Cenários de Desenvolvimento Urbano

July 5, 2017 | Autor: Bruna Barbezani | Categoria: Urban Planning, Waste Management, Water and Wasterwater Treatment, Hidrology
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Universidade Federal do ABC Pró-reitoria de pesquisa Programa de pesquisa desde o primeiro dia (PDPD)

Bruna Barbezani

CIDADE, POLUIÇÃO E CLIMA Cenários de desenvolvimento urbano.

Relatório Final

Santo André – SP 2013

Bruna Barbezani

CIDADE, POLUIÇÃO E CLIMA Cenários de desenvolvimento urbano Relatório Final

Relatório final apresentado para a Pró-reitoria de pesquisa para a conclusão do projeto do programa de pesquisa desde o primeiro dia (PDPD) referente ao edital 04/2012

Orientador: Prof. Dr. Humberto de Paiva Junior

Santo André – SP 2013

Resumo Nos últimos anos a urbanização ganhou cada vez mais forças, tornando-se um fenômeno global. De acordo com o Censo de 2010 da SEADE (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados), no Estado de São Paulo, o grau de urbanização já era de 88,64% em 1980, chegando a 95,94% em 2010. No município de Santo André, em particular, esse grau de urbanização é de 100% desde a década de 80. Esses números mostram como a população urbana passa a dominar o cenário na maioria das cidades, gerando novas demandas, necessidades e problemas a serem solucionados. Uma boa alternativa para lidar com esse novo modelo de população e com as características da vida urbana - economia instável, alta densidade demográfica, deslocamentos pelo espaço, entre tantas outras – foi o uso de cenários prospectivos também na área do planejamento urbano. A construção de cenários inicialmente é mais forte no planejamento militar e econômico. Porém, os centros urbanos, na segunda metade do século XX, passam a ser menos previsíveis, vivem em constantes crises e afundados em problemas, o que indica a necessidade de mudar a forma de planejar. O futuro sempre foi uma preocupação das grandes civilizações, e a projeção de cenários criou uma situação mais confortável em relação a essas expectativas. Porém, descrever cenários de desenvolvimento urbano não é uma tarefa simples, pois suas variáveis relacionam-se com incertezas, comportamentos e a velocidade da comunicação. Uma das etapas mais difundidas na projeção de cenários, entre os estudiosos, é o estudo demográfico. O IBGE, maior órgão de estudo demográfico e estatístico do país, divulga todos os anos censos que analisam mais de 500 fatores apenas para conclusões demográficas. Além de outros estudos sobre a população que podem auxiliar na complexa teia de informações que serve de base à construção de cenários. Palavras-chave: Planejamento, urbanização, futuro, desenvolvimento, população.

Lista de Figuras Figura 1 – Abordagem Esquemática em Planejamento de Transportes .............. Erro! Indicador não definido.0 Figura 2 – Modelo de zoneamento urbano ................. Erro! Indicador não definido.2 Figura 3 – Organograma Modelo das Quatro etapasErro! Indicador não definido.14 Figura 4 – Organograma Modelo das Quatro etapas . Erro! Indicador não definido.4 Figura 5 – Tipos de cenário ....................................................................................... 19 Figura 6 – Tipos de cenário II ..................................... Erro! Indicador não definido.0 Figura 7 – Como construir um cenário prospectivo .... Erro! Indicador não definido.4 Figura 8 – Processo de construção de cenários ........ Erro! Indicador não definido.4

Lista de Tabelas Tabela 1- Cenário de desenvolvimento urbano ......................................................... 17 Tabela 2 – Componentes de um cenário prospectivo ............................................... 26 Tabela 3 – Influência do estudo demográfico ............... Erro! Indicador não definido.

Sumário 1

INTRODUÇÃO ............................................................................................ 1

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REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...................................................................... 4

2.1

A urbanização e suas consequências..................................................... 4

3

O QUE É PLANEJAMENTO URBANO?.................................................... 6

4

O QUE É PLANEJAMENTO DE TRANSPORTES? .................................. 8

4.1 O que são zonas de tráfego e qual sua relação com os distritos censitários? ............................................................................................................. 11 4.2

O que é o modelo das quatro etapas? .................................................. 13

5 QUAL A RELAÇÃO ENTRE PLANEJAMENTO URBANO E PLANEJAMENTO DE TRANSPORTES?................................................................. 15 6

O QUE SÃO CENÁRIOS DE DESENVOLVIMENTO URBANO? ............ 16

6.1

Quais os tipos de cenários de desenvolvimento urbano? .................. 18

6.1 Qual a importância dos cenários de desenvolvimento urbano para a avaliação de emissões de gases do efeito estufa? .............................................. 21 7

COMO SÃO CONSTRUÍDOS OS CENÁRIOS? ...................................... 22

7.1

Quais informações são necessárias para construir um cenário? ...... 24

7.2 Quais técnicas, métodos ou teorias são empregados na construção de cenários? ............................................................................................................ 27 7.2.1

Como a demografia pode ser empregada na projeção de cenários?. 29

7.2.2

Como a economia afeta a projeção de cenários? ................................ 32

7.3

Como definir os horizontes de projeto? ............................................... 33

7.4

Como são representados os cenários? ................................................ 34

8

CONCLUSÃO ........................................................................................... 36

1

INTRODUÇÃO

Como em todas as demais áreas da engenharia, o planejamento de sistemas de transportes se depara com o desafio de conceber sistemas sustentáveis, ambientalmente, economicamente e socialmente, apesar do conflito existente entre as três metas. Devido a sua natureza, tanto a construção de sua infraestrutura como a operação de seus serviços produz graves e extensos impactos no meio físico, biótico e antrópico, que tornam a sustentabilidade inatingível considerando as tecnologias atuais e as perspectivas de demandas futuras. Portanto, como em diversas outras áreas, a engenharia de transportes restringe seus

objetivos

concretos

a

seleção

de

alternativas

ambientalmente,

economicamente e socialmente mais eficientes. No campo socioeconômico, as alternativas de projetos de transportes são selecionadas basicamente através de sua viabilidade técnica e econômica, mensurada pelo retorno do capital investido e de seu benefício social mensurado através da redução de custos para os usuários e a sociedade tais como tarifas, tempo de deslocamentos e número de acidentes ou perdas de vidas humanas. Quanto à dimensão ambiental ou mais especificamente os impactos no ambiente físico e biótico, uma das abordagens corriqueiramente empregadas devido a sua relação com o tema das mudanças climáticas e simplicidade de associação com modelos de previsão de demanda de transportes é a avaliação de emissões de gases do efeito estufa (GEE). Entre 1997 e 1998 o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA) em conjunto com a Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), lideraram um conjunto de estudos de transportes em dez cidades brasileiras a fim de estabelecer uma metodologia de avaliação das “deseconomias” urbanas decorrentes dos problemas de operação dos sistemas de transportes. Nessa metodologia as estimativas das emissões veiculares são realizadas através de curvas de emissão por velocidade de tráfego. Essas curvas foram adotadas considerando duas categorias de veículos (pequeno e grande) e dois tipos de combustíveis (gasolina e óleo diesel). 1

Em 2002 o Ministério da Ciência e Tecnologia, publica o “Primeiro inventário brasileiro de emissões antrópicas de gases de efeito estufa” que analisa diversos setores. Em 2010 o Ministério do Meio Ambiente publica um trabalho mais específico intitulado “Primeiro inventário nacional de emissões atmosféricas por veículos automotores rodoviários”. Ambas as metodologias empregadas realizam uma avaliação agregada de emissões através da análise do consumo nacional dos tipos de combustíveis disponíveis, composição da frota conforme as estatísticas nacionais de vendas de veículos e distância percorrida estimada, a fim de avaliarem a eficácia das políticas públicas elaboradas e aplicadas pelo Estado. Apesar de existirem abordagens mais recentes que consideram a evolução tecnológica, o método IPEA/ANTP ainda é o mais útil para a avaliação da eficiência ambiental de alternativas de projetos de transportes, porque é o único que relaciona a velocidade de tráfego com as emissões. Essa relação, mesmo usando fatores de emissão desatualizados, é importante para a avaliação dos diferentes cenários considerados nos horizontes dos projetos de sistemas de transportes. Atualmente, a Secretaria de Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo (STM) desenvolve uma cooperação técnica, não reembolsável (Nº. ATN/OC-11008BR) com o Banco Iteramericano de Desenvolvimento (BID) para o desenvolvimento de uma metodologia de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) para gerar reduções certificadas de emissões em decorrência da ampliação da rede de transporte público sobre trilhos da cidade de São Paulo. A chave para o funcionamento dessa metodologia é a comprovação da capacidade dos projetos de transporte público em mudar a matriz modal da cidade de São Paulo, quantificando a redução na circulação de veículos movidos a combustão e a quantidade de carbono que deixará de ser emitida. A avaliação das mudanças na matriz modal é realizada através do método das quatro etapas e macrosimulação da rede de transportes. Esse procedimento é utilizado há cinco décadas na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). Os modelos de macrosimulação são construídos em softwares tais como VISUM, TransCAD, EMME e TRANUS, sendo os dois últimos mais difundidos no Brasil e atualmente utilizados na RMSP. Porém, para a quantificação mais precisa da redução das emissões é necessário uma metodologia com características do 2

trabalho IPEA/ANTP, como dos inventários nacionais e regionais de emissões, citados. O presente projeto de PDPD insere-se na linha de pesquisa desenvolvida pelo professor doutor Humberto de Paiva Junior sobre transportes, meio ambiente e urbanismo, cujo tema e título é “Cidade, Poluição e Clima”. Esse tema é mais amplo que o presente conjunto de metas e objetivos apresentados a baixo, a fim de aliar outros projetos de pesquisa e pesquisadores atuantes na questão de mudanças climáticas. O problema central da linha de pesquisa é estabelecer relações entre o processo de desenvolvimento de uma cidade, os níveis e tipos de poluição que ela gera e o grau de contribuição dessa poluição para as mudanças climáticas. O entendimento dessas relações possibilitará um melhor planejamento do uso e ocupação do espaço urbano a fim de torná-lo menos insustentável. Esse projeto de PDPD corresponde ao quinto grupo de atividades da linha de pesquisa Cidade, Poluição e Clima, sobre emissões de fontes móveis e metodologia MDL. Seu objetivo é 

Definir uma metodologia para a projeção de variáveis demográficas e socioeconômicas adequadas para os objetivos da linha de pesquisa Cidade, Poluição e Clima e o município de Santo André;



Identificar e analisar estudos, planos, diretrizes e projetos relevantes para o desenvolvimento urbano do município de Santo André; e



Construir cenários de desenvolvimento urbano para o município de Santo André a serem explorados na fase de modelagem dessa linha de pesquisa.

Este projeto visa esclarecer conceitos e metodologias sobre a construção de cenários prospectivos. Além de fornecer bases para o entendimento da relação entre o desenvolvimento urbano, sua contribuição para o aumento da poluição e a influencia desses fatores sob as mudanças climáticas. Ele não esgota esse assunto e nem é o único esforço de revisão bibliográfica da linha de pesquisa Cidade, Poluição e Clima.

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2.1

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A urbanização e suas consequências

“Houve um momento, no decorrer da década de 70, em que o movimento urbanístico começou a plantar bananeira e a virar do avesso; pareceu mesmo, por vezes, durante os anos 80, estar à beira da autodestruição (...)”. O trecho acima é uma citação da obra Cidades do Amanhã, de Peter Hall. Refere-se às grandes mudanças no planejamento urbano e à necessidade de que a urbanização acompanhasse e estimulasse o desenvolvimento econômico. O termo planejamento urbano vem dos Estados Unidos e da Inglaterra, e é uma das evidências das mudanças vividas pelos centros urbanos, que foram acentuadas nos anos 70. O fenômeno da urbanização passa a ser visto como dinâmico, e o planejamento estagnado dos últimos anos dificulta a alimentação desse sistema para que seu crescimento se mantivesse contínuo. A cidade passa a ser vista de forma mais realista, e não mais como o modelo ideal do urbanista (Kohlsdorf, 1985 apud Saboya, 2008). O planejamento, anteriormente, tinha o objetivo de distribuição da ocupação do solo, ele visava conter a grande expansão urbana. Porém, na segunda metade do século XX, nota-se, principalmente na Inglaterra, que aquela grande potência começa a perder forças, pois o modelo urbanístico não acompanha mais o desenvolvimento econômico e populacional; assim como seus desdobramentos: meios de transporte, áreas de lazer, atração do público turista, qualidade de vida da população local, entre outros fatores que estagnam e geram uma crise urbana. Os Estados Unidos, então, preocupados com as consequências desse vírus urbano, investem no planejamento, incentivam o consumo, revitalizam áreas segregadas e oferecem condições para que a população mantenha esse ciclo ativo. Ou seja, melhora o transporte, viabiliza o crescimento do setor privado, gera empregos e cria um novo conceito de urbanização.

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A Inglaterra segue o exemplo da nação que um dia fora sua aprendiz, e investe o capital do governo para que o setor privado invista ainda mais, e a urbanização seja expandida. Neste momento entende-se que as cidades urbanas passam a ser empreendimentos urbanísticos, e que a forma como sua população se relaciona com o espaço vai ser determinante ao crescimento econômico contínuo (Hall, 2007). Após essa revolução no planejamento urbano, a população se volta cada vez mais para as cidades e os centros urbanos passam a atrair as pessoas de forma a criar uma concentração urbana. O modelo fordista, onde a família muda-se para o subúrbio para criar os filhos, perde forças, mas as cidades não querem parar, e para sustentar toda essa movimentação é necessária uma grande e forte estrutura. A população também é dinâmica, e torna-se difícil oferecer uma estrutura sólida que consiga atender a população durante um tempo considerável. Daí aprimora-se o estudo de cenários prospectivos, a fim de prever problemas urbanos e tomar medidas de precaução que evitem uma nova crise. Segundo Wright e Spers (2006), a projeção de cenários não traz previsões exatas do futuro, mas permite a elaboração de hipóteses consistentes sobre alternativas possíveis para um cenário futuro, apresentando fatores condicionantes que nos levam da imagem atual a imagem futura. Os cenários ganham, então, um importante papel na tomada de decisões. Baseados em estudos de tendência, os cenários podem contribuir para uma análise melhor das medidas propostas e influenciar nas decisões finais, pois o conhecimento prévio das consequências possibilita a reflexão do caminho a ser tomado. É uma chance de evitar problemas no futuro, e de se preparar para atender as diferentes demandas da população urbana em determinados espaços de tempo.

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O QUE É PLANEJAMENTO URBANO?

Planejamento Urbano é o estudo da apropriação do espaço, que visa os maiores benefícios possíveis. Ou seja, é desenvolvido com a finalidade de melhorar a qualidade de vida da população local, além de analisar as limitações e o potencial do espaço. Um dos objetivos, ao planejar o ambiente urbano, é capacitar o crescimento do mesmo, seja pensando na área de saneamento, transporte, execução de obras ou qualquer outra atividade que venha a melhorar as condições de vida dos habitantes, e desenvolver o espaço socialmente e economicamente. O urbanismo trata-se da relação entre cidadãos e cidade, por isso o planejamento urbano é determinado por uma série de fatores, como demografia, cultura, ocupação do espaço, influências ambientais, situação socioeconômica, entre outros. Os processos decorrentes do planejamento dependem do objetivo do órgão planejador, da meta traçada capaz de melhorar e estruturar o espaço, de modo a elevar a qualidade de vida da população urbana. A palavra “planejar” nos leva a imaginar algo a ser feito ainda, porém o planejamento urbano pode dizer respeito à formação de um espaço urbano novo, ou às modificações a serem implementadas em um espaço urbano já existente, formado e com suas características e problemáticas próprias. No segundo caso, a tarefa é ainda mais árdua, pois é necessário lidar com uma estrutura preexistente da qual as pessoas são dependentes no seu dia a dia. Por isso, é importante um estudo aprofundado sobre os impactos das alterações planejadas e evitar atitudes imediatistas que provavelmente acarretarão novos problemas urbanos no futuro. Um exemplo muito discutido é a distribuição de alimentos para populações que vivem em condições precárias, alguns estudiosos apontam a medida como um incentivo ao aumento desta população e, por conseguinte, da miséria. Ainda no século XVIII, Thomas Malthus desenvolveu uma teoria sobre o crescimento populacional e a produção de alimentos (aspectos também importantes no 6

planejamento urbano), sua teoria, resumidamente, diz que a população mundial cresceria tão rápido, que os recursos se esgotariam, já que o máximo de espaço possível já estaria comportando o sistema agropecuário, enquanto o número de pessoas continuaria a crescer; gerando fome, miséria e pobreza. A tecnologia atual desacelerou este processo, no entanto, a elevada densidade demográfica e a pobreza são problemas constantes e atuais para os planejadores urbanos. Esse fato nos mostra como é antiga a necessidade de uma organização da área urbana, e como é tardio o estudo em seu planejamento, iniciado em meados do século XIX. Com a informação de que estudos na área do planejamento urbano ganharam forças no século XIX, fica fácil relacionar seu crescimento a um momento histórico, a Revolução Industrial. Assim como em plena Revolução Industrial, o crescimento urbano e populacional em muitos lugares continua desordenado, tornando-se o grande desafio dos profissionais na área. A grande diferença, é que hoje sabe-se mais sobre a necessidade de planejamento e cuidados com o ambiente. A urbanização nada mais é que o modo como as pessoas se organizam nas cidades, nos espaços urbanos, por isso é tão difícil seu planejamento, trata-se de harmonizar a relação entre homem e espaço projetando melhoras futuras, em um momento em que esta relação já está determinada. Afinal como planejar algo ideal baseado em um sistema que está em constante mudança e crescimento? Torna-se quase impossível planejar um ambiente urbano destinado a comportar gerações futuras, com culturas, demografia, valores e costumes diferentes. É como imaginar a organização urbana do século XIX com a expansão da indústria, nos dias atuais, um absurdo. Pensando nisso, os planejadores precisam projetar cenários, que se aproximem de realidades futuras, e lhes proporcione melhores alternativas garantindo a qualidade de vida da população atual. A projeção de cenários ganha forças então no planejamento urbano, como a possibilidade de obter melhor desempenho.

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O QUE É PLANEJAMENTO DE TRANSPORTES?

O planejamento de transportes é o estudo da infraestrutura capaz de permitir, a determinada região, que a população trafegue de acordo com suas necessidades e facilitar a circulação de mercadorias. Isto é, o planejamento de transportes deve trabalhar para desenvolver regiões, levando consumidores e novos mercados, com cada vez mais praticidade, a diversas áreas. Assim como o planejamento urbano, o planejamento de transportes pode atuar em melhorias e expansões de sistemas existentes ou na criação de novas redes de transportes. Independente da situação, os projetos dependem de um estudo profundo sobre as regiões a serem afetadas pelas mudanças. Muitas vezes, quando se trata da melhoria de determinado sistema, o projeto exige urgência, porém, é importante ressaltar que o novo plano deve seguir tendências e estudos de demanda, para que sua utilidade seja o mais duradoura possível. Antes de definir a linha de pesquisa que dará sequência ao planejamento, é preciso saber quais são as determinantes em um projeto que tem a característica de ser visionário, isto é, sanar as necessidades atuais, antecipando também as futuras. Sendo assim, cabe definir o planejamento de transportes como um estudo de demandas e seu desenvolvimento ao longo do tempo (Khisty, 1990, apud Cardoso, 2001, estipula que um bom planejamento de transportes deve ser feito baseado em um período de 20 a 30 anos após a implementação do projeto), como uma definição de metas e objetivos, e a projeção de um sistema que acompanhe a demanda estudada. O estudo da demanda pode ser uma tarefa trabalhosa, já que ela lida com possibilidades e comportamento humano em momentos e gerações diferentes. A demanda por transportes depende da situação atual de determinada região e de suas expectativas de desenvolvimento no futuro, por isso é importante criar modelos que analisem uma tendência, e, ainda assim, implementar o projeto de forma que permita o monitoramento de sua eficiência e viabilize possíveis alterações futuras, caso haja mudança nas necessidades e modelos da população.

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Outro aspecto importante é o impacto que este projeto vai gerar na região de estudo, este impacto diz muito sobre o comportamento futuro da população, além de expressar a viabilidade do projeto. Devem ser analisados todos os possíveis resultados e reações a implementação, um estudo aprofundado desta análise vai gerar informações mais sólidas e confiáveis. Tomado o conhecimento de todas essas variáveis, é possível traçar um plano de ação. Existem diversas formas de organizar o passo a passo de um planejamento de transportes, mas uma base muito utilizada é a de Bruton (Bruton, 1985 apud Ministério dos Transportes, 2009), que expressa em um organograma detalhado fatores fundamentais a um estudo completo [Figura 1]. Além disso, Bruton contribuiu com algumas postulações que direcionam melhor o estudo na área dos transportes. Em suma, ele assume que: 1) O papel futuro de determinada rede de transporte não pode ser adequado sem serem consideradas todas as demais redes. 2) Um sistema de transporte influencia no desenvolvimento de uma região tanto quanto a serve. 3) O estudo de transportes é uma vertente do estudo de planejamento e não deve ser analisado isoladamente. 4) O processo de planejamento de transportes é contínuo e deve estar em constante desenvolvimento, acompanhando sua região e demanda. 5) As consequências de um bom planejamento de transportes podem ser grandiosas. A sua finalidade é sempre voltada a aspectos sociais, culturais, ambientais e econômicos, assim como sua influência. Um bom projeto pode incluir, a ambientes desenvolvidos, regiões segregadas, pode levar a regiões esquecidas desenvolvimento, comércio e novas possibilidades. Além disso, tem a capacidade de aumentar a qualidade de vida de muitas pessoas em inúmeros aspectos, seja na otimização do tempo gasto em trajetos ou no conforto de suas viagens.

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Figura 1 – Abordagem Esquemática em Planejamento de Transportes

ORGANIZAÇÃO E INVENTÁRIO DE DADOS Desenvolvimento e organização - Quadro de Referencia Técnico e Político - Participação dos stakeholders Levantamento de Dados - População - Atividade econômica - Uso da terra - Sistema de transportes - Leis e regulamentos - Política governamental - Recursos Financeiros, etc Teste de precisão e acurácia

Metas e Objetivos METAS E OBJETIVOS

ANÁLISE DAS CONDIÇÕES ATUAIS Calibração do Modelo de Transportes - Alocação de Viagens - Uso da terra - Geração de viagens - Distribuição de viagens - Divisão modal Desenvolvimento de Plano de Ação Imediata

PREVISÕES MACROECONÔMICAS PARA A REGIÃO DE ESTUDO: CENARIZAÇÃO População Uso da terra Economia Rendas, etc.

ANÁLISE DE ALTERNATIVAS FUTURAS Desenvolvimento de alternativas

PORTFOLIO DE LONGO PRAZO Escalonamento no tempo Financiamento Aspectos institucionais

Aplicação do Modelo - Uso da terra - Geração de viagens - Distribuição de viagens - Divisão modal - Alocação de Viagens Teste, Avaliação e Seleção de Alternativas

PORTFOLIO DE CURTO PRAZO Planejamento de projetos Programação de financiamento

Fonte: “Processo de planejamento dos transportes”. Bruton, M.J. (1985) Introduction to transportation planning. 10

4.1

O que são zonas de tráfego e qual sua relação com os distritos censitários?

Zonas de tráfego são subdivisões da região de estudo em um projeto de planejamento de transportes. São utilizadas como controle no estudo do tráfego e da ocupação de solo, uma vez que quanto mais detalhado e específico é feito o zoneamento, mais coerentes serão as informações obtidas. Antes de definir as zonas de tráfego o planejador divide a área estudada em duas regiões, uma interna e outra externa, em seguida ele divide cada região em zonas. Essa divisão nos traz um conceito básico sobre a movimentação (tráfego) dentro dessas regiões e zonas. Quando o movimento vai de uma zona externa até outra também externa, o movimento fica conhecido como através, pois ele passa pela zona central de estudo, mas não se origina ou termina na mesma. Quando o movimento é entre zonas internas e externas, ele é chamado de movimento externo, pois ultrapassa os limites das zonas internas. Por fim, quando um movimento ocorre apenas entre zonas internas, ele fica caracterizado como movimento interno. As regiões externas são maiores que a interna, sendo a região interna o objeto principal de estudo, e as externas o restante da região com poder de influencia e passível de consequências em relação aos projetos estudados para a área interna. O planejador define também linhas para sua região de estudo; a linha de cordão é aquela que delimita a área interna, como se fosse seu contorno, já a linha de aferição é aquela que corta a região. Ambas as linhas tem a finalidade de representar dados coletados por meio de censos e pesquisas, completando o modelo traçado do planejador [Figura 2]. A definição da área de estudo é complexa, ela engloba diversos fatores e condições, pois um trabalho extremamente detalhado gera custos maiores e requer mais tempo do que normalmente se dispõe. Portanto, após obter as informações necessárias o planejador precisa ser prático e metódico ao definir sua área de estudo, porém sendo também flexivo, já que no mundo nada é ideal, e tudo está sujeito a alterações.

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Alguns especialistas definem etapas para obter-se um bom zoneamento, Bruton, (1975) e Ortúzar e Willumsen, (1994) trazem conceitos fundamentais para facilitar essa difícil tarefa na pauta do planejador. A maior diferença entre os dois modelos é que Bruton é mais estrutural, a priori buscando mais o planejamento físico do espaço para obter respostas mais direcionadas; enquanto a teoria de Ortúzar e Willumsen busca definir o espaço físico por meio das respostas obtidas em pesquisas prévias. Seja qual for a metodologia escolhida, é imprescindível que as Zonas de Tráfego sejam definidas de forma sustentável. Ou seja, ao mesmo tempo que o zoneamento deve ser uma estrutura sólida e coerente para o planejador, baseado em pesquisas censitárias e estudos complexos de demanda, ele deve ser maleável a limitações econômicas e prazos. Figura 2 – Modelo de zoneamento urbano. (*)

(*) O modelo não ilustra uma situação real. Trata-se de um esboço do trabalho de um planejador ao fazer o zoneamento de uma área urbana. A linha vermelha é a linha de cordão, isto é, ela delimita a área interna do estudo. As linhas verdes e azuis são as linhas de aferição, pois dividem a área de estudo em seções. Essa divisão ocorre devido diferenças entre essas regiões que possam influenciar no estudo. As cores determinam diferenças entre as regiões de estudo, e as Zonas de Tráfego são numeradas de acordo com suas particularidades.

12

4.2

O que é o modelo das quatro etapas?

A modelagem, atualmente em um planejamento de transportes, é extremamente importante. Existem inúmeras formas de criar um modelo e diversos recursos para ajudar nessa tarefa, como a computação, a matemática aplicada, estudos comportamentais entre outros que variam de acordo com a estratégia escolhida. Usando novamente o exemplo de Ortúzar e Willumsen (1990), podemos definir modelo como uma amostragem simplificada de um quadro real, ou seja, um esboço do elemento de estudo, onde são realçadas as características que o planejador julga importante ao seu trabalho. Um desses modelos, defendido por Ortúzar e Willumsen (1990), é conhecido como “abordagem comportamental’’, no qual o foco do estudo é o comportamento e as relações humanas com o espaço. No entanto, atualmente, o modelo mais utilizado no Brasil para o planejamento de transportes é conhecido como Modelo das Quatro Etapas. Este modelo é resultante de outros quatro submodelos (por isso o nome de quatro etapas), são eles: 1) Geração de viagens. 2) Distribuição de viagens. 3) Divisão Modal. 4) Alocação de tráfego. No

estudo

desses

quatro

submodelos

são

levados

em

conta

fatores

socioeconômicos, análise das zonas de tráfego e demandas populacionais. Basicamente, no modelo das quatro etapas, estimam-se as viagens internas e através de uma região previamente determinada; distribui-se a geração de viagens entre os destinos conhecidos, formando uma base que o especialista de transporte e tráfego da CET-SP, Carlos Eduardo de Paiva Cardoso, chama de Matriz Futura de Viagens ou Matriz Origem – Destino; a próxima etapa é a divisão modal, na qual se definem quais são os meios de transporte usados em cada viagem, qual sua frequência em determinados trechos; por último, alocam-se os modais em rotas e determina-se o volume de veículos e de pessoas transportadas.

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Em um estudo da GEMOB (Gerência da Mobilidade Urbana), a engenheira Rita C. Zignani definiu um organograma para melhor explicar o modelo das quatro etapas e outro para explicar os submodelos de forma sucinta. [Figuras 3 e 4] Figura 3 – Organograma Modelo das Quatro etapas

População e

Geração de Viagens

Atividade Econômica Distribuição de Viagens Uso do Solo Divisão Modal Sistema de Alocação de Tráfego

Transporte Existente

Figura 4 - Organograma Modelo das Quatro etapas

Estimativa Geração de Viagens

Distribuição de Viagens

das

quantidades

de

viagens

produzidas e atraídas em cada zona de tráfego;

Determinação da distribuição das viagens e dos deslocamentos correspondentes; Determinação do modo de transporte pelo qual

Divisão Modal

Alocação de Tráfego

as viagens são realizadas;

Etapa de escolha de rota, por um dado modo, entre os pares de zonas de tráfego.

Fonte: GEMOB 14

O modelo das quatro etapas é amplamente utilizado por ter a característica de ser um estudo completo e complexo, porém baseado em fatos mais acessíveis e de entendimento prático. No entanto, existem diversas formas de estabelecer um modelo, e mesmo utilizando os submodelos das quatro etapas, é possível chegar a diferentes conclusões. Tudo depende do enfoque e dos objetivos do planejador. Afinal, antes do modelo, são feitos todos os estudos citados anteriormente, onde as pesquisas são direcionadas ao foco final do planejamento. 5

QUAL A RELAÇÃO ENTRE PLANEJAMENTO URBANO E PLANEJAMENTO DE TRANSPORTES?

O planejamento de transportes e o planejamento urbano mantém entre si uma relação de profunda dependência. Uma vez que o planejamento deve visar o desenvolvimento, e considerando que o contexto atual exige a diminuição de distâncias em todo o mundo, fica claro que um planejamento não existe sem o outro. Isto é, quando o planejador urbano busca revitalizar uma cidade, ou urbanizar uma área segregada ou rural, um dos fatores de maior importância ao seu estudo e condução do projeto é a área de transporte. Pois a população dessa região vai se desenvolver junto a ela, e irá precisar se locomover de um ponto ao outro com praticidade, novos comércios precisarão que seus consumidores cheguem até eles, para que consigam se sustentar e crescer. Só assim o planejador urbano conseguirá garantir o crescimento sustentável e ordenado. As pessoas precisam de boas condições de locomoção para trabalhar, para ter acesso ao lazer, desfrutar e propulsionar o desenvolvimento da região. Da mesma forma, o planejamento de transportes irá direcionar o desenvolvimento da área estudada. O planejador da área de transportes, portanto, precisa conhecer amplamente as características do local, de forma a permitir um desenvolvimento o mais igualitário possível, evitar a segregação de outras áreas, conhecer os objetivos dessa população, qual sua condição socioeconômica, qual o volume de pessoas por trajeto, quais são suas necessidades, entre muitos outros fatores decorrentes do planejamento urbano. 15

Esses estudos estão interligados por serem, ambos, decisivos no crescimento e desenvolvimento

urbano.

Um



pode

ser

bem

sucedido

com

o

bom

desenvolvimento do outro, e a melhoria de um leva a melhoria do outro. O crescimento e melhoria da malha de transportes irá atrair viagens e trazer novas possibilidades aos moradores da região, fazendo do planejamento de transportes parte do planejamento urbano. O que fica claro é que um bom sistema de transportes faz parte de um bom planejamento urbano, e que os fatores desse meio urbano vão dizer qual é o projeto de transportes ideal para determinada região. 6

O QUE SÃO CENÁRIOS DE DESENVOLVIMENTO URBANO?

O conceito de cenário ganhou forças com o avanço de estratégias militares, isso porque a ideia central de criar um cenário é a de agir prevendo as possibilidades futuras, para que estas previsões trabalhem ao nosso favor. Analogamente, seria como prever que os adversários não sabem nadar e, por conta disso, cercar seu território com um lago fundo. É claro que não se pode dizer com exatidão quantos de seus adversários não saberão nadar, mas é por isso que essa previsão não pode sair de uma bola de cristal. Ela deve ser embasada por uma teoria, uma análise de um estudo profundo. Por exemplo, é previsto que grande parte dos adversários não saberão nadar, pois no território deles não há rios ou mares e na cultura desse povo não se tem o hábito de viajar. Logo percebeu-se que a criação de cenários poderia ser uma forma de evitar problemas no futuro, e esta técnica se expandiu para estratégias empresarias e inclusive para o planejamento urbano. A construção de um bom cenário é muito importante no planejamento urbano, quando citado anteriormente que para planejar um centro urbano eram necessários estudos de demanda e análises da população local, afirmava-se que devemos projetar cenários. Isto é, para termos um planejamento eficaz, é preciso ter informações das tendências, das possibilidades e probabilidades referentes ao local 16

de estudo. Dessa forma, fica mais fácil criar uma harmonia entre desenvolvimento e espaço, ou seja, planeja-se o espaço para que ele permita e até impulsione o desenvolvimento da região. O especialista em sociologia urbana, Marcelo Lopes de Souza (2003), define cenário como a tarefa de “simular desdobramentos, sem a preocupação de quantificar probabilidades e sem se restringir a identificar um único desdobramento esperado, tido como tendência plausível”, analisando essa definição na perspectiva do desenvolvimento urbano, vemos que o cenário terá o objetivo de unir estudos em diversas áreas influentes no crescimento de uma área urbana, e criar a imagem daquilo que é mais esperado para o futuro. No caso de obter-se um cenário de crise, se faz necessário o planejamento que evite e contorne a crise antes que ela culmine. No caso de um cenário de crescimento urbano, planeja-se uma forma de impulsionálo e estruturar o espaço e a população para que o crescimento não se torne um problema. Após o planejamento ter sido concluído, entram novamente os cenários. Dessa vez, sua função é analisar as consequências do planejamento posto em prática, quais são as possíveis reações do espaço e população às mudanças a serem promovidas. [Tabela 1] Tabela 1 – Cenário de desenvolvimento urbano(*).

Cenário 1 Aumento da população e da demanda por transporte público.

Planejamento 1

Cenário 2

Planejamento 2

Criação de uma nova malha ferroviária.

Segregação social marcada pela linha férrea. Parte da população afastada do centro comercial e de desenvolvimento local.

- Criação de uma nova malha ferroviária. - Incentivo ao comércio e ocupação da área segregada.

Cenário 3 Crescimento sustentável.

(*) A tabela é apenas um exemplo da relação entre a construção de cenários e o desenvolvimento urbano. Obviamente, trata-se de um estudo mais complexo na realidade. A tabela só nos dá uma ideia de como o um cenário depende do planejamento e vice-versa, e como o aprimoramento de um leva ao aprimoramento do outro.

17

Com esta análise, a probabilidade de dar ao polo urbano um crescimento sustentável aumenta. Além disso, fica mais palpável, a esta altura, que com um estudo complexo e aprofundado podemos se não escolher o futuro que queremos, ao menos evitar aquele que não gostaríamos de encontrar. Por isso cidades planejadas são uma tendência mundial, e todo centro urbano problemático tende a ser um estudo de caso, pois através desse estudo e da criação de cenários é possível revitalizar qualquer área e promover melhorias na qualidade de vida de toda uma população.

6.1

Quais os tipos de cenários de desenvolvimento urbano?

Anteriormente conduzimos a definição de cenário e sua relação com o planejamento urbano. Em suma, costuma-se caracterizar a construção de cenários como parte de um projeto visionário. Ilustrando essa ideia seguem as definições particulares de dois conceituados estudiosos sobre o assunto: “Cenário é o conjunto formado pela descrição coerente de uma situação futura e pelo encaminhamento dos acontecimentos que permitem passar da situação de origem à situação futura” (Michel Godet, 1987). “Cenários são descrições do futuro com base em jogos coerentes de hipóteses sobre os comportamentos plausíveis e prováveis da incerteza”. (Sérgio C. Buarque, 2003). Independente da área de aplicação da construção de cenários, seja econômica, militar ou urbana, quase sempre seu conceito envolve uma prospecção, uma análise do futuro. Porém não se pode prever o futuro, ao menos não com exatidão, por isso os cenários são separados em categorias de forma que cada tipo de cenário atenda uma demanda diferente. Por exemplo, o cenário econômico muda em um prazo mais curto que o urbano. Em uma divisão mais ampla, podemos conceituar três tipos de cenários, os possíveis, os realizáveis e os desejáveis. Como cenários são apenas prospecções, cenários possíveis são simplesmente todo cenário já imaginado, não importa se 18

existe a possibilidade do mesmo tornar-se real, todo cenário pode ser projetado. Já os cenários realizáveis são aqueles que possam vir a tornar-se realidade, ou seja, aqueles que são embasados por fatos atuais e pesquisas das possibilidades futuras. Os cenários desejáveis são cenários tendenciosos, pois seguem um plano baseado em um resultado preestabelecido, podendo ou não ser realizável. [Figura 5] Figura 5 – Tipos de cenário

Cenários Possíveis

Cenários

Cenários

Realizáveis

Desejáveis

Fonte: Marcial e Grumbach (2002)

Quando se fala em cenário de desenvolvimento urbano, trabalha-se principalmente dentro da gama dos realizáveis e dos desejáveis. Claro que cenários possíveis são criados, mas não passam do âmbito da imaginação, já que o planejamento urbano requer objetividade e geralmente lida com curtos prazos. Outra forma, mais complexa, da classificação de cenários é a apresentada por Sergio C. Buarque em sua obra “Metodologia e Técnicas de Construção de Cenários” [Imagem 6]. Neste método, Buarque aprofunda as condições na definição de cada cenário. Primeiramente ele define se o cenário é normativo ou exploratório. Se for normativo ele será tendencioso aos desejos de seu criador, porém de forma que seja viável colocá-lo em prática, sendo assim, apesar de ter o intuito de realizar as aspirações de quem o criou este cenário precisa tornar-se efetivo. Se o cenário for exploratório 19

ele irá se basear em futuros possíveis, e essas possibilidades deverão ser simuladas e demonstradas com chances reais de se concretizarem, nesse cenário não há influência da vontade de quem o projeta. Quando o cenário é exploratório ele pode ser extrapolativo ou múltiplo. No caso de ser extrapolativo ele apenas vai projetar as consequências do presente e do passado, criando um futuro próximo. Sendo extrapolativo ele ainda pode ser “livre de surpresas” ou “com variações canônicas”; o termo livre de surpresas remete a sua característica de apenas extrapolar tendências atuais, projetando um futuro bem parecido com a realidade; já o termo variações canônicas é relacionado à ideia de criar variáveis nesse futuro livre de surpresas, isto é, se A ocorre no lugar de B, poderemos observar o cenário C, ao invés do D. No entanto, se o cenário for exploratório múltiplo ele irá considerar possíveis rupturas na linha de tendências, resultando em cenários possíveis, porém diferentes. Estes cenários gerados serão divididos entre “de referência” e “alternativos”, sendo o de referência o mais condizente com as premissas e condições atuais e os alternativos dependentes de variáveis menos esperadas. Figura 6 – Tipos de cenário II

Livre de surpresas

Normativos Extrapolativo

Cenários

s

Variações

Exploratórios

Canônicas De Múltiplos

referência

Alternativos

20

Os cenários de planejamento urbano variam de acordo com a demanda. Ou seja, o tipo de cenário a ser utilizado vai depender de variáveis como a motivação de sua aplicação, sua urgência e localização, os investimentos a serem realizados e até mesmo a cultura do local. O que pode se dizer é que a tendência é esses cenários visarem um futuro a longo prazo e serem passíveis de reestruturação no caso de uma variável futura não inclusa no plano inicial.

6.1

Qual a importância dos cenários de desenvolvimento urbano para a avaliação de emissões de gases do efeito estufa?

A projeção de cenários, como já foi dito, tem como função auxiliar o tomador de decisões, dando a ele conhecimento sobre as tendências futuras e as mudanças com as quais teremos que lidar ao longo do tempo. Os cenários de emissões de gases de efeito estufa têm a finalidade de reconhecer as emissões futuras, em um prazo determinado de tempo, gerando o cenário principal (de tendência). O cenário de alternativas, neste caso, trata das ações de mitigação. Esse tipo de cenário, além de seguir uma proporcionalidade baseada no inventário de emissões de anos passados e atuais, precisa considerar em seu trajeto fatores como o aumento populacional, a economia, a possibilidade do aumento da frota de veículos, o crescimento comercial e industrial, a taxa de urbanização e até mesmo a faixa etária da população. Todos esses fatores expressos no cenário de desenvolvimento urbano. O cenário de desenvolvimento urbano analisa o comportamento futuro dos principais responsáveis pela emissão dos gases de efeito estufa, a população urbana. É a partir desse cenário, que é possível mensurar se as fontes de emissões serão potencializadas, ou se o cenário prevê mudança comportamental da população e redução de tais fontes. Ou seja o cenário de desenvolvimento urbano fornece a base de informações ao cenário de emissões para que este possa analisar não só a tendência, como também os cenários alternativos e quantificá-los com maior precisão. 21

7

COMO SÃO CONSTRUÍDOS OS CENÁRIOS?

A maior dificuldade na construção de cenários é lidar com uma grande quantidade de informações, sendo toda informação relevante à formação do projeto. Se fizermos uma analogia, a criação de cenários assemelha-se a uma frase usual: “Se eu pudesse voltar no tempo...”, isto é, as pessoas costumam acreditar que se tivessem conhecimento prévio do futuro, teriam tomado decisões melhores no passado. A construção de cenários tenta evitar esse tipo de sentimento, antecipando possíveis situações futuras e consequências das ações passadas e atuais. Godet (2000) diz que não há uma metodologia taxativa e única na construção de cenários, e sim uma variedade de meios para chegar a diferentes modelagens. O resultado final vai depender do objetivo do projeto. O autor ainda afirma que apesar de existirem muitas formas de construir cenários, todas devem conter 4 etapas bem definidas: 1) Análise de dados 2) Linha de tendências baseada em retrospectivas 3) Definição dos objetivos dos atores no espaço 4) Esboço dos cenários de referência e alternativos Seguindo a definição de Godet e de muitos outros autores, geralmente o primeiro passo é a definição das variáveis determinantes, isto é, daquelas que têm maior influência no resultado final do cenário. Nessa primeira fase, de organização dos dados, é importante que o objetivo desta construção, o período de tempo a ser estudado e o espaço sejam claramente conhecidos. Explicando este conceito, Jouvenel (2000) (apud Buarque, 2003) descreve cinco estágios do procedimento: definição do problema e do período temporal, identificação e contextualização das variáveis a fim de construir um sistema de trabalho, processamento de dados e criação de hipóteses, exploração de futuros possíveis e estruturação de estratégias. Em suma, independente da metodologia ou da definição utilizada, a construção de cenários depende completamente de uma boa análise de dados e de um complexo 22

conjunto de informações. É importante saber priorizar as informações de acordo com sua relevância e incerteza e questionar as implicações de cada uma delas. Após essa etapa, outro passo muito importante é a tomada de decisões. [Figura 7] Decidir talvez seja um dos pontos mais difíceis do processo, assim como um dos mais cruciais. A dificuldade está na complexidade e nas incertezas contidas em um plano que depende de situações futuras. Para amenizar esses obstáculos, Sérgio C. Buarque (2003) recomenda algumas diretrizes: 

Não pensar em curto prazo, não se impressionar com mudanças constantes ou a ausência delas em um curto período, não é uma boa base para tomada de decisões ter impressões imediatas.



Não influenciar-se pela moda e tendências atuais, o mundo muda cada vez mais rápido, modas e tendências atuais são apenas um caminho para a moda e as tendências futuras.



Evitar as verdades universais, apesar de serem senso comum agora podem torna-se mitos futuramente. Junto com a moda, os consensos são a maior ilusão de um idealizador de um cenário prospectivo.



Buscar fontes variadas e questionar toda informação obtida.



Não limitar as possibilidades, tampouco a criatividade.



Trabalhar com opiniões opostas sem excluir nenhuma delas.



Não se ater apenas às analises quantitativas, a construção de cenários irá exigir também uma análise qualitativa.

Não é possível ignorar as incertezas, mas seguindo os passos de pesquisa e análise e criando flexibilizações, provavelmente o cenário irá atender à todas as necessidades iniciais do planejamento. Cabe nesse momento lembrar o conceito de Schwartz (2000), no qual cenários são “saltos imaginativos do futuro” com o intuito de promover atitudes previamente planejadas, de forma a usar as adversidades futuras de forma positiva.

23

Figura 7 – Como construir um cenário prospectivo

Fonte: Adaptado de “DataGramaZero - Revista de Ciência da Informação - v.11 n.1 fev/10 - ARTIGO 04”

7.1

Quais informações são necessárias para construir um cenário?

Para facilitar a tarefa complexa que é a construção de um cenário prospectivo, uma boa tática é definir seus componentes. Em suma, são definidos alguns componentes essenciais a qualquer cenário, independente de sua área de atuação. São eles: 

Título – para especificar o cenário referencial.



Objetivo – trata-se da idealização do projeto. O objetivo traduz a finalidade do cenário, ou seja, o que os planejadores gostariam de saber com o futuro resultado.

24



Cena – é a relação do espaço com o tempo, ambos determinados previamente pelos objetivos. A cena constitui uma imagem de como os atores e as variáveis estão influenciando esse tempo e espaço.



Horizonte – o horizonte é a descrição das eventualidades, acontecimentos e consequências que ocorrem entre a cena inicial e a cena proposta como final. Esse é um aspecto de grande importância, já que geralmente o cenário final é resultado de uma sequência de fatos ocorridos nessa trajetória.



Variáveis – as variáveis constituem uma base de dados, isto é, são elas as informações disponíveis à construção de cenários. Um conhecimento amplo e consciente das variáveis é indispensável, primeiramente porque elas servirão de referência para a definição de tendências e alternativas futuras e em segundo porque é necessário saber balancear a influência e o impacto de cada uma dessas variáveis. Dessa forma o cenário não sofre deformações em sua projeção por má manipulação de dados. É importante ressaltar que as variáveis podem ser apenas possibilidades também, podem funcionar como alternativas ou extrapolações do presente. Isso ocorre na criação de cenários alternativos ou em desvios do cenário de referência, onde é necessário apontar situações que fogem do padrão mais esperado.



Atores – os atores são pessoas, instituições ou órgãos responsáveis pela mudança ocorrida ou esperada entre a cena inicial e a final. Eles têm influência tanto nas variáveis quanto na cena e nos objetivos.Em algumas literaturas são conhecidos como agentes.

Marcial e Grumbach (2002) definem bem esses conceitos em sua obra. Eles apresentam, inclusive, alguns estudos de caso como exemplo de aplicação dos elementos abordados acima. Dentre os exemplos, os temas são diversos economia, publicidade, agricultura - mostrando quão geral é o uso dos componentes definidos pelos autores. Um dos casos mais próximos do tema dessa pesquisa, cenários de desenvolvimento urbano, chama-se “Os futuros alternativos da Amazônia”, no qual é feito um levantamento para expor-se o quadro de necessidade de energia elétrica na região Amazônica entre 1988 e 2010, de acordo com as previsões de desenvolvimento da região. [Tabela 2] 25

As informações necessárias à construção de um cenário variam de acordo com o objetivo do modelo, porém criando-se uma pauta com os elementos listados, provavelmente chega-se ao nível correto de informação. Lembrando que o excesso de informações também pode poluir o cenário e tirar o foco da filosofia inicial do estudo. Tabela 2 – Componentes de um cenário prospectivo.

Fonte: Eletronorte (1988). 26

A tabela mostra como chegar às informações necessárias por meio dos componentes pré-definidos. A organização das ideias torna-se mais prática e o estudo fica mais direcionado ao objetivo do projeto. Essa metodologia direciona e orienta a pesquisa para informações corretas e plausíveis, além de auxiliar na escolha das fontes e das áreas influentes no objeto de estudo.

7.2

Quais técnicas, métodos ou teorias são empregados na construção de cenários?

A construção de cenários engloba duas grandes metodologias, das quais partem todos os demais métodos, técnicas ou teorias. São esses o método indutivo e o método dedutivo. O método indutivo usa da organização coerente dos principais acontecimentos e informações atuais para gerar hipóteses e estudar possibilidades. Nesse sentido, entende-se que, pelo método indutivo, os cenários são construídos das partes para o geral, crescendo das hipóteses iniciais para a formação de uma imagem. Essa imagem retrata futuros diferentes, porém nenhuma imagem fantasiosa futurística, nesta metodologia costuma-se dizer que o cenário é uma consequência dos fatos, as informações vão levando a uma prospecção mais lógica e menos intuitiva (Van Der Heijden, 1996). O método dedutivo, em contrapartida, busca uma descrição clara das imagens futuras e, baseado nos dados e informações coletadas, surge um framework, que é a ideia geral que irá formular o cenário. Sendo assim, o método dedutivo faz a trajetória do geral para o particular, ou seja, sua prospecção de futuro traduz a parte essencial da realidade que conhecemos. Por fim, o cenário é constituído quando a informação geral é alocada em eventos isolados que formam o todo. (Van Der Heijden, 1996). São muitas as metodologias possíveis para construir-se um cenário, porém como já citado anteriormente, todas elas seguem uma linha de raciocínio muito parecida. E é pensando nisso que Sérgio C. Buarque, em seu estudo para o IPEA em 2003, define cinco perguntas básicas a qualquer metodologia: 27

1. Que fatores (condicionantes) estão amadurecendo na realidade atual que indicam uma tendência de futuro? 2. Quais são os condicionantes mais relevantes e os de desempenho futuro mais incerto (principais incertezas)? 3. Que hipóteses parecem plausíveis para a definição de eventuais e prováveis comportamentos futuros dessas incertezas centrais? 4. Como podem ser combinadas as diferentes hipóteses para as diversas incertezas consideradas relevantes? 5. Que combinações de hipóteses das incertezas podem ser consideradas consistentes para a formação de um jogo coerente de hipóteses? Dessa forma, independente da metodologia escolhida, existem procedimentos comuns na criação de um cenário. Para responder a primeira questão, por exemplo, toda metodologia precisa apurar quais são os movimentos atuais que estão fomentando as tendências futuras, analisar o impacto e a relevância de cada evento da realidade atual. Na segunda questão a definição das principais incertezas exige um estudo de prospecção e o conhecimento das alternativas, pois alguns temas têm mais possibilidades que outros, sendo mais imprevisíveis que o normal. As três questões que seguem sobre definições de hipóteses é onde se sobressaem as diferenças entre os métodos, já que cada um estabelecerá a forma mais condizente com seu modelo de chegar à elaboração de teorias e alternativas para seus cenários. [Figura 8] Existem dois momentos fundamentais na construção de cenários, a definição das incertezas mais críticas e a elaboração das hipóteses. As incertezas serão importantes na criação dos cenários alternativos e a elaboração de hipóteses irá garantir que sejam cobertas todas as possibilidades plausíveis e de relevância a finalidade do projeto. Finalizada a etapa de coleta de dados, estudo e processamento dos mesmos e sua organização, é preciso descrever combinações que gerem as alternativas desse 28

cenário futuro. Essa combinação consiste na união dos elementos comuns a todos os cenários, que são mudanças já conhecidas e situações futuras certas, às variáveis formas criadas pelas incertezas. Para a conclusão dos cenários que formam o conjunto do estudo é importante que fatores influentes na tomada de decisões sejam levados em conta, mesmo que não sejam tão relevantes no processo de construção. Figura 8 – Processo de construção de cenários

Fonte: Buarque, S.C. Metodologias e Técnicas de Construção de Cenários Globais e Regionais. Brasília: IPEA, 2003 (Texto para Discussão Nº. 939).

7.2.1 Como a demografia pode ser empregada na projeção de cenários?

O termo “demografia” fora utilizado pela primeira vez pelo belga Achille Guillard, que o empregou com o intuito de intitular a ciência que estudaria as populações humanas e suas características gerais. A população, na maioria das vezes, é o ator social mais influente em um cenário de desenvolvimento urbano, são tantas as possibilidades e mudanças ocasionadas por ela que seu estudo deve envolver os mais diversos fatores. O crescimento 29

populacional, por exemplo, foi e é tema de estudo de muitos pesquisadores, e mesmo assim surgem sempre diferentes hipóteses sobre as consequências de um aumento ou diminuição populacional. Retomando o exemplo de Thomas Malthus, 1798, e comparando-o a outro economista, Adam Smith, em sua publicação “Uma Pesquisa Sobre a Natureza e as Causas das Riquezas das Nações” de 1776 - que defendia que o aumento populacional levava a melhor divisão do trabalho e consequentemente a um maior desenvolvimento econômico - observamos que o estudo de populações não é uma preocupação recente, e o quão diferentes podem ser os cenários propostos baseados nesses estudos. No entanto, não é apenas o crescimento populacional que influencia no desenvolvimento urbano e na criação de cenários. Em um texto para discussão, divulgado pela Cepal e pelo IPEA em 2010 – Cenários de longo prazo e suas implicações para o mercado de trabalho - , são analisadas duas variáveis que surpreenderam, uma delas é a expectativa de vida, que dobrou do século XX para o XXI, ou seja, se em 1901 a expectativa de vida era de 30 anos, em 2001 ela já era de 60 anos! A outra surpresa foi ver que a taxa de fecundidade caiu pela metade, sendo em 1901 a média de 6 filhos por mulher, e em 2001 de apenas 2,8. Essas mudanças não eram esperadas e com certeza levaram a cenários diferentes dos esperados. Outros fatores estudados pela demografia - como a escolarização da população, as taxas de desemprego, o índice da população economicamente ativa, a densidade demográfica, entre tantos outros – podem agregar muitas informações importantes na projeção de cenários. Com essas informações é possível obter-se cenários futuros mais precisos. Como exemplo do emprego da demografia na construção de cenários, podemos citar o estudo feito pela Eletronorte, “Cenários Socioenergéticos da Amazônia 2000 – 2020”, em 2001. A pesquisa apresenta dados como crescimento da população, divisão entre população urbana e rural, IDH (índice de desenvolvimento urbano), renda per capta, dentre outros, a fim de definir melhor as tendências desse cenário. Todos esses dados são estudados pela demografia e representam características 30

especiais que demonstram e determinam o comportamento de uma população. Como dito anteriormente o comportamento é uma das máximas no estudo de cenários prospectivos. Além disso, o estudo cita 39 condicionantes a criação do cenário, sendo muitos deles influenciados pelo estudo demográfico. [Tabela 3] A análise da Tabela 3 nos mostra como direta ou indiretamente a demografia afeta e influencia a criação de cenários. Quando não um condicionante, um fato demográfico provavelmente será, ao menos, de grande importância para o estudo dessas

condições.

Isso

porque

as

mudanças,

os

planejamentos

e

o

desenvolvimento do planeta são direcionados aos hábitos e necessidades da população humana. Tabela 3 – Influência do estudo demográfico. (*)

CONDICIONANTE

ESTUDO DEMOGRÁFICO

Demanda Nacional de Energia Elétrica

Consumo médio de energia elétrica per capta, ou por residência.

Dinâmica Populacional Nacional

Taxa de crescimento e estrutura etária da população brasileira e comportamento da natalidade e fertilidade, mortalidade e expectativa de vida.

Fluxo Migratório para a Região

Volume e ritmo de deslocamento da população brasileira no território, especialmente voltado para a Região Amazônica.

Política Indigenista

Levantamento das populações indígenas que residem na Região Amazônica.

Oferta de Comunicação

Taxa de acessibilidade da população aos meios de comunicação, como internet, telefone, televisão, etc.

Capacidade Científica e Tecnológica da Região

Levantamento da qualificação e escolarização da população, além dos recursos humanos no incentivo a pesquisa. 31

Urbanização

Distribuição das Atividades Socioeconômicas na Região Situação Social

Nível de concentração da população regional no espaço urbano e amplitude e configuração do sistema urbano regional. Estudo da PEA, população economicamente ativa. Condições de vida, situação do emprego e da renda e nível de qualidade da vida da população regional, expressas por indicadores de saúde, saneamento, habitação e índice de pobreza.

Fonte: Baseado em dados apresentados pela Eletronorte. (*) A tabela 3 exemplifica apenas alguns condicionantes apresentados pelo estudo da Eletronorte, a demografia pode exercer influência ainda maior nos cenários criados pela entidade.

7.2.2 Como a economia afeta a projeção de cenários?

A economia é a área que mais utiliza a projeção de cenários com o intuito de obter mais estabilidade e lidar com menos surpresas no futuro. Tal fato é compreensível, por ser a economia um índice tão mutável e com interpretações tão variadas de seu futuro. Quando a economia passa de objeto de estudo a condicionante de outro tema, sua influência continua sendo grande. Essa relação costuma tornar-se evidente quando são publicados estudos que determinam o futuro de determinada população baseados em seu modelo econômico, ou então quando se define um modelo econômico pelos tipos de relações sociais presentes na região de estudo. Na teoria de Karl Marx, por exemplo, a pobreza e a segregação social eram consequências do modelo econômico capitalista, de forma que em um cenário futuro tal modelo causaria um colapso econômico e uma crise que levaria miséria e regresso à população. Ou seja, nesse estudo a economia afeta a projeção de um

32

cenário de desenvolvimento urbano como um dos principais condicionantes (condicionaria a população a miséria, a quebra das produções, etc.). Outro exemplo da aplicação da economia na projeção de cenários pode ser observado em um projeto realizado em Passo Fundo, RS. Esse projeto foi realizado por estudantes de mestrado, doutorado e graduação nas Universidades do Rio Grande do Sul, e foi intitulado “A utilização de cenários prospectivos para o planejamento urbano em localidades de baixa renda”. O objetivo era projetar cenários para bairros de baixa renda, como Valinhos e José Alexandre Zacha, pertencentes ao estado do Rio Grande do Sul. Neste caso a economia, além de condicionante, é a motivação da criação de um cenário de desenvolvimento urbano para essas regiões. Isto é, os problemas econômicos atuais impulsionaram um estudo que visaria o conhecimento prévio de problemas consequentes. Além disso, a economia é o ponto chave na construção de cenários alternativos de melhoria, que vão exigir investimentos e estabilidade econômica da região.

7.3

Como definir os horizontes de projeto?

A definição dos horizontes de projeto é uma etapa importante da projeção de cenários, pois se esta não for condizente com as finalidades do estudo, então o resultado perde a objetividade e sua aplicação torna-se menos eficaz. Godet (1991) sugere uma ferramenta conhecida como análise estrutural, para evitar tais problemas. Essa técnica busca limitar os horizontes de projeto substituindo discussões teóricas por uma análise e comparação de relevância das variáveis envolvidas no projeto. A Análise Estrutural proporciona a uniformização da linguagem do projeto e cria o que Sérgio C, Buarque (2003) chama de “marco teórico”, que nada mais é senão o objeto de estudo. O primeiro passo dessa ideia é identificar as variáveis e relacioná-las, de forma a estabelecer uma hierarquia e um vínculo de causa-efeito. Em seguida classificá-las 33

de acordo com sua dependência e influência, e enfim analisar qual o ponto mais persistente e presente nessas variáveis. A metodologia de Grumbach (2005) sugere uma etapa de delimitação de estudo, na qual a partir do objetivo da pesquisa definem-se os pontos primordiais de atuação, isto é, o horizonte desse projeto depende das áreas de necessidade de aplicação dos cenários criados. Por exemplo, se a pretensão é criar um cenário que mostre as condições de saneamento de uma região no futuro e o que deve ser melhorado, a prioridade será dada às variáveis relacionadas ao horizonte de melhorias, às variáveis que tenham maior influência nos fatores que exijam uma melhoria do sistema.

7.4

Como são representados os cenários?

O cenário, como uma prospecção do futuro, pode ser representado de diversas formas. Em muitos casos eles aparecem como dados censitários e estatísticas, quando se trata de um cenário desejado por exemplo, pode ser representado na forma de maquete ou então até mesmo como dado experimental. A forma como se representa um cenário depende de seu objetivo, do que se deseja mostrar com essa imagem, e como sua interpretação será melhor recebida. Em grande parte das vezes é feito um relatório que envolva todas as variáveis estudadas e todos os resultados obtidos com o intuito de estabelecer a relação causa-efeito entre os fatores analisados no decorrer da pesquisa. O importante, de acordo com Grumbach (2005), é fazer uma descrição que traga o diagnóstico e análise dos dados e variáveis, o processamento do cenário prospectivo e por fim sugestões que evitem problemas acusados pelo cenário projetado e que incentivem os pontos positivos apresentados pelo mesmo. Quanto mais rica essa descrição for, mais sucesso obterá o cenário, sendo assim a maior parte das representações é feita por meio de descrições teóricas acompanhadas por elementos gráficos ilustrativos.

34

Sérgio C. Buarque (2003) afirma que ao finalizar a projeção de um cenário é aconselhável apresentar junto ao mesmo suas interpretações sobre os resultados obtidos, dessa forma o trabalho deixa mais claro seu objetivo, torna a linguagem do cenário mais compreensível e uniformiza a comunicação entre aquele que propõe o cenário e aquele que o recebe.

35

8

CONCLUSÃO

O projeto apresentado, Cenários de desenvolvimento urbano, é o quinto da linha de pesquisa Cidade, Poluição e Clima. E seu objetivo era contribuir com o entendimento do desenvolvimento urbano, propondo a construção de cenários prospectivos a fim de expandir o alcance da linha de pesquisa a situações futuras. Os dados levantados podem auxiliar na compreensão da influência da população e de sua urbanização na poluição e nas alterações climáticas observadas atualmente. Além de apresentar diferentes metodologias possíveis na construção de cenários prospectivos. São poucas as referências e estudos disponíveis sobre a construção de cenários de desenvolvimento urbano, o que aumenta a importância desse projeto como base de dados e informações para a comunidade técnica e acadêmica. No entanto, não foram criados os cenários para a região de estudo, o município de Santo André. O projeto teve foco maior que o esperado na área de planejamento urbano, sendo este um conteúdo mais extenso e de grande influência na projeção de cenários. Esse aprofundamento inesperado servirá de referência às questões a serem respondidas, isto é, a análise e confecção de um cenário de desenvolvimento urbano para, inicialmente, o município de Santo André. A abordagem contínua do conceito de planejamento urbano mostrou-se importante ao serem estudadas as metodologias existentes para a construção dos cenários. Ambos os estudos estão completamente interligados, sendo que ambos também dependem do processamento e análise de informações coletadas. No Brasil, o uso de cenários prospectivos é mais recente que em outros países, como os Estados Unidos e a Inglaterra, a técnica ganhou forças entre as décadas de 80 e 90. Mesmo assim, como o conceito foi trazido principalmente por multinacionais presentes no país, o foco predominante foram prospecções econômicas. Em contrapartida, o mundo e o atual fenômeno urbano exigem cada vez mais o planejamento e as ações preventivas e flexíveis, que possam se adequar as diferentes possibilidades e tendências de uma população cada vez mais conectada, 36

e que sofre mudanças constantes em seu estilo de vida. Para atender à essa necessidade, o estudo de cenários de desenvolvimento urbano é fundamental, além de ser uma alternativa prática para a solução do problema. Problemas urbanos existem, e são muitos. Um estudo divulgado pelo IBGE em 2003, por exemplo, o “Mapa da Pobreza e Desigualdade” mostra que a incidência da pobreza no Município de Santo André era de 26,73%, enquanto o desemprego era inferior a 15%, o que é uma contradição e deveria ser pautado em um estudo de planejamento urbano, pois parte da população estava sendo marginalizada. A defasagem no estudo e planejamento urbano, e no uso de cenários como referência leva a agravação de problemas e, consequentemente, a decisões imediatistas e urgentes, que pela ausência de uma análise prévia tendem a falhar em situações futuras. Considerando a demanda do projeto, devem ser aprimorados os tópicos que tratam os cenários de desenvolvimento urbano de Santo André. Então se reitera e ampliase o objetivo de criar esses cenários e levantar as informações específicas do município necessárias. Devem ser consideradas as metodologias citadas durante o projeto, além de segui-lo para a definição do melhor caminho na construção dos cenários. Para melhor desenvolvimento da linha de pesquisa, recomenda-se fortemente a expansão do uso de cenários, não apenas os de desenvolvimento urbano, assim como econômicos e focados nos meios de transporte. Como fora detectada a escassez

de

referências

sobre

metodologias

para

criação

de

cenários

especificamente de desenvolvimento urbano, como continuidade desse projeto, fica sugerido um novo tópico, onde esta linha de pesquisa trabalha na elaboração de uma metodologia mais adequada e coerente aos seus objetivos, de forma a completar as literaturas citadas.

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