Ciberhistória

June 19, 2017 | Autor: J. Oliveira | Categoria: Cyberculture
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José Cláudio Alves de Oliveira Historiador, Jornalista e Museólogo. Mestre em História da Arte e Doutor em Comunicação. É Professor de Museologia da UFBA e do Curso de Comunicação – Publicidade e Propaganda – da FSBA. RESUMO O presente texto traz informações sobre a cibercultura, o ciberespaço e a História. Tece uma relação com a memória social e os estudos sobre o patrimônio, que são enfoques da ciência da história e que estão, há dez anos, num espaço universal onde comunidades de pesquisadores têm maior rapidez e facilidade em pesquisar. O termo ciberhistória, aqui, portanto, é empregado para demonstrar uma história trabalhada no ciberespaço e uma história disponível para pesquisadores que buscam, na cibercultura, uma forma de viabilizar a historiografia. Palavras-chave:ciberespaço, cibercultura, história, memória social, pesquisa.

ABSTRACT This article brings informations about cyberculture, cyberspace and the History. It makes a relationship with the social memory and the patrimony’s studies that are history science’s works and that are, since ten years, in the universal space where communities of researchers have more fastness and easiness to research. The concept of cyber history, here, is used to show a history worked in cyberspace and another history available to researchers that search, on the cyberculture, a way to viability the historiography. Keywords: cyberspace, cyberculture, history, social memory, research

RESUMEN El actual texto trae la información sobre un cibercultura, ciberespacio e historia. Teje una relación con la memoria social y los estudios en patrimonio, que son acercamientos de la ciencia de la historia y que son, tiene diez años, en un espacio universal donde las comunidades de investigadores tienen mayor rapidez y sencillez en buscar. El término del Ciberhistória, aquí, por lo tanto, se utiliza para demostrar a una historia trabajada en ciberespacio y historia disponible para los investigadores a que buscan, en el cibercultura, uno forma para hacer posible el historiografía. Palabras-clave: Ciberespacio, cibercultura, historia, memoria social, investigación

Resumo/ Abstract/ Resumen

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Cibercultura, Ciências e Sociedade Nas duas últimas décadas, a Informática e a generalização do uso do computador revolucionaram todos os segmentos da sociedade, e os historiadores não ficaram imunes a esses efeitos. Mais ainda, a difusão dos computadores pessoais em forma massiva, a partir da década de 80, levou os historiadores e outros cientistas sociais a tirarem vantagens da Informática. Certamente que um dos impulsos dessa evolução - e aqui podemos citar Pierre Lévy - foi (e é) a facilidade dos programas e interfaces promovidos pelo que podemos chamar “cibercultura”. A facilitação da troca de comunicação entre o homem (pesquisador) e a tecnologia (softwares, hardware, rede, e-mail...) trouxe uma aproximação nas ciências humanas que se mantinham avessas ao campo tecnológico. Uma aversão carregada de ranço, principalmente por correntes historiográficas e educacionais. Tendências que, ainda hoje, mesmo já utilizando a informática, mantêm-se com certa desconfiança e sinais de repúdio. É a resistência às mudanças e modelos. Assim, gostaríamos de enfatizar a atuação da história, tecendo um argumento que possui reflexo no livro do Pierre Lévy e relatando algumas experiências de um passado recente que grupos de historiadores desenvolveram e continuam desenvolvendo. A Difusão da Ciência da Informática entre os Historiadores O interesse por parte dos historiadores a se adaptarem rapidamente às mudanças tecnológicas manifestou-se através de quatro atividades básicas. A primeira foi a criação de associações nacionais e internacionais dedicadas a agrupar historiadores que utilizam a computação ao estudo do passado. A segunda consistiu na realização de congressos nacionais e internacionais para a troca de experiências entre historiadores. A terceira foi a criação de seminários e cursos de mestrado dedicados especificamente a treinar profissionais em História e Computação. Finalmente, a quarta foi representada pela existência de vários jornais especializados em história e computação. Uma das primeiras associações internacionais dedicadas a agrupar historiadores que utilizam a computação no estudo do passado foi a Association for Computer and the Humanities (ACH), criada em 1966, nos Estados Unidos. Dez anos mais tarde, foram criadas duas organizações, uma na Inglaterra, Association for History and Computing (AHC), e outra similar na Áustria. Franceses e portugueses criaram associações similares em 1987 e os países escandinavos e a Suíça, no ano seguinte. Em 1990, vinte cinco países tinham suas próprias organizações nacionais e a Associação de HistóJosé Cláudio Alves de Oliveira 24

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ria e Computação (AHC), criada em Londres em 1986, transformou-se numa organização de caráter internacional, agrupando todas as demais organizações nacionais. A Associação Brasileira de História e Computação (ABHC) foi fundada em Florianópolis, em setembro de 1991, por ocasião do Encontro Internacional de História e Computação, organizado pelo Curso de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Santa Catarina. A ABHC, primeira em seu gênero na América Latina, em novembro de 1991, foi aceita como membro da Associação de História e Computação (AHC). As principais funções das associações nacionais de história e computação foram, entre outras, a de promover conferências anuais, organizar cursos específicos sobre História e Computação e criar grupos de historiadores dedicados a pesquisas, à formação de profissionais na área, ao desenvolvimento de softwares específicos para historiadores e à organização de base de dados para a difusão de bibliografias e fontes documentais. Nas universidades Européias e dos Estados Unidos, os historiadores, para adaptarem-se rapidamente às mudanças tecnológicas, começaram a incorporar, no currículo dos cursos de História, disciplinas dirigidas a treinar alunos no uso de computadores pessoais, como também para historiadores já formados, e criar condições para que pudessem tirar vantagens da tecnologia. O centro mais antigo de treinamento na área de História e Computação‚ o Inter-University Consortium for Political and Social Research, foi criado em 1962, na Universidade de Michigan, em Ann Arbor. A instituição, um agrupamento de universidades norte-americanas e canadenses, realiza todos os anos, no período do verão, cursos sobre métodos quantitativos e uso de computadores para historiadores e cientistas sociais. Na Europa, o treinamento de historiadores na área de História e Computação tomou lugar através de cursos especializados realizados durante o verão. Os cursos foram realizados, a partir da segunda metade da década de 80, no Instituto Max Planck em Gottingen, na Universidade de Colônia, na Universidade de Glasgow e na Universidade de Salzburgo. A partir de 1990 ,foram oferecidos cursos de mestrado em História e Computação na Universidade de Londres. O Instituto de Pesquisa Histórica da mencionada universidade oferece um mestrado em História e Computação e o University College and Birbeck College oferece um mestrado em Computação e História da Arte. A difusão do interesse na aplicação da computação na pesquisa histórica proporcionou publicações especializadas, das quais as mais importantes estão ao final deste artigo, na bibliografia recomendada que, inclusive, referencia também temáticas diretamente ligadas à cibercultura. A criação de associações nacionais e internacionais, Ano 4, n.2 (agos./dez. 2005)

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a realização anual de conferências e congressos, a existência de seminários e cursos de mestrados e a publicação de um número importante de jornais especializados indicam que a aplicação da computação ao estudo da História não é simplesmente um fenômeno passageiro. A aplicação da computação ao estudo da História não é considerada simplesmente como uma nova metodologia, mas sim uma nova área de conhecimento no campo da História, com uma epistemologia própria e com um objeto de conhecimento específico. A cibercultura e o Conhecimento Histórico A História, enxergada como Ciência, trata, a partir da documentação existente, de reconstituir a experiência humana, organizando-a cronologicamente, segundo sua localização geográfica e constituição temática. Grande parte do trabalho do historiador consiste em manipular uma grande massa de documentação para resgatar esta experiência humana, organizando, classificando, selecionando, analisando e, finalmente, comunicando os resultados de sua pesquisa. Há mais ou menos seis anos, os historiadores utilizavam os computadores em três situações básicas. Na manipulação de uma grande massa de documentação para seu registro, ordenamento e classificação; na transformação da informação em dados numéricos, visuais ou de outro tipo - para responder a perguntas específicas resultantes de seus projetos de pesquisa ou verificar hipóteses de trabalho. Finalmente, na utilização da comunicação dos resultados obtidos no processo de investigação, utilizando a “multimídia” (aqui entre aspas porque foge um pouco da definição de Pierre Lévy) e do hipertexto, para levar o conhecimento do passado às salas de aula, auditórios e mídias eletrônicas. Hoje, os múltiplos trabalhos resultantes da aplicação dos computadores no estudo da História, da evolução da informática e de sua facilitação, podem agrupar-se em vários aspectos. Vejamos: a) Informática e Documentação, consistindo na criação de Bancos de Dados“on-line”. A preservação e digitalização de documentos, a proposta de criação de bancos de imagens. O uso corrente do e-mail e a criação de listas de discussões. b) A aplicação da Ciência da Informática em pesquisas específicas. Grande parte dos trabalhos é realizada a partir da manipulação de uma grande massa de documentação. Atuação da informática no estudo do passado, da multimídia e do hipertexto criando, desta maneira, com já foi dito, uma nova media, além do texto impresso, para levar o conhecimento histórico a salas de aulas e auditórios. José Cláudio Alves de Oliveira 26

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c) A criação de software específicos para estudos seriais, de imagens e bancos de dados nos campos estatísticos. d) A pesquisa em rede. E no Brasil? No Brasil, vários trabalhos vêm sendo realizados desde o final de 1989, aplicando a informática ao estudo do passado. Os temas são norteados com ajuda de bancos de dados, bancos de imagens, arquivos de textos, multimídia e hipertexto, buscando tematizações nos campos da história serial, nos estudos da economia, mentalidades, da arte, principalmente da arquitetura religiosa Colonial, da qual as investigações ganham suportes das imagens digitais que auxiliam os investigadores nos estudos iconográficos. Um bom exemplo é (ou foi) a comunicação de Rachel Calvacanti Rauh, dirigida a explicar a metodologia desenvolvida para utilizar as fotografias como fonte de documentação histórica, utilizando uma base de dados e exames de imagens. Esse caso é importante porque aconteceu no II Encontro de História e Computação, em Ponta Grossa, Paraná, em 1992, certamente um dos pioneiros no Brasil. Vale lembrar que um outro campo da História vem se destacando na utilização do ciberespaço. Falamos da História da Arte, que vem explorando o armazenamento ou que ajuda na didática da sala de aula, como é o caso da avaliação de software para bancos de imagens, do aproveitamento dos conteúdos exposicionais e documentais dos museus da web e de CD ROMs de museus. Toda essa exploração está facilitando a transmissão, discussão, apresentação e contextualização iconográfica, iconológica dos objetos. O Passado como mensagem

Toda pesquisa histórica consiste em duas atividades básicas. A primeira em indagar sobre o que o pesquisador deseja conhecer; a segunda, em comunicar a outros o que aprendeu na investigação. Reside aí a atividade de comunicar o já apreendido. A comunicação do passado histórico por meio digital pode agrupar-se em três grandes áreas, a saber: a) O hipertexto. A facilitação e a agilização do texto – um dos elementos primordiais ao historiador – através da agilização e dos links. A capacidade do conceito de Hipertexto para a comunicação do conhecimento histórico pode ser demonstrada a partir de duas Ano 4, n.2 (agos./dez. 2005)

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experiências. Uma realizada pelo historiador inglês Donald Spaeth e outro pelo Grupo Ipertempo, da cidade de Vaiano, na Itália, que apresentou, no I Encontro Internacional de História e Computação, realizado em Florianópolis, em setembro de 1991, o Progetto La Immagine Ritrovata. Ambos os trabalhos têm duas características básicas: a primeira trata da história local. A segunda busca uma participação do leitor no trabalho, na medida em que o propósito não é meramente informar, mas levar o usuário a analisar a informação e, se desejar, a criar um trabalho escrito sobre ela. Ambas experiências foram realizadas utilizando o programa Hypercard e um computador pessoal Apple Macintosh. Isso há dez anos. Hoje uma questão já consolidada. Mas fica aqui o registro para esses dois grupos que, de alguma forma, contribuíram e contribuem para a evolução cibercultural. b) A revolução da informática levou à criação de associações de profissionais de História e Computação, à organização de congressos nacionais e internacionais, a fomentar cursos específicos sobre o tema e a modificar a estrutura curricular dos cursos de História. Os computadores pessoais permitem a criação de bancos de dados “online”, a preservação de documentos por meios eletrônicos e o contato planetário dos historiadores com a utilização de correios eletrônicos. Em outras palavras, a aplicação da computação na História tem por limite a imaginação dos historiadores. c) A transmissão visual. Seja ela imagem ou texto. Capacita o armazenamento, modificação, envolvimento com novos suportes e trocas de imagens, principalmente; d) Multimídia e história. A percepção para o historiador de que, hoje, o texto é também eletrônico, para estudo e para sua divulgação. E que um trabalho pode e deve ser auxiliado simultaneamente por sons e imagens, de maneira dinâmica e ágil. Essa é a proposta multimidiática em história. Tecnicamente falando, pois em termos de conteúdo percebe-se que os CD-ROMs e sites ainda não evoluíram mais do que certos (ou errados?) livros didáticos de 2º grau.

Ciberhistória e cibercultura: o encontro A noção de cibercultura, ou seja, “um conjunto de técnicas (material e intelectual), de práticas, atitudes, pensamento e valores que definem o ciberespaço” que proporciona privilégios à coletividade, basicamente no saber, acolhe a proposta dos historiadores José Cláudio Alves de Oliveira 28

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e outros cientistas sociais, quando se rompe o preconceito tecnológico e se assumem as formas hipertextuais digitais como recursos imprescindíveis para as investigações. Isso do ponto de vista prático. Contudo, há um outro ponto importante em que a cibercultura se encontra com a História. É a memória. A ciência da história - dentre outras ciências - trabalha com a memória coletiva. Busca armazená-la, quantificá-la, preservar e contextualizar os fatos, atitudes e valores humanos. Na cibercultura, a memória é também um ponto básico. A cibermemória tem um papel determinante na preservação de documentos e a sua difusão através dos seus meios. Ela, portanto, não reside apenas nos mega e gigabytes. Está também em outra face, menos técnica. Mais precisamente, na preservaçãoarmazenamento, na busca-transmissão dos próprios fatos e acontecimentos, acumulando e processando um interminável banco, agora universal. E, certamente, um encontro com uma “arqueologia do saber”, onde agora o buril, a pá e o pincel são os links.

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ambiente

objeto

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