Cidadania e Democracia Digital

May 30, 2017 | Autor: Gisiela Klein | Categoria: Mídias Digitais, TICS, Democracia, Comunicação Pública
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Disciplina: Tópicos Especiais em Gestão, Inovação e Empreendedorismo - E-democracia: tecnologia e participação cidadã
Professores: Clerilei Aparecida Bier Dra. e Carlos Roberto De Rolt, Dr.
Discente: Gisiela Hasse Klein
Seminário 01: Fundamentos para a compreensão de Democracia.


Cidadania e democracia digital – limites e possibilidades para o uso das novas tecnologias da comunicação

A possibilidade de as novas tecnologias da comunicação alterarem para melhor o exercício da cidadania nas sociedades contemporâneas tem sido tema de muitos debates e pesquisas (GOMES, 2005), mas não há consenso entre os autores, principalmente se considerarmos os diferentes entendimentos de cidadania e democracia (BOBBIO, 1997). Em um ponto, no entanto, a maioria dos pesquisadores concorda: a liberdade para participar do debate político é um dos pré-requisitos para uma sociedade democrática, independente do modelo e estágio desta democracia (fraca, forte, representativa, participativa, deliberativa, direta).

O único modo de tornar possível o exercício da soberania popular é a atribuição ao maior número de cidadãos do direito de participar direta e indiretamente na tomada das decisões coletivas. O melhor remédio contra o abuso de poder sob qualquer forma é a participação direta ou indireta dos cidadãos. (BOBBIO, p. 42-44)

Gomes (2005) se mostra cético em relação ao poder da internet neste processo de emancipação da cidadania. Para o autor, apenas o acesso à internet não é capaz de assegurar o incremento da atividade política, menos ainda da atividade política argumentativa. Além disso, as discussões políticas online têm sido dominadas por poucos atores, assim como nas discussões off-line. Entre os limites para uma democracia digital, Gomes destaca ainda que as oportunidades oferecidas pela internet só serão aproveitadas se houver cultura e um sistema político disposto ou forçado a acolher a participação da esfera civil. E conclui que a abundância de meios não formará, per se, uma cultura de participação política, mostrando que a esfera política virtual reflete a política tradicional. Ou seja, nossa atuação cidadã no mundo virtual não é diferente da nossa vida real.
Mas, talvez a grande contribuição da internet para a democracia esteja justamente na possibilidade de extrapolar o mundo real e pensar em novas alternativas para problemas que estão enraizados nos sistemas de governo desde as antigas cidades gregas (CÂMARA NETO; REZENDE FILHO). A falta de participação efetiva e consciente da maior parte dos sujeitos sempre foi um entrave à democracia – ou por não serem considerados cidadãos ou por falta de cultura política. A internet oferece as ferramentas para a participação, mas, por enquanto, não conseguiu oferecer cultura política e ainda exclui alguns sujeitos da cidadania digital.
As limitações da democracia digital, no entanto, não excluem suas possibilidades. Assim como Santos (1991) pensou em uma nova teoria da democracia e uma nova teoria da emancipação, apostando em uma politização de todos os espaços estruturais (cidadania, doméstico, produção e mundial) para alcançar o princípio da comunidade, um contexto que hoje não vemos no mundo real, é possível pensar em alternativas ao modelo de democracia e ao papel da esfera civil no ambiente digital.

A politização do social, do cultural e, mesmo do pessoal, abre um campo imenso para o exercício da cidadania. A ideia da obrigação política horizontal, entre cidadãos, e a ideia da participação e da solidariedade concretas na formulação da vontade geral são as únicas suscetíveis de fundar uma nova cultura política e, em última instância, uma nova qualidade de vida pessoal e coletiva assentes na autonomia e no autogoverno, na descentralização e na democracia participativa, no cooperativismo e na produção socialmente útil. Daí a preferência por estruturas descentralizadas, não hierárquicas e fluídas. (SANTOS, p. 170 e 171)

Mesmo Gomes (2005) vislumbra diferentes graus para a democracia digital, admitindo que os três últimos estágios ainda são possíveis apenas na teoria. Mas essa teoria, assim como a de Santos, merece ser testada, adaptada e implementada sempre que possível. Dessas experiências sempre podem surgir novas alternativas para o exercício da cidadania. Quando Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim fundaram o Youtube em 2005 tinham pouco mais de 25 anos de idade e não imaginaram que estavam revolucionando o mercado audiovisual ao democratizar o processo de produção de vídeos. Mas foi isso que aconteceu. A indústria audiovisual ainda existe, mas é inegável que temos hoje mais liberdade para produzir e assistir a vídeos, com os produtores e consumidores conectados em uma relação política horizontal. O Youtube é um exemplo de como as ferramentas da internet podem ser usadas, mesmo com todas as implicações econômicas, para o fortalecimento da esfera civil. A ferramenta não acabou com a indústria de massa do audiovisual, mas permitiu que novos atores passassem a interagir nesse sistema.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC
CENTRO DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO E SOCIOECÔNOMICAS – ESAG
PROGRAMA ACADÊMICO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO






De acordo com a edição de 2015 do relatório da Comissão de Banda Larga das Nações Unidas, cerca de 3,2 bilhões de pessoas no mundo têm acesso à internet, enquanto 4,2 bilhões permanecem offline. Nos 48 países menos desenvolvidos, a penetração da internet é inferior a 10%, caindo para menos de 2% em seis das nações mais desfavorecidas do mundo. Disponível em http://www.itu.int/en/ITU-D/Statistics/Pages/publications/mis2015.aspx

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