Chave para as espécies de Arachis L

June 3, 2017 | Autor: R. Veiga | Categoria: Plant Taxonomy (Taxonomy)
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Arachis L.

José F. M. Valls1, Antonio Krapovickas2 & Renato F. A. Veiga3
1 Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, PqEB - Final W5 norte,
Brasília, DF, Brasil. E-mail: [email protected]
2 Instituto de Botánica del Nordeste, IBONE, Corrientes, Argentina.
3 Instituto Agronômico, Campinas, SP, Brasil.

Ervas anuais ou perenes, eretas, decumbentes ou procumbentes, algumas
rizomatosas ou estoloníferas. Folhas quincunciais no eixo central e
alternas dísticas nos ramos, (3-)4-folioladas, paripinadas; estípulas
parcialmente soldadas ao pecíolo, formando bainha, com as porções livres
agudas; folíolos lanceolados a orbiculares, de margem inteira, ápice obtuso
a agudo, indumento variado. Flores em espigas paucifloras axilares,
dispostas ao longo dos ramos ou concentradas na base da planta, sésseis,
com hipanto muito desenvolvido; cálice bilabiado, lábio superior mais curto
e largo, 3-4-dentado, lábio inferior longo e falcado; corola amarela ou
alaranjada; estandarte com estrias vermelhas em uma ou ambas faces; oito
estames, quatro com anteras maiores, oblongas, e quatro com anteras
menores, globosas, e um estaminódio. Fruto subterrâneo lomentiforme,
indeiscente, com dois segmentos 1-seminados, afastado do ponto de inserção
do ovário pelo desenvolvimento pós-fecundação de um eixo de origem
meristemática também presente entre os segmentos, onde forma um istmo de
vários centímetros; fruto não articulado, 1-5-seminado, no amendoim (A.
hypogaea L.). Sementes lisas, com tegumento ocráceo a rosado nas espécies
silvestres e de várias cores no amendoim.

Arachis possui cerca de 80 espécies, de áreas tropicais e subtropicais
do Brasil, Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai. O amendoim é um cultivo
tradicional em São Paulo, mas apenas A. glabrata Benth. e A. stenosperma
Krapov. & W.C. Greg. ocorrem espontaneamente no Estado. Duas espécies
estoloníferas, A. pintoi Krapov. & W.C. Greg. e A. repens Handro, vêm sendo
crescentemente cultivadas em São Paulo, para a formação de pastagens ou
gramados ornamentais e para controle de erosão. Graças à longa tradição
local de pesquisa do gênero, encontram-se exsicatas de várias outras
espécies (IAC, SP e outros herbários), coletadas em São Paulo, mas oriundas
de cultivos experimentais. Entre estas, destaca-se o typus de Arachis
villosulicarpa Hoehne, espécie procedente do Mato Grosso (A. Telles s.n.,
SP 47535).

Fernández, A. & Krapovickas, A. 1994. Cromosomas y evolución en Arachis
(Leguminosae). Bonplandia 8: 187-220.
Hermann, F.J. 1954. A synopsis of the genus Arachis. Agric. Monogr.
U.S.D.A. 19, 26p.
Hoehne, F.C. 1940. Gênero: Arachis. Flora Brasílica 25 (2) pt.122: 1-20,
tab. 1-15.
Krapovickas, A. & Gregory, W.C. 1994. Taxonomía del género Arachis
(Leguminosae). Bonplandia 8: 1-186.


Chave para as espécies de Arachis
1. Plantas perenes
2. Plantas rizomatosas. Porção livre das estípulas mais longa que a
parte
adnata ...................................................1. A.
glabrata
2. Plantas estoloníferas. Porção livre das estípulas igual ou mais curta
que a parte adnata
3. Folíolos menos de duas vezes mais longos que largos. Cerdas
evidentes
sobre as estípulas e o pecíolo .............................A.
pintoi
3. Folíolos duas ou mais vezes mais longos que largos. Cerdas
ausentes,
ou muito raras no pecíolo ..................................A.
repens
1. Plantas anuais.
4. Fruto com dois segmentos unisseminados distanciadas por um longo
istmo
...................................................... 2. A.
stenosperma
4. Fruto não segmentado, sem istmo, com (1-)2-5 sementes
agrupadas.........
.............................................................A.
hypogaea

1. Arachis glabrata Benth., Trans. Linn. Soc. London 18(2): 159, 1841.

Erva perenne, rizomatosa; rizomas a 5-20cm de profundidade, longos,
ramificados, radicantes; ramos acima do solo até 40cm de alt., decumbentes,
apoiantes, glábros a pubescentes. Folhas 4-folioladas; estípulas subuladas,
glabrescentes a vilosas, às vezes com cerdas; folíolos oblongos, elípticos
a obovados, com cerdas marginais esparsas, margem algo marcada na face
dorsal; face ventral em geral glábra, com pubescência esparsa nas folhas
jovens; face dorsal com pelos apressos a subglabra e, geralmente, com pelos
mais longos sobre a nervura média. Flores em espigas paucifloras muito
breves; hipanto viloso; cálice viloso, com cerdas abundantes; estandarte
alaranjado, com linhas vermelhas na face ventral. Fruto raramente formado,
com dois segmentos ovado-alongados, bico pronunciado; segmento basal
afastado da axila foliar por eixo de 5-10cm; istmo breve; pericarpo tenaz,
epicarpo liso; semente ovado-alongada, ápice agudo, tegumento ocráceo.

Ocorre, abaixo de 800m de altitude, no nordeste da Argentina, Paraguai
Oriental e Brasil. Freqüente no Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e sul de
Goiás, de onde se estende ao Triângulo Mineiro e a São Paulo. B2, B3, B4,
B6, C4, C5, C6, D4, D5, D7: heliófita comum em áreas campestres e cerrados,
faixas de domínio de rodovias, bordas de campos cultivados, menos freqüente
em bordas de cerradão e matas. Floresce quase todo o ano, com maior
concentração no período chuvoso. É uma boa forrageira natural, com
cultivares selecionadas nos Estados Unidos e Austrália (Kerridge & Hardy,
1994), também cultivada para a formação de gramados ornamentais (Veiga et
al., 2003) na Regiâo Centro-oeste e no Paraguai.

Material selecionado: Barbosa, IX.1975, G. Hatschbach & R. Kummrow 37125
(CTES, MBM). Campinas, IX.2004, 22º55'43"S, 46º56'33"W, 720m, J.F.M. Valls
et al. 15059 (CEN). Igarapava, V.1983, J.F.M. Valls et al. 7305 (CEN).
Matão, I.1980, A. Krapovickas & C.L. Cristóbal 35249 (CEN, CTES, US).
Pereira Barreto, VI.1988, 320m, J.F.M. Valls et al. 11736 (CEN).
Pirassununga, IX.1946, M. Kuhlmann s.n. (SP 80244). Santa Albertina,
VI.1994, 20º05'S e 50º45'W, 410m, F.R. Ferreira & W.L. Werneck, 1134 (CEN).
Santa Cruz do Rio Pardo, II.1987, A. Krapovickas & C.L. Cristóbal 40989
(CTES). Tanabi, VIII.1941, A. Gehrt s.n. (SP 45842 ?????).

A espécie tem duas variedades: A. glabrata var. hagenbeckii (Harms ex
Kuntze) F.J. Herm., restrita ao sul do Paraguai e à Argentina, e A.
glabrata var. glabrata, que se estende por toda a área de distribuição. Sua
anatomia foi descrita por Menezes (1985), que, no entanto, a identificou
como A. prostrata Benth., espécie não ocorrente no Estado. Nóbile et al.
(2004) analisaram a diversidade genética de A. glabrata, por meio de
marcadores moleculares, incluindo material coletado em São Manoel, SP.

Bibliografia adicional:
Kerridge, P.C. & Hardy, B. (eds.), 1994. Biology and agronomy of forage
Arachis. Cali, CIAT, 209p.
Menezes, E.M., 1985. Arachis prostrata Benth. (Leguminosae-Papilionoideae):
anatomia dos órgãos vegetativos. Rodriguésia 37 (63): 49-56.
Nóbile, P.M., Gimenes, M.A., Valls, J.F.M., Lopes, C.R., 2004. Genetic
variation within and among species of genus Arachis, section
Rhizomatosae. Gen. Res. Crop Evol., 51: 299-307.
Veiga, R.F.A., Valls, J.F.M., Tombolato, A.F.C., Barbosa, W., Pires, E.G.,
2003. Amendoins silvestres para uso ornamental. Rev. Brasil. Hort.
Ornamental 9: 7-15.


2. Arachis stenosperma Krapov. & W.C. Greg., Bonplandia 8: 53, fig.27,
1994.

Erva anual, eventualmente sobrevivendo mais de um ano, sem rizomas; raiz
axonomorfa com ramificações delgadas; eixo central erecto, 5-30cm alt.;
ramos procumbentes até 1,2m compr., pubescentes. Folhas 4-folioladas;
quinto folíolo ocasional, pequeno, em algumas folhas; estípulas subuladas,
com pelos sedosos, sem cerdas; folíolos oblongo-lanceolados no eixo
central; oblongos a ovados, com ápice arredondado, nos ramos laterais;
margem tênue, com pelos sedosos e cerdas esparsas; face ventral glábra;
face dorsal glábra, com pelos sedosos sobre a nervura média. Flores em
espigas em geral 4-floras; hipanto com pelos sedosos esparsos; cálice
bilabiado, con pelos sedosos longos e cerdas esparsas; estandarte amarelo,
com linhas vermelhas tênues na face ventral. Fruto com dois segmentos
cilindráceos com bico pronunciado; segmento basal afastado da axila foliar
por eixo de 5-20cm; istmo breve; pericarpo papiráceo, epicarpo liso;
semente cilindrácea, ápice agudo, algo curvado, tegumento rosado.

Planta heliófita exclusiva do Brasil, com nítida disjunção. Ocorre no
Mato Grosso, a 180-350m de altitude, das cercanias de Cuiabá a Barra do
Garças, de onde acompanha o rio Araguaia e seus afluentes até São Félix,
também surgindo no noroeste de Goiás e sudoeste do Tocantins. Freqüente no
litoral de São Paulo, de Caraguatatuba a Cananéia (E8, F6, F7, G8) e
alcançando Matinhos, no Paraná, sempre a menos de 20 m de altitude, em
terrenos perturbados, campos e dunas costeiras. Também registrada na
capital paulista, como planta espontânea em terrenos perturbados e gramados
ornamentais da Cidade Universitária e Instituto Butantã (E7), ca.750m de
altitude. A migração à costa Atlântica deve-se, obviamente, ao transporte
por indígenas, em tempos imemoriais (Krapovickas & Gregory, 1994).
Aparentemente cultivada, no passado, para a produção de grãos alimentícios
(Valls, 1996), suas folhas são utilizadas, em São Paulo, para o preparo de
chá para os rins, conforme informação de moradores de alguns dos locais de
ocorrência, que a denominam "manduvirana". Floresce durante quase todo o
ano, com maior concentração no período chuvoso.


Material selecionado: Cananéia, V.1986, 25º01'20"S, 47º55'51"W, 10m,
J.F.M. Valls et al. 10229 (CEN, CTES). Caraguatatuba, XI.2004, 23º41'01"S,
45º26'36"W, 5m, J.F.M. Valls et al. 15063 (CEN); Iguape, XI.2004,
24º42'22"S, 47º33'13"W, 5m, J.F.M. Valls et al. 15075 (CEN); Peruíbe,
V.1992, 24º16'23"S, 46º56'27"W, 3m, J.F.M. Valls et al. 13262 (CEN, CTES);
São Paulo, II.2002, 23º33'37"S, 46º43'40"W, 730m, J.F.M. Valls & C.L.
Marino 14773 (CEN).


As populações interioranas de A. stenosperma mostram maior diversidade
genética que as do litoral (Monçato, 2000), mas os caracteres morfológicos
inicialmente considerados diagnósticos vêm-se tornando inócuos para a
distinção, à medida que cresce o número de populações estudadas (Custódio,
2005, Veiga et al., 2001). Todavia, nas plantas paulistas e paranaenses só
foram observadas flores amarelas, enquanto, nas interioranas, há tanto
amarelas, quanto alaranjadas.

Bibliografia adicional:
Custodio, A.R., 2005. Biogeografia e variabilidade em Arachis stenosperma
(Leguminosae), com ênfase em aspectos etnobotânicos e na resistência a
doenças foliares. Tese de Mestrado, PG/Botânica-UnB/Brasília,DF.
Monçato, L., 2000. Caracterização de acessos de germoplasma de Arachis
stenosperma Krapov. & W.C. Gregory através da análise morfológica e
molecular. Tese de Doutorado, PG/Genética-UNESP/Botucatu, SP.
Valls, J.F.M., 1996. O genêro Arachis L. (Leguminosae): importante fonte de
proteína na pré-história sul-americana? Coleção Arqueologia 1(2): 265-
280.

Veiga, R.F.A., Queiroz-Voltan, R.B., Valls, J.F.M., Fávero, A.P., Barbosa,
W., 2001. Caracterização morfológica de acessos de germoplasma de quatro
espécies brasileiras de amendoim silvestre. Bragantia 60: 167-176.


Lista de exsicatas:

Arachis glabrata
Ferreira, F.R. & W.L. Werneck 1134
Gehrt, A. s.n. (SP 45842)
Hatschbach, G. & R. Kummrow 37125
Hoehne, F.C. & A. Gehrt s.n. (SP 45842)
Krapovickas, A. & C.L. Cristóbal 35249
Krapovickas, A. & C.L. Cristóbal 40989
Kuhlmann, M. s.n. (SP 80244)
St. Hilaire, A. 991bis
Valls, J.F.M. et al. 7305
Valls, J.F.M. et al. 11736
Valls, J.F.M. et al. 15059

Arachis stenosperma
Edwall, G. s.n. (SP 1541)
Gehrt, A. 4744
Gibbs, P. et al. 3506
Valls, J.F.M. et al. 7382
Valls, J.F.M. Valls. 7384
Valls, J.F.M. et al. 10229
Valls, J.F.M. et al. 13260
Valls, J.F.M. et al. 13262
Valls, J.F.M. et al. 13267
Valls, J.F.M. et al. 14474
Valls, J.F.M. & C.L. Marino 14773
Valls, J.F.M. et al. 15063
Valls, J.F.M. et al. 15064
Valls, J.F.M. et al. 15065
Valls, J.F.M. et al. 15066
Valls, J.F.M. et al. 15067
Valls, J.F.M. et al. 15068
Valls, J.F.M. et al. 15070
Valls, J.F.M. et al. 15071
Valls, J.F.M. et al. 15072
Valls, J.F.M. et al. 15073
Valls, J.F.M. et al. 15074
Valls, J.F.M. et al. 15075
Veiga, R.F.A. 66
Veiga, R.F.A. 258
Veiga, R.F.A. 295
Veiga, R.F.A. et al. 13258
Veiga, R.F.A. et al. 13256
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