Cecrops e Cranaus, que foram escolhidos por Zeus, decidem a favor de Atena, deixando o grande deus dos mares furioso, que acaba por inundar a planície de Elêusis. Atena, em decorrência de seu nascimento uni parental, está fadada a ser a deusa virgem e a não ter filhos, porém quando vai a oficina de Hefesto, outro deus de origem uni parental tendo apenas Hera como sua mãe, quando Atena entra em sua oficina para pedir-lhe armamento, este se apaixona pela deusa e tenta violentá-la e quando essa consegue livrar-se, o deus coxo ejacula em suas pernas que joga na Terra que é fertilizada e dela nasce uma criança, que Atena, sem o conhecimento dos outros deuses, reconhece como seu filho. Assim com apresenta inúmeras características, Atena carrega junto aO seu outro nome, que também se mostra tão intensamente carregado de significados e histórias; Pierre Grimal, inicialmente descreve Pallas como um epíteto da deusa Atena e assim como a maior parte dos mitos gregos, este também não se encontra com consonância em todas as suas versões, é representada como homem e mulher, quando filha do deus Triton, Pallas é uma mulher,

In Apolladorus the goddess Athena was brought up as a child by the god Triton, who had a daughter named Pallas. The two little girls practised warfare together, but one day they quarreled. Just as Pallas was about to strike Athena, Zeus was afraid for his daughter and placed himself between them. He helded the aegis before Pallas, who was frightened, failed to parry the blow that Athena was aiming at her 25 and fell, mortally wounded. (GRIMAL, 1990, p.321-322)

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Posseidon fez jorrar água salgada na Acrópole fincando seu tridente no chão (a água do mar foi, segundo Pausanias, um poço de água salgada dentro dos recintos do Erechtheum); Atena convocou Crecrops como testemunha, plantou uma olivera (que ainda estava sendo ‘pintada’ no segundo século d.C, em Pandroseion) e exigiu possessão da terra. 25 Em Apolodorus a deusa Atena foi trazida como criança pelo deus Tritão, que tinha uma filha chamada Pallas. As duas menininhas praticavam a guerra juntas, mas um dia elas se estranharam. Quando Pallas estava para acertar Atena, Zeus ficou com medo por sua filha e se colocou entre as duas. Ele sacudiu a égide diante dela que se assustou e não conseguiu se esquivar do golpe de Atena e caiu, mortalmente ferida.

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Houve também representações de Pallas como homem, quando é tomado como um Titã filho de Crius e Eurybian e também quando é o próprio pai de Atena, “A giant, the father is Athena (occording to some authors), Who tried to rape his own daughter, Athena killed him, removed his skin and dressed herself in it. The Pallas had wings, which Athena fixed to her feet.” (GRIMAL, 1990, p.324)26 ; na Odisseia, Atena aparece em inúmeras vezes como homem, sendo um deles Mentes, amigo antigo de Odisseu e também de seu pai; para melhor entendimento sobre esse fato, consultar catalogo presente no final dessa pesquisa.

2.2 – Breve Revisão Historiográfica sobre Atena.

Para que esta revisão historiográfica sobre a deusa Atena, que vem sendo estudada profundamente, em questões diversas no tema da Antiguidade Clássica não ficasse impraticável e intensamente exaustiva e longa, para essa pesquisa foi delimitado um período relativamente curto, portanto, seis artigos citados nesse item estão compreendidos entre os anos de 2012 ao inicio da década de 1990. Os quesitos selecionados para fazer a revisão sobre a historiografia composta sobre Atena será suas próprias características que já foram estudadas anteriormente nesse trabalho; ser a deusa da guerra, ter sido gerada apenas pelo seu pai, a ‘adoção’ do nome Pallas. Em seu artigo “Beautiful Evil: Pandora and the Athena Partheos”, Jeffrey M. Hurwit, tratará sobre a representação do nascimento de Pandora na base da estátua da deusa Atena. Após fazer uma introdução a história do nascimento de Pandora, o autor passa a tratar sobre Atena e inicia relatando sobre seu nascimento e afirma que seu tipo de nascimento é usado para a 26

Um gigante, o pai de Atena (de acordo com alguns autores), que tentou estuprar sua própria filha, Atena o matou, tirou sua pele e vestiu-a. Pallas tinha asas, as quais Atena fixou em seus pés.

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confirmação, para garantir a supremacia masculina em Atenas, assim pode-se perceber que durante toda a Odisseia, que Atena precisava que seus protegidos a escutasse, ela se fazia enxergar sempre como um homem27, “The well know story of Athena’s birth from Zeu’s head could therfore only have seemed to validate the superiority of the male and the claims of the father.” 28 (HURWIT, 1995, p.180). Hurwit, afirma que era um pensamento muito comum o de gerar uma supremacia masculina, ao menos na Atenas Antiga, e passa a relatar inúmeros exemplos, como quando Apolo afirma que não é importante que tenha uma mulher para que seja gerado novos filhos, confirmando sua fala com o próprio nascimento de Atena, que nasceu apenas de Zeus, seguindo de um apontamento da própria deusa.

There can be a father without a mother. There, close by stands my witness: the daughter of Olympian Zeus, who did not grow in the darkness of the womb but the sort of child not goddess could bear (…)There is no mother who gave birth to me, and I praise the male in all things, except for marriage, with all my heart, and am firmly on the 29 father's side. (HURWIT, 1995, p.180)

O autor durante todo o seu artigo, usa exemplos das características de nascimento e de ter a peculiaridade de ser uma deusa virgem e de próprias passagens de textos da época, em que a própria Atena e outros deuses, também se manifestam a partir dessas passagens para caracterizar a sociedade ateniense de predominância masculina e que em decorrência, negava tanto a sexualidade quanto o gênero da deusa que lhes protegia. “She is not just a partheos and chaste, she is virtually sexless, and her mythology, as well as, that fact of Erechtheus/Erichthoinos, made the reproductive function of the female in general minor or even irrelevant.” (HURWIT,1995,p.182).30

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Verificar as passagens no Catalogo ao final do trabalho. A bem conhecida história do nascimento de Atena da cabeça de Zeus, portanto, só poderia te parecido para validar a superioridade do macho e as reivindicações do pai. 29 Pode existir um pai sem uma mãe. Há, de perto fica o meu testamento: a filha do Olimpiano Zeus, que não cresceu na escuridão de um útero que deusa nenhum poderia suportar (...). Não há mãe que me deu luz, e eu levo o masculino em todas as coisas, exceto para casamento, com todo o meu coração, e estou firmemente do lado do pai. 30 Ela não é apenas partheos e casta, ela á praticamente assexuada, e sua mitologia, assim como, o fato que Erechtheus/Erichtoinos, fez a função reprodutiva da mulher menor em geral ou até mesmo irrelevante. 28

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Em “A Distant Anatolian Echo in Pindar: The Origin of the Aegis Again.” Calvert Watkins faz uma relação entre kursa que foi a arma de uma divindade da civilização “hittite”, feito de couro e mais frequentemente de pele de cabra, assim como é feita a égide da deusa grega Atena, sobre kursa “(...)in Hittite religion and cult: is it at once a read and palpable physical object, and a mystical hieratic symbol identified with a divinity.” (WATKINS, 2000, p.02).31 Assim como a égide, kursa também é feito de couro grosso e poderia ser confundido com um escudo, segundo Watkins, o autor Giiterbock nota que “since it was mentioned togheter with waepons, it was thought that kursa might be a shield, an Idea obviously influenced by the thought of the aegis.” (WATKINS, 2000, p.04)32, então se valendo de um breve comentário de G.S. Kirk sobre a Iliada, o autor afirma que em Homero a égide não é um escudo e sim tipo de xale que é localizado sobre os ombros de Atena, “(...) in classical art Athene’s aegis is a skin throws over her shouders like a small Shaw (...)” (WATKINS, 2000, p.04).33 A égide de Atena, assim como kursa dos hittites paresenta uma natureza dupla, sendo ao mesmo tempo um objeto físico e um recepiente simbólico de entidades alegóricas e devido à essa naturaza, a representação que a deusa pode assumir ao usar a égide pode também ser de diferentes naturezas, “In Iliad 5.733-742 Athena sheds her gown onto her father’s floor, dons her armor, and throws the aegis; ‘A voluptuous gesture...the actions symbolize her transformation from peaceful goddess to goddess of war.”34 Ao tratar sobre kursa e sobre a égide e suas semelhanças, Calvert Watkins acaba por tratar sobre a deusa grega que a carrega, por tanto, trata também sobre Atena e alguma de suas características; Atena então é retratada, mesmo que secundariamente, como a deusa da guerra, aquela que nasce armada e pronta para a guerra. Birte Lundgreen, em seu artigo “A methodological enquiry: the Great Bronze Athena by Pheidas” analisa as várias representações da deusa em 31

(...) na religião e cultura hitita: é ao mesmo tempo um objeto de leitura e palpável física, e um símbolo místico identificado com uma divindade. 32 Desde que foi mencionado juntamente com armas, foi pensado que kursa poderia ser um escudo, uma ideia obviamente influenciada pelo pensamento da égide. 33 Na arte clássica a égide de Atena é uma pele jogada sobre seus ombros com um pequeno xale. 34 Um gesto voluptuoso... a ação simboliza sua transformação de deusa pacifica em deusa da guerra.

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inúmeros objetos para tentar reconstruir a possível imagem que a estátua de Pheidas representava. A “Great Bronze Athena” era uma famosa estatua que provavelmente localizava-se na Acrópole ateniense, assim como afirmam os estudos dos séculos XIX e XX d.C e desde então tenta-se reconstruir tal imagem, que era vista pelos gregos, baseando-se em representações posteriores em moedas, gemas, miniaturas bizantinas. Lundgreen tentará retirar informações desses objetos, porém apenas sobre a estátua de bronze, “This article, therefore, endeavours to separete the valid from the invalid through careful assessment of all the available evidence relating to the Athena Promachos as the Pheidan statue rather than the iconographic type.” (LUNDGREEN, 2000, p.190)35. As representações de Atena, que Lundgreen descreve estão sempre em torno dos objetos com os quais a deusa nasce, mesmo que eles apareçam muitas vezes de formas distintas, o escudo, a espada, o capacete, e até mesmo a égide, aparecem constantemente nas moedas e em outros objetos; ao tentar recriar a imagem da estátua de Pheidas, Lundgreen tenta recriar a imagem da deusa protetora dos atenienses consequentemente também seria a representação da deusa da guerra. Assim como podemos aferir que no artigo de Birte Lundgreen, Carla Anderson em “Aristophanes and Athena in Parabasis of Clouds”, retrata a deusa como a protetora dos atenienses, porém ambos os artigos tem suas peculiariedades em relação às representações de Atena; em Lundgreen é resaltado suas características de guerreira através dos objetos com os quais já nasce, já em Anderson é destacado uma característica do cotidiano da deusa, que é também pertencente a civilização ateniense, aquele que ela protege, “In the passages, the cloud’s assume many forms and speak in many voices – sometimes they are clouds, and sometimes they are Athenians citizens – and they invoke dities, including Athena, in a variety of forms” (ANDERSON, s/ ano, p.01).36

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Este artigo, portanto, esforça-se para separar o válido do inválido através de uma analise cuidadosa de todas as evidências disponíveis relacionadas à Atena Promachos como a estátua de Pheidas em vez do tipo iconográfico. 36 Na passagem, a ‘nuvem’ assume várias formas e fala em várias vozes – as vezes eles são ‘nuvens’, e as vezes eles são cidadãos atenienses – e eles invocam divindades, incluindo Atena, numa variedade de formas.

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Já foi observado em alguns estudos a mbiguidade doas divindades, e algumas soluções foram oferecidas para tal problema, porém Andreson acredita que, para essa peça, se focar os estudos em Atena, e no lugar proeminente que ela ocupa no ‘chorus’ pode-se entender melhor a apresentação que Aristofanes fez dos deuses em seu poema, formas essas que incluem Atena sendo associada com a poesia e a dança quando fazem sua evocação, num formato poético, de ‘Athena Polias’ (‘mistress of warrions and poet’); porém o significado mais importante relacionado à deusa, nesse caso em particular, é a deusa guerreira, a portadora da égide What is especially important for our purpose is an aspect of Athena related to the epinician tradition, as can be seen in the summons of the goddess as “charioteer of the aegis” (…) The aegis, as Athena’s preeminent instrument of terror, brings to mind her awesome power, speed and invincibility on the field of battle. (ANDERSON, s/ ano, 37 p.04)

Após essa breve historiografia sobre Atena em publicações variadas, vê-se a necessidade de conferir o que foi estudado sobre a deusa e sua atuação na Odisseia. No artigo “The Assembly of the gods and the mission of Athena: Odyssey 1.1 – 108 (A 21st. Entury rendition) o autor Timothy Beck descreve como foi o inicio da Odisseia, a ira de Poseidon e a negociação de Atena com Zeus, para que ele pudesse finalmente voltar à Ítaca. O artigo se mostra apenas uma coleção de ‘falar’ de parte do primeiro livro da Odisseia, portanto não tem uma analise direta no papel de Atena. Porém pode-se perceber pelos trechos selecionados que ela é tratada como And Athena, whose eyes were as dull and grey as a smooth-moving shark, replied: "Our Father, Scion of Cronos, most High God-I say, if this man is truly loved by favoring gods, let him come home, Odysseus of many-mind, to his own home! I say let Hermes, the silver-shining wonder, our deacon, be sent to Ogygia Isle, to tell her our wisdom, our unerring purpose, the tressed and plaited nymph, the homecoming of tenacious Odysseus, and how he must go. I will myself to Ithaca, to stir his son, to put courage in his contemplation, to call to order the long hair Achaeans to denounce those who seek the 37

O que é especialmente para o nosso propósito é um aspecto de Atena relacionada a tradição epiniciana, como pode ser vista na convocação da deusa como ‘cocheira da égide’ (...) A égide, como instrumento preeminente de terror de Atena, trás a mente o seu invencível poder, velocidade e invencibilidade no campo de batalha.

34 rights of the queen, who offer the gods an unending sacrifice of another man's goods, and dine on roast flesh. I will send the boy to Sparta and to Pylos on the great bay, to seek news of his longed-for father, yearning but to catch words on the wind. This way will he earn 38 the respect of men. (BECK, 2008, p.471)

Porém pode-se perceber pelos trechos selecionados que ela é tratada como a deusa protetora do personagem principal de narrativa e também com ao deusa da guerra, pois é citado entro outros seu armamento quando está ‘disfaçada’ de Mentes, ver catalogo do primeiro livro da obra no final dessa pesquisa; “In her hand she carried the bronze-tipped spear, but in form seemed a friend from afar, Mentes, leader of the Taphian people. There at his threshold she saw suitors for the hand of his wife, arrogant and drunk, stretched out on his cattle's skins, playing games of chance.” (BECK, 2008, p.471)39. Em “Truth in the Tale of the ‘Odyssey’”, Scott Richardson fala sobre os diálogos existentes durante toda a narrativa da Odisseia e sobre como eles são complicados e de difícil compreensão devido ao alto domínio de oratória de alguns personagens, incluindo a Atena e como através desse dialogo ela consegue convencer seus protegido a certas ações que os próprios não entendem.

The first "conversation" between husband and wife after a twenty-year separation can serve, at least in Odysseus’s mind, as a model for successful indirect communication such as we saw, in a rather spiteful form, with Helen and Menelaus. Athena prompts Penelope to make her first appearance to her husband without telling her the real reason for going downstairs (18.158-68).Typically, there is a discrepancy between Athena's purpose and Penelope's stated reason for this unaccustomed move: they have in common that the queen is to show 38

E Athena, cujos olhos eram tão aborrecidos e cinzas quanto um tubarão em movimento suave, respondeu: "Pai nosso, Scion de Cronos, Altíssimo Deus, eu digo, se este homem é realmente amado, favorecendo deuses, deixá-o voltar para casa, Odisseu de muitas mentes, para a sua própria casa! E digo deixe Hermes, o maravilhoso prata-brilhante, nosso diácono, ser mandado para a Ilha Ogigia, para dizer-lhe nossa sabedoria, nosso propósito infalível, a trançada e entrançada ninfa, o regresso a casa do tenaz Odisseu, e como ele deve ir. Eu mesma irei à Ítaca, para agitar seu filho, para colocar coragem em sua contemplação, para chamar à ordem os aqueus de cabelos longos para denunciar aqueles que buscam aos direitos de uma rainha, que oferecem aos deuses um sacrifício de bens de outro homem e jantar carne assada. Eu mandarei o garoto para Esparta e para Pilos na grande baia, para buscar noticias de seu grande pai, anseio para pegar palavras ao vento. Desse modo ele era ganhar o respeito de homem. 39 Em sua mão carregava a lança com ponta de bronze, mas em forma parecia um amigo de longe, Mentes, líder do povo Taphian. Lá em seu limiar viu pretendentes a mão de sua mulher, arrogante e bêbado, estendeu sua pele de gado, jogando jogos de azar.

35 herself before the suitors (though Penelope does not understand why), but Athena wants her to excite the admiration of her husband and son (161-62), whereas Penelope, who does not know that her husband is in the hall, says she will warn her son to beware of the 40 suitors (166-68). (RICHARDSON, 2007, p.139).

O uso da oratória também pode ser relacionado com uma de suas características já que a deusa também pode ser considerada como protetora das artes e das letras; podendo perceber que quando está “disfarçada” de “Mentes” juntamente com o recurso da oratória, se faz valer para mostras questões importantes na narrativa do poema

We have seen such performances throughout the Odyssey, and not only by its hero. Athena sets the tone even before her impersonation of Mentes when she steers the Olympian conversation away from Zeus's topic to the family that matters to her and pretends to believe that her favorite is hated by Zeus, thereby getting the plot of the Odyssey under way. This goddess serves as the divine embodiment of the very set of attributes we have been talking about trickery, lies, deception, communication by indirection. She then visits Telemachus in disguise and gives him advice in an underhanded fashion. She sends him off to Pylos and Sparta for, as she tells him and has already told Zeus, the purpose of learning about his father (93-95, 280-92), but she later confesses to his father that her true mission was to make a man out of him (13.421-24). She could tell the boy directly and fully all he wants to know about Odysseus, but the indirect nature of communication she helps to promote in this narrative serves her purpose here whereas a straight forward message would ruin the plan. (…) Her initial strategy, as Mentes, with Telemachus includes feigned surprise at the presence and outrageous behavior of the 41 suitors (1.224-29) (…). (RICHARDSON, 2007, p.141 - 144).

40

A primeira “conversa” entre marido e esposa após vinte anos de separação pode servir, pelo menos na mente de Odisseu, como modelo para uma comunicação indireta de sucesso, como vimos em sua forma maldosa, como Helena e Menelau. Atena leva Penélope para fazer sua primeira aparição diante de seu filho e marido sem dizer-lhe a verdadeira razão pra descer (18. 158-68). Normalmente, há uma discrepância entre o propósito de Atena e o motivo declarado de Penélope para este movimento desacostumado: eles têm em comum é que a rainha vai mostrar-se diante dos pretendentes (embora Penélope não entenda porque), mas Atena quer que ela excite a admiração de seu filho e marido (161-62), enquanto Penélope, não sabe que seu marido esta na sala, diz que vai avisar seu filho para tomar cuidado com os pretendentes (166-68). 41 Temos visto tais desempenhos em toda a Odisseia, e não apenas por seu herói. Atena dá o tom, mesmo antes de sua personificação de Mentes quando ela dirige a conversa olimpiana longe do tema de Zeus para a família que importa para ela e finge acreditar que seu favorito é odiado por Zeus, obtendo assim o enredo da Odisseia em curso. Esta deusa serve como a encarnação divina do conjunto de atributos, estamos falando de truques, mentiras, o engano, a comunicação por vias indiretas. Então ela visita Telêmaco disfarçada e lhe dá conselhos de uma forma dissimulada. Ela envia-o para Pilos e Esparta, pois, como ela diz a ele e já disse Zeus, o propósito era de aprender sobre seu pai (93-95, 280-92), mas depois ela confessa a

36

Com essa curta copilação de artigos no qual, de alguma forma, a deusa Atena é retradada, percebe-se que em sua grande maioria ela é estudada como a deusa da guerra ou a protetora de Atenas, pouco se retira de informação sobre suas outras características e proteções. O mito de seu nascimento, é de extrema peculiaridade que, possivelmente esta seja a razão pela qual ela é tão retratada e estudada dessa forma. O catalogo presente no final dessa pesquisa, apresenta a deusa Atena como a protetora e de certa forma também como a deusa da guerra, pois como se sabe, ela também estava presente e interfeira diretamente na Guerra de Tróia e posteriormente na volta de Odisseu.42

seu pai que o propósito era torná-lo homem (13.421-24). Ela poderia dizer direta e completamente ao menino tudo o que ele quisesse saber sobre Odisseu, mas o caráter indireto da comunicação que ela ajuda a promover nessa narrativa serve ao seu propósito aqui enquanto uma mensagem para a frente iria arruinar o plano. (...) Sua estratégia inicial, como Mentes com Telêmaco inclui fingir surpresa com a presença e o comportamento escandaloso dos pretendentes (1.224-29) (…). 42

Para verificar as passagens da deusa durante toda a Odisseia e suas intervenção diretas na trajetória de Odisseu, verificar o catalogo com as informação no capitulo 3 dessa presente pesquisa.

37

CAPITULO 3 – CATALOGO DAS APARIÇÕES DA DEUSA ATENA NA ODISSÉIA DE HOMERO. Fazendo uma leitura mais atenta da Odisseia, percebe-se que a deusa Atena, durante todo o tempo da narrativa, aparece constantemente, ajudando Odisseu e seus próximos, a partir dessa constatação, viu-se a necessidade de fazer um catalogo no qual essas aparições, ajudas e intervenção diretas estivessem presentes, para que fosse feito um estudo em cima dessa catalogação. As tabelas abaixo apresentam separadas por livros as catalogações das aparições da deusa Atena durante toda a Odisseia contendo os seguintes componentes, qual é o livro, pois como é de entendimento, a Odisseia é dividida em 24 livros, o trecho (ou resumo do mesmo quando o trecho apresenta-se muito extenso para a transcrição literal), para que possamos saber algumas informações sobre as aparições da Atena e qual é o verso ou conjunto de versos citados, tendo uma ressalva nessa numeração dos versos, pois no livro impresso (lembrando que a edição usada nesse trabalho foi a da coleção Loeb Classical da editora da Universidade de Harvard, com tradução de A. T. Muray) a separação dos versos aparece apenas no original em grego e esta separação foi feita de cinco em cinco o números representados nas tabelas foram retirados da versão em inglês, do mesmo tradutor, porém que está localizada no site Perseus43, que apresenta o mesmo tipo de separação do original em grego). Para explicar por que os deuses não aparecem em sua verdadeira face aos humanos Giulia Sissa e Marcel Detienne falam o seguinte, “(...) é terrível vê-los face a face. Mas, apesar disso, aparecem constantemente aos olhos humanos, às vezes disfarçados, mas às vezes também com o rosto descoberto, sem que sua presença provoque o deslumbramento de quem a enfrenta.” (SISSA & DETIENNE, 1990, p.19). Sobre as representações que Atena se usa para suas intervenções durante toda a epopeia de Odisseu, Claude Mossé mostra exatamente qual

43

http://www.perseus.tufts.edu/

38

são os papéis da deusa durante toda a Odisseia e durante todo o caminho de Odisseu ao retornar ao seu oikos. Quanto ao papel de Atena, nomeadamente na Odisseia, há que considerá-lo um pouco à parte. Na verdade, da deusa não se cansa de proteger Ulisses. Com este fim, vem a revestir as mais diversas formas, ora ganhando as feições do sábio Mentor, ora as de uma rapariguinha, nomeadamente quando Ulisses se apresta a entrar na cidade dos Feaces, roa ainda as de um jovem pastor na altura em que Ulisses atinge, por fim, as costas de Ítaca. Nesse aspecto, aliás, como ela mesma o faz notar, acha-se bastante próxima do seu favorito que também sabe camuflar-se habilmente sob múltiplas identidades. Tanto um como outra, o mortal e a deusa, são ‘astuciosos’, dotados dessa mêtis que lhes é comum. (Claude, MOSSÉ, 1984, p.55).

Porém as representações que mais chamam atenção são quando a deusa está disfarçada de homem, pois pode-se questionar qual seria a validade da palavra de uma mulher naquela época; caso a deusa aparecesse como uma simples mulher, Telêmaco a teria ouvido e sairia em busca de respostas sobre onde seu pai se encontrara?

39

CATALOGAÇÃO DAS APRARIÇÕES DA DEUSA ATENA NA ODISSEIA DE HOMERO

3.1 - TABELA LIVRO

TRECHO

VERSO

REPRESENTAÇÃO DA DEUSA ATENA

Um

Atena

intervém

à

Entre o

Carnal, pois está em os seus e

Zeus sobre a volta

conjunto

conversa com Zeus, seu pai.

de Odisseu à Ítaca de versos (Concílio

dos

40/45 e

Deuses).

Pede

95/100.

permissão

para

todas as suas ações, para

suas

intervenções diretas tanto com Odisseu quanto

com

Telémaco. Um

Atena vai à Ítaca

Entre os

Aparição carnal, porém com a

falar com Telêmaco, conjuntos

aparência de Mentes filho de

filho

Anchialus líder dos Taphians.

de

Odisseu, de versos

tenta convencê-lo a

100/105

proibir a entrada dos

até o

possíveis pretendentes

conjunto de

Penélope, sua mãe, após ver como esses pretendentes estavam

se

comportando

no

305/310.

40

oikos

de

Odisseu,

seu

protegido

e

convence-lhe

a

convocar

a

Assembleia

dos

Aqueus,

que

para

aquela situação seja de

alguma

forma

resolvida. Um

a

deusa

faz

Conjunto

Penélope adormecer de versos após esta falar às 360/3605. suar escrava sobre seu marido “morto”

3.2 – TABELA 2 LIVRO

TRECHO

VERSO

REPRESENTAÇÃO DA DEUSA ATENA

Dois

Telêmaco sua

e

Conjunto de

A

criada

versos 260

parece como Mentor.

rezam

para

Atena,

para

deusa

nessa

passagem

até 295

que ela o ajude na procura por seu

pai

Odisseu, ele

que

acredita

estar vivo; em seguida Atena o responde. Dois

após

uma

Conjunto de

A deusa nessa passagem

41

conversa entre

versos

aparece como Telêmaco, o filho

e

380/385 até

de Odisseu.

umas de suas

verso 390.

Telêmaco

empregadas Atena

dá-lhe

outro conselho e

após

tal

conselho , ela fala com vários homens e para um deles ela pede

um

barco. Dois

Atena

retorna

à Telemaco e dá

Conjunto de

Representação, novamente,

versos

como Mentes.

outro

390/395 até

conselho como

conjunto de

Mentes e após

versos

levar Telêmaco

420/425.

até seu barco, Atena

sopra

suas

velas

para

os

lugares certos.

3.3 – TABELA 3 LIVRO

TRECHO

VERSO

REPRESENTAÇÃO DA DEUSA ATENA

Três



na Conjunto de

embarcação,

versos

Aparição carnal na forma de Mentes.

42

à

caminho

de

Pilos,

10/15 e conjunto de

Atena afirma

versos

à Telêmaco

25/30.

que

Nestor

não

irá

proferir qualquer tipo de

mentira

para ele e lhe

fala

como

deve

se comportar perante Nestor. Três

Após Nestor

Conjunto de

Aparição carnal na forma de

perguntar à

versos

Mentes.

Telêmaco o

65/70 e

porque ele

conjunto de

iria navegar

versos

pelos mares

85/90.

– Atena enche seu coração de coragem para que ele lhe fale sobre seu pai, Odisseu. Três

Atena

Conjunto de

Aparição carnal na forma de

falando com

versos

Mentes.

Telêmaco:

225/230 até

diz-lhe que

o conjunto

43

mesmo os

de versos

deuses não

240/245

podem salvar um homem da morte Três

Nestor fala a

Conjunto de

Citação, estritamente e unicamente

Telêmaco e

versos

religiosa.

reza à Atena

325/330 até

e essa

o conjunto

atende seu

de versos

desejo.

385/390.

Atena

Conjunto de

Após realizar o pedido de Nestor, a

aparece

versos

deusa reclama pela sua oferenda.

para receber

435/440 até

a oferenda

o conjunto

que lhe foi

de versos

prometida

445/450.

Três

por Nestor.

3.4 – TABELA 4 LIVRO

TRECHO

VERSO

REPRESENTAÇÃO DA DEUSA ATENA

Quatro

Menelau cita a

Conjunto de

Não há uma representação

deusa quando

versos

carnal na passagem, apenas a

está contando à

265/270 até

citação da deusa por Menelau.

Telêmaco como

o conjunto

foi sua volta após

de versos

a guerra que foi

285/290.

contada na Ilíada (Guerra de Tróia) – Menelau reza

44

para a deusa. Quatro

No momento em

Conjunto de

Fala com Penélope em seu

que Penélope

versos

sonho, representando uma

descobre que

755/760 até

intervenção espiritual na forma

Telêmaco

o conjunto

de uma mulher chamada

embarcou para

de versos

Iphthime, porém de mesma

procurar o pai,

840/845.

importância que as

passa a temer

intervenções carnais.

também pela vida do filho; então Atena faz um fantasma, Iphthime e envia à casa de Odisseu.

3.5 – TABELA 5 LIVRO

TRECHO

VERSO

REPRESENTAÇÃO DA DEUSA ATENA

Cinco

Atena

Conjunto de

Como a deusa está entre os seus,

aparece no

versos de

a representação é como ela

conselho dos

05/10 até o

própria, sem nenhum tipo de

deuses e

conjunto de

modificação.

conversa

versos

com seu pai

35/40.

Zeus, enquanto estava recontando os pretendentes

45

de Penélope e pede novamente em nome de Odisseu, seja libertado da ilha onde está sendo mantido por Calipso. Cinco

Após

Conjunto de

Como não é uma interação direta

conseguir

versos

com Odisseu ou nenhum

sair da ilha

425/430 até

personagem humano, Atena

na qual

o conjunto

aparece como ela mesma.

estava preso

de versos

e passar por

490/495.

outra tormenta causada por Poseidon, Atena faz Odisseu adormecer numa encosta, para que ele pudesse descansar.

46

3.6 – TABELA 6 LIVRO

TRECHO

VERSO

REPRESENTAÇÃO DA DEUSA ATENA

Seis

Após

fazer

Odisseu adormecer,

Verso 01

A deusa aparece como ela própria

até o verso

nessa passagem.

10.

Atena vai à terra

dos

Feácios (Phaeacians) Seis

Atena foi até

Conjunto

A deusa toma a forma de Dymas,

a casa de

de versos

uma garota.

Nausithous

10/15 até o

para libertar

conjunto de

Odisseu para

versos

que ele

20/25.

pudesse retornar para Ítaca. Seis

Após a

Conjunto

Nessa passagem não há um

chegada de

Versos 225

representação carnal da deusa.

Nausicaa,

até 240.

Atena faz Odisseu mais alto para que pudesse enxergar além e ensina-lhe o trabalho manual para

47

que possa construir um barco.

3.7 – TABELA 7 LIVRO

TRECHO

VERSO

REPRESENTAÇÃO DA DEUSA ATENA

Sete

Após chegaram à

Conjunto de

A deusa aparece sob o disfarce de

versos entre uma jovem carregando um cântaro.

terra de

15/20 até o

Nausicaa,

conjunto de

Atena

versos entre

aparece para

140/145.

Odisseu e o leva até a cidade dos Fenícios.

3.8 – TABELA 8

LIVRO

TRECHO

VERSO

REPRESENTAÇÃO DA DEUSA ATENA

Oito

Atena vai até

Conjunto de

a cidade,

versos

para fazer

05/10 até o

com que

conjunto de

Odisseu

versos

retorne à sua

15/20.

A deusa aparece como ela própria.

48

cidade. Oito

Atena

Conjunto de

A deusa aparece como um

aconselha

versos

homem, porém não há uma

Telêmaco a

190/195 até

especificação de sobre quem este

promover um

o conjunto

homem seria.

desafio (para

de versos

os

230/235.

pretendentes, qual deles conseguisse usar seu arco e flecha poderia se casar com Penélope).

Odisseu conta por onde passou, desde o fim da Guerra de Tróia, detalhadamente até ficar preso na ilha de Calipso sem fazer nenhuma citação direta da Deusa Atena, porém a forma como conta, com invenções de ocorridos e

3.9 – TABELA 9 LIVRO

TRECHO

VERSO

REPRESENTAÇÃO DA DEUSA ATENA

Treze

Atena teria lhe

Conjunto

Não existe nessa passagem uma

falado que

de versos

representação carnal, apenas é

quando

190/195

mencionada falando sobre como

voltasse à sua

seria a volta de Odisseu ao seu

cidade, sua

oikos.

esposa não o

49

reconheceria, nem seus amigo, até que os pretendentes tivessem pagado o que fizeram ao seu oikos. Treze

Atena se

Conjunto

Representação na forma de um

aproxima de

de versos

jovem homem, pastor de

quando ele

220/225 até

ovelhas.

inicia sua volta

o conjunto

à Ítaca. Atena

de versos

conversa com

245/250.

Odisseu sobre sua volta à Ìtaca e por tudo o que se passou com ele, nessa jornada. Treze

Diz-lhe que

Conjunto

Aparece para Odisseu como ela

nunca duvidou

de versos

mesma.

que voltaria à

285/290 até

Ítaca e que

o verso

não pode

final 440.

intervir, pois não poderia ir contra Poseidon, irmão de Zeus, seu pai.

50

Fala com Odisseu prometendo vingança/morte contra os pretendentes de Penélope, sua esposa. Conta-lhe sobre esses pretendentes. Conta também à Odisseu que foi ela quem guiou Telêmaco para fora de Ítaca e diz-lhe também onde ele está (Palácio do filho de Atreus)

3.10 – TABELA 10 LIVRO

TRECHO

VERSO

REPRESENTAÇÃO DA DEUSA ATENA

Quinze

Atena vai à

Conjunto de

Parte carnal (durante sua

Lacedemônia

versos 01/05.

viagem), parte

para lembrar

espiritual/pensamento/motivaçã

Telêmaco da

o através do sentimento

volta de seu

(quando lembra à Telémaco que

pai.

ele deve voltar para Itáca)

51

Quinze

Enquanto

Conjunto de

Não há um aparição carnal a

Telêmaco

versos 10/15

deusa nessa passagem.

dorme, Atena

até o

fala-lhe que

conjunto de

não faz bem

versos 40/45

em deixar sua casa para os pretendentes fiquem comendo, bebendo e cortejando sua mãe, para fazer viajem tão grande à procura de seu pai. Conta-lhe que seu avô e tio querem casar Penélope com Eurymachus, pois este seria o melhor entre os pretendentes

52

3.11 – TABELA 11

LIVRO

TRECHO

VERSO

REPRESENTAÇÃO DA DEUSA ATENA

Dezesseis

Diz-lhe que

Conjunto

Para Odisseu a deusa mostra-se

agora que ele

de versos

como realmente é, com toda a

e Telêmaco

155/60 até

sua grandiosidade.

juraram luta

conjunto de

contra os

versos

pretendentes,

185/190.

ele poderia ir para a cidade prometida (até então estava na costa da cidade) e mostrar-se ansioso para a batalha. Dezesseis

Atena faz

Conjunto

Não há nesse trecho a

Penélope

de versos

representação carnal da deusa.

adormecer

400/405 até

após ouvir

o conjunto

seus

de versos

pretendentes

450/455.

planejar o assassinato de seu filho Telêmaco. Dezesseis

Atena transforma

Versos 455

Para Odisseu nessa passagem,

até 460.

Atena parece como ela própria.

53

Odisseu velho

em para

que assim ele pudesse entrar em seu castelo

sem

ser reconhecido por

nenhum

dos pretendentes de Penélope.

3.12 – TABELA 12

LIVRO

TRECHO

VERSO

REPRESENTAÇÃO DA DEUSA ATENA

Dezoito

Atena ‘coloca Conjunto no coração’

de versos

(expressão

155/160

usada por

até o

Homero) de Penélope que se ela se mostrasse para os pretendentes ela ganharia mais o amor e respeito do marido e do

conjunto de versos 165/170.

Não há nessa passagem uma aparição carnal da deusa.

54

filho

3.13 – TABELA 13 LIVRO

TRECHO

VERSO

REPRESENTAÇÃO DA DEUSA ATENA

Vinte

Enquanto

Conjunto de

Aparece para Odisseu na forma

Odisseu

versos

de uma mulher, porém conversa

estava

30/35 até o

com o herói que tem consciência

deitado no

verso 40.

de que se trata da deusa.

Conjunto de

Aparece para Odisseu na forma

chão de sua própria casa, após conversar com Penélope, Atena aparece para ele e lhe diz que ali era a sua casa, sua esposa e filho, tentando encorajá-lo a mostrar quem realmente era. Vinte

Odisseu

55

nega-se,

versos

de uma mulher, porém conversa

Atena lhe dá

55/60.

com o herói que tem consciência

outro

de que se trata da deusa.

conselho e então o faz dormir e retorna para o Olimpo. Vinte

Após

Versos 345

Não há a representação carnal da

Telêmaco

até 350.

deusa nessa passagem.

VERSO

REPRESENTAÇÃO

falar aos pretendentes, Atena desperta sentimento nele e faz com que confundam seus sentimentos.

3.14 – TABELA 14 LIVRO

TRECHO

DA DEUSA ATENA Vinte e um

Atena coloca

Conjunto de

Não há uma representação carnal

no coração

verso 01 até

da deusa nessa passagem.

de Penélope que ela deve colocar diante de seus

o verso 10

56

pretendentes e ‘inimigos’ de Odisseu, seu arco e flecha, para que ocorra um concurso.

3.15 – TABELA 15 LIVRO

TRECHO

VERSO

REPRESENTAÇÃO DA DEUSA ATENA

Vinte e

Aproxima-se

Conjunto de

Nesse trecho a deusa Atena se

dois

de Odisseu,

versos

apresenta à Odisseu como

quando este

225/230 até

Mentor.

e Telêmaco

conjunto de

tentar tirar os

versos

pretendentes

235/240.

de sua casa (nesse momento Telêmaco já sabe que o mendigo que está em sua casa é seu pai). Vinte e

Agelaus:

Conjunto de

Nesse trecho a deusa Atena se

dois

pede para

versos

apresenta como Mentor.

Atena para

210/215 até

não deixar

o conjunto

Odisseu se

de versos

levar por suar

240/245.

57

próprias palavras e lutar contra os pretendentes

3.16 – TABELA 16 LIVROS

TRECHO

VERSO

REPRESENTAÇÃO DA DEUSA ATENA

Vinte e três

Após ser Conjunto de Não há uma aparição carnal da Odisseu ser versos 155 deusa nesse trecho. tratado com o até 165. real dono daquela casa, Atena derrama-lhe abundante beleza tornando-lhe maior e mais forte.

Vinte e três

Após Odisseu contar para Penélope toda a sua jornada após a Guerra de Tróia até sua chagada em Ítaca, a deusa clareia sua mente, para que vá

Conjunto de Não há uma aparição carnal da versos deusa nesse trecho 340/345 até o verso final 370.

58

visitar seu pai e os pretendentes que ainda estavam em sua casa. A deusa transforma o dia em noite.

3.17 – TABELA 17 LIVROS

TRECHO

VERSO

REPRESENTAÇÃO DA DEUSA ATENA

Vinte e quatro

Atena aparece para Odisseu, Telêmaco, Laertes e Dólios.

Conjunto de versos 365/370 até o conjunto de versos 380/385.

Mas uma vez Atena se apresenta como Mentes, para que pudesse ser ouvida pelos seus protegidos. Representada como Mentor líder dos Taphians.

Vinte e quatro

em sua ultima aparição Atena coloca tenacidade no coração de Odisseu e termina de vez a batalha sangrenda que lutava contra os pretendentes de sua esposa que devastaram seu oikos.

Conjunto de versos 470/475 até o conjunto de versos 545 até o final da narrativa.

Mas uma vez Atena se apresenta como Mentes, para que pudesse ser ouvida pelos seus protegidos. Representada como Mentor líder dos Taphians.

59

Percebe-se que na grande maioria das aparições carnais, a deusa encarna outra pessoa, uma espécie de personagem, para que os humanos a posso ouvir e acreditar no que fala, geralmente é um ‘grande amigo’ de Odisseu, pois assim suas palavras teriam legitimidade tanto para Telémaco, seu filhos, quanto para Penélope e seus pretendentes. Aparecendo como uma pequena garota, apenas quando é para convencer outra da mesma idade.

60

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Odisseia de Homero ou qualquer tema referente à Antiguidade Clássica, por vezes, pode parecer um ultrapassado, sem novas propostas. Porém ao iniciar uma pesquisa sobre um assunto tão antigo em tempos modernos, temos que tentar enxergá-lo com um olhar renovado, procurando possíveis novas respostas para questões tão antigas quanto os próprios gregos. O uso de material recente é o que nos auxiliou nessa pesquisa a dar essa tom de, possível, novidade; o aspecto de que em todas as épocas, os historiadores continuam a pensar essas questões e que elas são tão importantes e fundamentais quanto qualquer outra questão de fundamento histórico. Mesmo Odisseu sendo personagem principal, percebemos que a Odisséia de Homero têm em seu conteúdo inúmeras fontes de estudo que não seu herói, nesse em especial foi a Deusa Atena e todas as suas aparições e intervenções junto ao seu protetor; Jean Pierre-Vernant mostra-a como, entre outras característica, a deusa da guerra “(...) Se me escolheres, terás vitória nos campos de batalha e a sabedoria que todos invejarão” (VERNANT, 1999, 88/89). A deusa Atena, durante todo o poema, ajuda de forma direta o herói da narrativa; quando Odisseu tenta retornar para Ítaca após a Guerra de Tróia; sendo a protetora dos atenienses, a deusa, vê que Odisseu já sofreu o suficiente e que a partir daquele momento seria correto que ele voltasse ao seu oikos para protegê-lo dos pretendentes que ali haviam se instalado e de modo frenético destruíam suas riquezas na espera de uma resposta de Penélope para um casamento que substituiria Odisseu como, marido, pai e chefe daquele poderoso oikos. Porém Atena, ao longo dos séculos, não foi representada apenas como a deusa da guerra, como sabemos para a guerra bruta e primordial, existe Ares; ela foi vista também como a protetora do burgo, da agricultura, dos artesãos, da literatura e das artes a patrona não só de Atenas, mas também de

61

Megara, Argos, Esparta e de Tróia. Por muito, também, não foi apenas mulher, foi criança quando criada junto à Pallas e também em muitos aspectos foi representada como um homem. Uma figura com tantas facetas não poderia deixar de passar desapercebia como também como um segundo personagem principal da Odisseia, já que é ela, a deusa protetora, que se encarrega de iniciar a jornada de Odisseu de volta à sua família. Desde o Concilio dos Deuses até Penélope reconhecendo seu amado marido, Atena, com suas diferentes aparições e com o seu discurso retórico tão aprimorado, leva a narrativa a diante e faz com que a volta do herói para sua casa seja certa. As representações de Homero nas pesquisas são geralmente na tentativa de encontrar uma resposta para questão Homérica, que vem sendo intensamente pesquisada durante séculos porque Homero é uma figura de extrema complexidade desde a sua época. Uma das questões mais recente mostra que Homero tenha surgido do grupo Homeriadas, mas ainda assim não se tem nada de concreto, ou minimamente conclusivo a cerca do assunto. Homero, ou quem compôs tais poemas, foi um compositor exemplar de talento ímpar; tal constatação não pode ser negada a quem quer que Homero seja, um ou dois ou um grupo. Ter resposta verdadeira é impossível em qualquer campo da História, mas pode-se tentar encontrá-las ao mais próximo da realidade; com pesquisas sobre Grécia essas respostas se tornam ainda mais complexas e de raras confirmações.

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REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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HINOS HOMÉRICOS: tradução, notas e estudo/Edvanda Bonavida da Rosa... [et al.]; edição e organização Wilson Alvez Ribeiro Jr. – São Paulo: Editora UNESP, 2010. 576p.: il. (Clássicos).

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