Chesterton e o Conservadorismo

June 12, 2017 | Autor: Chesterton Portugal | Categoria: Religion and Politics, G.K. Chesterton
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Chesterton e o Conservadorismo

António Campos Sociedade Chesterton Portugal Janeiro de 2016 1

Índice Capítulo 1- Chesterton e o Conservadorismo

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Introdução

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Notas

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Capítulo 2 – O Caso Contra o Conservadorismo

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Notas

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Capítulo I - Introdução

Muitas pessoas simpatizam com Chesterton por ele ser conservador. É um misconcept. Mas para discutir este assunto, primeiro, como faziam os escolásticos, é necessário estar de acordo com a definição do que queremos discutir. O que é ser conservador, existe diferença entre um conservador no mundo muçulmano, judaico, chinês, ou nas três matrizes europeias (ortodoxa, protestante e católica)? Para simplificar vamos considerar apenas a mesma família – o Ocidente. O que é ser conservador no Ocidente? Grande parte das pessoas toma os tories britânicos como o grande símbolo do conservadorismo. Outros, porventura menos atentos, tomam o republicanismo americano como símbolo conservador. Na verdade, a sociedade americana tem matriz liberal e aquilo que tomamos como conservadorismo, oriundo sobretudo da Nova Inglaterra, nada mais é do que uma forma de puritanismo moral com liberalismo económico. First things first ou back to basics, consideremos então as raízes do conservadorismo britânico.

Durante o reinado de Henrique VIII (1509-1547), os mosteiros e abadias (incluindo a de Westminster) foram confiscados à Igreja Católica inglesa e os nobres que se recusaram a abandonar Roma foram desapossados das suas terras e dos seus haveres. Os nobres, as suas famílias e os seus servos. A coroa distribuiria então esses enormes recursos por uma oligarquia de nobres que apostataram com o rei. Simultaneamente os terrenos baldios foram confiscados e atribuídos ao landlord. Foi a primeira concentração de propriedade e a primeira exponenciação da pobreza. Diz Chesterton, usando a analogia do evangelho:

“O inglês comum foi desapossado das suas propriedades, em nome do progresso. Os destruidores das abadias levaram-lhe o pão e deram-lhe uma pedra, sublinhando que era uma pedra preciosa, o seixo branco do eleito por Deus. Levaram-lhe o maypole (mastro com fitas erguido no primeiro dia de maio à roda do qual as pessoas dançam) e a sua vida rural e prometeram-lhe a vida nova da paz e do comércio, inaugurada com o Palácio de Cristal.”

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Ser pobre em Inglaterra pode ser muito mais duro que em Portugal ou no Brasil. Naquele tempo não existia petróleo para o aquecimento nem ajuda social de qualquer tipo. Confiscados os mosteiros e dissolvidas as ordens religiosas e com elas o ideal beneditino da hospedagem, deixou de existir caridade e ajuda aos pobres. Pelo reinado de Isabel I (1558-1603), filha de Henrique VIII e Ana Bolena, o número de pobres era tão grande que Walsingham e a rainha pensaram em os abater. Contudo, o grande número implicaria um grande esforço para a coroa na tarefa do abate. Na Irlanda, o massacre, a deportação, a escravatura, o confisco da terra, a fome e a peste que Isabel I iniciou e que Cromwell culminou, sempre sob o alibi da vontade de Deus, nivela-os com Hitler, Estaline ou Mao. Foram os ingleses quem reiniciou na idade moderna a escravatura. Um véu de silêncio foi colocado pelos vencedores sobre a história do notável povo irlandês.

Perdida a noção de que um pobre pode ser a face de Cristo ou o próprio Cristo, com Calvino (1509-1564), em favor da noção mais utilitária de que os pobres têm o que merecem, aos pobres restaram os asilos, a exploração e a migração para as cidades. Os mosteiros não só socorriam os pobres como faziam investigação agrária, renovação das sementes, fornecendo não só comida, como também as sementes necessárias à sementeira. Chesterton outra vez:

“Os ricos despejaram literalmente os pobres das hospedarias para o olho da rua, dizendo-lhes que era a rua do progresso. Literalmente conduziram-os para para as fábricas e o esquema moderno de escravatura e dependência do capital, convencendo-os de que este era o único caminho para o bem-estar e a civilização. Da mesma forma que lhes retiraram a comida e a cerveja do convento, dizendo-lhes que as ruas do céu se encontravam pavimentadas a ouro, agora retiraram-lhes a comida e a cerveja da aldeia, dizendo-lhe que as ruas de Londres estavam pavimentadas a ouro. O pobre entrou assim para o alpendre lúgubre do puritanismo para depois passar ao alpendre lúgubre do industrialismo, ao som de que cada um deles era, à vez, o portão do futuro. Até aqui só tinha ido de prisão em prisão, ou melhor, para prisões cada vez mais escuras, uma vez que o calvinismo ainda abria uma pequenina janela para o céu. E finalmente é-lhe ensinado, com a mesma atitude de educação e autoridade, que entre noutro alpendre escuro, ao qual deve entregar, em mãos invisíveis, os seus filhos, a sua propriedade e todas as tradições dos seus pais.”

Esta migração de miseráveis fez de Londres a maior cidade do mundo, forneceu mão de obra para a revolução industrial e para a expansão marítima. 4

O puritanismo tinha-se encarregado de lançar mais um manto negro sobre os católicos e os pobres, retirando-lhe a alegria dos prazeres da vida e a muitos a própria vida. Cromwell ficaria para a história com o apropriado nome de carniceiro, o assassino. Era a Londres de Dickens. Com a constituição das empresas marítimas, dos seguros e das fábricas, a mesma aristocracia rural lealista tornou-se uma oligarquia comercial, industrial e financeira. Com a mentalidade calvinista e puritana do casamento por dote e da herança para o filho mais velho, impediu-se a migração social e assistiu-se a mais uma concentração de capital. Esta concentração de capital teve repercussão nas universidades. A Oxcam (Oxford e Cambridge) é em grande medida instrumento da aristocracia. É estranho que os meninos ricos, filhos de lordes, que não fazem nada na vida, excepto passar o tempo nos seus clubes exclusivos, na caça à raposa e em Ascot, tenham todos educação nessas duas universidades e nos “melhores” colégios. Os college vivem de donativos e de imagem e a lordship fornece ambos. Nunca se esqueceram tanto as palavras de São Pedro: “O homem deve ganhar o pão com o suor do seu rosto…e um homem de honra é aquele que não vive do suor do rosto de outrem.” Só em Inglaterra a propriedade dos monumentos nacionais não é dos cidadãos mas da realeza, só em Inglaterra os lordes têm uma câmara alta. É desta elite que se origina a partidocracia inglesa e é com Burke que foi lançado o ideal conservador. Será objeto da segunda parte deste artigo quando criticarmos o pensamento de conservadores como João Pereira Coutinho.

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Notas

1

http://www.raceandhistory.com/cgibin/forum/webbbs_config.pl?md=read;id=1638

2

A. J. Penty. A Guildsman’s Interpretation of History.

3

Chesterton. The Outline of Sanity.

4

Houston Catholic Worker, vol 21, 5, 2001.

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Capítulo II - O Caso Contra o Conservadorismo

Confesso que não me fascina João Pereira Coutinho. Não partilho a sua admiração por Burke, por Oakeshot ou por Disraeli. Como refere Pereira Coutinho no seu livro, todos eles possuem uma ética política posicional, de acordo com as circunstâncias; i.e., prática, não ideológica. O estadista é aquele que sabe ler o espírito da época, encarnando-o, como dizia Hegel. É a “ideologia posicional”, citando Burke: “as circunstâncias dão a cada princípio político a sua cor distinta e efeito discriminatório.”1

Mais à frente um reforço da definição hegeliana do estadista como homem que interpreta correctamente a História, mais do que aquele que a pode modificar, citando Isaiah Berlin, “de um estadista espera-se antes que ele seja capaz de captar as permanentemente mutáveis cores dos acontecimentos e os sentimentos e actividades humanas.” O cinismo na política também é enaltecido por Burke e recomendado por Pereira Coutinho: “Quando desejardes agradar a qualquer povo, deveis dar-lhe o benefício que ele pede – não aquilo que pensais ser melhor para ele.” Resumindo, usando as palavras de Vítor Bento, a moral na política basta-se a si própria.

Duvido que o conservadorismo se esgote neste snobismo. Creio que jamais o conservadorismo será poder enquanto não ostentar a discrição da humildade. Os homens por mais ignorantes que sejam nunca serão tão estúpidos que não 7

se procurem rever em quem os representa. Podem ser enganados pela hipocrisia, mas dificilmente abrirão o seu coração ao cinismo. Prefiro no terreno conservador homens como Jaime Nogueira Pinto e João César das Neves, para quem a recusa da política do Monte das Bem-aventuranças coloca em risco a civilização ocidental. 12

Na verdade, como afirmava Christopher Dawson, o conservadorismo tem a sua raiz no liberalismo e este no iluminismo. Deus é assunto privado e nada tem com os assuntos da sociedade, da cultura ou do Estado.2 A alma humana é uma imagem, um humanismo. A fraternidade humana é uma partilha da ideia de que o homem vive uma experiência concreta, liberta da presença de Deus, e que a realidade última se encerra neste mundo. Deus é uma imagem ou ideal. Um conservador como Oakeshott diz que é melhor ignorar a religião do que ser importunado por ela. Ora, a maior contribuição de Dawson foi precisamente a de nos mostrar que todas as civilizações nascem e decorrem da crença religiosa: a cultura deriva do culto. Como afirmava Chesterton, “Uma coisa pode ser ignorada desde que seja demasiado grande”.3

O liberalismo, que decorre das ideias de John Locke e da Revolução Gloriosa, compreende o individualismo económico do comércio livre e o laissez faire ou honi soit qui mal y pense, eufemismos de dinheiro e sexo.13 Decai no final do século XIX até meados do século XX, muito devido à falência da ideia de progresso contínuo e virtuoso, provocado pelos acontecimentos das duas guerras mundiais. Outras causas para a sua perda, foram o desaparecimento da classe média de pequenos empresários por conta própria e a exploração dos trabalhadores empurrando-os para uma vida miserável, o que motivaria um forte pronunciamento da Igreja Católica, através da Encíclica Rerum Novarum.

O liberalismo persistiu, contudo, quer no reavivar do conservadorismo, sob forma de preservação da tradição, da autoridade e da propriedade, quer na emergência do socialismo, como forma de uma mudança do mundo para incluir os miseráveis. O liberalismo originou à direita um capitalismo plutocrático, com destruição das pequenas empresas de revenda e distribuição, das relações de proximidade e dos pequenos empresários liberais por conta própria. O liberalismo originou à esquerda a destruição da ética de relacionamento pessoal e sexual. Como o socialismo é um ataque de natureza moral e religiosa e o conservadorismo procura responder-lhe apenas com argumentos de natureza económica e política, é natural que haja sempre uma percepção de deficit moral no conservadorismo.

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Por detrás de uma imponente retórica, Burke (1729-1797) elogiava a religião, o partido whig, a Revolução Gloriosa e o “ser inglês”. Sobretudo abominava a revolução francesa, embora não a americana, porque contrariamente à americana, não possuía uma vertente liberal e comercial.

Burke era maçon, introduzido na loja pelo primeiro ministro whig, Charles, marquês de Rockingham, de quem foi secretário em 1765, de quem permaneceria íntimo amigo até à morte em 1782. Uma das razões porque não gostava da Revolução Francesa era a de ela representar a regra da maralha. Burke preferia a regra da elite iluminada. Na mente de Burke, o processo substitui Deus, como autoridade imanente em assuntos de jurisprudência e política. Embora anglicano, remete Deus e a sua lei para a esfera privada e para o discurso retórico. Também o cético Hume que pensava que a religião e a moral não possuem fundamento racional, declararia: “procurai um povo inteiramente privado de religião: se o encontrardes, podeis estar certos de que ele pouco difere dos animais.”4 Chesterton louvou as qualidades retóricas de Burke, mas criticou a inconsistência e fraqueza do seu pensamento conservador, chamou-lhe relativista e ateu, no sentido em que raciocinava como um ateu, i.e., como um secularista ou como um iluminista, inspirado em Hume. De facto, Burke partilhava a concepção de sociedade de Hume. Adam Smith elogiaria Burke, dizendo que ninguém antes dele exprimira melhor o seu pensamento sem o conhecer de antemão. É o pensamento oposto ao pensamento socialista. Então este duplo polo, Hume e Adam Smith, caracterizam o pensamento de Burke e tornam mais clara a crítica de Chesterton: "Era o dogma de Bentham, Adam Smith e afins, de que algumas das mais reles pulsões humanas se transformariam em coisa boa. Era a doutrina misteriosa de que o egoísmo pode chegar ao mesmo resultado que a generosidade." 5 O que mais irritava Chesterton em Burke não eram tanto as suas escolhas, mas as suas razões. Baseadas num ateísmo prático, embora o seu autor não fosse um ateu convicto. Robespierre que era deísta defendeu uma doutrina teísta, a igualdade dos homens perante a lei; Burke que era teísta defendeu uma doutrina ateísta, a de que os homens tinham direitos consignados na lei pela força da herança.6 Burke escolheu Montesquieu sobre Tomás de Aquino. Ou melhor, David Hume: “o útil move a nossa concordância”.

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Diz Burke: “Na famosa lei... A Petição dos Direitos, o Parlamento declara ao rei, "Os teus súbditos herdaram esta liberdade", reconhecendo os seus direitos baseados não em princípios abstratos como "os direitos do homem", mas nos direitos dos Ingleses, como um património herdado dos seus antepassados.” Portanto os direitos que vêm por herança, são os direitos dos senhores face ao rei, não são os direitos de todos os homens, “uma abstracção”. Burke era um aristocrata e a sua democracia era uma oligarquia onde o povo não tinha lugar. Ele não achava que os direitos do homem fossem uma coisa natural, mas uma convenção. Por isso Chesterton o apelidava de inimigo da democracia e “ateu funcional”. Ele faz parte do grupo de pessoas que acredita que a esperança de uma sociedade reside nas suas elites contra aquele grupo de pessoas que acredita que a desgraça de uma sociedade reside nas suas elites. Na verdade, Burke defende uma História sem saltos, sem convulsões. Uma defesa permanente dos direitos adquiridos pelos ingleses na Magna Carta. Burke era irlandês. Os católicos ingleses desapossados dos seus haveres e da sua vida também tinham os seus direitos consignados na Magna Carta. A Revolução Gloriosa consistiu na covarde deserção do comandante em chefe das forças armadas britânicas, John Churchill, a favor dos holandeses, abandonando o rei legítimo de Inglaterra. A Revolução Gloriosa não foi uma restauração da ordem correta, como dizia Burke, foi o fim da dinastia Stuart e dos católicos em Inglaterra, numa luta fraticida que vinha desde Henrique VIII. A dinastia dos Stuart foi a última barreira contra a plutocracia na Inglaterra, uma forma de poder essencialmente ligada a uma elite e a uma Igreja indissociável do Estado. Após a vitória de Guilherme III na Irlanda, em 1690, a restrição à posse da terra para católicos foi desastrosa para a sorte do povo irlandês, que sobrevivia de uma economia agrária.14 Burke defendia a aristocracia imobiliária e comercial britânica representada pelo Parlamento. Por isso defendeu a Revolução Gloriosa e não emitiu uma palavra contra Cromwell. Por isso jurou contra a transubstanciação e fez o voto de supremacia que negou a tantos católicos um emprego e a tantos outros a vida, como a Thomas More. Burke afirmou muitas coisas certas, mas dificilmente escapa à crítica de Marx de que sempre se vendeu no melhor mercado – o partido whig era a aristocracia e o puritanismo.

As suas relações com a Companhia das Índias levaram-no a perseguir um homem respeitador dos costumes e tradições indianas, Warren Hastings, substituindo-o pelos típicos evangélicos protestantes que com a sua arrogância e exploração conduziram a Índia aos primeiros motins de 1857.

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Para Chesterton, a Revolução Gloriosa encerrou o que tinha sido iniciado por Henrique VIII e continuado por Cromwell: “A revolução dos ricos contra os pobres.”7

Diz Chesterton: “O seu argumento é o de que nós temos alguma protecção pelo acaso natural e pelo nascimento. E como nos atrevemos a discordar, defendendo o mesmo para todos os homens como se fossemos imagens de Deus (imago Dei de São Tomás)? (…) Então, muitos anos antes de Darwin dar a sua machadada na democracia, o essencial do argumento darwiniano estava a ser usado contra a Revolução Francesa. O homem deve adaptar-se a tudo, como um animal; não pode modificar tudo, como um anjo.”

"O último grito do optimismo e deísmo do século dezoito veio pela voz de Stern: Deus regula o vento para o cordeiro tosquiado. E Burke, o evolucionista, responde: Não, Deus regula o cordeiro tosquiado para o vento. É o cordeiro que tem que se adaptar, ou seja, morre ou transforma-se numa espécie peculiar de cordeiro que gosta de permanecer numa corrente de ar." O mundo de Burke compreende o escravo confinado à sua pocilga e o aristocrata snob e nada pode alterar este processo evolutivo. O processo gradual é assim melhor que um processo abrupto; um relativismo gradual melhor que um relativismo radical. Ambos numa cosmovisão destituída do divino. É um iluminismo. Chesterton crê que os ingleses como Burke ao acreditarem no processo, crêem que o passado passou, ao passo que os franceses capazes de romper com o passado podem voltar a restaurar o passado, se o acharem por conveniente: “Aqueles que tudo derrubaram podem tudo voltar a recolocar, mas aqueles que tudo incorporaram, nada poderão restaurar.” “O ponto mais importante de uma revolução é o de que ela é a única estrada para qualquer coisa – até para a restauração. A revolução não pode ser apenas uma revolta dos vivos, também tem que ser uma ressurreição dos mortos.”8 Não basta deixar as coisas como estão; é necessário agir sobre elas. Porque a mutabilidade, a entropia, faz parte da natureza do mundo e do homem. A política não é mera preservação para salvaguardar a evolução. A videira necessita ser podada: o revolucionário corta as cepas; o conservador recusa podar as videiras. Um provoca uma morte rápida, o outro, uma morte lenta. Chesterton outra vez: “Uma vigilância extrema é necessária por parte do cidadão devido à enorme rapidez com que as instituições humanas envelhecem.” 11

É necessário um terceiro lado para fazer um triângulo. A nossa alternativa não é a morte rápida ou a morte lenta, mas num mundo sem Deus como o nosso, a restauração e ressurreição só poderão sobrevir com o regresso da fé. Na perspectiva da videira, será melhor viver sem ser podada, definhando, do que ser cortada pela raiz. Mas esse lento definhar não poderá ocultar-nos o verdadeiro caminho, o terceiro lado do triângulo, o equilíbrio.

“E queda-se ténue mesmo a meio A ponte nomeada Ambos-e-Nenhum (…) Onde as coisas não são o que parecem, Mas o que significam”.9

“Penso ser legítimo afirmar que o comunismo, o nacional socialismo, o capitalismo e a democracia liberal, são na verdade três formas de uma mesma coisa, que elas se movem em caminhos separados mas com o mesmo destino final, i.e., a mecanização da vida humana e a completa subordinação do indivíduo ao Estado e/ou ao processo económico. Evidentemente que não estou a afirmar que são completamente equivalentes, de que não temos o direito de preferir um em detrimento do outro. No entanto, creio que um cristão não os pode conceber como a solução derradeira do problema da civilização, ou mesmo como a solução possível. A cristandade ergue-se contra qualquer sistema social que reclama a completude do homem e que se propõe como a finalidade última da acção do homem, uma vez que afirma com desassombro que a essência da natureza humana ultrapassa qualquer sistema económico ou político. A civilização é a Estrada pela qual o homem caminha, não a casa em que ele habita. A sua verdadeira cidade situa-se noutro lugar.”2

Diz Chesterton: “Nos clubes de pensadores é tido como sensato que avançar com o argumento convencional é sinal de inteligência e sanidade. Pelo contrário, é tido como sinal de lirismo avançar com uma opinião própria. Esta 12

filosofia assenta no princípio de Euclides de que dois lados de uma questão são sempre superiores ao terceiro lado. Mas existe sempre um terceiro lado. Dois lados não definem um espaço.”10

“Os sábios peneiram a razão por um crivo estreito que retém a areia e perde o ouro.”11

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Notas

1

João Pereira Coutinho, Conservadorismo. Dom Quixote, 2014.

2

Christopher Dawson, Religion and the Modern State. Sheed & Ward, 1935.

3

Chesterton, Illustrated London News, Dezembro de 1907.

4

G. Reale – D. Antiseri, História da Filosofia, vol. 4, Paulus, 2007.

5

Chesterton, The Outline of Sanity.

6

Chesterton, Os Disparates do Mundo, cap. O Império do Insecto.

7

Chesterton, A Short History of England.

8

Chesterton, A Miscellany of Men.

9

Chesterton, Ubbi Ecclesia.

10

Chesterton, Illustrated London News, Two Sides of a Question, Junho de 1911. 11

Chesterton, The Convert.

12

Jaime Nogueira Pinto. Ideologia de Razão e Estado. Civilização, 2013.

13

http://sociedadechestertonportugal.blogspot.pt/2014/06/john-locke-1632-1704circunstancia.html. 14

Norman Davies, The Isles: A History (London: Macmillan,1999), pág. 629.

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