CIBERATIVISMO NO FACEBOOK: AVAAZ E A PETIÇÃO DE CASSAÇÃO DO MANDATO DO SENADOR RENAN CALHEIROS

July 13, 2017 | Autor: Israel Parma | Categoria: Facebook, Movimentos sociais, Ciberativismo, Sites De Redes Sociais, Internet, Avaaz
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UNIVERSIDADE FEEVALE

ISRAEL ROBERTO PARMA

CIBERATIVISMO NO FACEBOOK: AVAAZ E A PETIÇÃO DE CASSAÇÃO DO MANDATO DO SENADOR RENAN CALHEIROS

NOVO HAMBURGO 2013

Israel Roberto Parma

CIBERATIVISMO NO FACEBOOK: Avaaz e a petição de cassação do mandato do Senador Renan Calheiros Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial à obtenção de grau de Bacharel em Comunicação Social – Habilitação em Publicidade e Propaganda pela Universidade Feevale. Orientadora: Prof.ª Mª Marina Zoppas de Albuquerque

Novo Hamburgo 2013

ISRAEL ROBERTO PARMA Trabalho de Conclusão do Curso de Comunicação Social – Habilitação em Publicidade e Propaganda, com o título Ciberativismo no Facebook: Avaaz e a cassação do mandato do Senador Renan Calheiros, submetido ao corpo docente da Universidade Feevale, como requisito necessário para obtenção do Grau de Bacharel em Comunicação Social – Habilitação em Publicidade e Propaganda.

Aprovada por:

_________________________________________________________ Orientadora: Prof.ª Mª Marina Zoppas de Albuquerque

_________________________________________________________ Professora (Banca examinadora): Prof.ª Dr.ª Sandra Portella Montardo

_________________________________________________________ Professora (Banca examinadora): Prof.ª Mª Vera Sirlei Martins

Novo Hamburgo, novembro de 2013.

AGRADECIMENTOS

A minha família, que nos momentos dedicados aos estudos, sempre fizeram entender que o futuro é feito a partir de constante esforço e aprendizado. Principalmente aos meus pais, por terem dedicado suas vidas a mim, pelo amor, carinho e estímulo que me ofereceram. Por acreditarem que seria capaz de alcançar este objetivo. Dedico-lhes essa conquista com gratidão. Aos professores que durante o curso se dedicaram a mim, não somente por terem ensinado, mas por terem me feito aprender. A todos esses que sem nomear terão meu agradecimento. Em especial para minha orientadora que nesses últimos meses ao longo do desenvolvimento desta monografia sempre esteve presente para me auxiliar e buscar por um bom resultado.

“O Mal e o Estado nasceram juntos, e submeteram à ignorância a maioria dos homens que, em detrimento de sua própria individualidade, trabalham em prol de uma minoria que se utiliza do Estado. Em outras palavras, o Estado está a serviço de grupos que fazem a maioria dos Homens não refletirem sobre as conveniências da minoria dominadora. Para confirmar este pensamento é necessário debruçarmo-nos sobre o passado”. Charles Antonio Kieling

RESUMO

Essa Monografia busca compreender o ciberativismo realizado pela ONG Avaaz no site de rede social Facebook através da sua fanpage, tendo como objeto de análise a petição do impeachment do presidente do Senado, o senador Renan Calheiros. Parte-se do pressuposto de que essa inserção tem como fim oferecer um espaço no qual potencialize o alcance de divulgação e que sirva como um ambiente para discussão democrática da causa. A partir das estratégias metodológicas, como a pesquisa da pesquisa, a pesquisa exploratória e a pesquisa bibliográfica esta investigação apresenta os conceitos acerca dos movimentos sociais e introduz o desempenho da Avaaz como ator social. Aponta, também, o desenvolvimento do ciberespaço, da nova ordem cultural que surge com ele – a cibercultura – e seus atravessamentos, o ciberativismo. No percurso percorrido também é apresentado à proposta de petição on line da Avaaz e um histórico dos sites de redes sociais até chegar ao Facebook. Percorrendo esse caminho teórico e metodológico, outras percepções foram agregadas, como a netnografia ao possibilitar olhar para a internet na perspectiva de um artefato cultural. Utilizou-se para analisar o problema levantado e assim chegar a resultados para a compreensão deste movimento on line e que gera um espaço aberto para a exposição da relevância que a causa tem para os usuários.

Palavras chaves: Ciberativismo. Movimentos Sociais. Internet. Sites de Redes Sociais. Avaaz. Facebook.

ABSTRACT

This monograph seeks to comprehend cyberactivism fulfilled by the ONG Avaaz, on the social networking site, known as Facebook through its fan page, with the object of analyzing the Presidency’s Senate impeachment petition, Senator Mr. Renan Calheiros. It is on the assumption that this insertion is in order to provide a space in which to leverage the reach and outreach to serve as an environment for democratic discussion of the cause. From using methodological strategies, such as survey, exploratory and literature research, it introduces the social movements’ concepts and introduces the Avaaz performance as a social portrait. The cyberspace development, the new cultural order that comes with it – cyberculture - and their crossings, cyber activism are also discussed. In the distance covered is presented the proposed Avaaz online petition and a history of social networking sites to get to Facebook as well. Traversing the theoretical and methodological path, other perceptions were aggregated as netnography to enable internet looking for the perspective of a cultural artifact. Was used to analyze the problem raised and reach the results for understanding this movement online and that creates a space for the exhibition of relevance that causes for its users.

Keywords: cyberactivism. Social Movements. Internet. Social Networking Sites. Avaaz. Facebook.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Mapa cronológico dos maiores sites de redes sociais .............................. 52 Figura 2 - Mapa dos sites de redes sociais dominantes em cada país em Junho de 2009 .......................................................................................................................... 54 Figura 3 - Mapa dos sites de redes sociais dominantes em cada país em Junho de 2013 .......................................................................................................................... 55 Figura 4 - Comentários post um. ............................................................................... 61 Figura 5 – Comentários post dois.............................................................................. 62 Figura 6 – Comentários post três .............................................................................. 62 Figura 7 – Comentários post quatro .......................................................................... 63 Figura 8 - Primeiro post caso Renan Calheiros. ........................................................ 68 Figura 9 - Segundo post caso Renan Calheiros. ....................................................... 68 Figura 10 – Terceiro post caso Renan Calheiros ...................................................... 69 Figura 11 – Comentários post cinco. ......................................................................... 70 Figura 12 – Comentários post seis ............................................................................ 71 Figura 13 – Comentários post sete ........................................................................... 72 Figura 14 – Comentários post oito ............................................................................ 73 Figura 15 – Foto protesto Brasília ............................................................................. 74 Figura 16 – Comentários post nove .......................................................................... 76

LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Post da fanpage da Avaaz no Facebook no mês de fevereiro de 2013 .. 65 Tabela 2 – Post sobre a petição de cassação do mandato do senador Renan Calheiros ................................................................................................................... 66

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12 2 METODOLOGIA .................................................................................................... 17 3 MOVIMENTOS SOCIAIS: APROXIMAÇÕES CONCEITUAIS NUM MOVIMENTO EM REDE .................................................................................................................. 21 3.1 MOVIMENTOS SOCIAIS: EXPLORANDO SEU CONCEITO ............................. 21 3.2 AVAAZ E SUA PROPOSTA DE MOBILIZAÇÂO ................................................. 27 4 CIBERATIVISMO: A PROPOSTA DE MOBILIZAÇÃO DA AVAAZ NO CIBERESPAÇO ........................................................................................................ 32 4.1 O QUE É CIBERATIVISMO? .............................................................................. 32 4.2 AVAAZ E AS PETIÇÕES ON LINE ..................................................................... 43 4.3 SITES DE REDES SOCIAIS: O FACEBOOK ...................................................... 45 5 ANÁLISE................................................................................................................ 57 6 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 78 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 81 ANEXOS ................................................................................................................... 90

12 1 INTRODUÇÃO

A presente pesquisa é fruto do trabalho desenvolvido a fim de entender os questionamentos feitos pelo acadêmico a partir da inserção dos movimentos sociais nos sites de redes sociais e como se apropriam do site de rede social, Facebook, na mobilização da sociedade. O caso estudado estrutura-se na análise dos post, da fanpage da Avaaz no Facebook com relação à petição on line de impeachment do senador Renan Calheiros proposta pela ONG. No inicio do ano de 2013 se retomou a discussão sobre a eleição do possível presidente do Senado Nacional do Brasil. Pretendendo assumir novamente o cargo, Renan Calheiros, que no passado havia abdicado da função por ter sido acusado de corrupção e que acarretou na renúncia de seu mandato, era tido como o favorito na eleição. Esse caso gerou uma repercussão em toda a sociedade brasileira, a partir do possível retorno do político ao comando. Os senadores votaram e elegeram novamente Renan Calheiros para o cargo no inicio do mês de fevereiro de 2013. Após a vitória do senador, é gerada a petição on line para a cassação do mandato do político originada por um dos usuário da ONG Avaaz, instituição sem fins lucrativos, criada em 2007, que propõe a utilização do ciberespaço de forma a mobilizar a sociedade. Devido à repercussão da petição, a Avaaz abraça à causa e amplia sua divulgação no ciberespaço em um dos sites de redes sociais, o Facebook, por meio da sua fanpage. Nesse contexto, o uso do ciberespaço se mostra de forma a agilizar na divulgação, conhecimento do fato e associação à causa o repúdio da população, consolidada através da petição se inicia no dia 1° de Fevereiro de 2013. Num primeiro momento esse lugar se justifica, conforme afirma Lemos (2007),

o ciberespaço é uma ambiente de circulação de discussões pluralistas, reforçando competências diferenciadas e aproveitando o caldo de conhecimento que é gerado dos laços comunitários, podendo potencializar a troca de competências, gerando a coletivização dos saberes (LEMOS, 2007, p.135).

O uso do ciberespaço proporciona um alcance no qual “os ativistas estão operando a velocidades que nunca vimos. Eles podem alcançar milhões de pessoas em minutos. Têm consciência de que o público quer saber o que eles podem fazer, especificamente, neste instante” (TAPSCOTT, 2010, p. 342).

13 A busca por assinaturas inicia com o propósito de atingir 1% do total do eleitorado nacional, o que representa mais de 1,4 milhões de pessoas 1. Logo após a criação da campanha no site, a Avaaz disparou e-mails para seus usuários e se utilizou da sua fanpage no Facebook para gerar maiores possibilidades de participação dos usuários, dando a ela, maior visibilidade. Essa participação aconteceu principalmente porque, segundo Castells (2012), “os usuários de internet ingressam em redes ou grupos on line com base em interesses em comum, e valores, e já que têm interesses multidimensionais, também os terão suas afiliações on line” (CASTELLS, 2012, p. 444). Esta forma de disseminar a campanha e adquirir mais adeptos que invade os sites de redes sociais, no caso o Facebook, possui um grande potencial mobilizador. No Brasil o número de usuários desse site de redes sociais é de 67 milhões de usuários2. A cultura de curtir, compartilhar e comentar os post dos amigos e/ou de páginas que os indivíduos venham a curtir possibilita uma propagação rápida do assunto. É neste contexto que o presente trabalho analisará a fanpage da Avaaz no Facebook a fim de perceber a repercussão do caso da petição de cassação do senador Renan Calheiros. A utilização da internet pelos movimentos sociais acompanha a mudança cultural que se estabelece com o uso da tecnologia em diversos setores da sociedade. Uma dessas mudanças é a das relações e vínculos que os sujeitos constroem através da rede, dos sites de redes sociais. Este uso ocorre, pois há uma facilidade na conversação e organização dos indivíduos e também por facilitar a produção de conteúdo e sua divulgação por meio da internet, possibilitando uma propagação dele. Nesse contexto, conforme destaca Schieck (2009) os movimentos sociais se caracterizam como sendo multimodal devido a forma de atingir o público global através da internet e das redes P2P3, proporcionado aos usuários uma interação através de múltiplas interfaces. Os passos seguidos para suprir as

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Número total de eleitores no ano de 2012 foi de 140.646.446 eleitores. Disponível em: http://www.tse.jus.br/eleicoes/estatisticas/estatisticas-eleicoes-2012 2 Disponível em: http://www.gazetadopovo.com.br/tecnologia/conteudo.phtml?id=1355433&tit=Numero-de-usuarios-doFacebook-no-Brasil-aumenta-458-em-dois-anos 3 Entende-se por P2P (do inglês peer-to-peer, que significa par-a-par) ser “um formato de rede de computadores em que a principal característica é descentralização das funções convencionais de rede, onde o computador de cada usuário conectado acaba por realizar funções de servidor e de cliente ao mesmo tempo”. Disponível em: http://www.tecmundo.com.br/torrent/192-o-que-e-p2p-.htm

14 demandas expostas baseiam-se inicialmente na compreensão dos conceitos dos temas inerentes. A presente pesquisa se torna relevante para compreender as novas dinâmicas e formas de uso do ciberespaço pelos movimentos sociais, onde o ciberativismo passa a adquirir lugar de destaque para trazer à sociedade as reivindicações, lutas e pautas destes. As inquietações que provocaram a necessidade de pesquisar o ciberativismo da Avaaz surgiu a partir do sistemático envio de mensagens eletrônicas da ONG e a forma que esse modo de agir garante representatividade na vida cotidiana, nos impactos que provocam na sociedade e no comportamento social, para o além do virtual. Assim, a proposta da presente investigação visa encontrar a resposta para o problema, fundamentada através de seu objetivo geral, sendo que o problema de pesquisa é entender: Como o ciberativismo realizado pela Avaaz, através da fanpage no Facebook, no caso da petição de impeachment do senador Renan Calheiros, potencializa as demandas políticas e sociais e de participação democrática social? Dessa forma, tendo como objetivo geral: Compreender como o Facebook potencializa as demandas políticas e sociais apontadas pela Avaaz nos processos democráticos e de participação no caso da petição de impeachment do senador Renan Calheiros. Os passos seguidos levantados na busca da compreensão desse questionamento adquirem especificidades que foram guiadas pelos objetivos específicos que colaboraram para a sua construção da investigação. Dentre esses objetivos encontra-se a competência em: a)

Analisar o site da Avaaz a fim de compreender os recursos disponíveis visando à interação/participação com seus usuários.

b)

Analisar os post, na fanpage da Avaaz no Facebook relacionados com a petição de cassação do mandato do presidente do Senado Renan Calheiros.

c)

Identificar a representatividade que o Facebook adquire para a Avaaz, tanto no que diz respeito à propagação das causas, como por se tornar um espaço aberto para a discussão. Nesse sentindo, foram trazidas as seguintes hipóteses nessa pesquisa:

15 I.

Os sites de redes sociais, para esse projeto de pesquisa o Facebook, tem grande poder de mobilização social, assim sendo uma ferramenta útil para disseminar as ações ciberativistas propostas pela Avaaz.

II.

A mobilização que ocorre no Facebook é superficial, não tendo poder, nem relevância nas ações de ciberativismo. Essa mobilização social on line não possui credibilidade o bastante, pois fica restrita à internet. Esse trabalho de conclusão de curso encontra-se estruturado com a

apresentação dos seus capítulos da seguinte forma: Capítulo I: Introdução, Capítulo II: Metodologia, Capítulo III: Movimentos Sociais: aproximações conceituais num movimento em rede, Capítulo IV: Ciberativismo: a proposta de mobilização da Avaaz no ciberespaço, Capítulo V: Análise e por fim a Conclusão. No capítulo 1 é apresentada a problemática, com seu objetivo geral e os objetivos específicos, nela é expresso o questionamento oriundo da observação do fenômeno comunicacional instigado e expõe o escopo seguido para a resolução do problema de pesquisa. O capítulo 2 traz as estratégias metodológicas escolhidas para o desenvolvimento da pesquisa, que foram o suporte estrutural, o desenho do mapa para o caminho a ser percorrido. Nele são expressos os mecanismos que sustentaram o pesquisador para atingir seus objetivos, assim, são expostas as táticas, procedimentos, ferramentas utilizadas como os tipos de pesquisa exploratória e bibliográfica e a perspectiva de compreender e elaborar o objeto empírico através da netnografia, ou etnografia virtual. Os autores utilizados na sua construção são Suely Fragoso; Raquel Recuero e Adriana Amaral (2012), Jiani Bonin (2011), Cleber Cristiano Prodanov e Ernani Cesar de Freitas (2009) e Ida Regina C. Stumpf (2012). O capítulo 3 traz a compreensão, entendimento, conceituação e a abordagem a respeito dos movimentos sociais. Os movimentos sociais são teorizados e aprofundados e, por conseguinte é retratado a Avaaz como parte desse mecanismo social. Fundamentou-se através de autores como Alain Touraine (2007; 2006; 1997; 1994 e 1989), Cicilia Krohling Peruzzo (1998), Ilse Scherer-Warren (2006 e 1987), Maria da Glória Gohn (2011a; 2011b e 2008), Charles Antonio Kieling (2001) e Donatella Della Porta (2007) entre outros. No capítulo 4 foi desenvolvido um percurso sobre os conceitos de ciberespaço, cibercultura e ciberativismo. Sua construção está entrelaça com a

16 forma de ativismo da Avaaz. Também, traz o entendimento de sites de redes sociais, percorrendo, brevemente o surgimento destes, tratando sobre o Facebook e suas características como as ‘fanpages’. Esse capítulo está amparado por autores como André Lemos (2007), Manuel Castells (2012; 2008; 2003), Don Tapscott (2010), David de Urgate (2008), Raquel Recuero (2009), Maria Eugenia Cavalcanti Rigitano (2003), Danah M. Boyd e Nicole B. Ellison (2007), Lúcia Santaella (2010 e 2011) entre outros. No quinto capítulo é desenvolvida a análise através das estratégias metodológicas para se alcançar os resultados, sempre indo e voltando aos objetivos geral e específico. Ao chegarmos às considerações finais, no capítulo 6, apresentase as reflexões teórico-metodológica inter-relacionadas com o objeto empírico diante do caminho percorrido, sobre esses resultados.

17 2 METODOLOGIA

Metodologia científica é um conjunto de procedimentos que auxiliam na elaboração e desenvolvimento da pesquisa, a fim de dar aporte ao pesquisador, na busca das respostas aos problemas propostos. Dentre os procedimentos metodológicos utilizados para esta investigação, a utilização da pesquisa exploratória possibilitou através da aproximação com o problema por meio da exploração do assunto a fim de auxiliar na definição e delineamento do assunto pretendido. Para Bonin (2011, p. 40), a pesquisa exploratória “oportuniza experimentar, vivenciar e testar métodos e procedimentos para compor e construir arranjos metodológicos sensíveis às demandas da problemática e das lógicas dos objetos empíricos”. Segundo Prodanov e Freitas (2009, p.52) a pesquisa exploratória visa “facilitar a delimitação do tema da pesquisa; orientar a fixação dos objetivos e a formulação das hipóteses ou descobrir um novo tipo de enfoque para o assunto”. Bonin (2011, p. 39) acrescenta que a pesquisa exploratória “implica um movimento de aproximação ao fenômeno concreto a ser investigado buscando perceber seus contornos, suas especificidades, suas singularidades”. Essa aproximação se dá, neste projeto, a partir do primeiro contato estabelecido com o agente causador da inquietude do pesquisador. Diante disso, o primeiro contato com a ONG de mobilização social Avaaz aconteceu em 12 de fevereiro de 2010, através de um e-mail enviado por um contato do pesquisador que utilizou a ferramenta do site da Avaaz intitulada “avise seus amigos”. Este e-mail continha informações sobre uma das petições propostas no site. Nesse momento surgiram as primeiras inquietações, a final o que é a Avaaz? O que são petições? Na época não havia um interesse para compreender esses questionamentos, nem de participar dessa ‘corrente’. A primeira participação só se deu um ano depois, em meados de maio de 2011. Porém a petição que fez com que os questionamentos referentes à Avaaz viessem à tona ocorreu em fevereiro de 2013. Essa se tornou parte do objeto de estudo abordado nesta pesquisa, sua proposta foi fundada na tentativa de impeachment do Presidente do Senado Renan Calheiros. Após definido sobre o que trabalhar, iniciou-se a pesquisa para a compreensão do funcionamento da Avaaz, seu histórico, notícias relacionadas a ela

18 e o contexto da eleição do senador Renan Calheiros como presidente do Senado Nacional. Finalizando essa exploração para a compreensão do movimento social, a delimitação do tema se tornou o próximo passo a ser concretizado. Nesse sentido, observando esse cenário, iniciou-se uma pesquisa de atuação da Avaaz nas possibilidades de interação com os usuários e da divulgação das petições. Focado nesse ideal, percebeu-se que um ambiente propício para essas possibilidades são os sites de redes sociais, sendo que o site escolhido foi o Facebook. A escolha se deu devido a duas situações: a primeira está relacionada ao processo de criação4 de uma petição, que ao ser finalizado por seu criador possibilita que se divulgue através de três formas para o usuário disponibilizar nas suas redes de relacionamentos na internet: a) disponibilização do link da petição via e-mail; b) sites de redes sociais (Twitter e Facebook); c) link para utilizá-lo em outras plataformas. Nesse primeiro processo de escolha, optamos por focar nos sites de redes sociais, essa escolha se deu devido ao presente autor da pesquisa, identificar dentro deste ambiente uma potencial representatividade da expressão de opinião dos usuários. Sendo assim, viu-se a necessidade de análise da repercussão do caso em questão, buscando entender a atuação desse ambiente na discussão, interação e divulgação da petição. Na segunda etapa, do site de redes sociais a ser trabalhado, foi escolhido pelo critério de conexões com os sujeitos, sendo definida através do maior número de curtidas da fanpage da Avaaz (Facebook) ou número de seguidores da Avaaz (Twitter). Com isso, o Facebook passou a ser o site de rede social a ser analisado, pois contava com mais de 800 mil curtidas, contra os mais de 500 mil seguidores do Twitter. A observação dos post ocorreu no mês em que houve o processo de escolha do presidente do senado. Acompanhamos as postagens da Avaaz no Facebook durante 25 dias, de fevereiro de 2013. Nesse período foi publicado um total de 35 post na fanpage da Avaaz, sendo que três relacionadas à petição de cassação do mandato do senador Renan Calheiros. Finalizada essa etapa do processo de construção da presente pesquisa, iniciou-se a definição da direção da pesquisa e quais assuntos seriam abordados,

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As etapas de criação de uma petição encontram-se nos anexos.

19 definindo-se que para que se possam compreender os conceitos básicos dos assuntos a serem expostos (movimentos sociais, cibercultura, ciberativismo e sites de redes sociais), visando o aporte teórico, foi utilizado como técnica de pesquisa a fim de auxiliar na compreensão do tema a de pesquisa bibliográfica, pois é um conjunto de procedimentos para “identificar, selecionar, localizar e obter documentos de interesse para a realização de trabalhos acadêmicos e de pesquisa, bem como técnicas de leitura e transcrição de dados que permitem recuperá-los quando necessários” (STUMPF, 2012, p.54). As escolhas dos autores presentes na investigação surgiram por meio da pesquisa da pesquisa “que implica trabalhar com investigações produzidas no campo (e em áreas de interface) relacionadas ao problema/objeto, para fazer dessa produção elemento ativo na sua elaboração” (BONIN, 2011, p. 34). Sendo assim, buscaram-se outras pesquisas que abordassem temas comuns. Essa escolha ocorreu em plataformas de conteúdo acadêmico como os anais da Intercom, o portal Scielo, Google Docs entre outros. Após a coleta se analisou seus referenciais teóricos a fim de identificar autores e buscar essa bibliografia, bem como compreender as formas de elaboração dos processos metodológicos. A partir da Netnografia, que é um neologismo de net+etnografia (FRAGOSO; RECUERO; AMARAL, 2012) a pesquisa entenderá os espaços digitais a serem observados, refletidos e analisados por compreender que neste método, de âmbito qualitativo, serve para análise baseada nos processos relacionais, comportamentais e dinâmicos das comunidades virtuais, ela é um estudo antropológico dos fatos provenientes do ciberespaço (GEBERA, 2008). Nesse sentido a netnografia deu o suporte a análise estabelecida pelos comentários dos usuários do Facebook nos post relacionados à petição de cassação do mandato do senador Renan Calheiros, visando “conhecer a perspectiva das próprias pessoas sobre as questões” (FRAGOSO; RECUERO; AMARAL, 2012, p. 180). O uso da netnografia, segundo Kozinets (2010 apud FRAGOSO; RECUERO; AMARAL, 2012, p. 190), sofre adaptações que tem por objetivo ajudar no estudo de fóruns, chats, blogs, entre outros, além de sites de redes sociais que é o foco desta pesquisa.

20 Também, esse processo investigativo tem como perspectiva compreender a internet como artefato cultural. Um artefato cultural segundo Shah5 (2005) é: como um repositório vivo de significados compartilhados produzidos por uma comunidade de ideias. Um artefato cultural é um símbolo comunitário e de posse (no sentido não violenta, não religioso da palavra). Um artefato cultural se torna infinitamente mutável e gera auto referencias e muitas narrativas que definem mutuamente em vez de criar uma narrativa linear mestra. Porque o artefato cultural está fora do alcance da lei e torna-se uma sinalização para a construção da ordem simbólica dentro de uma comunidade, ele carrega uma autoridade ilegítima, o que não é sancionada pelos sistemas jurídicos ou do Estado, mas pelas práticas vividas de as pessoas que criá-lo (SHAH, 2005, p. 8).

Para Fragoso, Recuero e Amaral (2012) um artefato cultural testemunha a introdução na vida cotidiana pelos elementos tecnológicos: favorece a percepção da rede como um elemento da cultura e não como uma entidade à parte, em uma perspectiva que se diferencia da anterior, entre outras coisas, pela integração dos âmbitos on-line e off-line (FRAGOSO; RECUERO; AMARAL, 2012, p.42).

Essa introdução dos meio tecnológicos nas práticas cotidianas passa a ter valia na mudança comportamental dos indivíduos e que ao utilizarem a internet não estão se inserindo em um mundo à parte, mas sim estendendo ao ambiente virtual sua presença social. Ainda segundo as autoras “a noção de internet como artefato cultural oportuniza o entendimento do objeto como um local intersticial em que as fronteiras entre on-line e off-line são fluidas e ambos interatuam” (FRAGOSO; RECUERO; AMARAL, 2012, p.42). Dessa forma, o presente objeto de estudo está inserido no mundo on-line, mas contribui para uma participação dos indivíduos num processo de conscientização, discussão democrática, distribuição de informações e atuação off-line. Um artefato cultural visa a observação da tecnologia inserida no cotidiano e pode-se dizer que com o auxílio dos sites de redes sociais os indivíduos utilizam dessas ferramentas para proporcionar uma participação em causas que lhes são pertinentes, mesmo não atuando no “real”, sua participação não deixa de ter um valor significativo.

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Tradução do autor.

21 3 MOVIMENTOS SOCIAIS: APROXIMAÇÕES CONCEITUAIS NUM MOVIMENTO EM REDE Nesta monografia, importa dedicar um capítulo a compreensão dos movimentos sociais a fim de entender como se formam esses movimentos e como atuam na sociedade. Sendo assim este capítulo está organizado nas seguintes partes: Movimentos sociais: explorando seu conceito e Avaaz e sua proposta de mobilização.

3.1 MOVIMENTOS SOCIAIS: EXPLORANDO SEU CONCEITO

Para existir os movimentos sociais, é necessária a existência de indivíduos que se organizam em grupos, coletivos e que tenham afinidades e colaborem entre si. O indivíduo, enquanto ator social se manifesta a partir do sentimento de angústia que prolifera em si. Entender o ambiente em que está inserido e identificar carências, que para ele não satisfazem suas necessidades, faz com que crie um atrito entre o sujeito e o sistema instaurado. Essas angústias possuem uma dualidade que causa a motivação dos sujeitos. “As atitudes humanas, sejam elas quais forem, carrega, o principio da racionalidade, da proporção, da ação e reação, do pensar e agir” (KIELING, 2001, p.33). Essas motivações são ocasionadas no que diz respeito ao ideal coletivo e aquilo que o ser pretende atingir, melhorando em algum aspecto a sua própria vida. Individualmente este sujeito não tem representação para propor uma mudança na sociedade, mas a partir do momento em que outros sujeitos que possuem as mesmas inquietudes partilham dos seus sentimentos e ideais, passam a se organizar e começam a ter uma representatividade, porque “não só trabalha politicamente os diversos interesses e necessidades particulares existentes na sociedade,

como

procura

instituí-los

em

direitos

universais

reconhecidos

formalmente” (VIEIRA, 1999, p. 40). Dessa forma, a organização dos sujeitos vai criar grupos de colaboração na busca por mudanças. Segundo definição de Pichon-Rivière (1998, p. 234), os grupos se caracterizam pela contínua ligação de pessoas inseridas em um determinado tempo e espaço, articuladas e que buscam determinada finalidade. Essas características se enquadram dentro das propostas que os movimentos sociais

22 buscam. Esses grupos sociais organizados propõem diferentes lutas, cada qual, com características pertinentes a cada época, trazendo elementos da situação vivida e enfrentando diferentes condições dentro dos sistemas político, econômico, social e cultural vigentes. Os recursos pelos os quais utilizam para demonstrar seu repúdio, a forma de como se dá ao andamento de determinado ambiente se manifestam através de diferentes formas, ou seja, “não só expressa o desejo de um mundo de igualdade e liberdade, não apenas exige uma sociedade global democrática que seja aberta e inclusiva, como proporciona os meios para alcançá-la” (HARDT; NEGRI, 2005, p.9). Um desses recursos que a sociedade obtém para propor um embate é essa organização de indivíduos em grupos que agirão para fiscalizar, cobrar, exigir e combater abusos. Por isso, “os indivíduos e grupos organizam-se em associações, movimentos sociais, sindicatos e partidos, constituindo um contrapoder social que limita o poder do Estado” (VIEIRA, 1999, p.40). Para buscar entender o comportamento dos sujeitos e o cenário em que estão inseridas suas ações de reinvindicações por melhorias sociais, inicia-se em meados de 1840, o estudo dos movimentos sociais. Segundo Sherer-Warren (1987) o estudo dos movimentos sociais surge com Lorens Von Stein, “quando este defende a necessidade de uma ciência da sociedade que se dedicasse ao estudo dos movimentos sociais, tais como o movimento proletário francês e do comunismo e socialismo emergentes” (SCHERER-WARREN, 1987, p. 12). Desde então, os movimentos sociais apresentam distintas correntes teóricas que muitas vezes, divergentes. Para Ferreira (2010), “o conceito é complexo e dinâmico, de forma que não existe uma única teoria interpretativa de tal fenômeno social, ou mesmo, um modelo de concepção de movimento social” (FERREIRA,. 2010, p.1). Outra autora que destaca essa pluralidade dos conceitos de movimento social é Peruzzo (1998), acrescentando que esses movimentos “se configuram numa gama diversificada de formulações, interpretações e revisões teóricoconceituais” (PERUZZO, 1998, p. 31). Maria da Glória Gohn, em Teoria dos movimentos sociais: Paradigmas clássicos e contemporâneos, (2011a), aborda diferentes teorias produzidas para analisar e buscar compreender os movimentos sociais, contextualizando os paradigmas clássicos e contemporâneos. A autora destaca que “a abordagem clássica sobre os movimentos sociais nas ciências sociais norte-americanas está

23 associada ao próprio desenvolvimento inicial da sociologia naquele país” (GOHN, 2011a, p. 23). Outro autor que traz elementos característicos dessa abordagem é Picolotto (2007) e segundo ele, no modelo clássico as mobilizações das massas humanas6 ambicionam por mudanças sociais e pelo estabelecimento da revolução. “Estas massas mobilizavam-se nos momentos em que as condições objetivas (materiais) fossem propícias, ou seja, em períodos de crises do capitalismo ou de grandes setores da economia” (PICOLOTTO, 2007, p. 174). Na visão de Doimo (1995), os movimentos sociais que ebuliram até os anos 1960, estavam sempre relacionados à mobilização da classe operária. Nesse período, movimentos sociais eram identificados principalmente nas lutas da classe trabalhadora ou contra regimes autoritários, mas com o surgimento dos novos movimentos sociais houve uma modificação na forma de analisá-los. Para Bringel e Espiñeira (2008) as teorias “centradas no âmbito do Estado-nação, vêm sendo revisitadas devido a um pujante ativismo transnacional. Emergem novas lentes analíticas e (ou) se renovam velhas ferramentas” (BRINGEL; ESPIÑEIRA, 2008, p. 419). Segundo Della Porta (2007), a partir dos anos de 1970, iniciou-se esse novo olhar sobre os movimentos sociais, pois acredita que o antigo movimento operário passou a ser considerado institucionalizado. Ela destaca que as “diferenças de gênero, defesa do meio ambiente, convivência entre as diversas culturas são alguns dos temas em torno dos quais se constituíram, recentemente, os movimentos sociais” (DELLA PORTA, 2007, p. 24). Dentro desta perspectiva, a mudança da sociedade frente ao estado gerou principalmente reivindicações em torno dos direitos sociais. Vieira (1999, p. 40), vai ao encontro do que destaca Della Porta (2007), pois para ela essas lutas que visavam uma maior liberdade e igualdade conseguiram com o passar do tempo ampliar os direitos dos cidadãos tanto na esfera cível como politica, além de criar os direitos sociais, direito das “minorias” (mulheres, crianças, idosos, minorias étnicas e sexuais) e agregar nas agendas de discussões o direito ao meio ambiente sadio. Silva et al. (2012) citam uma definição do conceito de movimento social a partir do pensamento de Alain Touraine. Para elas, o conceito de movimentos sociais está relacionado:

6

Termo utilizado pelo autor

24 com sujeitos coletivos e políticos que lutam por transformações sociais, pela construção de novos projetos societários, democráticos e participativos, que tem por fundamentos as categorias de classes sociais, relações de gênero, raça etnia e geração. (SILVA et al., 2012 p. 114).

O mesmo autor que as inspirou, destaca que um movimento social se caracteriza quando “um conflito social que opõe formas sociais contrárias de utilização de recursos e dos valores culturais, sejam estes de ordem do conhecimento, da economia, ou da ética” (TOURAINE, 1989, p.182). Ainda segundo Touraine, “por mais simples que sejam essas definições, elas indicam muito claramente que os movimentos sociais são condutas coletivas e não crises ou formas de evolução de um sistema” (TOURAINE, 2006, p. 20). Della Porta (2007) caracteriza os movimentos sociais como sendo redes de interação informais que “elaboram novas visões de mundo e sistemas de valores alternativos em relação aos dominantes” (DELLA PORTA, 2007, p. 23). Merlucci (1989) expõem como estes conjuntos organizados são classificados a partir do que os sujeitos buscam, dando uma definição para os movimentos sociais. Segundo o autor, os movimentos sociais são “uma forma de ação coletiva: a) baseada na solidariedade, b) desenvolvendo um conflito, c) rompendo os limites do sistema em que ocorre a ação” (MELUCCI, 1989, p. 57). Touraine (2007) destaca que o indivíduo não é forçado a participar de um movimento social, essa escolha parte do livre arbítrio de cada um. Ele diz que “se manifesta na consciência do ator. Não se pode falar de adesão inconsciente a um movimento social, assim como não se pode falar de crenças religiosas inconscientes” (TOURAINE, 2007, p. 141). O fator determinante para essa escolha é o ambiente no qual o sujeito se encontra inserido, se ele atender suas expectativas ou for a desacordo com aquilo que achar ser o certo, pois, “as forças mobilizadas nesse ciclo global têm em comum não é apenas um inimigo comum, [...] mas também práticas, linguagens, condutas, hábitos, formas de vida e desejos comuns de um futuro melhor” (HARDT; NEGRI, 2005, p. 279). Os movimentos sociais têm seu foco principal na mudança da agenda pública, por isso, “um movimento social deve ter um programa político, porque ele apela para princípios gerais ao mesmo tempo em que para interesses particulares” (TOURAINE, 1994, p. 85). GOHN (2008) acrescenta que “a identidade política dos movimentos sociais não é única: ela pode variar em contextos e conjunturas

25 diferentes. E muda porque há aprendizagens, que geram consciência de interesses” (GOHN, 2008, p. 444). Essas mudanças também ocorrem devido às modificações que acontecem na sociedade. Os movimentos sociais podem ser conservadores, revolucionários, ambas as coisas ou nenhuma delas. Afinal, concluímos que não existe uma direção predeterminada no fenômeno da evolução social, e que o único sentido da história é a história que nos faz sentido. (CASTELLS, 2008, p.95).

Peruzzo (1998, p. 44 e 45) e Gohn (2011b, p. 31 e 32) classificaram os tipos de movimentos sociais que ocorrem através de eixos temáticos, a primeira autora os divide em sete, sendo que, para a segunda essa divisão passa a ser de dez. Baseado nessas classificações redefine-as, pois existem movimentos que são citados, uns por uma das autoras e outros pela outra. Há também, movimentos que foram postos numa mesma categorização, por sua relação com o tema central. Sendo estruturado da seguinte forma: a)

Movimentos envolvidos na questão da terra - São as lutas oriundas

do campo, pela reforma agrária e aquisição da terra para assentamentos rurais. No Brasil relacionado principalmente ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) b)

Movimentos envolvidos na questão da moradia – suas lutas estão

na busca por condições de habitabilidade, dos movimentos sociais dos sem-teto. c)

Movimentos envolvidos na questão dos serviços públicos - Estão

ligadas as questões de melhoria dos serviços prestados para a população. Nesse item encontram-se as mobilizações que reivindicam pela melhora em serviços como saúde, educação, transporte público e coleta de lixo. Também pela recuperação de espaços físicos (praças, parques) e a participação da população na decisão de estruturação político-administrativa (caso do Orçamento participativo). d)

Movimentos envolvidos na questão do trabalho – São as

mobilizações que lidam com os movimentos de trabalhadores por melhores salários, condições de trabalho e o desemprego. Sua organização quase sempre está relacionada a algum sindicato de entidade trabalhista. e)

Movimentos envolvidos na questão dos direitos humanos e

desigualdades sociais – Neste item, encontra-se uma grande gama de variadas mobilizações. Fazem parte dele as lutas de causa dos movimentos feministas, da

26 cultura negra e indígena (étnico-raciais), da questão de gênero, movimentos por politicas públicas voltados para a terceira idade e deficiências psicomotoras e das violações e impunidades ocorridas contra os direitos humanos. f)

Movimentos envolvidos na questão ambiental – Sua principal luta

está na preservação do meio ambiente, como por exemplo, a proteção da fauna e da flora de uma forma geral, contra a expansão do desmatamento, a construção de usinas hidrelétricas em áreas de proteção ambiental, mobilizações focadas em proteger alguma planta ou animal em específico e as ocorridas nas cidades contra cortes de árvores. g)

Movimentos envolvidos nas questões políticas e econômicas –

Suas ações estão voltadas contra os efeitos das políticas neoliberais, da globalização, contra medidas econômicas que afetem a população em geral (por exemplo, medidas de austeridade), pela transparência e ética na administração pública e contra a aprovação de projetos e leis. h)

Movimentos envolvidos na questão problemas específicos - São

os que se voltam para determinados segmentos da população, meninos e meninas moradores de rua, usuários de drogas e portadores de HIV. Esses diversos tipos mobilizações seguem o princípio de ruptura com a estrutura vigente. Eles reforçam a ideia de que um movimento social busca a defesa dos interesses comuns, que se pretendeu “abolir uma relação de dominação, fazer triunfar um principio de igualdade, criar uma sociedade nova em ruptura com as antigas formas de produção, de gestão e de hierarquia” (TOURAINE, 1997, p. 131). Para que esses ideais sejam atingidos, os movimentos sociais se manifestam através de diferentes tipos de estratégia.

27 I. Estratégia de denúncia através de manifestações públicas massivas e de redes de resistência, destacando-se: Movimento pela anistia; Diretas-Já; Movimentos pela Ética na Política (impeachment); Marchas dos “Sem” (Marcha do Zumbi de Palmares, Marcha dos Sem-terra, Grito dos Excluídos, e outras do gênero). II. Estratégia de desobediência civil, como: ocupações dos Sem-Terra, ocupações de solo e moradias urbanas, Sit-in em órgãos públicos, bloqueamento de estradas, etc. III. Construção de redes cidadãs: com a finalidade de causar um impacto na mídia, como o Viva Rio e fóruns diversos, ou para desenvolver ações conjuntas, como a Ação da Cidadania, redes do chamado “sindicato cidadão” com outras organizações da sociedade civil. IV. Estratégias de negociação através da intervenção/participação nas políticas públicas e sociais, destacando-se: orçamento participativo, alguns conselhos setoriais, Agenda 21 local, mutirões. (ROSSIAUD; SCHERERWARREN, 2000, p. 27-28).

Os movimentos sociais, com a evolução das plataformas digitais, passam a utilizar uma importante ferramenta para a implantação de suas estratégias. O uso das tecnologias digitais passa a ser de extrema relevância, pois facilita o contato, a aproximação dos seus integrantes. Essa globalização e informacionalização, conforme sustenta Castells (2008), gera um grande impacto no cotidiano, pois amplia a transformação do nosso mundo, “possibilitando a melhoria de nossa capacidade produtiva, criativa, cultural e potencial de comunicação” (CASTELLS, 2008, p. 93). Sassen (2006) diz que “as novas tecnologias digitais também entram como fator de mediação para a apropriação de direitos e autoridade” (SASSEN, 2006 apud GOHN, 2008, p. 445). Conforme sustenta Rodrigues e Sinval (2011) esse desenvolvimento tecnológico alterou “de forma estruturante a distribuição de informações e a multiplicação destas, o que alterou profundamente as práticas comunicacionais” (RODRIGUES; SINVAL, 2011, p. 1). Essa ideia também pode ser aplicada nas formas de mobilizações sociais, tendo que novos estudos buscarem compreender e analisar esse novo comportamento oriundo da internet.

3.2 AVAAZ E SUA PROPOSTA DE MOBILIZAÇÃO Scherer-Warren (2006) diz que “a realidade dos movimentos sociais é bastante dinâmica e nem sempre as teorizações têm acompanhado esse dinamismo” (SCHERER-WARREN, 2006, p.109). Com a evolução tecnológica e o uso da internet, o dinamismo dos movimentos sociais passa novamente por uma reconfiguração e adaptação as novas realidades cotidianas. As organizações da

28 sociedade civil propõem o uso da internet a fim de energizar suas ações e propostas de ativismo on-line (conceituado neste trabalho como ciberativismo), passando a ampliar-se na rede e adquirindo novas conjunturas. Dentro desta perspectiva, surgem novas ferramentas procurando a utilização deste meio. Elas são criadas para que as lutas sociais sejam facilitadas e adquiram novas possibilidades que a era digital proporciona. Portanto, esse cenário propicia a criação de ligações de relacionamentos distintos. Uma das possibilidades emergentes deste cenário é a propagação de sites que ofereçam uma participação dos sujeitos on-line. A principal estratégia de sites como o Avaaz7, Petição Pública8, Activism9, Change10 entre outros é implementar e incrementar, com o auxilio da rede, petições on-line sobre temas de interesse público diversos. Sendo assim, deve-se buscar compreender como essa forma de participação se estrutura. Tendo este trabalho, focado em analisar essa interação e resultados que ela propícia entre usuários e a Avaaz dentro do site de redes sociais, no caso o Facebook, se faz necessário explanar o histórico dessa ONG de mobilização social buscando sua essência. A Avaaz conta com mais de 24 milhões11 de membros cadastrados no site em todo o mundo, sendo que, 4,7 milhões somente no Brasil, montante que coloca o país com o maior número de usuários cadastrados. A Avaaz é uma comunidade de mobilização on line, sua missão12 é mobilizar pessoas de todos os países para construir uma ponte entre o mundo em que vivem e o mundo que a maioria das pessoas quer. Basicamente seu trabalho é de propor um canal no qual os usuários possam criar suas próprias petições e divulgar na internet. A ONG também financia campanhas de anúncios, envia e-mails e telefona para governos, organiza protestos e eventos nas ruas, pois acreditam que assim podem “garantir que os valores e visões da sociedade civil global informem as decisões governamentais que afetam todos nós13”. Lançado no ano de 2007, a Avaaz é o resultado do trabalho em conjunto da Res Publica, um grupo de apoio à cidadania e o Moveon.org, uma comunidade 7

http://www.avaaz.org http://www.peticaopublica.com.br/ 9 http://www.activism.com/pt_BR/peticoesonline.com 10 http://www.change.org 11 Número de membros associados no site do Avaaz (avaaz.org) no dia 29 de julho de 2013 às 22:47. Disponível em: http://www.avaaz.org/po/community.php#memberstories 12 http://www.avaaz.org/po/about. php 13 http://www.avaaz.org/po/about. php 8

29 virtual que já atuava com questões de ativismo através da internet nos Estados Unidos. Sua primeira14 campanha foi realizada no mesmo ano de seu lançamento, sob o titulo de “Paz para iraquianos, por iraquianos”. Em janeiro de 2007 o número de participantes chegou à cifra de 87 mil, por uma campanha que visava a Consulta com os membros locais e especialistas internacionais, desenvolveu um "novo" plano para acabar com a guerra: as negociações de todos os partidos, com mediadores internacionais habilitados, e a retirada das tropas americanas em uma linha de tempo correspondente a vontade do povo iraquiano. O novo plano foi entregue em maio de 2007. Também trabalhamos com sunitas, xiitas e curdos parlamentares para a construção de uma campanha internacional que apoia o direito do Iraque para determinar o futuro de suas reservas de petróleo - em vez de aceitar os 15 ditames de governos e empresas externas .

Uma das campanhas de repercussão a nível Brasil que a ONG destaca em seu site, na página destinada à imprensa foi o projeto de ficha limpa 16. Nessa campanha, que consideram até o momento como a maior campanha on line já realizada na história do Brasil, reuniu um montante de dois milhões de assinaturas, sendo mais de 500 mil ações on-line, e dezenas de milhares de chamadas telefônicas. As atuações das petições propostas e divulgadas através da Avaaz são de diferentes cunhos, como por exemplo, questões que envolvam a defesa do meio ambiente, direitos das minorias, diferenças de gênero entre outras. Uma forma de visualizar essa problemática da segmentação vem ao encontro com a proposta da Avaaz de, através de uma pesquisa17 em seu site, identificar os temas prioritários considerados por seus usuários. O questionário conta com seis perguntas e uma opcional no qual poderá ser feito algum comentário, além de o último item, ser a inserção do e-mail do usuário. Nos resultados alcançados percebe-se nas respostas obtidas das duas primeiras perguntas, que os usuários do site têm uma atenção especial para com as questões ligadas a política na questão destinada para os temas que a Avaaz deve priorizar no ano de 2013, a corrupção política aparece em segundo lugar dentre os nove itens 14

Informações retiradas do site da Avaaz. Disponível em: http://www.avaaz.org/en/highlights/?press Disponível em: http://www.avaaz.org/en/highlights/?press 16 O termo ficha limpa designa que somente políticos que não possuíssem condenação na justiça, podem concorrer a um cargo eletivo no país. Ele surge após pressão social que encaminhou para o congresso nacional a proposta, com o respaldado de mais de 1,6 milhões de assinaturas. Assim sendo criada e aprovada em 2010, mas somente nas eleições de 2012 que a medida entrou em vigor. Disponível em: http://g1.globo.com/politica/noticia/2010/05/plenario-do-senado-aprova-fichalimpa.html 17 http://avaaz.org/po/2013_global_survey_embed/ 15

30 segmentados. Já na questão sobre que campanhas priorizar, em primeiro lugar se encontra o combate à corrupção política em todo o mundo. As outras questões não dizem respeito aos temas prioritários, mas aos rumos e como a ONG é vista por seus usuários. Esses resultados demonstram o porquê do engajamento da Avaaz frente às questões relacionadas às políticas públicas, principalmente no Brasil. Isso reforça que os sentimentos individuais comuns que buscam mudanças, procuram se apossar de meios utilizando-os para seus fins. Em entrevista veiculada no site da Folha18, a analista de campanha Caroline D’essen, 32, esclarece como são escolhidas as campanhas da Avaaz, salientando que: As campanhas são definidas pelos membros da Avaaz. Todo ano, uma pesquisa é feita para definir temas prioritários. As ideias podem vir da própria equipe, a partir do que está presente no noticiário nacional e internacional, por exemplo, ou de sugestões enviadas por nossos membros. (D’ESSEN, 2013)

Pode-se observar que através dos resultados obtidos nas pesquisas instauradas, é que a Avaaz constrói sua estratégia de atuação com relação aos temas mais importantes para seus usuários. Ela ainda destaca que “as ideias para campanhas são submetidas a testes semanalmente, e apenas as iniciativas que recebem uma forte reação positiva são implementadas em grande escala” (D’ESSEN, 2013). Vale ressaltar uma definição que Scherer-Warren (2006) tem sobre os níveis de organização da sociedade civil em prol de políticas sociais e públicas e relacionála com a forma de organização da Avaaz frente às causas defendidas. A autora subdivide estes níveis em três categorias: associativismo local, formas de articulação inter-orgnizacionais e mobilizações na esfera pública. No primeiro nível, a autora traz que as forças associativistas se expressam numa esfera local e/ou comunidade da sociedade civil como os movimentos comunitários e sujeitos sociais envolvidos com causas sociais. No segundo nível, das formas de articulação inter-organizacionais destaca que “buscam se relacionar entre si para o empoderamento da sociedade civil, representando organizações e movimentos do associativismo local” (SCHERER-WARREN, 2006, p. 111). Na 18

Disponível .

31 mobilização na esfera pública, a autora salienta que neste estágio é que ocorrem as mobilizações em “praça pública”, oriundas das articulações estabelecidas entre diversos atores (sujeitos, ONGs etc.) a fim de “produzir visibilidade através da mídia e efeitos simbólicos para os próprios manifestantes [...] e para a sociedade em geral, como uma forma de pressão política das mais expressivas no espaço público contemporâneo” (SCHERER-WARREN, 2006, p. 112). Em suma, o conceito destes níveis aplicados para a ONG pode ser utilizado pela forma de participação do ator social que busca na ferramenta disponibilizada pela Avaaz, uma forma de expressão contrária ao fato proposto. O sujeito passa a representar o primeiro nível (associativismo local), a partir do momento em que busca um suporte na estratégia que a Avaaz propõe e os meios de propagação que ele oferece para que a sua mensagem alcance outros usuários. Essa articulação estruturada neste suporte, pode ser caracterizada como inter-organizacional, de sujeito para sujeito numa escala global, que ao ganhar uma representatividade e extrapolar a estratégia inicial, (fundamentada na criação das petições), passando a outros níveis como de um protesto organizado pela instituição, se tornando dessa forma característico do terceiro nível, o de mobilizações na esfera pública. Podemos observar que os movimentos sociais “passaram por transformações significativas nas ultimas décadas, tanto em suas inserções nacionais, regionais e locais, quanto em suas formas transnacionais” (ROSSIAUD; SCHERER-WARREN, 2000, p. 23). Isso se aplica a forma como a Avaaz se mobiliza, procurando atingir seus objetivos através dessa modificação e renovação da forma de atuação, de planejamento e ação das suas causas. No que diz respeito às diferentes causas dos novos movimentos sociais, a Avaaz concentra num único ambiente todas essas lutas, fazendo com que o usuário venha a decidir em quais pretende colaborar. Ele também é caracterizado pela sua forma transnacional, pois a colaboração poderá ocorrer em causas de distintos locais no qual o usuário não se encontra presente fisicamente.

32 4 CIBERATIVISMO: A PROPOSTA DE MOBILIZAÇÃO

DA AVAAZ NO

CIBERESPAÇO A velocidade de conexão na atualidade e a finalidade de entender esse processo na cultura da participação social nos ambientes on line, fazem com que se torne relevante e pertinente dedicar esse capítulo abordando a internet, desde o desenvolvimento do ciberespaço, o conceito de ciberativismo e as relações que os sites de redes sociais propõem entre os indivíduos. Dessa forma esse capítulo passa a ser segmentado da seguinte forma: O que é ciberativismo? Avaaz e sua proposta on line, e sites de redes sociais: o Facebook.

4.1 O QUE É CIBERATIVISMO? Antes de conceituar ciberativismo é necessário entender o desenvolvimento que a informática trouxe nos processos comunicacionais e sua inserção no cotidiano dos indivíduos, procurando compreender as mudanças que com ela ocorreram, e que, posteriormente, passou a ser utilizada como uma plataforma para as mobilizações sociais e o ativismo on-line. A evolução da espécie humana ao longo da história vem acompanhada com a forma de como é realizada sua comunicação. Turner e Muños (1999) salientam que “a forma pela qual a espécie humana se comunica, determina sua condição evolutiva” (TURNER; MUÑOZ, 1999, p. 17). Essa evolução das formas de comunicações está diretamente relacionada com as formas de expressão e construção cultural da sociedade. Ela implica na criação de novos costumes, na obtenção e distribuição da informação e segundo os autores “a comunicação entre as pessoas, determinou decisivamente, sua estrutura social” (TURNER; MUÑOZ, 1999, p. 17). Santaella (2010, p. 13), traz uma importante contribuição à medida que relaciona e divide as formas comunicacionais estabelecidas na sociedade em eras culturais, nas quais essas eras são formadas por seis tipos, sendo elas a cultura oral, a cultura escrita, a cultura impressa, a cultura de massas, a cultura das mídias e a cultura digital. O acesso à informação por tempos foi utilizado como uma forma de obtenção de poder e de direcionamento do foco dos acontecimentos gerenciados pelo mercado, governos ou pelo editorial de veículos de comunicação. Um exemplo da

33 utilização dos mass media em não destacar ou mudar o foco dos fatos é o exemplo que Machado (2007) traz. Segundo ele, durante a invasão norte-americana ao Iraque, os veículos de comunicação em massa americanos, como os mundiais, faziam uma leitura dos acontecimentos em favor dos Estados Unidos da América. Sendo que, conforme definição dele, os ‘mass media alternativos’ ao utilizarem a internet mostravam outras versões do conflito. O surgimento do ciberespaço, oriundo dos avanços da informática, cria esse ambiente que vai se refletir numa lógica comunicacional de descentralização do controle da informação. Os estudos de Castells (2012), Lemos (2007), Lévy (2000), Santaella (2010; 2011) e Wertheim, (2001) apresentam e caracterizam a formação desse ambiente, sua construção e a relação que se estabelece através dele. A informática é uma ciência baseada na cibernética de “produção, organização, armazenamento e distribuição automatizada da informação, agora traduzida em bits (códigos binários tipo 0 e 1)” (LEMOS, 2007, p. 107). Lemos (2007) divide o desenvolvimento do tratamento automático da informação em três passos: o primeiro influenciado pela cibernética, ocorreu entre 1940 e 1960, ditando os princípios essenciais e as inovações estratégicas. Nesse período é que acontece a criação dos primeiros computadores, segundo Lévi (2000, p. 31), eles se originaram nos Estados Unidos e na Inglaterra no ano de 1945 e sua função era basicamente para cálculos científicos. Castells (2012) acrescenta que “os computadores foram concebidos pela mãe de todas as tecnologias, a Segunda Guerra Mundial, mas nasceram somente em 1946 na Filadélfia” (CASTELLS, 2012, p. 78), ou seja, o desenvolvimento da informática esteve diretamente relacionado à pesquisa militar. É no segundo passo que se encontra mais fortemente essa ligação. O segundo passo ocorreu entre as décadas de 1960 e 1970. Esse período “caracteriza-se por sistemas ligados às universidades e à pesquisa militar” (LEMOS, 2007, p.108) e os primeiros projetos da Rede se estabelecem. No ano de 1969, iniciou-se a “formação da primeira rede de computadores a longa distância, a ARPANET, fundada pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos (DOD) através de sua Advanced Research Projects Agency (ARPA)” (WERTHEIM, 2001, p. 164). A ARPANET, no ano de 1990, encerrou suas atividades, dando espaço para a NSFNET (National Science Foundation Network). Este sistema de rede se tornou, segundo Castells (2012, p. 83), a espinha dorsal da internet, além de marcar “uma

34 guinada na história do ciberespaço. Ali estava o inicio da inflamação ciberespacial”. (WERTHEIM, 2001, p. 165). Mas um dos primeiros sistemas de conversação em larga escala que se popularizou por outras esferas, foi a Usanet. Esse sistema foi usado para criar fóruns “on line de conversas sobre informática”. (CASTELLS, 2012, p. 87). O terceiro e último passo é marcado pelo surgimento dos microcomputadores e das redes telemáticas a partir dos anos de 1970. O primeiro microcomputador nomeado de Altair “nasceu em Albuquerque, na Terra do Encantamento, no Novo México, em 1975”. (LEMOS, 2007, p. 111). No ano de 1977, é lançado o Apple II, primeiro produto comercial de sucesso. Já no ano de 1981 “o primeiro personal computer (PC) nasce de um modelo da IBM” (LEMOS, 2007, p. 111). Esses mecanismos tecnológicos desenvolvidos ao longo do tempo atuam como, uma infraestrutura para o ciberespaço (LEVY, 2000). O ciberespaço se caracteriza em ser um espaço composto por circuitos informacionais navegáveis. Para Santaella (2011) o ciberespaço “se refere a um sistema de comunicação eletrônica global que reúne os humanos e os computadores em uma relação simbiótica que cresce exponencialmente graças à comunicação interativa” (SANTAELLA, 2011, p. 46). Ela ainda destaca que o ciberespaço é “um mundo virtual da comunicação informática, um universo etério que se expande indefinidamente mais além da tela, por menor que esta seja, podendo caber até mesmo na palma da nossa mão” (SANTAELLA, 2011, p. 46). Podemos observar que ao afirmar nesta frase que independentemente do tamanho da “tela”, esta subentendido o uso de novos mecanismos, como os smartphones19, e que essas novas tecnologias a partir do seu desenvolvimento, vão modificando as práticas sociais, essa visão vai ao encontro com o que destacou Lévy (2000), sobre as infraestruturas do ciberespaço. Wertheim (2001) classifica o ciberespaço como sendo um subproduto tecnológico da física, assim como os mecanismos que formam sua infraestrutura como os chips, fibras ópticas, satélites de comunicação entre outros. A autora, na construção do seu pensamento, faz uma analogia do ciberespaço com as leis da física. Para ela quando alguém vai para o ciberespaço deixa para trás as leis de Newton e de Einstein, pois, “a arena em que me encontro on line não pode ser 19

O smartphone é um celular com tecnologias avançadas, o que inclui programas executados um sistema operacional, equivalente aos computadores.

35 quantificada por nenhuma métrica física; minhas viagens ali não podem ser medidas por nenhuma régua física”. (WERTHEIM, 2001, p. 167). E acrescenta ao afirmar que O ciberespaço é um fenômeno emergente, algo que é mais que a soma de suas partes. Esse novo fenômeno ‘global’ emerge da interação da miríade de seus componentes interconectados, e não é redutível às leis puramente físicas que governam os chips e as fibras de que inevitavelmente provém. (WERTHEIM, 2001, p. 167-168).

Na visão de Lévy (2000), o ciberespaço é definido como sendo um “espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores” (LÉVY, 2000, p. 92) e considera inclusas as redes hertzianas e telefônicas clássicas, pois acredita que também pertencem ao “conjunto dos sistemas de comunicação eletrônicos [...] na medida em que transmitem informações provenientes de fontes digitais ou destinadas à digitalização” (LÉVY, 2000, p. 92). Essa definição se aproximada da que foi exposta na Magna Carta for the Knowledge Age in New Perspective Quarterly, de 1994, escrita por Esther Dyson, George Gilder, Jay Keyworth e Alvin Toffler, que afirmam que o ciberespaço é a terra do saber e de uma nova fronteira. Já Rheingold (1996) assinala o termo ciberespaço como sendo “o nome por vezes usado para designar o espaço conceptual onde se manifestam palavras, relações humanas, dados riqueza e poder dos utilizadores da tecnologia de CMC20” (RHEINGOLD, 1996, p. 18). Dessa forma Santaella (2010) acresenta que: hoje, “ciberespaço” sedimentou-se como um nome genérico para se referir a um conjunto de tecnologias diferentes, algumas familiares, outras só recentemente disponíveis, algumas sendo desenvolvidas e outras ainda ficcionais. Todas têm em comum a habilidade para simular ambientes dentro dos quais os humanos podem interagir. (SANTAELLA, 2010, p. 99)

Sendo assim, o ciberespaço é um espaço desenvolvido a partir do uso tecnológico da informática e dos seus avanços, modificando as formas de relações pessoais e comerciais da sociedade e que conjuntamente “faz surgir uma nova forma de conversação também livre de amarras espaciais, que pode ser acionada tanto para tratar de questões locais como para debater assuntos tidos como de importância global”. (MEDEIROS, 2011, p. 5).

20

CMC significa comunicações medidas por computador.

36 A era da cultura digital, que se apropria do ciberespaço, modificou a lógica comunicacional. Essa mudança acontece porque, pela primeira vez um meio de comunicação deixa de ser de um para um ou um para todos, como era estabelecido nas outras eras. Com a internet, a comunicação passa a ser “de muitos com muitos, num momento escolhido, em escala global” (CASTELLS, 2003, p. 8). Este meio de comunicação estabelecido com a internet, possibilita um alcance comunicacional transcontinental entre os indivíduos. Gera uma nova maneira de se buscar por informação, não ficando restrita aos mass mídia, no qual os sujeitos se tornam passiveis de tendenciosismo editorial. Ele ocasiona um espaço na busca por novas e diversas fontes referenciais, com outras ideias, visões e muitas vezes disponibilizando espaços para as discussões entre os usuários. É a partir dessa exposição informacional vinda de distintas fontes que o sujeito criará as suas concepções referentes a algo, pois o ciberespaço “coloca ao nosso alcance uma enorme quantidade de dados e informação, mas não as recomenda ou as interpreta” (TURNER; MUÑOZ, 1999, p. 48). Segundo Castells (2012) a comunicação no ciberespaço faz com que os indivíduos não fiquem inibidos gerando discussões mais sinceras, esse fato ocorre pela falta de contato físico e aproximação dos indivíduos, enfraquecidos pela não presença de vínculos fortes entre as partes. Na visão de Warschauer (2006), “o reduzido conteúdo comunicativo (sem indícios visuais ou auditivos) desinibe as pessoas on-line, permitindo fácil contato com grande quantidade de pessoas, mas também pode fazer aflorar o pior das pessoas” (WARSCHAUER, 2006, p. 216). Esse fenômeno resulta naquilo que o autor chama de “inflamação”, onde é revelado um lado agressivo do individuo e que este, o não fizesse se estivesse face a face. Vale ressaltar ainda que “a internet é anárquica e caótica. Têm também todos os ‘maus elementos’ da nossa sociedade. Existe tráfico de armas, terrorismo, pedofilia” (TURNER; MUÑOZ, 1999, p. 39). Apesar de a internet potencializar esses aspectos negativos, ela também agrega uma plataforma de ampliação democrática. Há quem defenda a ideia de que esse ambiente virtual seja a ágora dos novos tempos, um espaço aberto para a livre discussão sobre os assuntos pertinentes para a sociedade. Para Velloso (2008), o ciberespaço se revela como um novo ambiente para as interações humanas “constitutivo de uma ágora contemporânea, em que os grandes debates públicos, ou

37 as

trocas

simbólicas,

processam-se,

na

era

da

informação,

de

forma

significativamente transformada” (VELLOSO, 2008, p. 103). Esse desenvolvimento tecnológico e das relações sociais ligadas ao ciberespaço, faz surgir a cultura digital expressa por Santaella (2011) que “representa um conjunto de transformações radicais na esfera social, e não uma mera conversão de artefatos analógicos para equivalentes digitalizados” (PRADO; CAMINATI; NOVAES, 2005, p. 25). Essa cultura digital também denominada de cibercultura tem sua origem iniciada nos anos de 1950: ela nasce nos anos 50 com a informática e a cibernética, começa a se tornar popular na década de 70 com o surgimento do microcomputador e se estabelece completamente nos anos 80 e 90: em 80 com a informática de massa e em 90 com as redes telemáticas, principalmente com o boom da internet. (LEMOS, 2007, p. 16)

Apesar de sua origem estar diretamente ligada com a formação da microinformática,

a

cibercultura

tem

um

embate

nas

relações

sociais

contemporâneas provenientes dessa inovação técnica. Estas eras culturais dinamizadas através da inserção de técnicas particulares nas formas de sociabilidade formadas pela sinergia desses movimentos formam uma relação simbólica entre o homem, a natureza e a sociedade. Lemos acrescenta que: embora a expressão [cibercultura] deva muito à cibernética, não é, no sentido exato, correlata a esta ciência. Antes, a cibercultura surge como os impactos socioculturais da microinformática. Mais do que uma questão tecnológica, o que vai marcar a cibercultura não é somente o potencial das novas tecnologias, mas uma atitude que, no meio dos anos 70, influencia pela contracultura americana, acena contra o poder tecnocrático (LEMOS, 2007, p. 101).

Este movimento de aproximação e trocas de informações dentro do mundo virtual, da internet, é tido como a “ferramenta de organização de comunidades de todos os tipos e de todos os tamanhos em coletivos inteligentes, mas também como o instrumento que permite aos coletivos inteligentes articularem-se entre si” (LÉVY, 2000, p. 133). Essas comunidades organizadas fomentam discussões nesses ambientes on-line na elaboração pragmática que agregará uma construção perante o assunto abordado. A articulação nesses espaços, ligados à ideia de uma construção social democrática permite com que temas ligados aos movimentos sociais ganhem um espaço para ampliação de sua atuação.

38 Segundo o autor “as relações on-line não excluem as emoções fortes. Além disso, nem a responsabilidade individual nem a opinião pública e seu julgamento desaparecem no ciberespaço” (LÉVY, 2000, p. 128), se tornando dessa forma, um local propício para a exposição e discussão dos pontos de vista individuais construídos através das vivencias dos sujeitos. Este novo cenário, emergido a partir do avanço tecnológico e das relações on line, possibilita, que com o advento tecnológico, “a cultura contemporânea, associada às tecnologias digitais (ciberespaço, simulação, tempo real, processos de virtualização, etc.), vai criar uma nova relação entre a técnica e a vida social”. (LEMOS, 2007, p. 15). A cibercultura passa a ter um papel de aproximação social, mesmo o indivíduo encontrando-se isolado em sua casa, ele passa a interagir com diversas pessoas de diferentes lugares. Essa interação é construída principalmente pelos interesses comuns que possibilitam a troca de informações e experiências entre as partes. Segundo Lévy: a cibercultura é a expressão da aspiração de construção de um laço social, que não seria fundado nem sobre links territoriais, nem sobre as relações institucionais, nem sobre as relações de poder, mas sobre a reunião em torno de centros de interesses comuns, sobre o jogo, sobre o compartilhamento do saber, sobre a aprendizagem cooperativa, sobre processos abertos de colaboração. (LÉVY, 2000, p. 130).

Sendo assim, a cibercultura aproxima os indivíduos dentro do ciberespaço sem precisarem manter um contato físico, e possibilita uma interação com pessoas de diferentes partes do mundo. Este ambiente virtual passa a criar diferentes ferramentas para a inter-relação entre seus usuários, como as ‘comunidades virtuais’. Essas comunidades virtuais são “uma rede eletrônica autodefinida de comunicações interativas e organizadas ao redor de interesses ou fins em comum, embora às vezes a comunicação se torne a própria meta”. (RHEINGOLD, 1996 apud CASTELLS, 2012, p.443). Nesta perspectiva, uma comunidade virtual é formada por indivíduos que interagem a fim de buscar algo em comum. Mesmo existindo no mundo virtual “uma comunidade virtual não é irreal, imaginária ou ilusória, trata-se simplesmente de um coletivo mais ou menos permanente que se organiza por meio do novo correio eletrônico mundial”. (LÉVY, 2000, p. 130).

39 Essas comunidades virtuais atuam como os círculos de amizades formados no âmbito off line, tendo as suas ligações estabelecidas através dos interesses em comum entre as partes. O contato entre seus usuários, muitas vezes acontecendo unicamente via internet, não quer dizer que se torna mais enfraquecido do que o contato face a face. Na visão de Rheingold (1996) “as comunidades virtuais são os agregados sociais surgidos na rede, quando os intervenientes de um debate o levam por diante em número e sentimento suficientes para formularem teias de relações pessoais no ciberespaço” (RHEINGOLD, 1996, p. 18). Rheingold (1996, p. 76) ainda acrescenta que “as comunidades virtuais são lugares onde as pessoas se encontram, mas são também um meio para atingir diversos fins”. Um desses fins que essas comunidades incorporam devido às potencialidades que a internet pode gerar, ocasionada pela cultura e a inserção no mundo on line no cotidiano das pessoas, é o movimento de ativismo na web, denominado ciberativismo. Ele se apropria desse meio comunicacional para por em prática outro jeito de promover a mobilização social. os ativistas não apenas incorporaram a internet em seu repertório, mas também [...] mudaram de forma substancial o que é considerado ativismo, comunidade, identidade coletiva, espaço democrático e estratégia política. E os ativistas on-line nos desafiam a pensar sobre como o ciberespaço deve ser usado. (MCCAUGHEY; AYERS apud TAPSCOTT, 2010, p. 344).

Os grupos de indivíduos se organizam nesse ambiente das tecnologias utilizando-o como um instrumento estratégico que visa atender “as demandas dos movimentos sociais e organizações civis”. (RODRIGUES; SINVAL, 2011, p. 3). Os movimentos sociais utilizam a internet cada vez mais, pois é uma “forma de dar visibilidade a suas causas e de ganhar adesão dos cidadãos”. (MEDEIROS, 2011, p. 6). Por se tornar um meio influente, a internet, vai além do número de seus usuários: diz respeito também a qualidade do uso. Atividades econômicas, sociais, politicas, e culturais essenciais para todo o planeta estão sendo estruturadas pela internet e em torno dela, como por outras redes de computadores. (CASTELLS, 2003, p. 8).

O ciberespaço possibilita diferentes formas de ativismo “ligadas a questões locais ou globais (ou a ambas), como mais ou menos espaço para debate e colaboração coletiva e com diferentes estratégias de ação”. (MEDEIROS, 2011, p.78). Silveira (2010 apud MONTARDO; ARAÚJO; FREITAS, 2012, p. 166) define

40 ciberativismo como sendo o ativismo inserido nas redes cibernéticas e que realiza um conjunto de práticas destinadas a diferentes temáticas como as causas políticas, ambientais, sociotécnicas entre outras. Para Ugarte (2008) ciberativismo é: Toda estratégia que persegue a mudança da agenda pública, a inclusão de um novo tema na ordem do dia da grande discussão social, mediante a difusão de uma determinada mensagem e sua propagação através do “boca a boca” multiplicado pelos meios de comunicação e publicação eletrônica pessoal. (UGARTE, 2008, p. 77).

Essa definição de Ugarte (2008) pode ser relacionada às formas como o Avaaz dissemina suas petições. Eles utilizam os

e-mails de seus usuários que

foram cadastrados no site como uma primeira forma de divulgação. Também divulgam algumas de suas campanhas em seus perfis nos sites de redes sociais e contam com a colaboração de seus usuários que podem utilizar das mesmas ferramentas, mas destinadas aos seus círculos de amizades, na divulgação da causa após assinar a petição. Para Vegh (2003), o ciberativismo, possui três modalidades. Citado em Cavalcante (2010) e Rigitano (2003) que apresentam e descrevem essas modalidades de ciberativismo, que inclui uma classificação do ativismo on line conforme o direcionamento de suas causas através das suas iniciativas, da sua organização e dos indivíduos que nelas atuam, é dividido da seguinte forma. A primeira modalidade seria da Conscientização/Apoio, diz respeito ao fato de utilizar a internet como uma forma de buscar fontes alternativas de informação, que na mass media não seria abordado, pois teriam seus focos direcionados para os seus interesses.

Esse contato com as informações difundidas na rede podem gerar no

indíviduo uma sensibilização com a realidade que foi apresentada e que era desconhecida, tendo como resultado uma participação na causa, tanto com relação ao apoio ou até uma mobilização no âmbito on line ou off line (VEGH, 2003 apud RIGITANO, 2003). Como exemplo, sabe-se dos movimentos ocorridos no Brasil e junho de 2013, a adesão de inúmeros indivíduos se deu pelo fato da divulgação ocorrida via sites de redes sociais e também por perceberem que as mass medias estavam sendo tendenciosos desqualificando as manifestações. A segunda categoria diz respeito à Organização/Mobilização. Nela há uma divisão de três diferentes formas baseadas nas atuações dos indivíduos nos âmbitos on line e off line. Sendo elas as seguintes:

41 I) A chamada para uma ação off line; aqui está a inclusão do convite para a participação dos indivíduos a atuarem em mobilizações e movimentos, esses convites ocorrem através de e-mails ou avisos em sites das organizações. Novamente podemos usar como exemplo os protestos ocorridos em diferentes cidades do Brasil em junho de 2013, que se utilizaram do Facebook e criaram eventos para se organizarem. II) O uso da internet na promoção de uma ação off line, mas que pode ser mais eficiente on line; nesse quesito, basicamente se encontra o envio de e-mails para autoridades e/ou empresas. A eficiência dessa ação, relacionado, com o baixo custo para a atuação do indivíduo se sustenta no tempo gasto para o ato. III) A ação que só pode ser feita on line; um exemplo para essa subdivisão é o envio de mensagens em larga escala, a ponto de saturar o servidor da entidade alvo (CAVALCANTE, 2010). Na terceira e última modalidade denominada de Ação/Reação, é considerada como sendo a forma mais agressiva de uso da internet. Sua atuação baseia-se no congestionamento e invasão de sites por hackers (CAVALCANTE, 2010). O ataque de ativistas hackers chamado de hacktivismo “envolve diversos tipos de atos, como apoio on-line, invasão e/ou congestionamento de sites e, até mesmo cibercrimes ou ciberterrorismo” (RIGITANO, 2003, p. 5). Cavalcante (2010) considera que o ciberativismo, denominado por ela como ativismo eletrônico, tem como seu principal objetivo “combater o desinteresse pela coisa pública e criar canais de participação autênticos” (CAVALCANTE, 2010, p. 40). Esses canais criados para difundir opiniões e informações a partir da utilização das ferramentas ofertadas pela internet vão agregar outras pessoas promovendo ações colaborativas

nas

descontentamento

esferas das

físicas

pessoas

e

com

eletrônicas relação

aos

visando

promover

problemas

o

cotidianos

(CAVALCANTE, 2010). Os números que algumas petições propostas pela Avaaz atingem, como a do senador Renan Calheiros, afirmam essa definição. Há uma gama exponencial dessas ferramentas dentro do ciberespaço, as ações e interações entre os indivíduos conectados para disseminar as informações podem ser expressas em fóruns, chats, e-mail, sites e nos sites de redes sociais. As ações ciberativistas já ocorrem há anos dentro do ciberespaço, utilizando a internet como essa plataforma multiplicadora de divulgação das causas. Uma das mais relevantes atuações e que despertou um grande interesse no meio acadêmico

42 pela forma de como se desenrolou o processo de mobilização frente à rede foi às ações do chamado, Exército Zapatista para a Libertação Nacional (EZLN). O Exército Zapatista é tido como sendo o primeiro a usar efetivamente a internet na luta por suas reinvindicação. Estes são formados por diversas etnias de índios semterra que se viram obrigados a se mudar para a região de Chiapas no sul do México, próximo à Guatemala. O conflito eclode a partir da 1° de janeiro de 1994 pela “defesa do ejido, ou seja, das terras comuns da tradição maia, garantidas pela constituição mexicana pelo artigo 27, que foi revogado após os acordos Nafta” (DELLA PORTA, 2007, p. 61). O exército Zapatista “dependeu das novas tecnologias de comunicação e informação para sobreviver” (ASSIS, 2006, p. 31). Passando a utilizar a internet como uma forma de informar o que estava acontecendo no México. Eles endereçavam o material produzido para cinco distintos grupos de audiência. primeiramente, newsgroups da Usenet, associações da Peacenet e listas da internet, cujos membros já se preocupavam com a vida social e política do México. Em segundo lugar, os grupos humanitários preocupados com os direitos humanos, em geral; em terceiro, as redes dos povos indígenas e seus simpatizantes; em quarto lugar, as regiões politicas do ciberespaço com probabilidade de incluir membros simpatizantes das revoltas de base em geral; e em quinto, as redes feministas que responderiam, com solidariedade, contra o estrupo de mulheres nativas pelos soldados mexicanos ou para a Lei Revolucionária das Mulheres EZLN, redigida por mulheres, para mulheres, a partir de e contra a tradicional sociedade patriarcal. (CLEAVER, 1998, p. 141 – 142).

Os fatos ocorridos na região de Chiapas, além da repressão imposta pelo governo, também teve um abafamento da revolta na mídia “impondo limites à cobertura por parte da imprensa (a maioria da população mexicana assiste à Televisa, estação de TV controlada pelo governo)” (CLEAVER, 1998, p. 139). Por isso o uso da internet se tornou de extrema importância na divulgação das causas e que gerou uma pressão sobre a imprensa local que passou a comentar o que estava ocorrendo. Com o aparecimento e desenvolvimento dos sites de redes sociais a forma técnica de usar a rede nas ações ciberativistas, que no caso Zapatista ocorria principalmente na divulgação via e-mail, passa por uma nova configuração do alcance da mensagem. Montardo e Araújo (2012) afirmam que o uso dos sites de redes sociais pelos ciberativistas se torna um campo fértil para proliferação das mensagens. Isso ocorre devido à tendência de proporcionar “mobilizações

43 ciberativistas uma forma de comunicação mais horizontalizada, em que engajamento pode significar visibilidade, seja entre os atores sociais de determinada rede, ou, em muitos casos, visibilidade midiática” (MONTARDO; ARAÚJO, 2012, p.129). Nesse contexto, esse uso resultaria numa maior visibilidade e dependendo do tamanho alcançado dentro do ambiente on line as propostas impostas poderiam extrapolar essa ‘fronteira’ e ser inserida dentro das mídias massivas tradicionais. Percebendo tal situação pode-se dizer que “o ciberespaço traz novas possibilidades, que estão começando a ser utilizadas e cujos efeitos estão começando a aparecer” (MEDEIROS, 2011, p. 14). O uso do ciberespaço para o ciberativismo, com o auxílio dos sites de redes sociais, dissemina as informações na internet tornando assuntos de cunho sociais, relevantes e gerando inquietação. Rigitano (2003) acredita que o uso da internet nas lutas sociais se torna uma ferramenta imprescindível, pois facilitam “as atividades (em termos de tempo e custo), pode unir e mobilizar pessoas e entidades de diferentes localidades [...], bem como quebrar o monopólio da emissão e divulgar informações ‘alternativas’ sobre qualquer assunto” (RIGITANO, 2003, p.20). Dessa forma a entrada dos movimentos sociais nos sites de redes sociais, como o Facebook, visa por uma aproximação com os diversos sujeitos com a intenção de expor suas demandas e oportunizar que um maior número de pessoas que venham a ser atingidas pelas ideias e reinvindicação. Nesta perspectiva a Avaaz ao aderir ao Fecebook dialoga com aliados na propagação das suas petições.

4.2 AVAAZ E AS PETIÇÃO ON LINE O uso da internet para a elaboração de petições passa a ganhar um grande respaldo, tanto que, organizações governamentais se movimentam e criam seus próprios canais e espaços para essa participação popular, três exemplos que passaram a oferecer este serviço, que são espaços de colaboração da população dentro dos websites do Bundestag (parlamento alemão), o da Casa Branca (residência oficial do presidente dos Estados Unidos) e no parlamento inglês (House of Commons). No caso alemão, denominado de Epetitionen21, “se a petição alcançar 50 mil apoiadores, os deputados são obrigados a discutir o tema” (LUPION, 2013).

21

Disponível em: https://epetitionen.bundestag.de/

44 Já as petições elaboradas no Reino Unido22, precisam da adesão de 100 mil assinaturas para serem discutidas na câmara dos deputados. Nos Estados Unidos, essa ação recebe o nome de “We The People”23. Essas plataformas de participação popular demonstram o quão tão importante vem se tornando a inclusão do cidadão no caminho democrático da construção do estado. No Brasil, ainda não há um espaço destinado para esse tipo de participação em órgãos governamentais, no qual o sujeito cria e assina petições on line. Mas existem plataformas para a colaboração democrática dos sujeitos via rede. Além disso, o uso da internet para essa finalidade encontra um empecilho no país para esse tipo de participação on line. Ele está ligado à questão da acessibilidade da população a internet. Segundo a PNAD24, 2012 divulgado pelo IBGE25 no país em que há uma população total de aproximadamente 191 milhões26 de habitantes, entorno de 83 milhões de pessoas de 10 anos ou mais de idade acessaram a Internet no período do estudo. Ou seja, mais que a metade da população no país não tem como participar desse tipo de ação. Mesmo assim, surgem iniciativas que usam a internet para aproximar a população dos órgãos governamentais como o caso do Gabinete Digital27 desenvolvido pelo governo do estado do Rio Grande do Sul, que, tem a função de ser um canal entre o governo e os cidadãos incorporando novas ferramentas de participação e diálogo, visando influenciar e exercer um controle social na gestão pública. Outro exemplo é o e-Democracia28, um portal desenvolvido pela Câmara dos Deputados do Brasil que visa oferecer um espaço para a discussão de temas importantes. Ele é dividido em duas categorias, uma destinada para debater sobre projetos de lei já existentes e a outra uma espaço para que o próprio sujeito defina um tema para ser discutido. As formas encontradas no Brasil, para a participação popular através de petições on line são as oferecidas e executadas através da Avaaz e outros sites29

22

Disponível em: http://epetitions.direct.gov.uk/ Disponível em: https://petitions.whitehouse.gov/petitions 24 PNAD significa: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilio 25 IBGE significa: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas 26 Dado disponível em: http://censo2010.ibge.gov.br/noticiascenso?view=noticia&id=3&idnoticia=1766&busca=1&t=censo-2010-populacao-brasil-190-732-694pessoas 27 Ver mais em: http://gabinetedigital.rs.gov.br/ 28 Ver mais em: http://edemocracia.camara.gov.br/ 29 http://www.peticaopublica.com.br/; http://www.activism.com/pt_BR/; http://www.change.org 23

45 que

ofereçam

este

serviço

e

que, não

possuem

vínculos

com

órgãos

governamentais. São ONG’s destinadas em sua maioria a oferecer um serviço participativo com causas transnacionais. Os sujeitos se veem a ter que utilizar essas plataformas para discutir possíveis soluções perante as condições sociais, políticas, econômicas, culturais que considera ser necessária a participação. Nesse contexto para que o sujeito possa participar das petições que lhe despertem a atenção nesses ambientes ou para criar as suas próprias petições, deve-se realizar um cadastro no site. No caso da Avaaz os dados que devem ser informados para a criação do login são o nome completo, e-mail, país e código postal. A partir disso o usuário se encontra apto a participar dessa forma de mobilização. Gomes (2011) salienta que a participação das pessoas vai ocorrer quando “consideram uma oportunidade para atingis fins desejáveis” (GOMES, 2011, p. 30-31), acrescentando que esses ‘meios’ propostos devem ser vistos como oportunidades. De um ponto de vista crítico ao excesso das ‘tecnointerações’ estabelecias pelos anseios de uso das inovações tecnologias, Moraes (2006), acredita que esse uso exerce uma influência nos padrões de sociabilidade e nas percepções dos indivíduos. A forma como é proposta a participação social pelas petições on line, como as que oferecem o site da Avaaz, pode-se enquadrar dentro daquilo que sugere ser a generalização dos textos e imagens, a estruturação simbólica que a vida e a produção passam a ter. Há uma padronização da forma de como atuar e agir, expressa pelo simples fato da ‘assinatura’ da petição. Esse tipo de ação on line é retratado por alguns críticos como sendo um ‘ativismo de sofá’ ou ‘clickativismo’, o sujeito tem sua atuação restrita aos poucos minutos que se dispõe a ler sobre o que a petição trata, isso quando o faz, e registrar a sua participação.

4.3 SITES DE REDES SOCIAIS: O FACEBOOK Os sites de redes sociais se tornam uma comunidade de interação entre os indivíduos no ambiente on line, Ugarte (2008) afirma que mesmo antes da internet “as redes de que falamos são as que as pessoas formam quando se relacionam umas com as outras, então a sociedade sempre foi uma rede” (UGARTE, 2008, p. 17). As redes sociais são as relações que estabelecemos diariamente com os

46 indivíduos com os quais convivemos. Esse convívio é caracterizado por diversos graus de interação entre as partes. No dia a dia, interagimos com “x” indivíduos de forma mais intensa, por exemplo, as relações com nossos familiares. Outras relações são estabelecidas com vínculos afetivos distintos de intensidades diversas, como as que se é possível estabelecer com amigos, vizinhos, colegas de trabalho, amigos de amigos, entre outras. Nessa linha de pensamento, Ramalho diz que: uma rede social é uma estrutura social composta por pessoas (ou organizações, territórios etc.) – designadas como ‘nós’ – que estão conectadas por um ou vários tipos de relações (de amizade, familiares, comerciais, sexuais etc.), ou que compartilham crenças, conhecimentos ou prestígio (RAMALHO, 2010, p. 12).

Essas interações entre um ser e os outros, pode ser comparada à figura de uma cebola cortada ao meio, onde o miolo é representado pelo individuo central das relações, e cada camada subsequente representa os graus de interação com os outros indivíduos. Cada camada, a partir do centro, pode ser comparada como sendo a intensidade da relação, no qual, quanto mais externa for essa camada, menor será a intensidade do relacionamento dos indivíduos. De acordo Torres (2009), “as redes sociais são criadas pelo relacionamento contínuo e duradouro das pessoas e das comunidades que participam e têm um valor intrínseco, pois criam uma enorme rede de propagação de informações” (TORRES, 2009, p.114). Elas atuam como influenciadores nas relações entre os indivíduos e vários grupos sociais com o qual se relaciona essa progressão na transmissão da informação, atuando de forma viral. Com o surgimento, uso e avanço da internet, essa viralização passa a ter uma abrangência e alcance muito maior, “uma rede social poderia ser um grupo de cerca de cem conhecidos, mas uma rede social estendida cuja existência é possibilitada pela tecnologia e que pode incluir centenas, ou até milhares, de ‘amigos’” (TAPSCOTT, 2010, p. 239). Na visão de Recuero (2009), as redes sociais na internet são arquétipos de dois tipos de classificação. Sendo elas, as Redes Sociais Emergentes e as Redes Sociais de Filiação ou Redes de Associação. Segundo a autora, essa classificação não altera a possibilidade de em uma mesma rede, os dois tipos estarem presentes. O que vai diferenciar é o olhar sobre os aspectos observados na rede analisada. Para ela as Redes Sociais Emergentes são “expressas a partir de interações entre os atores sociais. São redes cujas conexões

47 entre os nós emergem através das trocas sociais realizadas pela interação social e pela conversação através da mediação do computador” (RECUERO, 2009, p.94). São caracterizadas por demandarem de maior atenção e disposição na interação, são redes menores, constituídas e construídas principalmente através de comentários recíprocos. As Redes de Filiação ou Redes Associativas são tratadas como sendo redes onde se sustentam vínculos fracos mantidos a partir da utilização dos softwares. Essa rede, na qual, normalmente apresenta um grande número de filiações entre os indivíduos é considerada como sendo típica dos laços sociais estabelecidos através da medição pelo computador. A grande quantidade de filiações está diretamente ligada a não necessidade de dedicação do individuo, não gerando elevado custo a ele. Essas redes apresentam dois tipos de nós, os atores e os grupos (RECUERO, 2009). A autora tem seu conceito para as Redes de Filiação ou Redes Associativa, fundada no que diz Watts (2003). Para ele “a rede de filiação é uma estrutura de grupo que não parte de laços sociais entre seus membros, mas que permite que as pessoas interajam e que eles sejam construídos” (WATTS apud RECUERO, 2009, p.97). A diferenciação30 entre as Redes Emergentes e as Redes de Filiação ou Redes Associativas está expressa em dois pontos. O primeiro relacionado com o tamanho da rede, sendo as Redes Emergentes menores e as Redes de Filiação ou Redes Associativas maiores. O Segundo associado à dinâmica dessas redes, onde: Enquanto as redes de filiação são bastante estáveis e mudam mais raramente (e quanto mais difícil for deletar uma conexão, mais a rede ficará estável), tendem a crescer e agregar mais nós; as redes emergentes são bastante mutantes e tende a apresentar dinâmicas de agregação e ruptura com frequência (RECUERO, 2009, p. 100-101).

O principal local para a construção e identificação das redes sociais dentro do ciberespaço são os ambientes de interação propostos pelos sites de redes sociais. Para a pesquisadora nos sites de redes sociais há uma extensão das redes sociais existentes, o uso dessas ferramentas é utilizado como uma forma de expressar elas na internet. Esses possibilitam a continuidade e ampliação dos vínculos sociais já existentes, nos quais também é possível uma interação que questões geográficas poderiam dificultar e a possibilidade de criar novos vínculos com outros indivíduos e 30

RECUERO, 2009

48 que tenham, de alguma forma, afinidades para a concretização dessas relações. Dessa forma se tornando um facilitador na comunicação e na expressão dos conteúdos produzidos pelos indivíduos para os indivíduos. Esses sites de relacionamento, segundo Torres (2009), consentem na produção e consumo de informações geradas de pessoas para pessoas e que utilizam esse meio para o compartilhamento de conteúdos. Elas também são caracterizadas pela aproximação dos indivíduos que possuem interesses em comum. além de aproximarem amigos e os amigos dos amigos, propiciam associações entre usuários que não pertencem à mesma rede de amigos, mas que partilham afinidades comuns, o que cria redes cada vez mais complexas de serem mapeadas. (PINHEIRO, 2009, p. 48).

Essas afinidades comuns encontradas nesse ambiente constroem novos laços sociais entre os usuários, ampliando dessa forma suas redes sociais. Para que sejam consideradas, Boyd e Ellison (2007) definem que, sites de redes sociais devem apresentar três características. Segundo as autoras elas devem ser: serviços baseados na web que permitem aos indivíduos (1) construir um perfil público ou semipúblico dentro de um sistema interligado; (2) Articular uma lista de outros usuários com quem eles compartilham uma conexão e; (3) ver e cruzar a sua lista de conexões e aquelas feitas por outros dentro do sistema. A natureza e a nomenclatura dessas conexões podem variar de 31 site para site. (BOYD; ELLISON, 2007) .

Para as autoras, “a visibilidade de um perfil varia conforme o site e de acordo com o critério do utilizador”. (BOYD; ELLISON, 2007, p. 213). Uma das principais formas de diferenciação entre os sites de redes sociais está em sua variação estrutural, nos critérios de visibilidade e os acessos permitidos pelo usuário a sua rede por outros usuários. Recuero (2009) faz uma divisão categórica dos sites de redes sociais em dois tipos. Sendo eles divididos da seguinte forma: Sites de redes sociais propriamente ditos, nessa categoria estão inseridos os sites como o Orkut, o Facebook, o Linkedin entre outros. Sua finalidade é de tornar público às redes estabelecidas pelo usuário do site, publicando e mostrando as conexões estabelecidas entre os atores dentro desses ambientes.

31

Disponível em: . Tradução do autor.

49 Sites de redes sociais apropriados, nessa categoria encontram-se o Fotologs, os weblog etc. Nessa categoria os sistemas não possuem espaços para a criação de um perfil e divulgação das conexões entre usuários. Conforme a autora, “esses perfis são construídos através de espaços pessoais ou perfis pela apropriação dos atores”. (RECUERO, 2009, p. 104). Eles não nasceram originalmente para essa função de rede social, mas foram adaptados. O desenvolvimento dos sites de redes sociais tem um longo percurso até chegar às que conhecemos hoje. Kirkpatrick (2011) em seu livro intitulado O Efeito Facebook,

expõem

os

primórdios

dos

sites

de

redes

sociais

relatando

cronologicamente o surgimento de diversos desses sites de interações sociais. Outras autoras que também explanam o tema são Danah M. Boyd e Nicole B. Ellison em seu artigo intitulado Social Network: Definitions, history and Scholarship de 2007. Segundo Kirkpatrick (2011), os primeiros ensaios dos sites de redes sociais eram caracterizados por seus usuários não utilizarem seus nomes reais nestes espaços, para ele “as pessoas inventavam ou recebiam um nome de usuário que as mantinha quase anônimas e que usavam para interagir com as outras”. (KIRKPATRICK, 2011, p. 78). Um dos exemplos que expõem, é do serviço criado pela IBM e a Sears, chamado de Prodigy, no qual lhe foi destinado um nome de usuário. Ainda segundo o autor, “os membros não identificavam seus amigos da vida real nem estabeleciam vias de comunicação regular com eles”. (KIRKPATRICK, 2011, p. 78). Nesse período outras plataformas de interação surgiram, como o TheGlobe.com, o Geocities, o Tripod e o Match.com. Outro site que começou a operar em 1995, o Classmates.com, trouxe como proposta ser um canal de comunicação a fim de que o usuário pudesse encontrar antigos colegas de escola. Neste site, que ainda se encontra em operação32, a identificação visava pela utilização dos nomes reais dos usuários (KIRKPATRICK, 2011). Mas foi a partir do ano de 1997 que os sites de redes sociais entram em sua era moderna. Também propondo que seus membros fizessem uso de seus nomes reais, a rede social sixdegrees.com foi “o primeiro negócio on line que tentou identificar e mapear um conjunto de relações reais entre usuários reais que usavam seus nomes reais”. (KIRKPATRICK, 2011, p. 79). Sua forma de captação de novos

32

http://www.classmates.com/

50 usuários ocorria através de convite feito via e-mail por um usuário da rede, nela era possível criar um perfil pessoal e estabelecer ligações com seus amigos. Um ponto negativo desta rede social digital era a impossibilidade de inclusão de uma foto no perfil, esse fato está ligado principalmente aos recursos escassos existentes na época. Outro fator que pesou negativamente e também ligado ao desenvolvimento tecnológico foi à velocidade de navegação estabelecida através de modems discados. Esses fatores, ligados a fatores de mercado onde o serviço passou a gerar déficit financeiro para a empresa gestora da sixdegrees.com acarretaram no fechamento da rede social digital no ano de 2000 (BOYD; ELLISON, 2007). Entre o período de 1997 até o ano de 2002 inúmeros destes sites, como o BlackPlanet, o Asian Avenue, o LunarStorm e o Cyworld foram criados, cada qual com suas peculiaridades. Os dois primeiros tinham um enfoque étnico, o Lunar Storm era destinado a adolescentes suecos e o Site Cyworld concebido na Coreia incorporou recursos de redes sociais digitais no ano de 2001(KIRKPATRICK, 2011). Mas foi somente com o surgimento do Friendster que os usuários passaram a contar com a possibilidade de adicionar fotos ao seu perfil. Conforme destaca Kirkpatrick, “o Friendster oferecia uma ferramenta inovadora para que pudessem acompanhar as pessoas [...] sua foto apareceria ao lado de seu nome verdadeiro no perfil”. (KIRKPATRICK, 2011, p. 82). Essa rede social digital, segundo afirmação de seu criador, Jonathan Abrams, “foi projetado para ajudar os amigos dos amigos a se encontram, com base no pressuposto de que os amigos dos amigos iriam se tornar melhores parceiros românticos do que com estranhos” (ABRAMS, 2003 apud BOYD; ELLISON, 2007, p. 215). Para O’Shea (2003), o Friendster não se configura em um serviço de namoro, mesmo ele sendo usado em grande parte para este fim, sua principal função era de ser uma ferramenta onde se estabelecera uma conexão com seus amigos. O colapso do Friendster iniciou-se devido ao sobrecarregamento de seus servidores, devido ao grande número de usuários cadastrados. A rede social também entrou em choque com os perfis fakesters, perfis que eram criados com nomes e identidades falsos, excluindo-os (KIRKPATRICK, 2011). Essa atitude fez com que, segundo Boyd e Ellison (2007), a exclusão destes perfis gerasse um sentimento perante seus usuários que a empresa não compartilhava dos interesses de seus usuários. Aos poucos houve uma debandada dos usuários nos Estados

51 Unidos, ao mesmo tempo em que a rede social passou a crescer no sudeste asiático. O Friendster serviu como modelo para outras redes sociais. Uma das que clonou o modelo do Friendster foi o MySpace. Criado em 2003, foi considerado como sendo o pioneiro no que diz respeito à incorporação multimídia das redes sociais, por exemplo, o update de músicas (JESUS, 2012). Ainda segunda a autora, o MySpace ultrapassou o número de usuários do Friendster em 2004, se tornando a nova mania. O MySpace se popularizou por ser uma rede onde era possível encontrar informações sobre bandas e diferentemente do Frindster, nele era possível criar perfis com qualquer identidade, isso atraiu muitos dos fakester. (KIRKPATRICK, 2011). Em si tratando de redes sociais digitais exclusivas para estudantes universitários, foco inicial do Facebook, a primeira a surgir foi em 2001 na universidade de Stanford. Nomeada de Club Nexus, essa rede social digital foi idealizada pelo estudante turco de ciências da computação Orkut Buyukkokten e o estudante de ciências políticas Tyler Ziemann, que em 2002 criaram o InCircle, uma versão modificada o Club nexus e que era destinada para ex-alunos de Stanford. Buyukkokten posteriormente foi trabalhar no Google, lá criou um protótipo de uma rede social digital e apresentou para o setor de produtos da empresa. Surgiu então o Orkut.com, que teve grande receptividade no Brasil. (KIRKPATRICK, 2011). O Orkut tinha como público alvo os norte-americano, mas se consolidou em países emergentes, como o Brasil e a Índia. Para que os sujeitos pudessem fazer parte desta rede social digital, no inicio, deveriam receber um convite via e-mail, após a não necessidade de convite para inserção, o serviço passou a se popularizar. A principal inovação do Orkut foi de possibilitar aos seus usuários a participação em comunidades, criadas por eles próprios, aos temas que lhes convinham. (JESUS, 2012). Outros tantos sites de redes sociais foram criados como mostra a figura 1, nela há a demonstração cronológica dos lançamentos de algumas dessas redes até o ano de 2006.

52 Figura 1 - Mapa cronológico dos maiores sites de redes sociais

Fonte: Boyd; Elisson, 2007

Na figura 1 não constam outras redes que se popularizaram posteriormente, como o Foursquare (2009), Instagram (2010), printerest (2010) entre outras. Ainda na figura pode-se observar a peculiaridade de o Facebook possuir quatro estágios, cada qual apresenta elementos da ampliação do público ao qual o site era destinado.

53 No primeiro desses estágios a rede social digital era destinada para os estudantes de Harvard e seu nome era TheFacebook. Criado por Mark Zuckerberg no ano de 2004, que foi acusado e respondeu a ações judiciais diversas 33, essa rede propunha inicialmente a interação entre alunos da universidade de Harvard 34. Para ingressar no site era preciso possuir um endereço de e-mail com o harvard.edu. A primeira ampliação da rede se deu em 2005, iniciando o segundo estágio, houve a abertura para a adesão dos estudantes do ensino médio. Várias formas para a que estes estudantes pudessem se cadastrar no site vieram à pauta, mas a que se prosperou e de forma lenta atingiu este público, foi a de convite via e-mail enviado por alunos universitários dos anos iniciais. No inicio de 2006, sendo este o terceiro estágio, o Facebook passou a permitir o registro de pessoas que haviam endereços de e-mail vinculado a determinadas empresas. Sua estratégia para se inserir no mercado corporativo começou com a autorização para dez empresas lideres de diversos setores e uma instituição sem fins lucrativos. Dentre as empresas que os funcionários podiam de registar estavam a Pepsi, a Apple, a Intel entre outras (SMITH, 2006). No mesmo ano, o site de rede social foi aberto para que qualquer pessoa pudesse fazer seu cadastro, isso se configurando no quarto estágio. Atualmente esse site de rede social, que conta com mais de um bilhão 35 de usuários pelo mundo, está inserida em 213 países se tornando o maior site de rede social do mundo. As imagens abaixo mostram a expansão do Facebook em todo o mundo. A figura 2 mostra um mapa mundial de junho de 2009 contendo os sites de redes sociais mais usados em cada país. Neste ano, 17 sites de redes sociais possuíam a hegemonia em pelos menos um país. Neste ano, o facebook já dominava a maioria dos países.

33

Ver Kirkpatrick, 2011. Disponível em: . 35 Disponível em: . 34

54 Figura 2 - Mapa dos sites de redes sociais dominantes em cada país em Junho de 2009

Fonte: http://vincos.it/world-map-of-social-networks/ Quatro anos depois, em junho de 2013, esse cenário se modifica (ver figura 3) e dos 17 sites de redes sociais dominantes, apenas quatro sites se mantiveram líderes e outros dois, o Cloob e o Drauglem assumiram a liderança em poucos países. Nesse período o Facebook domina quase que 93% dos países analisados. Do total de 137 países analisados, 127 tem o domínio do Facebook.

55 Figura 3 - Mapa dos sites de redes sociais dominantes em cada país em Junho de 2013

Fonte: http://vincos.it/world-map-of-social-networks/ O cadastro do indivíduo no Facebook segue o principio, no qual, é preciso construir um perfil para iniciar uma interação com as outras pessoas participantes da rede. Nos primeiros passos para a criação do perfil, o usuário deverá inserir seu nome, seu sobrenome, inserir um e-mail (que será usado posteriormente como usuário de acesso), criar uma senha (com no mínimo seis caracteres), inserir sua data de nascimento constando dia, mês e ano, e seu sexo. “O Facebook funciona através de perfis e comunidades. Em cada perfil, é possível acrescentar módulos de aplicativos (jogos, ferramentas, etc.)”. (RECUERO, 2009, p. 172). Além de possibilitar a criação de perfis para os indivíduos interagirem entre si, o Facebook também oportuniza a criação de fanpages, que são páginas dentro do site de rede social especificas e direcionadas para empresas, marcas/produtos, ONGs, associações entre outras. Elas propiciam, de forma gratuita, que as organizações também possam interagir com seus públicos. Nas fanpages é proporcionado que sejam feitas postagens e as pessoas que curtiram a página da organização, passam a visualizar em seus feeds de notícias36 essas publicações.

36

Segundo definição encontrada no Facebook, o Feed de notícias – a coluna central da página inicial do usuário – é uma lista em constante atualização de históricos de pessoas e Páginas que você segue no Facebook. As histórias do Feed de notícias incluem atualizações de status, fotos, vídeos,

56 Cada postagem no Facebook permite que se visualize os dados originados a partir da interação dos usuários com as fanpages. Conforme Araújo (2013) as postagem são passiveis de analise através de três possibilidades de interação “o número de pessoas que ‘curtiram’ o conteúdo, os comentários feitos e o número de pessoas que repassaram determinado conteúdo através da ferramenta de ‘compartilhar’” (ARAÚJO, 2013, p. 132). Em um estudo feito pela Scup Ideas37, identificou os horários nobres com maior volume de movimentação no Facebook. O estudo foi “concebido a partir de uma amostra de quase 34 milhões de posts e comentários coletados pelos monitoramentos feitos com o Scup em 2012” (BARREIRA, 2013, on line)38. Nele é expresso os dados comparando além de seus horários, os dias e o volume das postagens produzidas. O Facebook passa a ser uma das principais redes de disseminação de conteúdo entre pessoas no mundo virtual, Tapscott (2010) destaca que “redes sociais como o Facebook podem disseminar notícias de uma maneira espetacular”. (TAPSCOTT, 2010, p. 328-329). Portanto, a capacidade de mobilização, interação e integração social passa a multiplicar e dinamizar as informações correntes na rede. Devido à potencialidade de penetração na divulgação de informações que os sites de redes sociais alcançam e no caso, o Facebook, uma das táticas usadas pelos ciberativistas é a introdução das suas causa nesses ambientes. Seguindo essa tendência de utilização desse espaço no ciberespaço, o Avaaz também cria sua fanpage39, sendo lançada em 31 de janeiro de 2008, serve como um suporte na divulgação das causas a nível mundial. Atualmente 40 880 mil pessoas curtem a fanpage do Avaaz, essa ferramenta tem um grande potencial para reforçar a interação e estreitar o relacionamento com os “fãs”. O Avaaz em sua fanpage conta com um total de 1468 fotos, 219 notas e apenas 12 eventos, além de seus posts.

links, atividade de aplicativos e opções Curtir. Disponível em: https://www.facebook.com/help/210346402339221 37 Disponível em: . 38 Eliseu Barreira responsável pelo post no site da scup sobre o estudo dos horários nobres do Facebook no Brasil. 39 https://www.facebook.com/Avaaz 40 Número de usuários que curtiram a fanpage do Avaaz até o dia 29 de setembro de 2013 às 10h46min.

57 5 ANÁLISE A análise desta pesquisa se organizou através da articulação das informações e dados observados na fanpage da Avaaz no Facebook, como as curtidas, comentários e compartilhamentos e as expressões de opinião dos usuários do Facebook nos comentários das publicações do caso, as entrevistas concedidas por membros da Avaaz a repórteres de veículos de comunicação, dentre eles os sites de jornais como O Estado de São Paulo e a Folha de São Paulo, entre outros. Também se utilizou reportagens a respeito da ONG e o referencial teórico que fundamenta esta pesquisa. Durante o processo da pesquisa foi planejada e organizada uma entrevista com diretores de campanhas da Avaaz a fim de trazer a compreensão dos mesmos em relação à questão do ciberativismo no ambiente do Facebook. Depois de muitas negociações, de sinalizações positivas, por questões de tempo de desenvolvimento e conclusão dessa pesquisa e dos compromissos das pessoas que fazem parte da organização esta foi inviabilizada. Contudo, os mesmos indicaram e enviaram entrevistas já realizadas aos meios de comunicação citados para que se pudesse trazer as percepções da organização quanto ao uso do ciberespaço. Compreende-se esses ambientes on line como artefatos culturais, amparados na Netnografia que propõem “estudar o imaginário virtual e seus atores” (MONTARDO; ROCHA, 2005, p. 9) através da observação. Dessa forma, das estratégias adotadas para a análise, para identificar os recursos disponíveis para a interação e participação dos usuários da Avaaz dentro do seu site foi a observação, explorando as possibilidades de interação com a página e suas interfaces, com a finalidade de descobrir se no próprio site há um espaço para discussão das causas visando uma construção democrática coletiva. Nesse procedimento compreende-se que não há esse espaço de interação; As únicas formas dos usuários participarem de um processo de construção democrática é assinando as petições que foram criadas ou criar a sua própria. Porém, vale ressaltar que, conforme trás Azevedo (2013) em artigo divulgado no site da revista semanal Veja41, a Avaaz exclui petições. Relatado o caso das petições,

41

Apesar deste veículo de comunicação ser retratado como tendencioso e ir contra os movimentos sociais criminalizando-os, buscou-se trazê-lo para mostrar outro ponto de vista com relação à Avaaz. Disponível em: http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/silas-malafaia-e-a-agressao-a-democracia-

58 uma a favor e a outra contra a cassação do registro de psicólogo do pastor Silas Malafaia, Azevedo (2013) expõem sua visão do caso, perante a forma como a Avaaz no Brasil segue seus princípios. Para dar barganha aos seus argumentos de construção democrática, ele diz que “no escopo da democracia, alguns fazem petições a favor de determinadas causas, outras, contra” (AZEVEDO, 2013, on line). As duas petições, lançadas no site da Avaaz, afirmam esse argumento. Ricken Patel, canadense e cofundador da Avaaz em entrevista para Diogo Bercitode42, diz que são feitos testes com as campanhas confrontando umas contra as outras, a fim de descobrir “o que é que as pessoas realmente querem” (PATEL, 2012), a campanha que queria manter o registro de psicólogo de Silas Malafaia 43 tinha 65,786 assinaturas contra 55.000 que queriam cassá-lo e mesmo tendo o maior número de assinaturas a primeira petição foi à excluída. O criador da campanha a favor de Silas Malafaia recebeu um e-mail44 da Avaaz justificando a exclusão da petição. Para justificar essa atitude Abramovay45, ex-diretor de campanhas da Avaaz, diz que a exclusão de petições seguem critérios, sendo que o que foi utilizado no caso da petição do Silas Malafaia foi da reclamação, vinda de um dos integrantes da comunidade. Ele não diz quem pertence a está comunidade, mas que depois de feito essa reclamação é realizada uma pesquisa com uma amostra aleatória de membros da ONG. No caso exposto, segundo Abramovay, os membros ao serem questionados se achavam que essa petição

a-avaaz-o-site-internacional-de-peticoes-sob-o-comando-no-brasil-de-pedro-abramovay-estadesmoralizado-veja-como-e-por-que-ou-como-usar-renan/ 42 Jornalista do jornal Folha de São Paulo. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/84631-ong-investe-em-ativismo-on-line-para-ajudar-osrebeldes-na-siria.shtml 43 Segundo dados expostos no artigo de Azevedo. 44 Segundo Azevedo (2013) o e-mail possuía a seguinte mensagem: Olá RICARDO Obrigado por criar uma petição no site da Petições da Comunidade da Avaaz. Como está dito nos nossos Termos de Uso, nós somos uma comunidade não lucrativa baseada em valores e 100% financiada por pequenas doações de nossos membros. Como resultado, nós somos requeridos por lei e pela nossa comunidade a apenas promover campanhas que visam a nossa missão. Para ter a certeza de que estamos fazendo isso, nós enviamos petições para nossa comunidade todos os dias para pesquisar e checar se elas são apoiadas pela comunidade ou não. Infelizmente, a maioria dos membros da Avaaz não apoiaram sua petição e, seguindo nossos Termos de Serviço, tivemos que removê-la de nosso site. Nós sentimos muito por isso e esperamos que isso não impeça sua participação ou criação de outras campanhas. O texto da sua petição está abaixo desta mensagem. Você pode considerar recomeçá-lo num site comercial que não possui restrições legais sobre qual tipo de campanha eles podem promover como Care2.com, petitionsonline.com ou change.org. Nossas sinceras desculpas, A equipe da Avaaz 45 Em entrevista concedida para o jornalista Bruno Lupion do jornal O Estado de S. Paulo

59 deveria continuar ou deveria ser retirada, responderam que deveria ser retirada com um percentual de 77%. Abramovay ao declarar o percentual de apoio necessário da grande maioria dos membros neste caso, contradiz Patel. Em entrevista pra Julia Korte46, Patel diz que esse apoio deve ter aprovação de 85%. Abramovay ainda afirma que “vê a Avaaz como um movimento, não é uma rede social, não é um espaço neutro, ela é um movimento que tem princípios” (ABRAMOVAY, 2013). Azevedo (2013) salienta que “no Brasil, a Avaaz deixa de ser um site de petições que vocaliza a opinião da sociedade civil, como eles pretendem, para se transformar num grupo de pressão que tem uma agenda política” (AZEVEDO, 2013). Apesar deste pensamento de Azevedo (2013) ponderar a forma de como a Avaaz tratou da petição sobre Silas Malafaia

tomando

um

posicionamento

que

considera

sendo

político

e

fundamentando sua critica a este fato, Alain Touraine (1994) afirma que um movimento social precisa possuir um programa político. Patel crê que: Não é como nós (do Avaaz) queremos que o mundo seja e persuadiremos as pessoas a fazê-lo. É uma missão democrática, em que o mundo deve ser moldado pelas pessoas nele. No fundo, é uma missão flexível. As pessoas dizem e debatem entre si: “Em que tipo de mundo você quer viver?”. Nosso trabalho é para as pessoas. Nossa ideologia é que o mundo deve ser moldado pelas pessoas que estão nele (PATEL, 2013).

A Avaaz se fundamenta em ser um site de petições que busca construir um mundo oferecendo um canal de participação social baseado naquilo que as pessoas querem para a sua sociedade, é oferecer a possibilidade de dar ’voz’ aos sujeitos e, como eles mesmos dizem, se tornando ‘um megafone para chamar a atenção para novas questões’ e a partir daí, buscar pressionar as entidades ou indivíduos envolvidos em determinada causa. Mas além dessa possibilidade, a Avaaz busca outras formas de articulação na tentativa de sanar medidas contrárias ao que a maioria de seus integrantes quer como organizar protestos, fazer lobby 47 com políticos e financiando campanhas. Essas ações se enquadram em três dos quatro tipos de estratégias de manifestações utilizadas pelos movimentos sociais apontados por Rossiaud e Scherer-Warren (2000). As ações da Avaaz utilizam da 46

Disponível em: . 47 Lobby é se refere a toda manifestação de grupos, instituições e organizações junto ao Estado em prol de suas causas, algo realizado de forma transparente e legal. Disponível em: http://www.infoescola.com/politica/lobby/

60 Estratégia da denúncia quando organizam seus protestos; da Estratégia de negociação a partir do momento em que praticam o lobby com as entidades representativas da população e principalmente a Estratégia da construção de redes cidadãs quando suas petições, que, devido a grande participação passa a ter espaço na mídia. Outro fator que gera críticas sobre as assinaturas de petições on line é de serem consideradas como uma forma de despolitização. Abramovay tem uma visão que considera que essa forma de ativismo vai contra os argumentos dos críticos que consideram o ciberativismo, principalmente a forma de mobilização proposta pela Avaaz, como sendo uma forma de despolitização. Ele afirmou em entrevista concedida para o jornalista48 Bruno Lupion49 que a internet passa a ser parte da vida cotidiana das pessoas, e que essa utilização melhora a política, pois há uma inclusão na discussão democrática acreditando que as “pessoas que antes estavam fora da possibilidade de intervir na democracia hoje, estão desempenhando um papel relevantíssimo nos rumos democráticos” (ABRAMOVAY, 2013). Abramovay crê que “dizer que a política feita ali é menos política, [...] é um argumento despolitizador, um argumento que desvaloriza uma parte importante das vidas das pessoas” (ABRAMOVAY, 2013). Sendo assim, o ativista acredita que, mesmo com um número restrito de sujeitos possuírem acesso à internet no Brasil e que vem se expandindo lentamente e se tornando cada vez mais presente na vida dos sujeitos, as pessoas se tornam mais politizadas e não despolitizadas, principalmente quando suas opiniões são expressas e divulgadas para sua rede social on line. A Avaaz e sua ideia de mobilização social com a criação de petições on line, mesmo que com seu maior contingente de usuários serem oriundos do Brasil, possui uma pequena porcentagem do total de usuários que utilizam a internet no país e menos ainda se for comparada ao total da população. Mesmo assim, na petição de cassação do mandato do senador Renan Calheiros, seu objetivo era alcançar 1% do total de eleitores do Brasil. Esse percentual tem seu significado fundado no quesito encontrado no art. 61, § 2º, da Constituição Federal de 1988 que diz:

48

jornalista do portal de notícias Estadao.com.br Disponível em: . 49

61 A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não 50 menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles .

Desse modo, a Avaaz sustentava seu argumento sobre o número de ‘assinaturas’ necessárias, embasada neste artigo. Os usuários do Facebook nos comentários dos posts da fanpage da Avaaz citam a lei 9709/98 51 que também trata da iniciativa popular. O comentário questiona a veracidade de uma petição on line baseada no que diz a lei.

Figura 4 - Comentários post um.

Fonte: Fanpage da Avaaz no Facebook

Apesar dá lei ter sido sancionada no ano de 1998, época em que esse tipo de mobilização social não tinha a participação que obtém hoje, ele levanta uma questão que faz com que outros usuários se questionem sobre o fato.

50

BRASIL. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. Disponível em: . Acesso em: 20 de out. de 2013. 51 BRASIL. LEI Nº 9.709, DE 18 DE NOVEMBRO DE 1998. Disponível em: . Acesso em: 20 de out. de 2013.

62 Figura 5 – Comentários post dois.

Fonte: Fanpage da Avaaz no Facebook

Outra questão que é levantada nos comentários é a legalidade deste tipo de petição. Juliana Bublitz52 (sem ano) em uma reportagem sobre democracia digital salienta em seu texto que as petições on line não possuem validade jurídica, devido à falta de certificação e que tem uma eficiência discutível. Os usuários expressam esse fato em seus comentários como mostra a figura 05 (acima), questionam sobre o tema e também afirmam tal convicção, como mostra a figura 06. Bublitz fala que esse tipo de participação no Brasil tem caráter embrionário, mas que contribui democraticamente para que se possa ‘abrir um caminho’. Figura 6 – Comentários post três

Fonte: Fanpage da Avaaz no Facebook

Ainda sobre a questão do 1% necessário para a validação da petição, outros usuários constroem uma discussão dentro dos posts argumentando sobre o fato de a Avaaz ter subido o número necessário de assinaturas que inicialmente era de em torno de um milhão e 400 mil e passou a ser de mais de um milhão e 600 mil.

52

Disponível em: .

63 Figura 7 – Comentários post quatro

Fonte: Fanpage da Avaaz no Facebook

Percebe-se que num primeiro momento o Usuário 5 expressa uma sentimento de indignação com relação a essa evolução numérica, porém a partir da interação estabelecida com o Usuário 6 modifica seu pensamento a respeito. O site da Avaaz, como dito anteriormente, não oferece um espaço para a discussão dos pontos de vistas, sendo um local hermético. Ao se inserirem nos sites de redes sociais, a divulgação das petições propicia que haja uma participação mais ativa dos indivíduos. As campanhas divulgadas estão sujeitas a diversos posicionamentos e a pluralidade de vozes e percepções de mundo e da sociedade de seus usuários, proporcionando dessa forma um ambiente mais democrático. É a partir disso que a análise passa a observar os post na fanpage da Avaaz. Durante o período de acompanhamento, observação e sistematização (fevereiro de 2013) a Avaaz publicou um total de 35 posts em sua fanpage, tendo o seu primeiro post divulgado no dia primeiro de Fevereiro e o último no dia 25 do mesmo mês. No tabela 1 é apresentada a relação dos post da página da Avaaz segmentados

pela

categorização

dos

movimentos

sociais

baseados

nos

64 pensamentos de Gohn (2011b) e Peruzzo (1998). No quadro também são disponibilizados os números das interações efetivadas através das curtidas, dos comentários e dos compartilhamentos que cada post alcançou.

65

12/02 13/02 14/02 14/02 14/02 14/02 15/02 15/02 16/02 17/02 20/02 21/02 21/02 21/02 21/02 22/02 22/02 23/02 25/02 25/02 25/02

Nº pessoas que compartilharam

11/02 11/02 12/02

Nº pessoas que comentaram

11/02

Direitos humanos e desigualdades sociais Direitos humanos e desigualdades sociais Direitos humanos e desigualdades sociais Ambiental Direitos humanos e desigualdades sociais Político e econômicas Político e econômicas Político e econômicas Ambiental 53 **** Direitos humanos e desigualdades sociais / Político e econômicas Político e econômicas Político e econômicas Direitos humanos e desigualdades sociais Direitos humanos e desigualdades sociais / Político e econômicas Direitos humanos e desigualdades sociais Direitos humanos e desigualdades sociais Direitos humanos e desigualdades sociais Direitos humanos e desigualdades sociais Político e econômicas Político e econômicas Direitos humanos e desigualdades sociais / Político e econômicas Direitos humanos e desigualdades sociais **** **** **** Direitos humanos e desigualdades sociais Político e econômicas Político e econômicas Político e econômicas Político e econômicas Ambiental Ambiental Político e econômicas Político e econômicas Total de interações no período

Nº pessoas que curtiram

01/02 04/02 04/02 06/02 07/02 07/02 07/02 07/02 08/02 09/02

Tipo de post com relação à categorização dos movimentos sociais

Data do post

Tabela 1 – Posts da fanpage da Avaaz no Facebook no mês de Fevereiro de 2013.

540 610 293 2320 1532 144 1474 39202 1420 2141

66 60 33 51 239 16 248 3428 48 91

315 228 119 1130 837 68 3192 43749 425 456

220

29

120

364 688 1470

20 41 35

219 382 716

128

11

44

956 1630 561 55 302 871

205 34 91 10 31 106

389 712 188 15 159 772

238

40

148

569 478 352 191 854 335 9539 1204 991 56 72 447 717 74401

30 60 14 68 74 28 2189 53 165 18 18 34 90 7846

291 330 210 70 840 283 5187 221 664 18 13 144 501 64201

Fonte: Elaborado pelo autor

53

**** corresponde aos posts sem relação aos tipos de movimentos sociais

66 Ao longo do mês de Fevereiro foram realizados 35 posts. Com relação à categorização dos movimentos sociais devido ao tipo de causa que defendiam 54, observa-se que 14 desses posts falavam de questões sobre o tema dos direitos humanos e desigualdades sociais, 16 com relação a causas políticas e econômicas e quatro ambientais. Nesta lista também foram destinados quatro posts sem relação aos tipos de movimentos sociais, são posts informativos da Avaaz como ONG, por exemplo, o do dia 09 de Fevereiro que informava o número de 19 milhões de usuários que se cadastraram no site. Desses 16 posts relacionados às petições políticas e econômicas, três deles dizem respeito à petição de cassação do mandato do senador Renan Calheiros. No quadro a baixo encontra-se essa relação. Tabela 2 – Posts sobre a petição de cassação do mandato do senador Renan

07/02

17:21

07/02

22:52

25/02

20:29

Vamos conseguir 1% do eleitorado nacional e exigir a revogação do presidente do Senado já! http://www.avaaz.org/Fora_Renan Vamos conseguir 1% do eleitorado nacional e exigir a revogação do presidente do Senado já! http://www.avaaz.org/Fora_Renanb As vozes de 1.6 milhão de brasileiros estão ecoando pelos corredores do Senado! Após 56 senadores votarem no Renan Calheiros para presidente do Senado[...]

compartilharam

Nº pessoas que

comentaram

Nº pessoas que

curtiram

Nº pessoas que

posts

descrição dos

fragmentos da

Descrição ou

Hora do post

Data do post

Calheiros

1474

248

3192

39202

3428

43749

717

90

501

Fonte: Elaborado pelo autor

A petição sobre o impeachment do senador Renan Calheiros foi criada por Emiliano Magalhaes55 em 1° de Fevereiro56 de 2013, dia em que foi realizada a 54

Nessa divisão a posts que se enquadra em mais que uma categoria. Dados sobre o autor da petição retirados do site da Uol. Disponível em: http://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2013/02/17/frustrado-jovem-que-organizou-abaixoassinado-por-saida-de-renan-diz-que-acao-nao-deve-gerar-afastamento-do-politico.htm 56 Disponível em: https://secure.avaaz.org/po/petition/Impeachment_do_Presidente_do_Senado_Renan_Calheiros/ 55

67 eleição para a escolha do presidente do Senado Nacional. O autor da petição na época era representante comercial e morava na cidade de Ribeirão Preto, interior de São Paulo. Os posts dessa petição geraram um grande fluxo de informações e representa um grande percentual do conteúdo produzido por usuários na fanpage da Avaaz no mês de Fevereiro. Das mais de 74 mil curtidas que os posts receberam no período, os três que retratam a petição estudada representam 55% do total, os comentários quase 48% e os compartilhamentos 74%57. Esse fluxo de informação sendo atualizada e circulando nos feeds de notícia dos usuários do site de rede social indica que há uma maior interação social dentro do ambiente, que é “uma expressão de uma nova cultura de indiferenciação do consumo e da produção da informação, cujo traço peculiar é a instantaneidade em fluxo contínuo de uma conversa qualquer” (MALINI; AUTOUN, 2013, p. 214). Essa atualização se for gerada em horários onde há uma concentração maior de usuários interagindo faz com que as interações estabelecidas entre os usuários e/ou fanpages seja visualizadas nos feeds de notícias e no espaço destinado no canto superior direito da interface do Facebook, espaço esse que é possível observar o que seus amigos curtem, comentam ou compartilham. Esses três dispositivos de interação ofertados pelo facebook possuem características peculiares. O ato de curtir determina que quem o faz, gosta daquilo que leu ou viu e só pode ser feito uma única vez. No caso Renan Calheiros, há um número significativo de usuários que curtiram o segundo post do dia sete, ele representa um número expressivo de mais de 39 mil pessoas que curtiram. Esse número se torna mais significativo quando for comparado com os outros post do período analisado. Por exemplo, o segundo post que obteve mais curtidas foi de um total de 9539. Esse único post também representa mais de 50% do total de curtidas do mês de Fevereiro na fanpage da Avaaz. O ato de compartilhar pode ser feito mais de uma vez e essa atitude de compartilhar uma petição através dos sites de redes sociais, segundo Abramovay (2013), demonstra ser um comportamento profundamente político, pois o indivíduo passa a mostrar sua posição frente a determinado assunto perante os outros usuários, podendo a partir dai gerar contra-argumentos e construir dessa forma um debate.

57

Dados elaborados pelo autor

68 Mas o local onde é mais propício e onde realmente pode ocorrer um debate entre os usuários do Facebook é no espaço destinado para os comentários. Ali é possível uma interação, construção e troca de conhecimento entre os sujeitos que utilizam do site de rede social e também as instituições presente nesse ambiente. Nas figuras 08, 09 e 10 mostram os posts da petição de cassação do senador Renan Calheiros no mês de Fevereiro.

Figura 8 - Primeiro post caso Renan Calheiros.

Fonte: Fanpage da Avaaz no Facebook

Figura 9 - Segundo post caso Renan Calheiros.

Fonte: Fanpage da Avaaz no Facebook

69 Figura 10 – Terceiro post caso Renan Calheiros

Fonte: Fanpage da Avaaz no Facebook

Nos post sobre o caso Renan Calheiros inúmeros assuntos vieram à tona relacionados ou não com o tema em questão. Nos comentários dos posts da fanpage da Avaaz sobre a causa, a maioria absoluta dos usuários tem o mesmo pensamento, demonstrando o apoio à petição de cassação do mandato do senador. A ONG contratou uma pesquisa e que foi realizada pelo Ibope sobre a possível renúncia de Renan Calheiros. Os resultados alcançados apontaram que “74% dos brasileiros seriam favoráveis à renúncia do alagoano” (LUPION, 2013). Além disso, a pesquisa também apontou que “64% não apoiam o sistema secreto de votação para a presidência do órgão, e 56% consideram inválida a eleição porque muitos

70 senadores se recusaram a admitir em público em quem votaram” (O Globo, 2013)58. Isso demonstra que dentro do que foi apresentado pela maioria dos usuários através de seus comentários e das outras interações estabelecidas no ambiente on line, as mil pessoas ouvidas no ambiente off line via telefone pelo Ibope demostravam o mesmo sentimento apresentada nos posts da fanpage da Avaaz. Tendo como principal conteúdo escrito nesses posts indicações de que aqueles que o estavam fazendo já haviam assinado a petição. Além deste conteúdo, onde só pretendiam mostrar que estavam participando desse movimento, outros comentários eram mais elaborados e possuíam em seu conteúdo afirmações mais críticas ao falarem do senador Renan Calheiros, outros defendiam o senador, como na figura 11. Figura 11 – Comentários post cinco.

Fonte: Fanpage da Avaaz no Facebook

Além destes, outro comentário que apoiava Renan Calheiros originou uma discussão entre os usuários, inclusive com insultos entre os mesmos. Essa agressividade vai ao encontro com o que Castells (2012) fala sobre as discussões mais sinceras que ocorrem dentro do ambiente on line e o que expressa Warschauer (2006) sobre os indivíduos aflorarem o seu pior lado.

58

Disponível em: http://oglobo.globo.com/pais/pesquisa-mostra-que-74-dos-brasileiros-queremrenuncia-de-renan-calheiros-7772452

71 Figura 12 – Comentários post seis

Fonte: Fanpage da Avaaz no Facebook

Além de os usuários utilizarem desse ambiente para demonstrar seu apoio ou não para a causa e construir um ambiente de troca de informações e debates, há outros usuários que viram nesse post uma forma de promover outros assuntos sem relação alguma com o que estava sendo abordado, fazendo comentários com links com o propósito de estabelecerem um alcance oportuno que o post da petição oferecia.

72 Figura 13 – Comentários post sete

Fonte: Fanpage da Avaaz no Facebook

Apesar de alguns usuários desviarem do foco proposto, outros, no entanto queriam estender sua atuação para outras formas de mobilização. Como mostra a figura 14, houve sujeitos que questionaram sobre possíveis ações off line e pediam informações sobre a organização de protestos.

73 Figura 14 – Comentários post oito

Fonte: Fanpage da Avaaz no Facebook

A Avaaz realizou um protesto junto com outros movimentos sociais, dentre eles o Movimento 31 de Julho Contra a Corrupção e a Impunidade e o Rio de Paz, também contou com a participação de membros do partido político PSOL, no dia 20 de Fevereiro de 201359. No ato da entrega da petição junto ao Senado Nacional, ela foi recebida por uma comitiva de senadores como Pedro Simon (PMDB-RS), Cristovam Buarque (PDT-DF), Aloysio Nunes (PSDB-SP) entre outros. Campanerut (2013) relatando como foi o protesto organizado anteriormente à entrega da petição relata que os manifestantes “estenderam uma bandeira nacional no gramado em frente ao Congresso Nacional pedindo atenção pela quantidade de pessoas contrárias à permanência de Renan Calheiros na presidência do Senado” (CAMPANERUT, 2013, on line), a figura 15 é uma das imagens do protesto, que se tornaria no dia 25 de Fevereiro um dos post da fanpage da Avaaz no Facebook.

59

Dados retirados da reportagem de Camila Campanerut do Uol, disponível em: http://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2013/02/20/senadores-recebem-pedido-popular-deimpeachment-contra-renan-calheiros-e-dizem-que-vao-discutir-assunto.htm#fotoNav=18

74 Figura 15 – Foto protesto Brasília

Fonte: Fanpage da Avaaz no Facebook Com esses dados coletados nessa reportagem, percebe-se que mesmo os usuários querendo participar de ações no ambiente off line como o que foi mostrado na figura 15, no ato da entrega, o grupo foi formado por vinte ativistas de diversos movimentos sociais, mas não houve a participação de indivíduos convocados pela fanpage da Avaaz no Facebook. José Bonato60 em reportagem para o site Uol relatou sobre essa mobilização que foi comandada pela Avaaz, mas que a organização não divulgou data nem detalhes do evento para os interessados em participar. Além da repercussão gerada na mídia em torno da petição desde seu lançamento até o ato da entrega da petição no Senado, a ação ocasionou um comunicado do próprio senador Renan Calheiros. Nele ele dizia que:

60

Disponível em: http://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2013/02/17/frustrado-jovem-queorganizou-abaixo-assinado-por-saida-de-renan-diz-que-acao-nao-deve-gerar-afastamento-dopolitico.htm

75 A mobilização na Internet é lícita e saudável, principalmente, entre os jovens. Fui líder estudantil, todos sabem, e também usei as ferramentas da época para pressionar. O número de assinaturas não é tão importante quanto a mensagem, o que importa é saber que a sociedade quer um Congresso mais ágil e preocupado com os problemas dos cidadãos. E assim o será. O Congresso Nacional vai trabalhar para garantir o maior desenvolvimento do Brasil. Vou conversar na segunda-feira com o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, para que possamos colocar em votação as matérias necessárias ao crescimento do país, de forma sustentável e 61 duradoura[...]

Todo esse processo de construção democrática e de debates gerados on line dentro do site de rede social Facebook, através do ciberativismo que a Avaaz propõem, possibilita enquadrar essas ações com relação às modalidades de ciberativismo que Vergh62 (2003) apresenta. Podemos considerar que: 1) O ciberativismo que a Avaaz pratica em seu site, onde só há a possibilidade de participação nas petições que foram criadas ou criar a sua própria, se enquadra na modalidade de organização/mobilização, dentro da segunda categoria em que se faz uso da internet na promoção de uma ação off line, mas que pode ser mais eficiente on line. A justificativa para essa escolha dá-se pelo fato de que as petições poderem ser criadas e adquirir adesão somente no âmbito off line, utilizando a internet apenas como um informante do processo que está se realizando, mas que, pela facilidade que o ciberespaço possibilita tanto no alcance, como em seu baixo custo dinamiza a sua realização se tornando mais atrativa; 2) Quando a Avaaz se apropria dos sites de redes sociais ele pode apresentar a modalidade de conscientização/Apoio, usando sua fanpage no Facebook e inserindo posts sobre suas petições nela, assim passa a produzir e disponibilizar informações que propicia aos usuários a oportunidade do conhecimento dessas ações que podem resultar na sua participação. Para ilustrar isso, podemos observar na figura 16, comentários de usuários do Facebook que buscavam informações sobre a petição do caso Renan Calheiros dentro de um dos posts sobre o tema ou convidavam seus amigos ou citavam o compartilhamento do link a fim de inserir mais pessoas na causa.

61

Disponível em: . 62 Essas modalidades encontram-se citadas em Riginato (2003) e Cavalcante (2010)

76 Figura 16 – Comentários post nove

Fonte: Fanpage da Avaaz no Facebook

Outra modalidade que o uso do Facebook pode oferecer é a da organização/mobilização, por possibilitar a chamada para uma ação Off line. Ao fazer menção de alguma ação que pretendem realizar, os usuários podem se organizar e se mobilizar para a participação de tal ação, o que também acarretaria em estender ao seu público, outras formas de participação democrática. No período analisado a Avaaz não publicou nem um post ou comentário convidando os usuários para a participação no protesto organizado pela instituição e realizado em Brasília 63 no qual pediam a cassação do mandato do Senador Renan Calheiros. Ao finalizar a análise podemos perceber que há uma construção e participação dos usuários no Facebook possibilitando uma grande troca de informação sobre diversos temas, relacionados ou não com o assunto dos posts da petição de cassação do senador Renan Calheiros. Explorando o ambiente, pode-se identificar uma participação que gera um maior alcance de divulgação e construção de conhecimento sobre a causa, podendo identificar que as dúvidas sobre as funcionalidades da forma de atuação da Avaaz ganham destaque surgindo questionamentos sobre a legalidade das petições, a legitimidade e confiabilidade da ONG. A defesa dos distintos interesses fundados nos argumentos expostos através dos comentários contra ou a favor do senador traz a tona discussões sobre pontos de vista que se tornam acirradas.

63

O protesto ocorreu no dia 20 de Fevereiro de 2013, sendo divulgadas fotos do acontecimento na própria fanpage do Avaaz. Essa ação se tornou os posts do dia 25 de Fevereiro de 2013.

77 O papel da Avaaz desempenhado dentro do Facebook é de meramente divulgar as petições que tenham atingido um grande destaque e participação elevada de usuários. Não há feedback entre a instituição e os sujeitos nas dúvidas geradas, também não se tem um controle sobre o material produzido pelos usuários. Ou seja, a instituição não tem um acompanhamento do que é produzido neste ambiente.

78 6 CONCLUSÃO

A presente pesquisa que foi amparada por métodos que serviram para delimitar o caminho a ser percorrido e a teoria que visava por uma base aos fatos observados com o intuito de dar suporte na compreensão do processo investigativo, se tornou fundamental para se pensar sobre o objeto empírico. Foi a partir desse processo que se estruturou a base para a análise e observação dos fenômenos dentro da fanpage da Avaaz no Facebook. O uso dos sites de redes sociais pelos movimentos sociais e que propõem explorar as potencialidades de alcance das ações ciberativistas dentro da internet, se configura numa forma de aproximação e acessibilidade dos sujeitos conectados a rede. O custo para a divulgação é baixo e possibilita uma interação participativa transnacional. De acordo com a observação feita, ao utilizar o Facebook na divulgação das campanhas, a Avaaz conseguiu ampliar a visibilidade da petição de cassação do senador Renan Calheiros, mas a forma como o fazem é deficitária. A fanpage passa a ser apenas um repositório de posts com relação às causas que ganham maior destaque e participação dos usuários cadastrados em seu site, ou seja, as campanhas que são divulgadas no site de rede social são aquelas que adquirem uma grande participação que só é feita pela quantidade de ‘assinaturas’ que recebe. A Avaaz não se apropria das possibilidades de interação com os usuários que a fanpage no Facebook disponibiliza, em nenhum momento se insere dentro dos posts comentando, afirmando, refutando, esclarecendo ou convocando aqueles que lá expuseram suas opiniões. Dessa forma pode-se afirmar que esse ambiente possibilita uma ampliação da participação política de seus usuários que se mobilizam e percebem nesse ambiente uma forma de expor seus pensamentos. Contudo a falta de mediação da Avaaz, na construção de um debate democrático on line se vê enfraquecido e a possibilidade de oportunizar a participação dos sujeitos para o além desse ambiente, se inserindo no âmbito off line, conforme a petição analisada nessa pesquisa. Dentro das hipóteses estabelecidas para essa investigação, pode-se dizer que a primeira delas, que trata do poder de mobilização social estabelecido pelo uso do Facebook se tornar útil para disseminar ações cibertativistas acontece de fato. A convocação de outros usuários do site de rede social por seus amigos que

79 participaram da causa através da colaboração com a petição ocorre no momento em que estes interagem com os posts dispostos na fanpage através das curtidas, compartilhamento e comentários, fazendo com que a causa se torne conhecida. A segunda hipótese que é fundada na superficialidade dessas ações estabelecidas on line e que não possuem credibilidade por estarem restritas dentro da internet está parcialmente correta. Pode-se dizer que há sim uma relevância na participação da causa dentro da proposta estabelecida no Facebook, pois expõem o conteúdo que ficaria exclusivamente a cargo do site e assim amplia sua visibilidade. Mas, como foi expressa nessa hipótese essa participação só ocorre na internet mesmo que seus usuários tivessem o interesse de extrapolar essa participação. A realização deste trabalho oportunizou para o acadêmico um conhecimento que antes não se tinha sobre diversas questões a respeito dos assuntos abordados. A escolha de seu tema se deu de forma espontânea originada a partir da dúvida surgida frente à legalidade da petição sobre o impeachment do senador Renan Calheiros. Sendo assim, fez com que se buscasse um fio condutor na construção dessa pesquisa e a partir disso olhar para como alcançar as respostas necessárias. De uma visão genérica e superficial sobre o que são movimentos sociais ilustra muito bem esse processo reflexivo percebido após o desenvolvimento desta pesquisa. No inicio, o autor não considerava, por exemplo, um partido político como sendo um agente de mobilização social, seu pensamento a respeito do que se configurava um movimento social era praticamente restrito aos protestos de rua, mesmo esses sendo muitas vezes organizados por partidos políticos. Outro grande fator que contribuiu nessa construção e que ao longo da pesquisa exploratória e bibliográfica veio à tona foram as diferentes teorias relacionadas aos movimentos sociais. Identificar qual dessas teorias se relaciona ao que a ONG propunha despenderam da leitura e observação da forma de atuação da Avaaz, assim, sendo possível julgar a qual delas esse movimento mais se inseria. O não conhecimento e de certa forma, o desinteresse sobre os estudos relacionadas à internet ao longo de sua graduação, fez com que o acadêmico encontrasse mais um grande desafio na construção dessa pesquisa. A forma de como olhar para a internet necessitou de um estudo que visasse desde a origem da informática até a mudança cultural que ela trouxe para a sociedade e a partir disso, conceituar ciberativismo. Esse caminho se fez necessário pois acreditou-se que seria uma forma mais didática de entender o processo.

80 Tendo esses fatores influência direta na percepção de como trabalhar com um objeto tão distante da realidade do mesmo proporcionou grandes desafios e dúvidas ao longo de sua construção; pode-se afirmar que a presente pesquisa oportunizou uma nova percepção da realidade e de leitura da sociedade como um todo

e

principalmente

pela

ampliação

do

conhecimento

dos

processos

comunicativos estabelecidos ao longo da investigação. É importante ressaltar que a partir desta pesquisa é possível dar uma continuidade no processo de análise de fanpages de movimentos sociais verificando como interagem com seus usuários. Outra possibilidade é de aprofundar a compreensão conceitual, teórica e metodológica frente aos processos de usos através de outras demandas trazidas pela Avaaz que venham a gerar e que ganhe destaque a fim de identificar se a instituição adotou outra postura na política de atuação dentro de sua fanpage no Facebook. Acredita-se que dentro daquilo que foi proposto em seu objetivo, a presente monografia atingiu-o, pois de certa forma a utilização do site de rede social Facebook oportunizou um espaço para a discussão e exposição democrática potencializando a participação social no caso da petição do senador Renan Calheiros.

81 REFERÊNCIAS ABRAMOVAY, Pedro.. ‘Nosso controle é mais rígido que o de petições escritas’, doz Abramovay. Entrevista concedida a Bruno Lupion. Estadão. 11 de mar. de 2013. Disponível em: Acesso em 12 de set. de 2013. ACTIVISM. Disponível em: Acesso em: 20 de jul. 2013. ARAÚJO, Willian Fernandes. “We open governments”: Uma análise de discurso do ciberativismo praticado pela organização. Dissertação (Mestrado em processos e manifestações culturais). Feevale, Novo Hamburgo, 2013. Disponível em: Acesso em 25 de out. de 2013. ASSIS, Érico Gonçalves de. Táticas lúdico-midiáticas no ativismo político contemporâneo. Dissertação (Mestrado em ciências da comunicação) – Curso de Pós-graduação em ciências da comunicação, Faculdade de Ciências da comunicação. Universidade do Rio do Sinos, São Leopoldo, Brasil, 2006. Disponível em: Acesso em: 15 de out. de 2013. AVAAZ. Disponível em: Acesso em 04 de out. 2013. ______. Destaques. Disponível em: Acesso em 19 de mar. de 2013. ______. Pesquisa global: O que o Avaaz deve fazer em 2013?. Disponível em: Acesso em 28 de ago de 2013. ______. Impeachment do Presidente do Senado: Renan Calheiros. Disponível em: Acesso em 12 de out. de 2013. ______. Quem somos. Disponível em: Acesso em 20 de fev. de 2013. ______. Quem somos: nossa comunidade. Disponível em: Acesso em 15 de abr. de 2013.

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ANEXOS

91 ANEXO A – Como Criar uma petição

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