Ciberjornalismo e dispositivos móveis: características do jornalismo em mobilidade

August 6, 2017 | Autor: S. C. da Silveira | Categoria: Journalism, Online Journalism, Mobile Communication, Ciberperiodismo, Mobilidade, Ciberjornalismo
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Ciberjornalismo e dispositivos móveis: características do jornalismo em mobilidade Isadora Ortiz de Camargo1 Stefanie Carlan da Silveira2

Resumo Falar em jornalismo aliado à comunicação mediada por computador nos últimos tempos é repensar a estrutura de produção e distribuição do jornalismo em si, bem como sua conceituação e nomenclatura. Em específico neste artigo, buscamos tratar das últimas questões a fim de obter um maior esclarecimento acerca das características que fazem parte de uma possível denominação do jornalismo feito para dispositivos móveis. As terminologias utilizadas nos últimos anos para se referir a novos modelos de jornalismo são variadas: jornalismo online, webjornalismo, ciberjornalismo, jornalismo multimídia, jornalismo móvel. Todas fazem parte de um grande campo, mas carregam em suas nomenclaturas características específicas sobre a plataforma a que estão conectadas. Atualmente, especificidades da produção para dispositivos móveis nos colocam diante de experiências noticiosas que podem ser caracterizadas como "jornalismo em mobilidade". Baseando-nos em estudos de autores como Canavilhas (2013), Silva (2008), Anderson, Bell e Shirky (2013), propomos a apresentação de elementos que auxiliam a caracterização do jornalismo para dispositivos móveis.

São eles:

acessibilidade, tactilidade, imediatismo, geolocalização e hibridismo. Palavras-chave: Ciberjornalismo; mobilidade, internet; redes digitais; dispositivos móveis.

                                                                                                                        1 2

 

 Mestranda na Universidade de São Paulo (USP), Brasil.  Doutoranda na Universidade de São Paulo (USP), Brasil.

Introdução

O jornalismo pode ser diferenciado por terminologias e conceituações que se constituem, entre outras coisas, a partir do entendimento do seu suporte técnico, como nos casos, por exemplo, do jornalismo impresso, telejornalismo e radiojornalismo. Essas denominações, no entanto, não carregam consigo apenas a questão do suporte, mas também de um modelo de produção e características específicas do produto final. O jornalismo online, por exemplo, trata de serviços acessáveis por meio de conexão à internet. O webjornalismo aborda a prática realizada somente na web (plataforma que não deve ser confundida com internet). O ciberjornalismo considera a realização feita no ciberespaço, ampliando as noções até aqui exemplificadas, na medida em que este leva em conta instâncias online, off-line, da web e da internet. O jornalismo multimídia leva em consideração a publicação que se apresenta a partir de múltiplas mídias. Sabendo das características do ciberjornalismo já apontadas por diversos autores, é possível conhecer as especificidades de cada produção e seu modelo postos até aqui. No entanto, recentes experiências de jornais nacionais e internacionais mostram

que

estamos

observando

uma

produção

jornalística

apresentada

especificamente para tablets ou smartphones. O que se pode dizer, até o momento, é que há produtos embarcando no conceito da mobilidade para impulsionar novos lançamentos. Com isso, algumas experiências noticiosas poderiam ser caracterizadas como "jornalismo em mobilidade", considerando a fase do ciberjornalismo contemporâneo

caracterizado

por

elementos

que

foram

acompanhando

o

desenvolvimento da tecnologia, além de incorporados ao dispositivo e à forma de produzir, reportar e distribuir. Neste trabalho, os elementos integrantes para a designação do jornalismo em mobilidade são baseados nos estudos de autores como Canavilhas (2013), Silva (2008), Anderson, Bell e Shirky (2013). A partir daí, propõem-se aqui a apresentação de cinco elementos que podem auxiliar a caracterizar o jornalismo em mobilidade. São eles: acessibilidade, tactilidade, imediatismo, geolocalização e hibridismo. A classificação de jornalismo móvel vem sendo usada pelos norte-americanos como Mojo ou mobile journalism, já como uma vertente profissional e de estudos. Por

isso, buscar elementos característicos do jornalismo unido à mobilidade, pode auxiliar a diferenciá-lo enquanto produção móvel e, mais ainda, ajudar a compreender o momento em que estamos visualizando este tipo de produção.

1. O jornalismo digital como campo de estudos e segmentações

As terminologias são muitas: jornalismo online, webjornalismo, ciberjornalismo, jornalismo interativo, jornalismo de novas mídias, jornalismo multimídia, todas fazendo parte de um grande campo de estudo jornalístico dentro das redes digitais. Para diferenciar algumas destas nomenclaturas é importante que comecemos a partir de preceitos básicos, como a noção de Internet e web. A internet se refere a uma plataforma virtual que une um conglomerado de redes em escala mundial e permite acesso e troca de inúmeros tipos de dados. A Internet surgiu em 1969, com a Arpanet criada pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos, através de financiamento da Advanced Research Projects Agency (Arpa). O objetivo era desenvolver uma rede de computadores descentralizada, onde as máquinas estivessem interligadas e, no caso de uma guerra, se um ponto fosse destruído, os outros poderiam manter a comunicação e a transmissão de dados entre as unidades militares. As conexões foram aumentando até que, em 1990, a Internet atingiu um milhão de usuários e começou a ser utilizada comercialmente, difundindo-se entre vários países e chegando ao Brasil na metade da década de 1990. A web (World Wide Web) é uma parte da Internet e se refere a um ambiente que fornece informações em hipermídia., representando apenas um dos diversos serviços oferecidos pela primeira. A web foi desenvolvida no início da década de 1990 pelo físico Tim Berners-Lee, da Organização Europeia para Pesquisa Nuclear. O objetivo era criar uma interface mais amigável, que pudesse tornar mais fáceis as comunicações na Internet. Tecnicamente, o físico mostrou como a informação poderia ser transmitida de uma maneira mais amigável ao leitor da tela. O primeiro servidor web funcionou no próprio centro de pesquisa e, em dezembro de 1991, o primeiro servidor, fora da Europa, foi instalado nos Estados Unidos fazendo com que, a partir daí, a web se tornasse global (CASTELLS, 2001).

A web pode ser caracterizada como uma interface que começou a facilitar o acesso dos usuários, assim que a conexão se espalha, e para a intercomunicação entre usuários e máquinas pudesse ser facilitada. A informação aparecia de uma forma mais amigável ao leitor e a partir de então a web seria uma espécie de interface da internet que se tornaria global e reconhecida pelos usuários através das URL's das páginas que iniciam com www. (CASTELLS, 2001). É por isso que, de antemão, não se pode considerar webjornalismo como sinônimo do jornalismo digital, já que esta denominação implica na limitação de sua ligação direta com a web, isto é, de conexão e interação com as páginas/interfaces mais fáceis da internet, as tipicamente denominadas de homepages, sites, websites. O webjornalismo traz novas linguagens e formas de reportar na web e devido a web, reorganizando a disposição da notícia, criando novos modelos como o proposto também por Canavilhas (2005), o da transposição da pirâmide invertida para a deitada, o que remete a um diferente tipo de leitura na web, a horizontal. Outros pesquisadores tratam esta área do jornalismo como um segmento e a denominam como jornalismo online, o que limita a conceituação a um jornalismo feito estritamente com conexão permanente e ativa à Internet, restringindo comunicações offline e via bluetooth, por exemplo. Nos anos iniciais, quando a Internet começava a ser explorada pelo jornalismo, o termo jornalismo digital, remetia quase que exclusivamente para tipos de publicações na web que consistiam em versões para a Internet de jornais diários e comercias que existiam no papel. Hoje, o termo não designa mais um perfil tão delineado de publicações. O universo do jornalismo digital, atualmente, é composto por um espectro muito grande de produtos, entre eles temos, além das versões para a Internet de jornais impressos de referência, publicações jornalísticas desenvolvidas exclusivamente para a Internet, portais, jornais laboratoriais de cursos de jornalismo, blogs jornalísticos etc. Cada produto apresenta recursos tecnológicos diferentes seja com relação ao formato da informação seja com relação aos suporte em que será acessado. O termo ciberespaço foi cunhado por Willian Gibson no livro de ficção científica Neuromancer, de 1984. Para Lévy (2003), o ciberespaço é composto pela circulação de informação multimídia caracterizado pelas trocas simbólicas entre interagentes. “o espaço cibernético é um terreno onde está funcionando a humanidade, hoje". Derivando dessa noção, Salaverría e Avilés (2008), propõe que o ciberjornalismo

se constitui como uma especialidade do jornalismo que usa o ciberespaço para investigar, produzir e distribuir conteúdo. A internet e a web promoveram uma nova concepção da produção de conteúdos noticiosos, remodelando as práticas jornalísticas quase que obrigatoriamente. Neste sentido, o jornalismo para além do online e do webjornalismo fazem parte de um mundo virtual não palpável, classificado como ciberespaço (LÉVY, 2003). Desta forma, as novas formas de produção e distribuição do jornalismo dentro do ciberespaço levam a uma denominação que envolva todas estas questões e se coloque como o ciberjornalismo. Para Canavilhas (2006), no ciberjornalismo, "as notícias passam a ser produzidas com recurso a uma linguagem constituída por palavras, sons, vídeos, infografias e hiperligações, tudo caminhado da forma a que o utilizador possa escolher o seu próprio percurso de leitura" (2006, p.114). É preciso considerar, como afirma Palacios (2003), que a constituição de novos formatos midiáticos não é um processo linear de superação e substituição dos suportes anteriores, mas sim uma articulação de diversos formatos jornalísticos que podem conviver e se complementar, caracterizando continuidades e potencializações no jornalismo. Na atualidade, os dispositivos móveis estão dentro da categoria de mídias pós-massivas que, segundo Lemos (2008), permitem um tipo de comunicação bidirecional que ocorre dentro de um fluxo de informações organizado em rede.

Com o desenvolvimento das tecnologias móveis “assistimos a uma relação maior entre o ciberespaço e o espaço urbano. As mídias pós-massivas constituem territórios informacionais já que o indivíduo controla o fluxo de entrada e saída de informação. Trata-se de uma relação de emissão e recepção da informação a partir de dispositivos que permitem a mobilidade comunicacional e informacional no espaço urbano (LEMOS, 2008, p.15).

Esta relação maior do ciberespaço com o espaço urbano, da qual fala Lemos (2008), e também todas as características específicas dos dispositivos móveis fazem com que busquemos uma caracterização melhor do jornalismo produzido para esses dispositivos e também, consequentemente, uma proposta de nomenclatura. Os dispositivos móveis digitais como celulares, smartphones, e-readers e tablets possuem uma lógica própria de funcionamento diferente daquela que corresponde, por exemplo, aos computadores pessoais.

2. Jornalismo e dispositivos móveis

Scolari et al (2009), explica que, de acordo com o estudo dos meios, as plataformas móveis devem ser consideradas novos meios, onde a produção de conteúdo, o consumo e os modelos de negócio seguem uma lógica específica e diferente. Como exemplo disso é possível citar questões como: a permanência de contato dos sujeitos com os dispositivos móveis, na medida em que se está permanentemente junto a este aparelho; e o fato de que estes artefatos são aparelhos pessoais que estão diretamente conectados à identidade do sujeito e ao seu movimento de consumo e também localização física, ou seja, há uma conectividade contínua e uma funcionalidade ligada ao contexto do usuário. Este trabalho parte do pressuposto que os dispositivos móveis para o jornalismo não devem ser apenas aparatos técnicos que são incorporados para atender a demanda comercial e tampouco um tipo de dispositivo hype. São agentes não humanos que trazem consigo um novo tipo de interação em que a mobilidade inerente ao tablet também favorece uma forma diferente de acesso a conteúdos e aplicativos diversificados. Recentes experiências de jornais nacionais e internacionais mostram que não podemos falar ainda em uma produção jornalística para tablets ou smartphones – aqui tomados como exemplos principais de dispositivos móveis. O que se pode dizer é que há experiências embarcando no conceito de mobilidade para impulsionar novos produtos jornalísticos, principalmente no Brasil, onde a produção jornalística voltada especificamente para dispositivos móveis ainda engatinha. Através da mobilidade e do desenvolvimento tecnológico, o campo do jornalismo digital foi afetado quase que instantaneamente com a geração de novas possibilidades técnicas à comunicação móvel. Com a internet móvel desenvolvida, as redes sem fio crescendo e os aparatos tecnológicos acompanhando à realidade digital aflorada, a mobilidade passa ser o grande trunfo da comercialização tecnológica e, consequentemente, da informação. Assim, o jornalismo em mobilidade é a fase mais avançada do jornalismo digital contemporâneo, por abarcar elementos que foram acompanhando

o

desenvolvimento

da

tecnologia

e

sendo

plataforma/dispositivo e à forma de produzir, reportar e distribuir.

incorporados

à

O conceito de mobilidade vai além da mera noção de deslocamento, ainda que comece a ser pensada como uma relação social ligada às mudanças de lugar, em que a relação entre indivíduos presentes em uma sociedade é de conexão e desconexão entre as distâncias de objetos, pessoas, espaços reais e virtuais. A mobilidade enquanto fator social é percebida nas relações cotidianas relacionadas à distância e ao tempo (J. LÉVY, 2001), mas a mobilidade que enxergamos neste artigo é aquela vista como competência, capital e, principalmente, como comportamento e consumo. Isso porque está ligada às mudanças tecnológicas das últimas décadas e também às interações das pessoas no espaço virtual utilizando as mesmas. Este conceito, apoiado em Bauman (2001), pode ser visto como uma característica pós-moderna fundamental para o entendimento das sociedades contemporâneas. Pensar neste pressuposto para um status contemporâneo do jornalismo, por exemplo, é pensar enquanto condição e hábito que ajuda a entender as mudanças sociais e comportamentais do ser humano como ser pensante, leitor e usuário de uma série de plataformas midiáticas e dispositivos tecnológicos. A mobilidade, então, permite a criação, personalização de conteúdos - muito além do ato de mover-se -; ela pressupõe um ambiente híbrido e não linear, e quando pensada para o contexto comunicacional fica evidente pela fluidez, mudança e atualização de uma "atmosfera informacional" (PELLANDA, 2007), que gera novos horizontes de produção, difusão e consumo de notícia, por exemplo, fortalecendo a acessibilidade do usuário. Um dos efeitos da mobilidade é interação, conexão e fluxo de comunicação, elementos básicos para caracterizar a acessibilidade do indivíduo à informação, que, de maneira sintética, é a garantia da possibilidade de alcance com autonomia desde meios de transporte, infraestrutura aos meios de comunicação, ao espaço físico e digital, nosso foco neste estudo. A acessibilidade, como está no dicionário português, é a facilidade de aproximar de algo, é um desfrutar de produtos, serviços, locais - princípio básico da mobilidade. Portanto, é "um meio de disponibilizar a cada usuário interfaces que respeitem suas necessidades e preferências" (p.1, 2007), e, no que se refere ao mundo digital, este elemento independe do aparato técnico, mas sim das condições de uso facilitadas pelo fato de entrar em contato, sintonizar. A mobilidade e a portabilidade se constituem em elementos sobresalientes cruzados com a questão pervasiva que as tecnologias computacionais

representam na cena contemporânea com penetração em todos os ambientes em várias formas de artefatos. Resulta deste contorno, a emergência de inúmeras práticas como mídia locativa, flash mobs e smart mobs e, inclusive, o jornalismo móvel com interface mais consistente com o espaço urbano e a navegação pelo ciberespaço para acesso à base de dados e o desenvolvimento do processo de apuração jornalística (SILVA, 2008, p.6).

Assim como se entendem os dispositivos móveis como uma das recentes inovações do mundo digital, os conteúdos neles dispostos podem ser compreendidos como modificação do comportamento de consumo de informação, a partir do momento em que esses dispositivos vão além de simples telefones ou computadores conectados à internet, mas permitem o toque (touch-screen), ampliando, diminuindo ou posicionando da melhor forma para usufruir da informação. Neste processo, a experiência de acesso ou interação com a notícia tem cada vez mais dinamicidade. A mobilidade também proporcionou a tactilidade. Os consumidores de mídia demandam novas formatações dos veículos de comunicação, novos conteúdos e novas formas de integração entre eles. O desafio é adequar a produção e o produto às potencialidades de cada plataforma (CANAVILHAS, 2009). O design digital depende de condicionantes tecnológicas, visuais e estéticas e tem relação direta com o desenvolvimento tecnológico de software, hardware na fabricação de interfaces onde caibam conteúdos e formatos viáveis à usabilidade que o objeto em questão propõe desde sua natureza. No caso do tablet, além da parte robótica que as affordances (HELLES, 2013) proporcionam, a tela sensível vai além do princípio de inovação tecnológica e estabelece um elo afetivo e empático com o usuário, que o utiliza por diversas motivações e o relaciona com funções como leveza, praticidade e capacidade, bases do tablet enquanto produto. Isto quer dizer que o design digital para tablets não só depende da visão extensa do ciberespaço, mas do espaço digital configurado no tablet que possui estética, visualidade e usabilidade próprias, muitas vezes, necessariamente intuitiva. Entre as diferenciações que precisam ser feitas para conceituar-se o jornalismo em mobilidade, algumas são apontadas por Suzana Barbosa (2013) como o cuidado com a transposição de conteúdos de acordo com a plataforma, embricamento entre multiplataformas, cruzamento entre meios e variados dispositivos digitais, integração de processos e produtos. Tais implicações são classificadas como uma produção multiplataforma convergente, o continuum multimídia. Barbosa (2013) fala em um

jornalismo de quinta geração nas redes digitais, em que a convergência de conteúdos entre plataformas está em estágio de maturação, colaboração e interatividade. Assim, estratégias e produção se modificam e a partir deste contexto e processo é que se aborda o campo de estudos que relaciona jornalismo e mobilidade. Entende-se esta tipificação como o jornalismo com distribuição e consumo provenientes das condições de mobilidade, sendo dever dos estudo refletir horizontes, implicações, desafios e oportunidades desta nova vertente de pesquisa. Las tecnologías digitales desarrolladas en torno a la movilidad permiten enriquecer y versatilizar los contenidos ofreciendo experiencias de uso diferenciadas y potenciando aspectos del contenido digital ya existentes, como la socialización. La integración de las redes sociales en la movilidad, adaptándolas a la situación de consumo, permite la inclusión eficaz del consumo de contenido en la actividad social en tiempo real de los usuarios, aportando una dimensión añadida a lo que éstos hacen con el contenido (enlazar, comentar, reenviar, modificar, recomendar...). Al mismo tiempo, la capacidad de ubicación del usuario y la incorporación de información sobre el contexto (temperatura, movimiento, hora, etc.) ofrecen un potencial relevante de adaptación del contenido a necesidades o preferencias definidas (AGUADO, 2013, p.17).

Os dispositivos móveis têm a particularidade de serem artefatos para o consumo de conteúdos em situações que, na maioria das vezes, envolvem deslocamento, entretenimento momentâneo ou ainda a busca por informações específicas e/ou relacionadas à localização. Além disso, os conteúdos são acessados de forma privada, mas facilmente compartilhados de forma social através dos mesmos aparelhos. Ou seja, há um imediatismo e um geolocalismo no consumo de informações, na medida em que, por exemplo, se o usuário enfrenta um problema no trânsito ele recorre ao seu dispositivo móvel para buscar informações sobre o assunto e também saber qual o melhor caminho geográfico para seguir a partir dali. Para Manovich (2001), a interação do usuário ocorre não apenas na possibilidade de escolher o caminho de leitura num conteúdo hipertextual, mas também na opção de escolher quais elementos serão apresentados na tela. Ou seja, o autor conecta a noção de interação com a de link no hipertexto, pois para ele, a linkagem é uma possibilidade de associação e reflexão pessoal do usuário, ainda que as opções sejam pré-programadas. Além da interação hipertextual, também é possível dizer que a interatividade entre leitor e veículo jornalístico na rede digital poderia ser potencializada, na medida em que é possível interagir pelo mesmo dispositivo em que

se está tendo acesso ao produto e considerando as características próprias e potenciais desse artefato, como agilidade, mobilidade e geolocalização. Graças à mobilidade no sistema de transporte da informação, as pessoas utilizam seus aparelhos a todo instante, seja para se conectar com o mundo, seja para preencher o tempo “improdutivo” que perdem nas filas ou no trânsito, por exemplo. Através de um único aparelho, podem acessar internet, filmar, fotografar, ouvir música, escrever e tantas outras possibilidades que aparecem revestidas como aplicativos. Em menos de 20 anos, os avanços tecnológicos alavancam à sociedade formatos inovadores de conhecimento, consumo e, principalmente, de compartilhamento de informações em redes. Dessa forma, pode-se dizer que a comunicação por meio da autogeração e disponibilização de conteúdo (on-line) ganhou força desde a web 2.0, blogs e canais do YouTube, em que os usuários podem criar contas próprias para acessar e até mesmo produzir conteúdo. Por meio dos dispositivos móveis, o processo de produção, difusão e consumo da notícia fortalece a acessibilidade do usuário e, mais ainda, a produção em tempo real de texto, captura de imagem e distribuição da notícia simultaneamente pelos ambientes de distribuição acessíveis via rede (RENÓ, 2011). Temos aí um hibridismo no uso dos dispositivos móveis, que servem para conexão noticiosa, mas também para outras inúmeras funções. Esta característica já era visualizada no desktop, mas se potencializa nos dispositivos móveis em função de serem artefatos dotados de inúmeras funções simultâneas e executadas em espaços urbanos diversos - a qualquer momento. Essa multifuncionalidade corresponde a um espaço virtual de convivência direta com intenso fluxo informacional, o que se destaca ainda mais com a mobilidade. Lemos (2007) até utiliza o conceito de hibridismo para definir os dispositivos móveis, mostrando que essa característica é pressuposto desses aparatos e, de certa forma, contribui para o entendimento de um "jornalismo em mobilidade". Para ele, híbrido define um celular "que congrega funções de telefone, computador, máquina fotográfica, câmera de vídeo, processador de texto, GPS, entre outras" (p.3, 2007). Nesse contexto, ainda temos a conectividade dos móveis funcionando em redes sem fios que podem complementar outras redes e tornar o acesso à informação fácil, rápido e, claro, portátil. Assim, pode-se falar de experiência de domínio de espaços híbridos, como o campo digital e/ou virtual, onde pessoas ganham identificação de usuários destes ambientes, que estão integrados as suas atividades cotidianas.

Com essas "vantagens" da mobilidade, as transformações no modelo de produção recebem a intervenção dos aparatos móveis de acordo com os elementos que os diferenciam

e também as transformações no modelo de distribuição se

desenvolvendo por meio de apps, programações de websemântica, informações armazenadas e sincronizadas na “nuvem”, que emergem e pedem uma atualização dos equipamentos de gestão, programação de conteúdo, por exemplo (AGUADO, 2013). Hardware e software mudam de codificação, fazendo com que as lógicas de modelo de gestão e produção também sejam alteradas (BRADSHAW, 2009). É a era PÓS-PC e a era do jornalismo em mobilidade, que usufrui das affordances dos devices mobiles. Si una expresión resume y condensa la contribución del desarrollo de las tecnologías móviles al viraje de la industria del software/hardware hacia el contenido y las implicaciones de éste en la concepción tradicional del consumo cultural, ésta es, a nuestro juicio, la de ‘era post PC’. El término fue acuñado por Steve Jobs en 2010 a raíz del lanzamiento del iPad y buscaba simbolizar de una forma sonora y llamativa el cambio de época en la informática de consumo hacia dispositivos más pequeños, veloces y polivalentes cuyo uso gira en torno a la disponibilidad ubicua de contenido y comunicaciones (AGUADO, 2013, p.14).

O jornalismo em mobilidade enquanto segmento do campo de produção de notícias digitais da atualidade reforça o desafio dos impressos em lidarem com o tradicional versus o que é inovação. Esta questão parece ser um dos grandes problemas do processo de transposição ou criação de versões digitais móveis. Esse tipo de jornalismo reinventa a lógica do modelo de distribuição, que aproveita potencialidades oferecidas pela mobilidade e portabilidade, gerando uma divulgação de conteúdos de forma muito ágil, alterando o processo editorial.

Considerações finais Nesta breve discussão proposta neste trabalho, buscamos abordar características específicas do jornalismo para dispositivos móveis que podem levar a uma caracterização e conceituação do jornalismo em mobilidade. Sabemos que algumas das questões aqui abordadas já são vistas e presentes em artefatos anteriores aos tablets e smartphones como, por exemplo, desktops. No entanto, buscamos aqui destacar a potencialização e diferenciação destes aspectos com a mobilidade priorizada e levada em consideração.

Os dispositivos móveis são meios nos quais a lógica de produção, distribuição e consumo se altera. O uso que é feito pelos usuários com relação aos dispositivos móveis atuais como tablets e smartphones possui táticas de apropriação diferentes do que existia anteriormente com artefatos como computadores pessoais. A mobilidade, a conexão permanente, o imediatismo, a interação com o aparelho e o hibridismo dos comportamentos são pontos que precisam ser levados em consideração na hora de falarmos sobre uma forma diferente de jornalismo. Apresentamos aqui apenas um pequeno grupo de características que pode ser levado em conta na hora de falarmos em jornalismo em mobilidade. Assim, acessibilidade, tactibilidade, geolocalização, imediatismo e hibridismo são pontos pensados estrategicamente para falar de um jornalismo que é consumido em mobilidade e que possui características específicas com relação a essa condição de distribuição e consumo. É preciso destacar, por exemplo, que as condições de acesso, interação, localização, tempo imediato e multiplicidade de funções são potencializadas como nunca antes visto quando se leva em consideração um smartphone. O usuário que antes permanecia muito tempo conectado e em contato com conteúdo jornalístico, agora está conectado 24h por dia, sete dias por semana, imerso no ciberespaço, movendo-se e apropriando-se de informações ao longo do seu tempo e do seu caminho. É para esse usuário que o jornalismo em mobilidade precisa adaptar-se. Apesar da boa penetração da tecnologia móvel num país de dimensões continentais como o Brasil, os produtos jornalísticos, especialmente os jornais, ainda dependem fortemente de suas edições impressas. O número de assinantes digitais ainda não compete com as pessoas que recebem o jornal impresso em casa. Além disso, os anúncios são mais caros e mais numerosos no formato tradicional do produto. Outra questão é que o brasileiro não possui a cultura de pagar por notícias no formato digital. Com isso, empresas de mídia enfrentam um dilema em quem precisam investir numa plataforma que representa o futuro, mas não possuem os recursos, porque ainda trabalham na manutenção do formato impresso. De acordo com Saad (2011), o desafio futuro das empresas jornalísticas é compreender as necessidades informativas atuais do leitor e reconfigurar o seu produto para aquilo que realmente é importante para o público e não apenas noticiável. Esse desafio tem uma relação direta com a sofisticação do processo de contextualização da

informação, hoje exigida pela audiência por conta da quebra das barreiras de tempo e de espaço potencializadas ainda mais pelos dispositivos móveis. Estas novas possibilidades exigem que a indústria renove-se e reinvente-se para oferecer produtos que se utilizem das potencialidades oferecidas pelo dispositivo e também atendam aos anseios do público. O atendimento completo dessas condições culminaria numa associação efetiva entre atores humanos e não humanos, na medida em que todos estariam envolvidos com a sua melhor e mais personalizada performance. Os novos produtos midiáticos precisam ser ricos o suficiente para explorar as potencialidades de atores humanos e não humanos, fazendo com isso que se motive um maior interesse e uma maior transformação no processo de ação entre eles.

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