Cenas Narrativas em Demolidor a Queda de Murdock: a representação das histórias em quadrinhos no contexto da era Reagan

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ALEXANDRE DE OLIVEIRA PEREIRA – 1178691 História Cultural

Cenas Narrativas em Demolidor a Queda de Murdock: a representação das histórias em quadrinhos no contexto da era Reagan.

Orientador: Prof. Msd. Elza Silva Cardoso

Centro Universitário Claretiano

Taguatinga-DF 2015

Cenas Narrativas em Demolidor a Queda de Murdock: a representação das histórias em quadrinhos no contexto da era Reagan.

Resumo: O presente artigo tem por objetivo apresentar a representação do período do governo Reagan dentro da Graphic Novel A queda de Murdock (Born Again) utilizando a perspectiva da visão da História Cultural. Busco apresentar neste trabalho como os acontecimentos do governo de Ronald Reagan são representados pelos autores Frank Miller e David Mazzucchelli, roteirista e ilustrador respectivamente, na criação da Graphic Novel. Palavras Chaves: Reagan, Demolidor, Matt Murdock, Religião. Abstract: This article aims to present the representation of Reagan 's period within the graphic novel Born Again using the perspective of view of cultural history . I seek to present this work as the Ronald Reagan government events are represented by the authors Frank Miller and David Mazzucchelli , writer and illustrator respectively, in the creation of the Graphic Novel . Words-Key: Reagan, Daredevil, Matt Murdock, Religion.

Introdução. Segundo o professor Paulo Ramos em seu livro “A leitura dos Quadrinhos”, o quadrinho condensa uma série de elementos da cena narrativa que, por mesclarem diferentes signos, possuem um alto grau informativo. Essa afirmação mostra que as histórias em quadrinhos são muito mais que só um meio de entretenimento, mas agrupamento de personagens dentro de um recorte de tempo1. Para o professor Waldomiro Vergueiro, em seu artigo “Histórias em quadrinhos e serviços de informação: um relacionamento em fase de definição”, as histórias em quadrinhos existem há mais de um século. Aparecendo na imprensa americana no final do século XIX, apesar do sucesso foram sempre cercadas por preconceito das parcelas intelectuais da sociedade mais letrada2. Essas duas perspectivas têm como objetivo demonstrar que as histórias em quadrinhos podem ser olhadas pelo historiador como uma forma de representação de um determinado recorte de tempo e espaço. O historiador pode usar as histórias em quadrinhos como fontes históricas através do olhar da História Cultural analisando o seu conteúdo e interpretando o uso de imagens contidas em sua narrativa gráfica. A História Cultural é conhecida, também, como “Nova História Cultural”, a lembrar de que antes teria havido uma, antiga, velha ou tradicional História Cultural. Esta nova corrente é uma forma de a história trabalhar a cultura, não se tratando de fazer uma nova história do pensamento, ou uma nova cronologia historiográfica, mas pensar a cultura como um conjunto de significados partilhados e construídos pelo homem para explicar o mundo3. Por esta nova corrente o passado passa a ser analisado também na perspectiva da cultura popular, pelos valores e as expectativas sociais e as experiências humanas mais diversificadas. A proposta seria a de decifrar a realidade do passado por meio da representação, pelo imaginário, narrativa, ficção e da sensibilidade. Neste sentido, a representação é o ponto central da proposta deste artigo. Por meio dela buscaremos apresentar uma possibilidade de interpretação de um contexto

. RAMOS, Paulo. “A leitura dos Quadrinhos”. São Paulo: Contexto, 2009, p. 90. . VERGUEIRO, W. C. S. Histórias em quadrinhos e serviços de informação: um relacionamento em fase de definição. DataGramaZero: Revista de Ciência da Informação. v.6, n.2, abr., São Paulo, v. 1, p. 12 - 14, 03 abr. 3 . PESAVENTO, S. Jatahy. História e história cultural. Belo Horizonte: autêntica, 2004, p.15. 1 2

histórico a partir do uso de imagens presentes na narrativa de uma história em quadrinhos. 1 – As imagens analisadas pela História Cultural como representação

Um campo da História Cultural importante para se analisar as histórias em quadrinhos é o da imagem. Ao considerar que os quadrinhos como uma linguagem que opera com imagem e texto4, percebem-se a importância da imagem para se analisar as HQs. Elas propõem reproduzir o mundo real do jeito como ele é, ou representá-lo de maneira simbólica ou cifrada, distorcendo-o ou transformando-o. Por muito tempo as imagens foram usadas pelos historiadores como ilustração de algo, como paisagem ou retrato que enquadrava um fato ou um personagem, ou então uma versão pictórica, como expressão superior da cultura, como se fosse uma História da Arte5. A redescoberta da imagem pela História deuse pela associação a ideia da representação. Como cita Pesavento: “As imagens estabelecem uma mediação entre o mundo do espectador e do produtor, tendo como referente à realidade, tal como, no caso do discurso, o texto é mediador entre o mundo da leitura e o da escrita. Afinal, palavras e imagens são formas de representação do mundo que constituem o imaginário. ”

A imagem tem, para o historiador, um valor documental, de época, mas não tomando o seu sentido literal, o que importa é ver como os homens representavam o mundo, a si próprios, os seus valores e conceitos que experimentavam ou queriam passar de maneira direta ou subliminar, utilizando-se da representação6.

1.2. Uma rápida história das histórias em quadrinhos

As histórias em quadrinhos como linguagem gráfica existem praticamente desde o início da história do homem, quando nossos ancestrais contavam por meio 4

. Aragão, S.M.; ZAVAGLIA, A. Histórias em quadrinhos: imagem e texto em tradução. Tradterm, p. 435, 2010 5 . Pesavento, 2004, pag 85 6 . Pesavento, 2004, pag 88

de desenhos nas paredes, o seu cotidiano. Como um meio de comunicação em massa, os quadrinhos existem desde o século XIX, florescendo dentro da imprensa sensacionalista norte-americana. Apesar de terem sido objetos de perseguição durante boa parte da sua existência, hoje, as histórias em quadrinhos já são encaradas de forma positiva, por parcelas cada vez maiores da sociedade. As Histórias em quadrinhos constituem um meio de comunicação em massa que agrega dois códigos que segundo distintos para a transmissão de uma mensagem que são: Linguístico e o pictórico. O primeiro trata da linguagem, representados pelas falas, expressão e diversos elementos que constituem a narrativa. O segundo trata das imagens e dos elementos cenográficos, como meio-ambiente, objetos e também pessoas e representações de elementos abstratos. Portanto percebe-se que nos dias de hoje as HQs, constituem-se em um bem cultural que vem ganhando espaço cada vez maior no mercado editorial sendo elevado ao status de obra de arte7. Neste sentido, as HQs deixaram de ser vistas como produtos destinados somente ao público infantil e passaram a ter uma linguagem mais complexa podendo ser comparada até mesmo com a literatura ou o cinema, tanto no ponto de vista estético quanto estilístico. 1.3 – O Diabo da Guarda: A origem do Demolidor.

Criado em 1964 pelo roteirista Stan Lee e pelo desenhista Bill Everett, o Demolidor veio na após o sucesso do universo Marvel criado em 1961 a partir da revolução feita com o Quarteto Fantástico. A primeira ideia de Lee era replicar o personagem mais popular da Marvel, o Homem Aranha, colocando as acrobacias e as piadas, mas que a sua fraqueza fosse mais intrigante que seus superpoderes 8. Assim nasceu o Daredevil9 que chegou no Brasil como o Demolidor10. O Demolidor é o alter ego de Mattew Murdok, um advogado cego que ganhou seus superpoderes ao tentar salvar um idoso de ser atropelado de um caminhão que carregava produtos radioativos. Mattew conseguiu salva-lo, mas foi atingido no rosto por

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. Wolk, 2007 apud Aragão, S.M. ; ZAVAGLIA, A. . Histórias em quadrinhos: imagem e texto em tradução. Tradterm, p. 437, 2010. 8 MILLER, Frank, MAZZUCHELLI, David. ORIGENS: Demolidor. In: Demolidor: A queda de Murdok. São Paulo, Editora Salvat, 2014. 9 Daredevil é o nome original no EUA. A tradução literal seria Demônio Desafiador. 10 O nome demolidor foi inserido no Brasil pela primeira vez na revista Ebal de 1969. Disponível em: acessado em 17/09/2015

um fraco que caiu do caminhão. O frasco lhe tirou a visão, mas a radiação aguçou os seus sentidos de forma sobre-humana (ele consegue saber se a pessoas está mentindo só ouvindo as batidas do coração) e conferiu-lhe um radar. Seu pai era um boxeador da cozinha do inferno e foi assassinado. Jonathan "Jack" Murdock, apelidado de "O Batalhador", era um boxeador em decadência e foi morto ao recusar-se a "entregar" uma luta. Depois de sua criação vários os artistas e roteiristas passaram pelo personagem. Bill Everett11, Joe Gene Colan e John Romita e Gary Conway, o Demolidor passou mais de uma década um tanto relegado a papéis de importância secundária nos quadrinhos até 1979, quando Frank Miller ao lado de Roger McKenzie tornara o título um dos preferido dos leitores pela primeira vez em seus quinze anos de história12. Frank Miller começou sua carreira aos 21 anos e tendo seu primeiro contato com o Demolidor sendo convidado para desenhar as edições nº27-28 do Homem Aranha. Quando assumiu o personagem, Miller teve a chance de colocar todo o seu amor pelo cinema noir e celebrar com panoramas urbanos bem elaborados o seu caso de amor: A cidade de Nova York.13

Figura 1 e 2: a capa da primeira aparição do Demolidor (esquerda) e a cena da primeira edição com o roteiro de Frank Miller (direita).

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Apesar de ser considerado o criador, Bill Everett, criador do personagem Namor, não conseguiu terminar a tempo o personagem, sendo que o Demolidor foi concluído por Steve Dikto, co-criador do Homem Aranha. 12 HOWE, Sean. Marvel Comics: A História Secreta. Tradução de Erico de Assis. São Paulo: Leya. 2013. P.249 13 HOWE, 2013. P249

2 – As Hqs e o contexto da década de 1980.

A era de ouro do capitalismo terminava com as crises que se deu no início dos anos 1970. Com a inflação em expansão, aumentos no déficit americano que acabou influenciando o mundo.14 Como cita Hobsbawm: “A história dos vinte anos após 1973 é a de um mundo que perdeu suas referências e resvalou para instabilidade e a crise”. (Hobsbawm, 2004, p.393). A derrota do EUA para o Vietnã, o auge da guerra fria, a crise do petróleo, a invasão soviética ao Afeganistão, inflação levaram à nova face da direita política. Entre os mais populares, Ronald Reagan e Margareth Thatcher juntos, programaram reestruturações econômicas como resposta para o Estado intervencionista de bem-estar, principalmente o liberalismo econômico que ficou conhecido como o neoliberalismo. Ronald Reagan (1911-2004), foi o 40° presidente dos Estados Unidos da América e governou o país por dois mandatos. Assumiu a Casa Branca em 1981 e ficou até janeiro de 1989. Anticomunista feroz, Reagan primou em acelerar a contenção ao comunismo tendo se lançado para a corrida armamentista com a união soviética, conseguindo aprovar o uso de 6% do PIB americano para os avanços nucleares. Os resultados dessa política foram diversos e como cita o historiador Perry Anderson:

“Deve-se ressaltar que, na política interna, Reagan também reduziu os impostos em favor dos ricos, elevou as taxas de juros e aplastou a única greve séria de sua gestão. Mas, decididamente, não respeitou a disciplina orçamentária; ao contrário, lançou-se numa corrida armamentista sem precedentes, envolvendo gastos militares enormes, que criaram um déficit público muito maior do que qualquer outro presidente da história norte-americana”. 15

O conjunto de ideias que pautavam a política externa e as negociações militares, nas quais os EUA se envolvia, conhecida como a Doutrina Reagan. Era sustentada por quatro pilares centrais: a extensão dos poderes presidenciais de Reagan, o

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HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos: o breve século XX. São Paulo, Companhia das Letras, 2004.pg 280. 15 ANDERSON, Perry. “Balanço do neoliberalismo”. In SADER, Emir, GENTILI, Pablo (orgs.). Pósneoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995. p. 13.

anticomunismo, a diferenciação entre Autoritarismo e Totalitarismo e a militarização da política e da economia. (SILVA,2013). Nessa época as revistas em quadrinhos passaram por uma fase mais adulta, foi nesse período que a DC Comics lançou Cavaleiro das Trevas de Frank Miller e Watchmen de Alan Moore que inauguram a idade moderna dos Quadrinhos. Com uma linguagem mais adulta tanto Miller quanto Moore contextualizam o momento histórico de mudança que o mundo passava. Após o sucesso de cavaleiro das trevas, Miller volta para Marvel para terminar o que havia começado em Demolidor.

3- A representação nas Histórias em Quadrinhos: Drogas, religião e o patriotismo em a Queda de Murdock16

Miller assumiu os roteiros da revista do demolidor a partir do número 165 e ficou até a 191. Antes de sair da Marvel, colaborou com Cris Claremont na minissérie em 4 partes do Wolverine. Após isso seguiu para DC comics para fazer a HQ Ronin e sua obra prima: Batman o Cavaleiro das Trevas17. Após este sucesso e com status de astro ele volta pra Marvel para finalizar a história do Demolidor ao lado do artista David Mazzuchelli no arco em 8 edições chamado de A queda de Murdock.

3.1 O início da queda: do sonho ao vício de Karem Page

A narrativa da história começa com Karen Page, ex-namorada de Matt, revelando a sua identidade secreta, em troca de drogas para um traficante, que acaba vendendo para esta informação para seu maior inimigo: Wilson Fisk, o rei do crime (KingPin).

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O nome original é Born Again o título que dá nome ao quarto capítulo da série. MILLER, Frank, MAZZUCHELLI, David.O Escritor: Frank Miller. In: Demolidor: A queda de Murdok. São Paulo, Editora Salvat, 2014. 17

Figura 4 o primeiro quadro da hq é mostrando o que aconteceu com a ex-namorada do Demolidor

Karem Page apareceu como secretária do escritório de advocacia de Nelson & Murdock18. Era uma bonita jovem, com ar angelical, sempre educada e atenciosa. Que com o tempo acabou se apaixonando por Matt. Mais tarde Matt revela sua identidade. Embora o amasse profundamente e sabendo que Matt nunca deixaria de ser o Demolidor, preocupada, ela mudou-se para a Califórnia para tentar ser atriz. Em queda de Murdock, Frank Miller traz a personagem novamente, porém o sonho de ser atriz acaba não acontecendo e Karen acaba se tornando uma atriz pornô para poder sustentar seu vício em heroína.

Figura 3 Karen vendendo a identidade secreta do Demolidor

A arte de David Mazzucheli já demonstra o teor pesado e contestador do qual Miller queria passar. Ao olhar essa cena podemos notar uma crítica ao que era o sonho Americano. As recessões, a diminuição do estado de bem-estar e o apoio das empresas vinham dentro do discurso de liberdade americana que Reagan defendia19. A epidemia de drogas no fim dos anos 80 deixou cicatrizes nos Estados Unidos. A partir de 1984, juntamente com o aumento do consumo da droga, houve um crescimento sensível de crimes violentos especialmente em grandes centros urbanos como Nova York, Los Angeles, Washington, Filadélfia, Baltimore, São Francisco, Boston e Seattle20 Mazzucchelli consegue, mostrar o grau do vício em que se encontra a Karen Page. Nos quadros abaixo, Karen está em uma forma fantasmagórica e psicologicamente abatida, lembrando o quadro o Grito do artista expressionista norueguês, Edvard Munch.

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Daredevil (1st series) #1 (Abril de 1964)

KARNAL, Leandro. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. São Paulo. Contexto. 2007. p260. 20 GRAÇA, Eduardo. Não foi tão diferente assim. Revista Carta Capital. Publicado em 06 de setembro de 2011. Disponível em: Acesso em: 27/10/2015

Figura 5: Karen Page abatida e com pensamentos de suicídio.

Figura 6 e 7: a comparação entre a arte de David Mazzucchelli com o quadro o "grito".

3.2. Do apocalipse a redenção: A religiosidade em Queda de Murdock:

O Demolidor é o herói mais católico do universo Marvel, e esses elementos ficam ainda mais evidentes em A Queda de Murdock. Miller cria a dúvida de que a freira que cuidou dele durante a queda poderia ser sua mãe21. A evidência da religião na graphic novel é os títulos dos capítulos que fazem referências a conceitos religiosos: Apocalipse, Purgatório, Pária, Renascido, Salvo, Por Deus e Pela pátria e Armageddon. Cada título sugere um momento em que Matt passa desde a sua queda até sua redenção, lembrando bastante o conceito religioso de que no mundo terás aflições, mas a fé dá a força necessária para suporta tais tribulações22.

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Kevin Smith quando assume o roteiro do demolidor na linha Marvel Knight vai explorar novamente essa ideia da mãe de Matthew na saga Diabo da Guarda 22 Evangelho de João capitulo 16 versículos 33.

Figura 8: Última cena da edição 229 que encerra o terceiro capítulo onde Matt passa pelo seu pior momento e salvo por uma freira que talvez possa ser sua mãe.

Figura 9:Matt representado igual figura do Cristo Crucificado. Mais uma representação da religião na HQ.

A imagem acima representaria a redenção de seus pecados e ele estaria renascendo novamente para combater o crime. Dentro do contexto histórico no começo dos anos 1980 uma onda conservadora acendeu no cenário político e social dos EUA.23Miller traz o ideal religioso de volta a vida americana, não uma vida cristã devota, mas a fé que serve como força para as dificuldades que Matt passa até renascer novamente para lutar no último capítulo da história que se chama: Armagedon.

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KARNAL, 2007, p.225

Figura 10 Salvo do seu inferno e pronto para recomeçar

3.3 Por Deus e pela Pátria: O patriotismo

Em 1982, Reagan invadiu a ilha de Granada, no Caribe, cujo governo socialista queria implementar reformas. Na américa Central, o governo americano treinou e bancou guerrilhas anticomunistas contra o governo socialista dos sandinistas na Nicarágua (que derrubou o ditador pró-americano, Somoza, em 1979) e providenciou assistência militar e econômica aos governos e às forças militares de El salvador e da Guatemala24. Em 1986, um escândalo que ficou conhecido como o Irã contras ou Irã-Gate25, abalou novamente a confiança do povo americano com o cenário político. Os dois últimos capítulos contextualizam este cenário. O personagem Bazuca, que é um soldado mentalmente perturbado com questões patriotas e foi usado como cobaia do soro do supersoldado, o mesmo utilizado para criar o Capitão América.

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Idem, 2007.p.219 Uma revista de Beirute revelou que a libertação de reféns americanos, aprisionados na cidade por terroristas próiranianos, era feita à medida que chegavam ao Irã armas vendidas pelo governo americano, numa operação montada pelo tenente-coronel Oliver North, assessor do Conselho de Segurança Nacional (CSN). Reagan admitiu, depois de várias negativas, que, com o auxílio de funcionários israelenses, mantinha por 18 meses "iniciativas diplomáticas secretas" com o regime do aiatolá Khomeini e que o envio do armamento visava objetivos louváveis: tentar uma reaproximação com o Irã 25

Figura 11 O personagem Bazuca se preparando para atacar a Nicarágua.

Bazuca é contratado pelo Rei do Crime para destruir a cozinha do inferno convencido por ele que todos que moram ali não são patriotas. Matt voltando a usar o traje de Demolidor luta para proteger os habitantes da Cozinha do Inferno no final da luta em meio a chamas aparecem o grupo de super-heróis, os Vingadores, que dizem que o Bazuca é um problema do governo dos EUA e o Homem de Ferro pede para o Demolidor não se meter. O destaque fica para o Capitão América, que após este incidente ele passa a investigar o envolvimento do governo americano com o Rei do Crime. Enquanto essa trama no governo federal, Demolidor ajuda reconstrução do seu bairro. Neste capitulo podemos ver o embate entre o Capitão América, aquele representa o ideal americano de liberdade e o Bazuca que seria a visão do supersoldado na década de 1980.26 Enquanto o Demolidor representaria a visão do povo que luta para superar um Estado ausente e corrupto. Bazuca, escapa da prisão e estava indo destruir o jornal Clarim Diário por conta das mentiras que o jornal professava sobre o atentado à Cozinha do Inferno, colocando a culpa nos soldados americanos. Demolidor e Capitão impedem que isso aconteça, porém o Diabo da Guarda em vez de levar Bazuca para o Hospital, por conta dos ferimentos da luta contra o Capitão, ele o leva para dentro do Clarim Diário, mais precisamente para mesa de Ben Ulrich, reporter que estava investigando o envolvimento do Rei do Crime com diversos esquemas ilegais, entre eles a queda de Murdock.

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MILLER,Frank. MAZZUCCHELLI, David: DEMOLIDOR ESPECIAL 2: Miller e Mazzucchelli. São Paulo: Abril. 1992. p.113.

Figura 12 Wilson Fisk convencendo o Bazuca a atacar a cozinha do inferno

Figura 13 Capitão América refletindo sobre a perda do significado da bandeira

Figura 14 No quadro de cima, Capitão América dizendo ao comandante do exército a quem ele é leal. No de baixo, Matt inconformado com a destruição causado por Bazuca.

Figura 15 Demolidor salvando o antigo e o novo supersoldado

Figura 16 Bazuca na mesa do repórter Ben Ulrich.

4 – Conclusão.

Os quadrinhos são muito mais que entretenimento, são um recorte de um tempo, podem ser vistos como a representação do tempo em que seu autor vive. Neste artigo foi mostrado algumas representações encontradas na HQ Queda de Murdock que mostram a influência dos acontecimentos da década de 1980, especificamente a Era Reagan, que influenciaram o roteirista Frank Miller e foram mostrados da arte expressionista de David Mazzucchelli. A perda do sonho destruído pelas drogas, volta por cima e o renascimento pela fé e a recuperação do patriotismo da época da segunda guerra (representado pelo Capitão América. São alguns pontos que mostram a volta do ideal do super-herói que Miller achava que tinha se perdido nos anos 1980 e ele queria resgatar.27 A história cultural se torna, assim, uma representação que resgata representações, que se incumbe de construir uma representação sobre o já representado” (Pesavento,2004, p. 43). Nada do que acontece pode ser considerado perdido para história 28 27

MILLER, 1990, 113. BENJAMIM, Walter, Magia e técnica, arte e política. Obras escolhidas. Volume I, Brasiliense: São Paulo, 1985,p.223 28

Bibliografia  VERGUEIRO, W. C. S. Histórias em quadrinhos e serviços de informação: um relacionamento em fase de definição. DataGramaZero: Revista de Ciência da Informação. v.6, n.2, abr., São Paulo, v. 1, p. 12 - 14, 03 abr.  PESAVENTO, S. Jatahy. História e história cultural. Belo Horizonte: autêntica, 2004;  ANDERSON, Perry. “Balanço do neoliberalismo”. In SADER, Emir, GENTILI, Pablo (orgs.). Pós-neoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995;  Aragão, S.M.; ZAVAGLIA, A.. Histórias em quadrinhos: imagem e texto em tradução. Tradterm, p. 435, 2010;  BENJAMIM, Walter, Magia e técnica, arte e política. Obras escolhidas. Volume I, Brasiliense: São Paulo, 1985;  GRAÇA, Eduardo. Não foi tão diferente assim. Revista Carta Capital. Publicado em 06 de setembro de 2011. Disponível em: Acesso em:27/10/2011  HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos: o breve século XX. São Paulo, Companhia das Letras, 2004  HOWE, Sean. Marvel Comics: A História Secreta. Tradução de Erico de Assis. São Paulo: Leya. 2013  KARNAL, Leandro. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. São Paulo. Contexto. 2010.  MILLER, Frank, MAZZUCHELLI, David.: Demolidor: A queda de Murdok. São Paulo, Editora Salvat, 2014.  ____________________________________. ORIGENS: Demolidor. In: Demolidor: A queda de Murdok. São Paulo, Editora Salvat, 2014  ____________________________________O Escrito: Frank Miller: Demolidor. In: Demolidor: A queda de Murdok. São Paulo, Editora Salvat, 2014  ________________________________: DEMOLIDOR ESPECIAL 2: Miller e Mazzucchelli. São Paulo: Abril. 1992  RAMOS, Paulo. “A leitura dos Quadrinhos”. São Paulo: Contexto, 2009.  SILVA, Alexandre. C. R. . Cenas narrativas em Batman-Ano Um: descontinuidades e continuidades na caracterização do super-herói; 2011; Dissertação (Mestrado em História) - Universidade de Brasília,; Orientador: José Walter Nunes; REFERÊNCIAS DA INTERNET Os melhores quadrinhos do DEMOLIDOR | Pipoca e Nanquim #198. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=C5Mk0eHBtd8. Acessado em:17/09/2015

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