Cidade, consumo e evento: O Mundial de futebol e a promoção das cidades brasileiras como destinos turísticos

June 7, 2017 | Autor: Uli Batista | Categoria: Mega Sport Events, Consumo, Cidades
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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXVII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Foz do Iguaçu – 2 a 5/9/2014

Cidade, consumo e evento: O Mundial de futebol e a promoção das cidades brasileiras como destinos turísticos

Uli BATISTA

Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE

Resumo

A partir da análise da campanha internacional do Ministério do Turismo do Brasil, elaborada para o grande evento que foi sediado no país, a Copa do Mundo da FIFA, no ano de 2014, este artigo objetiva traçar considerações sobre os vídeos divulgados, que reforçam uma publicidade de “cartões postais”, ou seja, cidades muito visitadas e que se tornaram ainda mais turísticas na Copa do Mundo. Esta tem visibilidade internacional e, no artigo, serão levantadas considerações ligadas à cidade, ao consumo e os impactos consequentes de um evento como tal. Além disso, será desenvolvida a percepção dos efeitos decorrentes pontos anteriormente citados – cidade, consumo e impactos causados pelo evento – no turismo no Brasil por, principalmente, conterrâneos e estrangeiros que vivenciaram a Copa do Mundo de Futebol.

Palavras-chave: copa; consumo; turismo; Brasil; 2014. A Campanha: “Brasil. Sensacional!”

A campanha foi lançada no exterior na segunda quinzena de setembro de 2008, quase um ano depois da confirmação que o Brasil seria o país-sede da Copa do Mundo FIFA. A partir das diretrizes do Plano Aquarela no Brasil (plano desenvolvido pela

Trabalho apresentado na Divisão Temática Publicidade e Propaganda, da Intercom Júnior – X Jornada de Iniciação Científica em Comunicação, evento componente do XXXVII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação 1

² Uli Batista Pinto Martins Farias. Estudante de graduação 4º. semestre do Curso de Publicidade e Propaganda da UFC, email: [email protected] ³Dra.

Silvia

Helena

Belmino.

Professora

do

Curso

de

Publicidade

e

Propaganda

da

UFC,

e-mail:

[email protected]

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Embratur que define a promoção do Brasil no exterior por meio de cinco grandes segmentos: Sol e Praia, Ecoturismo; Aventura, Cultura, Esporte; Negócios, Eventos e Incentivos - e tendo a diversidade brasileira como ponto de partida de comunicação), os turistas podem vivenciar experiências únicas - foi criada a “Brasil! Sensacional!”. O conceito “Sensacional!” reforça as considerações do Plano Aquarela, que aponta que 85,4% dos turistas estrangeiros tiveram suas expectavas superadas; 86% pretendem voltar ao Brasil; 51% querem voltar para conhecer novos lugares e 94% recomendaria o Brasil como destino turístico.

O desafio dessa campanha é promover como destino turístico um país com proporções continentais, que apresenta uma diversificada oferta de produtos e destinos turísticos para turistas dos mais variados perfis e níveis de exigência, emocionando, impactando, motivando e construindo o sonho de conhecer o Brasil.

Foram divulgados por meio dessa campanha, de setembro de 2008 a julho de 2010, diversos destinos e produtos turísticos, com o objetivo de apresentar ao público internacional a variedade da oferta turística brasileira. O público-alvo nos país em que a campanha foi veiculada, no segundo semestre de 2008, foi composto por pessoas de ambos os sexos das classes A/B, na faixa etária de 25 a 55 anos. A campanha “Brasil Sensacional” foi realizada em 12 países – Argentina, Peru, Chile, Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Espanha, França, Itália, Holanda, Portugal e Reino Unido -, nesse período foram promovidos destinos e produtos turísticos dos estados de Alagoas, Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro e Santa Catarina.

Essa estratégia permitiu atrair novos nichos de público, pessoas com maior qualificação cultural e econômica, com gastos médio/dia mais elevado e tempo de permanência/dia superior à média geral, o que pode ser observado pelos dados e fatos publicados pelo Banco Central, Polícia Federal e outros parceiros, bem como por meios dos estudos e pesquisas realizadas pela Embratur.

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A descrição literal do lançamento da campanha é da seguinte forma: Inicial ao som do Maracatu e apresenta o nome da campanha “Brasil. Sensacional” com a logomarca desenvolvida para a mesma. Logo em seguida, o Ministro do Turismo Vinícius Lages, discorrendo sobre o desejo de muitas pessoas de conhecer o Brasil. Para isto, desenvolve uma série de justificativas como a hospitalidade brasileira reconhecida em todo o mundo e as belezas naturais de cada região - a variedade de cores, sabores e musicalidade das mesmas. O convite é feito aos estrangeiros para vivenciar expressões culturais como o ritmo, a ginga e a paixão pelo futebol na Copa do Mundo, que a “Terra da Felicidade” está disposta a recebe-los de maneira acolhedora em junho, de maneira a trocar experiências sobre a forma de dançar, cantar, jogar e receber bem as pessoas. Além disso, esclarece que a campanha poderá ser vista na televisão, na internet e nas ruas e finaliza reforçando o convite para celebrar a vida com os brasileiros.

A primeira campanha veiculada em vídeo utiliza um jingle (ver anexo 1) como base para uma apresentação de cenas curtas (variando entre dois e cinco segundos) repletos de ritmos musicais, comidas, danças, animais típicos e, principalmente, as paisagens naturais dos principais pontos turísticos que são alvo da campanha - já citados anteriormente - que são como “cartões postais” do país. Os postais fazem parte do circuito de memórias que buscam uma valorização da cidade pelo recorte de cenários considerados representativos (BARREIRA, 2008), dessa maneira, recortando a imagem turística.

A terceira propaganda veiculada na campanha frisa a mistura das diferentes danças que existem no país com o esporte futebol. As danças mostradas têm uma grande influência latino americana em geral como o tango, o merengue, a salsa e mais brasileiras como o samba, o funk e o forró e ainda, um ritmo com mais influência norte americana que é o hip hop. Quando se aproxima o fim da mesma é feito o convite aos visitantes para jogar, dançar e torcer como os brasileiros e encerra de forma persuasiva com o convite: “Em junho, o mundo se encontra no Brasil”. Os três vídeos somam 4 minutos e 28 segundos.

Percebemos, assim, a utilização dos clássicos argumentos utilizados ao descrever o país em todas as propagandas apresentadas: As belezas naturais, a alegria do povo, a paixão pelo esporte e a cultura forte em muitas regiões. O desenvolvimento desta se baseou em uma imagem já pré-existente no cenário mundial, e como reforça Fernanda Sanchez,

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Como construção social, a produção da imagem da cidade está intrinsecamente ligada a representações e valores. Encontra-se, portanto, subordinada à visão de mundo daqueles atores que se impõem nos processos de produção do espaço e que são, ao mesmo tempo, aqueles que ocupam posição privilegiada para enunciar uma intenção de cidade. (SANCHEZ, 2003, p. 35).

Desta forma, cada cidade foi explorada como uma grande representação de valores ligados ao Brasil, por fim, sendo colocados como um serviço turístico a ser vendido.

Copa do Mundo FIFA 2014 A Copa do Mundo de futebol trata-se de megaevento que tem como característica seu caráter temporal, sua capacidade de atrair um grande número de participantes de diversas nacionalidades e também por chamar atenção dos meios de comunicação com uma ressonância global. Conforme Garcia (2004) o principal argumento utilizado pelas cidades postulantes a um evento como os Jogos Olímpicos são os benefícios para as comunidades locais, bem como uma ferramenta chave de projeção de cidade de atração de turistas, o que leva a melhoras estruturais como rede de transporte, moradia, instalações esportivas e novos postos de trabalho. Argumenta a pesquisadora que embora o planejamento apresentado para realização de um evento dessas proporções abranja as diversas redes urbanas o que se observa na sua realização muitos dos cálculos apresentados pelas equipes postulantes estejam baseados em uma perspectiva puramente econômica, que dá prioridade aos impactos físicos e financeiros sobre os possíveis efeitos culturais e sociais. Além disso, costuma-se avaliar os impactos desses eventos apenas pelos efeitos de curto prazo, sem se estabelecer planos para monitorar sua sustentabilidade para além dos três a cinco primeiros anos (RUBIO, 2005). Para que um país sedie uma Copa do Mundo, a FIFA exige que ele possua pelo menos:

- Doze campos de futebol, com capacidade mínima para 40 mil pessoas;

- O estádio da final deve ter pelo menos 80 mil lugares (a regra passa a valer para 2018, até então, a exigência era de 60 mil assentos);

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- Capacidade de transmitir o evento para as TVs de todo o mundo, tecnologia para suportar o grande volume de troca de informações (por internet e telefone);

- Infraestrutura de transportes;

- Acomodação para as seleções de futebol e para os turistas.

Para ter certeza de que o país atende às exigências, fiscais da FIFA visitam os candidatos. Depois, há uma eleição entre os membros da comissão da federação. Se o país conseguir mais de 50% dos votos, é escolhido para receber a Copa. O processo para a escolha do Brasil como sede começou em 2003, quando ficou decidido que algum membro da CONMEBOL sediaria o evento. Colômbia, Argentina e Brasil foram indicados. Mas, em 2006, a confederação decidiu que apresentaria o nosso país como único candidato. Sem ter concorrentes, só seria necessário atender às exigências da FIFA. Depois da visita dos fiscais, em 2007, foi anunciado que a Copa de 2014 acontecerá em terras brasileiras. Já em maio de 2009, foram anunciadas as 12 cidades que sediarão os jogos: Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Brasília, Curitiba, Salvador, Recife, Natal, Fortaleza, Manaus e Cuiabá. Entretanto, as cidades não são áreas delimitadas e homogêneas, mas espaços de interação em que as identidades e os sentimentos de pertencimento são formados com recursos materiais e simbólicos de origem local, nacional e transnacional (CANCLINI, 2003) e desta maneira o Ministério do Turismo precisou trabalhar nas campanhas a ideia de uma cidade além do visual e do cartão postal, mas com as sensações e emoções, propondo experiências incríveis durante a visitação e cumprindo o desafio de mostrar uma realidade das belezas e ao mesmo tempo mostrar um distanciamento do espectador do destino proposto. Como reforma Bauman, “a promessa é tanto mais sedutora quanto menos familiar for a promessa em questão.” (BAUMAN, 1999)

A Cidade Turística

Uma cidade não se transforma em uma cidade turística, ela já surge com propensão a ser, seja histórica, estrutural ou culturalmente. Como reforça Rocha,

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“Podemos pensar que ao menos uma de nossas singularidades históricas está na confecção de um sistema de integração cultural planetárias através dos processos de alocação simbólica da esfera de produção ao seu destino de mercado. Esse sistema, antes de qualquer outro projeto – econômico, político, biológico, utilitário ou racional -, e cultural e simbólico, e isso precisamente pela prevalência da função significacional, da natureza de símbolo e do exercício de uma vocação classificatória que não é outra senão a de explicar a produção.” (ROCHA, 2000).

E partir do momento que uma cidade apresenta potencial turístico, vende-se uma parte da cidade, enquanto o resto é abandonado e escondido (Borja e Castells, 1997), como aconteceu no Brasil, que houveram várias desocupações de habitações populares (ou maneiras de escondê-las) em regiões próximas aos estádios, no caminho do mesmo e próximo aos aeroportos, forçando a ideia que Beatriz Jaguaribe, “Na cidade-espetáculo, o permanente acionamento das imagens urbanas como estratégia legitimadora do poder constitui-se em afirmação da aparência, da vida social como aparência. A presença avassaladora de imagens na vida cotidiana a transforma na própria realidade. Esse processo neutraliza o espírito crítico do isolamento social.” (JAGUARIBE, 2001, p.5).

Dessa maneira, o turismo sempre apresentará uma forma dualista de apresentar a cidade. Belezas são vendidas para estrangeiros enquanto a mídia vende mais em telejornais, por exemplo, que são um dos principais meios de informação massiva dentro do país, os problemas e as notícias ruins, em geral, do mesmo. Esta situação é semelhante em todo mundo e a publicidade turística e o próprio turismo frequentemente funcionarão como uma forma de mascarar realidades difíceis. O Consumo Turístico “Não tanto a avidez de adquirir, de possuir, não o acúmulo de riqueza no seu sentido material, palpável, mas a excitação de uma sensação nova, ainda não experimentada – este é o jogo do consumidor. Consumidores são primeiro e acima de tudo acumuladores de sensações; são colecionadores de coisas apenas num sentido secundário e derivativo.” (BAUMAN, 1999, p. 91)

Uma das bases para a reconversão das políticas urbanas contemporâneas, dentro dos processos mais abrangentes de reestruturação econômico-espacial, está no encontro entre cultura e economia. É neste encontro que é construído o campo favorável para a cidade-espetáculo (SANCHEZ, 2003). A cultura é parte decisiva no mundo dos negócios e como uma forma de grande negócio, ela irá interferir diretamente nas estratégias utilizadas para a venda de um determinado produto ou serviço.

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Tal posicionamento é reforçado pelo Ministério do Turismo, suas secretarias e a Embratur ao presentar sua missão focada nos seguintes pontos:

- Desenvolver o turismo como uma atividade econômica sustentável, com papel relevante na geração de empregos e divisas, proporcionando a inclusão social; - Inovar na condução de políticas públicas com um modelo de gestão descentralizado, orientado pelo pensamento estratégico; - A Secretaria Nacional de Políticas do Turismo tem uma estrutura organizacional que assume o papel de executar a política nacional para o setor, orientada pelas diretrizes do Conselho Nacional do Turismo; - Responsabilizar-se pela promoção interna e zela pela qualidade da prestação do serviço turístico brasileiro.

Consumir a cidade-espetáculo não é um grande desafio para os estrangeiros, o grande desafio está para os brasileiros para alimentar o turismo interno tendo consciência, em sua grande maioria, do comportamento governamental frente a este setor. Desenvolver o turismo no país é uma forma de aumentar os recursos do mesmo e não deve para de ser desenvolvido. Entretanto, colocar este setor como uma prioridade à frente de outros como a educação e a saúde.

Esta era a principal crítica apresentada pelo grupos manifestantes contra os Governos federais, estaduais e Municipais durante a Copa das Confederações de Futebol que aconteceram em junho de 2013 nas principais capitais do país e ganharam repercussão internacional. Atualmente, mesmo com a parada dessas manifestações a população continua a se apresentar insatisfeita e apreensiva com os próximos eventos que virão, no caso, as Olimpíadas de 2016.

Impactos da Copa: Um levantamento positivo e negativo

O desenvolvimento de um evento como este tem como argumento o retorno à população e à economia, e se iniciam transformações na cidade e Estas operações estratégicas são transformadas em iscas, grandes vitrines publicitárias da cidade-espetáculo, que busca consagrar os projetos de cidade e despertar o espirito cívico, o orgulho e a sensação de pertinência, aos mesmo

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tempo que se orientam à neutralização dos conflitos, das diferenças. (SANCHEZ, 2003)

Segundo ARAÚJO & SANTANA, os impactos econômicos diretos da Copa do Mundo estão divididos em três áreas: - infraestrutura (A): categoria com maior valor, inclui os gastos no período de preparação para a Copa do Mundo com estádios, parque hoteleiro, aeroportos, mobilidade urbana, telecomunicações, dentre outros. - o incremento no turismo (B): é esperado um aumento de 3,7 milhões no quantitativo de turistas nacionais e internacionais, o que é o equivalente a um crescimento de 14% no total de turistas. Interessante destacar que espera-se maior aumento no universo de turistas nacionais (incremento de 3,1 milhões) do que no de turistas internacionais (0,6 milhões a mais). - o aumento do consumo das famílias (C): os investimentos em infraestrutura e os gastos de turistas beneficiam a economia, uma vez que para atender a demanda, estão sendo criados novos postos de trabalho, em uma estimativa de 737,8 mil (51% temporários e 49% permanentes), especialmente nos setores de construção civil, alimentação, serviços de informação, turismo e hotelaria. Já os impactos indiretos, ainda segundo os mesmo autores, são divididos em efeitos multiplicadores, caracterizado pela recirculação do dinheiro na economia e em demanda futura em turismo e em futebol. Tais impactos serão melhor delimitados no tópico "Retorno para a Sociedade", que trata sobre o legado da Copa do Mundo para o país e a sociedade. Com um volume de 33 bilhões dentre os 47 bilhões de reais em impactos diretos, cabe discutir os gastos com infraestrutura (A). Um dos pontos mais recorrentes na mídia sobre a execução do planejamento para a Copa do Mundo de 2014, e também mais fiscalizado pela FIFA, refere-se à construção dos estádios. Conforme informações do Ministério do Esporte divulgadas no início de setembro, dos doze estádios que foram construídos ou reformados, seis não alcançaram metade do cronograma, são eles: São Paulo (48%), Cuiabá (47%), Curitiba (45%), Manaus (44%), Porto Alegre (33%) e Natal (30%). Para não comprometer o andamento da Copa do Mundo, o curto tempo que havia para finalizar boa parte das obras ocasionou a necessidade de aumento dos recursos gastos nos estádios, podendo concretizar o risco levantado pela FIFA em seu relatório de maio, que elencou nada menos que 8 estádios com possível estouro de orçamento. Pelos dados

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levantados no 3º Balanço das Ações do Governo Brasileiro para Copa (Abril, 2012), os estádios terão investimento total de 6,8 bilhões, sendo 20% fonte privada, 41% PPP e 39% recursos públicos, o que nos leva a crer que um estouro no orçamento possa ter impactos no endividamento público. A mobilidade urbana e dos aeroportos é outra importante questão que tem preocupado a população brasileira, esta é reforçada a cada problema aéreo e de tráfego que ocorre nos feriados prolongados. O gasto total previsto para mobilidade urbana, segundo o balanço geral, já soma 12 bilhões, dos quais 7,4 bilhões são frutos de financiamento do governo federal. Mais da metade dos empreendimentos estão em andamento, contudo 45% ainda não iniciaram as obras, e do total, 14% sequer iniciaram a licitação. A previsão é de, mesmo com a lentidão dos trâmites burocráticos, 80% das obras sejam entregues em dezembro de 2013, o que significa que na Copa das Confederações, evento teste para Copa do Mundo, o Brasil ainda estará um canteiro de obras. Quanto aos aeroportos, estão previstos investimentos no valor de 7 bilhões, estando concluídos os terminais de Cuiabá, Porto Alegre, Campinas e São Paulo, 42% em obras, 3 concessões homologadas, 23% em elaboração de projetos (ponto mais crítico). Somando os principais investimentos em infraestrutura, com estádios, mobilidade urbana, portos e aeroportos, ainda segundo o Balanço Geral do Ministério do Esporte, chega-se ao total de 27 bilhões investidos, sendo 7,1 bilhões advindos do Governo Municipal e Federal, 11,1 bilhões de financiamento federal, 4,7 bilhões de recurso federal e 4,2 bilhões de recurso privado. Esse grande percentual gasto com dinheiro público levanta um alerta aos brasileiros tendo em vista experiências de outros países que realizaram megaeventos esportivos. A título de exemplo, a cidade de Montreal, do Canadá, conseguiu sanar sua dívida de aproximadamente R$2,8 bilhões apenas em 2006, 30 anos após a realização dos Jogos Olímpicos. Todavia, há que se analisar o outro lado da balança. Na medida em que os gastos públicos e privados no Brasil aumentarão devido a Copa do Mundo, resta saber se o PIB, a geração de emprego e outros possíveis efeitos positivos aumentarão na mesma proporção. Segundo o estudo da Value Partners (2010), a realização da Copa do Mundo terá um impacto positivo médio de 0,4% ao ano no PIB (de 2010 a 2019) e possibilitará a criação de 737,8 mil empregos nos próximos anos. Esses efeitos são apenas estimativas e nem sempre se concretizaram em outros eventos esportivos.

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Um dos principais modos de arrecadação do setor público para financiar seus investimentos e pagar suas despesas é a cobrança de impostos. O aumento na arrecadação do Governo no período da Copa do Mundo é um dos efeitos positivos esperados, pois aumentando a circulação de mercadorias, serviços, entrada de produtos estrangeiros (antes e durante a Copa do Mundo, inclusive com importação de material para construção dos Estádios) e outros fatos que geram a incidência tributária, haveria um aumento natural da arrecadação. Contudo, o Brasil se comprometeu a conceder incentivos fiscais no momento de sua candidatura, e a FIFA, assim como outros agentes envolvidos com a realização do Evento, possuem diversas isenções, tanto na esfera municipal, quanto na esfera estadual e federal, diminuindo o potencial de arrecadação. Os estádios da Copa, por exemplo, estão isentos de pagar Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), Imposto de Importação (II) e contribuições sociais. As cidades sedes também fizeram suas concessões para se firmar como tal, assim como os respectivos Estados. Ainda assim, estima-se um aumento na arrecadação de 16,8 milhões de reais, o que já financiaria parte dos gastos públicos com a Copa do Mundo. Assim, sob o aspecto econômico, a Copa do Mundo de 2014 só não será um pesadelo se a atração de turistas, a geração de empregos e outras externalidades positivas dos investimentos feitos alcance as expectativas e ainda se perpetue como ocorreu nos Jogos Olímpicos de Barcelona, 1992. Investimentos de grande porte como são os que estão sendo feitos darão retornos se feitos pensando não só na Copa de 2014, mas no longo prazo. A Copa de 2014 deve ser a força motriz que impulsiona a melhoria da mobilidade urbana, dos aeroportos, dos portos, mas não deve ser a finalidade pelo qual essas grandes obras estão sendo construída. A finalidade deve ser melhorar a vida do cidadão brasileiro, maior financiador da Copa do Mundo, o agrado do turista estrangeiro é apenas um dos objetivos a ser alcançado. Diante do cenário vivenciado, parte significativa dos gastos decorre de investimentos antes não priorizados e que deveriam já ter sido executados, com ou sem a realização da Copa do Mundo, sendo resultado da carência de infraestrutura no Brasil. Exemplos contrários são os de países desenvolvidos: Estados Unidos (Copa do Mundo de 1994) e Alemanha (2006), em que não houve necessidade de grandes investimentos em infraestrutura, uma vez que os países já possuíam a estrutura necessária para um evento de tal porte. Por outro lado, não é inédita a necessidade de alto aporte de recursos de investimentos para a realização de uma Copa do Mundo: para 2010, a África do Sul, país

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em desenvolvimento assim como o Brasil, passou por situação semelhante, inclusive com atrasos em obras, e deixou um legado de infraestrutura para o país, apesar de ainda apresentar carências no transporte público. Em suma, a Copa pode favorecer certos aspectos da economia e atender certas demandas dos cidadãos por investimentos, mas não vai resolver todos os problemas do país. Agora resta aos brasileiros esperar e fiscalizar para que as obras cumpram seus prazos e, principalmente, seus orçamentos e que as potencialidades de um evento desta magnitude sejam plenamente aproveitadas neste momento pós-evento.

Conclusão Ao analisar as campanhas, nitidamente percebemos uma forte capacidade de persuasão realizada por meio de recursos básicos pelos quais o homem tende a se identificar com o meio, com o cenário e com o que a mídia frisa com enorme facilidade. Como reforça Debord, A alienação do cidadão-espectador que, quanto mais contempla o espetáculo, menos vive, quanto mais aceita-se reconhecer nas imagens dominantes de necessidades urbanas, individual e coletiva: a exterioridade do espetáculo respeito ao homem ativo manifesta-se em que seus próprios gestos já não lhe pertencem, mas sim a outros que os representam. (DEBORD, Guy. 1994).

As estratégias e impactos explorados neste artigo mostram o quanto a publicidade e a propaganda foram essenciais para o desenvolvimento da “cidade-espetáculo”. O turismo como forma comercial utiliza-se fortemente de recursos publicitários e foi bastante eficaz durante a Copa do Mundo de Futebol de 2014, de maneira que o Ministério do Turismo continuará com o Plano Aquarela para os próximos eventos relacionados ao turismo nacional.

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Referências ARAÚJO, Lucas de Carvalho; SANTANA, Thiago Souza et al. Copa do Mundo de 2014 no Brasil: uma análise de seus impactos econômicos e jurídicos. Jus Navigandi, Teresina, ano 19, n. 3956, 1 maio 2014. Disponível em: . Acesso em: 14 jul. 2014. BAUDRILLARD, Jean. O sistema dos objetos. São Paulo: Editora Perspectiva, 1993. BAUMAN, Zygmund. Globalização: As consequências humanas. Tradução Marcus Penchel. São Paulo: Jorge Zagar Editor, 1999. BARREIRA, Irlys A. F. Narrativas do olhar: Fortaleza em cartões postais. In: Rogério Proença Leite. (Org.). Cultura e vida urbana: ensaios sobre a cidade. São Cristovão: Editores UFS, 2008 CANCLINIM, Néstor Garcia. A Globalização Imaginada. Tradução Sérgio Molina. São Paulo: Editora Iluminuras, 2003. DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetáculo. E-book digitalizado por Coletivo Periferia e eBooks Brasil, 2003. FRANCE, A.; ROCHE, M. Sport mega-events, urban policy and youth identity: sigues of citeship and exclusión in Sheffied. In: M. Roche (ed.) Sport popular culture and identity. Aachen: Meyer & Meyer: 1998. Garcia, A.: La dimensíon cultural de los macro-eventos em el 2004. Potenciales y limitaciones para una experiência sostenible. Portal Iberoamericano de Gestión Cultural. www.gestioncultural.org, 2004. JAGUARIBE, Beatriz. Imaginando a Cidade Maravilhosa: Modernidade, espetáculo e espaços urbanos. UFRGS, Porto Alegre. 2011. ROCHA, Everardo. Representações do consumo: Estudos sobre a narrativa publicitária. PUC-Rio. Editora Mauad, 2006. ROCHA, Everardo P. Guimarães. Totem e consumo: um estudo antropológico de anúncios publicitários. Rio de Janeiro: Revista ALCEU (PUC-RIO) – jul/dez 2000. RÚBIO, Kátia. Os jogos olímpicos e as transformações sociais das cidades: Os custos de um megaevento. Scripta Nova. Revista electrónica de geografia y ciências. Barcelona: Universidade de Barcelona, 2005, vol. IX, núm. 194 (85) SANCHEZ, Fernanda. Cultura e renovação Urbana: A cidade-mercadoria no espaço global. Rio de Janeiro, 2003. .

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ANEXO

Anexo 1: O jingle da primeira propaganda lançada na campanha “Brasil. Sensacional!”:

Você tem um encontro num país Que gosta de fazer você feliz Onde alegria é viver De braços abertos para você

Você tem um encontro num lugar Onde a montanha encontra o mar Onde o céu combina o ano inteiro Com o calor do povo brasileiro

Deixa a beleza encontrar sua emoção Deixa o sorriso encontrar o seu olhar Sinta a alegria do lugar Deixa esse povo te abraçar O Brasil vai conquistar o seu coração

Ôôôô O Brasil vai conquistar ô, ô, ô O seu coração ô, ô, ô O Brasil vai conquista o seu coração.

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