CIBERESPAÇO E A CIDADE: UM ESTUDO SOBRE O DESAPARECIMENTO DAS VIDEOLOCADORAS NA CIDADE DE SANTO ANDRÉ

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FUNDAÇÃO SANTO ANDRÉ CÁSSIO PEREIRA

CIBERESPAÇO E A CIDADE: UM ESTUDO SOBRE O DESAPARECIMENTO DAS VIDEOLOCADORAS NA CIDADE DE SANTO ANDRÉ

SANTO ANDRÉ 2015

CÁSSIO PEREIRA

CIBERESPAÇO E A CIDADE: UM ESTUDO SOBRE O DESAPARECIMENTO DAS VIDEOLOCADORAS NA CIDADE DE SANTO ANDRÉ

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para obtenção do Grau de Bacharel e Licenciado em Geografia, à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Centro Universitário Fundação Santo André Orientadora: Profa. Dra. Cecília Cardoso Teixeira de Almeida

SANTO ANDRÉ 2015

Folha de Aprovação

Candidato: Cássio Pereira Título: Ciberespaço e a cidade: um estudo sobre o desaparecimento das videolocadoras na cidade de Santo André

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para a obtenção do grau de Bacharel e Licenciado, à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Centro Universitário Fundação Santo André, curso de Geografia.

Data: _____/_____/__________

Prof. (a) __________________________________ Ass:__________________ Instituição:

Prof. (a) __________________________________ Ass:__________________ Instituição:

Prof. (a) __________________________________ Ass:__________________ Instituição:

PEREIRA, Cássio

Ciberespaço e a cidade: um estudo sobre o desaparecimento das videolocadoras na cidade de Santo André – 2015 - 85 f.

Trabalho de Conclusão do Curso de Licenciatura e Bacharelado em Geografia – Centro Universitário Fundação Santo André – Santo André. 2015 Orientador: Prof.ª Dr. ª Cecilia Cardoso Teixeira de Almeida

1. Geografia 2. Videolocadora 3. Dinâmicas Urbanas 4. Ciberespaço

Dedicatória

Dedico este trabalho para meu pai Ernesto Barreto Pereira (in memoriam), com quem fui incontáveis vezes à videolocadora, foi o grande responsável pelo meu interesse no cinema e que sempre me incentivou em persistir na Geografia.

Agradecimentos À minha mãe, Elisabete Aparecida Cunha da Fonseca e meu irmão, Fábio Ernesto Pereira não apenas pelo incentivo no trabalho, mas também pelo apoio na minha escolha universitária. Aos meus familiares: Tio Aluízio e Tia Bel, Bárbara Mean, Igor Alves, Giovanna Mean; Tio Selmo, Tia Zilda, Fernando, Carolina, Alex, Renata e Dario; Tia Cecília, Tio Vanderlei, André, Juliana, Adilson e Gisele; Tia Lídia, Fausto e Thiago, e minhas duas avós, Alvanira (in memoriam) e Lourdes (in memoriam), por ajudarem a formar a base do meu caráter. À minha professora, orientadora e amiga, Cecília Cardoso Teixeira de Almeida, que se prontificou em orientar este trabalho. Aos professores Glauco Zegna, Fabiana Ferreira, Carolina Gamba, Marco Aurélio Painelli Marsitch e Glória Castro pelas contribuições acadêmicas, ao sanarem minhas dúvidas durante as aulas, durante o trabalho, e a amizade oferecida em momentos descontraídos. Aos meus amigos de Fundação Santo André: Tamires B. Spinosa, Felipe C. Lima, Wagner Nunes, Henrique Alves, Leandro Malfi, Rodrigo Oliveira, Ismael Bastos, Jeferson Levi, Anderson Bento, Deise Cristina, Junior Moreira, Felipe Cézare, Fábio Nascimento, Claudio Zamboni., Claudio Freddi., Wendel Dias, Celso Figueiredo, Gilmar Trindade, Wendel Camargo, Iago Nieri e a todos muitos outros que contribuíram durante a minha jornada, e para a conclusão deste trabalho

Aos meus amigos da UNESP Ourinhos: Marcel Domingos, Mário Sérgio, José Claro, Fernando Machado, Roger Konda, André Latorre, Gérson Vasconcellos e Emiliano Brito, por terem feito parte de uma experiência fantástica ao conviverem comigo durante 1 ano e meio, e que ajudaram em algum momento com a realização deste trabalho. Ao professor Lucas Labigalini Fuini pelos primeiros incentivos à pesquisa na universidade. Aos meus amigos e companheiros de estágio da EMPLASA: Caio Nícolas, Henrique Diniz, Victor Semaan, Fernando Tura, Bruno Cândido, Ana Madela, Pedro Dantas, Joilson Garcia, Matheus Augusto, Jaqueline Ogliari, Leila Sampaio, José Paulo Cordeiro, Thamiris Barreis, Pedro Monteiro, Luiz Fuzile, Sara Duarte, Rafael Oliveira e Andreína Nigriello, pelas diversas discussões realizadas sobre o assunto, e por ouvirem muitas vezes minhas justificativas e empolgação de desenvolver este trabalho. Aos meus eternos amigos dos tempos de Ensino Fundamental e Ensino Médio: Lucas Adolfo, Lucas Barrionuevo, Vinicius Oliveira, Eduardo Henrique Paulino, Gustavo Pessoa, Fernando Santin, Rafael Guariento, Heverton Luz, Henrique Oliveira, Hugo Vasconcellos, Gleisom Barbosa, Fausto Roberto, pelo apoio nas horas difíceis desde antes eu sequer pensava em cursar Geografia.

Epígrafe

Jamais houve na história um período em que o medo fosse tão generalizado e alcançasse todas as áreas da nossa vida: medo do desemprego, medo da fome, medo da violência, medo do outro. Milton Santos

RESUMO Este trabalho visa estabelecer uma relação entre o desaparecimento das videolocadoras, as dinâmicas urbanas provenientes do sistema toyotista de produção e o comportamento virtual das pessoas na Internet. Será apresentado uma comparação entre a antiga grande multinacional das videolocadoras físicas do mundo e como sua principal concorrente, associada à Internet e os novos serviços oferecidos por ela fizeram que essa e outras videolocadoras se tornassem quase que extintas. Também será apresentado como uma vida urbana, pautada no Just in Time faz com que cada vez mais, as pessoas se tornem mais dependentes da flexibilidade de serviços da Internet, enquanto que convivem em um mundo de avanços tecnológicos que mudam a percepção do espaço urbano, e em um sentido de estranhamento para com essa cidade. A interação virtual torna-se conveniente, mas ainda representa elementos incertos e duvidosos, em uma nova maneira de interação que pretende se ausentar do espaço físico, sem se dissociar dele. Palavras-chave: Geografia. Videolocadora. Dinâmicas Urbanas. Ciberespaço.

ABSTRACT This work aims to establish a relation between the disappearance of video rental stores, the urban dynamics from the Toyota production system and the virtual behavior of people on the Internet. It will be presented a comparison with the former great multinational of video rental stores in the world, and how its main competitor, associated with Internet and the new services offered by it made them and other video rental stores becoming almost extinct. It will also pre presented how a urban life, molded into Just in Time makes each time more people to become more dependent of the flexibility from Internet services, while they live into a world of technological advances that change their perception of the urban space, in a way of alienation with the city itself. The virtual interaction becomes convenience, but it still represents unclear and doubtful elements, in a new way of interaction that intends to be kept away from the physical space, without disassociating with it. Keywords: Geography. Video rental store. Urban Dynamics. Cyberspace

Lista de Ilustrações Figura 1 Países onde existe acesso ao serviço do NETFLIX, em Abril/2015. ............... 22 Figura 2 Lojas Americanas Express: as antigas Blockbusters foram incorporadas ao estabelecimento. Foto da loja de Ipanema - RJ. ........................................................... 25 Figura 3 Velocidade da Internet Brasileira comparada aos outros países. .................... 78 Figura 4 Número de usuários de Internet no Brasil. ...................................................... 79 Figura 5 Velocidade média (MB/s) oferecidas ao NETFLIX por provedores de Internet no Brasil, em Outubro de 2015. ......................................................................................... 79

Lista de Tabelas Tabela 1 Cotação da Netflix na bolsa de Valores NASDAQ no dia 09/11/2015. ............ 28

Sumário 1.

INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 14

2. O DESAPARECIMENTO DAS VIDEOLOCADORAS DO MUNICÍPIO DE SANTO ANDRÉ ......................................................................................................................... 16 2.1

MUDANÇAS DE FORMATO DAS MÍDIAS ......................................................... 16

2.2.

O INÍCIO DO PROCESSO: AS PRIMEIRAS LOCADORAS E A BLOCKBUSTER 18

2.3

NETFLIX ............................................................................................................. 19

2.4

BLOCKBUSTER X NETFLIX .............................................................................. 22

2.5

DESFECHO TECNOLÓGICO ............................................................................. 28

2.6 DIREITOS AUTORAIS E A INDÚSTRIA FONOAUDIOGRÁFICA .......................... 30 2.7

PIRATARIA COMO RESISTÊNCIA .................................................................... 32

2.8

O DESAPARECIMENTO DAS VIDEO LOCADORAS NO ABC PAULISTA....... 34

3

NEOLIBERALISMO, TOYOTISMO, DINÂMICAS URBANAS E SOCIAIS ............. 36

3.1 O DESENVOLVIMENTO DO NEOLIBERALISMO NO GLOBO ............................. 36 3.2

NEOLIBERALISMO E TOYOTISMO NO BRASIL .............................................. 38

3.3

O TOYOTISMO PERANTE O FORDISMO NA INDÚSTRIA E NA SOCIEDADE 41

3.4

DA CIDADE FORDISTA, PARA A CIDADE TOYOTISTA. ................................. 46

3.5 O MEDO COMO PATOLOGIA URBANA ............................................................... 52 4

O AVANÇO DA TECNOLOGIA E O CIBERESPAÇO............................................ 55

4.1 TRANSFORMAÇÕES DA VIDA URBANA PERANTE AS NOVAS TECNOLOGIAS ...................................................................................................................................... 55 4.2

A FORMAÇÃO DAS REDES DE INFORMAÇÃO. .............................................. 61

4.3

O MARCO CIVIL DA INTERNET ........................................................................ 64

4.4

CIBERESPAÇO .................................................................................................. 68

4.5

OS CRIMES DIGITAIS E A DEEP WEB. ............................................................ 73

4.6

A QUALIDADE DA INTERNET NO BRASIL ...................................................... 77

5

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 80

REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 82

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1. INTRODUÇÃO

A Geografia é a ciência que estuda as relações entre o homem, com o homem e o meio em que vive. Com os avanços tecnológicos, o homem tem realizado outras maneiras de interação com o meio e com o próprio homem, alterando sua percepção do espaço e sua forma de consumo de serviços e produtos. Os serviços online, e a própria vida social das pessoas começa migrar para a Internet, em um novo tipo de espaço, e vários serviços oferecidos nas cidades, com uma condição de trabalho direto com o consumidor, deixam de existir para uma existência virtual, capaz de alcançar mais lucros, fazendo com que novas formas de apropriação da força de trabalho apareçam na cidade O primeiro capítulo explicará um pouco da evolução dos sistemas de mídia, e traçará um parâmetro entre a multinacional de locadoras físicas, Blockbuster. Será apresentado seu processo de expansão e ápice, até ser confrontada com a concorrente NETFLIX, e estabeleceremos a relação entre os tipos de serviços entre uma e outra, e o desfecho do que acontecera com a Blockbuster no Brasil e no mundo. Ainda nesse capítulo, comentaremos um pouco sobre direitos autorais, sendo esses estabelecidos através de um grupo de empresas vendendo uma ideia de “Guerra ao Terror” com os produtos piratas, e como a pirataria pode ser entendida não somente como um crime, mas sim como um processo de resistência perante os preços abusivos e estratégias das videolocadoras em taxarem altos preços nas diárias. Ao final do capítulo, serão mostrados alguns dados relacionados a Santo André. O segundo capítulo mostrará como o comportamento das cidades vem mudando, e uma retomada histórica de como o Neoliberalismo encontrou no Toyotismo e nos avanços tecnológicos, forças para pregar sua ideologia de enaltecimento do individualismo, realizando a perda de espaços públicos na cidade, e como o medo tornase um ingrediente precioso para que os produtos online, tal como o NETFLIX, sejam vistos como uma alternativa para uma cidade que as pessoas têm medo de transitar. No terceiro capítulo, a tecnologia será mais levada a fundo, nas discussões tocante as transformações e evolução do sistema midiático e informacional, com sua estreita

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relação com o Capital Financeiro, e como o Estado Brasileiro têm se comportado em relação aos crimes virtuais, os perigos da Deep Web e o Marco Civil da Internet. E nesse capítulo ainda, teremos uma breve discussão sobre o Ciberespaço. Colocarse-á algumas definições deste conceito, uma comparação com a definição de Espaço do professor Ruy Moreira, e um alarme para a importância do estudo deste conceito na Geografia, a fim de preparar para uma nova sociedade que começa a se esconder entre quatro paredes de condomínios fechados, e buscar a liberdade dentro do virtual, onde ainda não se conhece muito bem os perigos que rondam a Internet, e as consequências da tecnificação do trabalho. Este trabalho, já se avisa, não se trata de uma nostalgia sobre preservar as videolocadoras, mas de desmitificar a ideia de que as videolocadoras somente foram falindo por incompetência, destruição criadora do capitalismo ou a pirataria. Há diversos elementos que estão associados a não somente as videolocadoras, mas também muitas lojas físicas de diversos tipos de serviço. Os serviços se alteram, mas cada vez menos o capital se expande para pontos mais longínquos utilizando menos mão-de-obra, e os resultados dessa nova cidade precisam ser estudados. E o Ciberespaço será de inestimável valor para a Geografia da nova contemporaneidade.

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2. O DESAPARECIMENTO DAS VIDEOLOCADORAS DO MUNICÍPIO DE SANTO ANDRÉ Para esta primeira parte do trabalho, estudaremos as dinâmicas comerciais de duas grandes empresas do entretenimento focadas na locação de filmes, considerando as diferentes concepções de organização, abordando seus respectivos contextos, realizando as interligações entre as duas quando existentes. Além disso, será contextualizada a realidade andreense no ramo, e as causas pelas quais as videolocadoras estão fadadas a desaparecer. Inicialmente, será contada a evolução dos filmes em reprodução domiciliar, partindo desde a criação das fitas de vídeo, até os atuais serviços de streaming. Além disso, será necessário contar um pouco a história das duas multinacionais, e de como suas histórias se convergiram, juntamente com o resultado de suas disputas com suas diferentes maneiras de realizar seus serviços, estabelecendo assim o estudo de caso proposto por este trabalho. A ”Onlinezação” dos serviços é algo que vem chamando a atenção de vários profissionais, desde professores, jornalistas, empresários, bem como estudantes, consumidores e produtores, entre outros. O aumento dos serviços online disponíveis em diversos ramos das atividades comerciais, possibilita a construção de uma sociedade interconectada, com interações mais rápidas providas pela velocidade, indicando uma pseudodemocratização da rede de internet, sendo essa mais acessível. Entretanto, ela cria uma nova problemática que verificaremos com mais atenção neste trabalho.

2.1 MUDANÇAS DE FORMATO DAS MÍDIAS

A mudança das mídias foi muito importante para que novas empresas ascendessem no mercado internacional, sobrepujando suas concorrentes. Atributos técnicos, como maior capacidade de memória e melhor qualidade de som, foram fundamentais para a evolução e troca dos formatos de mídia utilizados nos filmes. As primeiras dessas são a Sony, com o formato do Betamax em 1975, e a JVC, com o VHS, em seguida em 1976. Apesar das fitas Betamax possuírem uma qualidade tecnológica superior nos aparelhos de videocassete, ao ponto de que foram utilizadas

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durante anos pelas emissoras de televisão para reprodução de sua programação em filmes, as fitas VHS foram mais aceitas devido a propaganda realizada e os preços mais vantajosos. As fitas VHS, devido ao seu custo mais baixo, acabaram sendo melhor aceitas para as recentes videolocadoras e a apropriação de aparelhos que tinham custos ao consumidor mais baixos do que aqueles que reproduziam as fitas Betamax. Por ter permitido sua patente, outras empresas passaram a produzi-la, como a Philips, JVC, entre outras. A mudança das fitas VHS nos filmes para o formato do DVD, em 1995, assim como as fitas K7 e o vinis de música para os CDs fizeram alguns anos anteriores, criaram uma nova etapa na indústria das mídias e nas videolocadoras. A nova tecnologia tem uma qualidade muito superior de áudio e vídeo, juntamente com custos menores de produção, acrescidos da possibilidade de carregar informações extras e possibilidades de áudio, eliminando a separação entre filmes dublados ou na língua original, além de uma possibilidade de vida superior ao do VHS, que sofriam costumeiramente com embolorados, ou com o videocassete destruindo a fita. Entretanto, a fácil comercialização das mídias virgens fez com que o comércio pirata assolasse o mercado das videolocadoras e lojas de CDs de música, tornando um adversário quase que imbatível. A comercialização dos computadores e da Internet para a comunidade civil, e as primeiras transmissões de TV via internet, apontavam uma nova tendência da sociedade mundial: estar conectado. Os novos meios exigem novos usos cujos efeitos produzirão uma diversificação radical que dependerá da variação das distâncias frente às telas, do compromisso entre o caráter portátil e funcional dos terminais telefônicos, assim, como de caráter coletivo ou individual. (VILCHES, 2003, p.54 )

Nessa concepção citada por Vilches, relacionadas aos serviços que podemos incluir o mercado de filmes, temos uma importante característica do futuro mercado, já com seu consumo direcionado. Não à toa, temos o crescimento cada vez mais de televisores com a possibilidade de downloads e instalações de aplicativos, muito proporcionados por uma nova classe de produtores Mas não somente televisores e computadores: os serviços de aplicativos em celulares demonstram uma nova realidade relacionada ao consumo, no qual hoje é possível assistir filmes através dos celulares e tablets. E poderíamos citar outros

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aplicativos que surgem como uma nova alternativa ao deslocamento físico de pessoas até mercados, bancos, videolocadoras, ou seja, os mais diversos serviços e produtos passam a ter uma nova concepção de relação com os contratantes de serviços e vendedores em lojas. Uma relação sem contato físico, mais cômoda para os usuários

2.2.

O

INÍCIO

DO

PROCESSO:

AS

PRIMEIRAS

LOCADORAS

E

A

BLOCKBUSTER

A primeira videolocadora abriu em 1977, na cidade de Los Angeles, e embora fosse pequena, com apenas 50 títulos da 20th Century Fox, ela foi extremamente aceita pela população que a frequentava, tanto que dono da empresa, George Atkinson, aumentou para um total de 42 lojas em 20 meses, dando o nome à franquia de The Video Station, iniciando o processo para que outras vídeolocadoras fossem abertas em diversos locais o país, incluindo a própria Blockbuster. A Blockbuster foi uma rede de videolocadoras fundada por David Cook, que era experiente na administração de grandes galpões e banco de dados. A primeira loja foi aberta em 1985, na cidade de Dallas, e sua estratégia era de juntamente com os lançamentos do cinema na época, a loja se adaptar aos mercados no qual se instalavam, atendendo gostos específicos de cada cliente, além de possuírem um grande estoque de filmes para a disponibilidade de locação. Para a maximização dos lucros da empresa, e das outras que seguiram juntamente a elas, foi utilizado o Princípio de Pareto. Este é conhecido pelos administradores como Estilo 80/20, onde 80% do estoque da videolocadora deveriam ser direcionados aos 20% de filmes que possuíam maior demanda. O princípio de Pareto hoje é aplicado em casos de desproporcionalidade entre causa e efeito. Um exemplo claro do princípio é a comparação de que 8% da população mundial concentram 50% da riqueza mundial (ONU, 2014). Empresários de vários ramos decidiram abrir franquias das lojas, incorporando suas rivais menores, até que o empresário Wayne Huizenga a comprou por cerca de 20 milhões de dólares em 1987, dando início a um longo processo de expansão voraz, que

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incluiu a compra da The Video Station, que na época era a grande franquia americana, mas que dava sinais de fraquejo perante a potência texana. No início de 1990, a Blockbuster comprou a rival Erol, diversificando ainda mais os seus produtos, disponibilizando para a locação CD’s de música. Adquiriu produtoras de filmes, realizando uma fusão com a VIACOM, empresa de mídia de massa, por uma quantia de aproximadamente de nove bilhões de dólares. Na época da fusão, haviam cerca de 3600 lojas da Blockbuster espalhadas pelo planeta. Durante este longo período de expansão para outros países, foram adquiridas as principais redes da Europa, Ritz e Cityvision. Com a força do monopólio no mercado, os preços subiram de 2 dólares, para até 8 dólares os lançamentos, conhecidos como on-demand. Em 1998, a Blockbuster passa a criar material exclusivos, desde séries, filmes e documentários, a fim de otimizar sua produção, maximizar seus lucros e rivalizar com sua principal concorrente, que na época era a HBO. Em 1999, a empresa controlava 24% do mercado mundial, avaliado em $18,5 bilhões de dólares. A força de lucro da empresa estava nas diárias cobradas dos clientes quando não devolviam os filmes nas datas previstas, mas esta política acabou sendo encerrada em 2006, devido uma propaganda considerada enganosa, que será explicada nos próximos tópicos.

2.3 NETFLIX

Em 1997, de acordo com um mito convenientemente contado, um cliente da Blockbuster chamado Reed Hastings, confundiu a fita VHS do filme “Apollo 13”, e esqueceu de devolvê-la durante 6 semanas. Quando sua esposa descobriu tal ocorrido, ela ficou extremamente nervosa com a falta de atenção do marido. Após uma discussão, na qual Hastings foi convidado a se retirar de casa, ele descobriu uma academia, que funcionava através de um preço mensal fixo: o usuário poderia usar a academia o quanto achasse necessário, podendo ser utilizada a partir do momento que abrisse até a hora de encerramento das atividades, como usa-la uma vez por mês. Pensando nas inovações tecnológicas que ocorreram até aquele momento, tanto ao setor quanto a própria acessibilidade da internet à comunidade civil norte-americana, ele formou a Netflix, em

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parceria com Marc Randolph. A sede se encontra na cidade de Los Gatos, na Califórnia, e conta com 2200 funcionários espalhados pelo mundo. Aproveitando do tamanho e peso dos novos aparatos tecnológicos, a empresa iniciou suas atividades na locação de filmes através de pedidos feitos pela Internet e entregue pelos correios, no qual era taxado da mesma maneira que uma locadora física qualquer. Pautando-se na utilização de empresas terceirizadas e estatais para a entrega dos produtos, utilizou-se o sistema Just in Time do fordismo, que será melhor explicado no decorrer do trabalho. A vantagem de iniciar com um serviço via-internet, por mais que ela ainda fosse uma novidade para uso doméstico nos Estados Unidos, é de que ela nunca fecha, pode ser acessada a qualquer momento e a realidade atual mostra que pode ser de lugares muito diferentes. Em uma reportagem da revista Businessinsider1, divulgada 31/01/2014, Hastings confessou que tentou vender parte de sua empresa para a Blockbuster. Em 2003, com mais de um milhão de clientes, era a principal empresa de entrega de DVDs pelos correios, e ocorrera a possibilidade de integrar o serviço online à rede Blockbuster, sendo recusada pelos acionistas da empresa texana. A venda frenética de aparelhos de DVDs fez com que a empresa ganhasse mais adeptos. Para facilitar as entregas no prazo e melhorar a qualidade dos serviços prestados, foram realizados acordos com transportadoras e empresas dos correios, superando a crise administrativa que Netflix passava naquele momento. Vemos nesse caso, uma importância fundamental do Just in Time toyotista que ocorrera na Netflix. Sendo o padrão industrial vigente naquele momento, essa adequação para que as atividades fossem realizadas de maneira mais automática, com estoques menores e uma facilidade de organização e deslocamento dos produtos. No fim de 1999, ela mudou seu procedimento que permitia o aluguel de quantos filmes fossem necessários, baseado em um plano mensal de locação. Esse procedimento, segundo Affuah (2009), permitia que Netflix diferenciasse os seus clientes pela frequência em que eles assistiam a filmes alugados, mas que não foi inicialmente efetivo. No site da empresa, os clientes indicavam os filmes que eles tinham a intenção de alugar, possibilitando o maior controle de qual filme deveria ser adquirido. A medida

1

Disponível em http://www.businessinsider.com/blockbuster-missed-buying-netflix-2014-1 (Acesso em 13/05/2015)

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que ele devolvia um dos filmes alugados, outro era enviado, possibilitando um maior dinamismo com os clientes, sem preocupa-los com os custos de locação, já que o pagamento do serviço mensal eliminava taxas de atrasos. Operando apenas alguns depósitos de controle de envio de filmes, o serviço tinha custos muito inferiores ao das locadoras físicas. A sua capacidade de renovação e de especialização a um determinado grupo de clientes ofereciam vantagens perante o modelo das lojas padronizadas da franquia texana. Este sistema é conhecido como Cinematch. A empresa então passou a produzir alguns filmes independentes, mas que não fizeram tanto sucesso. Entretanto, foi enxergada uma oportunidade de melhor competitividade dentro do mercado, que seria melhor aproveitada pela empresa quando se tornou online. A primeira experiência utilizando Streaming foi realizada a partir de junho de 2007, quando foi criado o sistema Watch Now, permitindo que os usuários assistissem os filmes diretamente no computador. Entretanto, por se tratar ainda de uma experiência e ainda sem muitas certezas de aderência, havia um número muito menor de filmes disponíveis para serem assistidos, contando com apenas aproximadamente 2.000 títulos, das quase 60.000 produções disponíveis. Entretanto, este sistema mudou a realidade e a acessibilidade dos filmes, podendo ser assistido de diversos locais, em qualquer hora do dia. Antes de entrar em uma disputa direta com a Blockbuster, Netflix enfrentou uma forte concorrência com a maior rede de supermercados no ano de 2002, Wal-Mart, quando esta decidiu entrar no mercado de aluguel de DVDs online, aproveitando os estoques de venda dos supermercados, sendo possível o aluguel de lançamentos quase que instantâneos. Entretanto, o centro de distribuição dos DVDs tinha menor alcance, promovendo uma demora de 4 dias para as partes mais distantes do país. Apesar de melhorar sua capacidade de distribuição, as duas empresas entraram em um acordo em 2005. Wal-Mart não apenas desistiu do negócio, como direcionou seus clientes para sua grande competidora, sem reajuste de preços. A Blockbuster tentou trazer os antigos clientes do Wal-Mart com promoções, a fim de enfraquecer a empresa californiana.

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Figura 1 Países onde existe acesso ao serviço do NETFLIX, em Abril/2015. http://qz.com/502330/much-of-the-world-has-faster-netflix-than-the-us/. Acesso em: 08 nov. 2015

Fonte:

2.4 BLOCKBUSTER X NETFLIX

Antes da disputa entre as duas empresas, Netflix foi oferecida para a Blockbuster na época por 50 milhões de dólares, sendo refutada a oferta. Hastings (dono da Netflix) venderia 49% da empresa, em um processo que funcionaria como uma aliança, se tornando o detentor do serviço de streaming da empresa. Entretanto, a Blockbuster preferiu não investir no modelo proposto, já que o cenário de internet americano apesar de crescente, ainda tinha a maior parte dos conectados com acesso dial-up, conhecido como conexão discada. Além disso, Netflix estava em um cenário de queda de lucros e apenas 300.000 inscritos em seu sistema e ainda dependiam do sistema de correios para realizar as entregas, enquanto a Blockbuster já trabalhava em escala global, com cerca de 7700 lojas espalhadas mundialmente. A Blockbuster anunciou sua participação dentro dos serviços online em 2004, concorrendo com Wal-Mart e Netflix, disponibilizando quase os mesmos filmes que o catálogo dessas duas empresas ofereciam. Parte da estratégia era encorajar os

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assinantes online a irem até suas lojas físicas, pois eram dados bilhetes para aluguel gratuito de filmes todo mês para cada um dos assinantes. O objetivo era trazer cerca de 4 milhões de clientes de serviços online para as lojas. 8% dos lucros do mercado de vídeo locadoras estavam baseados em serviços online, segundo a empresa Adams Media Research. (AFFUAH, 2009) Para acomodar esse tipo de serviço, foi estabelecido um novo tipo de método e estoque de distribuição, sendo necessário o aluguel de vários depósitos distintos daqueles utilizados de suas lojas físicas e, uma reorganização do processo de logística, semelhante ao qual Netflix havia feito no serviço de entrega de DVDs. Entretanto, ela provocou diversos dos problemas que culminaram com a falência da empresa. Os custos iniciais, de aproximadamente 50 milhões de dólares, além das despesas operacionais, como o aluguel dos estabelecimentos, os pagamentos de funcionários e os serviços de entrega, não trouxeram retorno necessário para a empresa, que perdeu o lucro promovido pelas multas de atraso dos filmes. A baixa aderência aos serviços da empresa foi um fator determinante, e mesmo com os gastos em marketing e propaganda, este serviço provocou muitos prejuízos financeiros, mostrando as limitações e as dificuldades que a empresa teria de sustentar este tipo de serviço e a deficiência que viria afetar as lojas físicas. Em 2004, período de máxima expansão, contava com aproximadamente 60.000 funcionários, em 9.000 franquias. A empresa se encontrou em dificuldades financeiras graves, e os investimentos em propaganda foram rispidamente reduzidos, mas tiveram que ser retomados devido o crescimento da Netflix, que havia eliminado a concorrência do Wal-Mart. Para isso, fez um processo conhecido como dumping que consiste na queda brusca dos preços de seus produtos (locações de filmes) a fim de tentar eliminar concorrentes. Além disso, algumas franquias faziam que os DVDs pedidos pela internet no serviço online, pudessem ser devolvidos diretamente a uma loja física, promovendo a última cartada da Blockbuster, o Total Access. Lançado no fim de 2006, os clientes poderiam devolver os filmes adquiridos online tanto pelo sistema de entregas, quanto para uma loja física, e teriam descontos para alugar naquela loja. Entretanto, seis meses depois, os descontos foram retirados e, apesar dos custos operacionais terem diminuído, e o plano online ser mais barato do que

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o oferecido pela Netflix, ele não oferecia o serviço de Streaming, hoje o carro-forte da multinacional. Albarran e Otteson (2011), afirmam de que caso tivessem o lançado anteriormente, provavelmente Netflix não teria forças para competir com a Blockbuster. Mas ainda assim, era a empresa mais valiosa do ramo, com valores estimados de 5 bilhões de dólares em 2006. Entretanto, além da concorrência e o crescimento de serviços online, problemas administrativos internos e desentendimentos entre os mandatários da empresa desestabilizaram as estratégias da Blockbuster Em 2005, a empresa foi processada e obrigada a retirar as tarifas aplicadas às devoluções fora de prazo superiores a uma semana, avisando de que o plano explicado e as multas estabelecidas não eram claras aos consumidores. Os funcionários, segundo o procurador do Peter Harvey, ofereciam informações erradas ou falsas aos clientes, que deveriam ser restituídos das multas recebidas. O valor da multa do filme ultrapassava o valor de compra, sendo impossibilitado a Blockbuster de cobrar acima desses valores, exceto em caso de venda do filme. As multas eram a grande fonte de lucro da empresa, e o fim delas foi o primeiro grande passo para a falência da empresa. A partir de 2007, a Blockbuster viu suas operações reduzirem cada vez mais. No Brasil, as Lojas Americanas, pertencente à BWU Comércio e Entretenimento S.A e a família Moreira Salles (antiga proprietária do Unibanco), compraram os direitos da marca, além dos locais das locadoras, a fim de aumentar o número das suas lojas Express, em busca de um maior contato com classes sociais de melhor poder aquisitivo. Hoje, salvo raras exceções, tais como os terminais de locação de filmes no Rio de Janeiro e uma autoral Blockbuster em Sorocaba – SP, a empresa resume suas atividades como três a quatro prateleiras em algumas dessas lojas. A pirataria também influenciou o fim das operações no Brasil, sendo um forte fator para o fim da empresa em países como Portugal e Peru.

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Figura 2 Lojas Americanas Express: as antigas Blockbusters foram incorporadas ao estabelecimento. Foto da loja de Ipanema - RJ. Fonte: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=87 0282&page=151. Acesso em 08 nov. 2015

Associado a um processo de crise econômica mundial, fruto da especulação do mercado imobiliário americano, a Blockbuster anunciou sua falência em 2011, após registrar um prejuízo de aproximadamente 400 milhões de dólares, obrigando a procurar um parceiro econômico para auxilia-la a pagar as dívidas adquiridas. Já haviam perdido uma grande quantidade de clientes para as concorrentes, em especial para a Netflix. Foi anunciado que mudanças aconteceriam nas franquias fora dos Estados Unidos, e o grande objetivo era acertar dívidas com outras empresas, tais como Sony, Fox e Coca – Cola. Um antigo diretor da Blockbuster e magnata do setor de telecomunicações, Carl Icahn, através da empresa Dish Network Corp., anunciou a compra da empresa por 228 milhões. A empresa só possuía um terço das lojas antes das crises administrativas, que teve como pivô o próprio Icahn, contrário a compra de empresas falidas por outros membros da cúpula administrativa da empresa.

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No Canadá, em 2011, a crise financeira iniciada nos Estados Unidos fez com que uns somatórios de quase 4 mil pessoas perdessem seus empregos com o fechamento das Blockbuster no país. O anúncio de falência da empresa fez com que a empresa perdesse o controle do nome da sua marca, fazendo com que as lojas canadenses não precisassem pagar o valor da marca, vendo sua central não receber mais o apoio financeiro das franquias. Não resistindo as pressões da queda de clientes, lucros, processos de funcionários e problemas administrativos, a Blockbuster anunciou o fim das suas operações globais, reduzindo-se a alguns serviços específicos. A ideia comercial do Netflix está no arrendamento do direito de transmitir um filme pela internet. Há um crescente elemento do capital rentista inserido na comunicação, pois não há uma necessidade de se ter uma unidade física de um determinado filme ou música, contanto que ele seja reproduzido com preços mais acessíveis ao usuário. Além do mais, é extremamente vital a liberdade de seus usuários de decidirem o que querem assistir, como uma “ação livre”. O Streaming foi adotado pela empresa em 2007, e desde então, ocupa 34% do tráfego da banda larga nos Estados Unidos, enquanto que o Youtube ocupa 13%. Os acessos são realizados por diversos meios: Smart TVs, Videogames, Computadores, Celulares e tablets. Segundo David Poltack, pesquisador da rede americana CBS, em entrevista à revista EXAME (n°1085, ano 49, n°5), o crescimento do serviço de streaming canibaliza a programação tradicional da televisão, sendo possivelmente a grande força de ruptura desse setor de mídia. E através de um serviço próprio, desenvolvem produtos próprios. A evolução tecnológica proveniente da proliferação da banda larga, com a tecnologia da fibra – óptica de maneira mais recente, foi muito importante para a potencialização do serviço, mas foi a crise financeira, que em 2008, em um momento de menores gastos por parte da população, Netflix tornar-se-ia uma alternativa extremamente viável para o lazer, e em 2011, anunciou a formação de uma nova empresa denominada Qwikster, focada em realizar as entregas dos DVDs, devido a diferença estrutural e de benefícios, ainda utilizando os procedimentos provenientes do Just in Time. Assim como um canal de TV paga para os licenciamentos de filmes e séries, Netflix também o faz, assim como produções próprias, sendo o grande destaque as séries

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House of Cards, Better Call Saul, Orange is the New Black, entre outras. E essas produções exclusivas que são a grande causa do crescimento da empresa. Graças ao sistema Cinematch explicado anteriormente, cria-se uma programação individual, enquanto que na TV se produz exclusivamente para grupos. Elabora-se então um novo modelo que desafia os antigos moldes da televisão, por mais que não os exclua, sendo explicados em duas teorias da comunicação: a da Horta Familiar como novo modelo de se fazer televisão, no qual disponibiliza-se meios para que monopólios sejam desfragmentados, contra o Cultivo Intensivo, provocado por grandes de mídia, que decidiram até o presente momento, exclusivamente o que deve ser produzido e o que deve ser considerado como cultura. Aos indivíduos como seres sociais trabalham demasiadamente e passam longos períodos de tempo diários em deslocamento entre suas residências e seus locais de trabalho. Com isso o desgaste físico e mental direciona um tipo de consumo sedentário, impedindo a ida a um estabelecimento comercial, tal como são as videolocadoras. Até os anos 90, produziu-se para a televisão. Agora, toda a produção é multimidia e multiformato. Os seriados de televisão e a informação televisiva ou jornalistica já são emitidos pela Internet, e podem ser vistos na tela do computador e do telefone (Vilches, 2003)

Para ilustrar, podemos comparar os procedimentos em uma videolocadora, e um serviço online. Ao chegar em uma, deve-se verificar se o filme que você deseja assistir se encontra disponível, e se sim, verificar a data de devolução. Lembre-se que é do preço dessa locação, que o lojista paga o aluguel e contas do estabelecimento, além de possíveis funcionários: Os preços serão mais altos. Após alugar um filme, deve-se criar um tempo na agenda do consumidor para assistir o filme alugado, e em casos de lançamentos, geralmente é dado um prazo de 24h, e caso não ocorra a devolução na data correta, será cobrado um encargo sobre o atraso do filme, que em muitos estabelecimentos é de 100%. Serviços online como o NETFLIX, eliminam encargos do gênero, além de uma variedade de filmes e séries exclusivas que podem ser assistidos de qualquer lugar através dos aplicativos para celulares e outros dispositivos móveis. O advento das chamadas Smart-TVs comprova a nova realidade do consumidor do mercado cinematográfico.

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Netflix possui cerca de 65 milhões de assinantes espalhados pelo mundo, na data de 16/07/2015, segundo uma notícia da Folha de São Paulo, quando também superou o valor de mercado da GM. No Brasil, os números são de aproximadamente 2,2 milhões de assinantes. Tabela 1 Cotação da Netflix na bolsa de Valores NASDAQ http://ir.netflix.com/stockquote.cfm. Acesso em 10 nov. 2015. Last Price

Change

109.86

4.20

Open (3.682%)

Volume

dia

Day High 113.36

Previous Close

16,146,300

no

114.06

114.00 Day Low 108.64

09/11/2015.

Fonte:

52-Week High 129.29 52-Week Low 45.08

2.5 DESFECHO TECNOLÓGICO

A mudança tecnológica foi fundamental para que a Netflix emergisse perante a rival. A frenética evolução das mídias de reprodução já apresentadas anteriormente já antecipava uma nova realidade de que a internet seria um setor fundamental para as empresas, e os serviços providos por ela seriam enriquecidos pela participação das pessoas em rede, fator visto atualmente com a plataforma multimídia das redes sociais, como Facebook e Twitter, tornando esses um serviço de contato mais direto com o cliente. Por isso, as novas empresas estão em pleno processo de concentração econômica, afim de criar redes mundiais para os fornecedores e os usuários de bens comunicacionais. Os usuários emigram para novas formas de entretenimento, de informação e de cultura, desenhadas por empresas que manterão com eles uma relação de longa duração. (VILCHES, 2002, p 33)

Os processos de inovação da Netflix, acompanhando a evolução tecnológica e as tendências

da

demanda

crescente

de

serviços

online

regulamentados,

são

extremamente importantes para o crescimento dessa empresa, mas não somente ela. Serviços de compra de música tem sido também bastante requisitado, e aliados a uma quantidade de empresas, na qual incluem produtoras e estúdios que sustentam um

29

mercado oligopolizado do entretenimento. A formação de conglomerados é um dos grandes adversários do ramo do entretenimento. Quando a Comcast adquiriu a NBCUniversal em 2010, assinantes do Netflix foram multados pelo uso excessivo de gigabytes consumidos. Este processo fez com que Reed Hastings pedisse ao governo americano que essas taxas fossem revogadas, alegando de que as medidas estabelecidas pela NBC eram ilegais e quebravam as leis de neutralidade e liberdade de expressão na Internet, sendo atendido prontamente. Retornemos à época em que a televisão passou a ser consumida pela população civil. Para Spiegel (apud EBERSOLE), a televisão adquiriu status de centro, quando na década de 1950, era comumente colocada no meio da sala. A partir da queda vertiginosa de preços dos aparelhos e, o deslocamento das famílias de classe média para os suburbs, aparelhos foram comprados para o uso individual, estabelecendo uma relação de programas mais familiares e infantis durante o dia, e um conteúdo mais adulto a noite, de acordo com o perfil de uma família consumidora da televisão na época. Ainda prevalece este formato para muitas emissoras de televisão, não somente nos Estados Unidos. Para muitas pessoas, as videolocadoras foram elementos importantes na construção do gosto pelo cinema, no qual Sadovski (2013) enxerga como gigantesco passos para trás, apesar de reconhecer a importância de serviços online aproximam os produtos a serem consumidos e a crescente possibilidade de assistir lançamentos com preços muito mais acessíveis que as locadoras, o contato físico de ir até uma videolocadora e conversar com pessoas e pedir informações, conversando com muitas vezes os donos dos estabelecimentos sobre dicas de filmes deixa um vão a ser preenchido. Sobre a sociabilidade esvaziada desde então, Ebersole (2013), para isso afirma que 2: Enquanto que potencialmente permite à audiência mais liberdade, separa-se mais a família no espaço doméstico, com cada membro se retirando ao seu próprio cômodo com seu próprio aparelho para assistir qualquer conteúdo que agradar-lhe mais. E as conversas familiares sobre um programa assistido comumente desaparecem.

2

Trecho traduzido pelo autor

30

Mas considerar Netflix como a única causa do fim das locadoras, por mais que não seja possível desconsiderar sua importância associada aos formatos disponíveis de mídia, pode demonstrar-se um equívoco, como uma coluna da Carta Capital, que a culpou exclusivamente pelo desaparecimento das videolocadoras. A tradicional HM Vídeo, no bairro da Vila Madalena, passou o ponto para outros serviços. Uma videolocadora tradicional, com diversos filmes antigos e raros, e de diversas nacionalidades, além do monopólio Hollywoodiano comum às videolocadoras de sua época, e ao próprio Netflix. Netflix não possui autorização para colocar filme qualquer no seu catálogo, o que torna o argumento incompleto, embora a empresa represente um adversário para aqueles que se mantém no ramo das videolocadoras, sejam esses frequentadores, proprietários e trabalhadores. Mas não somente o setor das videolocadoras é afetado por essa nova concepção de consumo proveniente das novas relações entre as pessoas e os serviços, impactando na cidade. Novos aplicativos de celulares, para os mais diferentes setores do consumo diário mostram uma inserção importante da parcela da população que não mais frequenta estabelecimentos comerciais, ou os evita o máximo que puder. Serviços de supermercado já estão inclusos nas lojas virtuais dos aplicativos de celulares. O Just in Time, processo da ideologia toyotista, em que se resume em agilizar ainda mais a produção do trabalhador, a fim de deixa-lo mais automatizado e ágil no trabalho, associado ao mais ágil acesso à internet por diversos meios, ajudaram o desaparecimento das videolocadoras. Posteriormente nesse trabalho, há de se argumentar sobre outros possíveis elementos para explicar a ascensão dos recursos online, que passou sem muita importância aos olhos daqueles que escreveram. 2.6 DIREITOS AUTORAIS E A INDÚSTRIA FONOAUDIOGRÁFICA “Naturalmente, surgem alternativas perigosas para o sistema capitalista musical, como foi o caso do fenômeno Napster”3e4, e entre essas alternativas surge aquela que, em especial no caso do Brasil, afetou o mercado de videolocadoras, mas não somente 3

(Vilches, 2002, p. 34) Programa que permitia o compartilhamento livre de músicas diretamente de usuário para usuário, através do computador, de maneira gratuita e sem controle . 4

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ele, da mesma maneira que as lojas de CDs de música também desapareceram dos shopping centers. Com exceção de lojas como Saraiva, Livraria Cultura e outras do mesmo gênero, somente sobrevivem lojas especializadas e que atraem públicos extremamente específicos. De acordo com Lebowitz (2002), músicas e filmes são bens de informação e estes são caracterizados por terem custo fixo muito alto e de reprodução muito baixo. Esta corrente produtiva é estabelecida através de três elementos principais: as atividades principais, atividades relacionadas e a indústria relacionada, de acordo com Frederiksen (2002). Dentro das atividades principais no caso específico da música, mas que poderíamos incluir a indústria do cinema, inclui-se a composição e produção dos filmes e músicas, com toda a equipe de gravação e execução do produto realizado. As performances realizadas diretamente na televisão (no caso da música); a propaganda e o marketing, juntamente com a administração de direitos autorais e de imagem. Além disso, inclui a venda direta dos produtores com eventos promovidos, vendas diretas de produtos, e a administração dessas atividades. Já nas atividades relacionadas, que estão mais ligadas ao setor musical, inclui-se acordos comercias de distribuição das músicas para jingles e a utilização dessas em outras mídias, tais como filmes, jogos de videogame, propagandas de televisão, além de outros meios de comunicação. Quando mencionamos as indústrias relacionadas, envolve-se as distribuidoras (como as lojas Saraiva, ou mesmo as próprias videolocadoras), a reprodução dos filmes na televisão e as músicas no rádio. A indústria fonoaudiográfica, assim como quase todos os outros ramos, sofre da formação de oligopólios. Time Warner, Disney, 21st Century Fox, Sony Corp, NBC e Viacom Paramount Pictures(antiga detentora da Blockbuster até o ano de 2001) monopolizam o Mercado mundial, numa indústria que movimentou em média 80 bilhões de dólares em 2010.

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2.7 PIRATARIA COMO RESISTÊNCIA

A pirataria é uma das grandes adversárias das leis que protegem os direitos autorais, entendida como: (...) fruto da diagnose dos comportamentos dissociais e de uma ação pedagógica de efeito reparatório e policialesco, na medida em que associa a reprodução, a venda e partilha não autorizada de bens culturais. (SATURNINO, 2014, p.11)

Devido as grandes diferenças econômicas e sociais, países como o Brasil são grandes proliferadores do mercado pirata, como a definição é dada. Entretanto, deve-se questionar a índole e a ideologia por detrás desta ideia. Neste sentido, podemos admitir que as clivagens e as reflexividade do dispositivo da pirataria proporcionaram um exercício cambiante que ora se apresenta como estratégia de nomeação dos atos ilícitos, ora como um recurso operacional para o fortalecimento de um novo mercado capitalista, ora como um mecanismo positivo para a criação de novas identidades e novos poderes. (SATURNINO, 2014, p.15)

A pirataria, além daquela que é constantemente relacionada com o narcotráfico e a indústria do crime, deve ser entendida como um processo de resistência de grupos econômicos vigentes. Antes da reprodução dos filmes, há três tipos de propagandas voltadas ao perigo sobre o mercado da pirataria. Na primeira delas, um homem vestido de roupa social decide comprar filmes na rua, e é surpreendido pelo vendedor, que lhe oferece o troco “em bala” (expressão comumente oferecida para crianças em compras), e lhe é dado munição de armas. A ideia que se passa é exatamente a de que o mercado pirata sustenta o crime organizado. Em outra, um homem de classe média compra um filme pirata e entrega para seu filho, que agradece. Em seguida, o garoto mostra uma nota 10 da escola e a família fica orgulhosa, e o pai pergunta se o garoto sabia toda a matéria. Surpreende-se, pois o garoto havia colado na prova, mas estranha a atitude do pai, que o havia presenteado com uma cópia não autorizada de um produto, assim como sua prova seria uma cópia não autorizada de uma outra que possuia a resposta certa.

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Nessas duas primeiras propagandas, temos em especial,colocada em pauta,a moralidade do “bem-estar da família” e das “pessoas de bem” é colocada em risco através de práticas, previstas de punição pela lei. As atitudes tomadas são de irresponsabilidade social e econômica, já que uma sustenta o crime, e a outra retroalimenta a proliferação de cópias não autorizadas e o desrespeito a educação, podendo também mencionar a dose de hipocrisia, na relação pai e filho. Estas hipóteses, baseadas no interesse, na racionalidade e na utilidade, mantém como núcleo discursivo a interpretação da pirataria como responsável pelo atraso no crescimento econômico (SATURNINO, 2014, p.14)

Entretanto, realizar somente esta leitura da pirataria, exclui uma outra realidade que esta prática sustenta. Uma prática de combater o oligopólio das corporações industriais, sejam elas qual área forem, colocadas em maior questão neste trabalho, a indústria fonoaudiográfica. No caso da Napster, como Vilches (2003, p.34) informa, a empresa Bertelsman investiu, juntamente com outras grandes produtoras, para que a lei atacasse com muita voracidade a empresa de compartilhamento gratuito de músicas. Demonstra-se logo, uma influência forte de que os mecanismos legais estão aliados a um grupo de empresas que detém os copyrights dos produtos de bem de informação. Na Inglaterra, apesar da garantia de monopólio para a reprodução de ondas sonoras para a BBC em 1920, inúmeras rádios piratas foram criadas, provocando o fim do monopólio em 1967, tornando-as como um bem público. Entretanto, essa aliança de interesses entre o Estado e empresas “colocaram em maior evidência a fragilidade de temas caros aos humanistas, como o direito a privacidade, a liberdade de expressão e a luta contra a privatização do bem público” (Saturnino, 2014) Uma nova discussão se abre quanto o uso da Internet para o download de músicas, filmes e livros. A pirataria surge como “práticas de resistência ao controle abusivo da informação que circula na Internet a partir de um discurso que defende a urgência de uma Internet livre e aberta” (Saturnino, 2014, p.16). Citemos o exemplo de que diversas produções culturais, sejam músicas, filmes ou jogos, ganham acesso daqueles que antes estavam excluídos de acesso físico, desconectados das novas tendências do modismo ou mesmo, do acesso à uma produção cultural de emancipação. A quebra de monopólios resultou o crescimento de diversas indústrias, como os cinemas

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indianos e nigerianos (Bollywood e Nollywood, respectivamente), promovendo uma nova perspectiva ao mercado cinematográfico mundial. Podemos também citar os diversos empregos criados com esta indústria, especialmente alimentada por pessoas de classes sociais

mais

humildes,

para

um

mercado

majoritariamente

mais

humilde,

costumeiramente direcionado a consumir estes produtos. O terceiro comercial vindo dos filmes, mostrava um homem tentando realizar o download de um filme, e perdendo um grande tempo sem êxito, contrapondo ao exemplo de que um filme em mídia física proporcionaria uma diversão mais segura, confortável e legal, no sentido claro da lei. Mas é importante lembrar de que os downloads são o que permitem artistas, ou filmes antes inacessíveis, entrarem em contato com pessoas menos desprovidas de recursos financeiros e acesso a um determinado tipo de informação. Diversos artigos científicos, dados estatísticos, e outras informações de relevância acadêmica são disponibilizados de maneira gratuita. O objetivo da pirataria nesse caso surge como uma crítica de que a Internet urge de uma liberdade de expressão e livre acesso do uso e da informação, rompendo monopólios de grupos de empresários, sejam eles os ramos que forem. A distância entre as promoções “quatro filmes por 10 reais”, e os lançamentos nas locadoras a um preço de 5 reais a diária, separam dois universos econômicos, e esta vantagem econômica proporcionou uma migração de classes com melhor poder aquisitivo para o mercado pirata, sejam eles pelo consumo direto com mercadores ambulantes, sejam pelos downloads. Este é um dos motivos pelo qual as locadoras se viram encurraladas e, sem saída, bastou a maior parte a fechar as portas. As que permanecem, dão seus últimos suspiros, frente uma internet e todos os seus agregados, sejam estes obscuros ou não. Mantém-se um questionamento de para onde vai a Internet. Mudam os tempos e as tecnologias, mudam os hábitos e as paisagens, ficam só os filmes. Só não sabe mais exatamente onde (SOUSA, A.P.)

2.8 O DESAPARECIMENTO DAS VIDEO LOCADORAS NO ABC PAULISTA . Durante o ano de 2002, o número de videolocadoras, segundo o SEAAC (Agentes Autônomos do Comércio), de que o ABC paulista havia um total de 349 videolocadoras. No auge do período dos DVDs no ano de 2006, haviam cerca de 600 videolocadoras. No

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registro de uma reportagem realizada pela Metodista em março de 2015, haviam apenas 45 no ABC paulista, e apenas 15 registradas em Santo André. Com a aderência cada vez maior das pessoas aos produtos piratas, favorecidos pelas promoções de 3 ou 4 filmes por 10 reais, as locadoras começaram a ter uma queda enorme de lucros. Para garantir a sobrevivência, algumas diversificaram os serviços oferecidos. Algumas aderiram ao fenômeno das Lan-Houses, que embora perdesse força devido o crescimento de usuários da banda larga doméstica, ainda era comum sua utilização para pessoas das periferias e em locais centrais. Entretanto, nas áreas residenciais de classe média onde a maior parte das locadoras se localizavam, esses serviços foram perdendo força, já que uma grande porcentagem dos clientes já estava envolvida com a Internet e a TV a Cabo, importante fator para o desaparecimento das videolocadoras. O crescimento de canais On-Demand das operadoras de TV paga, além da venda de pacotes com canais tais como Telecine e HBO, acabaram por dissolver ainda mais as locadoras. Os Blu-Rays deram uma sobrevida para as videolocadoras a partir de 2010. Entretanto, a descoberta de uma maneira de piratear essa mídia, e os altos custos destas para a locação, fez com que as videolocadoras hoje, contando com apenas 15 registros em Santo André, estejam fadadas a cada vez mais, se tornarem memória de uma época.

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3 NEOLIBERALISMO, TOYOTISMO, DINÂMICAS URBANAS E SOCIAIS

Para esta próxima etapa do trabalho, buscar-se-á uma análise de mudanças além das paredes das videolocadoras a fim de conectar e interligar a relação do fim de consumo dos estabelecimentos físicos, para a busca dos serviços online. Há elementos que muitas vezes passam despercebidos em uma relação aparentemente despretensiosa para explicar o desaparecimento de videolocadoras, mas é necessário a compreensão de que existe uma lógica, proveniente das novas formas de acumulação do capital, que nos auxiliarão na explicação. Fatores esses que vão provocar alteração da organização interna da produção, da organização espacial das cidades, das estratégias político-econômicas dos Estados e empresas, além de comportamentos críticos da sociedade urbana. Quando necessária a intervenção, retomar-se-á as estratégias empregadas pelas duas empresas citadas. Velocidade, flexibilidade e sincronia logística são elementos que não só redimensionam tempos e espaços produtivos, mas também conformam comportamentos de seres humanos, dentro e fora da fábrica, direta ou indiretamente ligados aos processos produtivos. [...] Atividades laborativas agora espalhadas pelos territórios econômicos organizados pelas operações logísticas Just in time. (FERRARI, 2012, p.31)

Esta citação é uma síntese do novo parâmetro industrial-econômico e social que tange a sociedade capitalista e as dinâmicas do mercado internacionalizado. Há a importância de explicar as mudanças fomentadas por essa nova maneira de produção em diversas instâncias, que não afetam somente o universo dos consumidores e donos de videolocadoras. Em suma, o que virá a seguir buscará explicar fatores que dificilmente estão correlatados explicitamente, necessitando algumas comparações quando necessárias. 3.1 O DESENVOLVIMENTO DO NEOLIBERALISMO NO GLOBO O contexto de crescimento das estratégias neoliberais no globo pode ser entendido como uma das muitas saídas que o capitalismo utilizou para se reinventar durante o período de crise. Definindo o neoliberalismo como:

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O neoliberalismo é, em primeira instancia, uma teoria sobre práticas de política econômica que afirma que o bem-estar humano pode ser mais bem promovido por meio da maximização das liberdades empresariais dentro de um quadro institucional caracterizado por direitos de propriedade privada, liberdade individual, mercados livre e livre comércio. O papel do Estado é criar e preservar um quadro institucional apropriado a tais práticas (HARVEY, 2006, p.02)

É uma ideologia que preza a potencialização das liberdades individuais, favorecendo a acumulação capitalista pela propriedade privada e a individualização dos indivíduos, tornando-se hegemônico em diversas instâncias, incorporando ao senso comum com o qual interpretamos, vivemos e compreendemos o mundo. (HARVEY, 2006, p.02). Ele não alterou somente os poderes e as estruturas institucionais em nível da macroeconomia, mas sobre as relações de trabalho, relações sociais, modos de vida, cultura, pensamento, entre outros. Para Harvey (2006), os ideais políticos os direitos individuais e da liberdade como sacrossantos, como valores centrais da civilização, foram escolhidos como os pilares centrais do Neoliberalismo de maneira muito inteligente. O cenário dos anos 1970 de crise econômica provocada pelas tensões do oriente médio e a crise do petróleo, o medo das ameaças comunistas de Cuba e U.R.S.S., formas ditatoriais e o próprio Estado com gastos astronômicos impregnaram a ideia que a liberdade dos indivíduos estava ameaçada e os partidos comunistas e os movimentos sindicalistas ganhavam força na Europa e nos Estados Unidos, e as forças populares exigiam reformas nas políticas ambientais, da segurança, da saúde pública e da educação contra a expansão das multinacionais de cunho Fordista . São forças poderosíssimas do discurso da mudança. O discurso de promover a liberdade ficou fortemente enraizado, mas por detrás desta ideologia, está a busca da potencialização do acúmulo do capital privado, dos interesses empresariais, acirrando e tencionando ainda mais a luta de classes ao redor do globo. A missão fundamental do neoliberalismo é “facilitar as condições para a lucrativa acumulação de capital” (HARVEY, 2006, p.05). O ato do neoliberalismo foi marcado pela privatização de serviços públicos, a liberação de recursos naturais para o capital privado, favorecendo investimento estrangeiro direto e o livre comércio. O discurso neoliberal tem como objetivo a acumulação internacionalizada, em um mundo financeiro que não se reconhecesse mais Estados e Nações. Para promover a maior acumulação das empresas e bancos, diversos movimentos foram instaurados a fim de promover a garantia

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dos lucros e da retomada do poder das classes mais altas da pirâmide econômica, na qual podemos incluir as intervenções militares ou instauração de regimes ditatoriais em países da América Latina, a dissolução do Welfare State, desenvolvido nas políticas keynesianas do mundo pós 2° Guerra Mundial, a reestruturação econômica da China a partir dos anos 80, a financeirização das relações econômicas e a maior participação dos bancos na compra de empresas privadas do Estado, e mais recentemente, as Guerras com Iraque e Afeganistão, após os atentados de 11 de Setembro, além de intervenções rotineiras em países africanos e do Oriente Médio. Comitantemente, O discurso neoliberal tem sido intensamente utilizado para a promoção do ódio de classe e como discurso contrário de políticas sociais, e estão presentes nas falas políticas sobre “não devemos dar o peixe, mas sim ensinar a pescar”, fortalecendo também o ressurgimento de grupos fascistas e neonazistas. As campanhas neoliberais foram pautadas em estratégias coletivas que justificassem que o que fosse bom para os negócios, seria bom para os Estados. Aproveitando as desilusões das crises econômicas e com o peso da carga ideológica do retorno da moralidade que havia sido deturpada com movimentos libertários, como a Primavera de 1969 e críticas aos Baby Bloomers, se torna um maquinário homogêneo e importante da direita, conectando os recursos financeiros do grande capital empresarial. (HARVEY, 2006, p.12). O FMI (Fundo Monetário Internacional), mudou seu padrão de ação, influenciado pelo ideal Neoliberal, e no qual a ocorrência de um conflito entre a integridade das instituições financeiras e possuidores de títulos de um lado, e o bemestar dos cidadãos de outro, dava-se preferência aos primeiros (HARVEY, 2006, p.12)

3.2 NEOLIBERALISMO E TOYOTISMO NO BRASIL

O regime toyotista foi fortalecido no Brasil após as mudanças constitucionais da legislação em 1988. Com o fim da ditadura militar de cunho repressor e keynesiano, o neoliberalismo é instaurado como a nova política econômica para o cenário nacional. As ideias de Friedrich Hayek, que haviam sido implementadas em parcela da Europa (em especial na Inglaterra de Thatcher) acabam ganhando força para superação da crise econômica proveniente da decadência do modo fordista de produção.

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Sob o discurso de redução de custos do Estado para a retomada do controle econômico, há um processo de reconfiguração estrutural dos modos de produção das fábricas e de organização da sociedade, provocado também por uma reestruturação da Divisão Internacional do Trabalho. As políticas baseadas no confisco da poupança, enxugamento da liquidez, no arrocho salarial e na redução do déficit público pela estratégia das privatizações, demonstravam a redefinição do Estado ao capital privado como condutor do desenvolvimento econômico. Ainda no governo Collor, é lançado o decreto 99563/90, conhecido como Plano Nacional de Desestatização. Entre as metas deste plano, estavam a mudança das ações do Estado dando-lhe funções regulatórias; sanar a dívida pública e estimular o aumento de investimentos e competitividade das empresas e o fortalecimento do mercado de capitais (GOLDSTEIN apud SPÓSITO, 2012, p.176). A crise econômica dos anos 1980 e do próprio Estado desenvolvimentista serviu de pretexto para os neoliberais brasileiros e estrangeiros acusarem o modelo intervencionista de Estado como o principal responsável, quando, na verdade, o problema era a restrição externa (crise do petróleo e alta de juros sobre a dívida) que forçou num curto espaço de tempo, o ajustamento estrutural da economia brasileira (SPÓSITO, 2012, p.177)

Existe a crença que o livre comércio e a alocação dos fatores de produção podem proporcionar melhores condições de vida das pessoas, podendo essas desfrutar uma melhor qualidade de bens e serviços, dotados com maior avanço tecnológico e preços mais baixos. Entretanto, o péssimo resultado ao combate inflacionário dos planos econômicos de Collor, culminou com o congelamento de contas bancárias, reformas administrativas (demissões de funcionários e o fim de órgãos públicos) e a tributação das aplicações financeiras. Mesmo com a redução dos gastos públicos e aumento das receitas do estado, a crise econômica continuou ganhando força, e após denúncias de corrupção, Collor foi retirado do poder por impeachment, embora tenha renunciado antes da confirmação da medida. Itamar Franco continuou o processo de venda de indústrias nacionais, tal como a CSN e a PQU. Muitas dessas empresas foram adquiridas por consórcios industriais, e os fundos de pensão de empresas estatais e bancos privados (nacionais e internacionais)

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passaram a fazer compras diretas, integrando setores produtivos ao controle direto do capital financeiro. A retomada das privatizações estabeleceu confiança da população com investidores externos, e a ascensão do senador Fernando Henrique Cardoso como Ministro da Fazenda, implementando a URV (Unidade Real de Valor) retomou o poder de compra da classe média. Fernando Henrique Cardoso (FHC), com isso ganhou força e foi eleito presidente do Brasil, tomando posse em Janeiro de 1995. Com FHC, o Brasil intensifica sua corrida neoliberal, consolidando a elite do capital financeiro no Brasil afrente do projeto nacional de desenvolvimento econômico do país. Em seu mandato, intensifica a privatização das empresas de serviço de utilidade pública, como ferrovias, rodovias, portos e as empresas de telecomunicação, além do setor bancário, como o Banespa, adquirido pelo banco espanhol Santander. Mas mesmo com a venda de empresas estatais, consideradas ultrapassadas e “sanguessugas” do tesouro nacional, as dívidas internas do governo não foram sanadas, pois o próprio Estado emprestou dinheiro aos consórcios compradores e vendeu empresas públicas em trocas de títulos inúteis, além de várias vendas para membros do alto escalão político e aliados do governo de FHC. Na Inglaterra de Tatcher, ocorreu a promoção do “capitalismo popular”, com a pulverização das ações das empresas em bolsa e estimulo à sociedade para que adquirisse participações nas empresas (BIONDI apud SPÓSITO, 2012, p.184), sendo evidente a participação dos bancos e do capital estrangeiro, concentrando as empresas e potencializando o processo de oligopolização através de sucessivas fusões e aquisições (SPÓSITO, 2012). Entretanto, a consolidação do Plano Real, e interesses econômicos e políticos com meios de comunicação, fez com que grandes parcelas das críticas fossem amenizadas, ou sequer divulgadas. Neste cenário de redução de custos, que afetava também os setores produtivos da economia como a indústria, que estava ausente de investimentos e era forçada a realizar processos de demissão em massa, as ideias toyotistas acabam ganhando força, a fim de diminuir os custos das fábricas e retomar a produção, promovendo avanços tecnológicos. O discurso de revalidação e reinvenção da indústria, a fim da retomada econômica, e a necessidade de novas formas de gestão tanto para o Estado quanto para a indústria, foram cruciais para o implemento do Toyotismo na indústria brasileira, e na

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configuração neoliberal do Estado, voltado aos interesses da estratégia do capital internacional

3.3 O TOYOTISMO PERANTE O FORDISMO NA INDÚSTRIA E NA SOCIEDADE

O avanço tecnológico não se manteve somente dentro da concepção social. Antes da sociedade sentir essa necessidade por velocidade, especialmente sentida nas últimas décadas do século XX, e primeiras do XXI, precisamos realizar uma análise importante sobre a mudança do modo de produção vigente, e a nova lógica instaurada na produção e que é refletida em momentos sociais específicos, o Toyotismo, em contrastes com resquícios de gerações provenientes do pensamento Fordista. É importante mencionar de que, apesar de ter ganho força nos anos 1990, numa estratégia de ações globais, a dinâmica Expansionista e de funcionamento da Blockbuster baseava-se em uma lógica de acumulação e estrutura de uma empresa fordista. A incapacidade de readaptação da empresa já mencionada aos seus concorrentes e interesses dos clientes, aliadas aos processos externos que serão melhor explicados nas próximas paginas que virão. O pensamento toyotista vêm sendo cada vez mais implementado em diversas esferas da sociedade, de maneira que Oliveira (2006) introduz: Com vistas à adaptação a esse ideário, os representantes do estabilishment direcionam o Brasil em um processo de redefinição de sua base produtiva, tecnológica e organizacional que envolveu empresas, Estado, sindicatos e demais organizações da sociedade civil.

Desde os anos 60, quando o Toyotismo passou a ser implementado, ainda que de maneira embrionária nas fábricas japonesas, afim de redução de custos, aumento de produtividade e maior obtenção de mais-valia, a produção vem se tornado mais enxuta. O encarecimento de obtenção e custo de algumas commodities, o aumento do custo de manutenção dos bens de produção e da própria mão de obra, assustavam os donos das indústrias, e para se tornarem mais competitivos, foram instauradas algumas medidas afim de maximizar a força de suas empresas. Sinteticamente, explica-se:

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Desde então, investimentos em pesquisas e aportes de capital são utilizados na tentativa de sincronizar tempos e espaços adequados a esses intervalos. Tempos e espaços são comprimidos na medida mais exata e possível e para acelerar a produção e a circulação de mercadorias. (FERRARI, 2012, p.26)

As fábricas normais tendiam a superprodução, ou seja, o acúmulo de estoques, sem sequer considerar as vendas efetivas. Lembremos do princípio de Pareto mencionado no capítulo 1, onde temos maior parte da produção direcionada a um determinado tipo de produto, como a Blockbuster comprava uma grande quantidade de estoques de um determinado filme para a locação. Depois de um determinado período de tempo, o interesse nesse filme acabava diminuindo e, ou a empresa realizava dumping dos produtos (venda por preços mais baixos, ou “promoções”) ou o capital investido acaba se tornando desperdício. Netflix por sua vez, em tempos atuais, vende uma licença em senha para utilizar e assistir o conteúdo do site. Apesar dos custos de servidores e espaços na rede, são custos muito inferiores aos de produção de mídias físicas e compras dos filmes, apesar da dependência com o serviço de Internet, fomentando os serviços de telecomunicações locais, inclusos dentro dos setores de serviços. A logística se tornou um ponto fundamental. Os grandes complexos industriais, que inclusive fizeram parte do grande ABC, vêm sendo paulatinamente desmembrados com as terceirizações de setores na própria metrópole, ou mesmo se deslocando para outras áreas do país e do globo, tornando assim a produção mais enxuta, diminuindo assim os ciclos de produção dentro das fábricas associados também com maquinário que tem a capacidade de se renovar sem ser trocado, como Ferrari (2012, p.39) afirma a importância da robótica e os avanços tecnológicos em: A robótica, máquinas de comando numérico computadorizado, controladores lógico–programáveis (CLP’s), sistemas digitais de controle distribuídos (SDCD’s) e demais aplicações da microeletrônica, da informática e da teleinformática, além de viabilizarem a dispensa da força de trabalho dos processos produtivos industriais, sustentam também a constituição de uma rede rápida de circulação de mercadorias (informações, parafusos ou serviços em geral).

Mantendo a fábrica ainda mais enxuta e para evitar desperdícios de capital e maximizar os lucros, os serviços de transportes internos as grandes fábricas são removidos, realizando assim terceirizações de produção de peças menores e de largaescala de produção, ou serviços de pós-venda de produtos. Comumente, as empresas

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de serviços como telefonia e internet, serviços de manutenção de eletrodomésticos e eletrônicos contratam empresas terceirizadas, que realizam os serviços de manutenção, reduzindo os custos da empresa vendedora do serviço e precarizando ainda mais a mão de obra. A importância dos serviços de garantias e as garantias estendidas acabam ganhando força, uma vez que fora dos prazos o conserto de alguns produtos deixa de compensar devido aos altos custos de peças únicas de um determinado aparelho. Então, para a produção dentro de uma fábrica, é imprescindível que os rigores de qualidades estipulados sejam devidamente alcançados. Para um maior aproveitamento da mais-valia, a fim de extrair-se mais de maneiras pouco perceptíveis, as empresas e contratantes tem mudado a terminologia a que referem seus funcionários, realizando um processo de valorização, assim referindo aos novos empregados como colaboradores. Ferrari (2012, p.34): Essa carga ideológica procura distanciar os atuais colaboradores de um antigo trabalhador: o peão, também idealmente caracterizado com quem não estava na fábrica para pensar, politicamente radical, irascível e grevista, em contraposição às formas contemporâneas de política consensual.

O colaborador, por sua vez, é visto como um empregado participativo, capaz de tomar decisões e resolver problemas de maneira inteligente, de uma maneira que se preze os conhecimentos adquiridos em sua formação, e a ideia de que estes vão auxiliar a maximizar os lucros das empresas e terão uma participação no montante final, sendo assim implementado os bônus anuais de participação dos lucros. O Kaizen, filosofia japonesa que visa a mudança para melhor, foi incluído no interior das fábricas para o aumento de produtividade. A ideologia por detrás do kaizen baseia-se na de que o grupo de colaboradores e empresários, juntando suas ideias, é capaz de vencer obstáculos. A pró-atividade acabou sendo um fator fundamental a ser explorado, e hoje é um fator fundamental necessário no mercado de trabalho, tão quanto uma formação acadêmica de qualidade, sendo também valorizadas características como flexibilidade e liderança de grupo. Consequentemente, o termo do colaborador ganhou força. Associado ao termo gemba ou seja, o local de trabalho, junta-se ao kaizen quando é entendido de que os problemas da produção muitas vezes, precisam ser resolvidos na própria produção, e não nas tomadas de direção. O colaborador tem capacidade suficiente para identificar

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um problema na produção e soluciona-lo, e deixar a empresa mais poderosa. Esse tipo de valorização fortalece os laços do funcionário com a empresa, tornando-o cada vez mais alienado, fazendo com que o mesmo resolva os problemas da produção. Os funcionários de uma empresa toyotista geralmente recebem autoridade para tomar decisões que afetam sua vida no trabalho, para a maximização da produção. É lhe dada a liberdade de escolher o que fazer e como deverá ser feito. Este processo ajuda a proteger alguns funcionários dos cortes impulsionados pela estagnação das vendas, ou em crises econômicas. Mas devido o processo enxuto da fábrica, de menor estoque e produção mais rápida, boa parte dos funcionários são cortados periodicamente. Cenário esse que é comum nos noticiários, quando multinacionais como a General Motors em São Caetano do Sul, e a Mercedes em São Bernardo do Campo, realizam grandes demissões, ou anunciam férias coletivas. A fim de evitar custos jurídicos e evitar malestar dos funcionários para com a empresa, são constantemente oferecidos programas de demissão voluntária, evitando maiores problemas com organizações políticas, sindicatos e outras instâncias. Em tempos de crise, é comum ser seguido um processo conhecido como Business Process Re-engineering (BPR), ou seja, investimentos esporádicos altos que buscam a redução de custos. Não possuem a intensão de mudanças regulares, mas posturas radicais para uma abrupta e rápida retomada dos lucros, até novas fases de estagnação. Geralmente são propostas pelo alto escalão e, são realizados altos investimentos no D1 (bens de produção, como maquinário) da empresa, em especial com maquinário adaptável para várias funções, buscando a automação da fábrica. Nesses tempos, são tomadas as medidas previstas como demissões (voluntárias ou não), e as contratações seguintes são por salários mais baixos, aproveitando do grande exército de reserva de proletários nos grandes centros urbanos. O kaizen, baseando-se no capital humano, entende que as mudanças bruscas são pouco inteligentes. O processo de readaptação abrupto de uma fábrica possui custos muito mais altos em D1, comparado o fato de que ideia dos funcionários que já trabalham com o maquinário conheceriam maneiras de melhorar sua capacidade de produção. Como o maquinário toyotista visa a ter maior capacidade de adaptação com o colaborador, a redução de custos provenientes da estratégia desnecessária de

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demissões em massa comuns em BPR, faz com que a relação trabalhador-trabalho possua alguns requintes de valorização. Entretanto, a destruição criativa do capitalismo faz com que as empresas necessitem de momentos de rompimentos bruscos com seus ideais, provocando alguns desgastes e, algumas crises tensionadas devido gerências fracas no kaizen, enfraquecem esta filosofia de produção. No modo toyotista de produção, o trabalho em equipe é crucial. A fim de criar-se Círculos de Qualidade, no qual é exigido um planejamento interdisciplinar e interfuncional. Pensemos primeiramente diretamente dentro de uma fábrica. Um gerente para impulsionar suas vendas e o desempenho da fábrica, precisa obter maneiras de aumentar produtividade, lucros e manter os funcionários “animados”. Para isso, é extremamente importante que outras áreas e ações ocorram comitantemente, que vão desde associações com o departamento de marketing, com o desenvolvimento de estratégias para a venda e distribuição de um determinado produto, como o acompanhamento psicológico e físico dos colaboradores, a fim de melhorar seus tempos úteis de trabalho e preparar-se para possíveis problemas que podem ocorrer dentro de uma fábrica. É comum a utilização de frases de “líderes” da sociedade ou grandes nomes da produção, como motivação para trabalhar cada vez mais. A expressão “O trabalho dignifica o homem” é um jargão comumente utilizado nos estabelecimentos comerciais ou fábricas, incitando a trabalhar mais para que as pessoas sejam “cidadãos de bem”. Em um segundo exemplo, podemos citar as mudanças que vem ocorrendo devido esse novo pensamento industrial na educação. A necessidade da integração de conhecimentos, e um pseudo-rompimento com o pensamento positivista clássico, compartimentado em ciências que não se dialogam, contrariando as experiências do real, tornam em tese, a realidade toyotista mais favorável a educação. Entretanto, o pensamento integrado exigido pela nova realidade da dinâmica do capital, associado a um histórico de educação positivista e, inflamado pela precarização do ensino, tanto em esfera nacional-estadual, quanto na esfera internacional, demonstra que o Toyotismo acentua as disparidades sociais, fomentando a segregação espacial e pensamentos conservadores na economia e de cunho social, que atenuarão mais ainda a problemática, dando embate nas cidades, formulando e fomentando novos conflitos.

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Entretanto, a realidade toyotista ao trabalhador no Brasil, as dinâmicas são muito mais vorazes e perversas. Nos processos de terceirizações e precarização do trabalho, Oliveira (2006): Ou seja, para garantir o trabalho, o trabalhador perde os limites do posto de trabalho, das tarefas, das habilidades, da sua competência e até mesmo da legalidade sobre sua própria relação com a empresa. E dessa forma fica solto no terreno movediço da colaboração. Deixa de lutar pela manutenção de algo que é seu e passa a existir em busca do favor daqueles que o empregam.

Nos processos de terceirização da empresa, o trabalhador acaba se tornando um escravo da própria empresa, e os contratos temporários, quase o cúmulo da mais vália, muitas vezes isentam os empregadores quando acionados em disputas jurídicas, demonstrando de que o próprio sistema legal está direcionado ao favorecimento dos interesses do capital internacionalizado. Parte deste cenário é comum à Marx, que: Agora temos, portanto, de conceber a interconexão essencial entre a propriedade privada, a ganância, a separação de trabalho, capital e propriedade da terra, de troca e concorrência, de valor e desvalorização do homem, de monopólio e concorrência etc., de todo esse estranhamento com o sistema dinheiro. (MARX, 2014, p.80)

Além da alienação ao meio de produção, é esvaziada a memória do trabalhador, a fim de permanecer no cargo, submetendo-se cada vez mais e sendo escravizado pelo objeto de trabalho, direcionando sua vida para a produção com o trabalho não pago. Muda-se também o perfil do profissional formado nas instituições acadêmicas. O crescimento de polos tecnológicos e de cursos superiores voltados a atender a demanda tecnicista da nova indústria, com os cursos de engenharia sendo procurados tanto para o desenvolvimento de uma mão de obra qualificada para dentro das industrias, quanto para o desenvolvimento de maquinário para as indústrias. O próprio Estado, ao promover projetos como o Ciências sem Fronteiras, abraça o interesse da necessidade de desenvolvimento de tecnologia local.

3.4 DA CIDADE FORDISTA, PARA A CIDADE TOYOTISTA.

Uma das grandes mudanças que ocorreram para a mudança de comportamento da sociedade, foi a própria mudança na organização produtiva da industria, motor-chefe da urbanização da sociedade. A conquista de direitos civis durante a metade da década

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de 80, fez com que a articulação política tivesse um momento de estagnação, em um cenário da década seguinte, com grandes avanços neoliberais no contexto nacional, com privatizações de empresas estatais, e o impulso tecnológico provido pela internet, ainda que em nível empresarial. Os grandes complexos industriais começaram a desvanecer, e a cidade de Santo André, participante ativa e direta do processo de industrialização brasileira ocorrido na segunda metade do século XX, observa diariamente a transformação proveniente do deslocamento dos grandes complexos industriais para outros pontos do território nacional e do globo, demonstrando processos de ordem global, que paulatinamente vão transformando o município. Lefebvre já menciona, nas primeiras páginas do seu livro “O Direito a Cidade”, de que essa assume como o laboratório e o papel do estudo do mundo, onde com os modelos urbanistas que vão sendo reproduzidos pelas lógicas do capital, podemos questionar com a pergunta: Essa cidade que está sendo formada, para quem ela serve? Santo André, como já dito em seu hino quando chamada de “Torrão Andreense”, hoje é uma cidade baseada na estrutura de serviços, fruto das alterações de cunho nacional e internacional que a afetaram, em especial nos anos da década de 1990 e início de 2000, quando diversas montadoras e estruturas industriais partiram para cidades com mão de obra mais barata e isenções de impostos mais vantajosos. Paulatinamente, muitos serviços que antes estavam ligados diretamente às fábricas, agora não estão mais, sendo comum circular pelas ruas da cidade e encontrar diversos serviços relacionados a indústria automobilística, como autopeças, oficinas, lojas de som, borracharias, além de um número de pequenas e médias empresas terceirizadas para a produção de diversas peças para o maquinário e os carros produzidos das industrias remanescentes. No âmbito do ABCD paulista, foi criada uma identidade com as indústrias metalúrgicas e automobilísticas, e muito do contexto social dessas cidades, assim como outras cidades da Região Metropolitana de São Paulo, está pautada em uma vida direcionada ao pensamento das indústrias desta região. Durante o auge da instalação das indústrias, o foco da população que se mudava, proveniente de diversos locais desde o sul de Minas Gerais, o interior do estado de São Paulo e da Região Nordeste, era conseguir um emprego nas fábricas recém-instaladas.

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As indústrias foram instaladas com diversos incentivos do Estado, tanto em sua instância Estadual e Municipal, quanto em sua instância Federal, como terrenos, isenções de impostos como IPTU e outros incentivos fiscais. A estrutura industrial destas fábricas eram grandes cidades, e era comum a criação de vilas de moradores e estruturas adjacentes, como clubes para trabalhadores, compostos com estabelecimentos de lazer. A indústria era responsável pela sociabilidade da cidade. Parte deste pensamento ainda se mantém presente, desde pais de família que estão completando o ciclo nessas indústrias e incentivam seus filhos a seguirem a carreira dos pais, realizando cursos de engenharia e focando para a área automobilística, como a identidade se mantém na própria cidade, com cursos profissionalizantes focados para essas áreas. As cidades do ABC Paulista, que já foram direcionadas aos altos estoques, dos contêineres e voltada a formação de uma mão de obra específica, promoviam paisagens monótonas construída a partir de projetos e planejamentos autocráticos de viés tecnicista, que apagavam as diferenças e impediam intervenções individuais (FERRARI, 2012, pg. 41). No contexto de formação industrial do ABC paulista, dentro da expansão das multinacionais para a produção de consumo de bens duráveis como os automóveis, as ruas e as avenidas foram privilegiadas. A ideologia automobilística foi intensamente implementada na mentalidade brasileira. É comum assim que completada a maioridade, os jovens já procurarem obter a carteira de motorista. O automóvel é idealizado como um símbolo da maturidade e da liberdade, e as grandes propagandas, tramadas pelas agências de publicidade reproduzem a necessidade criada pela indústria. As estratégias do capital financeiro se aproveitam dessa necessidade implementada, sendo vendidas diversas facilidades de crédito para a compra de automóveis, financiamentos de veículos. O processo de reestruturação da sociedade para o Toyotismo promoveu a privatização de empresas estatais e o crescimento do desemprego, além do crescimento dos empregos informais. Majoritária parcela da sociedade deslocou-se ao setor de serviços em empregos muitas vezes, conectados ao setor industrial, mas em empresas terceirizadas, contratadas por uma indústria maior e onde a exploração da mais-valia é mais intensa, com trabalhos em condições mais precárias, geralmente focadas em uma estrutura hierárquica BPR.

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A partir dos avanços neoliberais durante os anos de 1990 e em diante, diversas empresas nacionais do ABC paulista, como a COFAP foram adquiridas por multinacionais. A italiana Pirelli deixou parte das suas instalações e o projeto do desenvolvimento de um grande complexo industrial e residencial, abandonado sob motivações da crise econômica do fim de 1999, e começo de 2000, promovendo a desinstalação da Estação de trem Parada Pirelli, da empresa estatal CPTM. O processo de verticalização recente, com condomínios associados à construção do Shopping Atrium, e a instalação de um grande complexo concentrado da empresa italiana TIM, voltado ao setor de serviços de telefonia e internet, são algumas das mudanças na estrutura de serviços do ABC paulista, que paulatinamente deixa o seu caráter majoritariamente industrial para o desenvolvimento dos setores de serviço, visando deixar as antigas fábricas mais enxutas. Cresce o número de empresas de fornecimento (transportadoras) dentro das cidades para as entregas exigidas em tempo hábil. Muitas vezes, essas transportadoras utilizam antigos galpões das fábricas, dando novas funções à antigas formas da cidade. Diversos supermercados, shoppings e outras unidades de serviço foram instaladas em antigas estruturas fabris ou em terrenos antigamente pertencentes à indústria, e cada vez mais há integração das unidades com o capital financeiro, desde compras com cartões bancários. Na necessidade do maior desenvolvimento acadêmico, universidades são fundadas com cursos voltadas ao desenvolvimento tecnológico e implementação da organização toyotista, com cursos de engenharia e administração, além de diversos cursos voltados a gestão de departamentos específicos de empresas. É importante citar nesse momento, a perversidade dos processos de compras de universidades. Grupos financeiros e bancadas religiosas radicais têm se apropriado da compra de instituições de ensino superior para maximizar interesses polítcos. Muitas dessas universidades se direcionam à produção de uma mão de obra barata e supostamente qualificada, a fim de alimentar bancos estatísticos. Uma vez que o modelo toyotista é associado aos governos neoliberais, reféns do capital estrangeiro como no caso brasileiro, cresce-se a importância da necessidade da formação de instituições estatais, capazes de promover e fomentar a especulação

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imobiliária, com o Estado desterritorializando e promovendo a reurbanização dos centros das cidades, da reurbanização de favelas, e de outras estruturas para a maior acumulação privada de empresas ligadas aos setores da construção civil e financeiros. A chamada “acumulação por expropriação”, na qual podemos incluir a privatização da terra. O Estado, com o seu monopólio da violência e da definição sobre o que é legal, desempenha um papel crucial tanto em apoiar, como em promover esses processos, recorrendo frequentemente a violência. A esta lista de mecanismos podemos acrescentar uma coleção de técnicas adicionais, como a extração de rendas por patentes e direitos de propriedade intelectual e a diminuição ou supressão de várias formas de direitos de propriedade comum. (HARVEY, 2006, p.18)

Associada então a essas dinâmicas de segregação espacial, no qual vão aproveitar o uso da força física em especial pela polícia, podemos retomar o que foi dito sobre a pirataria e a busca dos direitos autorais, na associação da criminalização de práticas não necessariamente conectadas ao narcotráfico, mas que por atrapalharem o processo de acumulação das empresas conectadas ao mercado fonoaudiográfico, acaba, sendo penalizadas. O empreendedorismo tão fortemente enraizado na cultura neoliberal vira mercadoria, e o grande objetivo real, de um discurso que se pautava em garantir a liberdade econômica e social, torna-se voraz em eliminar qualquer concorrência, garantindo os privilégios de seletas parcelas da população. O modelo toyotista também exige uma mudança nas formas de circulação das mercadorias. A expansão das redes de telefonia e da televisão fechada e seu campo de ação, com os avanços técnicos promovidos pela instalação da internet e a fibra ótica são fatores fundamentais para a atividade econômica e civil. Diariamente, milhares de arquivos são transferidos pela internet, e as compras pela Internet vem adquirindo cada vez mais relevância, desde aquele realizado em lojas nacionais, como compras feitas diretamente com lojistas chineses pelo site Aliexpress. Mas a internet promove muito desconhecimento e cria mitos da instantaneidade, promovendo alienação à produção das coisas, como alerta em:

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A internet só é virtual até a venda da mercadoria, mas sua ´produção e sua entrega se dão no campo da ‘velha economia’.(...) o fato de mudar a distribuição dos bens não altera nem a produção nem sua natureza. O que pode ocorrer com a Internet é uma maior racionalização da produção, com a eliminação de estoques finais e intermediários, mas não uma mudança das leis básicas do sistema capitalista, incluindo seus ciclos e suas crises periódicas. (FIORI apud FERRARI, 2012, p.49)

Entretanto, uma grande parte da circulação desses produtos ainda depende da circulação física destas mercadorias. Há então uma necessidade de controle espacial da logística e do alcance da distribuição. Devido os gargalos na malha rodoviária e pouco aproveitamento das ferrovias para o deslocamento interno de produtos nas cidades, os motoboys vão se tornando uma importante peça para o deslocamento destes produtos. Com custos menores considerando os preços de um automóvel, muitos documentos e pequenas cargas são entregues por esses profissionais, são contratados como uma alternativa ao trânsito de carros e furgões estar saturado. Entretanto, devido os riscos proporcionados pela motocicleta, e o objetivo de entrega rápida se não resolvido muitas vezes ser considerado culpa do motoqueiro, faz com que haja frequentes acidentes com o envolvimento destes trabalhadores, sendo comum verificarmos em noticiários a taxa de mortes crescente devido aos acidentes no qual motoqueiros estão envolvidos. Essa apropriação, em processo, choca-se com uma infraestrutura ubana herdada dos padrões fordistas e não preparada para tal sustentação, transferindo ao todo social o custo dos movimentos de mercadorias, agora em trânsito incessante. (FERRARI, 2012, pg. 40)

A cidade se torna produto das modificações propostas com as novas dinâmicas Just In Time do Toyotismo. A individualidade e a propriedade privada vão sendo enaltecidas com a ideologia neoliberal, e os avanços tecnológicos propõem uma velocidade extrema para o ritmo já alucinante das dinâmicas urbanas. A cidade torna-se uma extensão da própria fábrica, com um imenso proletariado urbano que cada vez mais se multiplica e se fragmenta. (FERRARI, 2012, p.43). A necessidade cada vez maior de uma rede de transporte mais eficiente para o deslocamento da mão de obra faz com que o Estado precise olhar com mais atenção aos fluxos de pessoas e de mercadorias em trânsito pelas ruas e avenidas, tornando necessárias novas maneiras de locomoção, ou o surgimento destas como prioridades. O

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tráfego de veículos piora consideravelmente nos horários de rush, e leis que evitam a circulação de veículos de grande porte, como caminhões com grandes carretas são outorgadas frente a demanda do deslocamento de mão de obra. Os protestos de Junho de 2013 promovidos em maioria pelo grupo Passe Livre, demonstram a necessidade da importância do transporte público. O denominado “Direito de Ir e Vir” vem ganhando força nos discursos políticos e da população em geral, e alguns grupos sociais vêm procurado conscientizar a utilização do transporte público ao invés do transporte individual. Entretanto, o planejamento de transporte, formulado em cartéis de empresas, e interesses corrompidos do Estado, intensificam ainda mais discursos neoliberais de que o estado precisa diminuir sua participação, focando ainda mais a acumulação privada. Os problemas urbanos enfrentados possuem interligação com o processo de reestruturação produtiva imposto pela dinâmica do capital. Entretanto, é sempre colocado de que são problemas de ordem do Estado, isentando o setor privado de culpa, ou direcionando para classes sociais os atrasos do planejamento e desenvolvimento urbano, em discursos elitistas, conservadores e de direita. 3.5 O MEDO COMO PATOLOGIA URBANA Uma das grandes problemáticas que precisam ser consideradas quando analisamos o crescimento por compras online e serviços via-internet, é a questão do medo criado perante a cidade. A violência tem sido cada vez mais a pauta central nas discussões políticas, ao ponto do tema de segurança pública hoje ser tão importante no período eleitoral quanto a educação, a saúde, a mobilidade urbana. A sensação do medo e da violência crescente nas cidades vêm se alastrando, e a própria cidade tem se transformado com isso: cresce-se atualmente a demanda por condomínios fechados, a verticalização, processo de êxodo urbano, e cresce também a própria segregação espacial e o medo perante aquele que não conhecemos, já comum nos grandes centros, mas que vem sendo intensificados pelas próprias condições do desenvolvimento do capitalismo, pautado na acumulação privada e na individualização das classes sociais, e um processo denominado por Enzensberger apud Souza (2009) como Guerra Civil Molecular.

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A Guerra Civil Molecular, para Enzensberger, trata-se da guerra realizada pela violência urbana, no qual podemos incluir o tráfico de drogas, as chacinas, o terrorismo, os movimentos de ultradireita como skinheads e neonazistas. Entretanto, enquanto atitudes como tais são amplamente condenáveis, elas necessitam de uma análise que se distancie de um maniqueísmo, como aquele passado corriqueiramente pelas mídias de maneira geral. O medo e a insegurança são sensações que não podem ser mensurados e, historicamente não são problemas novos ao cotidiano das cidades. Problemas sociais provocados devido as condições de vida das cidades não são processos do século XX ou XXI, mas provenientes das próprias condições específicas de organização da sociedade no seu devido tempo. Souza (2009, p.38), que as cidades antigas e medievais sofriam com o medo das invasões de reinos vizinhos, ou saqueadores errantes que vagavam na Europa, apenas para citar duas das eras históricas. Era muito mais perigoso estar fora dos muros da cidade, do que dentro delas. A vida cotidiana, que acontecia muito fora das casas, com diversos espaços públicos, além de eventos como festas transmitiam uma sensação de sociabilidade, que ajudava a acalmar parte da sociedade, em especial em períodos de guerras. Há dois elementos vitais para a compreensão da sensação de insegurança tornarse mais evidente, e cada vez mais averiguada e levada em questão pela sociedade contemporânea. O primeiro deles está ligado aos crimes de cunho econômico. Para Souza (2009, p.39), crimes como furtos, assaltos e latrocínios entre civis e de mesma classe social eram elementos pouco comuns, embora a opressão de soldados, milicias e exércitos no interno das cidades não seja uma novidade dos séculos XX e XXI. O outro elemento está no fato de, como cidades da Europa Ocidental, das Américas e do extremo leste asiático e Oceânia estão distantes dos conflitos armados explícitos, a chamada Guerra Molecular acaba sendo mais percebida pelos habitantes de um determinado local. Adicionando um terceiro elemento, existe uma ideologia midiática favorável à instauração do medo como um componente da sociedade. A disseminação do discurso de ódio por parte dos veículos de comunicação, associados indiretamente com escolhas políticas de cunho conservador, demonstram uma aliança com a acumulação privada. Isso acontece, entre outros fatores, porque a mídia, comumente, se encarrega de

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amplificar e retroalimentar o medo (SOUZA, 2009, p.30). A disseminação do discurso de ódio, associado a programas policiais no fim da tarde, trazem um discurso conservador a tônica, como o pensamento de que aumentando o policiamento, as pessoas vão se sentir mais seguras, reduzindo-se a minoridade penal diminuirá a violência O cenário é de que como Souza (2009, p.54) refere-se, existe uma sobreposição da chamada “Geografia do Medo” perante uma “Geografia da Violência”, provocado por essa sensação de insegurança, que em alguns momentos chega a assumir status de paranóia. Então, dadas essas condições, vão surgindo as possibilidades para o enclausuramento, um tanto quanto “voluntário”, mas inconscientemente impulsionado pelo medo. Os aplicativos de celular vão ganhando mais força, o e-commerce alcança novos mercados além das classes altas e médias, e o individualismo do capitalismo, com o medo como sustentáculo, o enclausuramento e o crescimento de serviços realizados sem sair de casa. Os crescimentos de condomínios residenciais associados a torres comerciais vêm crescendo pelas grandes cidades brasileiras e mundiais. E Santo André não é diferente.

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4 O AVANÇO DA TECNOLOGIA E O CIBERESPAÇO Continuemos a discussão, agora entrando em uma nova perspectiva de interação da sociedade com o meio, em momentos em que essa interação em muitas ocasiões parece dissociada com a realidade. Quando compramos um produto pela internet, muitas vezes esquecemos do processo de produção e logística ocorrido para que esse produto pudesse chegar ao destino final. Após discutir o processo histórico que proporcionou muitos dos avanços tecnológicos, verificando elementos da dinâmica urbana que se alteram e se reconfiguram todos os dias com o emprego de novas tecnologias, que nos trazem facilidades para o consumo, mas ainda ofuscam as condições de vida das pessoas no ambiente urbano, é o momento para trazer a discussão para como é feita essa interação, focando a questão técnica. Será então, durante esse capítulo, explicado como se deram as condições técnicas para a formulação do ciberespaço, desde a evolução do sistema de redes no Brasil e no mundo; uma retomada dos impactos na sociedade provenientes deste processo, uma discussão sobre Ciberespaço e algumas dinâmicas e extensões da sociedade, e uma análise sobre a Deep Web.

4.1 TRANSFORMAÇÕES DA VIDA URBANA PERANTE

AS

NOVAS

TECNOLOGIAS

Apesar da semelhança com as transformações provocadas pelo Toyotismo, que se apoderou em muitos aspectos das inovações tecnológicas da produção para o acúmulo de capital, dar-se-á nesta parte do trabalho, uma perspectiva com foco maior na técnica e nos avanços tecnológicos gerais que vão acirrar a maior necessidade da integração das redes de computadores, para que possamos partir para o tema de ciberespaço. Os avanços tecnológicos em geral, buscaram a melhora da vida dos habitantes de um determinado local, para facilitar a execução das tarefas diárias. O poço, por exemplo, era o ponto de encontro das pessoas nas cidades antigas. Após a criação do sistema de abastecimento de água pelos canos, o poço perde sua função social, mas as cidades são capazes agora de controlar melhor a qualidade da água, evitando doenças que

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assolavam as cidades pré-industriais. Mas não podemos omitir o fato de que em muitos locais do globo, a água encanada ainda não chegou. Chegaram serviços de telefonia, de luz, mas a água ainda não está encanada. Realizando uma analogia do poço com as videolocadoras, podemos estabelecer uma relação na transformação do espaço físico e do serviço prestado. Assim como o encanamento da água facilitou a obtenção deste recurso, os serviços de internet trouxeram facilidades e comodidades para os consumistas desta indústria. Entretanto, da mesma maneira que o poço era utilizado como um local de convivência social, assim eram as locadoras, no qual muitas pessoas iam discutir sobre filmes. O ponto curioso é que no Brasil temos uma probabilidade maior de encontrar pessoas sem água encanada em casa, do que uma que não exerça ações na rede: possuir conta de e-mail, perfil em redes sociais ou realizar compras a partir da internet. Agora temos canos para bits – redes digitais de alta capacidade para levar a informação aonde e quando quisermos. Isso nos permite fazer muitas coisas sem ir a lugar algum. Assim, os velhos locais de reunião não nos atraem mais. As organizações se fragmentaram e se dispersaram. Os centros urbanos não podem se manter. A vida em comum parece estar nos escapando imperceptivelmente. (MITCHELL, 2002, p.21)

Paulatinamente, os avanços tecnológicos (não somente os serviços online) tendem a eliminar as relações sociais. Da mesma maneira que a televisão assumiu o posto central da sala de estar e posteriormente penetrando nos outros cômodos da casa, promovendo um processo de individualização das pessoas, a tecnologia altera os pontos de sociabilidade das pessoas nas cidades, surgindo um desafio da necessidade da reinvenção dos espaços públicos. Entretanto, muitos desses locais, devido as causas da modernização, necessitam das quase que imprescindíveis redes de wi-fi. Ou seja, voltase ao problema de pessoas interagindo por máquinas, e não por elas mesmo. Quem estiver longe da tecnologia, será excluído da vida urbana. A transformação do computador é um fator fundamental para que possamos compreender as mudanças rumo a uma vida virtual. Partindo da comercialização dos computadores para a utilização doméstica no começo dos anos de 1990, a localização inicial destes estavam ligados aos escritórios ou locais de estudo das casas das pessoas. Iniciava uma troca de objetos de escritório, tais como canetas, lápis, borrachas e

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calculadoras para uma era de informação em arquivos dentro de disquetes, iniciando uma nova etapa proporcionada pela tecnologia, fruto do Toyotismo que passava a frequentar a rotina diária. Surge então a necessidade de se manter conectado. A Internet, que começa com a utilização residencial pelos pulsos do telefone (o computador conectado diretamente na linha telefônica, “Internet Discada”), demonstra as primeiras possibilidades de conexão via rede, e a partir deste momento, inicia-se um processo de interconexão dos objetos cada vez mais intenso. É difícil inclusive depararmos com locais público ou privado que não possuam conexão de banda larga. Afinal, já é difícil nos vermos sem nossos celulares, que tem evoluído cada vez mais com o processo de miniaturização dos objetos, e hoje não vemos o celular como um telefone móvel somente. Em muitos casos, ele sequer é um, já que a sua função inicial em muitos casos é desconsiderada. Utilizase diversos aplicativos, em que se enviam mensagens, conecta-se as redes sociais e assim, seguimos nossas dinâmicas sociais, embora muitas vezes sequer prestando atenção ao mundo a nossa volta. O advento da tecnologia, associada aos processos neoliberais e da mudança na ótica da produção, fizeram com que a percepção da própria cidade ganhasse novas interpretações. Entretanto, precisaremos compreender que muitas destas interpretações irão trazer sentimentos adversos, que precisarão ser cautelosamente analisados. Ribeiro (2008) adverte: As ações dominantes, que se apropriam do novo meio técnico, geram novas desigualdades e exclusões sociais, como demonstra a militarização da vida cotidiana, as velhas e novas formas de adoecimento, o aumento da segurança privada, os custos sociais da especulação financeira e a escalada da violência. (p.191)

A tecnologia, por meio das redes sociais, torna-se um desses grandes disseminadores de discursos de ódio contra parcelas da população menos favorecidas de recursos econômicos, atenuando conflitos sociais, amenizadas na condição do contato olho-por-olho. Antes concebida como um instrumento para a liberdade de expressão, a Internet se demonstra através de algumas pessoas mal-intencionadas que se escondem por detrás de seus computadores, ao impregnar ideias que sequer

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compreendem bem, fruto de um sistema educacional dotado de falhas em muito de suas escalas.

Assim como a internet vem assumindo um papel fundamental para a obtenção de filmes para reprodução doméstica, seja com serviços pagos ou gratuitos de streaming, ou pelos downloads, ela também tem sido o local de discussão dos filmes, sejam em fóruns especializados, ou nas redes sociais. O tipo de sociabilização, entretanto, vem se alterando com a maior dependência das pessoas, tanto para consolidar uma imagem desprovida de sua identidade “real” (exemplo de um garoto que sofre bullying na escola, mas tem um comportamento de opressor na rede), quanto para a manifestação e disseminação de ideias, sejam elas construtivas para a sociedade, quanto pensamentos de cunho reacionário-fascista. Porém não podemos simplesmente deixar de utilizar essas tecnologias. Não podemos deixar de usar água encanada e voltarmos a usar água do poço, voltarmos a nos aquecer somente com as fogueiras e dispensar a energia elétrica pelo fato de que o poço e a fogueira eram locais importantes do convívio social, como não podemos esquecer que serviços online favorecem a reprodução de informações que, anteriormente, dificilmente teríamos acesso. Deve-se lembrar que este trabalho não foca em nostalgia, mas sim entender as novas dinâmicas comerciais de um determinado setor do mercado fonoaudiográfico, afim de estabelecer dinâmicas com a sociedade em que vivemos, buscando uma conexão com assuntos aparentemente desconectados. Em uma visão mais otimista: A rede digital é uma continuação dessa história. A cidade do século XXI será um sistema interconectado, interativo, saturado de software e silício de lugares inteligentes, conscientes e receptivos. E eles estarão presentes em roupas, salas, prédios, bairros, regiões metropolitanas e infraestrutura globais. (MITCHELL, 2002, p.113)

Mitchell, de maneira geral, tem uma visão otimista. Para este autor, os avanços das tecnologias beneficiam a sociedade. A crença do autor para com a tecnologia fundamenta-se em um pressuposto de que os bits inclusos em acessórios inteligentes, seriam capazes de facilitar a nossa vida para uma vida mais ágil e rápida para a nossa

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reprodução social como indivíduos, e de que o maior número de tecnologias nos permitiriam o maior tempo livre para aproveitar-nos dos espaços públicos e aumentaria a interação social. Ainda no autor: Não há dúvida de que os ricos e poderosos serão sempre os primeiros a ter água encanada e saneamento, luz elétrica, calefação, refrigeração e telefones eficientes. Mas a longo prazo, esse progresso ambiental representado uma melhoria das condições de vida, e poucos de nós – mesmo os mais céticos e duros críticos da tecnologia – iriam querer voltar no tempo. (MITCHELL, 2002, p.112)

Os avanços tecnológicos mudaram a nossa percepção do espaço, e trouxeram muitas melhorias para a sociedade, possibilitando a exercer algumas formas de superação perante a condição humana original, e ampliou o potencial de adaptação e sobrevivência da sociedade na natureza, e há muitos argumentos a fundamentar que são tolos em discordar. Entretanto, os avanços acabam por criar necessidades, mas acima de tudo, nos forçam a nos tornarmos mais rápidos e ágeis para as dinâmicas que a sociedade capitalista impõe perante seus indivíduos. Uma cena que vem se tornando comum, Ribeiro (2008, p.203) divulga um comportamento que tem se tornado corriqueiro, fruto de comunicação por aplicativos de celulares, tais como o Whatsapp: “um casal, de mãos dadas, não se olha e nem se beija, envolvido em conversa com outros através de celulares”, demonstrando que até as relações sociais íntimas, na presença física, são trocadas pela digitação nas telas e teclados de celulares, computadores e tablets. Ainda em Ribeiro (2008, p.203), a autora reflete o grande desprezo das pessoas de serem retirados da atenção de seus celulares, ou suas ações na rede via-celular, em especial em locais públicos, tais como saguões de aeroportos, salas de espera de consultas e nos transportes públicos. As relações criadas através de aplicativos de mensagens instantâneas pelo celular, substituem as relações físicas das pessoas. Por um lado, as pessoas podem manter contato com familiares e amigos distantes, de uma maneira ainda mais rápida que o telefone tradicional, e a portabilidade de um celular, que em muitas vezes tem como sua função menos importante a de realizar chamadas, torna-o como um atrativo para uma sociabilização rápida. Entretanto, a mesma tecnologia que aproxima as pessoas distantes, afastam as pessoas próximas, como no exemplo do casal citado anteriormente.

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Ainda há uma discussão nebulosa sobre os impactos desta tecnologia dentro da sociedade, não somente a brasileira. A dependência provocada pelos celulares recebe o nome de nomofobia. Em entrevista ao site R7, do grupo Record, a psicóloga Anna Lucia Spear King, da UFRJ, associa essa dependência em categorias similares com a síndrome do pânico. Para a psicóloga, o grande problema é a difusão do celular com a própria internet, e as necessidades criadas pelas redes sociais, tais como a dependência de uma rede social ativa, divulgando a própria imagem, dentro de uma cultura onde cada vez mais o ter tornase mais importante do que o ser, refletindo a ideologia de reprodução do capital. Vem crescendo cada vez mais a importância do chamado Capital Social. Citado inicialmente em um artigo do educador americano Hanifan e retomado pelo cientista político Robert Putnam, as relações sociais são extremamente importantes para o próprio desenvolvimento e o desempenho econômico, seja de uma empresa ou do próprio Estado, sendo tão importante quanto a obtenção de um emprego, ou a formação acadêmica de uma pessoa. A tecnologia por sua vez, com sua capacidade atual de enclausuramento da sociedade em condomínios fechados, ou trancados em seus universos virtuais não são somente um problema de cunho social, mas também econômico, segundo as ideias de Putnam. Este tipo de comportamento reflete-se na sociabilidade dentro das cidades, e nos serviços oferecidos, que favorecem o consumo individual. Como já se explorou no trabalho, o avanço das funcionalidades dos celulares e da personalização, ao mesmo tempo que os avanços tecnológicos e o surgimento de necessidades tornam a ideologia individualista do capitalismo cada vez mais presente na reprodução das ações do dia-adia. Entretanto, muito deste individualismo é realizado como um fruto da alienação, da falta de percepção da própria relação com a sociedade. Atualmente, estamos em uma época de transição entre uma sociedade pautada nos métodos de produção fordista/taylorista, em direção a um pensamento de cunho mais tecnológico e toyotista, acarretando problemáticas novas.

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Para Marx apud DANTAS (2002 p.5), “Economia de tempo: a isto se reduz finalmente toda a Economia”, os serviços online foram fantásticos para economizar tempo e favorecer ainda mais uma produção mais rápida, competitiva, alienante ao trabalhador, com um aprimoramento do Just in Time, e que paulatinamente o desgasta cada vez mais, tornando - o mais susceptível a doenças provocadas pelo estresse, a péssima qualidade da alimentação, ainda que já se tenham condições para saber que a qualidade de um alimento influencia no nosso dia-a-dia, nem todos tem condições e tempo, precisando de soluções práticas e rápidas, colocando em risco a própria vida. E as soluções rápidas, incrementando a velocidade das dinâmicas urbanas do Just In Time, são dos elementos fundamentais que se baseia a economia rápida de que Marx se refere: produção e circulação em velocidades ainda maiores aliada a uma exploração maior da força de trabalho, pois são nesses valores que se baseia a economia capitalista, a fim do lucro como produto final. Há ainda de se compreender melhor sobre essas mudanças, já que por detrás dos prédios inteligentes, das cidades e pessoas amplamente conectadas, há diversos tipos de problemas que se ocultam, ou pior, são comodamente não mencionados por muitos dos veículos exaltantes destes avanços.

4.2 A FORMAÇÃO DAS REDES DE INFORMAÇÃO.

Quando falamos da dinâmica global atual, estamos falando sobre a consolidação cada vez mais acentuada dos processos neoliberais adequados a lógica da produção toyotista. Um dos elementos fundamentais para o advento e consolidação passa pelo processo de financeirização provocado pelos bancos, em especial na ofensiva realizada no fim dos anos 70, com os processos de privatização de serviços em diversos locais do globo. Mas para a consolidação do processo de financeirização, devemos retomar um pouco como se deu a evolução geral dos meios de comunicação modernos. Desde a instituição do banco na idade média, ocorreu sempre uma aliança entre o controle do jornalismo, o capital e a especulação. Os bancos possuíam redatores, que se encarregavam em divulgar as notícias e fatos políticos e bélicos que pudessem afetar os negócios ou fossem contrários aos interesses de determinada família detentora de um determinado banco.

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Entretanto, o transporte de informação (via cartas e telegramas) começa a crescer exponencialmente a partir da Primeira Revolução Industrial, com os avanços dos transportes e o aumento do fluxo de mercadorias e pessoas com o maquinário a vapor. E o capital financeiro, adiante, na fase imperialista do capitalismo, seria o grande responsável pelo financiamento das pesquisas científicas e técnicas que impulsionaram definitivamente o desenvolvimento das tecnologias de informação. (DANTAS, 2002, p. 108)

A informação torna-se um ingrediente fundamental para a expansão territorial e econômica em diversos locais do globo. E um fator que foi importantíssimo fora a participação do Estado para a implementação das linhas de telégrafo, sendo inclusive contraditório em um momento de discursos liberais pós Adam Smith. “(...) e embora fosse a época áurea do liberalismo, o telégrafo acabaria submetido, na Europa, ao controle direto e monopolístico do Estado. ” (DANTAS, 2002, p.108), por dois motivos: o primeiro eram os serviços extremamente caros e ruins das empresas, e o segundo devido a importância de governos estáveis serem consolidados, para o crescimento de um leque de empresas a serem financiadas pelos bancos. Nos Estados Unidos, apesar de privado, o serviço de telégrafos fora incorporado ao monopólio da Western Union, que ligada aos interesses do Estado Norte-Americano, patrocinou muito da expansão rumo ao oeste. Ou seja, mesmo privado, o serviço sofria algum tipo embrionário de intervenção, regulação e subvenção pública. (DANTAS, 2002, p. 109). Apesar da ideologia neoliberal frenética dos anos 80 e 90 e que se segue até hoje, sustentando a ideia de que os serviços desregulados pelo Estado promovem melhores condições e competitividade, a tendência de monopólio das empresas capitalistas derrubam a ideia liberal da livre concorrência, ficando de comum interesse aos bancos, serviços de mídia e Estado que esses serviços sejam geridos por este último, a fim de construir uma infraestrutura de redes de informação. Boa parte dos serviços privatizados se tornam mais precários ainda e sendo o consumidor final, o principal atingido. O progresso da microeletrônica e evolução dos computadores, o advento dos satélites artificiais, além de outros avanços como a transmissão por micro-ondas e por fibras opticas, oferecem ao capital novos meios para processar e transmitir informações. (DANTAS, 2002, p.139)

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Todos estes tipos de investimentos tiveram uma participação intensa de um direcionamento de Estados e empresas, por intermédio do capital financeiro para que desenvolvesse e pudesse garantir uma maior acumulação. Para isso, bancos e empresários investiram pesado no chamado “capital de risco”, ou seja, ideias inovadoras de pequenos grupos de inventores ou projetos de estudantes universitários (os bancos, nos Estados Unidos financiam muitos destes projetos, em estratégias como a que o Banco Santander faz com projetos universitários), devido à grande capacidade de lucro, caso os projetos fossem a frente. Apple e Microsoft, duas empresas líderes do ramo da informática, nasceram através destes processos. É importante lembrar que toda a história das tecnologias de informação está intimamente ligada aos interesses políticos, militares e econômicos dos Estados nacionais. (DANTAS, 2002, p.140) O trabalhador para o capital, em especial em tempos como o atual: Cada indivíduo inserido na produção capitalista não passa de um elo informacional que recebe, processa e transmite algum subconjunto de informação necessário às atividades de outros indivíduos, ou do conjunto sistema social no qual interage. (DANTAS, 2002. p.142)

O indivíduo tem simplesmente a missão de coletar, trabalhar e transmitir a informação que é inserida, muitas vezes retroalimentando a alienação de sua função, ao ponto de acreditar muitas naquilo que transmite. O objetivo principal é a transmissão mais rápida, de maneira mais rápida e sucinta para aquele que usará o dado obtido. Na ideia de Marx no qual a Economia de Tempo é a base da Economia, a informação surge como uma das chaves da acumulação capitalista, e a velocidade cada vez mais alucinante desta informação, transmitidas por meio dos bits, torna-se da Internet um meio propício para a proliferação das atividades financeiras. O Just In Time e a instantaneidade da realidade de acumulação do capital por via da informação, e o jornal rápido e transmissão veloz de ideias como em jornais nos moldes da CNN, deixam todos os ingredientes para os avanços da alienação. No caso do Brasil, temos alguns elementos semelhantes. Até 1962, quando foi criado o Primeiro Código de Comunicações, o principal meio de comunicação ainda era o telégrafo. Após promulgada, diversas empresas privadas de telefonia regional foram estatizadas, a fim de melhorar os fluxos de informação, em especial municipal.

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Entretanto, o Golpe Militar de 1964 fez com que a determinação da lei de criar uma empresa estatal fosse postergada para um ano após o golpe. A Embratel então foi fundada em 1965, e em 1972, foram criadas redes de telefonia que abrangiam de Porto Alegre até Manaus, e possibilitou a formação dos monopólios da comunicação televisiva, tais como a Rede Globo. Entretanto, os investimentos foram sendo reduzidos no governo de Geisel, que alegara que nenhum organismo poderia crescer tanto por um período longo de tempo, após um amplo crescimento das linhas telefônicas. Aproveitou-se o crescimento do Milagre Econômico, e a retração promovida pela Crise do Petróleo para segurar o desenvolvimento nacional Entretanto, um dos grandes avanços realizados deu-se exatamente com Geisel foi o CPqD (Centro de Pesquisas Padre Landell de Moura), onde fora desenvolvido o primeiro telefone por cartão indutivo do mundo, e extensão de fibra ótica. Mas a crescente onda neoliberal dos anos 80 e 90 fez com que esse centro perdesse seu caráter desenvolvimentista, parando a produção de produtos competitivos ao mercado internacional para que empresas estrangeiras ampliassem seus lucros no território nacional, a partir do governo Collor. A ideologia dos produtos importados, em compensação, começou a ganhar força. Em um país onde se consome produtos “enlatados”, desde comida até televisão, a indústria nacional que tentara se tornar competitiva em diversos outros ramos acaba sofrendo retaliações do capital internacional. Para Dantas, em um “país periférico, ele exclui a maioria da população da produção material, embora siga alimentando-lhe os desejos de consumo” (p. 214), assim como fazem as músicas como o funk ostentação, com suas letras mencionando diversos produtos extremamente caros, assim alimentando mais o desejo de consumo e denunciando o choque de realidades que existem entre periferia e centro.

4.3 O MARCO CIVIL DA INTERNET

O Marco Civil da Internet estabelece direitos, deveres e garantias dos usuários, mas não incide somente para usuários civis, mas também em questões econômicas (modelos de negócios) e os processos da infraestrutura da rede. Ainda há uma

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dependência da necessidade de os fluxos de bits do Brasil serem direcionados aos Estados Unidos, antes de serem enviados para o resto do mundo. Com base nas divulgações recentes do vazamento de informação por Edward Snowden comprovaram que a Agência Nacional de Segurança americana estava espionando informações do telefone da presidente Dilma (entre outros líderes mundiais), surge-se então a necessidade de rediscutir a questão da governança imposta pelos E.U.A. Surge-se assim a necessidade de intervenção de um órgão específico para que pudesse administrar a questão da internet, em especial em assuntos de cunho geopolítico, que também tem avançado para além do território do globo, direcionando-se à Internet, às redes e o Ciberespaço. Com o PLC 21/2014, o Brasil passou a compor, junto com Países Baixos e Chile, um seleto grupo de nações que promulgaram legislações específicas para regular a rede. (BEZERRA, WALTZ, 2014, p.161). Este projeto foi aprovado rapidamente pelo Senado e sancionado pela presidente brasileira, mas enfrentou resistências promovidas pelas multinacionais das telecomunicações. Ainda proveniente de parte do discurso neoliberal de desregulamentação de diversos setores de serviços. A postura de fiscal, ao invés de detentor dos serviços de telefonia em especial, teve de ser revista após os movimentos na rede provenientes de atividades de espionagem internacional promovida pelo Governo Americano. A gestão das informações que circulam pela internet, assim como o tráfego de arquivos dos Downloads precisaria de uma intervenção estatal, a fim de garantir os direitos de quem acessa a rede. Os principais eixos do Marco Civil da Internet brasileiro são pautados na privacidade, neutralidade e inimputabilidade da rede. A privacidade refere-se a tudo o que o indivíduo não pretende que seja de conhecimento público, reservado apenas aos integrantes de seu círculo de convivência particular, enquanto a intimidade diz respeito única e exclusivamente ao indivíduo. Esses direitos se estendem ao domicílio, à correspondência, às comunicações e aos dados pessoais. (BEZERRA, WALTZ, 2014, p.162)

A ideia de melhorar a capacidade do trânsito de arquivos pela internet seja a de que esse trânsito não comprometa a propriedade privada, ou seja, seja-lhes garantido o direito de guardar as informações pessoais para si, sem que o Estado interfira em ações diretas no computador de indivíduo X. ou Y., entretanto, ainda no mesmo autor:

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Mas o fluxo e o armazenamento de comunicações e informações pessoais na rede abrem brechas à vigilância estatal indevida, uso impróprio de dados de clientes por empresas, ataque de hackers a data centers e a dispositivos pessoais, vazamento de informações sigilosas por pessoas mal-intencionadas a fim de denegrir a imagem de terceiros, entre outros. (BEZERRA, WALTZ, 2014, p.162)

A internet é considerada pelo artigo 7° e 8° do documento, de fundamental importância para a cidadania, e exceto em caso de ordem judicial, a privacidade é entendida como uma condição para o pleno exercício da Internet e atividades na rede. A questão de garantir a privacidade a partir do Estado Nacional provém em especial ao episódio do processo de espionagem sofrido pela Presidente Dilma, considerado como ameaça à soberania nacional. A tecnologia, enquanto campo de luta entre governos e cidadãos por hegemonia, aparece com mais evidência após as ondas de protestos que tomaram as ruas de diversos países do mundo, inclusive do Brasil. Tal fenômeno chama a atenção especialmente por aparecer sem grandes constrangimentos em regimes democráticos ocidentais. (BEZERRA, WALTZ, 2014, p.164)

Surge-se um temor pela maior intervenção do Estado na Internet de que esse discurso por uma maior privacidade da rede mas com algumas intervenções para que garanta-se a segurança, possa ser utilizado de forma controladora, a fim de atar as pessoas de se organizar, em uma maneira mais repreensora de controle. O contexto nacional do momento político brasileiro não é muito propício a aceitação desta ideia, uma vez que processos midiáticos entendem esta como uma manobra contrária da ideologia neoliberal implementada, e os medos do controle por uma “Ditadura Comunista”, vinculada ao partido político de Dilma Roussef torna-se um contra discurso ao processo. No Governo do Rio de Janeiro, ocorreu a tentativa de se criar uma Comissão Especial de Investigação de Atos de Vandalismo em Manifestações Públicas, onde através de uma quebra de sigilo telefônico e de Internet, busca-se encontrar os “baderneiros” de manifestação. Alguns remetem esses atos como uma maneira de controle das ações populares, assim como fora feita durante a Ditadura Militar. Algumas questões do Marco Civil da Internet ainda são vistas como antidemocráticas. Retornando um pouco sobre a estrutura de rede já mencionada, os dados ainda passam por infovias que direcionam aos Estados Unidos, ou seja, mantém-se a vigilância internacional. Através dos aplicativos de celulares e serviços de sites, sejam eles de

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compra ou interação social, empresas privadas tomam para si um papel fundamental de mediação do debate público ao redor do mundo. (BEZERRA, WALTZ, 2014, p.165) Se haveria uma velada manipulação das nossas comunicações, nossa competência para entender como o poder está agindo sobre nós e nossa capacidade de tomar esse poder de volta começariam a ser erodidas de uma maneira insidiosa, imperceptível. (BEZERRA, WALTZ, 2014, p.165)

A falta de transparência da informação e a proliferação de discursos reacionários são uma das principais questões retomadas pelo discurso de uma maior necessidade de intervenção do Estado. Entretanto, uma manipulação dessas mídias possibilitaria uma formação de uma massa de manobra para fins do Estado ou de grupos oposicionistas. A força das redes sociais torna-se ainda mais importante, podendo ser observado de como as redes sociais foram fundamentais para a eleição da própria Presidente Dilma. O debate político adquiriu novas proporções com as interações pela rede, ainda que existam algumas dúvidas sobre o quanto de amadurecimento político ocorrera de fato, ou simplesmente um meio de tráfego livre é operado descontroladamente, e opiniões são lançadas avulsamente na rede. O conteúdo produzido gratuito e voluntariamente pelos indivíduos, que inclui seus hábitos de consumo, cyber movimentos e outras informações relevantes, é armazenado e convertido em estratégia comercial por meio de potentes servidores, batizados por ele de “servidores-sereia” (siren servers), acessíveis apenas a grandes conglomerados do setor. (BEZERRA, WALTZ, 2014, p.165)

Os registros são protegidos pela legislação do Marco Civil da Internet, mas não exatamente regulam os usos desses registros. Produtos de ações sociais realizados, tal como um vídeo de um músico tocando em um estúdio até mesmo o de algum processo ilícito são postados diariamente ao setor. E através das postagens em redes, como Facebook e Youtube, ou através de um sistema parecido com o Cinematch do Netflix, são direcionados mais produtos para o consumo, que variam desde curtir determinada página, assistir um determinado vídeo do mesmo canal ou assunto relacionado. Quanto a neutralidade da rede, temos: O conceito de neutralidade da rede alinha-se à resolução da Organização das Nações Unidas que aponta o acesso à internet como um Direito Humano. O Pacto Internacional Sobre Direitos Civis e Políticos, adotado pelo Brasil em 1992, estabelece no 2º parágrafo do Art. 19 que “toda pessoa terá direito à liberdade

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de expressão; esse direito incluirá a liberdade de procurar, receber e difundir informações e ideias de qualquer natureza, independentemente de considerações de fronteiras, verbalmente ou por escrito”. A ONU entende que qualquer restrição ou bloqueio à internet constitui uma violação do artigo 19, mesmo por conta de infrações de direitos autorais, como acontece em países como Reino Unido e França. (BEZERRA, WALTZ, 2014, p.167)

Entretanto, as empresas de maneira geral vêm se opondo cada vez mais a questão da neutralidade da rede, pois essa acarreta em prejuízos nas vendas de pacotes e planos de tráfegos, que reduzem e bloqueiam diversos acessos em aplicativos e jogos. Do outro lado, as empresas que fornecem os aplicativos argumentam que a péssima qualidade da Internet no Brasil, onde é comum pagar-se um serviço de 10mb sem sequer recebe-lo são os principais responsáveis pelas dificuldades de conexão das pessoas na rede. Da mesma maneira que ocorrera com os serviços e direitos autorais revistos no capítulo 1, fora formado um lobby que as vendas de pacotes diferenciados de Internet sejam feitas, tornando assim como o acesso aos meios públicos e aos serviços desigual em uma cidade, o acesso a internet. Ou seja, quem tiver mais condições financeiras tem melhor capacidade de integração à rede e direitos nela. Uma segregação econômica também se prolifera na rede. A internet é livre, contanto que se pague para acessa-la. Logo, ela perde a neutralidade e mantém-se como uma extensão dos serviços oferecidos pelo capital.

4.4 CIBERESPAÇO

Ciberespaço é um neologismo, ou seja, uma palavra criada que anteriormente não existia. Diferente de muitos conceitos e categorias, ciberespaço não provém de um trabalho acadêmico diretamente. A primeira utilização do termo, ou ao menos a que inicia as primeiras discussões sobre o que seria, encontra-se em Gibson, em seu romance Neuromancer, que remete sua definição como: Uma alucinação consensual experimentada diariamente por milhões de operadores em cada nação, por crianças sendo ensinadas conceitos matemáticos. Uma representação gráfica dos dados abstraídos de cada computador do sistema humano. Inconcebível complexidade. (GIBSON, 1993, p.67)

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O computador é um acessório fundamental para a imersão do usuário dentro das dinâmicas do ciberespaço, e o crescimento exponencial de usuários da Internet fez com que o termo ganhasse força. Cada vez mais as pessoas se conectam à internet, e cada vez mais estão imersas aos serviços que esta oferece. Ela criou e alterou diversas dinâmicas sociais, culturais, econômicas e políticas. Está próximo do impossível desconsiderar a importância e a força que ela possui, e como ela tornou-se tão fundamental para a expressão popular e institucional. Em um pensamento semelhante, mas transformado academicamente, temos: É o espaço social formado por sujeitos interconectados que constituem uma nova fronteira da comunicação e do real, e que se expressam por meio de figuras e imagens retóricas provenientes da literatura pós-moderna e das ciências da vida. (VILCHES, 2002, p.133)

Vilches, no entanto, adverte de que o ciberespaço seria não apenas uma nova forma de acumulação do capital, mas uma extensão da nossa própria vida cotidiana. Uma nova forma de relação social, mas que fatalmente alterará a concepção das pessoas. Ao contrário do que muitos pensam e divulgam, o ciberespaço não é apenas o território dos sonhos das tribos ciberpunks, nem se origina exclusivamente das tecnologias e da informática: trata-se sim de um novo espaço social de comunicação, que afeta a concepção do eu e do outro. (VILCHES, 2002, p.134)

O ciberespaço possui algumas implicações um tanto quanto mais severas quanto a sua utilização. Apesar de não existir uma localização que podemos estabelecer por coordenadas cartesianas, definidas a partir da latitude e longitude como se fosse uma área do globo terrestre, há diversas dinâmicas territoriais e diversas territorialidades incumbidas dentro da internet. A percepção da espacialidade do ciberespaço, no entanto, independe da inclusão de modelos tridimensionais à World Wide Web. Assim como apreendemos a espacialidade do mundo físico a partir da percepção das relações que os vários elementos que o povoam estabelecem entre si, também o espaço da Web ser revela para os usuários a partir da identificação das relações estabelecidas entre as várias 'páginas'6 - a partir dos links. (FRAGOSO, 2000, p.110)

Ainda em Fragoso (2000, p.110), define-se o ciberespaço como um “”espaço do tipo relacional.”, onde cada página de internet esteja compartimentada dentro de um território maior. Sim, o termo território não pode ser desconsiderado. Afinal, estamos

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mencionando algo aparentemente desconexo, mas que tem relação com a realidade que vivemos. É importante lembrar de que o ciberespaço provém inicialmente de dinâmicas ocorrentes dentro do mundo real, tal como a criação de uma página de internet, serviços propostos, conteúdo disponibilizado. Logo, estamos falando de um universo virtual, mas que não está ausente das intervenções políticas, econômicas, sociais e culturais que permeiam o real. Os 'caminhos' que ligam os diferentes elementos que constituem a World Wide Web podem permanecer invisíveis para o olhar unificador que mapeia, mas são percebidos pelo sujeito que navega o ciberespaço e apreende sua espacialidade não apenas pelo que vê, mas também em função do 'percurso' que realiza entre uma e outra instância visualizável. Milhões de usuários 'navegam' pela World Wide Web todos os dias, e ao final de cada sessão no ciberespaço levam consigo uma impressão da estrutura espacial sinalizada pelos caminhos percorridos. (FRAGOSO, 2000, p. 111)

Nesses momentos não podemos desassociar a extensão das dinâmicas urbanas e a internet. A esse ciberespaço, é atribuída a forma e o objetivo do consumo, no qual os conceitos de telecidade, a extensão das atividades urbanas “desprovidas” de uma loja física é retomada quando se trabalha com o ciberespaço. É certo que a noção de ciberespaço se apresenta como uma extensão do real. Em verdade, a constatação da aceleração do tempo como um redutor das distâncias físicas. Possibilitando novos usos e ações no meio geográfico físico, material modificando-o (JUNIOR, 2008, p.37)

Como já fora mencionado anteriormente neste trabalho, a internet “não para”, ou seja, através dela pode-se realizar compras ou adquirir determinados serviços não importando a hora que seja. Entretanto, os processos de logística ainda não acompanham a instantaneidade completa, mas que buscam uma maior agilidade de entrega de produtos e serviços aliados a comodidade, conforme a ideologia just in time, em virtude a alguns dos fatores explanados, tal como o consumo final toyotista dentro de um processo de customização e enaltecimento da individualidade, que são valores protegidos a todo o momento pelos princípios do capitalismo clássico, e a sensação de estranhamento para com a cidade que as pessoas vivem. Ainda sobre o consumo proveniente das novas mídias, temos:

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As novas mídias têm impactos desiguais sobre os componentes da cultura: facilitam a aquisição dos hábitos de consumo, mas pouco prestam à transmissão dos conhecimentos técnicos em que o contato direto de um profissional e de um aprendiz e o recurso à escrita permanecem insubstituíveis, mesmo se às vezes ganham ao serem completados pelos meios audiovisuais. (CLAVAL, 2014, p.398)

O consumo é um fator fundamental não somente para o crescimento das novas mídias, mas também para a divulgação e a criação das novas necessidades de consumo da sociedade. Um exemplo que podemos colocar, fazendo alusão a citação de Claval, está na própria educação, que tem mudado parte da sua dinâmica. Os cursos online surgem com o discurso da praticidade e comodidade de diversos outros serviços oferecidos pela Internet, maquiando a perversidade do avanço neoliberal e do sucateamento da educação. É inconcebível, por exemplo, cursos de licenciatura oferecidos em um molde não presencial, deixando-nos a questionar o tipo de formação oferecida frente à educação de base. Cada habitante persegue seus próprios interesses, e ainda assim as atividades de todos combinam para direcionar e tornar viva a cidade como um todo. O ciberespaço, ou pelo menos a Internet, possui esta qualidade. Talvez nenhuma outra metáfora disponível possa capturar como a da cidade a tensão através da qual a ação individual conduz a um senso coletivo de coerência (Bolter apud in FRAGOSO, 2000, p. 112)

As dinâmicas socioculturais ganham uma nova dimensão com a internet. Desde a participação das pessoas em fóruns de assuntos de gosto pessoal à construção política pelo debate de ideias através de sites de notícias, ou discussões acadêmicas em grupos nas redes sociais, há um novo tipo de imersão social que acaba tornando-se inclusive a própria base do convívio social atualmente. As redes sociais que integram sistemas de mensagens pessoais (conhecido popularmente como inbox), ou a criação de membros seletos para um determinado grupo de discussão tornam-se elementos importantes na discussão de ideias de trabalho, acadêmicas ou mesmo de interação social. Entretanto, um ponto importante deve ser lembrado são alguns dos comportamentos deploráveis que são constantemente evidenciados em comentários nas redes sociais, tais como o racismo, a homofobia e os discursos de ódio. Consequentemente, os sujeitos que se incorporam às redes e aos sistemas inteligentes sofrem uma fragmentação na identidade, o que produz insegurança psicológica e outras neuroses. Os sujeitos que entram na rede desvinculam-se da sociedade. E os sujeitos que não podem acessar as redes veem – se

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igualmente desvinculados dos benefícios da nova sociedade (VILCHES, 2002, p.22)

A fragmentação do indivíduo na rede é um dos principais males da interação no ciberespaço. Devido as interações nesse meio serem ainda um tanto quanto livres, o ciberespaço, na forma das redes sociais e dos veículos de notícia, a possibilidade para a proliferação de pensamentos anti-humanos, ou fomentam formas de hipocrisia através da realização de um discurso diferente daquele que é habitualmente defendido por alguém no mundo real. A possibilidade da criação de uma nova identidade, aparentemente desvinculada, pela possibilidade da falsificação da identidade (um perfil falso em uma rede social), para a realização de atos ilícitos. À rede e domínios brasileiros, é imposto a territorialidade do Estado – Nação através do sistema legal deste país, demonstrando a complexidade das ações em um espaço não real, mas que tem consequências dentro da realidade concreta. E forma-se uma nova possibilidade de divisão da sociedade, já pautada em ricos e pobres, burgueses e proletários, em que os agentes são conectados e desconectados, sendo esses excluídos das dinâmicas da interação ciberespacial, provocando-se um processo de exclusão espacial via rede. Uma vez que à Geografia é incumbida a missão de estudar as dinâmicas sócio espaciais, novos campos de proliferação destas torna-se fundamental para a compreensão da realidade. Para a geografia, a importância do conceito de ciberespaço baseia-se em estudos de como essa estrutura de redes afeta a dinâmica territorial e influencia, através da internet, o crescimento de serviços e atividades eletrônicas (JUNIOR, 2008, p.37)

Para a Geografia, o conceito de ciberespaço torna-se muito importante para a busca da compreensão da sociedade pós-moderna, altamente tecnificada e que entende o ato de estar conectada como uma necessidade. As antigas formas de interação social e, até mesmo com a natureza vão sendo substituídas pelas relações provenientes do envio de informação e bits. Conhecer muitas vezes não necessariamente está relacionado a uma experiência empírica de um determinado local, onde em muitos casos, pode-se viajar e conhecer cidades, paisagens sem sequer sair de casa. Há outras formas de interação da sociedade que foram criadas, e estas, são extremamente importantes para o conhecimento geográfico. A reestruturação da sociedade passa pelas redes computadorizadas, e a compreensão das dinâmicas provenientes no ciberespaço,

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possibilita um melhor entendimento de diversos elementos que compõem a sociedade em que vivemos hoje.

Realizando uma alusão à definição de espaço, em que: O espaço é então o termo da unidade. O plano em que se dá a relação homemnatureza. (...) O concreto que se percebe na forma do arranjo paisagístico na qual o homem sobrepõe-se à natureza através da unidade de organização que cria junto com seu trabalho. (MOREIRA, 2012, p.24)

No ciberespaço, temos uma nova forma de relação entre o homem-natureza transformada, na forma das cidades. Um espaço não tão concreto, mas sem dissocia-lo da realidade urbana que permeia a sociedade, a fim de uma nova forma de organização das relações de trabalho. Um possível novo desafio à Geografia, ao tratar de uma realidade que ganha forças dentro de uma sociedade com medo do mundo além dos portões de casa. E as ações de espionagem mencionadas anteriormente poderão ser um grande estopim para conflitos geopolíticos futuros. Um elemento fundamental para a análise de ações Micro e Macro, no qual é fundamental à Geografia estender seu raio de ação e suas categorias de análise.

4.5 OS CRIMES DIGITAIS E A DEEP WEB.

Considerando-se de que a Internet é uma extensão do território nacional, processos que ocorram nela que infrinjam o código legal brasileiro serão considerados crimes. A partir do momento em que a vida no ciberespaço torna-se cada vez mais intensa, parte dos limites são quebrados devido a fragmentação do indivíduo provocado pelas redes. Para Vianna (2000, p.5), é necessário um código de leis internacionalizado, mas reitera de que apesar da aprovação das leis ser historicamente lenta no Brasil, a legislação focada em crimes da Internet tem realizado avanços. Apesar disso, no globo de maneira geral, ainda há poucos casos de condenação comparado ao número de crimes realizados na rede. As atividades dos hackers são a principal forma de crime pela Internet. É comum a tentativa de ataque em órgãos estatais americanos, como NASA e Pentágono, além dos desvios de dinheiro em contas

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bancárias, mas também é extremamente comum o roubo de informações, desde projetos militares, cadastros bancários e informações sigilosas voltadas à vida pessoal das pessoas. O cyberativismo no Brasil tem seu primeiro caso de relevância nacional quando em 18 de Junho de 1999, páginas como a do Supremo Tribunal Federal e a do Palácio do Planalto foram invadidas por hackers. Entretanto, o objetivo era uma forma de protesto à situação econômica do Brasil, que estava sobre uma crise econômica que afetara em especial os países do Cone Sul. Ataques também foram realizados ao Ministério da Educação e ao site do PFL (Partido da Frente Liberal). Entretanto, há diversos outros crimes realizados através da internet. Existem registros da venda de drogas ilícitas, como o LSD e outros tipos de ácidos através de sites de compras como o E-Bay, e recentemente, na cidade de Liverpool (Inglaterra), um grupo utilizava um aplicativo de celular para relacionamentos, para realizar a venda de cocaína e outras drogas. Entretanto, para entendermos parte dessas dinâmicas dos crimes pela internet, precisamos entender o que são as redes de computadores. Redes de computadores são um conjunto de computadores ligados entre si que compartilham todos ou parte de seus dispositivos. Assim, numa rede, pode-se receber dados a partir do teclado do computador A, armazená-lo no disco rígido do computador B, e finalmente, imprimi-los, depois de processados, na impressora conectada a um computado C. Acrescente-se que os computadores A, B e C podem estar separados fisicamente por quilômetros de distância, até mesmo em países diferentes. (VIANNA, 2000, p.10)

Há dois tipos de computadores nesse exemplo. A e C são denominados como clientes, ou seja, são aqueles que iniciam e finalizam a operação, algo como remetente e destinatário. O computador B, é um servidor, ou seja, é aonde armazena-se a informação. O fato de eles poderem estar separados, e agindo em diversos locais, tornase cada vez mais importante a necessidade de uma operação conjunta e internacionalizada, assim como a necessidade da criação de uma legislação internacional dos crimes de Internet. Torna-se mais difícil quando cada legislação de cada país entende os processos ilegais de maneiras distintas. Os computadores clientes (A e C) não tem acesso a todos os tipos de informação do servidor, ou não tem capacidade de modifica-los. As permissões de acessos, tais

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como senhas são fundamentais a fim de compartimentar determinadas partes da informação. Quando acessamos um site, temos capacidade de leitura e de obter alguns tipos de dados oferecidos por intermédio de downloads, mas não temos a capacidade de alterar o conteúdo dessa página, salvo os casos em que se é o próprio servidor da página. O hacker adquire a permissão para modificar os dados. Os e-mails se comportam da mesma maneira, e muitas vezes há clonagem de contas de e-mail ou invasão para obterse informações e contatos. O objetivo dos hackers é ampliar permissões de acesso a computadores ligados em rede (VIANNA, 2000, p.13). Entretanto, da mesma maneira que fora realizada uma análise da pirataria como resistência, esse mesmo caso deve ser entendido dentro de uma lógica de manifestação social. No caso da invasão dos órgãos públicos nacionais, temos um nítido descontentamento com a situação política e econômica de um país. É relevante lembrar que pessoas como Edward Snowden, liberaram um tipo de informação que era considerada sigilosa pelo governo americano, mas que era de suma importância para o direito internacional, já que o grampeamento de telefones de líderes de nações mundiais é uma medida ilegal e que poderia desencadear futuros problemas de ordem geopolítica. Uma das maneiras mais comuns dos hackers agirem são através dos Cavalos de Tróia, ou seja, pequenos falsos programas que permitem o acesso direto de um computador, tornando-se o servidor do hacker, garantindo-lhe o acesso para eliminar programas do computador e o furto de senhas. Assim, surge cada vez mais a necessidade da criação de sistemas de defesa do computador, com a instalação de antivírus, spywares, e programas para dificultar a entrada de produtos indesejados. Claro que nem todos os casos de hackers agindo pela rede estão envolvidos com a questão da liberdade de expressão e da liberdade da informação. Muitos estão envolvidos com a invasão de contas bancárias, ao envio de e-mails em forma de spam ou propagandas de atividades como a prostituição e apostas (gambling), simplesmente como uma forma de desafio ou diversão. É importante lembrar que na web, além dos comentários de cunho nazista/fascista, também temos acessos a redes sigilosas em uma espécie de “mercado negro” da internet, conhecida como Deep Web. A internet que utilizamos comumente é chamada de Surface Web (Rede Superficial). A maior parte dos conteúdos da internet são inacessíveis de maneira

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convencional, ou seja, pelos navegadores tradicionais, formando assim uma parte conhecida como Deep Web (Rede Profunda). O termo foi utilizado pela primeira em um trabalho de Michael K. Bergman, e aproximadamente possui de 400 a 500 vezes o tamanho da Surface Web. Segundo Bergman, há aproximadamente 10 níveis de camadas de acesso na Deep Web, onde a medida que o usuário vai participando cada vez mais, ele ganha mais acessos (POMPÉO, 2013, p. 441). Entretanto, há muitas dúvidas ainda sobre informações da própria Deep Web. Acessa-la é uma tarefa bem árdua, e muito dos materiais postados para acessa-la são rapidamente retirados. As informações na chamada Deep Web são postadas anonimamente, extremamente criptografadas (o que dificulta o acesso), e lá são encontrados diversos tipos de serviços ilegais, ou mesmo acessar informações dos sites chineses, que são duramente controlados quanto a visualização e acesso. O sistema de acesso mais comum é o Tor. Desenvolvido originalmente pela marinha americana, foi criado inicialmente para proteger as comunicações online dos E.U.A., e é tanto utilizado para o policiamento das atividades ilegais na rede, como para realizar acessos ilegais. Pelo fato de não exigir uma legislação internacionalizada regulamentando a Internet, é impossível fazer com que o acesso da Deep Web seja repassado para a Surface Web. Da mesma forma que as mais diversas relações sociais e econômicas se expandiram com o avanço das tecnologias de comunicações e transportes, os crimes também ultrapassaram fronteiras, eis que intimamente ligados à vida em sociedade, não se tratando de patologia, mas fato social normal. Dito isto, imperioso destacar, então, que, com o advento da globalização, surgiu um novo fenômeno: o crime global (POMPÉO; SEEFELDT, 2013, p. 443)

É nesse momento em que surge cada vez mais a preocupação sobre as atividades no ciberespaço, uma vez que as atividades ilícitas também ultrapassam a barreira das atividades concretas, desde o intermédio de uma negociação de atos ilícitos que variam de compartilhamento de arquivos como vídeos e fotos relacionados a pedofilia, como tráfico de pessoas e o próprio tráfico internacional de drogas, órgãos e pessoas. Diversos contatos entre organizações criminosas, tais como Yakuza, Cosa Nostra e outras, têm realizado atividades a partir da Internet, utilizando a Deep Web. O sucesso e expansão de atividades criminosas transnacionais se dão com a versatilidade e flexibilidade de sua composição, mas, sobretudo, da Deep Web enquanto ferramenta que sustenta de modo invisível suas articulações. Tal e qual um líquido, o qual se forma conforme o ambiente e se maneja sorrateiramente

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pelas beiradas e infiltrações, os perigos desse novo mal pós-moderno alcança toda a sociedade em rede e seu sucesso necessita, sem dúvida, de uma interligação global e silenciosa, onde os envolvidos se encontrem alheios a fiscalização do Estado. (POMPÉO; SEEFELDT, 2013, p.444)

A partir dessa abordagem, percebemos cada vez mais uma dificuldade crescente de um mundo cada vez mais interligado pelas redes de computadores. As ações pelos meios eletrônicos ainda se encontram longe de uma jurisdição que consiga controlar as ações ilícitas da internet. Nesse cenário, assim como cresce a indústria da segurança privada nas cidades e de aparatos para defesa, cresce também a necessidade da proteção de dados cibernéticos. A Deep Web também é utilizada como uma maneira de dissidentes iranianos e chineses para acessarem a web tradicional sem que seus governos os rastreiem, tornando ainda assim, uma importante ferramenta de resistência de alguns grupos extremamente reclusos de compartilharem dados de suas culturas. Mas em um tocante geral, a informação que circula por ela tem conteúdo ilegal.

4.6 A QUALIDADE DA INTERNET NO BRASIL

O Brasil é um dos países com maior acesso diário a internet. Muito desse acesso deve-se a expansão das operadoras, tais como Vivo Speedy, NET e GVT oferecerem pacotes promocionais com frequência. Entretanto, neste processo de intensa expansão, a qualidade do serviço é considerada baixa. Para as empresas, é muito mais vantajoso em expandir o número de assinantes primeiro antes de melhorar a qualidade dos serviços oferecidos. A importância da velocidade de conexão é alta, já que em um mundo altamente conectado como o atual, uma internet lenta significa estar abaixo do nível de competitividade. Devidos as muitas diferenças socioeconômicas e espaciais do Brasil, menos de 1% do território nacional é propício a Internet de fibra-óptica, apesar de muitas pesquisas sobre essa tecnologia terem sido realizadas nos anos de 1980.

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Figura

3 Velocidade da Internet Brasileira comparada aos outros países. Fonte http://epoca.globo.com/ideias/noticia/2015/03/binternet-brasileira-be-lenta-como-economia-e-osconsumidores-sofrem-com-isso.html. Acesso em: 08 nov. 2015

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Apesar disso, o Brasil é um dos países que mais acessa a Internet, e é visto como um importante mercado em expansão para serviços online, tais como NETFLIX, IFood e outros.

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Figura 4 Número de usuários de Internet no Brasil. Fonte http://epoca.globo.com/ideias/noticia/2015/03/binternet-brasileira-be-lenta-como-economia-e-osconsumidores-sofrem-com-isso.html acesso em: 08 nov. 2015

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Figura 5 Velocidade média (MB/s) oferecidas ao NETFLIX por provedores de Internet no Brasil, em Outubro de 2015. Fonte: http://brasilblog.netflix.com/. Acesso em: 08 nov. 2015

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Podemos verificar através deste trabalho, uma relação próxima entre o desaparecimento das videolocadoras, a expansão da Internet pelo Brasil, sendo consequência das dinâmicas econômicas e de infraestrutura que as empresas interligadas dentro do processo toyotista de produção, pautada pelo Just in Time. A participação cada vez mais ativa dos brasileiros na Internet em diversas áreas, demonstra que a expansão da Internet no Brasil e a necessidade do brasileiro de se conectar vem crescendo a cada dia. O número de pessoas com celular e acesso à internet se expande a cada momento. Este processo auxiliou a expansão do NETFLIX no Brasil e no mundo. Contando com 30 vezes menos de funcionários, a expansão do serviço supera a quantidade de países que sua maior concorrente como loja física possuiu. Entretanto, este trabalho pontuou elementos provenientes da perversidade do uso dos meios eletrônicos como uma substituição das relações sociais. A Internet e a tecnologia, da mesma maneira que servem para informar e aproximar as pessoas distantes, serve como massa de manobra para pensamentos reacionários e antidemocráticos, e acrescentar ainda mais um espírito mais individualista, menos humano. A relação das pessoas com a cidade vem sendo alterada pelas mudanças tecnológicas, em momentos de que a perca da sociabilidade, em busca de uma identidade mais individualista, fruto da base do pensamento capitalista, vem crescendo cada vez mais. O medo foi demonstrado como um fator psicológico importante para a expansão dos serviços online, e enquanto consumidores de produtos online compram serviços e produtos via comodidade, a cidade e seu esquema de logística continua crescendo, acarretando problemas ao tráfego de pessoas e mercadorias. E a vida na cidade tem sido substituída pela vida no computador. Entretanto, foi demonstrado os perigos que rondam a Internet e o ciberespaço, e as ações dos países a fim de garantir um maior controle da Internet, formando territorialidades que vão ficando mais tênues e tensas a partir dos processos de espionagem realizados por países, tal como os Estados Unidos fizeram com a Presidente Dilma e a Chanceler da Alemanha, Ângela Merkel. Foi também citada a relação do

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desenvolvimento dos meios de comunicação com o capital financeiro, que dita as regras da economia global atualmente, e como a expansão da internet possui relação íntima. Foi justificada a importância do estudo do Ciberespaço na Geografia, devido a confluência dos assuntos discutidos na Internet e a relação com o mundo real que ela possui, sendo comentado os perigos da Deep Web, e a importância e impasses do Marco Civil da Internet Brasileira.

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