Cidade e linguagem: algumas notas sobre as palavras como mecanismo de exclusão sócio- espacial

September 11, 2017 | Autor: A. Revista Interd... | Categoria: Sociologia, Ciências Sociais, Sociología, Ciencias Sociales
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Cidade e linguagem: algumas notas sobre as palavras como mecanismo de exclusão sócio- espacial Tiago Castro Lemos École des Hautes Études en Sciences Sociales (França)/ Faculdade de Letras da Universidade do Porto (Portugal)

A cidade, enquanto contexto físico e social, é constituída por um conjunto de diferentes territórios que para afirmarem a sua especificidade requerem a existência de uma categoria que os identifique. Essa categoria – uma palavra – quando mobilizada, através da linguagem, evoca os limites sócio-espaciais e as características que estão associados a esse espaço. Com isto, e considerando a linguagem uma prática social, procurar-se-á lançar algumas pistas de reflexão em torno desta temática através de um debate estruturado a partir do papel da política, dos média e da ciência na transformação e mobilização das palavras que dividem a cidade em ‘categorias de acção social’. The city, as a physical and social context, is formed by different territories that to express their specificity require the existence of a category that identifies. This category – a word – when is mobilized, through the language, it evokes the social and territorial limits and also the characteristics linked to space. So, and considering the language as a social practice, we try to give some clues for a reflection about this issue through a debate carried out from the understanding of the roles of politic, media and science in the transformation and mobilization of the words that divide the city in ‘social action categories’. Palavras-chave: Cidade; território; linguagem; exclusão. Key-words: City; territory; language; exclusion.

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Seguramente é difícil de conceber uma porção de espaço urbano que escape às relações de força e àquelas que contêm dissimetria, que as palavras da cidade exprimem, mantêm, e às vezes desarmam. (Depaule, 2006)

Esta comunicação tem como objectivo apresentar uma das temáticas a aprofundar, o quanto for possível, na tese de doutoramento em desenvolvimento [sobre o papel dos agentes económicos e políticos e as classes sociais na produção de um espaço habitacional em Matosinhos Sul]. Esta temática trata dos efeitos sociais da mobilização das palavras do/sobre o território, ou melhor, das consequências que a utilização e generalização das palavras utilizadas correntemente - que se referem a determinado espaço físico (como rua, ilha, bairro, zona, ghetto, etc.) - têm na produção e na reprodução de um espaço, bem como do grupo de quem o habita. Para a compreensão de como está dimensão de análise actua sobre o processo de autonomização e percepção dos territórios tentar-se-á esboçar, esquematicamente, um conjunto de preceitos teóricos e metodológicos que se procurará por em prática na investigação doutoral. Procurar-se no utilizar desta ferramentas de análise, durante a investigação, perceber a génese, os agentes envolvidos, o processo de generalização de palavras como “Matosinhos Sul”, bem como os efeitos da sua mobilização construção territorial. (Decerto serão encontradas palavras ou expressões, mais ou menos instituídas, que permitirão entender como é que a instituição e generalização das “palavras da cidade” estão, também, na génese daquela realidade)

PARTE I: A LINGUAGEM COMO PODER Gostaria somente de trazer para debate o conjunto de premissas – ainda que um pouco dispersas – que esboçam uma tomada de posição teórica e metodológica relativamente ao estudo da linguagem do/sobre o contexto urbano e pô-las, num registo abstracto e AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 6, dez 2013

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ancorado em alguns estudos de caso, ao serviço da compreensão da violência urbana. Esta violência, decorrente da linguagem, opera sobretudo ao nível da estigmatização espacial, reconvertendo a violência, em violência simbólica (cf. Bourdieu, 2001) [ainda que as suas consequências sejam muitas vezes físicas e psicológicas – vejam-se os casos das revoltas das banlieues parisienses ou da acção militar extrema nas favelas do Rio de Janeiro]. Este assunto terá uma particular pertinência em ser abordado porque pela falta de um debate académico orientado para estas problemáticas, torna-se, também, por isso, uma tema sem muita repercussão ao serviço da auto-reflexão social – sendo, nesse sentido, mais eficaz a linguagem como mecanismo de controlo e violência simbólicas. “As relações linguísticas são sempre relações de força simbólica através dos quais as relações de força entre os locutores e os seus grupos respectivos se actualizam sobre uma forma transfigurada” (Bourdieu, 1992, p.118)

É importante, para se entenderem os efeitos da mobilização destas palavras que dividem o território, contextualizar a linguagem no seu universo social de produção, de forma ser possível a compreensão das relações de força que estão inerentes neste processo (Bourdieu e Wacquant, 1992; Bourdieu, 2001). Não podemos, por isso, entender as palavras per se, quer dizer, não nos podemos anexar somente a uma análise semântica, que nos fazia entender a palavra como uma partícula formal, sem qualquer fundamento social, como defendia Saussure. Para entendermos os efeitos da mobilização e da institucionalização das palavras como categorias de divisão é necessário passar de uma ciência da linguagem para uma ciência dos usos sociais da linguagem (Bourdieu, 2001). Para a eficácia desta tomada de posição terá de se ter em conta, entre outras dimensões, quem é o locutor, quem é o auditor, qual o contexto social em que a palavra é utilizada: por outras palavras, entender o uso da palavra como uma prática social.

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Tal como todas as práticas inerentes à construção do território (que passam pelas decisões políticas e administrativas; pelos efeitos da mercantilização do preço do solo; ou até como uma festa organizada por uma associação de moradores de um bairro apelando à unificação da espacialização de um grupo) o uso da palavra tem o seu papel determinante. As palavras relativas ao território são uma forma exemplar de etiquetagem social porque elas articulam eficazmente classificações espaciais e classificações sociais (Depaule e Topalov, 1996). Por exemplo, ghetto ou favela não se referem somente a um espaço físico sobre o qual temos uma imagem mental mais ou menos organizada, mas também àqueles que o habitam (os negros dos ghettos dos EUA e os favelados). - Neste contexto, é conferida à palavra uma dimensão pré-lucotória, quer dizer, ela ao se referir a um espaço físico delimitado permite, por antecipação, o reavivar de uma imagem mental associada a esse mesmo espaço. Pobreza, crime, violência, condições sanitárias reduzidas, tráfico de droga são algumas das características que associamos a estes locais. Como afirma Jean-Charles Depaule (2006) estas palavras são verdadeiros mecanismos de condensação-tipificação. - Se a palavra condensa o imaginário colectivo relativo a um território e conceptualiza as suas características sociais, constituindo-se um referente-tipo, ela permite o espoletar de uma cascata de imagens mentais que posibilitem aos sujeitos a construção de um imaginário sobre um determinado lugar. A generalização e disseminação destas palavras permite – entre muitos outros factores, é claro – a sedimentação de um espaço e das suas características na memória colectiva, no sentido que lhe deu Halbwachs (1994, 1997). - De modo a está memória colectiva ser exequível é necessário que estas palavras sejam operatórias possuindo um determinado nível de generalização e ao mesmo tempo que devem ser suficientemente concretas, de forma a serem comunicáveis e perceptíveis, também devendo ser susceptíveis de definições técnicas e jurídicas (Depaule, 2006; ; Topalov, 2001; Depaule e Topalov, 1996). - Podemos afirmar que estas palavras têm uma dupla verdade ou, pelo menos, um duplo sentido. Elas incluem e excluem, determinam o interior e o exterior. Afirmar AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 6, dez 2013

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que um ghetto é um local violento, com criminalidade e onde há tráfico de droga, implica conferir-lhe lhe uma especificidade, uma particularidade, uma originalidade, uma interioridade e por isto a acepção de uma exterioridade, de uma diferença. diferença - Algumas palavras do léxico urbano -

Fonte: C. Topalov, L. Coudroy de Lille, J.-C. J. Depaule e B. Marin (dir.), L’Aventure des mots de la ville. À travers le temps, les langues, les sociétés, Paris, s, Éditions Robert Laffont, 2011.

PARTE II: A PALAVRA COMO ‘CATEGORIA DE ACÇÃO’ As palavras do território, enquanto referentes de percepção do espaço físico e do espaço social, tornam-se tornam se em problemática quando se reconvertem, de certa forma, em ‘categorias de acção’ (sociais, políticas, etc.).

O espaço com um nome ganha um valor que parte de um acto colectivo de institucionalização e de fundação. fundação Os tecnocratas e as elites propõem,, assim, lançar um conjunto de palavras para determinar o espaço, catalogá-lo, catalogá lo, quer dizer, dividi-lo, dividi para operar de forma mais eficaz icaz sobre ele. Essas categorias são feitas para ordenar espaços urbanos e, assim, facilitar a sua gestão. gestão

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Perceber a linguagem permite-nos, ao mesmo tempo, perceber um conjunto de fracturas que estão instituídas na sociedade (Topalov, 2001). Nesse sentido, encontram-se uma série de derivações semânticas relativamente às palavras do território (couronne, rurbanisation, périurbain, exopolis, technopole, flexspaces no lugar de banlieue – palavras ‘criadas’ por sociólogos, historiadores e muitas vezes generalizados pelos média)

mobilizadas

socialmente,

através

da

utilização

ordinária

mobilizada

correntemente pelos agentes sociais numa palavra pejorativa, pós-moderna e universalizada: periferia (d’Arc, 2006) Acontece, também, o facto de os agentes sociais estruturarem um vocabulário específico para designar o lugar onde vivem, sob a vontade de escapar à identificação oficial trabalhos de Antida Gazzola (2006) em Gênes, na Itália e Laurent Bazac-Billaud (2006) em Praga, na República Checa - sendo este um factor de reforço do estigma. Palavras fora da linguagem oficial como “Edge City”, “invasão” ou “colónia irregular” são auto-designações que têm como horizonte a tentativa de conquistar a integração. Tornam-se palavras que estabelecem uma dialéctica estigmatização/desejo de integração (cf. D’Arc, 2006) Torna-se importante percepcionar alguns dos agentes sociais que mobilizam estas palavras tornando-as conceitos operativos na memória/imaginário colectiva/o. Entidades de Gestão, Planificação e Administração Urbanas Através da formalização e institucionalização de um conjunto de dados, o poder político-administrativo exerce a sua força. São nos Planos Directores Municipais; os traçados de mapas; as determinações de toponímias, por exemplo, que encontramos dados sobre a linguagem oficial.

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Um exemplo apresentado por Yankel Fijalkow: PALAVRA Taudis

Bouge

Logement insalubre

Habitat insuffisant ou incommode Habitat défectueux

PERÍODO/USO Sentido literário estabilizado no séc. XVIII. Uso político no início do século XX Sentido literário. Início do século XVII : abrigo precário, sinónimo de taudis

Sentido jurídico a partir de 1850

Sentido descritivo no século XIX Sentido descritivo depois de 1945.

Mal logés

Categoria administrativa depois de 1945

Habitat indigne

Categoria administrativa depois de 1990

Logement décent

Categoria administrativa depois de 1990

TEMAS ASSOCIADOS Alojamento, tuberculose, limpeza Mobilidade, limpeza, vadiagem [Vagabondage] Apartamento, habitabilidade 1- Redes sanitárias 2- Sobre-população 3- Ambiente construído 4- População, modo de vida Conforto, dimensão, sobrepopulação, falta de obediência às “regras da arte” Conforto, antiguidade, inadaptação aos modos de vida modernos Conforto, sobre-população, antiguidade. Imóveis insalubres, ameaças de ruína, risco de intoxicação por chumbo. Noção de saúde pública, procura de dignidade do ser humano Risco manifesto, segurança física, saúde. Conformidade para uso habitacional

“Usos e contextos dos termos que designam o mau alojamento” Fonte: Yankel Fijalkow (2006), « Les mots français du mauvais logement, XIXe-XXe siècle. Taudis, bouge, gîte. Habitat incommode, insalubre, insuffisant, défectueux, inhabitable, indigne… », in Depaule, Jean-Charles, Les mots de la stigmatisation urbaine, Paris, Éditions UNESCO/Maison des sciences de l’homme, pp.73-95.

Media Jornais e televisão disseminam a palavra introduzindo-a na linguagem corrente. Estes meios de comunicação associam de uma forma eficaz as palavras às imagens projectadas, facilitando a (re) construção de uma memória/imaginário colectiva/o.

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Fonte: Courrier International (Edição Francesa), nº 1042, 21 de Outubro 2010

Charles Depaule (dir.), Les Fonte: Anthony W. Schuman, “Ghetto”. Un mot et son US/age au Xxe siècle. In Jean-Charles mots de la stigmatisation urbaine. Paris, MSH/UNESCO, 2004, pp.48-49. 49. [Tradução do Francês]

Cientistas Sociais Através da demanda social e da ligação dos corpos de investigação a entidades públicas, púb os cientistas sociais foram colocados, colocados em certos momentos, ao serviço dos dominantes e participam na produção social do território, nomeadamente na institucionalização de categorias de acção.

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Alguns exemplos 1 - Oss efeitos do trabalho do François Dubet e Didier Lapeyronnie e da Revista Esprit na disseminação da problemática dos ‘quartiers sensibles’. (Tissot, 2005)

Sylvie Tissot, “Les sociologues et la banlieue: construction savante du problème des ‘quartiers sensibles’”, Genèses, 60, Setembro, 2005, p.63.

2 - O exemplo da construção das favelas no Rio de Janeiro como categoria de acção política e científica engendrada engendrada pelo grupo Economie et Humanisme, encabeçada pelo padre Louis-Joseph Joseph Lebret (Valladares, 2005) 2005 3 – A mobilização pela Federal Housing Administration dos conhecimentos de economia urbana construídos no seio da Escola de Chicago, em particular por H. Hyot. Hy (Kuklick, 2005) Assim, a partir de uma reflexão sobre as palavras que estão na génese de processos de estigmatização urbana, podemos construir uma certa sensibilidade fenomenológica que nos permitirá levar a cabo um debate alargado sobre os vários mecanismos que estão na origem e na legitimação dos fenómenos de violência urbana.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA Abreu, Maurício de Almeida e Gérard Le Clerre (1994), « Reconstruire une histoire oubliée. Origine et expansion des favelas de Rio de Janeiro », Genèses, nº16, pp.45-68. Bourdieu, Pierre (2001), Langage et pouvoir symbolique, Paris, Éditions Fayard. Bourdieu, Pierre e Loïc J. D. Wacquant (1992), Réponses. Pour une anthropologie réflexive, Paris, Éditions du Seuil. D’Arc, Hélène Rivière (2001), Nommer les nouveaux territoires urbains, Paris, Éditions UNESCO/Fondation maison sciences de l’homme. Depaule, Jean-Charles (2006), Les mots de la stigmatisation urbaine, Paris, Éditions UNESCO/Maison des sciences de l’homme. Depaule, Jean-Charles e Christian Topalov (1996), « La ville à travers ses mots », Enquête, nº4. Dubet, François (1987), La galère : jeunes en survie, Paris, Fayard. Dubet, François e Didier Lapeyronnie (1992), Les quartier d’exil, Paris, Éditions du Seuil. Faure, Alain (2003), « Un faubourg, des banlieues, ou la déclinaison du rejet », Genèses, nº51, pp.48-69. Fijalkow, Yankel (2006), « Les mots français du mauvais logement, XIXe-XXe siècle. Taudis, bouge, gîte. Habitat incommode, insalubre, insuffisant, défectueux, inhabitable, indigne… », in Depaule, Jean-Charles, Les mots de la stigmatisation urbaine, Paris, Éditions UNESCO/Maison des sciences de l’homme, pp.73-95. Folin, Marco (2003), « Hiérarchies urbaines/hiérarchies sociales : Les noms de la ville dans l’Italie moderne (XIVe-XVIIIe siècles), Genèses, nº51, pp.4-25. Halbwachs, Maurice (1994), Les cadres sociaux de la mémoire, Paris, Albin Michel. Halbwachs, Maurice (1997), La mémoire collective, Paris, Albin Michel. Kuklick, Henrika (2005), ‘L’École de Chicago et la politique de planification urbaine. La théorie sociologique comme idéologie professionnelle’, in Grafmeyer, Yves e Isaac Joseph, L’École de Chicago, Paris, Flammarion. Lemps, Xavier Huertz de (1998), « Nommer la ville : les usages et les enjeux du toponyme ‘manila’ au XIXe siècle », Genèses, nº33, pp.28-48. Schuman, Anthony W. (2006), « ‘Ghetto’. Un mot et son US/age au XXe siècle », in Depaule, JeanCharles, Les mots de la stigmatisation urbaine, Paris, Éditions UNESCO/Maison des sciences de l’homme, pp.41-55. Tissot, Sylvie (2005), « Les sociologues et la banlieue : construction savante du problème des ‘quartiers sensibles’», Genèses, nº60, pp.57-75. Topalov, Christian (2002), Les divisions de la ville, Paris, Éditions UNESCO/Fondation maison sciences de l’homme. Valladares, Lícia (2005), ‘Louis-Joseph Lebret et les favelas de Rio de Janeiro (1957-1959): enquêter pour l’action’, Genèses, nº60, Setembro, pp.123-178. AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 6, dez 2013

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