Centro/periferia num espaço urbano e insular do Atlântico lusófono: (des) -continuidade dialectal e contacto linguístico no Funchal

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(des)continuidade dialectal e contacto linguístico no Funchal Aline Bazenga 1º Colóquio Internacional Ínsula, Universidade da Madeira / CIERL-UMa, 19 de novembro de 2015

Variedade Insular (Madeira) do PE Primeiras referências • Gonçalves Viana, A. R. (1883): nota, p. 88; (1906) • Schmitz, P. E. (1899); • Leite de Vasconcellos, J. (1901), p. 130

Figura 1. Classificação dos dialectos do Português Europeu (PE)

Variedade Insular (Madeira) do PE Tabela 1. Investigação sobre o Português Falado na Madeira (Bazenga, 2013)

Variedade Insular (Madeira) do PE Léxico • Pestana, E. A. (1970) • Nunes (1996) • Nunes (2002) • Figueiredo (2004) • Rebelo e Nunes (2015)

Fonética • Rogers, F.M. (1940, 1946) • Andrade, E. P, d’ (1993) • Segura, L. e Saramago, J. (1999) • Rebelo (2005) • Rodrigues (2015)

Sintaxe • Martins (2009) • Carrilho & Pereira (2011, 2012) • Vianna (2011) • Bazenga (2011, 2012, 2013)

Figura 2. Trabalhos de investigação de referência sobre o Português falado na Madeira

Variedade Insular (Madeira) do PE Insularidade Mobilidades

Variedade Madeirense do PE Línguas em Contacto

Figura 3. Factores na formação da variedade do Português falado na Madeira

Weinrich (1951,1953)

Línguas em contacto

Línguas em contacto

Para que haja contacto, são necessárias pelo menos duas línguas, uma língua e um dialecto ou dois dialectos em presença (Mota, 1996: 511);

Uma situação linguística e social “em que pelo menos algumas pessoas usam mais do que uma língua” (Thomason, 2001, 1)

Línguas em contacto Manutenção Mudança

• Língua de origem (LO) como única língua

• Language shift , ou mudança linguística e adoção da Língua Alvo (LA) (Fishman, 1964, 1991) • Bilinguismo • Diglossia

Mistura

• Code-switching ou alternância de códigos (Auer, 1999; Bullock e Toribio, 2009) • Code-mixting (Muysken, 2000), hibridismo (mistura, interferência, interlíngua)

Línguas em contacto • Fatores extralinguísticos: condições socio-históricas e políticas; atitudes dos falantes e as relações de força que se estabelecem entre as comunidades de falantes de línguas ou variedades distintas.

• Fatores de natureza linguística: distância tipológica entre a língua materna (LM ou LO) e a língua não materna, ou também Língua Alvo (LA); efeitos linguísticos da interferência na LA, dando origem ao surgimento de uma outra variedade nessa língua. (Thomason, 2001)

Línguas em contacto / Léxico (Empréstimos) Formação do Léxico do Português e Expansão territorial (Villalva, 2008, in Bazenga, 2011) • a herança lexical latina incorporou, no início da sua formação, os contributos de povos colonizadores – de origem germânica (nomes como guerra, luva, roupa) e árabes (alcatifa, arroz, açúcar, atum, aldeia). • empréstimos das línguas ameríndias (amendoim, tapioca, mandioca, goiaba, pitanga) africanas (banana, berimbau, cachimbo), asiáticas (leque, chá, bengala, bambu, chávena, xaile). • outros empréstimos de línguas europeias: galicismos (monge, blusa, soutien, envelope), italianismos (soneto, aguarela, bússola, piano, violoncelo), anglicismos (pudim, bife, lanche, futebol, andebol, penalti).

Léxico do Português Falado na Madeira

Figura 4. Mapa da ilha da Madeira

Léxico do Português Falado na Madeira (Empréstimos) Sarmento (1914, IV, 1): “elementos heterogéneos, rudes, muitas vezes casuaes e sujeitos a sucessivas transformações, são os que se observam derivados de palavras estrangeiras, mormente no Funchal”, provavelmente por ser a área com mais contactos linguísticos com o exterior. Gomes (1949, I, 149): “Pouco há a registar quanto a estrangeirismos. Embarcadiços regressados das Américas, do Cabo da Boa Esperança, da Trindade, têm sido portadores dalguns estrangeirismos. (…) são em pequeno número e de difícil fixação.”. Rebelo e Nunes (2015)

Léxico do Português Falado na Madeira (Empréstimos) Dissertações: Macedo (1939) apresenta formas do inglês, adaptadas fonética e morfologicamente à Língua Portuguesa, que considera fazerem parte do vocabulário madeirense. Rezende (1961), no final do capítulo dedicado à morfologia, em “Etimologia popular”, regista “Palavras formadas por influência inglesa”. Nunes (1965), no capítulo sobre lexicologia, inclui alguns “estrangeirismos”. Rebelo e Nunes (2015)

Tratuário [trtwrju], do francês trottoir [ttw]; substantivo masculino; [Portugal: Madeira, Popular]: Parte da rua destinada aos peões.= ÂNDITO, PASSEIO http://www.priberam.pt/dlpo/tratu%C3%A1rio

Tratuário (variante Trotoário)

Figura 5. Amor que Purifica | Trotoário Azul. 256 páginas, ISBN 978-989-20-4267-1 Edição PORTA33 Funchal, Novembro 2013. Edição do DVD “O Amor que Purifica | Trotoário Azul”

Tratuário • Dados etimológicos (Rey, 2005) origem em trottoir [ttw] do francês, nome masculino, derivado do verbo trotter (v. 1130, provavelmente de *trotton > *trotten, “correr” , forma intensiva de *treten “dar um passo, andar”)

Figura 6. Exposition universelle de 1900. Le trottoir roulant. Paris, 1900. © Léon et Lévy / Léon et Lévy / Roger-Viollet

Tratuário • Dados etimológicos (Rey, 2005) •

“être

sur le trottouer” (1577), com o significado “ser tema de conversa”;

• “se mettre sur le trottoir”, com o sentido figurado de “produzirse”, “mostrar-se”(1592); • designar “a pista sobre a qual se fazem trotar cavalos”(1660); • “passeio” ou “chemin élevé le long des quais et des ponts pour les gens qui vont à pied ” no século XVIII (1782). Figura 7. Exposition universelle de 1900. Le trottoir roulant. Paris, 1900. © Léon et Lévy / Léon et Lévy / Roger-Viollet

Tratuário • Propriedades semânticas (Pesant, 2000) • nome locativo, integra-se na categoria de objetos dimensionais de superfícies (2D), • mais especificamente, na classe dos nomes de passagem; correlações “deslocação”, “ao lado de” uma via urbana, no domínio da vida quotidiana. Figura 8. Passeio em Paris.

Tratuário

trottoir trot-

-oir

tratuário

*tratu-

-ário

Tratuário • Línguas em contacto e representação gráfica de propriedades fonéticas: • Vogal pretónica [] e consoante [R], no radical francês trot-, e a representação gráfica do radical *trat-, com a realização da vogal central, média-alta [] e [r] alveolar; centralização [o] > []

Figura 9. Tratuário funchalense. © Fotografia de A.S. In: http://www4.uma.pt/cierl/?page_id=362

Tratuário • Línguas em contacto e propriedades morfológicas • sufixos –ário (port. do lat. -arius ) e – oir (fra. do lat. –orium)

• formação de nomes de agente, com valores instrumental e locativo, mas com propriedades morfológicas distintas: -ário anexa-se a radicais nominais (estágioNm. estagiárioNm; mobiliaNf. mobiliárioNm, in Villalva, 2002)); –oir a radicais verbais (patinerV patinoireNf.; arroserV arrosoirNm.)

Figura 10. Tratuário funchalense. © Fotografia de A.S. In: http://www4.uma.pt/cierl/?page_id=362

Tratuário • Hibridismo formal; contacto cultural /linguístico, interculturalidade • passagem, possibilidade, travessia, encontro com o outro • urbanidade e cosmopolitismo, ser do mundo Figura 10. Tratuário funchalense. © Fotografia de A.S. In: http://www4.uma.pt/cierl/?page_id=362

Tratuário trottoar (sueco) trottoir (holandês, alemão)

trottoir (francês)

tratuário (Português, Madeira)

trotuar (Romeno)

Muito obrigada pela vossa atenção!

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