Cidade Maravilhosa: uma trajetória das crônicas ao título

June 4, 2017 | Autor: Priscilla Xavier | Categoria: Planejamento Urbano, Rio de Janeiro, Discurso
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Cidade Maravilhosa: uma trajetória das crônicas ao título
Priscilla Oliveira Xavier
Doutoranda IPPUR/UFRJ
Orientadora: Soraya Simões


RESUMO

As cidades se transformam e com ela as pessoas, hábitos e ideias. A partir das ideias, pretendemos compor uma análise de discurso do título Cidade Maravilhosa, sensivel às articulações conjunturais. Tratamos o Rio de Janeiro em três momentos institucionais eloquentes, o primeiro dele como sede do poder federal, em seguida como cidade-estado e na cidade pós-fusão, em sua versão mais atualizada. Resgatamos a origem da associação do Rio de Janeiro a uma cidade maravilhosa como um efeito da produção literária do início do século XX, estimulando um imaginário urbano e moderno. Do Rio de Janeiro estado da Guanabara decantamos a ideia de Cidade Maravilhosa como estratégia política de construção identitária, em um diálogo com a perda da capitalidade. Por fim, atualizamos a eficiência da Cidade Maravilhosa como um título adaptado às conveniências de uma gestão urbana que posiciona o Rio de Janeiro entre as cidades mundiais que competem pela atração de capitais. A intenção é refletir a Cidade Maravilhosa para além senso comum, como uma construção discursiva dinâmica, informada pelas transformações urbanas, dinâmica política e orientações econômicas, operando consensos e conflitos.


PALAVRAS CHAVE: discurso , imaginário , urbano


INTRODUÇÃO

As primeiras impressões registradas e propagadas do Rio de Janeiro em meados do séc XVI tinham em comum um olhar eurocêntrico, o interesse de reconhecer e o desejo de enriquecimento e poder. Giucci (1992) aborda a figura do navegante e suas explorações das regiões recônditas dos mares ocidentais tendo como foco as especulações de viagem que oscilam entre o fracasso e o sucesso, entre a ordem mundana e divina, entrelaçamento o mundo remoto ao maravilhoso. Assinala no século XVI uma formulação particular do maravilhoso, tendo o distante do centro europeu como o extraordinário, o repositório das incertezas e esperanças, o desconhecido, o sonho, a aventura, a fantasia, a riqueza e o poder.
O maravilhoso apresentado por Giucci se alastrou no tempo e ganhou novos contornos. Chegou na Modernidade dando significado a emoções não tanto pelo exotismo, mas ainda a cargo do imaginário, encantamento, sonhos e desejos. E adensando o espectro do ideário da maravilha, a cidade do Rio de Janeiro foi sendo construída e propagada pelo mundo como Cidade Maravilhosa.
Pretendemos neste trabalho produzir uma análise de discurso que dê conta do termo Cidade Maravilhosa, com o objetivo de compreender que elementos estavam em pauta em cada período institucionalmente decisivos para o Rio de Janeiro. A análise pretendida sobre a Cidade Maravilhosa articula o processo de produção e interpretação discursiva, numa investigação que considera a mudança da linguagem como constitutiva das mudanças sociais, culturais, políticas e econômicas, conforme sugere Fairclough (2008).
Metodologia
Selecionamos três momentos institucionais expressivos para o Rio de Janeiro. O primeiro deles o Rio de Janeiro como distrito federal, sede provisória do poder administrativo e espaço de peso simbólico na construção da identidade nacional na recém instaurada república. O segundo momento o Rio de Janeiro como estado da Guanabara, quando da transferência do distrito federal para o planalto central, interagindo com uma política centralista e dialogando com o ideal desenvolvimentista. Por fim, o Rio de Janeiro como um ente federado em uma orientação política descentralizada, municipalista, com ênfase na autonomia e interação amistosa com o mercado.
Com a análise pretendemos suspender a Cidade Maravilhosa do senso comum, propondo uma reflexão sensível ao processo de produção, interpretação e difusão de ideias, contextualmente referidas. E a reflexão lança luzes sobre as estratégias discursivas em torno da produção do urbano, sem menosprezar a produção do espaço simbólico.

CONSIDERAÇÔES

A análise proposta tem como mérito desvendar as transformações dos discursos em torno da Cidade Maravilhosa em par com as transformações da estrutura urbana, dos comportamentos e ideias, das orientações da esfera política e das tendências do campo econômico.

REFERÊNCIAS

ARANTES, Otília; VAINER,Carlos; MARICATO, Ermínia, "A Cidade do Pensamento. Único", Petrópolis, 2000.
CHAUÍ, Marilena. Brasil: Mito Fundador e Sociedade Autoritária. São Paulo, Fundação Perseu Abramo, 2000.
COSTA, Haroldo. 2001. 100 anos de Carnaval no Rio de Janeiro. São Paulo, Irmãos Vitale.

FACINA, Adriana. Literatura e sociedade. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2004.
GINZBURG, Carlo. Mitos, emblemas, sinais. São Paulo, Companhia das Letras. 1989.
GIUCCI, Guilhermo. Viajantes do Maravilhosa: O novo muno. São Paulo, Companhia das Letras, 1992.
DURAND, Gilbert. As estruturas Antropológicas do Imaginário. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e mudança social. Brasília: Editora da UNB, 2001.
MOTTA, Marly Silva da. Saudade da Guanabara. Rio de Janeiro, Editora da FGV, 2000.
SIMMEL, Georg. As grandes cidades e a vida do espírito (1903). Mana [online]. 2005, vol.11, n.2, pp. 577-591. ISSN 0104-9313.



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