Cidade, quotidiano e poder, Ufes/Paris 2009

July 5, 2017 | Autor: P. Funari | Categoria: Ancient History, Historia Antiga, Historia, História Comparada
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Descrição do Produto

II CONGRESSO INTERNACIONAL Ufes/ UNIVERSITÉ DE PARIS-EST XVII SIMPÓSIO DE HISTÓRIA DA Ufes

Cidade, Cotidiano e Poder La ville, le quotidien et le pouvoir

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO UNIVERSITÉ DE PARIS-EST PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA UNITÉ DE FORMATION ET RECHERChE EN SCIENCES HUMAINES ET SOCIALES

Programa e Resumos II Congresso Internacional Ufes/Université de Paris-Est XVII Simpósio de História da Ufes

Cidade, cotidiano e poder La ville, le quotidien et le pouvoir 16 a 19 de novembro de 2009 Ufes – Campus de Goiabeiras, ES

Reitor da Ufes: Rubens Sérgio Rasseli Président da UPE: Yves Lichtenberger Diretor do CCHN/Ufes: Edebrande Cavalieri Diretora do Laboratoire de Analyse Comparée des Pouvoirs: Fabienne Bock Coordenadora do Programa de Pós-Graduação/Ufes: Adriana Pereira Campos Chefe do Departamento de História/Ufes: Gilvan Ventura da Silva Representantes do Convênio Ufes/UPE Michael Soubbotnik Sebastião Pimentel Franco Comissão Organizadora Adriana Pereira Campos (Ufes) Gilvan Ventura da Silva (Ufes) Maria Beatriz Nader (Ufes) Sebastião Pimentel Franco (Ufes) Sergio Alberto Feldman (Ufes) Comissão Científica Carlos Gabriel Guimarães (UFF) Pascale Girard (UPE/Paris) Joana Maria Pedro (UFSC) Lídia Maria Vianna Possas (Unesp/Marília) Maria Teresa Toríbio Brittes Lemos (UERJ) Fábio de Souza Lessa (UFRJ) Raúl González Salinero (UNED/Madrid) Secretária Kátia Sausen da Motta Estagiária Ana Paula Calegari Designers Marcos Accioly e Tathiely Pereira

Sumário

Programação 

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Segunda-feira, 16/11/2009 Inscrições, credenciamento e entrega de material ........................................... 11 Conferência de abertura ................................................................................... 11

Terça-feira, 17/11/2009 Mesa de Conferências ...................................................................................... 11 Comunicações Coordenadas ............................................................................ 11 Comunicações Livres .......................................................................................16 Cursos .............................................................................................................. 21 Mesa de Conferências ..................................................................................... 22

Quarta-feira, 18/11/2009 Mesa de Conferências ..................................................................................... 22 Comunicações Coordenadas ........................................................................... 22 Comunicações Livres ...................................................................................... 27 Cursos .............................................................................................................. 31 Lançamento de livros ...................................................................................... 31

Quinta-feira, 19/11/2009 Mesa de Conferências ...................................................................................... 31 Comunicações Coordenadas ........................................................................... 32 Comunicações Livres .......................................................................................36 Conferência de encerramento .......................................................................... 41

Resumos

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Programação

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16 de novembro (2ª feira) 17h às 19h – Credenciamento dos participantes e entrega de material 19h – Solenidade de abertura 19h30min – Conferência de abertura Local: Teatro Universitário Tema: Les corporations urbaines anglaises à la veille de la réforme municipale de 1835: Des institutions d’Ancien Régime confrontées à l’émergence de nouveaux usages urbains Conferencista: Fréderic Moret (UPE)

17 de novembro (3ª feira) 9h às 12h30min – Mesa de Conferências I Local: Cine Metrópolis Mediador: Sergio Alberto Feldman (Ufes) Vincent Lemire (UPE) La lutte quotidienne pour l’approvisionnement en eau potable à Jérusalem, entre conflits de pouvoirs et conflits de mémoires (1850-1950) Paulo César Garcez Marins (USP) Entre o espaço traçado do rei e o espaço fortuito dos súditos: Desafios interpretativos na reflexão relativa às experiências urbanas da América Portuguesa Robert Moses Pechman (UFRJ) “Como se fosse um limo”, ou de como o poder se deposita nas pedras da cidade

14h às 16h30min – Comunicações Coordenadas CC 01 (Auditório do CCHN) – Sociabilidades e sensibilidades urbanas no contemporâneo Coordenador: Luiz Felipe Falcão (UDESC) Usos do imaginário urbano: Memória e oralidade como certificação do passado Emerson César de Campos (UDESC) Ilha de Estrangeiros: Presença árabe em Florianópolis (SC) 1990-2008 Rafael Damaceno Dias (UFPR) Da paz que um dia, não mais teremos: Conflitos socioculturais em Florianópolis a partir das colunas sociais (1970-1990) Andrea Maria Vizzotto Alcântara Lopes (UFPR) O que é isso, MPB? Construção de uma identidade musical no cenário urbano (1956-1979)

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CC 02 (Sala 10 do IC III) – Cidade, cotidiano e poder no Sul do ES Coordenador: Aldieris Braz Amorim Caprini (Centro Universitário São Camilo – ES) Comércio, urbanização e poder político em Iconha (1879-1915) Diogo Pereira Lube (Centro Universitário São Camilo – ES) Jornal “O Marco” (1979-1984): Um ensaio informativo de uma contracultura cachoeirense Adilson Silva Santos (Centro Universitário São Camilo – ES) O “quadriênio da luz”: Cachoeiro do Itapemirim no limiar do século XX Liliana G. Pereira & Lusvani N. Belmond (Centro Universitário São Camilo – ES) Urbanização: Cachoeiro de Itapemirim e o desenvolvimento da cafeicultura CC 03 (Sala 11 do IC III) – Identidade, poder e religião no Mundo Romano Coordenador: Belchior Monteiro de Lima Neto (Ufes) Alteridade, identidade e estigmatização nas “Metamorphoses” de Apuleio: Bandidos e elite citadina no contexto norte-africano do século II d.C. Carolline da Silva Soares (Ufes) O conflito entre paganismo, judaísmo e cristianismo no Principado: Um estudo a partir do “Contra Celsum”, de Orígenes Hariadne da Penha Soares (Ufes) Os cultos de Ísis e Atargátis no Alto Império Romano: Conflito religioso e formação de identidades em ‘O Asno de Ouro’ e o “De Dea Syria’ Ludimila Caliman Campos (Ufes) ‘Um Deus, um bispo, um a Igreja’: A formação do episcopado monárquico nas comunidades cristãs do Império Romano CC 04 (Sala 12 do IC III) CC04 (Sala 12 do IC III) – Descaminhos e relações de poder no cotidiano das cidades coloniais Coordenadores: Lincoln Marques dos Santos (UFF/Colégio Pedro II) & Paulo Cavalcante (Unirio/UERJ) ‘Ciência prática’ e descaminhos: O modo de tecer a ordem com os fios da desordem na América Portuguesa (D. Lourenço de Almeida, século XVIII) Letícia dos Santos Ferreira (UFF) O sistema fiscal moderno: Vicissitudes na implantação de um donativo nas cidades de Lisboa e Salvador (1660-1663) Valter Lenine Fernandes (Unirio) & Victor Hugo Abril (Unirio) Espaços de poder: O cotidiano da ilicitude no Rio de Janeiro colonial Yllan de Mattos (UFF) A última Inquisição: Os meios de ação e funcionamento do Santo Ofício no Grão-Pará pombalino (1763-1769)

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CC 05 (Sala 13 do IC III) – A Europa medieval Coordenador: José Renato da Silva Marques (Ufes) O uso do ‘kairós’ na obra de Sócrates Escolástico Tatyana Nunes Lemos (UFES) Monarquia: Uma análise de Dante Alighieri (1265-1321) André Araújo de Oliveira (Ufes) A “domus”: A explanação sobre o conceito de casa-família em Montaillou do início do século XIV Rafael Hygino Meggiolaro (Ufes) A cidade de Bracara Augusta como cenário de encontro entre romanos e germânicos CC 06 (Sala 14 do IC III) – Juventudes e cotidianos: demarcando relações de poder em espaços de educação formal e não formal Coordenador: Alessandro da Silva Guimarães (Ufes) Cotidiano, espaço e lazer: A rotina de jovens de periferia focando nas categorias de classe social e gênero Fabíola dos Santos Cerqueira (Ufes) Jovens, escola e relações de poder: Desvelando enredos a partir do cotidiano de uma escola pública Geovana Cristina de Almeida (Ufes) Juventudes e políticas públicas: Considerações sobre o cotidiano de jovens em espaços de educação não-formal Keila Bárbara Ribeiro da Silva (Ufes) A invisibilidade da participação estudantil na gestão escolar CC 07 (Sala 15 do IC III) – Os índios na história Coordenador: Klítia Loureiro (Ufes) Rompendo o silêncio: O índio, um vazio na História Kalna Mareto Teao (Ufes) & Marcelo Oliveira A Lei 11.645 e o ensino da História Indígena Damiana Bregalda (UFRGS) Grupos indígenas nos espaços urbanos: Apropriações materiais e simbólicas “kaingang” em Porto Alegre, Rio Grande do Sul CC 08 (Sala 16 do IC III) – A cidade entre lápis e pincel: estudo das manifestações políticas e culturais da cidade de Florianópolis através das expressões artísticas (1970-1985) Coordenador: Lucésia Pereira (UFSC) Arte e coexistência: Vanguarda artística em Florianópolis — sobreposições, choques e assimilações (1970)

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Michele Bete Petry (UFSC) Personagens e histórias: Representações sobre o cotidiano e a cidade de Florianópolis (SC) entre 1969-1979) Rafaela Duarte (UFSC) “Diretas Já” em Santa Catarina: Manifestações políticas e culturais do movimento através dos periódicos catarinenses CC 09 (Sala 17 do IC III) – Guerrilha imaterial: poder e resistência na Era do Império Coordenador: Davis M. Alvim (Cesat/PUC-SP) Resistência, poder e nomadismo em Michel Foucault e Gilles Deleuze Murilo Esteves Junior (Cesat/GEN/FML) 1984 — uma crítica da sociedade de controle Thiago Menini dos Reis (Ufes) Hugo Chávez: O homem, o mito e a história oficial CC 10 (Sala 18 do IC III) – Relações cotidianas de poder no Brasil Republicano Coordenador: Valter Pires Pereira (Ufes) Hegemonias rural e urbana na formação social brasileira (1930-1980) Ueber José de Oliveira (Ufes) Mudanças no cotidiano de poder no Espírito Santo: Da hegemonia rural para a urbano-industrial (1950-1980) Flávio Henrique Calheiros Casimiro (UFSJ) Cidadania e ideologia neoliberal no Brasil: Um estudo a partir da História do Tempo Presente e da noção de culturas políticas José Mauriene Araújo Felipe (Ufes/Fafia) A metrópole como negação do ideal de segurança pública na contemporaneidade CC 11 (Sala 01 do IC III) – Urbanização e Modernização: experiências lusitanas e brasileiras Coordenadora: Maria da Penha Smarzaro Siqueira (Ufes) A urbanização e o projeto modernizador das cidades brasileiras na primeira metade do século XIX João Pedro Nunes (ISCTE/IUL – Lisboa) Da cidade pedestre à metróple do automóvel: Forma urbana e mobilidade espacial em Lisboa (1950-2001) Maurizete Pimentel Loureiro (Farese/ES) Habitação popular: Ideário e contradições do sonho da casa própria Rossana Ferreira da Silva Mattos (UVV) Expansão urbana e violência na região metropolitana da Grande Vitória

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CC 12 (Sala 02 do IC III) – Ocupação do espaço e relações de trabalho na Primeira República Coordenador: Carlos Eduardo C. da Costa (UFRJ) Migração? Para a favela, não! Migração e cidadania da população de pretos e pardos no PósAbolição. Vale do Paraíba e Baixada Fluminense, RJ (1888-1940) Ingrid Silva de Oliveira (UFRRJ) Relações de trabalho na cidade do Rio de Janeiro no pós-abolição: Uma análise através da literatura de Júlia Lopes de Almeida Wallace Manoel Hupp (Ufes) Estrada de Ferro Central do Brasil e Morro da Favela: Uma versão do Projeto Araribá para a urbanização na Primeira República Fabiana Francisca Macena (UnB) “O Rio civiliza-se”: Espaço urbano, modernidade e ‘ feminino’ na revista ‘Fon-Fon’ (1907-1914) CC 13 (Sala 03 do IC III) – Cidade, imprensa e ditadura militar Coordenador: Alexandre Tavares do Nascimento Lira (UFF) Os estudantes nas ruas: Manifestações urbanas durante a ditadura militar no Brasil (1964-1968) Camila Gonçalves da Silva (UFJF) Jornalismo escrito em tempos de censura: A memória dos jornalistas sobre a censura em Montes Claros-MG nos anos de 1964 a 1968 Victor Reis Mazzei (Ufes) A censura do jornal ‘A Gazeta’ nos Anos de Chumbo (1968-1971) Karla Monteiro Sanches de Moraes Fonseca (Ufes) 1964 — Na Ponta do Lápis: A política retratada nas primeiras charges da imprensa capixaba CC 14 (Sala 04 do IC III) – Olhares sobre a vida urbana de Florianópolis/SC Cooordenador: Mara Rúbia Sant’Anna & Renato Riffel (UDESC) Cidade desejada: O consumo como agente do projeto de modernização de Florianópolis nas décadas de 1950 e 1960 João Garcia Neto (UDESC) Os donos da rua: Vigilância e criminalidade no centro de Florianópolis Rodrigo Amaral Leite da Silva (UDESC) Meretrizes: A geografia da prostituição no centro de Florianópolis Catarina Lisboa do Carmo (UDESC) A idéia de pertencimento à comunidade árabe muçulmana em Florianópolis: Um estudo entre gerações (1990-2008)

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CC 15 (Sala 05 do IC III) – Aspectos da política imperial nas primeiras décadas do século XIX Coordenadora: Débora Cristina Alexandre Bastos e Monteiro de Carvalho (UFJF) De Lisboa ao Rio de Janeiro: Correspondência do Conde de Funchal em tempos de crise (1803-1814) Bruna Coutinho Gonçalves Belchior (UERJ) A política imperial entre 1808 e 1814: Rio de Janeiro, Lisboa e a política externa portuguesa até o Congresso de Viena Paulo Henrique Fontes Cadena (UFPE) Às vésperas da eleição: A disputa política pela Regência expressa nas páginas do “Diário de Pernambuco” Darlan Silveira Campos (Ufes) Bernardo Pereira de Vasconcelos e a História Parlamentar brasileira (1826-1840) CC 16 (Sala 06 do IC III) – História, arquitetura e planejamento urbano Coordenadora: Eneida Maria Souza Mendonça (Ufes) Identificação dos referenciais da paisagem urbana — contribuições metodológicas Ana Carolina Silva da Costa (UnB) A modernidade e o planejamento urbano: O caso de Belo Horizonte Daniela C. Bissoli, Martha M. Campos (Ufes) & Viviane L. Pimentel (Univix) Proteção da paisagem da área central de Vitória (ES/Brasil): O planejamento entre a história e a cidadania André Tomoyuki Abe, Indira Maria Reis Paes Landim, Natália Zago Sena & Patrícia Stelzer da Cruz (Ufes) A trajetória do planejamento urbano: Perdas e conquistas na Região Metropolitana da Grande Vitória CC 17 (Sala 07 do IC III) – Construindo a ordem no Oitocentos Coordenadora: Adriana Pereira Campos (Ufes) Ordem na desordem: Escravidão e estabilidade na Vitória do Oitocentos Geraldo Antonio Soares (Ufes) Ordem pública e vida cotidiana em Vitória no final do século XIX Ricardo Alexandre Ferreira (Unicentro) Repositórios de homens perigosos: A construção de cidades mal afamadas nos sertões do Brasil imperial

16h30min às 18h – Comunicações Livres CL 01 (Auditório do CCHN) Mediador: Agostinho Júnior Holanda Coe (Fiocruz)

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O poder em disputa: A misericórdia e os serviços assistenciais no século XIX em São Luís Eduardo Gomes de Oliveira (Fiocruz) Cidade e loucura: A Atenas brasileira e a assistência aos alienados (1880-1900) Leandro Silva de Paula (UFJF) O discurso dos médicos da província mineira: Reflexões sobre urbanização e higiene no século XIX CL 02 (Sala 10 do IC III) Mediador: João Henrique dos Santos (UERJ) “Omnia sunt communia”: A pregação radical de Thomas Müntzer das cidades para os campos Ricardo Mariani (Unirio) O mercador errante: Cidadania e suas influências nas liberdades das cidades inglesas medievais Thiago Enes (UFF) A privação dos desejos: As cidades medievais e a invenção do pútrido CL 03 (Sala 11 do IC III) Mediador: Roney Marcos Pavani (Ufes) Revisando o pensamento conservador: Juan Donoso Cortés André Ferreira Mello (Ufes) A idéia de América em “Conflicto y armonias de las razas”, de Domingo Faustino Sarmiento Tito Souza da Silva (Ufes) Questão nacional e liberalismo argentino no século XIX CL 04 (Sala 12 do IC III) Mediador: Alexandra Maria Pereira (USP) Circuito mercantil, perfil socioeconômico e disposição das lojas e vendas da comarca de Vila Rica em 1746 Edna Maria Ferreira da Silva (UEMG) O sul das Minas, fronteira e sertão: Aspectos da formação da Vila de Campanha da Princesa (século XVIII) Rodrigo de Almeida Ferreira (Centro Universitário Una – MG) O cotidiano nas vilas mineiras do século XVIII sob o olhar contemporâneo do cinema CL 05 (Sala 13 do IC III) Mediador: Marisa Schincariol de Mello (UFF) Expansão da literatura nordestina na década de 1930 Severino Cabral Filho (UFCG) Dimensões simbólicas da modernização urbana: Água, desejo, promessa e espetáculo — Campina Grande (1936-1939)

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Pedro Ernesto Fagundes (Centro Universitário São Camilo – ES) A “Carta dos Cem”: Ato de refundação do Partido Comunista do Brasil CL 06 (Sala 14 do IC III) Mediador: Raimundo César de Oliveira Mattos (UERJ/USS) & Antônio Carlos da Silva (UERJ/USS) A cidade e seus espaços de poder: O caso de Valença, no Vale do Paraíba fluminense no século XIX Leandro Pereira Matos (UFJF) Quando o urbano silencia o rural: Memória e identidade de grupos em um município mineiro (Juiz de Fora, séculos XIX e XX) Carlos Alberto Oliveira (PUC-MG) A organização do espaço urbano no século XIX: Significado e percepção do espaço público na nova Capital de Minas CL 07 (Sala 15 do IC III) Mediador: William de Souza Martins (USS/UGF) Os viajantes estrangeiros, os letrados e as festas religiosas no Rio de Janeiro: o olhar civilizador (c. 1830-1860) Andrea Aparecida Della Valentina (PMV) A procissão de Quarta-Feira de Cinzas em Vitória-ES no século XIX: A produção de um ritual religioso e moralista Eucélia Maria Agrizzi Mergár (Ufes) A presença da mulher na sociedade capixaba na visão de dois viajantes estrangeiros CL 08 (Sala 16 do IC III) Mediador: George Félix Cabral de Souza (UFPE) Comércio, abastecimento e poder municipal: O Recife do século XVIII Tatiana Silva de Lima (UFPE) Entre o aprendizado e as fronteiras do trabalho doméstico: Recife em meados do século XIX Tiago de Araújo Camillo (Ifes) Por um retrato urbano do Espírito Santo provincial: Nota sobre o Fundo Fazenda e seu suporte à investigação histórica CL 09 (Sala 17 do IC III) Mediador: Sergio Alberto Feldman (Ufes) Jerusalém entre as representações e a realidade

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Júlio Paulo Tavares Zabatiero (Faculdade Unida de Vitória/IEPG) Rearticulando espaços urbanos – as origens de Israel nas regiões montanhosas de Canaã no século XIII a.C. Juan Pablo de Sena Pera (Ufes/FTU) O antijudaísmo de Justino Mártir no ‘Diálogo com Trifão’ CL 10 (Sala 18 do IC III) Mediadora: Mônica Vermes (Ufes) As camadas musicais da cidade do Rio de Janeiro nos primeiros anos da República Leandro do Carmos Quintão (Ufes) Uma cidade e suas ferrovias: Vitória e a mais-valia da Capital Jória Motta Scolforo (Ufes) O poder e a morte no ‘Jornal de Viçosa’ na década de 1920 CL 11 (Sala 01 do IC III) Mediador: Rafael Lima Alves de Souza (PUC-RJ) O fim da cidade e a cidade dos fins: O Rio de Janeiro sob o olhar da comissão do Plano da Cidade Denise Carla Goldner Coelho (Ufes) Abrigos para crianças e adolescentes: Marcando espaços na cidade Carolina Ferreira de Figueiredo (UDESC) & Thamirys Mendes Lunardi (UDESC) Comunidade árabe em Florianópolis: Impressões, identificações e pertencimentos (1990-2008) CL 12 (Sala 02 do IC III) Mediadora: Ana Luiza Falcão de Souza (UERJ) A importância dos desfiles e marchas na formação da identidade da Mocidade Portuguesa Baltazar Pereira dos Santos (UESC) As representações e os discursos sobre os afro-brasileiros na imprensa de Itabuna Mauro Cezar Vaz de Camargo Junior (UDESC) Marechal Cândido Rondon e o processo de implantação do turismo CL 13 (Sala 03 do IC III) Mediadora: Valdete Côco (Ufes) Instituições de Educação Infantil na paisagem social Beatriz Nascimento Teles & Marcela Sarnaglia (Ufes) Humor e irreverência na didatização da História dos Meios de Comunição Pâmella Passos Deusdará (IFRJ/UFF) Lan House para quê? Debates entre consumo e as apropriações tecnológicas

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CL 14 (Sala 04 do IC III) Mediadora: Vera Lúcia Bogéa Borges (UERJ/Colégio Pedro II) A Capital federal na campanha eleitoral à presidência (1908-1910) Érica Sarmiento da Silva (UERJ) Os estrangeiros no cotidiano carioca da Primeira República: O caso dos imigrantes galegos Marcelo Crisafuli Nascimento Almeida (UFSJ) A admissão dos gêneros musicais populares pelos teatros de São João Del Rei no início do século XX CL 15 (Sala 05 do IC III) Mediador: Robson Xavier da Costa (UFPB/UFRN) Entre a ponta e o farol: morfologia e lógica museal no espaço expositivo da Estação Cabo Branco em João Pessoa Silvia Sasaki (UDESC) Rua Augusta: Uma abordagem da cidade de São Paulo através de suas representações citadinas e ordinárias Luana da Silveira (UERJ) Viajar é preciso: Experiência de migração de estudantes de pós-graduação em análise CL 16 (Sala 06 do IC III) Mediadora: Batistina Maria de Souza Corgozinho (Funedi) O comércio urbano local através das notas fiscais Neuza Brito de Arêa Leão Melo (UFPI) Michel Foucault e a arquitetura das residências ecléticas de Parnaíba: Um novo caminho para história Bruno Ferreira Araújo (UFV) Vale do Aço nas décadas de 1950 e 1960: Uma análise a partir da implantação da Estrada de Ferro Vitória-Minas CL 17 (Sala 07 do IC III) Mediadora: Denise Lima Rabelo (Ufes) No cotidiano do transporte coletivo: O fraco contra o fraco Adriana Gomes Maia (Ufes) Urbanidade contemporânea: A ausência nos espaços urbanos José Ricardo Ferraz (UERJ) Para além das ‘Cidades Mortas’: Industrialização e modernidade no Vale do Paraíba Fluminense (1970/1910)

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18h às 20h – Cursos 1 – Debates e embates sobre a cidade Professores: Dra. Cristina de Cassia Pereira Moraes (UFG) & Ms. Edmilson Siqueira de Sá (UEG) Local: Sala 10 do IC III 2 – Cidade e cinema Professor: Dr. Robert Pechman (UFRJ) & Ms. Eliana Kuster (Ifes) Local: Sala 11 do IC III 3 – Cidades, modernidade e simbolismos na Amazônia: uma temática Professores: Eveline Almeida de Souza, Patrícia Raiol Castro de Melo e Túlio Augusto Pinho de Vasconcelos Chaves (UFPA) Local: Sala 12 do IC III 4 – As cidades submersas: por uma história cultural do urbano Professor: Dr. Antônio Clarindo Barbosa de Souza (UFCG) Local: Sala 13 do IC III 5 – Polícia e violência de gênero Professora: Dra. Lana Lage da Gama Lima (UENF) Local: Sala 14 do IC III 6 – A mulher na cidade: algumas reflexões teóricas Professora: Dra. Marinete dos Santos Silva (UENF) Local: Sala 15 do IC III 7 – A cidade antiga entre a autonomia e o Império Professores: Ana Gabrecht, José Guilherme Rodrigues e Érica C. Morais da Silva Local: Sala 16 do IC III 8 – A dependência do Brasil para com a Inglaterra: os tratados de 1810 Professor: Dr. Valter Pires Pereira Local: Sala 17 do IC III

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20h às 22h – Mesa de Conferências II Local: Auditório do CCHN (IC II) Mediadora: Maria Beatriz Nader (Ufes) Norma Musco Mendes (UFRJ) A região sul da Lusitânia: Uma percepção arqueológica da mudança do espaço urbano Lana Lage da Gama Lima (UENF) Os pecados capitais e as normas de convívio urbano

18 de novembro (4ª feira) 9h às 12h30min – Mesa de Conferências III Local: Cine Metrópolis Mediadora: Adriana Pereira Campos (Ufes) Mathilde Larrère (UPE) Les compagnies de quartier de la Garde Nationale parisienne sous la monarchie constitutionnelle: Le pouvoir au bout du fusil dans les quartiers de la capitale Fátima Moura Ferrreira (Universidade do Minho) Usos privados e públicos da fotografia na cidade de Braga, nas primeiras décadas de Novecentos: Imaginários sociais e hierarquias de poder Edson Alvisi Neves (UFF) A corte legislativa do Brasil no século XIX

14h às 16h30min – Comunicações Coordenadas CC 18 (Auditório do CCHN) – Saberes e discursos sobre a cidade: políticas e cotidiano Coordenadora: Surama Conde de Sá Pinto (UFRRJ) Um eterno “burgo podre”? A política carioca na Primeira República Fábio Henrique Lopes (USS/Vassouras) O suicídio em cena: Palco, personagens e falas Lúcia Helena Pereira da Silva (UFRRJ) Um Rio de Águas: técnicos, Estado e estrutura urbana carioca entre os anos 1840/1870 Cláudio Antônio Santos Monteiro (USS/Vassouras) As festividades cívicas das repúblicas Francesa, Chilena e Argentina na capital da corte brasileira segundo a percepção da diplomacia francesa no Rio de Janeiro (1881-1889)

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CC 19 (Sala 10 do IC III) – Poder, identidade e conflito: nação e Estado no Brasil do século XX Coordenadora: Nara Maria Carlos de Santana (Cefet/Petrópolis) O Rio de Janeiro como lócus de poder; nacionalismo, identidade e conflito na Capital Federal Natália Reis (UFF) O discurso neo-integralista: Ideologia e memória Gisele dos Reis Cruz (UFF) A redemocratização e as práticas democráticas: Uma reflexão sobre o discurso do consenso em instâncias participativas Pompéia Genaio (UERJ) Disputa e construção de projetos hegemônicos na Nova República CC 20 (Sala 11 do IC III) – Diálogo, conflito e intolerância no mundo ibérico medieval Coordenadora: Kellen Jacobsen Follador (Ufes) Os conflitos antijudaicos na cidade de Sevilha em fins do século XIV Samara Cristina Zupeli (Ufes) As cortes castelhanas do século XIII e suas disposições antijudaicas Cristiane Rovetta Gomes (Ufes) Mendicantes e judeus: Projetos de conversão Leandro Augusto Viana Prado (Ufes) A cidade hispano-muçulmana CC 21 (Sala 12 do IC III) – O cotidiano do Oitocentos: mulher, família e escravidão Coordenadora: Geisa Lourenço Ribeiro (Ufes) Diante de Deus e dos homens: Escravos, matrimônio e famílias em São João de Cariacica – ES (século XIX) Rafaela Domingos Lago (Ufes) Estratégias sociais: Escravos, libertos e livres na composição das famílias capixabas (1831-1850) Philipi Gomes Alves Pinheiro (Ufes) Uma questão de honra: Defloramentos na comarca de Vitória/ES (1850-1871) Tácila Aparecida Mattos (Ufes) Cenas femininas: Violência e gênero na comarca de Vitória/ES (1850-1870) CC 22 (Sala 13 do IC III) – Mitologia, gênero e cotidiano no teatro grego antigo Coordenadora: Luana Neres de Sousa (UFG) Aspectos cotidianos da ‘pólis’ presentes na comédia ‘As Nuvens’, de Aristófanes Giselle Moreira da Mata (UFG) As comédias de Aristófanes: Gênero e poder na Atenas Clássica Poliane da Paixão Gonçalves Pinto (UFG) O herói e a “pólis”: Uma análise da imagem de Heracles no contexto da ‘pólis’ grega

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Tatielly Fernandes Silva (UFG) A mitologia e o palco: Breve análise da representação teatral do mito de Helena nas obras de Eurípedes CC 23 (Sala 14 do IC III) – Cidade, imaginário e política entre a Monarquia e a República Coordenadora: Maria da Conceição Francisca Pires (UFV) O imaginário político da Revolta do Vintém Rogério Rosa Rodrigues (UESC) A urucubaca no Catete: Humor e política na candidatura de Hermes da Fonseca a Presidente da República (1909-1910) Patrícia Vargas Lopes de Araújo (UFV) Uma cidade em cena: Campanha/Minas Gerais (1850-1950) CC 24 (Sala 15 do IC III) – Cidade e as fixações de lugares Coordenadora: Marilene Rosa Nogueira da Silva (UERJ) Cidade e prisão: Fixação, normalização e controle da desordem urbana Magda Maria Jaolino Torres (UFRJ) ‘Cidades’: A emergência de heterotopias na América portuguesa do século XVI Marcos Aurélio Santana Rodrigues (UFRJ) Práticas anarquistas e produções de heterotopias no Rio de Janeiro da Primeira República Joana D’Arc Fernandes Ferraz (Unirio) O não-lugar das classes perigosas no Rio de Janeiro contemporâneo CC 25 (Sala 16 do IC III) – Cidade e política no Oitocentos Coordenadora: Adriana Pereira Campos (Ufes) Cidades e magistraturas leigas: O auto-governo judiciário municipal Marcello Basile (Ufrrj) Problemas urbanos, imprensa e cidadania: O Rio de Janeiro no início do Segundo Reinado. Silvana Mota Barbosa (Ufjf) Trajetórias e experiências políticas no Conselho Ministerial (1847-1889). Silvia Carla Pereira de Brito Fonseca (Uerj) Agremiações políticas no período regencial: A Sociedade Federal de Pernambuco como um estudo de caso (1831-1833) CC 26 (Sala 17 do IC III) – Cidade, poder e representação no Império Romano Coordenador: Gilvan Ventura da Silva (Ufes) Uma cidade na alma: João Crisóstomo e a formação dos “atletas de Cristo” Juliana Bastos Marques (Unirio) As faces de Roma e os centros de poder em Amiano Marcelino

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Érica Cristhyane Morais da Silva (UNESP/Franca) Cidade, representação e poder na História do Império Romano: A historiografia sobre Antioquia de Orontes Thiago Brandão Zardini (Faculdade Saberes) A proteção das cidades no fim do Império Romano: O discurso pagão de Zózimo, na obra “Nova História”, contra Teodósio I CC 27 (Sala 18 do IC III) – Memórias reveladas: arquivo e história da Ditadura Militar no Espírito Santo Coordenadora: Juliana Sabina Simonato (APEES) Memórias reveladas no Espírito Santo Juliana Lima Gomes dos Santos (Ufes) Organização de acervos permanentes: O Fundo Dops/ES Viviane Vieira Vasconcelos (APEES) O fazer arquivístico no Fundo DOPS/ES Lorenna Ribeiro Zem (Ufes) “Suspeita de subversão”: Clero católico e ditadura militar no Espírito Santo, a partir do Fundo DOPS Enaile Flauzina Carvalho (APEES) A Casa do Estudante capixaba: Uma questão de ordem? CC 28 (Sala 01 do IC III) – Agostinho: cidade dos homens, cidade de Deus Coordenador: José Mário Gonçalves (Ufes) Religião e violência na cidade: Representações do suicídio na ‘Réplica a Gaudêncio’, de Santo Agostinho Joana Paula Pereira Correia (Ufes) Agostinho e identidade: “De moribus ecclesiae catholicae” Fabiano de Souza Coelho (Ufes) Cristianismo, gênero e poder: O bispo Agostinho e o matrimônio CC 29 (Sala 02 do IC III) – Cidade, patrimônio e memória Coordenador: Tarcísio Glauco da Silva (Favale/FDC) Fotografia e cidade: Memória, pesquisa e fontes históricas Tulio de Oliveira Tortoriello (UFSJ) São João del-Rei: Um patrimônio histórico e cultural na contemporaneidade Priscilla Dantas Delphino (UFSJ) A construção sócio-histórica do “patrimônio histórico”: Um estudo comparativo de jornais sanjoanenses da década de 1960 e da contemporaneidade

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Cláudio Antônio Vieira da Silva (UFPE) Cidades históricas: Geoprocessamento para o ordenamento territorial CC 30 (Sala 03 do IC III) – Política e cotidiano na Era Vargas Coordenador: Sérgio Luiz Marlow (Faculdade Saberes/USP) Transformações e mudanças no cotidiano religioso dos teuto-brasileiros na Era Vargas Júnia Helena Ferreira dos Santos (Faculdade Saberes) Revelando o cotidiano, a cidade e o poder através da imprensa no Estado Novo Renan Saab R. Manaia (UEL) Ville fraternelle: Pouvoir, la discipline et lê contrôle sur le secteur de la prostitution de la ville d’Assis, SP, entre les années 1930 à 1945 CC 31 (Sala 04 do IC III) – Reflexões político-jurídicas sobre a relação Estado/Cidade Coordenador: Fernando Carlos Dilen da Silva (Faculdade São Geraldo) A autonomia municipal na Federação brasileira: a teoria da subsidiariedade entre o constitucionalismo e as relações informais de poder na Constituição Federal de 1988 Lélio Favacho Braga (UFPA) A passagem do Estado positivo para o Estado regulador na reforma do Estado brasileiro — a “Governance” centrada no cidadão Milton Esteves Junior (Ufes) Contra a cidade do poder e a favor do poder da cidade: Leitura crítica e estratégias processuais. Denise Silva Telles, Kamila Zamborlini Waldetario e Cristina Engel de Alvarez (Ufes) O direito à cidade sustentável como paradigma de qualidade urbana CC 32 (Sala 05 do IC III) – Saúde, ideologia e relações sociais Coordenador: Ricardo Augusto dos Santos (Fiocruz) A eugenia e o paraíso Gilma Maria Rios, Mariana Menezes Rios, Flauzer Franco Souza (Unipac) São Sebastião, valei-nos! Olhares sobre a história da saúde e suas implicações sociais em Araguari/MG Damaris Naim Márquez, Lívia Coutino & Paulo Rodrigues Costa (Unipac) Postos de saúde: Lugares de prosa e práticas de sociabilidade na organização do espaço social Keila Auxiliadora Carvalho (UFF) Cidade, saúde e doença: A perspectiva modernizadora presente na política de segregação dos leprosos

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CC 33 (Sala 06 do IC III) – As múltiplas faces do cotidiano carioca Coordenador: Sérgio Hamilton da Silva Barra (PUC-RJ) Luiz Edmundo e a boemia do Rio de Janeiro do seu tempo Márcia Cristina da Silva Sousa & Leila Beatriz Ribeiro (Unirio) Cidade descuidada: O processo de extinção dos ‘cinemas de rua’ do Rio de Janeiro Daniele Chaves Amado (UFF) “Salvando a princesinha do mar”: “Última Hora” e a campanha de saneamento moral de Copacabana Andréa Cristina de Barros Queiroz (UFRJ) Millôr e o cenário carioca: A construção de uma identidade local projetada nacionalmente

16h30min às 18h – Comunicações Livres CL 18 (Auditório do CCHN) Mediadora: Fabiana Martins Bandeira (Unirio) Rua, lazer e conflito: Sociabilidade de marinheiros e seus usos da cidade do Rio de Janeiro durante as últimas décadas monárquicas Vladimir Ferreira de Ávila (PUC-RS) A institucionalização dos serviços de limpeza e coleta de lixo na Porto Alegre oitocentista: Um processo cotidiano Paulo Henrique Silva Pacheco (UERJ) A cerca, um limite corrompido: Um estudo sobre a reestruturação do espaço monástico beneditino no Rio de Janeiro CL 19 (Sala 10 do IC III) Mediadora: Daniele Salomão (UERJ) Malinali e Llorona: Um mito que ronda as cidades do México Diego Gobo Porto (Ufes) As disputas entre Buenos Aires e as províncias do interior na formação do Estado nacional argentino Carlos Eduardo de Oliveira Gama (Ufes) Os impactos do pensamento alberdiano na Constituição argentina de 1863 CL 20 (Sala 11 do IC III) Mediadora: Amanda Danelli Costa (PUC-RJ) A cidade e o cronista: A modernidade carioca e a crônica de João do Rio

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Leonardo de Carvalho Augusto (PUC-RJ) Um antropófago forjado em aço: A construção de uma cidade futurista por Oswald de Andrade e seus interlocutores Amanda Muzzi Gomes (PUC-RJ) Cidade e imprensa no Rio de Janeiro da primeira década republicana CL 21 (Sala 12 do IC III) Mediadora: Patrícia M. S. Merlo (UVV) Algumas histórias: A demografia escrava em grandes plantéis Gustavo Pinto de Sousa (UERJ) Os africanos livres na cidade do Rio de Janeiro (1831-1850) Mariana Eliane Teixeira (UFJF) A transição da mão-de-obra servil para o trabalho assalariado em duas cidades mineiras voltadas economicamente ao setor de abastecimento: São João del Rei e Oliveira CL 22 (Sala 13 do IC III) Mediadora: Karulliny Silverol Siqueira (UFRRJ) Entre urnas e baionetas: Eleições e disputas políticas na província do Espírito Santo Renata Franco Saavedra (Unirio) “Estes boatos não tem o menor fundamento, são partos de imaginações esquentadas, ou de refinada maldade”: Política e circulação de idéias no Brasil do Segundo Reinado Mariana Nunes de Carvalho (Unirio) Extra!!! Extra!!! A imprensa carioca na transição da monarquia para a República CL 23 (Sala 14 do IC III) Mediadora: Maria Cristina Correia Leandro Pereira (Ufes) Quando o claustro conquistou a cidade: Os monges de Moissac e a Primeira Cruzada Maria do Carmo Parente Santos (UERJ) As cidades medievais ibéricas durante a Reconquista Ana Paula Lopes Pereira (UERJ) A disputa pela tutela do Hospício de Cornillon entre a Comuna e o bispado de Liège e a instituição da festa do “Corpus Christi” na Vita de Santa Juliana do Monte-Cornillon (1258) CL 24 (Sala 15 do IC III) Mediadora: Ana Penha Gabrecht (Faculdade Saberes) A representação do espaço da epopéia homérica: A cidade de Tróia Edson Moreira Guimarães Neto (UFRJ) Os jogos de poderes nos banquetes privados atenienses (séculos VI-IV a.C.)

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Airan dos Santos Borges (UFRJ) Uma cidade para o Império Romano: Reflexões sobre o espaço urbano na colônia “Augusta Emérita” CL 25 (Sala 16 do IC III) Mediadora: Daniele Crespo de Morais (FIS) O cotidiano policial na cidade do Rio de Janeiro e suas interfaces (1902-1906) Flavia Fernandes de Souza (UERJ) “Mourejando a valer”: A cidade do Rio de Janeiro e o cotidiano do trabalho urbano vistos a partir das experiências dos trabalhadores domésticos do final do século XIX Marina Vieira de Carvalho (UERJ) Controles e resistências na cidade do Rio de Janeiro: A política no e do cotidiano da urbe carioca na virada do século XIX para o século XX CL 26 (Sala 17 do IC III) Mediador: Bruno Santos Conde (Ufes) O Marquês de Pombal e as novas regras para a transmissão de bens: Histórias do Espírito Santo Mauro Marcos Farias da Conceição (UERJ) Espaços urbanos e educação: Modalidades de controle e hegemonia do Império Espanhol Eduardo H. B. Vasconcelos (Faculdades Cearenses) A “anteriorização” da Metrópole CL 27 (Sala 18 do IC III) Mediador: José Guilherme Rodrigues da Silva (Ufes) Políbio e a história do “mundo habitado” Glauce de Souza Luz (UFRJ) Agrigento e a construção da paisagem imperial Camilla Ferreira Paulino da Silva (Ufes) A Representação do Egito nas “Odes” e “Epodos” de Horácio no final da República Romana CL 28 (Sala 01 do IC III) Mediador: Jackson de Souza Vale (UFJF) Machado de Assis e a participação eleitoral na cidade do Rio de Janeiro na primeira década republicana Cauê Marques (FAED/UDESC) Quincas Borba e o Rio de Janeiro: As relações de poder da aristocracia carioca em Machado de Assis

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Larissa de Paula Souza (UFG) A fronteira entre História e Literatura: “Vista do amanhecer no trópico”, de Guilherme Cabrera Infante CL 29 (Sala 02 do IC III) Mediador: Jougi Guimarães Yamashita (UERJ) O papel de Estrasburgo para o nascimento dos “Annales” Vítor Castro de Oliveira (Ufes) Liberalismo e burguesia: Estudo sobre Alexis de Tocqueville Jussara Rodrigues da Silva (Ufes) O papel da historiografia na afirmação do Estado e da nação brasileira no Segundo Reinado: A “História Geral”, de Francisco Adolfo de Varnhagen Sheila Conceição Silva Lima (UERJ) Roma: Espetáculo de luxo e poder na embaixada do Marquês de Fontes CL 30 (Sala 03 do IC III) Mediador: Rossi Alves Gonçalves (UFF) As falas que extrapolam as periferias Jaguaracy de Oliveira (UESC) O porto de Ilhéus, 1918-1963 Sérgio Miguel Prúcoli Barbosa (Ufes) Reflexões sobre a cidade como corpo sem órgãos Wania Amélia Belchior Mesquita (UFF) Percepções dos moradores de favela de Campos dos Goytacazes: Religião, violência e vida cotidiana CL 31 (Sala 04 do IC III) Mediador: Manoel Ribeiro de Marins Filho (UFF) Espacialidades do sagrado: Quando o axé pede passagem! Rosângela d’Ávila (Ufes) Vidas (in)surgentes na cidade-casa Bruno da Rocha Lyra & Luiz Eduardo Neves da Silveira (Ufes/Fac. Novo Milênio) Grafite: Da pré-história aos dias de hoje CL 32 (Sala 05 do IC III) Marina de Mattos Dantas (UERJ) Futebol brasileiro: Do operário ao jogador operário Gabriela Bassani Fahl (UDESC) O poder da maçonaria

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Michele Gonçalves Cardoso (UDESC) Voltando para casa: A inserção dos retornados na cidade de Criciúma/SC (1995-2008) CL 33 (Sala 06 do IC III) Mediador: Sebastião Pimentel Franco (Ufes) Os atores sociais da Província do Espírito Santo a partir de autos criminais (1845-1875) Sílvia Amaral Pimenta de Pádua (Ufes) Modernização e intervenção no cotidiano das relações de gênero na cidade de Vitória na Primeira República Heloiza de Cácia Manhães Alves(UENF) Urbanização e poder político em Campos dos Goytacazes (1930-1965) CL 34 (Sala 07 do IC III) Mediador: Robson Laverdi (Unioeste) O”‘mundo gay” na trama citadina interiorana: Intepret(ações) cotidianas Jorge Rodrigo da Cunha (UFSJ) ‘Mulheres chefes de famílias: Vila Mineira de São José del Rei no século XIX Victor Emanuel Teixeira Mendes Abalada (Unirio) Metastasio na Península Ibérica: Ópera e poder na Lisboa do século XVIII

18h às 20h – Cursos 20h às 22h – Lançamento de livros Local: Sede da Adufes

19 de novembro (5ª feira) 9h às 12h30min – Mesa de Conferências IV Local: Cine Metrópolis Mediador: Gilvan Ventura da Silva (Ufes) Pedro Paula A. Funari (Unicamp) Pompeia: Quotidiano urbano à luz das discussões epistemológicas recentes Ana Teresa Marques Gonçalves (UFG) Cidade, cidadania e identidade no Mundo Romano: Uma proposta de análise Andréia Cristina Lopes Frazão da Silva (UFRJ) Cidades, relações de poder e o fenômeno da santidade na Idade Média Central

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14h – 16h30min – Mesa de Conferências V Local: Auditório do CCHN Mediador: Antônio Carlos Amador Gil (Ufes) Fábio Muruci dos Santos (Ufes) Juan Bautista Alberdi e a questão da ordem política no liberalismo argentino no século XIX Josemar Machado de Oliveira (Ufes) Soberania e poder popular durante a Revolução Francesa: O caso de Jacques-René Hébert Julio Bentivoglio (Ufes) Liberalismo brasileiro no Oitocentos: Pensamento político e idéias liberais nos debates parlamentares (1840-1860)

14h às 16h30min – Comunicações Coordenadas CC 34 (Sala 10 do IC III) – Escrita da identidade e elaboração da História: leituras a respeito do tempo Coordenadora: Helena Mollo (UFOP) A elaboração de uma identidade histórica na segunda metade do Oitocentos no Brasil Maria Edith Maroca de Avelar Rivelli de Oliveira (UFOP) A literatura histórica indianista alencareana como elemento de constituição de uma memória nacional no século XIX Érika Morais Cerqueira (UFOP) A historiografia de Gustavo Barroso: Guerra do Paraguai e seus heróis (1920-1950) CC 35 (Sala 11 do IC III) – Nas leis do Império: poder, justiça e práticas sociais no Brasil do Oitocentos Coordenadora: Kátia Sausen da Motta (Ufes) À luz da legislação: A atuação do Juiz de Paz no Brasil do Oitocentos Ana Paula Cecon Calegari (Ufes) Legislação no Brasil imperial: A organização do Tribunal do Júri entre 1822 e 1842 Caio Rabello Decuzzi (Ufes) Valores ideais e interesses políticos: Considerações sobre as leis imperiais e o júri (1842-1871) Leonardo Grão Velloso Damato Oliveira (Ufes) Herdeiros segundo a lei: A prática de sucessão no Brasil do Oitocentos CC 36 (Sala 12 do IC III) – Religião, tradições e poderes no Mundo Antigo Coordenador: Ivan Vieira Neto (UFG) As raízes do neoplatonismo nas tradições helenísticas tardo-antigas

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Nathália Queiroz Mariano Cruz (UFG) Preceitos dignificadores do homem judeu sob a ótica da Tradição e da Sabedoria Rodrigo Santos Monteiro Oliveira (UFG) Aspectos simbólicos do sincretismo helenístico no culto à deusa Ísis Wendryll José Bento Tavares (UFG) Dión Cássio e as festividades nos governos de Septímio Severo e Caracala CC 37 (Sala 13 do IC III) – Cotidiano e sociabilidades no Brasil do Oitocentos Coordenadora: Fabíola Martins Bastos (Ufes) Cotidiano e divertimento na cidade de Vitória: Notícias de festas na imprensa capixaba, 1850-1872 Mariana Pícoli (Ufes) Em prol da redenção: As notas de concessão de alforria no jornal “A Província do Espírito Santo” no contexto do movimento abolicionista em Vitória (1882-1888) Marilda Santana da Silva (UFC) A relevância do poder urbano, político e econômico das Vilas de Santa Cruz do Aracati e do Aquiraz na Capitania do Ceará no alvorecer do século XIX CC 38 (Sala 14 do IC III) – Cidade e poder no Mundo Antigo Giovanna Entringer (Ufes) A violência contra os cristãos em Alexandria no século IV: Ensaio sobre o conflito entre a política religiosa de Constâncio II e os nicenos Alessandra André (Ufes) Demóstenes e a defesa da soberania políade: A campanha contra Filipe II Fernanda Coimbra (Ufes) Poder e conflito: Um estudo sobre as ações do imperador Juliano em Antioquia CC 39 (Sala 16 do IC III) – Relações de gênero, imprensa e conquistas femininas Coordenadora: Maria Beatriz Nader (Ufes) Movimento feminista e violência contra a mulher: O resgate de uma conquista Penha Mara Fernandes Nader (Ufes) A sutileza da discriminação de gênero na nomenclatura dos logradouros públicos de Vitória/ ES (1970-2000) Lívia de Azevedo Rangel (Ufes) “Feminismo ideal e sadio”: Movimento feminista e direitos políticos nos escritos das mulheres intelectuais capixabas (1923-1934) Altino Silveira Silva (Ufes) Reflexões sobre a violência sexual durante os conflitos militares contemporâneos

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CC 40 (Sala 17 do IC III) – Cotidiano e política no Oitocentos Coordenador: Marcelo Ribeiro de Castro (Centro Universitário São Camilo) Organização dos espaços urbanos na Corte do Rio de Janeiro a partir das intervenções das escravas, das prostitutas e dos médicos da FMRJ Isadora Tavares Maleval (UERJ) A entrada de um manual de História do Brasil no ensino do Município da Corte em meados do Oitocentos: O caso do “Epítome de História do Brasil”, de José Pedro Xavier Pinheiro Priscila da Costa Pinheiro (UFJF) O associativismo na Corte: Algumas considerações sobre as “sociedades” e a legislação imperial (1860-1882) Giovane José da Silva (UFSJ) Transpondo o “Rubicão” do século e conquistando a República para Cristo: polêmicas intelectuais. políticas e históricas na obra do padre Júlio Maria (1897-1900) CC 41 (Sala 18 do IC III) – A construção do espaço urbano no Espírito Santo Coordenador: Vítor Silva Mendonça (Ufes) A cidade de Alfredo Chaves: Reflexões do contexto histórico à realidade sanitária atual Filipo Carpi Girão (Faculdade Saberes) e Maria Cristina Dadalto (UVV) O papel da associação de bairro na urbanização de São Pedro Jonivane Tavares, Rafael Gonring, Rosimery Aliprandi Ribeiro (Ufes) A influência da Terceira Ponte na evolução da estrutura urbana de Vila Velha (ES/Brasil) Juçara da Silva Barbosa de Mello (PUC-RJ) Santo Aleixo: Um espaço em construção CC 42 (Sala 01 do IC III) – Cidade, cotidiano e manifestações culturais Coordenadora: Denise Pereira (UEPG) Festa de Sant’Ana: Uma cultura como crença na cidade de Ponta Grossa/PR Adilson Pereira de Oliveira Junior (UFF) &Andréa Curtiss Alvarenga (Ufes) Reflexões sobre as conseqüências da implantação do pólo industrial e de serviços em Anchieta-ES sobre a cultura local Sílvia de Souza Dias & Thiago Elias Tognere (Centro Universitário São Camilo) Cidade de Muqui: Manifestações populares dentro de seus espaços urbanos Laila Novaes Santos (UVV) I Festa da identidade capixaba: movimento cultural e a cidade de Vitória CC 43 (Sala 02 do IC III) – Cidade, poder e recursos hídricos Coordenadora: Maria Aparecida dos Santos (UERJ) Sob o símbolo da água — relações de poder entre Estado e população de Araxá/MG

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Claudiméia do Rosário Almeida & Marcos A. Pedlowski (UENF) Estado local e a apropriação do discurso ambiental para legitimar a reorganização autoritária de espaços urbanos periféricos: O caso das lagoas urbanas de Campos dos Goytacazes, RJ Francislei Lima da Silva (UFJF) “Ubi sunt thermominerales fontes, ibi salus”: Onde houver fontes termominerais, encontra-se a saúde. A edificação das cidades de Águas Virtuosas do Lambari, Cambuquira e Caxambu como estâncias hidrominerais Carlos Alberto Menarin (UNESP/Assis) Expansão urbana, impactos ambientais e áreas protegidas: A Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da cidade de São Paulo CC 44 (Sala 03 do IC III) – Memória e arquitetura urbana Coordenadora: Elizabeth Johansen (UEPG) Fontes para o estudo urbano: A organização do acervo de plantas arquitetônicas existentes na Casa da Memória Paraná Alessandra Costa Mamede (UERJ) Memória do conjunto residencial Antares: Um estudo de caso Alberto Carlos de Souza (Universo) Convento da Penha: Um olhar estético como dispositivo de formação de memória Stephanie Ribeiro Azevedo (Célula EMAU) Projeto Habitação, Memória e Vivência em São Benedito, Vitória/ES CC 45 (Sala 04 do IC III) – Espaço, cotidiano e identidade no âmbito dos bairros Coordenadora: Vera Lucia Nehls Dias (UDESC) O bairro: Território e identidade de populações de baixa renda em Florianópolis/SC e Le Mans/França Mally Teixeira Freire & Lílian Rose Margotto (Ufes) “Ocupar, resistir, construir e morar”: Com o manguezal nasce um bairro Lucas do Carmo Falcão de Lacerda (Ufes) Mapa psicogeográfico com a comunidade da Fonte Grande: Reflexões sobre cidade, cotidiano e poder Janaína Madeira Brito Stange & Elizabeth Maria Andrade Aragão (Ufes) Fomentando o cotidiano no bairro de peixes frescos CC 46 (Sala 05 do IC III) – A cidade e seus desafios sociopolíticos Coordenador: Marcelo Siano Lima (Ufes) Polícia e política no Espírito Santo durante a transição democrática da década de 1980: As representações e o funcionamento do sistema de segurança pública

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Luciana Rodrigues Ferreira Varejão (UFPE) A urbe em movimento: Um estudo do cotidiano de lutas dos trabalhadores têxteis recifenses em 1960 Hanilton Ribeiro de Souza (UNEB) O povo, o poder e o destino do lugar: A difícil partilha do poder e o desenvolvimento de Castro Alves/BA Francisca Selidonha Pereira da Silva (UVV) Espaço público midiático, cidade, cotidiano e poder no Programa Povo na TV da TVE/ES CC 47 (Sala 06 do IC III) – História, cotidiano e imigração Coordenador: Silas Raasch (Ufes) A conquista do sertão capixaba: Os imigrantes na colônia Santa Izabel Andréia Foeger (UVV) Desenvolvimento do sistema educacional da comunidade tirolesa em Santa Leopoldina Júlia Ermínia Riscado (UFF) Associativismo e os imigrantes espanhóis na cidade do Rio de Janeiro (1981-1984) Jaquelini Scalzer & Ozirlei Teresa Marcilino (Ufes) A “Carretella del Vin”: Manifestação extraordinária de representações e de memórias, adornada e revestida de cultura italiana CC 48 (Sala 07 do IC III) – Cidade, cotidiano e poder: a experiência mexicana Coordenadora: Maria Teresa Toríbio Brittes Lemos (UERJ) México-Tenochtitlán: Vida cotidiana de uma cidade mexicana Antônio Carlos Amador Gil (Ufes) Poder, relações interétnicas e cotidiano: Os embates das políticas de incorporação étnica após a Revolução Mexicana de 1910 Paulo Roberto Gomes Seda (UERJ) Espaços urbanos e formação de identidades na cidade do México (1519-1564)

16h30min às 18h – Comunicações Livres CL 35 (Sala 10 do IC III) Mediadora: Jailma Maria de Lima (UFRN) Guerra, política e cotidiano em Natal – 1945 Denis Pereira Tavares (UFSJ) “São João del-Rei: A cidade que não olhou para trás”. Leituras da aceleração espaço-temporal de São João del-Rei entre os anos de 1938-1947

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Eudorica Luciana Almeida Leão Geografia do prazer: Os espaços do sexo na Aracaju dos anos 1930 e 1940 CL 36 (Sala 11 do IC III) Mediadora: Miriam Lourdes Impellizieri Silva (UERJ) Santidade e cidade na Úmbria medieval: o caso de Assis Luís Eduardo Formentini (Ufes) A construção da imagem póstuma dos reis visigodos Khindasvinto e Recesvinto Braulino Antonio dos Reis Neto & Ricardo da Costa (Ufes) A subversão do “poder” material pelo “amor espiritual”: A amizade no tratado “Da consideração”, de Bernardo de Claraval (1090-1154) Raphael Leite Teixeira (Ufes) A concepção de “civitas” no “Epitoma rei militaris” de Flávio Vegécio Renato (século IV d.C.) CL 37 (Sala 12 do IC III) Mediador: Samuel Thomas Jaenisch (UFRGS) As origens do protestantismo em Porto Alegre: Implantação e expansão do cristianismo nãocatólico entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX Érika Patrícia Souza Garcia (UFG) A “Conquista do Oeste” e a identidade pioneira norte-americana em ‘Cimarron’ Vanderson Roberto Pedruzzi Gaburo (Ufes) “Os jagunços”: O sertanejo e a Guerra de Canudos CL 38 (Sala 13 do IC III) Mediador: Jadir Peçanha Rostoldo (USP) Fragmentos do cotidiano urbano: O médico, o inspetor de higiene, o fiscal geral, Carlos Pinheiros e Silvestre Alves Jean Carlos Gomes Camargo (UNB) Os medos do contato na cidade de Brasília Gabrielle Werenicz Alves (PUCRS) Um novo cotidiano na cidade: A Gripe Espanhola e a mobilização de auxílio aos infectados (Porto Alegre – 1918) CL 39 (Sala 14 do IC III) Mediadora: Luciane Munhoz Omena (UFG) Cotidiano e relações de poder no espaço urbano da sociedade provincial romana Alexandre Bastos de Lima (Ufes) Banditismo e terrorismo no Império Romano: A resistência judaica segundo Flávio Josefo (século I d.C.)

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Daniela Cristina Pacheco (UFG) A procissão da deusa Ísis no romance “Metamorfoses”, de Lúcio Apuleio CL 40 (Sala 15 do IC III) Mediador: Fábio Francisco de Almeida Castilho (UNESP) A vitória de “tertius”: As disputas políticas que antecederam a construção da ‘Cidade de Minas’ Rodrigo Barbosa Assunção (UFSJ) Considerações sobre a vitória de Belo Horizonte na questão da mudança da Capital de Minas Gerais Felipe Marinho Duarte (UFJF) Melhorias urbanas na Manchester mineira: Dívida Pública Municipal e suas relações com a câmara de vereadores de Juiz de Fora (1892-1895) CL 41 (Sala 16 do IC III) Mediadora: Arlete Maria Pinheiro Schubert (Ufes) Da pobreza ou destruição da experiência: Os novos bárbaros Thiago Dias Santos (Ufes) O amor divino vai ao combate: O ideário político de Frei Caneca nas páginas do Typhis Pernambucano Humberto Perinelli Neto & Rodrigo Ribeiro Paziani (UNESP/CEUB/FEF) Do desejo de civilização à máscara da barbárie: Por uma (re)leitura do “Almanach Illustrado de Ribeirão Preto” CL 42 (Sala 17 do IC III) Mediadora: Teresa Vitória Fernandes Alves (UFJF) Educação: Eixo da transformação social na visão dos gráficos (Rio de Janeiro, 1916-1919) Eduardo Rodrigues Gomes (UFF) As transformações urbanas no centro de Vitória (ES), na Primeira República Gilton Luis Ferreira (Ufes) A ilha e o espelho: O ideal moderno de reestruturação urbana da cidade de Vitória (1892 a 1912) CL 43 (Sala 18 do IC III) Mediadora: Priscila Santos da Glória (UNEB) O espaço urbano em Itabuna-BA: Tensões entre o poder público e os migrantes na década de 1980 Alessandro dos Santos Silva (UESC) História e urbanização da cidade de Itabuna (1960-1990) Danilo Ornelas Ribeiro (UESC) Por um centro harmonioso: A Companhia Urbanizadora e o choque de cotidianos na cidade de Itabuna-BA nos anos 1960

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CL 44 (Sala 01 do IC III) Mediador: Reinaldo Azevedo Schiavo (UFOP) Entre o rural e o urbano: Dilemas e desafios de uma pastoral missionária contemporânea Crisley Silveira Raitz (UDESC) O rural e o urbano em Erval Velho: Hábitos e migrações Gisele Bochi Palma (UDESC) “Revitalização”: Um processo de transformação muito além do espaço urbano CL 45 (Sala 02 do IC III) Mediador: Salatiel Barbosa Júnior (Ufes) O Supremo Tribunal Federal sob suspeição Morgana Giovanella de Farias (UDESC) O orçamento participativo e a mudança de governo em Porto Alegre Bruno Bortoli (UDESC) O orçamento participativo de Porto Alegre: Escola de cidadãos CL 46 (Sala 03 do IC III) Mediador: Silvio de Almeida Carvalho Filho (UFRJ/UERJ) Um cão flanando em Luanda: A cidade, o cotidiano e o poder na literatura de Pepetela Laila Brichta (UDESC) Movimento associativo no Brasil e em Angola na década de 1930: A Liga Nacional Africana e a Frente Negra Brasileira Gonçalo Rocha Gonçalves (The Open University/Fundação para a Ciência e Tecnologia) O governo do quotidiano: A reforma da Polícia Civil de Lisboa na última década do século XIX CL 47 (Sala 04 do IC III) Mediadora: Rosangela de Oliveira Dias (USS) Utopia urbana e cinematográfica: Brasília e Cinema Novo José Alves Dias (UESB) Características da modernização e do desenvolvimento urbano na Bahia durante a ditadura militar: Uma estratégia da elite política em ascensão Ismara Cristina Libardi Rocha & Thatiane Pessin Viana (Centro Universitário São Camilo) O golpe civil-militar de 1964 nos livros didáticos: Uma releitura historiográfica CL 48 (Sala 05 do IC III) Mediador: Gerson Constância Duarte (FDE) Discurso político e alternativa de desenvolvimento nacional no Projeto Brasil Potência Douglas Silva Rabbi (Ufes) A Conferência de Estocolmo, o Brasil e a questão da energia renovável (1970-1975)

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Fabrício Augusto Souza Gomes (Unirio) O Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) e a ideologia do nacional-desenvolvimentismo. Brasil, década de 1950. CL 49 (Sala 06 do IC III) Mediador: Waldefrankly Rolim de Almeida Santos (UFPE) Cidade, literatura e memórias urbanas nas representações de escritores e memorialistas sobre os espaços urbanos aracajuanos Vera Lúcia Silva Vieira (UNESP/Franca) Cidade, memória e literatura: Uma leitura de Não verás país nenhum e Bebel que a cidade comeu, de Ignácio de Loyola Brandão Sergio Linhares Miguel de Souza (Instituto Estadual do Patrimônio Cultural/RJ) Cidades invisíveis – memória e patrimônio CL 50 (Sala 07 do IC III) Mediadora: Ana Tereza Landolfi Toledo (PUC-MG) O lugar dos Batistas: A formação do bairro Colégio Batista em Belo Horizonte no período de 1930 a 1955 Marcela Martins Fogagnoli (UFF) “Almoçar bem é no SAPS!”: O papel do SAPS na política pública de melhoria da condição de ida e alimentação dos trabalhadores (1940-1945) Natalia Azevedo Crivello (UERJ) Os laranjais da cidade de Nova Iguaçu: Testemunhos fotográficos de uma transformação urbana (1930-1940) CL 51 (Sala 08 do IC III) Mediador: Vanessa Silva de Faria (UFJF) Eleições e poder em um município mineiro no período imperial: O perfil da população votante em Juiz de Fora Carlos Martins Júnior & Lenita Maria Rodrigues Calado (UFGD) Ordem urbana e controle social no Brasil da Belle Époque Ana Maria Reis de Faria (PUC-RJ) & Danilo Neves Vieira Serafim (FAA/Valença-RJ) Cidade, violência e poder policial: Por entre estratégias e metáforas do controle social no Rio de Janeiro CL 52 (Sala 09 do IC III) Mediador: Breno Machado dos Santos (UFJF) Realizando “missões urbanas”: O impacto dos colégios sobre o “modo de proceder” jesuítico no Brasil dos Felipes

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Thiago Reisdorfer (Unioeste) Diálogos de alteridade na cidade: Viveres universitários em Marechal Cândido Rondon-PR Anelise Lusser Teixeira (UERJ) Um olhar crítico sobre as relações entre esporte e educação

20h às 21h30min – Conferência de encerramento Local: Auditório do CCHN (IC II) Tema: História e historiografia da alimentação no Brasil (séculos XVI-XIX) Conferencista: Leila Mezan Algranti (Unicamp)

Resumos

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Adilson Pereira de Oliveira Junior (UFF) & Andrea Curtiss Alvarenga (Ufes) Reflexões sobre as conseqüências da implantação do pólo industrial e de serviços em Anchieta-ES sobre a cultura local A partir do descobrimento das reservas de petróleo na costa marítima, o Estado do Espírito Santo vive uma re-estruturação econômica que afetará toda sua extensão territorial. Para esta re-estruturação, e tendo em vista sua inserção na rede global de economia, o estado elaborou o Plano de Desenvolvimento – Espírito Santo 2025, que descentraliza a economia capixaba, hoje concentrada na Região Metropolitana da Grande Vitória. O Plano de Desenvolvimento cria centralidades nas diferentes regiões do Estado, dando prioridade às cidades de Anchieta e Aracruz, obedecendo à lógica da economia global por serem cidades portuárias. A partir deste contexto local e mundial, este artigo tem como objeto de análise a cidade de Anchieta e a implantação do Pólo Industrial e de Serviço em seu território. Para tanto, são abordadas as análises sobre os Planos Estratégicos como ferramentas das políticas governamentais e suas conseqüências nos territórios, neste caso, do município de Anchieta. São usadas também como material de pesquisa, matérias de imprensa que tratam sobre o tema. Serão investigadas as tentativas de implantação de grandes projetos industriais e os conflitos que tais atividades podem gerar com atividades já tradicionais (pesca, turismo etc.). Analisando os impactos sócio-ambientais no território dados pela industrialização acelerada em curso e compreendendo como esses processos promovem a desterritorialização das atividades consolidadas, criando novas dinâmicas territoriais na cidade, buscaremos, à luz da discussão sobre identidade, poder e território, compreender a seqüência da apropriação dos espaços urbanos, dentro da proposta da globalização econômica e refletir sobre suas conseqüências para a cidade.

Adilson Silva Santos (Centro Universitário São Camilo) O “quadriênio da luz”: Cachoeiro de Itapemirim no limiar do século XX Cachoeiro de Itapemirim era a mais importante vila do sul do Espírito Santo especialmente, quando, em 1867, se desvincula politicamente da Vila de Itapemirim. Elevada à categoria de cidade em 1889 com a Proclamação da República, sua importância econômica reside no fato de localizar-se no ponto extremo do trecho navegável do rio Itapemirim, cujo porto recebia todo o café produzido na região daquele rio. Dentre os políticos dessa região que se destacaram em diversos níveis de poder desde o municipal até o federal está Bernardo Horta de Araújo, importante propagandista da República. Eleito governador municipal para o quadriênio 1896-1900 e reeleito para a legislatura seguinte, é na sua administração como presidente do governo municipal entre os anos de 1900-1903, conhecido como “quadriênio da luz”, que se efetuam importantes obras para a cidade de Cachoeiro: o calçamento de algumas ruas, a aquisição e inauguração do prédio sede do governo municipal e salão do júri, e a instalação da luz elétrica. Esse traba-

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lho objetiva, então, analisar a administração de Bernardo Horta em Cachoeiro de Itapemirim entre 1900 e 1903, época de importantes transformações econômico-sociais para esse município. Dentre as fontes utilizadas para elaboração do trabalho estão o jornal O Cachoeirano e as Atas da Câmara Municipal, analisadas de forma crítica, além das bibliografias disponíveis.

Adriana Gomes Maia (Ufes) Urbanidade contemporânea: A ausência nos espaços urbanos Diante do cenário global das cidades e das novas territorialidades, este trabalho se propõe a investigar os vazios urbanos na produção do espaço contemporâneo com o significado de ausência. A ausência surge como um elemento filosófico e poético, que transgride o significado do vazio para deixar de pensá-lo somente como coisa física (construída e não construída) e se transforma em sua essência, de forma a buscar o sentido na sua existência. Possui caráter positivo e evoca a presença capaz de ser sentida, vivenciada, tomando forma daquilo que faz falta, através de imagens, fantasias, atos, relações, pensamentos, eventos, memórias, sentimentos etc., elementos que constituem nossas experiências de consciência. Para isso, busca-se a construção de pensamentos e linguagens conectados à necessidade de refletir sobre a cidade, baseados em princípios capazes de repensar novas lógicas do fazer urbano. A reflexão acerca das dimensões do tempo e do espaço, a possibilidade de fazer comunicar pensamentos hoje desconectados entre si, de redescobrir o potencial cognitivo das linguagens poéticas e metafóricas e a aproximação do ser com o objeto de estudo, surgem como um conjunto de dimensões a serem consideradas de modo a conduzir a um conhecimento sobre a cidade capaz de romper com dualismos e cristalizações do pensamento sobre o urbano.

Adriana Pereira Campos (Ufes) Cidades e magistraturas leigas: O auto-governo judiciário municipal A magistratura leiga instituída no Brasil Império consistia basicamente na eleição de juízes de Paz e jurados por meio de processo eleitoral que envolvia todos os cidadãos de dada paróquia. Essa magistratura, contudo, tornou-se alvo dos mais calorosos debates políticos ao longo do século dezenove a respeito das qualidades da sociedade brasileira para a adoção do modelo de autogoverno, sobretudo, no campo do Judiciário. Levando-se em conta as afirmações de Oliveira Viana e Raymundo Faoro, as magistraturas leigas, criadas na década de 1820, constituíamse em veículos de transformação da política municipalista, transmutando as antigas práticas aristocráticas de governo em formas eleitorais de escolha das autoridades, a temática possui grande relação com a construção da cidadania no Brasil. Tais estudiosos consideravam essa mudança um avanço em direção à participação de uma parcela significativa da população local, pois a reduzida exigência

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censitária incluía grande número de pessoas como votantes, habilitando-lhes, portanto, a participar ativamente na gestão dos negócios da Justiça, como na eleição de magistrados locais e de jurados. Por outro lado, esses mesmos estudiosos mantiveram a tradição oitocentista de acusar a sociedade brasileira de inaptidão para a ampla participação nos negócios do governo, atribuindo à magistratura leiga desídia, autoritarismo e inoperância na condução da política judiciária. Pretende-se discutir nesta comunicação a construção política e discursiva de desqualificação dos magistrados leigos e levantar algumas hipóteses a respeito dos objetivos dos detratores da instituição.

Adriana Pereira Campos (Ufes) Ordem na desordem: Escravidão e estabilidade na Vitória do Oitocentos. Nesta comunicação pretendo apresentar alguns elementos da persistência da escravidão no Brasil, discutindo aqueles mais proeminentes no Espírito Santo do Oitocentos, em especial, na região central capitaneada por Vitória. A análise enfocará a construção da ordem pública como produto do equilíbrio social alcançado na região. Pretende-se, dessa forma, evidenciar a dinâmica social local como o fator mais relevante para a segura posição da escravidão entre os capixabas. Constituem fontes da pesquisa os relatórios de presidentes de província, as participações do Chefe de Polícia ao Presidente de Província e autos criminais. Essas fontes serão cotejadas com documentos eclesiásticos de batismo e casamento de escravos. Pretende-se, assim, argumentar que a estabilidade da escravidão em Vitória não conflitava com seu protagonismo social. Ao contrário, constata-se uma população cativa participante, ativa e influente. Significava, portanto, que manifestações como fugas, quilombos e revoltas “pipocavam” na província, sem comprometer, contudo, o sossego dos lugares. Os impasses resolviam-se e a tranquilidade retomava seu lugar. Tal ambigüidade explica-se pela original escravidão brasileira em que a hierarquia social transformou a liberdade e a escravidão em um dos muitos estratos de sua hierarquia social. A estratificação jurídica (livre ou escravo) convivia com a de cor, de gênero, de educação, de classe entre muitas outras.

Agostinho Júnior Holanda Coe (Fiocruz) O poder em disputa: A misericórdia e os serviços assistenciais no século XIX em São Luís O presente trabalho tem por objetivo central analisar a importância adquirida pela Santa Casa da Misericórdia em São Luís ao longo do século XIX, no que tange aos serviços médicos e de enterramentos. Busca-se compreender a notoriedade adquirida pela instituição, pois a mesma era proprietária dos principais recintos encarregados do trato com os doentes, além de administrar os principais cemitérios na capital. Em São Luís, fervorosos embates são encontrados entre a Misericórdia e outras instituições religiosas interessadas em dividir os pomposos lucros adquiridos pelos irmãos da Santa Casa. As Santas Casas de Misericórdia, no caso de São Luís e de algumas

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outras regiões do Brasil, controlavam vasta rede filantrópica de hospitais, recolhimentos, orfanatos e cemitérios. No contexto ludovicense, a Misericórdia constituiu-se enquanto uma organização que construiu uma identidade filantrópica e religiosa, e que vinculava um projeto assistencial direcionado aos excluídos e marginalizados da cidade de São Luís no século XIX.

Airan dos Santos Borges (UFRJ) Uma cidade para o Império Romano: Reflexões sobre o espaço urbano da colônia “Augusta emerita” Indubitavelmente, após a projeção da força representada pelo exército romano, a organização espacial das regiões recém conquistadas constituiu-se em uma inegável estratégia de consolidação e manutenção do território dominado. A divisão das áreas em províncias, e a subdivisão em civitates com estatutos políticos-jurídicos diferenciados, se fez presente em praticamente em toda a face Ocidental do Império romano. A presente comunicação visa analisar uma estratégia específica de intervenção no espaço utilizada pelo Império romano para a consolidação dos territórios conquistados, a saber, a fundação de colônias. Diante da grande extensão do Império Romano, optamos por centrar nossas investigações no estudo da colônia de Augusta Emerita localizada na Província da Lusitânia, durante os séculos I a.C e II d.C. Defendemos que esta colônia constituiu-se em um espaço representacional do Império Romano no sudoeste da província da Lusitânia que correspondeu às representações e experiências do espaço social específicas da sociedade romana. Sua criação e desenvolvimento urbanístico interagiram com os vetores ideológicos fundamentais de legitimação do regime político do Principado e tornaramna capital cultural, centro de difusão da humanitas para as demais civitates da província.

Alberto Carlos de Souza (Universo) Convento da Penha: Um olhar estético como dispositivo de formação de memória Esta experiência interdisciplinar buscou como desafio discutir entre adolescentes de uma escola pública do Município de Vila Velha-ES o conceito de patrimônio cultural e, a partir desse conceito, reconhecer os bens materiais e imateriais formadores do patrimônio daquele município. Esses adolescentes, por unanimidade, julgaram ser o convento o mais importante patrimônio cultural, não apenas do Município, mas, de toda a memória do Estado do Espírito Santo. O trabalho de campo resultou na criação estética coletiva de uma leitura do Convento da Penha, que foi retratado pela técnica de mosaico em papel. A obra, com dimensão de 250 x 180 cm, encontra-se em exposição permanente no hall da escola denominada Unidade Municipal de Ensino Fundamental Profa. Nair Dias Barbosa, situada no Distrito de Ponta da Fruta, Vila Velha-ES.

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Aldieris Braz Amorim Caprini (Centro Universitário São Camilo) Comércio, urbanização e poder político em Iconha (1879-1915) O trabalho é resultado de pesquisas da dissertação intitulada O comércio como propulsor do poder político em Iconha: o coronel Antônio Duarte (1889-1915) e o artigo aborda como a cidade de Iconha (ES) se desenvolve no final do século XIX e início do XX a partir das relações comerciais e do poder político no que se refere ao processo de urbanização e no seu cotidiano. Nas duas últimas décadas do século XIX, Iconha e Piúma, especialmente o primeiro, passam por intensas transformações econômicas, políticas e sociais devido ao povoamento do interior, à cultura do café e ao desenvolvimento da Casa Comercial Duarte e Beiriz, que foi o centro polarizador das mudanças na região. Nesse contexto, emerge como poder político o coronel Antônio José Duarte, sócio da referida casa comercial, e que através do comércio alcança e mantêm o poder, interferindo no processo de urbanização da vila de Iconha a partir das relações comerciais.

Alessandra André (Ufes) Demóstenes e a defesa da soberania políade: A campanha contra Filipe II A experiência ateniense dos golpes oligárquicos na fase final da Guerra do Peloponeso (431-404 a.C) condicionou inevitavelmente a imagem popular do regime oligárquico, sempre associado à ilegalidade e crueldade. Demóstenes (384-322), o orador mais conhecido da democracia ateniense, compartilhava de forma visceral com tal posicionamento. Para o orador a oligarquia, seria um sistema obscuro, no qual não existiria a política, enquanto a democracia era caracterizada pela benignidade e pela equidade. Como resultado, Demóstenes não admitia a oligarquia como uma politéia legítima e legal, mas sim como antítese da democracia. Mas uma ameaça maior fez com que Demóstenes direcionasse os seus esforços políticos para outra direção — a expansão da Macedônia sobre o mundo mediterrâneo, levou Demóstenes a ver na Macedônia a grande ameaça ao sistema políade e a liberdade dos gregos. Para ele não haveria forma de conciliar a conquista da Hélade por Filipe e manter o sistema políade. Ser conquistado pelos macedônios significaria a perda da autonomia e da liberdade, que era a marca essencial da cidade grega. Então a partir de 351 toda a retórica do ateniense voltava-se para uma ação anti-macedônia, onde a imagem de realeza ligava-se a concepção de tirania e passava a ser naquele momento a antítese da democracia. Desta forma Demóstenes através de seus discursos conclama toda a Hélade a se unir contra o inimigo comum — Filipe da Macedônia.

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Alessandra Costa Mamede (UERJ) Memórias do conjunto residencial Antares: Um estudo de caso Esta comunicação tem como objetivo expor questionamentos sobre memória pertinentes ao uso da história oral, dúvidas em relação às fontes, depoimentos contraditórios. Diferentes histórias surgem sobre o mesmo assunto e todas parecem querer alcançar o mesmo lugar: a veracidade dos fatos. Um mesmo acontecimento pode ter diferentes versões e cada depoente reivindicará para si a versão oficial. A partir do conceito de memória coletiva desenvolvido por Maurice Halbwachs, pretendemos amparar utilização da história oral como fonte, desenvolvendo o conceito de memória. Acreditamos que depoimentos contraditórios podem justificar-se pelo distanciamento temporal dos fatos narrados. Utilizaremos nessa análise entrevistas realizadas com ex-diretores da Associação de Moradores do Conjunto Residencial Antares. O período abordado nas entrevistas compreende o início da década de 1980.

Alessandro da Silva Guimarães (Ufes) Cotidiano, espaço e lazer: A rotina de jovens de periferia focando nas categorias de classe social e gênero Este trabalho tem como objetivo refletir a rotina cotidiana de alguns jovens de classes populares inseridos no Programa Agente Jovem de Desenvolvimento Social e Humano no Município de Vitória/ES. Os dados que seguem são parte de minha pesquisa de mestrado em que procuro descrever e analisar as trajetórias de vida e os projetos de futuro desses mesmos jovens. Entre outras conclusões essa pesquisa nos permite perceber que as categorias de classe social e gênero são fundamentais para se compreender como são construídas as relações de sociabilidade e de inserção e deslocamento dos jovens nos diversos espaços sociais. Podemos afirmar, dessa maneira, que existe uma desigualdade que se origina tanto das questões de classe social quanto das questões de gênero e que delimita as ações e as relações de sociabilidades no cotidiano dos jovens de classes populares.

Alessandro dos Santos Silva (UESC) História e urbanização da cidade de Itabuna (1960-1990) A Urbanização no Brasil ocorreu tardiamente em relação aos países da Europa, mas assim como nesses países, no Brasil a urbanização surgirá relacionado principalmente com o processo de industrialização crescente. A Cidade de Itabuna, que fica no extremo-sul baiano, nasceu às margens do Rio Cachoeira e foi impulsionada economicamente pelo cacau. Desde 1960 até 1990 a cidade de Itabuna passou por um grande crescimento populacional devido a vários fatores, dentre eles a migração, gerando desequilíbrios sociais, conflitos e tensões. Por não possuir uma boa infra-estrutura urbana

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a favelização, pobreza, loteamentos e distribuição de lotes semi-urbanizados serão conseqüências inevitáveis. Vários bairros vão surgir em meio a esse processo como o Bairro São Pedro.

Alexandra Maria Pereira (USP) Circuito mercantil, perfil sócio-econômico e disposição das lojas e vendas da comarca de Vila Rica em 1746 A atividade mercantil tem sido uma temática presente em textos historiográficos sobre o entendimento da complexa estrutura econômica e do mercado interno nas Minas setecentistas. Esta comunicação visa uma abordagem relativa aos elementos que permitem mapear o circuito mercantil das casas de comércio para a Comarca de Vila Rica durante o ano de 1746. Para tanto, o estudo proposto gira em torno dos registros lançados em um livro de Capitação da Comarca de Vila Rica. Além do mapeamento das casas comerciais, objetivamos trazer elementos adicionais para a discussão acerca do perfil sócio-econômico dos agentes mercantis e sua relação com as tipologias das casas comerciais que se constituíram em meados do século XVIII, em um importante núcleo de exploração mineratória nas Minas Setecentistas do Império Português. A partir do perfil dos proprietários e da localização das casas de mercantis, verificamos que a principal diferença entre lojas e vendas não correspondia à especialização dos artigos, separados entre fazendas secas e molhados. Mas, a distinção era em função do seu porte, o que deve ser igualmente entendido como a capacidade de investimento e diversificação dos seus proprietários.

Alexandre Bastos de Lima (Ufes) Banditismo e terrorismo no Império Romano: A resistência judaica segundo Flávio Josefo (século i d.C.) Esta comunicação tem como objetivo, dentro dos seus limites, abordar os atos de banditismo e terrorismo em meio a resistência dos judeus contra a dominação romana na região da Judéia, mais precisamente de 4 d.C., ano da morte de Herodes, até a iminência da grande guerra de 66 d.C. Pretende-se salientar as diferentes orientações políticas dos judeus que dificultaram a união desse povo contra a opressão de Roma, bem como os diversos grupos armados que se formaram em frente a situação de crise social na Judéia. Tendo em vista este contexto de transição da República para o Império, no qual a região da Palestina passou a ser subjugada por Roma, optamos utilizar a obra Bellum Judaicum, de Flavio Josefo, que detalha os conflitos ocorridos na Judéia entre romanos e judeus. Em 63 a.C., por meio do general Pompeu, a Palestina passa a fazer parte do Império Romano. Herodes, por intermédio de Otávio e Marco Antônio, foi nomeado como rei da Judéia. Após sua morte, três de seus filhos herdaram o reino, não sem a contínua interferência romana. Nesta conjuntura se apresenta nosso objeto de estudo, ou seja, o banditismo e terrorismo judaico como forma de resistência contra a dominação de Roma.

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Alexandre Tavares do Nascimento Lira (UFF) Os estudantes nas ruas: Manifestações urbanas durante a ditadura militar no Brasil (1964-1968) Este artigo analisa as manifestações organizadas pelos estudantes contra a política educacional da ditadura militar (1964-1985) com o objetivo de identificar as formas de resistência e as mudanças nas táticas de enfrentamento nos centros urbanos, diante da repressão e do progressivo fechamento do regime no período compreendido entre os anos de 1964 e 1968. Este trabalho foi realizado através do estudo de fontes na grande imprensa e do depoimento de estudantes que participaram dos protestos contra os acordos MEC-USAID, as leis e atos políticos que atingiram todos os níveis de ensino. Deste modo é importante avaliar as formas de combate do regime aos estudantes, em especial na época do debate da Reforma Universitária. Neste período foi atestado que os estudantes procuraram formas de resistência através de um movimento autônomo e combativo que denunciou a política social em curso, assumindo um papel primordial na luta contra a ditadura militar e na defesa do fortalecimento das instituições democráticas no Brasil.

Altino Silveira Silva (Ufes) Reflexões sobre a violência sexual durante os conflitos militares contemporâneos A violência é uma ação que exerce uma influência poderosa nas atividades humanas, seja no âmbito individual ou no âmbito coletivo e estudar a sua história implica em ter por foco a vulnerabilidade humana, a distribuição material desigual e as diferenças ideológicas internas e externas. Os efeitos da violência são tão mais fortes quanto mais frágil é a situação social de quem as sofre. Neste raciocínio, as mulheres se destacam como uma das principais vítimas de uma ampla gama de tipos de violência. Durante os períodos de conflito militar a violência assume algumas especificidades que a difeririam daquela que ocorre nos períodos ordinários, afinal durante as guerras civis e inter-estatais são encorajadas as atitudes de violência e são intensificadas hostilidades estigmatizadoras. Porém, quando se discute a violência de gênero durante estes períodos o assunto é, por vezes, ora considerados um tabu ou ora um fenômeno de menor importância. Percebe-se, entretanto, que a violência contra as mulheres assumiu dimensões catastróficas desde Segunda Guerra Mundial. Ela tem sido utilizada como instrumento nas campanhas de terror e intimidação contra determinados grupos étnicos, culturais e religiosos, forçando-os a abandonarem seus locais de origem ou exterminá-los do território palco do conflito. Para o desenvolvimento da reflexão, partiu-se da premissa de que a “violência de gênero” está entrelaçada com a “violência de classe” e a “violência de etnia”. Diante a essa hipótese analisou-se a historiografia sobre os conflitos contemporâneos a fim de identificar os impactos da violência sexual e suas condicionantes/motivadores socioeconômicas e étnicas.

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Amanda Danelli Costa (PUC-RJ) A cidade e o cronista: Modernidade carioca e a crônica de João do Rio O Rio de Janeiro enfrentou reformas nos séculos XIX e XX que diagnosticaram seus problemas e propuseram soluções. Esta comunicação tem como objetivo salientar algumas continuidades e outras descontinuidades na maneira de pensar e planejar a cidade. A hipótese central deste trabalho é a de que os projetos para a cidade buscaram os resultados da modernidade, mas não conseguiram traduzi-los perfeitamente de acordo com as especificidades cariocas. Este argumento é também entrecruzado com a obra do cronista João do Rio, que elaborou uma crítica sobre a tensão moderna que a cidade do Rio de Janeiro experimentou nas duas primeiras décadas do século passado.

Amanda Muzzi Gomes (PUC-RJ) Cidade e imprensa no Rio de Janeiro da primeira década republicana Neste artigo abordamos leituras e escritas do seu tempo de alguns jornalistas na cidade do Rio de Janeiro durante a primeira década republicana. Para fins analíticos nos detemos nos seguintes redatores-chefe: Ferreira de Araújo, da Gazeta de Noticias; Juvêncio Aguiar, da Gazeta da Tarde e Olavo Bilac, da revista literária A Cigarra. Os seus textos, a maioria editoriais ou “artigos de fundo”, conforme expressão da época, são tratados como produções cronísticas, nas quais destacamos suas relações com a memória e a cidade-capital, que era vista por esses jornalistas, e por outros contemporâneos, como a vitrine do país ao “mundo civilizado”, às “nações cultas”. O labor jornalístico, como uma atividade de escrita do tempo, se traduz por uma busca de leitura, interpretação e inteligibilidade. Assim, em uma sociedade pouco letrada e com o regime republicano em processo de implementação, defendemos que esses jornalistas, além de se posicionarem como mediadores entre governados e governantes, assumiam papéis que podem ser equiparados aos de professores e de historiadores. Por fim, argumentamos que a imprensa, ao buscar esclarecer sobre os mecanismos ainda emergentes do novo regime e intervir nas relações de poder, muito contribuiu para o aprendizado republicano da década de 1890, rica em experiências políticas e práticas culturais, entre as quais se destacava a própria atividade jornalística.

Ana Carolina Silva da Costa (UnB) A modernidade e o planejamento urbano: O caso de Belo Horizonte A modernidade, em finais do século XIX, implicou transformações que libertaram o indivíduo de seus apoios estáveis nas tradições e nas estruturas e deram origem a uma nova forma de individualismo, em que se erigiu uma nova concepção do sujeito individual e de sua identidade. Como afirma Marshall Berman, a modernização em países periféricos, engendrou uma forma singular,

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que se dava em meio a um mundo eminentemente conservador, consolidando-se com instituições e práticas sociais tradicionais. Nessa perspectiva, encontra-se a construção da cidade de Belo Horizonte, que se constitui em um espaço histórico e cultural planejado e fundado em finais do século XIX. A diversidade de experiências, as tradições, os valores e os atos cotidianos de seus moradores e cidadãos possibilitam análises sobre os modos de manifestação dos sujeitos urbanos que vivem, resistem, transformam e irrompem novas formas de sociabilidade e de comunicação no interior da modernidade. Se no discurso da modernidade o caráter homogêneo da multidão é uma ameaça à identidade do sujeito, a racionalização do espaço urbano pode adquirir o mesmo sentido, esvaziando o espaço de conteúdos e de referências. Ao funcionar como objetos de muitos discursos e ter o poder de revelar saberes específicos de leitura do urbano e de produzir imagens e representações, construindo uma trama que dá sentido ao urbano, a cidade planejada deve ser analisada como o local onde encontramos indícios que nos revelam os discursos e as práticas que a construíram. Nesta perspectiva, a partir de artigos do periódico Diário de Notícias, o estudo das estratégias realizadas pelos sujeitos urbanos de Belo Horizonte para se integrarem aos espaços de uma cidade moderna e planejada será o objeto dessa análise.

Ana Penha Gabrecht (Faculdade Saberes) A representação do espaço na epopéia homérica: A Cidade de Tróia A cidade antiga sempre foi um tema bastante debatido entre os historiadores modernos bem como entre os escritores da Antiguidade tal como Homero. Na Ilíada e na Odisséia, a polis é o núcleo social em torno do qual a ação adquire sentido. Certamente essa polis não pode ser entendida como a do período clássico, porém pode-se visualizar nas epopéias alguns elementos citadinos. Na presente comunicação, buscaremos compreender a maneira como Homero, considerado educador da Hélade, descreve a cidade de Tróia, seus traços urbanos e os espaços citadinos.

Ana Luiza Falcão de Souza (UERJ) A importância dos desfiles e marchas na formação da identidade da mocidade portuguesa Antonio de Oliveira Salazar, principal governante do Estado Novo Português (1932-1974), importava-se com a manutenção das instituições de representação social, principalmente as representadas pelo lema: Deus, Pátria e Família. Esta última representava a base de toda a moral, ordem e harmonia do país, assim como os jovens destas famílias representavam o futuro da Nação. A Mocidade Portuguesa fora instituída pelo decreto-lei nº 26.611, de 19 de maio de 1936, em execução da lei nº 1.941, de 11 de abril do mesmo ano pelo Ministro da Educação, Antônio Faria Carneiro Pacheco. Ela representava toda a juventude do país, escolar ou não, e tinha por

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finalidade estimular o desenvolvimento integral da capacidade física, formação do caráter e a devoção à Pátria, no sentimento da ordem, disciplina e no culto do dever militar.A existência das Paradas e das Marchas no dia escolhido pelo regime para dedicar à juventude, Primeiro de Dezembro, e nas principais vias da cidade de Lisboa — capital do Império — tinha a função de externar à sociedade portuguesa os resultados obtidos pela formação integral destes jovens através dos Centros de Formação da Mocidade Portuguesa. A principal virtude prática das paradas e das marchas foi vislumbrada por um de seus mais importantes Comissários Nacionais, Marcello Caetano quando disse: “Vamos ver se há ou não, também, algum potencial educativo na parada, naquilo que aos outros parece uma mera exibição de puro sentido exterior.”A sociedade portuguesa respondeu positivamente a esta dúvida quando passou a participar calorosamente nos desfiles de Primeiro de Dezembro colaborando, assim, na formação da identidade desta organização juvenil do Estado Novo Português.

Ana Maria Reis de Faria (PUC/RJ) & Danilo Neves Vieira Serafim (FAA/ Valença-RJ) Cidade, violência e poder policial: Por entre estrategias e metáforas do controle social no Rio de Janeiro A sociedade brasileira, formada através da violência e do medo como estratégia de controle das massas e ordem social, tem nas grandes cidades o palco idealizado onde se reafirma o poder do Estado. Com isso, a limpeza étnica e a subjugação dos direito humanos se naturalizam e se recriam através de metáforas conhecidas como “revitalização urbana” e “segurança pública”. Assim, nesse território, as instituições policiais são aparelhos do poder político organizado que disciplinam as relações sociais e promovem sua garantia, através da coação. Nesse trabalho, abordaremos suas implicações históricas e sociológicas, tendo em vista o cotidiano da cidade do Rio de Janeiro.

Ana Paula Cecon Calegari (Ufes) Legislação no Brasil imperial: A organização do Tribunal do Júri entre 1822 e 1842 O presente trabalho visa discutir a teoricamente a Legislação do Império do Brasil, tendo como objeto as leis que prescreviam a instância judiciária do Tribunal do Júri. Pretende-se analisar como a legislação organizou questões relativas aos processos formais das sessões, à convocação dos jurados e aos procedimentos legais do Júri de Acusação e do Júri de Sentença. O recorte temporal circunscreve-se da lei de criação do Tribunal para julgar crimes de imprensa em Portugal, sendo estendida para o Brasil em agosto de 1822. Intento apreciar o Código Processual (1832), dado seu aspecto modelador e de aperfeiçoamento da organização do Júri. O recorte cronológico final baseia-se no Regulamento de 120 (1842), que, inserido no contexto das Reformas Regressistas conservadoras, reorganizou o Tribunal do Júri e desproveu-o das atribuições punitivas, passando-as à alçada policial.

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Ana Paula Lopes Pereira (UFRJ) A disputa pela tutela do Hospício de Cornillon entre a Comuna e o bispado de Liège e a instituição da festa do “Corpus Christi” na “Vita de Santa Juliana do MonteCornillon” (1258) O hospício de Cornillon, situado no exterior da muralha de Liège, um dos mais importantes da diocese, agrupava, desde a segunda metade do século XII, os leprosos expulsos da cidade. Localizado na rota de Aix-la-Chapelle atraía peregrinos, mercadores e doações, suscitando o interesse do patriciado urbano. O Ato de regulamentação de 1176 fornece ao hospício uma organização econômica e a adoção de um modo de via conventual. Entretanto, sua relativa autonomia abria a disputa entre as autoridades de tutela: os escabinos e o bispado de Liège. Os documentos sobre a Comuna de Liège foram sucessivamente perdidos: em 1212, durante o sítio da cidade pelo duque do Brabante; entre 1408 e 1467, na guerra com a Borgonha; em 1794 durante a Revolução, e finalmente, em 1944 na Segunda Guerra. Dessa forma, o relato hagiográfico Vita de Juliana do Mont-Cornillon, priora do leprosário e visionária que tenta instituir a festa do Corpus-Christi em meio à disputa pela tutela do leprosário, se torna um documento de grande importância para a história da comuna de Liège, para a história da assistência caritativa e para a história da crise institucional entre laicado e a Igreja. Assim, Juliana luta contra o “injusto poder simoníaco” dos escabinos, pela adoção da regra de santo Agostinho e pela instituição da Festa do Corpus-Christi. Exilada vagueia entre conventos e beguinários, para morrer solitária em Fosses. Buscamos, através do relato hagiográfico, analisar a disputa entre a Cidade e o Capítulo Catedral pela tutela do leprosário e a instituição da Festa do Corpus-Christi, parte dessa disputa, evidenciando assim a participação de uma mulher religiosa que expressa um novo tipo de espiritualidade, fruto da nova urbanitas da primeira metade do século XIII.

Ana Tereza Landolfi Toledo (PUC-MG) O lugar dos Batistas: A formação do bairro Colégio Batista em Belo Horizonte no período de 1930 a 1955 O presente trabalho procura se inserir na perspectiva dos estudos da História das Cidades, tendo como guia de análise a concepção de cidade, espaço e lugar. Dentro desse propósito, a pesquisa teve como objetivo geral o estudo do bairro Colégio Batista como expressão do embate entre protestantes e católicos na cidade de Belo Horizonte. Diante dessa proposta, buscou-se analisar a cidade de Belo Horizonte como um espaço de relações sociais não harmoniosas, no âmbito religioso, explicitando como essas relações contribuíram para a configuração do espaço da cidade. Partiu-se do pressuposto que o bairro Colégio Batista fora o local da expressão da presença dos protestantes de denominação batista, tornando, de certo modo, o lugar desses, na capital mineira. Buscou-se averiguar a hipótese de ser o bairro Colégio Batista ocupado por uma população marcada pelo jugo da indiferença reli-

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giosa, e assim, forçada a instalar-se fora do perímetro urbano da capital desenhada pela Avenida do Contorno. A partir da bibliografia específica e, principalmente, dos documentos consultados, constatou-se que na cidade de Belo Horizonte houve um embate religioso entre católicos e protestantes. Todavia não há indícios que tal hostilidade fora uma condição “si ne qua non” para a formação do bairro Colégio Batista, uma vez que a cidade estava passando, no período analisado, por um processo de crescimento da região suburbana, devido aos altos preços dos lotes da região envolta pela Avenida do Contorno, conhecida como região urbana. Assim, o bairro torna-se, também, um local de interligação entre a zona urbana e as zonas suburbanas da atual zona leste, em Belo Horizonte.

Ana Teresa Marques Gonçalves (UFG) Cidade, cidadania e identidade no Mundo Romano: Uma proposta de análise Relendo algumas obras que discutem e defendem a aplicação do conceito de identidade nos estudos da Antiguidade Clássica, percebemos que em vários momentos este conceito se entrelaça ao de cidadania. Assim, propomos uma análise deste entrelaçamento nos estudos clássicos a partir de reflexões acerca de uma pequena obra de Luciano de Samósata, intitulada Elogio da Pátria, na qual o autor sírio do II século d.C. mostra que na parte oriental do Império Romano, antes de tudo um Império formado por cidades conquistadas e mantidas sob a égide imperial, a noção de pátria confunde-se ou estabelece-se a partir da cidade na qual se nasce e/ou na qual se vive. Deste modo, parece-nos importante tecer comentários a respeito da relação concernente à cidade, cidadania, identidade e poder que se forjou na sociedade romana imperial.

André Araújo de Oliveira (Ufes) A “domus”: A explanação sobre o conceito de casa-família em Montaillou do início do século XIV Montaillou, no séc. XIV, era uma pequena vila no sul da França, que apesar de afastada do conflito da Igreja com a heresia albigense, sofre com a Inquisição devido à expansão do catarismo na região. A célula base da construção de Montaillou foi a família campesina, e a vida cotidiana dessas pessoas que habitam a casa. Essa casa era chamada na língua local de Ostal, e pelos dossiês da Inquisição de Domus. Essa palavra Domus acaba representando mais do que simplesmente a casa física, mas também a relação entre as pessoas que moravam nela. Esse Domus acaba representando um sinal de identificação das pessoas como pertencentes a um grupo social, ou algum tipo de religiosidade. Esse foi um dos segredos da propagação do catarismo: Localismo, Fraternalismo, Familiarismo.

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André Ferreira Mello (Ufes) A idéia de América em “conflicto y armonias de las Razas”, de Domingo Faustino Sarmiento Conflicto y Armonias de las Razas en América (1883), o último trabalho de fôlego do argentino Domingo F. Sarmiento (1811-1888), constitui uma tentativa de revisão dos pressupostos explicativos de Facundo, o civilizacion i barbarie (1845), sua obra mais famosa. Ao deslocar o foco de análise de uma perspectiva de luta social para uma de luta de raças e, ao mesmo tempo, postular que o continente americano como um todo tem uma missão específica na história das civilizações, Sarmiento busca, através do exame de um longo processo histórico, identificar que elemento fundamental há de garantir essa unidade na realização de seu fim. Deste modo, pela lógica do conflicto y armonias o autor pretende dar conta da explicação dos diferentes “estágios evolutivos” das nações americanas, donde emerge uma tripla dimensão da idéia de América: uma mais restrita, coincidindo com a comparação entre países específicos; uma intermediária, operando no âmbito das relações entre América do Norte e América do Sul; e uma mais geral, estendida ao continente em sua “totalidade”. Nosso objetivo nesta comunicação é promover algumas reflexões acerca destas concepções de América desenvolvidas por Sarmiento.

André Tomoyuki Abe (Ufes), Indira Maria Reis Paes Landim (Ufes), Natalia Zago Sena (Ufes) & Patricia Stelzer da Cruz (Ufes) A trajetória do planejamento urbano: Perdas e conquistas na região metropolitana da Grande Vitória O aumento significativo das áreas urbanizadas em todo o mundo, com a predominância crescente da população urbana sobre a rural, tem sido temática frequente de diversas áreas do conhecimento, ampliando a fronteira do debate urbano no âmbito de toda a sociedade. As tentativas de ordenar e orientar este debate tem encontrado alternativas distintas no âmbito do planejamento urbano, resultando em alterações na abordagem e direcionamento das políticas urbanas. Neste contexto, este artigo tem como objetivo apresentar, de forma breve e cronológica, as transformações do planejamento urbano no Brasil, enquanto instrumental de uma política urbana em suas formas, objetivos e meios de alcance, numa dinâmica em que se revelam valores e conflitos entre os diversos agentes envolvidos na problemática urbana. A implementação do Estatuto da Cidade, subsidiando o planejamento urbano municipal por meio de aparatos legais, apresentou como objetivo a ampliação da democratização do acesso à cidade. As mudanças nos princípios que orientam o diagnóstico da realidade urbana, bem como nas técnicas de ação, podem ser verificadas na atual configuração dos planos diretores municipais. Será apresentado, a título de exemplo, o processo capixaba, com destaque para os municípios que compõem a Região Metropolitana da Grande Vitória, onde podem ser identificados vários aspectos que caracterizam a problemática do planejamento urbano.

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Andrea Aparecida Della Valentina (PMV) A procissão de quarta-feira de cinzas em Vitória–ES no século XIX: A produção de um ritual religioso e moralista A procissão pode não ser elemento essencial da vida religiosa de uma comunidade, mas é uma cerimônia pública que favorece o encontro entre as pessoas, motivo de festa. As procissões precisavam de autorização da Igreja para sair, sob recomendação de que as fizessem com toda decência. Em Vitória, a realização de procissões era uma constante no convento de São Francisco de Vitória. A Ordem Terceira da Penitência dividia espaços e atividades religiosas com outras irmandades, tivessem elas ou não sede na igreja conventual, principalmente quando das procissões, momento em que todas eram convidadas a participar. Esse era o caso da Irmandade de São Benedito, que tinha sede na igreja conventual, e festejava seu orago com festas, leilões, fogos de artifícios e procissão do santo. Eram comemoradas ainda no convento franciscano as festas de Nossa Senhora da Conceição, do Divino Espírito Santo, de Santo Antônio dos Pobres e de Nossa Senhora das Neves. Entretanto, iremos nos ocupar sobretudo da mais importantes dessas festas, a procissão da Quarta-Feira de Cinzas, organizada como dissemos, pela Ordem Terceira da Penitência. Como lembra Mário Barata, a procissão de Cinzas ligava-se liturgicamente à penitência desde os fins da Antiguidade. Assim, era natural que abrisse o período da Quaresma, em uma tradição encontrada no Brasil desde o século XVII no litoral, perdurando até meados do século XX em Minas Gerais — e em Vitória até o final do século XIX. Procissão esta, formada por andores e imagens, que eram acompanhadas por “anjos” com tarjas em latim de cunho moralista.

Andréa Cristina de Barros Queiroz (UFRJ) Millôr e o cenário carioca: A construção de uma identidade local projetada nacionalmente As crônicas de Millôr Fernandes estão marcadas por uma identidade urbana carioca. Ressaltamos ainda que essas narrativas de Millôr construíram uma identidade do Rio de Janeiro, mais especificamente da Zona sul carioca, como metáfora de Brasil. Esse espaço carioca com a sua rede de sociabilidades representa na narrativa milloriana uma marca muito expressiva de suas criações, ou seja, tornou-se um hábito serem descritas em suas produções: o carioca, em especial o da classe média, a efervescência cultural de Ipanema e o seu modus vivendi, como também, sátiras de outras cidades do país. Margarida Neves salientou que os cronistas do Rio apresentam cotidianamente o particular relevo desta cidade capital, como também reiteram um deslizamento discursivo expressivo da capitalidade do Rio de Janeiro, já que em seus textos muitas vezes Brasil e Rio de Janeiro são termos intercambiáveis. Seja como for, a crônica tem como especificidade as recriações da língua e da estética visual, a

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síntese da realidade cotidiana, a interlocução com o público, a intromissão na vida privada e nas relações de poder, o contato com a rua, entre outras intersecções. Portanto, as crônicas de Millôr se intrometem nas questões cotidianas, no comportamento da cidade e de seus personagens, nas relações políticas e nas práticas sociais.

Andréia Cristina Lopes Frazão da Silva (UFRJ) Cidades, relações de poder e o fenômeno da santidade na Idade Média central O fenômeno da santidade no período medieval é multifacetado, vinculando-se a diversos aspectos da organização social, sejam representações, práticas ou instituições. Em nosso trabalho, objetivamos traçar considerações sobre como os diferentes elementos relacionados à veneração dos santos, tais como as peregrinações, a produção hagiográfica, as disputas pelas memórias dos santos, a devoção às relíquias e as ofertas, expressaram relações de poder e afetaram o cotidiano urbano durante a Idade Média Central. Para tanto, vamos apresentar e discutir questões presentes em alguns documentos hagiográficos produzidos na península ibérica no período, atentos às disputas e tensões relacionadas ao fenômeno da santidade, em especial entre cidades e entre estas e as áreas rurais.

Andréia Foeger (UVV) Desenvolvimento do sistema educacional da comunidade tirolesa em Santa Leopoldina O presente trabalho discute a imigração européia, especificamente de alemães, assentados no município de Santa Leopoldina a partir de 1857, data em que constam os primeiros registros da chegada desses imigrantes no município. Objetiva-se analisar o desenvolvimento do sistema educacional desses imigrantes, e descendentes, identificando as principais dificuldades encontradas por eles, em termos de adaptação à nova cultura. Tem como referencial teóricometodológico os estudos de Seyferth sobre a imigração alemã no Brasil, e Kreutz que analisa as origens do professor paroquial e a importância do seu papel nas comunidades rurais de imigração alemã. Realiza pesquisas história oral na comunidade do Tirol, localizada no município de Santa Leopoldina, região em que a cultura alemã continua exercendo grande influência. Além de favorecer o conhecimento da história dos alemães, tal método de pesquisa serve como tentativa de relatar a história do desenvolvimento educacional da comunidade tirolesa sob a visão dos imigrantes.

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Andrea Maria Vizzotto Alcântara Lopes (UFPR) O que é isso, MPB? Construção de uma identidade musical no cenário urbano (1965-1979) A sigla MPB é representativa tanto da produção musical brasileira quanto de trabalhos acadêmicos que discutem essa mesma produção que emergiu em espaços urbanos, sendo difícil atribuir-lhe critérios estéticos. A expressão é ainda utilizada no meio jornalístico e no mercado fonográfico, tendo sido ressignificada com o tempo, em processos que buscavam sua reconstrução ou desconstrução. A intenção dessa comunicação é discutir o processo de construção do conceito, em meados da década de 1960 até 1969 em ambientes citadinos, e os usos que foram feitos na recepção e apropriação do termo já nos anos 1970, procurando problematizar o conteúdo político, engajado, atribuído à sigla, que aparece muitas vezes deslocado de sua historicidade, atentando para a complexidade da expressão MPB.

Anelise Lusser Teixeira (UERJ) Um olhar crítico sobre as relações entre esporte e educação O presente trabalho propõe lançar um olhar crítico sobre as novas articulações entre esporte e educação na cidade do Rio de Janeiro, sobretudo após o impacto dos Jogos Pan-americanos de 2007 e a expectativa em torno da Copa Mundial de Futebol de 2014. Muito saber já foi produzido sobre o assunto, mas sua vasta maioria está baseada no mesmo suporte teórico que orienta grande parte dessas práticas: a psicologia motivacional. Esta literatura produz em larga escala receitas para produzir campeões, unir equipes vencedoras e manter atletas motivados, mas não faz nenhuma crítica social. Antes restritas às aulas curriculares de educação física, as práticas esportivas de cunho educativo são hoje o ponto de apoio de uma infinidade de projetos sociais que prometem transformações da realidade com base na inserção de indivíduos em campos institucionais e não na construção coletiva de uma lógica de inserção. Mais do que a validade das práticas em si, o que preocupa aqui é sua institucionalização e consequênte massificação, além da uniformidade dos discursos produzidos. Entendemos as práticas educacionais/esportivas à luz dos conceitos de disciplina e de biopolítica, de Michel Foucault. Desta ótica, elas visariam não somente à docilidade dos corpos individuais, mas do corpo social como um todo, ou seja, ao controle da vida das populações. Esse uso do esporte é uma tarefa complexa, que exige vários dispositivos. Pretendemos levantar alguns dos pontos de sustentação dessa tecnologia, pois acreditamos que o esporte constitui um lugar privilegiado para a compreensão da sociedade, revelando-nos a intimidade de suas relações de saber/poder.

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Antonio Carlos Amador Gil (Ufes) Poder, relações interétnicas e cotidiano. Os embates das políticas de incorporação étnica após a Revolução Mexicana de 1910 Pretendemos analisar o processo de consolidação da política indigenista, no México, no período que se inicia após a Revolução Mexicana até a criação do Instituto Nacional Indigenista em 1948. Neste período pretendemos destacar a atuação de alguns nacionalistas integracionistas como, por exemplo, Manuel Gamio. Além desta corrente, a problemática étnico-nacional também foi abordada pelos comunistas que tinham um posicionamento bastante crítico nos anos 30. Também trataremos do desenvolvimento da antropologia enquanto campo de estudo e a crescente absorção de antropólogos — indigenistas nas agências que ficaram responsáveis pelas políticas públicas cotidianas em relação aos índios.

Arlete Maria Pinheiro Schubert (Ufes) Da pobreza ou destruição da experiência: Os novos bárbaros A presente comunicação pretende analisar o tema “experiência, de sua pobreza ou destruição”, a partir do conceito de “experiência” proposto por Walter Benjamin e Larrossa. O objetivo será o de discutir o diálogo existente entre os sujeitos sociais-coletivos, os quais emergem do interior de práticas específicas em curso na dinâmica social, e os desdobramentos de suas experiências ali engendradas. Por sua vez, sujeitos coletivos serão compreendidos como partes atuantes dos movimentos sociais, das populações étnicas e tradicionais presentes como focos de resistência da experiência moderna. Tais sujeitos ganham especial expressão na reflexão sobre a destruição ou empobrecimento da experiência, posto que suas histórias têm se mostrado como um contraponto a mesmidade, entendida aqui como um instalar-se em um tempo circular, fechado em si mesmo. Dessa forma, identificamos suas trajetórias como resultantes da exclusão do processo modernizador da sociedade, ao passo que indagamos acerca do seu caráter de potência para a “verdadeira experiência”, como articulada pelos autores considerados. Por fim, pretendemos argumentar acerca dos tempos e das vidas desses sujeitos ainda isolados, os quais merecem ser considerados e interpretados, desde suas diferenças até suas próprias histórias de r-existência.

Baltazar Pereira dos Santos (UESC) As representações e os discursos sobre os afro-brasileiros na imprensa de Itabuna Esse trabalho tem como objetivo analisar os discursos e as representações produzidas pelos principais jornais de Itabuna sobre a população Áfro-brasileira nessa sociedade, no período de 1946 a

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1964. O recorte temporal parte por esse ser um período de grande desenvolvimento do discurso de democracia trazido pela elaboração da Constituição de 1946. Constituição que trazia como um dos pontos mais significantes para a sociedade brasileira — principalmente para os Afro-brasileiros — a liberdade de manifestações culturais e religiosas. Já referente ao recorte geográfico, parte principalmente por a cidade de Itabuna durante esse período se encontrar numa condição de destaque político e econômico se comparada as demais cidades da região do cacau. Sendo assim, com base em toda sua influência permitida por essa posição privilegiada, buscar identificar e analisar os discursos e representações construídos pelos seus jornais sobre a população afro-brasileira, como também analisar de que forma essas representações e discursos variavam no que tange a esse grupo.

Batistina Maria de Souza Corgozinho (Funedi) O comércio urbano local através de notas fiscais O objetivo desse estudo é o de mapear o comércio urbano local, através de documentos como notas fiscais e recibos de compras, feitas pela Prefeitura Municipal, durante a década de trinta na cidade de Divinópolis, no centro-oeste mineiro, período em que seu crescimento populacional foi intenso e a cidade já apresentava sinais de progresso, possuindo um traçado urbano moderno bastante diferente da realidade das demais cidades vizinhas. A análise das notas fiscais permite verificar a diversificação dos produtos comercializados na cidade, pois tais documentos possuem informações sobre os estabelecimentos comerciais, produtos comercializados, origem, quantidade e preço das mercadorias. Durante esse período, a população urbana dessa cidade já convivia com novas idéias de desenvolvimento, deixando de lado as características estritamente rurais. O seu desenvolvimento moderno foi estimulado pela presença da ferrovia, principal via de ligação entre as diversas regiões de Minas Gerais, o que permitiu, também, o contato com outras regiões do Brasil. Isso ajudou a criar as condições favoráveis para o surgimento de novas relações econômicas e sociais, a diversificação do comércio, das relações de trabalho e prestação de serviços. A descrição e mapeamento das atividades comerciais, que aconteciam na cidade, nesse período, permitem além da caracterização do comércio local, evidências de suas ligações com contextos geográficos e econômicos mais ampliados e evidencia algumas características peculiares na vida urbana, calcada no desenvolvimento industrial e comercial, incorporando valores típicos de um modo de vida em processo de modernização.

Beatriz Nascimento Teles (Ufes) & Marcela Sarnaglia (Ufes) Humor e irreverência na didatização da História nos Meios Comunicação Este trabalho procura compreender as formas assumidas pelo humor na didatização da História veiculada por meio da televisão e do cinema, no Brasil pós-Ditadura Militar. Acreditamos que os meios de didatização da História transcendem o ambiente escolar e incluem diferentes for-

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mas de comunicação, narrativas e linguagens. Partimos das discussões teóricas de Elias Thomé Saliba (2002) e de Georges Minois (2003) que abordam como o riso e o humor são representações históricas e culturais, que possuem, tanto uma função social como pedagógica, já que, o sentido da piada é guardado pelo receptor. O riso nasce do contraste, do estranhamento, do improviso, porém, também é historicamente inventado. Assim, a produção humorística participa do processo social dialogando com ele e criando novas possibilidades. Ao analisarmos a minissérie O Quinto dos Infernos (2002) de Carlos Lombardi, e o filme Carlota Joaquina, a princesa do Brazil (1994) de Carla Camurati, podemos observar que ao tratar de forma irreverente e permeada de humor um fato histórico que é a chegada da Família Real ao Brasil, essas obras possuem uma representação acerca dos personagens históricos, que podem ser encontradas tanto no imaginário popular quanto em alguns meios acadêmicos, além de, participarem do processo de invenção da imaginação nacional, construindo tipos, visuais ou verbais, e fomentando estereótipos.

Belchior Monteiro de Lima Neto (Ufes) Alteridade, identidade e estigmatização nas “Metamorphoses” de Apuleio: Bandidos e elite citadina no contexto norte-africano do II século d.C. A presente comunicação versará sobre um fenômeno bastante característico do Mundo Antigo: o banditismo. Sua profusão e ocorrência eram tais que os romanos o consideravam como um commum dannum. Dada a sua pertinência, a intenção deste trabalho é apresentar a natureza das relações destes bandos de salteadores com a sociedade romana norte-africana no período alto-imperial. Para tanto, tomaremos como fonte primária a obra Metamorphoses, de Lúcio Apuleio (escritor norte-africano do II século d.C.), por acreditarmos ser um exemplo bastante profícuo da representação que a elite romana produzia acerca destes proscritos, demonstrando de maneira muito clara uma alteridade estigmatizada em relação aos bandidos, fato que servia à constituição da identidade da aristocracia citadina no norte da África e que refletia uma realidade de conflito e de dicotomia entre as civitates romanas e a uma vasta hinterland em grande parte avessa aos valores e cultura romanos.

Braulino Antonio dos Reis Neto (Ufes) & Ricardo da Costa (Ufes) A subversão do “poder” material pelo “amor espiritual”: A amizade no tratado “Da Consideração” de Bernardo de Claraval (1090-1154) O presente trabalho integra o Projeto de Pesquisa intitulado “A transcendência na Filosofia Medieval em três tempos: os atributos divinos no Dionísio Pseudo-Areopagita (séc. V), em Bernardo de Claraval (1090-1153) e em Ramon Llull (1232-1316) e suas raízes clássicas”. Nosso objetivo é analisar como Bernardo de Claraval, em sua obra Da Consideração (1149-1152), trata

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o tema (clássico) da amizade. Ao dirigir-se ao papa Eugênio (destinatário da obra), seu exdiscípulo, logo no Prefácio Bernardo diz que “...ainda que avance com grandes asas ao vento, não te faltará meu afeto. Pois o amor desconhece o domínio e reconhece o filho, mesmo sob a tiara; o amor é submisso por natureza, obedece espontaneamente, concorda desinteressadamente, respeita generosamente.” Assim, a caritas cristã subverte as relações de poder terrenas, para fazer com que a sabedoria clássica oriente a vida do papa para a meditação, o “conhecer-se a si mesmo”, e volte-se para as coisas sublimes.

Breno Machado dos Santos (UFJF) Realizando “missões urbanas”: O impacto dos colégios sobre o “modo de proceder” jesuítico no Brasil dos Felipes Enviados à Colônia com o principal propósito de converter os nativos à fé católica, fica clara a partir da década de 1580, a distinção entre as posturas dos inacianos em função da opção pelos trabalhos despendidos junto aos Colégios, em detrimento daqueles realizados junto às missões indígenas. Semelhante ao fenômeno ocorrido na Europa — quando a abertura dos primeiros estabelecimentos de ensino jesuíticos teria gerado um ambiente propício para queixas quanto ao declínio do fervor missionário dos inacianos — a consolidação dos Colégios da Ordem na Província durante a União Ibérica vai refletir diretamente sobre a atuação dos jesuítas no Brasil, marcando profundamente a trajetória da Companhia de Jesus na América portuguesa. Com base na documentação produzida pelos jesuítas durante o período filipino é possível enxergar a existência de um processo em que a Companhia de Jesus caminhava para um apostolado que priorizava práticas de caridade realizadas através das obras ensino nos Colégios ou por meio de “missões urbanas”. Seja nos principais centros da Colônia, tais como Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro, ou nas capitanias menos abastadas, tais como São Vicente, a assistência aos colonos ia aos poucos tomando o lugar do apostolado junto aos nativos. Estabelecidos com o objetivo de constituir novos “operários” para o trabalho de catequese, os estabelecimentos de ensino jesuíticos passam a formar religiosos interessados em realizar trabalhos junto aos povoados, preferindo assistir aos colonos a integrar as aldeias. Lançar luzes sobre tal processo constitui o principal objetivo deste estudo.

Bruna Coutinho Gonçalves Belchior (UERJ) A política imperial entre 1808 e 1814: Rio de Janeiro, Lisboa e a política externa até o Congresso de Viena No presente trabalho pretende-se pormenorizar algumas das principais questões e discussões que determinariam a diplomacia joanina e, por conseguinte, melhor elucidam momentoschave no recorte proposto neste trabalho, principalmente os anos de 1807-1808 e 1814-1815. Seu objetivo principal é abordar as especificidades da conjuntura e suas implicações para o

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surgimento de uma nova estratégia diplomática a partir de 1814. Examinam-se, para tanto, a política internacional que ocasionou a transferência da corte portuguesa para o Brasil; as conseqüências dessa mudança para o Rio de Janeiro e para Lisboa e, por fim, a articulação dos interesses específicos a cada parte do Império português com a adoção de uma política internacional após o término das guerras napoleônicas. Se a situação na Europa era de extrema fragilidade, a condução da política externa versou sobre a condição de também não ver ameaçada a navegação pelo Atlântico. A partir do estabelecimento da liberdade de comércio com o Brasil, configurava-se a conformação de interesses distintos. Uma política externa brasileira é iniciada quando da dominação napoleônica e, desde então, assume independência frente aos interesses centrados em Lisboa e consolidam a existência de duas políticas externas distintas. Escalonadas de acordo com a conjuntura, essa dupla orientação será conduzida de forma diversa e considerando, principalmente, as relações com a Inglaterra, a Espanha e os interesses pela América meridional.

Bruno Bortoli (UESC) O orçamento participativo de Porto Alegre: Escola de cidadãos É bastante conhecida a expressão que no Brasil as cidades são administradas por pessoas estranhas a elas e com pouca participação da maior parcela da população no espaço urbano: os cidadãos que nela habitam. Nesta comunicação analisamos uma ferramenta de administração pública, o orçamento participativo, onde os cidadãos escolhem onde o dinheiro será investido. A partir de uma experiência vivida na cidade de Porto Alegre (RS), buscamos refletir sobre alguns dispositivos criados na gestão participativa, tais como as reuniões comunitárias, as consultas públicas, o envolvimento direto do Prefeito com as comunidades, entre outros. Estes supostamente solidificam uma leitura política singular da cidade, e a partir da qual outros municípios vêm implantando. Assim mostramos que a participação pública na administração da cidade devolve às pessoas o sentimento de pertencimento e responsabilidade àquele lugar que de fato, lhes pertence.

Bruno Ferreira Araújo (UFV) Vale do Aço nas décadas de 1950 e 1960: Uma análise a partir da implantação da Estrada de Ferro Vitória-Minas A primeira ferrovia utilizada por um à locomotiva foi construída em 1804, por Richard Trevithick na Inglaterra. Desta data até os dias atuais, notamos o poder transformador que uma ferrovia pode exercer nas regiões as quais seus trilhos ultrapassam. Em especial, existe o caso do Vale do Aço nas Minas Gerais. Esta região até meados da década de 20 do século

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passado apresentava características de um local semi-explorado, na qual sua população era composta basicamente de índios botocudos. A partir do momento da chegadas do trilhos da Vitória-Minas, houve uma alteração no espaço físico local, com a chegada dos primeiros imigrantes. A partir das décadas de 50 e 60, o Vale do Aço apresentou índices de crescimento industrial e populacional acima da média brasileira. Podemos fazer uma analogia à fala de Hobsbawm, quanto este afirma: “Para 80% da humanidade, a Idade Média acabou de repente em meados da década de 1950. Entre outras razões, estão presentes as instalações de grandes indústrias siderúrgicas, que alteraram drasticamente o espaço urbano e as relações de poder entre população e indústria. Nosso foco baseia-se em discutir a relação trivial entre Ferrovia Vitória-Minas, indústrias siderúrgicas e população. Esta discussão é relevante para que possamos compreender como uma região em pouco mais de 50 anos, tornou-se um grande pólo industrial brasileiro e como se da as relações de poder dentro do espaço urbano.

Bruno da Rocha Lyra (Novo Milênio) & Luiz Eduardo Neves da Silveira (Ufes) Grafite: Da pré-história aos dias de hoje Arte rupestre, pintura rupestre ou ainda gravura rupestre, é o nome que se dá às mais antigas representações pictóricas conhecidas, as mais antigas datadas do período Paleolítico Superior (40.000 a.C.) gravadas em abrigos ou cavernas, em suas paredes e tetos rochosos, ou também em superfícies rochosas ao ar livre, mas em lugares protegidos, normalmente datando de épocas pré-históricas. Encontradas nos tetos e paredes das escuras grutas, descobertas por acaso, situadas em fundos de cavernas. São pinturas vibrantes realizadas em policromia que causam grande impressão, com a firme determinação de imitar a natureza com o máximo de realismo, a partir de observações feitas durante a caçada. Para outros estudiosos, era a vontade de produzir arte. A partir dos anos 60, as artes nas paredes ressurgiu por meio de um dos braços das artes plásticas do movimento hip-hop. As gangues de rua que giravam em torno do movimento, ainda no seu início. Por meio da pintura de nomes quase ilegíveis, denominados tags, mas facilmente reconhecíveis como símbolos de um grupo, a pichação se tornou uma forma de demarcar território. Não apenas paredes e monumentos recebiam tintas — circulando por toda a cidade, os metrôs viraram alvos das gangues que buscavam divulgar sua existência. O conceito continuou o mesmo durante alguns anos, até que os tags não comportaram mais a ansiedade dos artistas. As pichações ganharam estilo e assumiram o status de grafite, com a inclusão de personagens e cenários. O grafite, se faz notar, por quem quer que seja simplesmente por seu caráter primordial: é feito nas ruas, enchendo de desenhos coloridos grandes espaços urbanos.

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Bruno Santos Conde (Ufes) O Marquês de Pombal e as novas regras para a transmissão de bens: Histórias do Espírito Santo Durante a segunda metade do século XVIII, destacou-se na história de Portugal a série de reformas administrativas implementadas pelo Marquês de Pombal, primeiro ministro lusitano entre 1750 e 1777. Tais reformas ultrapassaram o plano interno e repercutiram de maneira crucial sobre a realidade dos territórios ultramarinos portugueses, incluindo a Capitania do Espírito Santo. Nesse sentido, a presente comunicação trata de um episódio bastante específico do passado capixaba, ocorrido após a morte do arcediago Antônio de Siqueira Quental em 1769. Proprietário de dois engenhos e mais de 400 escravos na Vila de Guarapari, Quental prometeu em seu testamento a construção de uma capela e de um colégio para a veneração ao Coração de Jesus em suas terras. Mas tal desejo esbarrava em algumas das novas leis portuguesas do período. No esforço de afirmação do poder do Estado português sobre a Igreja, foram tomadas medidas que visavam limitar a transmissão de heranças para instituições religiosas. Essas mudanças na legislação tornaram o testamento em questão nulo, gerando para os administradores locais grandes dúvidas sobre o destino dos engenhos, que permaneceram sem proprietários definidos até pelo menos o século XIX. Os registros do Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), principal base para este trabalho, permitem observar importantes traços dessas fazendas e da economia capixaba de então. Na comunicação proposta captam-se alguns destes traços, mas sem perder de vista a meta principal, a qual é analisar as novas regras testamentárias da era pombalina e a maneira como elas repercutiram no caso da herança de Quental.

Caio Rabello Decuzzi (Ufes) Valores ideais e interesses políticos: Considerações sobre as leis imperiais e o júri (1842-1871) O presente trabalho propõe-se a fazer uma análise de cunho teórico das Leis Imperiais e seus efeitos sobre o Tribunal do Júri, no período compreendido entre 1842 a 1871, tomando também por base estudos sobre a atuação do Júri na Comarca de Vitória. Estudos sobre essa instituição na Província do Espírito Santo indicam que o Tribunal do Júri apresentava um desempenho profícuo na resolução das desavenças locais. Não obstante, seu poder e nível de competência foi gradualmente reduzido na maior parte do século XIX, com destaque para o período de 1842-1871. O Tribunal do Júri nas primeiras leis do Império brasileiro inspirou-se no modelo liberal inglês, baseado no self-government (auto-governo). A instituição simbolizava a busca pela autonomia e legitimidade do Império enquanto Estado.

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Camila Gonçalves da Silva (UFJF) Jornalismo escrito em tempos de censura: A memória dos jornalistas sobre a censura em Montes Claros-MG nos anos de 1964 a 1968 A presente comunicação tem por objetivo central compreender a memória dos jornalistas da imprensa escrita que trabalharam na cidade de Montes Claros-MG, durante os anos de 1964 a 1968, no contexto do Governo Militar no Brasil. Através da metodologia da História Oral buscamos compreender no decurso de cada trajetória de vida, a memória social e profissional daqueles que exerceram seu ofício em um período em que o verbo coibir era presente no expediente das redações. Abarcaremos, ainda a compreensão sobre como era o espaço de sociabilidade profissional dos jornalistas (a introdução do aparato repressivo, a disposição e metodologia dos censores e a relação entre jornalistas e censores). As fontes utilizadas constam, em primeiro lugar, de exemplares da Revista Montes Claros em Foco dos anos de 1963 e 1964. Em segundo lugar, utilizaremos entrevistas que foram realizadas com jornalistas que trabalharam no período. Nesse sentido, nosso estudo se insere nas perspectivas do campo da História Social, pois analisa a censura a imprensa abarcando o espaço de sociabilidade, num viés interpretativo que valoriza a memória dos profissionais da imprensa local.

Camilla Ferreira Paulino da Silva (Ufes) A representação do Egito nas “Odes” e “Epodos” de Horácio no final da República Romana O trabalho trata da representação de Cleópatra Ptolomeu VII no final da República Romana, por meio dos poemas de Quinto Horácio Flaco. No século I a.C., a rainha egípcia e seu consorte Marco Antônio estavam em conflito com Otávio, filho adotivo de Júlio César, de quem Horácio se torna próximo. Em suas Odes e Epodos, o poeta se utiliza de um discurso triunfalista a favor de Otávio, contribuindo assim para a depreciação de Cleópatra, que aqui é tida como uma ameaça orientalizante a Roma. A partir desse viés, pretendemos debater a construção da imagem de Cleópatra nesses poemas e notar como, a partir da polarização Oriente/Ocidente, houve a afirmação da identidade romana através da estigmatização do Egito, aqui representado por Cleópatra. Em relação à opção teórico-metodológica, optamos por autores da Nova História Cultural, que tratam dos conceitos de representação e propaganda — Roger Chartier e Georges Balandier — e que se relacionam diretamente com nosso objeto de pesquisa.

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Carlos Alberto Menarin (UNESP/Assis) Expansão urbana, impactos ambientais e áreas protegidas: A Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da cidade de São Paulo A presente comunicação busca refletir sobre a relação entre expansão urbana e conservação de recursos naturais numa perspectiva histórica. Não se trata apenas de um exame retrospectivo da questão, mas de uma discussão em torno dos métodos de análise desse tema pelos historiadores. Nosso objeto de estudo envolve a Região Metropolitana da cidade de São Paulo e as áreas naturais localizadas em seu entorno. Esse chamado Cinturão Verde é responsável pela manutenção do abastecimento de água dentre outros “serviços ambientais” e sofre diretamente e diariamente as pressões vindas do centro metropolitano sob os mais diversos interesses. A região foi declarada Reserva da Biosfera pela Unesco, em 1993, após uma série de mobilizações popular desde meados dos anos de 1980, contra a construção de uma perimetral que atravessaria aquelas áreas naturais. Quais as possibilidades teóricas e metodológicas para o historiador interessado em investigar esse tema? Longe de propormos uma resposta definitiva, lançamos a hipótese da retomada do diálogo entre História e Geografia que pode aparecer sintetizado como método para a emergente História Ambiental. As reflexões são fruto da pesquisa em nível de doutoramento intitulada “Entorno da Sustentabilidade. A Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo: Governança, Meio Ambiente e Políticas Públicas. (1971 – 2006)”.

Carlos Alberto Oliveira (PUC-MG) A organização do espaço urbano no século XIX: Significado e percepção do espaço público na nova Capital de Minas Para compreender a história de Belo horizonte, é essencial entender a relação entre espaço público e planejamento urbano como uma relação entre dois elementos historicamente construídos e estreitamente relacionados. Este artigo busca discutir o desenvolvimento dos termos público e privado, até a consolidação do conceito de espaço público no século XIX, quando o pensamento fundador de Belo Horizonte se inspira para materializar sua concepção de cidade moderna. Assim, observa-se que a trajetória histórica das cidades brasileiras apresenta mudanças no âmbito público e privado com conseqüências diretas na emergência de um modo de vida urbano nos séculos XVIII e XIX.

Carlos Eduardo C. da Costa (UFRJ) Migração? Para a favela não! Migração e cidadania da população de pretos e pardos no pós-abolição. Vale do Paraíba e Baixada Fluminense, RJ (1888-1940) A presente comunicação pretende apresentar os primeiros resultados da pesquisa sobre a migração e o acesso à cidadania de pretos e pardos, no Rio de Janeiro, no período do pós-abolição.

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Centralizamos, prioritariamente, nossa análise no Município de Valença, local este que concentrou, no último quartel do século XIX, uma parcela expressiva de cativos no Sudeste cafeeiro. Ao longo da Primeira República, com o declínio do café, novos investidores ampliaram a produção de gado e eucalipto que avançaram sobre as pequenas roças, conquistas ainda da escravidão. Somado a isso, devemos questionar quais os parâmetros políticos que permitiram, em certa medida, a permanência e/ou expulsão, dos mesmos, das fazendas. A partir da análise serial do Registro Civil de Nascimento de Nova Iguaçu e de entrevistas com descendentes de escravos, concluiu-se que muitos libertos só migraram do Vale do Paraíba, durante a década de 20 e 30 do século XX, e se dirigiram, em boa parte, para a região da Baixada Fluminense, no Estado do Rio de Janeiro. Pode-se apontar, dentre outros fatores, a produção de laranja, a possibilidade aberta da diversificação dos arranjos de trabalho e a possibilidade de adquirir pequenas propriedades, ao entorno do atual Município de Nova Iguaçu, como possíveis motivações para a escolha dessa região. Essa experiência assemelha-se ao encontrado na Jamaica e em Cuba, por Thomas Holt e Rebecca Scott, respectivamente. Este trabalho tenta demonstrar o processo migratório, assim como a inserção social, através do trabalho, da população de pretos e pardos, do Estado do Rio de Janeiro. Dessa forma, contribui-se para a análise do pós-abolição nas Américas.

Carlos Eduardo de Oliveira Gama (Ufes) Os impactos do pensamento alberdiano na Constituição argentina de 1853 Um grande desafio se apresentou aos intelectuais latino-americanos após os processos de independência: encontrar uma nova forma de organização política para os Estados que estavam se formando. Na Argentina, Juan Bautista Alberdi foi um desses intelectuais que se propuseram a imaginar esse novo Estado. Nesta apresentação, iremos discutir os impactos do projeto de constituição apresentado por Alberdi em seu livro “Fundamentos da organização política da Argentina”, na Constituição Argentina de 1853.

Carlos Martins Júnior (UFGD) & Lenita Maria Rodrigues Calado (UFGD) Ordem urbana e controle social no Brasil da Belle Époque Frente às incertezas políticas e às transformações estruturais ocorridas no Brasil na virada do século XIX para o XX, as elites dirigentes nacionais delinearam, respaldadas pelo discurso científico, um abrangente projeto social visando à submissão das camadas populares, fundamentado em dois movimentos simultâneos. De um lado, promoveu-se uma ideologia valorizadora do trabalho, articulada aos conceitos complementares de “ordem” e “progresso”. De outro lado, sob a justificativa de ordenar o “caos urbano” com o intuito de coibir a “mistura de corpos”, que punha a sociedade sob a ameaça da “doença” física e moral, da “anarquia” das raças, dos sexos

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e das chamadas “classes perigosas”, impunha-se um contínuo esquema de vigilância e repressão das práticas cotidianas da população urbana, sobretudo dos membros das camadas populares, com vistas a transformá-los em cidadãos “morigerados”, processo definido, no plano semântico, pelo termo “civilização”. Este artigo propõe uma reflexão sobre os aspectos que ensejaram esse projeto “civilizatório”, suas características e os impactos sobre o cotidiano dos populares.

Carolina Ferreira de Figueiredo (UDESC) & Thamirys Mendes Lunardi (UDESC) Comunidade árabe em Florianópolis: Impressões, identificações e pertencimentos (1990-2008) Nas últimas décadas, Florianópolis sofreu um forte incremento populacional, com um aumento significativo da população dita estrangeira. Nesta comunicação pretendemos, através de pesquisa iniciada em agosto último, identificar no contingente da população estrangeira, aquela dita árabe: sírios, libaneses, palestinos e jordanianos. Assim, através de entrevista buscamos identificar as falas, (re)sentimentos e impressões que fornecem sentidos e constroem o território árabe na capital catarinense. Valores sócio-culturais como: família, trabalho, religião, política, são buscados, a princípio, como constituidores da comunidade árabe. Desta maneira, é fundamental observar como se deu a construção desta comunidade, a partir das permanências e rupturas ocorridas durante o processo de imigração (iniciado ainda nas primeiras décadas do século XX), bem como forma de se estabelecer e interagir no meio social de Florianópolis. Com a contínua chegada de imigrantes árabes em Florianópolis, seus referenciais de formação identitária se modificam. Procuramos, então, de forma qualitativa e comparativa, perceber na fala dos representantes de duas diferentes gerações de imigrantes, quais os elementos que mudaram ou permaneceram na construção identitária. Dessa forma, é agregada a religião católica, tradicionalmente vista como elemento de coesão da comunidade árabe, outros diacríticos que, pensamos, através do cruzamento de depoimentos de diferentes gerações, melhor identificá-los e qualificá-los.

Carolline da Silva Soares (Ufes) O conflito entre paganismo, judaísmo e cristianismo no principado: Um estudo a partir da obra “Contra Celsum”, de Orígenes Este artigo versa sobre o conflito sócio-político e religioso existente entre as três principais crenças presentes no Império Romano nos séculos II e III da Era Cristã, a dizer, o paganismo, o judaísmo e o cristianismo. Este conflito é tratado de forma singular na obra intitulada Contra Celsum, do presbítero cristão Orígenes e datada do século III d.C.. Tal obra trata-se de uma refutação da obra Verdadeira Razão (Aléthes Logos) de Celso, um dos principais escritores da elite pagã romana do século II d.C. que atacaram veementemente o cristianismo e o judaísmo.

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A Aléthes Logos nos é conhecida hoje apenas pela refutação de Orígenes que, para refutar Celso, transcreve vários trechos da obra. A hipótese do nosso trabalho está relacionada à idéia de que o judaísmo, neste período (séculos II e III), é a principal razão de ser dos conflitos entre o cristianismo — visto como uma dissidência do judaísmo — e o paganismo romano. Além disso, afirmamos que a problemática existente entre o cristianismo, o judaísmo e o paganismo no Contra Celsum, de Orígenes, contribuiu para a defesa e fixação das identidades cristã e pagã no Principado. independente. Todavia, no processo político em defesa da unidade territorial brasileira e da centralização administrativa colocou-se em dúvida o exercício da justiça nas mãos dos jurados. Nesta comunicação, trabalha-se com a hipótese de que o Império desejava submeter as forças locais, retirando-lhes os instrumentos institucionais de autonomia. As fontes pesquisadas foram as leis promulgadas pelos gabinetes imperiais entre 1842 e 1871, analisadas por meio do uso da Hermenêutica.

Catarina Lisboa do Carmo (UDESC) A idéia de pertencimento à comunidade árabe muçulmana em Florianópolis: Um estudo entre gerações (1990-2008) A cidade não apenas representa um espaço geográfico, significa também, e sobretudo, uma construção, tanto material quanto imaterial, simultâneamente, “real” e utópica. Neste sentido cada indivíduo compartilha com outros de construções de significados semelhantes constituídas através de elementos culturais comuns. Estes condicionam análogas perspectivas do meio-ambiente, e da cidade em particular, estabelecendo um grupo maior: uma comunidade. Intencionamos então, nesta pesquisa iniciada em agosto último, identificar as falas, (re)sentimentos e impressões que fornecem sentidos e constroem os territórios Árabes muçulmanos em Florianópolis, entre 1990 a 2008. Para tanto utilizaremos como metodologia a história oral, e como fonte essencial os relatos dos próprios personagens de estudo, visto que o recorte cronológico nos permite tal proximidade. A cidade de estudo, Florianópolis, teve nas últimas décadas um aumento agudo de sua população. Em meio a este crescimento, encontramos uma significativa parcela de imigrantes que, documentados ou não, podem ser reconhecidos pelas ruas da cidade, sendo até então pouco visibilizados pela Historiografia em geral. Entre muitos elementos culturais constituidores da comunidade árabe, consideramos a religião como diacrítico que institui significados: o sentimento de pertencimento a uma “comunidade imaginada”, que nas suas relações com o meio, a cidade, e com os “outros” forja sua distinção, e reafirma diferenças. Assim, visamos perceber, por meio dos discursos de duas gerações, as permanências e rupturas nas práticas culturais e políticas, relacionadas à religião islâmica, servindo (ou não) como adesão à comunidade árabe na Capital de Santa Catarina.

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Cauê Marques (faed/UDESC) Quincas-Borba e o Rio de Janeiro: As relações de poder da aristocracia carioca em Machado de Assis São muitos os aprendizados possíveis de se extrair da literatura. A história mais do que a geografia tem aproveitado a ficção como ferramenta de compreensão da realidade, porém, na geografia essa ainda é uma ferramenta muito pouco explorada: as obras de Machado de Assis são um reflexo da maneira como o autor enxergava e vivia a cidade que se construía metrópole a partir da segunda metade do século XIX. Os personagens de Machado constroem relações com os espaços onde vivem e dizem muito sobre a maneira como gostariam que o mesmo fosse gerido. Seus diálogos explicam, nas entrelinhas, como aconteciam as relações de poder do Rio de Janeiro nas obras deste autor carioca, e como estas permeavam a cidade — que se tornaria capital da república a partir de 1888 — e construíam os espaços. O presente trabalho tem por objetivo, sob o escopo da geografia cultural presente em Paul Claval e Roberto Lobato Corrêa, relatar como as relações de poder da aristocracia carioca descritas por Machado de Assis através de seus personagens no romance Quincas Borba moldavam a maneira de organizar o espaço da cidade e de tomar decisões políticas que seriam bastante significativas para o país nos anos seguintes.

Claudiméia do Rosário Almeida (UENF) & Marcos Antônio Pedlowski (UENF) Estado local e a apropriação do discurso ambiental para legitimar a reorganização autoritária de espaços urbanos periféricos: O caso das lagoas urbanas de Campos dos Goytacazes, RJ Desde o seu surgimento, as cidades têm se apresentado como palco de diferentes interações que refletem nas relações sociais dominantes. Neste sentido, seu desenvolvimento esteve historicamente atrelado às dinâmicas socioeconômicas e políticas existentes no modo de produção vigente. Assim sendo, a produção do espaço urbano contemporâneo resulta de conjunturas específicas que refletem as dinâmicas do modo de produção capitalista, que desde a Revolução Industrial contribuíram para que as cidades se tornassem o centro dinâmico do Capitalismo. Como resultante deste processo, as cidades brasileiras aparecem como um mosaico entre o “moderno” e o “arcaico”, onde o primeiro é representado por projetos arquitetônicos e intervenções urbanísticas, enquanto o “arcaico” é associado à imagem caótica, ligado ao crescimento das periferias urbanas, cuja concentração da pobreza e violência reflete na segregação e/ou exclusão sócio-espacial da classe trabalhadora. O presente trabalho busca realizar uma análise dos problemas socioambientais que resultam das desigualdades geradas pelo modelo dual que caracteriza o desenvolvimento urbano brasileiro, tendo como objetivo principal fazer uma reflexão dos problemas que afligem as populações residentes no entorno de três lagoas (i.e.; Vigário, dos Prazeres e do Sapo) que ficam localizadas na área urbana de Campos dos Goytacazes (RJ).

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Os resultados obtidos demonstram que a ação do Estado tende a agravar as condições existentes nas regiões urbanas periféricas ao concentrar a instalação da infra-estrutura em áreas ocupadas pelas classes mais abastadas. Por outro lado, as intervenções estatais sendo realizadas em regiões urbanas periféricas que contenham áreas de interesse ecológico se apropriam do discurso ambiental para realizar uma reorganização autoritária do espaço, gerando uma dinâmica que tende a agravar o processo de segregação sócio-espacial no interior do espaço urbano.

Cláudio Antônio Santos Monteiro (USS/Vassouras) As festividades cívicas das repúblicas Francesa, Chilena e Argentina na capital da corte brasileira segundo a percepção da diplomacia francesa no Rio de Janeiro (1881-1889) Durante a última década do Império no Brasil, o Rio de Janeiro, capital da corte, foi um dos espaços privilegiados para a propagação e promoção dos ideais republicanos. Centro do poder imperial, o município neutro, ao final dos anos 1880, abrigou as festividades cívicas promovidas pelas Legações Chilena, Argentina e Francesa no Brasil. Nessas ocasiões, a atenta diplomacia francesa estabelecida no Rio de Janeiro, pode tomar o seu partido, emitindo avaliações políticas para o Quai d’Orsay a respeito da estabilidade da coroa brasileira e sobre a utilidade ou não, para a França da III República, da manutenção do trono de dom Pedro II no Brasil.

Cláudio Antônio Vieira da Silva (UFPE) Cidades históricas: Geoprocessamento para o ordenamento territorial Marcas e representações históricas são realidades presentes em muitas cidades brasileiras, geralmente elas são de caráter religioso e militar tais como igrejas, conventos e fortificações. Cidades de cunho histórico apresentam diversos desafios, sobretudo na manutenção, preservação e exploração do seu patrimônio, o que requer cuidado e atenção diferenciada por parte dos gestores públicos e da sociedade civil como um todo. Desse modo, faz-se necessário trabalhar o ordenamento territorial, com a finalidade de propor melhorias na forma de organização interna do espaço e no planejamento urbano. A área de estudo é o município de Igarassu localizado no litoral norte do Estado de Pernambuco e que faz parte da Região Metropolitana do Recife (RMR), na qual se apresenta um conjunto histórico-arquitetônico tombado e reconhecido pelo IPHAN. Criada em 1534, a vila de Igarassu apenas se constituiu em município autônomo em 1893 e somente foi elevada à categoria de cidade em 1895 segundo a Condepe/Fidem 2006; e historicamente, este município é conhecido como um dos primeiros núcleos de povoamento do Brasil. A proposta deste trabalho é tratar o ordenamento territorial através do uso de softwares tais como TerraView e ArcGis, como instrumento para o estudo do planejamento urbano, pois a ferramenta digital apresenta inúmeras

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aplicações e diversos campos de atuação, e seu uso vem se tornando indispensável e cada vez mais necessário, sobretudo por proporcionar maior eficiência no processamento de dados, executar mapeamentos e contribuir para organização das informações em formato de banco de dados. Em suma, pretende-se contextualizar o município de Igarassu na RMR, observando sua importância econômica e histórica, e mostrar como o geoprocessamento pode ser útil para o planejamento territorial, solucionando, por vezes, alguns problemas típicos do ambiente citadino.

Crisley Silveira Raitz (UDESC) O rural e o urbano em Erval Velho: Hábitos e migrações A discussão sobre o que é urbano e o que é rural é extensa e complexa, não é objetivo aqui elucidar tais conceitos, apenas faremos um apanhado geral sobre algumas das teorias existentes e a partir desse embasamento teórico faremos reflexões acerca da realidade da cidade de Erval Velho — cidade com cerca de 4 mil habitantes localizada no centro oeste catarinense. Essa reflexão se faz importante para entendermos processo que tem ocorrido na cidade. O êxodo que tem sido um problema constante no Brasil, é causado principalmente pelo desemprego e a pouca qualidade de vida no meio rural. O município de Erval Velho, tem apresentado, segundo os censos populacionais, queda da sua população a partir de 1970. O que queremos entender com o presente artigo é saber se o êxodo existente no município é rural — quando as pessoas que migram, vivem de renda vinda de atividades rurais como agricultura ou pecuária — ou é urbano — quando as pessoas que migram já viviam de empregos ditos urbanos como os empregos no comércio ou funcionalismo público, por exemplo. Isto porque dependendo do tipo de êxodo que ocorra em uma cidade, no caso, de uma pequena cidades, é possível detectar, com mais precisão, as causas da migração. Esse conhecimento de causa pode tornar-se mais uma ferramenta de combate ao esvaziamento do campo e inchaço demográfico dos grandes centros urbanos. Os dados serão obtidos através de entrevistas realizadas com pessoas que migraram de Erval Velho.

Cristiane Rovetta Gomes (Ufes) Mendicantes e judeus: Projetos de conversão O presente estudo visa analisar o processo de exclusão social sofrido pelos judeus durante a Baixa Idade Média. O nosso olhar está voltado aos reinos ibéricos, a saber: Castela e Aragão. O recorte temporal é centrado nos séculos XII a XIV. Pretendemos analisar a tensa relação entre as comunidades judaicas e a Igreja, em especial com as ordens mendicantes: dominicanos e franciscanos. A campanha para a conversão de infiéis seja de judeus ou de muçulmanos se configura como uma espécie de Cruzada espiritual, uma luta entre a verdade cristã e a cegueira dos “outros”. Um processo de exclusão social é articulado por diversos elementos do espectro social tendo os mendicantes como líderes deste processo. Este trabalho está sendo iniciado através de um Pivic Ufes.

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Damaris Naim Márquez (Unipac-MG), Lívia Coutinho (Unipac-MG) & Paulo Rodrigues Costa (Unipac-MG) Postos de saúde: Lugares de prosa e práticas de sociabilidade na organização do espaço social Este estudo objetiva discutir a relação do poder público e a saúde em Araguari, cidade localizada no Triângulo Mineiro, visando à reconstrução da memória social, numa perspectiva interdisciplinar, conjeturando sobre as estratégias de apropriação e usos do espaço — tanto físico como social — e seus reflexos na afirmação das representações coletivas sobre a preservação e ações voltadas para a saúde. Nesse sentido, estarão em tela as relações de poder e resistência geradora de conflitos sociais diversos, por exemplo, no âmbito da saúde e o adestramento das sociabilidades. Para tal fim, este trabalho utiliza-se dos artigos dos jornais locais sobre a saúde, bem como a relativa às ações do governo municipal. Dessa forma, ressaltamos a importância e possibilidades de se pensar as experiências dos moradores araguarinos em torno da doença e da saúde esquadrinhando variados aspectos do cotidiano e seus arranjos sociais específicos. Debruçar-se sobre um tema como esse implica estabelecer um dialogo constante com áreas de conhecimento diversas. Assim, procuramos explicitar a importância da saúde na análise histórica refletindo sobre o debate que passa a ganhar fôlego entre pesquisadores da saúde e da história social, apontando para as múltiplas e complexas relações de poder tecidas nestes espaços sociais marcados pela experiência do cotidiano, onde os discursos e os silêncios se expressam dentro desse quadro.

Damiana Bregalda (UFRGS) Grupos indígenas nos espaços urbanos: Apropriações materiais e simbólicas “kaingang” em Porto Alegre, Rio Grande do Sul Desde os processos de colonização do estado do Rio Grande do Sul, mas especialmente com as políticas de confinamento territorial implementadas pelo Estado brasileiro no século XX, os territórios indígenas kaingang são reduzidos a alguns aldeamentos localizados no planalto do estado. Porém, tais medidas não impediram a circulação de indígenas kaingang pelos territórios onde as grandes cidades são edificadas, especialmente Porto Alegre e região metropolitana. As idas à Porto Alegre no decorrer do século XX envolviam negociações das lideranças indígenas com o governo do estado, assim como possibilitavam a manutenção de vínculos e circulação destas pessoas pelo território. O cenário da ocupação territorial indígena no Brasil é reconfigurado com a Constituição Federal de 1988, que passa a garantir a posse e demarcação das terras tradicionalmente ocupadas por estes grupos. Desde então, os grupos indígenas kaingang passam a ser visibilizados nos espaços urbanos e, articulados, iniciam demandas de demarcação de terras situadas na cidade de Porto Alegre e região metropolitana. Este trabalho visa

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apontar para a perspectiva de ocupação e relação deste grupo indígena com os espaços urbanos em Porto Alegre, enfatizando como esta inserção é sustentada por uma cosmologia específica. Meu esforço será o de abordar as formas atuais de relacionamento com diferentes espaços que compõem a cidade, bem como buscarei demonstrar de que maneira, tanto a ocupação destes territórios como as atividades cotidianas destes grupos os vinculam ao tempo, aos caminhos e às práticas dos “antigos”, seus antepassados que circularam por estes territórios.

Daniela Cristina Pacheco (UFG) A procissão da deusa Ísis no romance “Metamorfoses”, de Lúcio Apuleio O romance Metamorfoses é permeado por religiosidade, festas e magia, as quais retratam a sociedade nas províncias afro-romanas do século segundo depois de Cristo. Neste universo apuleiano, enfatizaremos a procissão da deusa Ísis para analisar a singularidade do ritual, as motivações religiosas e as práticas de poderes no festejo isíaco.

Daniela C. Bissoli (Ufes), Martha M. Campos (Ufes) & Viviane L. Pimentel (Univix) Proteção da paisagem da área central de Vitória (ES/Brasil): O planejamento entre a história e a cidadania A proteção da paisagem da Área Central da cidade de Vitória (ES/Brasil) é a problemática que conduz este trabalho. Os processos de modificação dessa paisagem são analisados por meio de estudo retrospectivo desde a vila colonial ao atual centro histórico da capital. Esse estudo destaca o processo de urbanização da área e de seu impacto na paisagem, mediante intensificação das dinâmicas de metropolização da região da Grande Vitória. Investiga-se, em específico, o papel das práticas sociais de cidadania das praças Costa Pereira e Oito de Setembro, na transformação dos elementos paisagísticos da área, de modo articulado as intervenções urbanísticas que visavam sua reestruturação física, que potencializaram ou limitaram essas práticas. Este trabalho contempla análises e propostas de proteção e preservação dos elementos e conjuntos construídos e naturais referenciais da paisagem da Área Central de Vitória, contidos nas praças mencionadas, considerados estruturadores da imagem coletiva, identidade cultural e memória social da área. Trata-se dos resultados alcançados no Plano de Proteção da Paisagem Área Central de Vitória, atualmente em desenvolvimento, que visam à formulação de diretrizes e legislação urbanística para fins de orientação da ocupação urbana da área, de modo a valorizar sua paisagem. As análises realizadas no trabalho indicam a importância de se confrontar os resultados advindos do referido plano, frente às mudanças do papel dos espaços públicos na constituição da paisagem urbana, isso no âmbito geral do planejamento urbano e intervenções em centros históricos, considerando interfaces entre planejamento.

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Daniele Chaves Amado (UFF) “Salvando a princesinha do mar”: “Última Hora” e a campanha de saneamento moral de Copacabana O objeto desta comunicação é a campanha moralizadora do bairro de Copacabana, empreendida pelo periódico Última Hora. Tal campanha realizada pelo periódico durante o mês de setembro de 1952 pretendia, inicialmente, impedir que o bairro se transformasse no Bas-fond da cidade e resultou em uma mesa-redonda que contou com a participação do chefe de polícia do Distrito Federal, general Ciro Rezende, do delegado de Costumes e Diversões, dr. Cícero Brasileiro de Melo, além de outras personalidades consideradas pertinentes para o debate pelos organizadores do evento. Durante todo o mês o periódico publicou matérias que justificassem ou apontassem os resultados da campanha, assim como a íntegra da mesa-redonda e as promessas feitas pelo chefe de Polícia. O movimento tinha como alvos as boates, intituladas antros de degradação moral, apontadas como uma das corruptoras da juventude do bairro e vistas como redutos de elementos perturbadores da ordem pública (malandros, mulheres de vida fácil, usuários de drogas, arruaceiros, ladrões), além da prostituição ambulante, considerada ofensiva aos moradores e um espetáculo prejudicial ao turismo. Assim, temos como proposta a análise de algumas questões relativas à campanha de saneamento moral de Copacabana, tais quais: Procurar entender as motivações do periódico para promover esta campanha ferrenha, colocando-se como portavoz dos moradores de Copacabana; Averiguar possíveis relações entre a campanha e o governo Vargas; Verificar as principais queixas dos moradores de Copacabana apontadas pela Última Hora; Analisar o perfil dos debatedores selecionados pelo jornal, assim como as convergências e divergências entre suas opiniões quanto aos problemas levantados durante a mesa-redonda.

Daniele Crespo de Morais (FIS) O cotidiano policial na cidade do Rio de Janeiro e suas interfaces (1902-1906) A cidade do Rio de Janeiro ainda mantém, como herança de tempos anteriores, sua belíssima natureza. Essa mesma natureza, porém, foi deveras inóspita aos primeiros conquistadores. O espaço urbano foi duramente construído com aterros e desmontes e moldado a partir de atividades econômicas e estratégias geopolíticas. Nesta cidade, com características extremamente peculiares, foram estabelecidas diversas formas de sociabilidade e padrões de sobrevivência. Porém, tais características e padrões não foram considerados adequados ao grande projeto de transformação republicana, que reservara para cidade o posto de Capital Federal e o de cartãopostal do Brasil moderno e civilizado. Dar-se-ia então a grande transformação da velha capital colonial na “Paris dos Trópicos” a partir de um projeto reformista, executado pelo então presidente Rodrigues Alves e pelo prefeito Pereira Passos. A tentativa de reordenação do espaço urbano a partir de modelos extrínsecos desconsideraram que tais modificações desarticulariam

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os meios e as formas de vida dos populares. Assim, a disciplinarização da urbe a partir de mudanças arquitetônicas, econômicas e culturais e a ausência de novas propostas para integração dessa parcela da população no novo contexto, contribuiu para o fortalecimento do aparato policial, peça-chave para implantação do projeto. Através da análise do cotidiano policial do Rio de Janeiro no dado momento, poderemos refletir sobre o papel da polícia enquanto elemento ordenador e agente de repressão. Além disso, poderemos observar o cotidiano dos populares e a forma como vivenciaram as transformações e se relacionaram com a polícia.

Daniele Salomão (UERJ) Malinalli e Llorona: Um mito que ronda as cidades do México Um mito é onipresente nas cidades mexicanas, e este mito faz parte da formação do México até o século XXI. A mulher que foi a intérprete de Cortés, amante, guerreira, forte, valente, tornou-se alma penada, por vezes, monstro. É conhecida por Malinalli (ou Malintzin) que ao passar dos séculos foi ganhando vários nomes: para a nação mexicana, ela é a excluída, a maldita, a alma penada. Ela é a ‘Llorona’, que, no imaginário dos mexicas, está sempre a caminhar pelas ruas, ou à beira do rios, gritando: ‘ay, mis hijos!’, invocando, assim, a idéia da mãe de um povo mestiço. O paradigma da mestiçagem. É a ‘mãe fundadora’, a mãe simbólica dos mexicanos, a partir dela a linguagem mudou. Passou de dialetos ao Espanhol. A mulher que trouxe a mestiçagem às terras do México, é ‘la chingada’, e também é o nome de um vulcão. Enfim, personificando “a figura emblemática do mal”. Curiosamente, essa mulher chorosa, que grita por seus filhos, é a mesma que os mata quando estes vêm acudi-la. De um lado a Eva mexicana a desvirtuar, de outro a Virgem de Guadalupe a guardar a cidade e o seu povo. Assim como, de um lado estavam heróis Hidalgo e Morellos que se tornam símbolos do nacionalismo mexicano, os quais lutaram contra conquistadores espanhóis. E, de outro, Llorona — imagem da insatisfação e desprezo pela matança em Cholula e outros mais. Por ser o arquétipo da traição a condenaram a ser chorona. O choro desta mulher vai ficar relembrando o que a memória nunca pode esquecer.

Danilo Ornelas Ribeiro (UESC) Por um centro harmonioso: A Companhia Urbanizadora e o choque de cotidianos na cidade de Itabuna-BA nos anos 1960 A Companhia Urbanizadora de Itabuna (CURSITA), criada em 1963 e extinta em 1968, tinha entre seus objetivos remover do centro da cidade barracas e barraqueiros, considerados insalubres e anti-higiênicos por setores das elites urbanas itabunenses. A presente comunicação tem como objetivo discutir a formação e os modos de fazer de grupos citadinos empenhados em impor uma modernidade, traduzida em projeto urbanístico, pelo controle do centro da cidade e pela construção de uma hegemonia.

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O centro da cidade de Itabuna nos anos 1960 foi um espaço forjado a partir de choques e tensões de cotidianos, possibilitada pela atuação de diversos grupos citadinos, como as elites urbanas, com suas residências, estabelecimentos comerciais, consultórios, escritórios, entidades sociais e departamentos do poder público, mas também pela presença de setores populares, vindos principalmente das periferias, ocupando as artérias do centro com suas barracas e exercendo seus cotidianos de trabalho e outras vivências, muitas vezes não condizentes com o ideal de urbanidade dos grupos de elites. Desse modo, a trajetória da CURSITA se constitui enquanto eixo condutor para se investigar e analisar as elites locais itabunenses. A construção da biografia coletiva do grupo citadino, membros da CURSITA, será a metodologia utilizada para estabelecer redes e identificar os sujeitos. As fontes que sustentam esta análise são constituídas de periódicos, atas de câmara, textos memorialísticos e materiais iconográficos.

Darlan Silveira Campos (Ufes) Bernardo Pereira de Vasconcelos e a História Parlamentar brasileira (1826–1840) O presente trabalho busca analisar o pensamento político brasileiro no século XIX, em especial, o que girou em torno do Parlamento Nacional e da construção do Estado nacional, logo após o vazio de poder deixado pela Independência. Num momento onde havia medo e incerteza, onde a nação apresentava um conjunto de fatores dissociados e peculiares ao momento, na confusão das tendências particularistas das províncias, com revoltas e conflitos regionais, o país teve que repensar suas próprias instituições e leis, sendo este um momento profícuo para analisar a ação de brasileiros como Bernardo Pereira de Vasconcelos. Foi um dos grandes políticos do Império e da História Parlamentar brasileira, que muito contribuiu para construção do arcabouço jurídico-institucional do Estado nacional.

Davis M. Alvim (Cesat/PUC-SP) Resistência, poder e nomadismo em Michel Foucault e Gilles Deleuze No mundo contemporâneo global o problema da resistência tornou-se vital. Buscando uma aproximação da questão, o trabalho compara e relaciona os conceitos de poder e resistência no pensamento dos filósofos Michel Foucault e Gilles Deleuze.

Débora Cristina Alexandre Bastos e Monteiro de Carvalho (UFJF) De Lisboa ao Rio de Janeiro: Correspondências do Conde Funchal em tempos de crise (1803-1814) A comunicação tem por objetivo apontar alguns resultados da pesquisa em torno de D. Domingos Antônio de Sousa Coutinho, Primeiro Conde e Marquês do Funchal, nascido em 1760, em Vila

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Real (Chaves-Portugal), irmão de D. Rodrigo de Sousa Coutinho (Conde Linhares). Para isso, pretende-se utilizar parte do Corpus Documental que o envolve, composto por algumas de suas correspondências durante sua estadia na Legação Portuguesa em Londres entre os anos de 1803 a 1814. Tal momento se desdobra num período-chave para a compreensão das relações estabelecidas entre as duas monarquias diante das transformações impostas pela expansão napoleônica. Esse trabalho visa também discutir a utilização das correspondências enquanto fonte, além também de uma discussão em torno do que a historiadora Ângela de Castro Gomes denominou de “a escrita de si”, levando em consideração o movimento de retorno da denominada nova história política.

Denis Pereira Tavares (UFSJ) “São João del-Rei: A cidade que não olhou para trás”. Leituras da aceleração espaço-temporal de São João del-Rei entre os anos de 1938-1947 Espaço e tempo são duas categorias de percepção complexas e indissociáveis que possibilitam ao historiador a apreensão da conjuntura histórica. A pesquisa, desenvolvida no âmbito do Núcleo de Investigações em Justiça Ambiental (NINJA) da UFSJ, se esforçou em captar a forma com que os citadinos definem uma temporalidade em decorrência de suas próprias percepções, imaginações e experiências espaço-temporais. Nessa perspectiva, concentramos nossa análise nas “representações” que os jornais locais Diário do Comércio e O Correio elaboraram e projetaram sobre São João del-Rei entre os anos de 1938 a 1947, em uma conjuntura de transformação no perfil populacional, industrial e urbano da cidade. Também nos esforçamos em apreender as formas com que tais “representações” se relacionam, legitimam e viabilizam as “práticas” de interferência, produção e organização desse próprio espaço físico. Constatamos nas representações temporais um privilégio dado ao futuro e, concomitantemente, certa hipertrofia das possibilidades do fenômeno moderno. Cabe destacar, que nesse contexto, houve um empenho sistemático do corpo editorial dos dois jornais no sentido de tornar São João del-Rei mais conhecida a partir das próprias “especificidades” de seu progresso material e de desfazer da imagem de cidade vinculada exclusivamente ao passado.

Denise Carla Goldner Coelho (Ufes) Abrigos para crianças e adolescentes: Marcando espaços na cidade A Política Pública direcionada à infância no Brasil, quando amparada pelos antigos “Códigos de Menores”, fundamentou-se em práticas de regulação e controle, respondendo ao estranho e ao indomável de uma única forma: asilando. O Estatuto da Criança e do Adolescente dá nova visibilidade à infância e propõe projetos de intervenção considerando a dinâmica das cidades.

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O presente trabalho se propôs a investigar a lógica das políticas públicas destinadas à infância e à juventude presente nos abrigos na cidade de Serra/ES. Por meio de pesquisa-intervenção e do método cartográfico, acompanhou-se a realização da 6ª Conferência Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o cotidiano dos 15 abrigos infanto-juvenis do Município e a produção de três grupos de discussão com atores destes abrigos, procurando evidenciar e problematizar as práticas e concepções presentes nessas instituições, a história de seus movimentos, sua processualidade, seus padrões e ideais. O Município de Serra, Região Metropolitana de Vitória/ ES, inscreve histórica e geograficamente, em sua superfície irregular, a desigualdade social: conjuntos habitacionais, centros comerciais e indústrias em regiões mais planas e nas áreas frágeis e desprotegidas estão os casebres, a pobreza. São estes lugares que ganham estigma de serem violentos, dominados pelo narcotráfico e extremamente perigosos, criando a percepção de que seus moradores são os agentes dos grandes males sociais. Para tirar as crianças desse meio social, tirá-las da rua, são propostos projetos sociais como as jornadas ampliadas e os abrigos. Verificam-se padrões e ideais, rupturas e novas constituições convivendo em constante conflito no abrigo. Porém, é notável que as políticas públicas de atenção à criança e ao adolescente têm servido à desqualificação de determinados grupos populacionais, imprimindo-lhes uma incapacidade de proteção aos filhos e, por isso mesmo, impondo-lhes vigilância e controle.

Denise Lima Rabelo (Ufes) No cotidiano do transporte coletivo: O fraco contra o fraco Para Certeau, o homem comum não é passivo e sim um consumidor inventivo: essa invenção do cotidiano se dá graças ao que ele chama de “artes de fazer”, “astúcias sutis”, “táticas de resistência” que vão alterando os objetos e os códigos, e estabelecendo uma (re)apropriação do espaço e do uso ao jeito de cada um (DURAN, 2007, p. 117). O transporte coletivo se caracteriza pela variabilidade das pessoas com as quais nos encontramos a cada dia: somos anônimos. Pode-se pensar inicialmente que a maioria dos passageiros de um mesmo coletivo, ainda que diferentes em idade, sexo, estado civil, escolaridade, renda etc., são iguais no fato de serem sujeitos sem poder, pelo menos temporariamente, enquanto no interior do ônibus. Eu não conheço o Outro que está no ônibus, só sei de mim. E, ao retratar todas as dificuldades que verifico no transporte coletivo, faço uma separação: de um lado eu, do outro lado os Outros que me incomodam. Sei que esse Outro que me incomoda não é um incomodante: ele foi colocado numa situação de incômodo. Porém, de acordo com Baumann, não existem determinismos na vida social [...] Os atores sociais podem exercitar “a capacidade de modificar o curso dos acontecimentos a partir de novos investimentos nas relações e nos vínculos, entendidos como elementos essenciais na construção de um novo capital social. Não de modo ingênuo, mas segundo uma reflexão contínua e séria sobre as condições do próprio agir.” (2009, p. 121).

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Denise Pereira (UEPG) Festa de Sant’Ana: Uma cultura como crença na cidade de Ponta Grossa-PR O artigo leva em consideração a importância da festa religiosa mais popular na cidade de Ponta Grossa-PR, a Festa de Sant’Ana que, como toda festa, é um cenário privilegiado para observações, pois possui elementos próprios da cultura popular. Esta festa, que permeava toda a sociedade local e era comemorada desde a primeira metade do século XIX, é considerada como a maior celebração religiosa da região. Trabalhamos com o período que apontado romanizador entre 1930-1965. Esse período foi marcado por algumas formas de mudanças no chamado catolicismo tradicional, de herança portuguesa, que aos poucos foi substituído pelo catolicismo romanizado. Analisamos como a Igreja, através de seu prelado, reagiu à festa popular e, simultaneamente compreendemos a representação simbólica dessa prática cultural no campo religioso. Deste modo, procuramos através dos artigos do Diário dos Campos, jornal local, de um lado demonstrar algumas formas de continuidades e mudanças do catolicismo popular, por outro lado, buscamos mostrar as estratégias de controle e tolerância exercidas pela Igreja.

Denise Silva Telles (Ufes) & Kamila Zamborlini Waldetario (Ufes) Cristina Engel de Alvarez (Ufes) O direito à cidade sustentável como paradigma de qualidade urbana Impulsionadas desde o processo de industrialização, as cidades assumiram um papel centralizador e atrativo, fazendo surgir grandes aglomerações urbanas, cujos problemas são considerados os principais sintomas da “insustentabilidade” do modo de vida urbano. O direito à cidade não é simplesmente o direito à cidade existente, mas o direito de participar das decisões de transformá-la para satisfazer com equilíbrio as necessidades humanas, permitindo às futuras gerações condições e recursos para também exercer este direito de decisão na busca de um ambiente urbano de qualidade. Este trabalho objetiva discutir a aplicação dos conceitos de sustentabilidade à diretriz de direito à cidade, como proposta para o desenvolvimento da dinâmica urbana contemporânea. Através da revisão bibliográfica sobre o processo de urbanização das cidades; da análise das relações entre a sociedade, seus modos de produção e consumo e a consequente transformação do território em que estão inseridos; da compreensão da evolução do direito urbanístico a partir do surgimento do conceito de desenvolvimento sustentável; e da analise do incremento da qualidade urbana em exemplos contemporâneos de aplicação deste conceito, esta pesquisa demonstra a aplicabilidade deste novo “modus operandi” como evolução do relacionamento cidade-cidadão e como possibilidade viável e pragmática de transformação econômica, social e ambiental do meio urbano.

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Diego Gobo Porto (Ufes) As disputas entre Buenos Aires e as províncias do interior na formação do Estado Nacional Argentino Após o processo de independência da Argentina, outro importante processo histórico teve início: a construção do Estado Nacional. Essa tarefa não foi nada fácil. Acompanharam-na conflitos intestinos entre pensadores e políticos que defendiam uma nação “una e indivisível”, sob os auspícios de Buenos Aires, e aqueles que objetivavam um Estado descentralizado, onde as províncias não se submeteriam ao domínio portenho. Em outras palavras, a disputa entre os defensores da centralização e da descentralização. Tal querela fora representada por dois partidos: o Unitário e o Federalista. Nesse debate, destaca-se, entre outras, a figura de Domingo Faustino Sarmiento (1811-1888). Ele defendia a união da nação sob a liderança de Buenos Aires. Esta era apresentada como o centro da civilização na Argentina, o que justificaria sua supremacia sobre as demais. O presente trabalho tem a finalidade de analisar aspectos dessa defesa no contexto das disputas entre a cidade-porto e as províncias do interior na Argentina.

Diogo Pereira Lube (Centro Universitário São Camilo) Jornal “O Marco” (1979-1984): Um ensaio informativo de uma contracultura cachoeirense No final da década de 70, nasce em Cachoeiro de Itapemirim-ES, um periódico local denominado “O Marco”, que se mostrou como veículo de reação e oposição aos valores antidemocráticos do Regime Militar. O jornal foi organizado por universitários (denominado de Grupo dos Morcegos) ligados a segmentos políticos da Igreja Católica que usaram a denúncia da realidade imposta, como temática principal. Sem plagiar as idéias de movimentos como o “Maio de 68 francês”, ou “os Provocadores de Amsterdã”, O Marco promoveu, com caráter próprio, um espaço para discussão de religião, política e cultura em Cachoeiro de Itapemirim no período da repressão política. O grupo dos Morcegos (que se reuniam nas madrugadas) e o jornal paralisaram suas ações na década de 80, mas deixaram algumas lições principalmente no que se refere às ações nas comunidades, aos questionamentos à conduta da Igreja e o grande desejo de desafiar, inovarem um momento de repressão e censura.

Douglas Silva Rabbi (Ufes) A Conferência de Estocolmo, o Brasil e a questão da energia renovável (1970-1975) O Brasil tem se destacado nas Conferências Ambientais das Nações Unidas desde a primeira delas, Estocolmo, 1872. Por meio de estudo comparado da análise da conjuntura externa realizada em 2006 por André do Lago sobre o Brasil e o meio ambiente na Conferência de Estocolmo com a análise interna do setor de energia elétrica feita por José Luiz Lima em 1995, pretendemos

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ponderar a situação do Brasil quanto ao desenvolvimento de energias renováveis na primeira metade dos anos 1970. Sob o pano de fundo do milagre brasileiro, entre os anos 1968 e o primeiro choque do petróleo em 1973, destacamos Estocolmo num período de ordem bipolar na estrutura internacional e a ditadura militar na organização interna do Estado brasileiro. No crescimento da produção interna de energia, os governos militares priorizaram projetos como o de Itaipu, com início de obras em 1971, o programa de energia nuclear, com Angra I em 1972, programas de substituição da importação do petróleo, como o Pró-óleo e o Pró-álcool, de meados dos 1970. Ainda no ano de 1974 temos a descoberta de petróleo na bacia de Campos. Deste modo, observamos o crescimento da participação econômica das empresas estatais no setor de energia, seja hidroelétrica ou de combustíveis fósseis e vegetais. Assim, analisaremos o primeiro de três momentos de alinhamento do Brasil com a questão das energias renováveis a partir de Estocolmo, entendendo que neste período tanto a matriz energética renovável quanto os programas de biocombustíveis tinham um caráter antes econômico que ambiental, posicionamento mudado mais adiante, nas Conferências do Rio em 1992 e de Joanesburgo em 2002.

Edna Mara Ferreira da Silva (UEMG) O sul das Minas, fronteira e sertão: Aspectos da formação da Vila de Campanha da Princesa — século XVIII O arraial de Campanha do Rio Verde, estabelecido ao sul da capitania de Minas Gerais ainda na primeira metade do século XVIII, passou a condição de vila em 1798. A fundação dessa vila na Comarca do Rio das Mortes definiu a fronteira administrativa entre as capitanias de São Paulo e Minas Gerais. No entanto, o estabelecimento dessa fronteira, não definiu da mesma forma o fim da influencia política e cultural da capitania de São Paulo na região. Moradores das freguesias que compunham o território definido pela nova vila, os sertões do Rio das Mortes, afirmavam em momentos distintos estarem sujeitos ao governo da cidade de São Paulo e não ao da capitania de Minas Gerais. Fundamental para essa influencia tão marcada dos paulistas na região foi a grande mobilidade que tinham naquele território. Cortado por várias picadas e caminhos clandestinos, o sertão do Rio das Mortes era a porta de entrada dos paulistas para outras regiões das Minas. Buscamos dessa forma, discutir as aproximações e rupturas nos discursos políticoadministrativos que consolidaram a definição dessa fronteira a despeito da própria influencia proclamada pelos moradores da região do governo de São Paulo. Região de litígio entre as duas capitanias durante praticamente todo o século XVIII, o sertão do Rio das Mortes assinalado pela mobilidade paulista e pelas tentativas de ordenamento das autoridades coloniais mineiras, nos revela intricados embates de questões político-administrativas e culturais para além do próprio estatuto de nossa fronteira colonial.

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Edson Alvisi Neves (UFF) A Corte Legislativa do Brasil no século XIX Essa exposição busca resgatar as circunstâncias em que se deram a construção da ordem jurídica do Brasil no século XIX, considerando as forças que incidiram sobre a sede legislativa do país e constante redistribuição de forças políticas. O foco principal é a legislação de Direito Privado, que centralizarão as discussões na segunda metade do século e decorre das disputas travadas pelo modelo de Estado e serviram de palco para os juristas utilizarem a retórica como ferramenta de imposição de suas convicções a serviço do Estado e dos interesses econômicos.

Edson Moreira Guimarães Neto (UFRJ) Os jogos de poderes nos banquetes privados atenienses (séculos VI-IV a.C.) Os banquetes privados eram o momento mais característico de entretenimento na vida cotidiana das elites atenienses. Em nossa comunicação, pretendemos mostrar como o caráter agonístico da pólis estava presente mesmo nos momentos de prazer, pois os convivas (dos sympósia) disputavam as mais desejadas cortesãs (através de diversos tipos de jogos), ao mesmo tempo em que essas competiam entre si para demonstrarem quem era a mais habilidosa e, portanto, mais valiosa.

Eduardo Gomes de Oliveira (Fiocruz) Cidade e loucura: A Atenas Brasileira e os espaços de assistência aos alienados (1880-1900) Em meados do século XIX se constrói frente ao espaço urbano de São Luís, uma cidade imaginária que a sobrepõe, um lugar onde se falaria o melhor português do Brasil, sendo palco ainda de grandes debates literários e políticos. Uma cidade letrada e civilizada chamada de “Atenas Brasileira”, um cognome diferenciador na tentativa de dar conta de um projeto civilizacional para uma população que, tal como a Atenas Clássica, se diferenciaria pelo uso da razão e da intelectualidade. Neste contexto do imaginário local, situa-se um projeto de modernização da urbe ludovicense pautado na racionalização do espaço urbano através das práticas sanitaristas e higienistas. Dentro deste espaço pautado na idéia de modernidade e civilização os loucos são um impasse, sendo necessário deslocá-los do ambiente urbano e criar espaços afastados da cidade para que pudessem ser submetidos a terapêuticas médicas.

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Eduardo H. B. Vasconcelos (Faculdades Cearenses) A “anteriorização” da metrópole O presente trabalho tem como objetivo discutir as ações ocorridas 1750-1822 enfocando a realidade da Capitania subalterna do Siará Grande, posteriormente Província do Ceará, argumentado que processo de transformações desencadeadas nas relações Portugal e Brasil que resultou na “interiorização da metrópole” não se restringiu a então Cidade-Capital, Rio de janeiro, e esta ao ser tomada como centro único apóia-se não no saber histórico e sim dentro do mito da “ilha Brasil” ainda hoje perpetuado pela historiografia brasileira.

Eduardo Rodrigues Gomes (UFF) As transformações urbanas no Centro de Vitória (ES) na Primeira República Na Primeira República, período histórico brasileiro ocorrido entre 1889 a 1930, a administração do Estado do Espírito Santo pelo governo de Muniz Freire (1892-1896) iniciou — com realização de obras públicas no Centro (principalmente na parte conhecida como “Cidade Alta”) — as primeiras transformações urbanas significativas nessa parte da cidade de Vitória, a capital do estado. Mas é importante ressaltar que dentre as intervenções urbanas mais relevantes realizadas por Freire, a de maior destaque ocorreu fora do Centro da cidade, e ficou conhecida como o “Projeto do Novo Arrabalde”. O início do século XX em Vitória foi marcado por graves problemas financeiros em conseqüência da crise do mercado internacional do café. No final da primeira década desse século, com o retorno da estabilidade financeira, se inicia no Centro as obras públicas de urbanização de maior amplitude, que transformará profundamente a sua estrutura urbana interna. A cidade cresce e se adapta a este desenvolvimento, modificando as suas características coloniais. Esse período de equilíbrio nas finanças, governado por Jerônimo Monteiro (1908-1912), é marcado pelas alterações na organização espacial do núcleo urbano da cidade de Vitória, com serviços urbanos e melhoramentos em infra-estrutura. O destaque do governo de Monteiro foi a criação do “Serviços de Melhoramentos do Porto” e a execução do aterro do Campinho. A década de 1920 é outro período marcado por significativas transformações urbanas no Centro da cidade, com destaque para a administração de Florentino Avidos (1924-1928), sendo reiniciadas nessa década, as obras de construção do Porto. Outras obras de relevo realizadas por Avidos no Centro foram: a abertura da Avenida Jerônimo Monteiro, a inauguração da Praça Costa Pereira, a construção da Ponte Florentino Avidos (popularmente conhecida como ‘Cinco Pontes’), a pavimentação/retificação de várias ruas do Centro, e a construção de edifícios públicos modernos.

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Elizabeth Johansen (UEPG) Fontes para o estudo urbano: A organização do acervo de plantas arquitetônicas existente na Casa da Memória Paraná O presente projeto organiza o acervo de plantas arquitetônicas existentes na Casa da Memória Paraná, na cidade de Ponta Grossa (PR). O que justifica o desenvolvimento dessa atividade é o entendimento que os arquivos são um objeto cultural quando socialmente usados. Ou seja, atualmente, deparamo-nos comumente com depósitos de papéis sem organização, nem lógica de funcionamento e que erroneamente podem ser conhecidos como arquivos. Esse não é o caso da Casa da Memória Paraná, no entanto, devido à carência de mão de obra qualificada para a catalogação de todo seu acervo, parte dele continua fechado para pesquisa, não cumprindo sua função social. Dessa forma, o presente projeto propõe a realização de diversas atividades, ou seja, a partir da organização; higienização; catalogação; alimentação de um banco de dados virtual e a criação de um instrumento de pesquisa com as informações levantadas, pesquisadores em geral, não apenas historiadores poderão ter acesso a um rico acervo que está praticamente fechado para o desenvolvimento de estudos sobre elementos arquitetônicos, processo de urbanização local, mão de obra específica, além de outros aspectos que as plantas disponibilizam. Partindo desses pressupostos, o atual projeto atende a essa demanda de fonte de pesquisa diferenciada sobre diversos aspectos urbanos e de organização de acervos, ao mesmo tempo em que possibilita aos acadêmicos dos cursos de Bacharelado e Licenciatura em História da UEPG a oportunidade de colocarem em prática os estudos desenvolvidos em sala de aula sobre arquivos e fontes de pesquisa.

Emerson César de Campos (UDESC) Ilha de estrangeiros: Presença árabe em Florianópolis (SC) (1990-2008) A capital de Santa Catarina sofreu um incremento agudo de sua população nas duas últimas décadas. O número de habitantes de Florianópolis quase dobrou em relação ao que se tinha no inicio da década de 1990. Neste crescimento houve também um expressivo aumento da população dita Estrangeira (documentada ou não). As populações estrangeiras, embora reconhecidas pelas ruas e no cotidiano da cidade, são pouco visibilizadas pela Historiografia. Essa Comunicação pretende identificar entre a população imigrante estrangeira, aquela composta por árabes. Busca fugir de interpretações que tendem a reduzir o imigrante aos estereótipos de suas origens étnicas, ou mesmo outras que privilegiam (e reduzem) os árabes aos seus fatores e contribuições econômicas e religiosas, quase que exclusivamente. Assim pretendemos realizar uma investigação cuidadosa sobre a constituição de territórios da Cultura árabe (palestinos, sírios, libaneses, jordanianos) na capital, e as redes nas quais as manifestações e expressões sóciocultural daquela população se constroem. Procura ainda o projeto através do reconheci-

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mento da população árabe na cidade, promover uma discussão sobre a construção das cidades no contemporâneo, bem como e ainda, relacionando a ela o movimento de populações, os fluxos migratórios e os refugiados no Tempo Presente. Por último, ao estudar a população árabe em Florianópolis, buscamos inseri-la nos debates sobre a relação Oriente-Ocidente e nisto também o crescimento do próprio Islamismo.

Enaile Flauzina Carvalho (APEES) A Casa do Estudante Capixaba: Uma questão de ordem? O Movimento Estudantil no Espírito Santo, durante a Ditadura Militar (1964 a 1985), principalmente na Grande Vitória, revelam que o Espírito Santo esteve representado por seus estudantes nos mais diversos encontros nacionais, além dos mesmos promoverem manifestações que contestavam o regime vigente no próprio Estado, a exemplo do Ato Público de 06 de janeiro de 1982, que será tratado nesta comunicação. A principal fonte utilizada no estudo, o Dossiê da Casa do Estudante Capixaba (CEC), compõe o acervo do Fundo DOPS/ES, sob custódia do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (APEES). Tratam-se de documentos produzidos e recolhidos pela Delegacia de Ordem Política e Social do Espírito Santo (DOPS/ES), organizados e catalogados mediante o Projeto Memórias Reveladas. Assim, o presente estudo tem como escopo apresentar uma análise sobre o Ato Público Cultural, ocorrido em 06 de janeiro de 1982, organizado pelas lideranças estudantis capixabas, da época. Longe de ter sido um Movimento Cultural, as manifestações ocorridas naquele dia tinham como objetivos a retomada da Casa do Estudante Capixaba (CEC) e a reconstrução da União Estadual de Estudantes (UEE/ES). Não obstante, o referido Ato Público serviu de palco para diferentes protestos e contestações feitos pelo Movimento Estudantil, contra o Regime Militar.

Eneida Maria Souza Mendonça (Ufes) Identificação dos referenciais da paisagem urbana: Contribuições metodológicas O debate situa-se na identificação dos valores da paisagem urbana visando complementar e aprofundar método envolvendo análise e construção da paisagem. O intuito do método é possibilitar a ocupação urbana mantendo-se a visibilidade de referências paisagísticas e a integração urbana de espaços de interesse público. A preocupação concentra-se na transformação dos referenciais paisagísticos devido ao ritmo e às características do processo de urbanização no século XX. A paisagem é compreendida a partir das superposições naturais e antrópicas ao longo do tempo, o que não impede de considerá-la como herança. Este aspecto dinâmico ao lado do caráter de patrimônio coletivo é tratado de modo a permitir a transformação da paisagem, associada à identificação e à manutenção de elementos referenciais em favor do fortalecimento da identidade e da cidadania. Acoplada aos elementos usuais da paisagem urbana contemporânea encontram-se referências pai-

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sagísticas, edificadas ou oriundas de uma natureza remota, que perdem valor, paulatina ou velozmente, no âmbito da memória coletiva. Etapas anteriores da pesquisa, a partir de exame documental, como projetos urbanísticos e seus memoriais, relatos, desenhos e fotografias de viajantes e crônicas jornalísticas, possibilitaram identificar elementos significativos da paisagem até meados do século XX, quando a verticalização correspondia a processo embrionário em diversas cidades brasileiras. Em continuidade, este artigo apresenta procedimentos complementares abrangendo, a partir de depoimentos colhidos em entrevistas, período iniciado na segunda metade do século XX, quando a verticalização das construções e a auto-construção transformaram radicalmente a paisagem em diversas cidades, associadas ao processo de metropolização. A abordagem empírica refere-se à Vitória, capital do Espírito Santo, envolvendo a região leste da ilha, foco do interesse imobiliário e a região oeste, onde predomina a ocupação pela autoconstrução. A manifestação de moradores, construtores e personagens da política contribui, sobretudo, na compreensão de permanências e mudanças de valores da paisagem urbana.

Érica Cristhyane Morais da Silva (UNESP/Franca) Cidade, representação e poder na história do Império Romano: A historiografia sobre Antioquia de Orontes Antioquia de Orontes é considerada, freqüentemente, como uma importante cidade do Império Romano do século IV d.C. tanto pelos antigos quanto pela historiografia geral e especializada. A história de Antioquia pode ser extraída de vários tipos de documentações. Os vestígios da história dessa cidade podem ser encontrados em artefatos arqueológicos, em documentações escritas, na iconografia. A diversidade de documentações pode significar uma multiplicidade de dados e informações. No que se refere, especificamente, à documentação escrita para a história de Antioquia no século IV d.C., vários escritores antigos se dedicaram a cidade como tema de suas obras, o imperador Juliano, Amiano Marcelino, João Crisóstomo, Libânio de Antioquia. Não obstante, quando se trata da história de Antioquia desse contexto, uma testemunha parece se destacar dentre esses escritores, Libânio de Antioquia, um retor sofista do século IV d.C. Diante desse panorama, na presente comunicação, buscaremos refletir sobre uma historiografia particular da cidade de Antioquia para compreender o lugar dos testemunhos de Libânio em relação à uma outra testemunha, João Crisóstomo, membro da elite eclesiástica. Os escritos deste autor antigo são igualmente importante como documentação sobre a história de Antioquia, mas foi, por vezes, considerado apenas como uma documentação ‘suplementar’. Logo, buscaremos também compreender os termos da historiografia que privilegia os testemunhos de Libânio em detrimento dos de João Crisóstomo no que se refere à temática da cidade de Antioquia durante o contexto do século IV d.C.

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Érica Sarmiento da Silva (UERJ) Os estrangeiros no cotidiano carioca da Primeira República: O caso dos imigrantes galegos Começo do século XX. Uma incipiente democracia tentava se consolidar no Brasil da Primeira República. Através da construção material das cidades, se constituíam práticas ideológicas que ganhavam forma através do discurso, das imagens e das representações. O Rio de Janeiro sofria profundas transformações urbanísticas entre os anos de 1902 e 1904, no governo do prefeito Pereira Passos. Nesta mesma época, chegavam milhares de imigrantes nos portos brasileiros, no período conhecido como a primeira imigração massiva. Fervilhavam idéias, pessoas de todas as partes e o Rio de Janeiro ganhava ares cosmopolitas. Os contrastes sociais nasciam com a mesma facilidade que se construíam as novas ruas. Os teatros conviveram com os cortiços e os chamados “cabeças de porco” e a elite passeava junto com os trabalhadores, imigrantes ou nacionais, disputando o espaço público. Uma parcela da imigração, nesse período, foi expulsa do Brasil por não fazer parte dessa nova política urbanística, por pertencerem a correntes anarquistas e comunistas e também por participarem em sindicatos. Com a utilização de fontes históricas, como os processos de expulsão do Arquivo Nacional, comércio ambulante e jornais da época, foi possível identificar as associações e o mercado profissional onde atuaram os contingentes imigratórios mais representativos, como os portugueses e os galegos. Havia desde líderes sindicais, ativistas anarquistas como simplesmente assalariados que se uniam às associações da sua classe para melhorar suas condições de vida. Os imigrantes, culpados ou inocentes, fizeram parte desse obscuro cenário carioca, contribuindo, junto com os nacionais, para a história dos movimentos operários e sociais.

Érika Morais Cerqueira (UFOP) A historiografia de Gustavo Barroso: Guerra do Paraguai e seus heróis (1920-1950) Esta comunicação tem como temática a representação da Guerra do Paraguai na historiografia de Gustavo Barroso durante as décadas de 1920 e 1950. Objetiva-se demonstrar a importância da atuação de Barroso para a idealização da Guerra do Paraguai como exemplo de patriotismo e nacionalismo ao Brasil Imperial, a partir da valorização que o autor dá, em sua historiografia, ao aparelho militar.

Érika Patrícia Souza Garcia (UFG) A “Conquista do Oeste” e a identidade pioneira norte-americana em Cimarron A expansão territorial dos Estados Unidos, ocorrida no século XIX, em direção ao Oeste constitui um período marcante para a sociedade norte-americana, no qual as características desta sociedade

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estavam sendo renovadas pelo surgimento de novos territórios e Estados pertencentes à União, como também pela figura dos pioneiros — homens e mulheres que ajudaram a construir essa região do país. A ocupação dos novos territórios incentivada pela doutrina do Destino Manifesto mobilizou pessoas em busca de oportunidades e riquezas que o Oeste poderia proporcionar por ser um lugar ainda considerado “selvagem” e sem as instituições governamentais estabelecidas, ou seja, um lugar de mudanças e renovação. A Literatura norte-americana utilizou como pano de fundo para muitos de seus romances e novelas esta região que oferecia enredos de aventuras que agradava o público. A figura do Pioneiro é presente nestes romances por ser um elemento da identidade norte-americana, pois carrega o heroísmo e a coragem de um país que estava ainda em formação. O objetivo deste trabalho é o de mostrar como a figura do Pioneiro contribuiu para a formação da identidade norteamericana, utilizando o romance de Edna Ferber, Cimarron.

Eucélia Maria Agrizzi Mergár (Ufes) A presença da mulher na sociedade capixaba na visão de dois viajantes estrangeiros Identificar a presença da mulher capixaba através do olhar de dois viajantes estrangeiros, e tentar mostrar o lugar que essas mulheres ocupavam na sociedade é o objetivo principal da pesquisa. Esses notáveis naturalistas europeus vieram em busca do conhecimento científico da natureza das regiões tropicais descreveram minuciosamente a história natural do país e tudo o que viram naquele Brasil multicolorido, com exuberantes matas virgens, fauna variada e intensa e tribos indígenas selvagens. No século XIX, aqui chegaram motivados pelo enciclopedismo, pelo registro da paisagem desse exótico Mundo Novo e também pelo estudo dos costumes daquela população tão diferente. Os viajantes desejavam mostrar a visão da época sobre a América, com o objetivo principal de estudar, registrar e catalogar material botânico e zoológico da natureza brasileira. Maximiliano, o Príncipe de Wied-Neuwied, de natural da Alemanha, ao voltar a Frankfurt, em 1820, escreveu e ilustrou a obra Viagem ao Brasil nos anos de 1815 a 1817, baseada em seu diário. Auguste de Saint-Hilaire, natural da França, publicou diversos relatórios de suas viagens pelo Brasil, no período de 1816 a 1822, sendo escolhido para esse estudo a Viagem ao Espírito Santo e Rio Doce. As observações desses autores muito contribuíram para o estudo do cotidiano da população do Espírito Santo naquele período. E, a partir desses relatos, se busca perceber a presença feminina na estreita faixa que vai da Fazenda Muribeca até São Mateus por onde passaram esses viajantes; os tipos sociais encontrados: Índias, Brancas, Negras; a visão desses viajantes sobre a mulher capixaba; os tipos físicos descritos; faixa etária; seriam recatadas ou se apresentavam com naturalidade; e conhecer ainda, as atividades econômicas desenvolvidas por aquelas mulheres.

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Eudorica Luciana Almeida Leão Geografia do prazer: Os espaços do sexo na Aracaju dos anos 1930 e 1940 Este trabalho se propõe a estudar como, na reconfiguração do espaço urbano de Aracaju, situaram-se os locais de prostituição relacionando tal mudança à política e à moral na sociedade durante os anos de 1930 e 1940, assim como as relações entre o combate à sífilis e a prostituição na cidade no período citado. Nesta época, o saber médico encontrava respaldo político para implementar campanhas que visavam tratar o “corpo da Nação”. A sífilis era um óbice a tal projeto. E a prostituta, sua maior aliada na ótica dos médicos. Fica evidente a tentativa do poder público em intervir na normatização dos espaços públicos para alcançar o que seriam práticas do espaço privado, visto que diz respeito ao exercício da sexualidade. O discurso modernizador tomou impulso, já que, nesse sentido, era necessário agir de maneira mais objetiva, traçar planos e colocá-los em prática para que Aracaju se adaptasse ao modelo de cidade moderna. Desta forma, jornais e revistas receberam textos de intelectuais (locais e nacionais) que criticavam as prostitutas, advertiam sobre o risco de manter contato com elas. Para realizar tal estudo, utilizaram-se prioritariamente como fontes jornais da época (Correio de Aracaju, Folha da Manhã), como também, de forma secundária, livros de medicina, memórias, romances. A ampliação dos espaços públicos e sua consequente demarcação criaram um ambiente de contradições sociais justificadas por práticas que fogem a legislação escrita. A evolução do pensamento normatizador e a possível regulamentarização social levou ao combate da prostituição enquanto agressor de duplo caráter (físico e moral) da sociedade e que portanto, deveria ser afastada, reforçando o caráter de exclusão. Entendia-se que tal concentração deveria ocorrer mais abertamente nos bairros de maior população que então começavam a surgir.

Fabiana Francisca Macena (UnB) “O Rio civiliza-se!”: Espaço urbano, modernidade e “feminino” na revista Fon-Fon (1907-1914) Com o advento da República e a definição do Rio de Janeiro como sua capital, os mais diferentes atores políticos criticavam a estrutura física da cidade que, de acordo com eles, não era condizente com “os novos tempos”, o que tornava urgente a remodelação da cidade. Deste modo, com a reforma urbana efetuada pelo prefeito Pereira Passos em 1904, o cais do porto, as ruas do centro da cidade e as áreas pantanosas foram reconfigurados, dando a capital da República ares de “cidade civilizada”. Todavia, gostaríamos de salientar que, como afirma Michel Foucault, a organização do espaço é prática que inclui maior vigilância e controle sobre os indivíduos. Sendo assim, podemos estender essas reflexões para o momento aqui estudado e salientar que na sociedade brasileira da belle époque houve grande preocupação com o desenvolvimento de estruturas urbanas, com os “melhoramentos” das cidades, como foi o caso exemplar do Rio de

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Janeiro. Se em um primeiro momento este projeto possa parecer uma preocupação exclusiva com “fins progressistas”, o de emprestar ao Rio uma fisionomia parisiense, em uma possível “cópia” da reforma efetuada em Paris pelo Barão de Haussmann, argumentamos que tal projeto se dirige, sobremaneira, à normatização, classificação, controle dos indivíduos e dos comportamentos sociais. Sendo assim, os comportamentos ditos femininos receberam atenção privilegiada, sendo objetos de normatização e controle pelos mais diversos setores e instituições da sociedade, inclusive pela imprensa, como meio de manter a ordem e as hierarquias. Para esta comunicação, concentraremos nossos esforços na análise da revista carioca Fon-Fon, procurando evidenciar os sentidos atribuídos ao espaço reconfigurado da capital e ao fenômeno da modernidade, sendo que o entendimento deste último está intimamente ligado a reelaboração das representações sobre o feminino.

Fabiana Martins Bandeira (Unirio) Rua, lazer e conflito: Sociabilidade de marinheiros e seus usos da cidade do Rio de Janeiro durante as últimas décadas monárquicas Este trabalho se debruça sobre as práticas de sociabilidade de homens recrutados para a Armada Imperial durante as duas últimas décadas do século XIX, no município neutro da Corte. Como parte da pesquisa de Mestrado sobre o enquadramento social de homens pobres na Marinha através do recrutamento, ainda em andamento, observamos aqui os momentos de lazer desses marinheiros, destacando os principais locais de encontro — e também de confronto —, assim como os usos que fazem desses locais, sejam áreas públicas ou privadas da cidade. Tomando em consideração as grandes transformações levadas a cabo nas zonas Central e Portuária da cidade do Rio de Janeiro a partir da segunda metade do século XIX, tanto do ponto de vista urbanístico como social, recorremos à documentação de autoridades policiais e da própria Marinha a respeito dos casos de conflitos envolvendo marinheiros na cidade. Essa documentação encontra-se depositada no Arquivo Nacional e serve para lançar luz sobre as práticas cotidianas desses indivíduos, recrutados para as instituições militares como uma forma de controle populacional empreendido pelas autoridades sobre a sociedade escravista no Brasil.

Fabiano de Souza Coelho (Ufes) Cristianismo, gênero e poder: O Bispo Agostinho e o matrimônio Agostinho (354 a 430 d.C.) foi bispo da cidade de Hipona, norte da África romana, sendo uns dos maiores filósofos de sua época. Suas concepções e propostas marcaram tanto o Cristianismo de seu tempo quanto o Cristianismo de períodos posteriores. Influenciado pela cultura clássica greco-romana, pelos Padres da Igreja e, em especial, pelos escritos do Apóstolo Paulo, o bispo

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Hiponense a partir dessas ideias formula sua concepção acerca da moral cristã católica de sua época. A presente comunicação tem como objetivo explicitar de que forma foi construído o ponto de vista do bispo Agostinho sobre o matrimônio cristão e as projeções de sua visão nas concepções morais da Cristandade Medieval.

Fábio Francisco de Almeida Castilho (UNESP) A vitória do “tertius”: As disputas políticas que antecederam a construção da “Cidade de Minas” A presente comunicação abordará a construção da primeira cidade planejada do país, a Cidade de Minas, hoje Belo Horizonte. É consenso na historiografia mineira que a construção da nova capital, na década de 1890, marcou um processo fundamental na história do estado, significando progresso e modernização. No Brasil, embalado pelo sonho republicano que repudiava os signos imperial e colonial, foi posto em prática a construção de um ícone que viesse representar o novo. No caso específico mineiro, tal repúdio foi ainda mais intenso, pois a antiga capital político-administrativa, Ouro Preto, localizada no velho centro minerador, era associada ao atraso monárquico. Além de geograficamente estar afastada das regiões mais dinâmicas, Sul e Mata. A escolha do local para construção da nova capital foi marcada por intensas disputas políticas, pois tal escolha significaria um ganho político incalculável para o desenvolvimento posterior da região que abrigasse a futura sede do governo mineiro. Nesse sentido, podemos compreender a disputa em torno da localização da nova capital. Grupos que dominavam a política e a economia do Sul e da Mata defenderam a instalação da cidade em seu território, o que lhes permitiria dinamizar a economia regional. Por outro lado, buscando evitar que a mudança da capital viesse reforçar os desequilíbrios regionais já existentes, facções políticas das demais regiões do estado procuraram assegurar a localização da nova capital em sítios a elas bem articulados, contrabalançando o poderio das regiões cafeeiras.

Fábio Henrique Lopes (USS-Vassouras) O suicídio em cena: Palco, personagens e falas Este comunicação analisará duas matrizes discursivas sobre o suicídio que foram historicamente instituídas como antagônicas, mas que se entrecruzam e se reforçam: de uma lado, os discursos médicos brasileiros e franceses, do outro, os discursos ficcionais-literários, todos produzidos ao longo do século XIX. O objetivo é problematizar tais discursos, indagando sobre seus contextos sociais e institucionais, suas condições de possibilidade, os lugares e territórios de fala instituídos e balizados, os sujeitos e personagens que se evidenciaram na trama e na empreitada médica, científica e normatizadora e, sobretudo a ordem histórica desenhada e almejada. Para isso, a atenção será direcionada para a cidade, para a chamada vida urbana: seus riscos, perigos, paixões, excessos, enfermidades, violências e mazelas.

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Fabio Muruci dos Santos (Ufes) Juan Bautista Alberdi e o problema da ordem política no liberalismo argentino do século XIX A adoção das idéias liberais na América Latina do século XIX é um dos temas clássicos da história das idéias local. Os autores da região frequentemente priorizaram temas como o da ordem política e o da ocupação territorial em vez do da participação política, defendendo uma agenda liberal muito seletiva. Na Argentina, um dos aspectos centrais do projeto da chamada ‘geração de 1837’ era a contenção do estado de conflito civil crônico que dominava a região. Juan Bautista Alberdi se destacou como um dos mais articulados defensores de um programa liberal para o país após a queda do regime rosista, sendo constantemente citado como um dos pensadores clássicos do liberalismo latino-americano. Seu projeto, porém, apresenta muitas das preocupações com a ordem como fator prioritário que singularizam o liberalismo local. Esta comunicação pretende discutir este aspecto de seu pensamento.

Fabíola dos Santos Cerqueira (Ufes) Jovens, escola e relações de poder: Desvelando enredos a partir do cotidiano de uma escola pública Quando se pensa em gestão democrática logo vem em mente a idéia de construção coletiva, da participação e do envolvimento de diferentes sujeitos em prol de um ideal, de uma missão, de uma meta. Pois bem, falar de gestão democrática no ambiente escolar é abordar todas essas questões, mas também é despertar para as relações de poder ali existentes. Historicamente podemos afirmar que não temos uma cultura de participação no Brasil. Não aprendemos a ouvir e não estamos acostumados a sermos escutados. O Brasil foi inventado por colonizadores que extraíram toda a nossa riqueza e massacraram a população nativa. Durante anos fomos vítimas da ditadura militar e somente a partir da promulgação da Constituição de 1988, vimos surgir diante de nós a possibilidade de usufruirmos de direitos civis, políticos e sociais. E isso se reflete nas nossas vidas e nas nossas escolas até hoje. O presente trabalho aborda os resultados preliminares da pesquisa de campo realizada no primeiro semestre do ano de 2009, numa escola pública de Ensino Médio da cidade de Vitória/ES, através de um estudo de caso do tipo etnográfico. É uma reflexão sobre as relações de poder no ambiente escolar e as estratégias utilizadas por jovens alunos (as) e professores (as) para sobreviver às turbulências do dia a dia. Os sujeitos desta pesquisa são jovens com idade entre 14 e 22 anos, do turno matutino, estudantes das três séries do Ensino Médio Básico. Para tanto, dialogo com Marilena Chauí, Michel Foucault, Pierre Bourdieu e José Machado Pais.

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Fabíola Martins Bastos (Ufes) Cotidiano e divertimento na cidade de Vitória: Notícias de festas na imprensa capixaba, 1850-1872 O estudo dos exemplares dos periódicos Correio da Victoria e Jornal da Victoria indicou um cotidiano singular dos habitantes da capital da Província do Espírito Santo. A análise dos anúncios publicados na imprensa local indica a existência de uma rotina marcada pelas atividades de negócio e trabalho, confluídas aos momentos de lazer e festividades. Na leitura de 687 exemplares do Correio da Victoria e 403 do Jornal da Victoria observou-se que não houve um dia se quer sem ocorrência de festas na capital da Província. Neste certame, investigo como as festividades profanas e religiosas relacionavam-se com as sociabilidades desenvolvidas pelos capixabas, não distinguindo, em definitivo, livres de escravos, pretos de pardos ou brancos.

Fabrício Augusto Souza Gomes (Unirio) O Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) e a ideologia do nacional-desenvolvimentismo: Brasil, década de 1950. Este trabalho vincula-se à linha de pesquisa da História das Instituições, com dimensões econômicas, políticas e sociais, orientado em abordar a questão do nacional-desenvolvimentismo no Brasil, sob o ponto-de-vista do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), no cenário político que envolveu o período de 1955 a 1964. O ISEB foi um dos pináculos do pensamento contemporâneo brasileiro e era formado por um grupo de intelectuais, oriundos das mais diversas orientações teóricas e ideológicas, reunidos em torno de uma visão dualista da História e de um ideal em comum — o projeto de pensar a transformação do Brasil através de seu processo de industrialização e de desenvolvimento.

Fátima Moura Ferreira (Universidade do Minho) Usos privados e públicos da fotografia na cidade de Braga, nas primeiras décadas de novecentos: Imaginários sociais e hierarquias de poder Partindo de uma investigação centrada em coleções de fotografia comercial e “erudita” existentes em Braga, pretendem-se evidenciar os usos plurais da fotografia nomeadamente como reflexo das hierarquias de poder e de diferenciação social numa cidade do rural, mas que não deixa de exprimir sinais tímidos de modernização. Muito em particular, pretende-se potenciar as singularidades próprias das coleções em estudo no sentido de espelhar afinidades potenciais em termos dos valores e representações veiculadas.

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Felipe Marinho Duarte (UFJF) Melhorias urbanas na Manchester mineira: Dívida pública municipal e suas relações com a câmara de vereadores de Juiz de Fora 1892-1895 Juiz de Fora, cidade localizada na Zona da Mata mineira, viveu momento de glória no século XIX. A economia cafeeira propiciou um crescimento econômico e urbano sem precedentes na história da cidade, esta economia foi capaz de gerar condições aos cafeicultores de acumulação de capital e posteriormente a diversificação de investimentos em outros setores econômicos. O crescimento demográfico desordenado e a falta de infra-estrutura urbana para comportar o grande fluxo de pessoas, geraram preocupações nas autoridades locais, como melhorias no abastecimento de água, tratamento do esgoto e outras demandas sociais que eram necessárias, para que maiores problemas fossem evitados. A Câmara Municipal de Juiz de Fora exerceu papel fundamental na dinamização do processo de melhorias urbanas que a cidade passou nos últimos anos do século XIX. Houve no período, um grande afluxo de riqueza proveniente do café, concomitantemente, havia necessidade de colocar o dinheiro acumulado em circulação. Uma importante iniciativa tomada pelo Poder Executivo local foi a subscrição dos títulos da Dívida Pública Municipal, sua emissão gerou condições materiais à prefeitura para a obtenção do montante de recursos necessários para executar obras públicas que visavam o desenvolvimento da cidade. Os juros pagos aos subscritores das apólices eram a principal razão de tal investimento, a obtenção de título da Dívida Pública Municipal pode ser entendida como uma, entre tantas formas de empreendimento financeiro. A investigação central do trabalho incide em analisar as medidas que a Câmara Municipal tomou visando o processo de melhorias urbanas de Juiz de Fora e quais os agentes econômicos responsáveis pelo financiamento de tais benfeitorias.

Fernanda Coimbra C. Pereira (Ufes) Poder e conflito: Um estudo sobre as ações do Imperador Juliano em Antioquia Em 361 d.C., o imperador Juliano assumiu a púrpura imperial e declarou publicamente sua opção pelo sistema de crenças do paganismo, que, nesse momento, estava sofrendo um processo de franco esvaziamento de prestígio devido à ascensão da religião cristã e à atuação de Constantino e Constâncio II. Como, no Baixo Império Romano, a opção religiosa do imperador implicava não apenas uma escolha de caráter pessoal, mas também política, a tentativa de Juliano de restabelecer o paganismo como a crença que estaria na base do poder imperial levou também a rejeição da basileia, realeza helenístico-cristã que então se consolidava. Por isso, Juliano necessitava de um novo pensamento político que legitimasse sua autoridade diante da sociedade romana mediante a associação com os preceitos da religião pagã. Nesse sentido, convocou os filósofos neoplatônicos a residir na corte para auxiliá-lo nessa tarefa, pois eles haviam se convertido, ao longo do século IV, em homens divinos, porta-vozes do paganismo. Assim,

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devido a sua opção político-religiosa tomou várias medidas para reforçar seus ideais, contudo ao deslocar-se, para a cidade de Antioquia, a fim de se preparar para uma expedição contra os persas em 18 de Julho de 362, encontra uma série de dificuldades para executar suas reformas, pois os antioquenos rejeitaram sua tentativa de implementar uma nova concepção de poder, que estivesse em consonância com a vertente do paganismo. Tal situação gerou, por sua vez, várias contendas entre a figura imperial e os habitantes locais, relatadas pelo próprio Juliano em uma sátira, o Misopogon, escrita em resposta as atitudes desrespeitosas dos antioquenos.

Fernando Carlos Dilen da Silva (Faculdade São geraldo) A autonomia municipal na federação brasileira: A teoria da subsidiariedade entre o constitucionalismo e as relações informais de poder na constituição federal de 1988 O trabalho é resultado da dissertação intitulada “A autonomia municipal na Federação brasileira: A teoria da subsidiariedade entre o constitucionalismo e as relações informais de poder na Constituição Federal de 1988” e aborda, a partir de um olhar histórico, como se formou nas diversas Constituições brasileiras o atual poder jurídico das cidades (autonomia municipal) a partir das relações de poder político. Com base dessa análise, contrapor-se-ão as diretrizes formais das Constituições de 1891, 1934, 1937, 1946 e 1967-69 em face dos sistemas políticos que vigoraram nesses períodos, a fim de se confirmar, ou não, essa tensão (e eventuais conseqüências disso) entre o direito e a política. Assim, buscaremos uma releitura das competências legislativas e administrativas das cidades na Constituição para a concepção de um direito discursivamente criado em consonância com a Subsidiariedade, este último usado como norte para melhor definir as competências entre os entes federados. Tal princípio defende que a uma entidade estatal superior não cabe a realização dos interesses da entidade menor se esta puder supri-los por si mesma, cabível na Federação brasileira. O objetivo é a otimização dos poderes locais que, definidas pela Constituição de 1988 como legitimadoras de um maior poder local, ficam mais próximas das formas comunitárias de participações populares, quando seria possível um maior êxito na adoção de procedimentos jurídicos de cunho deliberativos, tais como, orçamentos participativos, debates e consultas públicas.

Filipo Carpi Girão (Saberes) (Faculdade Saberers) & Maria Cristina Dadalto (UVV) O papel da associação de bairro na urbanização de São Pedro Objetiva discutir a história do bairro São Pedro analisando a atuação da associação de moradores desde a sua criação em 1977 até a primeira urbanização no ano de 1991, destacando o papel ímpar da entidade comunitária para a regularização da região e posteriores melhorias. Para isso usará o referencial teórico-metodológico que se articula nos conceitos de industrialização e movimentos sociais

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com fontes nos registros documentais e orais relacionados à economia do Estado e do município no período, o documentário “Lugar de toda Pobreza”, publicações do governo municipal e reportagens de jornais. O período proposto para discussão corresponde à: modernização da Companhia Vale do Rio Doce (atual VALE) e a construção da Companhia Siderúrgica de Tubarão (atual ArcelorMittal), período áureo no desenvolvimento econômico do Espírito Santo. Paralelamente ocorre a segunda crise do café com as conseqüências: êxodo rural e crescimento das favelas, por um contingente de pessoas sem qualificação para o trabalho urbano, o que intensificou a miséria dos moradores de bairros pobres como o proposto para este estudo. Conclui-se que São Pedro, efetivamente, se constrói como um bairro, a partir da organização da população em torno de ideais comunitários, representados e articulados na associação de moradores, a qual é responsável pela urbanização e pelo surgimento daquilo que hoje é conhecido como a Grande São Pedro—São Pedro I, II, III, IV, Grande Vitória e Resistência.

Flavia Fernandes de Souza (UERJ) “Mourejando a valer”: A cidade do Rio de Janeiro e o cotidiano do trabalho urbano vistos a partir das experiências dos trabalhadores domésticos no final do século XIX A proposta desta comunicação consiste em contribuir para a discussão gerada pelo Congresso através de uma reflexão sobre a cidade do Rio de Janeiro e o cotidiano do trabalho nas três últimas décadas do século XIX. Para isso, propõe-se pensar no caso das experiências dos trabalhadores que se empregavam nas residências e nos estabelecimentos do comércio e da prestação de serviços da cidade para a realização dos chamados trabalhos domésticos. Representando um dos maiores contingentes de trabalhadores que atuavam no cenário urbano carioca em fins do Oitocentos, os denominados “criados de servir” constituíam uma das mais importantes esferas do mundo do trabalho e do tecido social do Rio de Janeiro naquele momento. Sendo assim, a partir das suas experiências no que se refere à luta pela sobrevivência e pela inserção e manutenção nos ambientes de trabalho é possível encontrar vestígios sobre a constituição do espaço urbano daquela que era então a cidade-capital do país e as especificidades do seu cotidiano, sobretudo no que tange à dinâmica ordinária do universo de trabalho e de subsistência da população pobre. Da mesma forma em que, investigando a conjuntura particular de transformações que caracterizaram os anos de 1870 a 1900 na sociedade brasileira, marcada pelo fim da escravidão e pela implantação do regime republicano, pode-se recuperar alguns aspectos das estratégias de poder que se enraizaram na urbe do Rio de Janeiro naquele período. Nesse sentido, pretende-se, igualmente, com este trabalho refletir sobre as tentativas levadas a cabo pelos representantes do poder municipal com o fim de regulamentar o serviço doméstico na capital. Nesse caso, propõe-se discutir sobre os projetos e os debates realizados por vereadores, intendentes, autoridades policiais e representantes do poder central com o objetivo de implementar regras disciplinares e de controle dos trabalhadores domésticos no espaço urbano do Rio de Janeiro.

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Flávio Henrique Calheiros Casimiro (UFSJ) Cidadania e ideologia neoliberal no Brasil: Um estudo a partir da história do tempo presente e da noção de culturas políticas A proposta deste estudo consiste em discutir o processo de redefinição do conceito de cidadania e a cultura do consumo no território brasileiro, de 1986 a 2002. Essa cultura, fundada na forte valorização da imagem e do status social, promovido por meio de símbolos de consumo, encontra na ideologia neoliberal seu embasamento teórico e veículo ideológico fundamental. É importante perceber a influência do neoliberalismo no Brasil, não apenas no sentido de uma imposição hegemônica exterior, mas sim como uma matriz ideológica difundida por meio de uma ação consciente e metódica de instituições e agentes, entre os quais podemos apontar: empresários, intelectuais e representantes dos meios de comunicação, entre outros. Pautados na perspectiva teórico-metodológica da História do Tempo Presente, trabalhamos com a concepção de culturas políticas como um sistema de representações capaz de compreender os sentidos que determinado grupo atribui a uma dada realidade social. Além disso, percebemos o papel fundamental da noção de cultura histórica para a significação e legitimação de um dado discurso, assim como para compreender a reapropriação do passado a partir dos valores e da posição que ocupa determinada corrente de opinião no jogo político. Para tanto, analisamos a construção do discurso liberal nas memórias do intelectual Roberto Campos e sua difusão midiática utilizando, como fonte, a revista Veja. Entendemos que o pensamento liberal conseguiu impor determinados significados ao termo “modernização” por oposição ao que qualificam como “atraso”, por meio de um processo de reconstrução ideológica do passado, condicionando a própria percepção do presente pelos diferentes grupos sociais.

Francisca Selidonha Pereira da Silva (UVV) Espaço público midiático, cidade, cotidiano e poder no programa Povo na TV da TVE/ES O Programa jornalístico da TVE/ES “Povo na TV”, veiculado de 1991 até 1994, foi inovador pela interatividade e jornalismo comunitário. Tratava-se do primeiro programa da TV capixaba totalmente ao vivo, o que foi possível por meio da aquisição de um equipamento de microondas para transmissão externa. Esse programa representou um marco histórico porque possibilitou acesso da população carente às autoridades, que eram pressionadas ao vivo a atender as suas demandas por melhoria na qualidade de vida da comunidade. O Povo na TV é precursor de uma tendência irreversível de cobrança da população por transparência do Poder Público, que foi desencadeada a partir da Constituição Democrática de 1988. Objetivo é analisar se esse programa, criado pelo governador Albuíno Azeredo, visando aproximação com a população carente, que o elegeu, e melhorar sua imagem. Com base em Pierre Bourdieu(1996), George Balandier(1981), Jünger Habermas(1984), Jorge Duarte(2007), Michel de Certeau (1994) e Gramsci(1979) concluímos que

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as comunidades carentes descobriram nesse espaço uma forma de transpor a burocracia e chegar às autoridades para pressioná-las por melhorias nos bairros. O programa tornou-se uma praça pública midiática. Porém, o governador não atingiu o seu objetivo de melhorar a sua imagem pública e não conseguiu mais se reeleger para outro cargo público. O programa Povo na TV inspirou a criação de outros espaços na mídia para atendimento das demandas populares como O “Qual a bronca?” e “Tribuna no Bairro” do Jornal A Tribuna, “Linha Direta” de A Gazeta e “Gazeta Comunidades” da TV Gazeta, entre outros programas.

Francislei Lima da Silva (UFJF) “Ubi sunt thermominerales fontes, ibi salus”: Onde houver fontes termominerais, encontra-se saúde. A edificação das cidades de águas virtuosas do Lambari, Cambuquira e Caxambu como estâncias hidrominerais. As águas fundam as cidades”, tais cidades, incorporam para si o caráter de cidade-estância, constituem-se como um produto da arte humana, sobre a qual os cidadãos e veranistas ou curistas interagem entre si, construindo sua realidade rica em significações próprias do seu imaginário. A história da belle époque em Águas Virtuosas do Lambari, Cambuquira e Caxambu, no início do século XX, dá significado às dádivas das águas de cura e ao entusiasmo daí advindo na sociedade mineira. A imagem da vida social se liga à ampliação dos espaços sociais, que por causa das transformações no espaço físico intensifica e transforma os usos tradicionais das esferas de sociabilidade. Toma proporções de espetáculo, pois gera em torno das fontes e de um imaginário próprio das águas, uma multiplicidade de interações sociais. Não a rua, como nos grandes centros com seus extensos boulevards, mas a fonte — agora remodelada, rica pelo seu fontanário, jardins, seus quiosques, coreto e estatuetas, receberia um seleto público para ouvir as bandas se apresentarem em tardes do mais puro recreio. Todos os planos que haviam sido formulados para a estruturação de uma hidrópolis européia no Brasil, se voltavam para a percepção do que deveria compor a imagem de um novo espaço urbano, de renovados hábitos e padrões a partir da eficácia terapêutica hídrica, valorizando a criação de espelhos d’água e de cenários pitorescos, segundo modalidades que articulavam natureza e cultura, partindo de lógicas curistas ligadas à eficácia de cura das águas “virtuosas” e “miraculosas.

Fréderic Moret (UPE) Les corporations urbaines anglaises a la veille de la reforme municipale de 1835: Des institutions d’ancien regime confrontées a l’emergence de nouveaux usages urbains La réforme municipale de 1835 constitue l’un des jalons importants de la modernisation politique et sociale que connaît le Royaume-Uni au terme de ce qu’il est convenu d’appeler «l’âge

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de réforme». Pendant urbain de la grande réforme électorale de 1832, (le «Reform Act») cette loi fit entrer les corporations municipales dans l’âge moderne, non pas de la démocratie mais d’une organisation sur un modèle censitaire. Préalablement au vote de la loi, le parlement et le roi missionnèrent une enquête très précise destinée à faire un état des lieux du fonctionnement des organismes urbains, de leurs institutions, de leurs attributions. Menée par une vingtaine de jeunes juristes, de tendance radicale et benthamienne, cette enquête dresse un tableau sans complaisance — parfois totalement à charge — de la réalité des corporations municipales. Notre propos sera, à travers ces témoignages, mais aussi les défenses conduites par les autorités locales de leur action de mesurer la façon dont, au plein coeur de la Révolution Industrielle et de l’explosion urbaine britannique, ces institutions d’Ancien Régime sont confrontées à l’émergence de nouvelles obligations et de nouvelles fonctions de gestion quotidienne de l’espace urbain.

Gabriela Bassani Fahl (UDESC) O poder da Maçonaria Muito se fala sobre a influência da Maçonaria nas atividades cotidianas. Os maçons, tidos como homens de poder, são seguidamente suspeitos de interferirem nas esferas política e econômica. Símbolos da maçonaria são encontrados no cotidiano, como por exemplo na nota de um dólar, onde podemos ver a pirâmide inacabada e o olho que tudo vê. Alguns fatos históricos são reconhecidamente obras maçônicas, como a Revolução Francesa, a independência e a Constituição dos Estados Unidos da América do Norte e a independência do Brasil. Não se nega a importância da Maçonaria em grandes eventos históricos; a pergunta que se faz é: será que a Maçonaria e os maçons ainda possuem o poder que detinham no passado? Ou ainda: a Maçonaria continua a mesma que era nesses eventos? Para responder essas perguntas foi realizado um levantamento bibliográfico sobre os grandes feitos da Maçonaria conhecidos, além de uma comparação entre as práticas e rituais da Ordem na sua origem e atualmente. O método de trabalho foi o citado levantamento bibliográfico, além de entrevistas. No final da pesquisa, o objetivo foi identificar o poder da Maçonaria nas esferas política e econômica de uma região.

Gabrielle Werenicz Alves (PUCRS) Um novo cotidiano na cidade: A gripe espanhola e a mobilização de auxílio aos infectados (Porto Alegre – 1918) A gripe é uma doença que acompanha o homem há muitos séculos, e costuma ter um caráter endêmico. Porém, em certos momentos da história, esta moléstia se modificou e ganhou um caráter epidêmico, e até mesmo pandêmico. Em algumas ocasiões, esta doença tão familiar e corriqueira foi responsável por um grande número de mortes, modificou cotidianos, deixou transparecer antigos problemas sociais e

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de saúde pública. Essa situação pode ser observada em 1918, quando a pandemia conhecida como Gripe Espanhola se alastrou pelo mundo. A pesquisa realizada trata da trajetória desta moléstia, centrando-se na cidade de Porto Alegre e na mobilização de auxílio aos doentes e necessitados. A cidade de Porto Alegre, capital do estado do Rio Grande do Sul, teve um número grande de doentes e de mortos durante a epidemia, fato que modificou o cotidiano da cidade e criou uma nova cotidianidade para seus habitantes. Além disso, em Porto Alegre houve uma importante mobilização de combate à doença e auxílio aos doentes, tanto por parte dos governos do Estado e Município quanto por parte da população em geral. É sobre esta mobilização de auxílio aos doentes que o trabalho proposto trata.

Geisa Lourenço Ribeiro (Ufes) Diante de Deus e dos homens: Escravos, matrimônio e famílias em São João de Cariacica-ES (século XIX) A historiografia brasileira já ultrapassou a discussão sobre a existência de famílias no cativeiro, fato já devidamente comprovado por diversos pesquisadores nas últimas décadas. No estágio atual das pesquisas, busca-se, entre outras coisas, investigar padrões de famílias formadas pelos escravos, analisando sua ação conforme as conjunturas vivenciadas durante a vigência da escravidão no Brasil. Assim sendo, este trabalho propõe estudar a constituição de relações familiares numa área com características bastante peculiares em relação às regiões economicamente mais dinâmicas do Império brasileiro: a província do Espírito Santo. Em um bucólico cenário, afastado das maiores cidades do Brasil, encontramos nossos personagens em um momento importante de suas vidas, constituindo famílias ou legitimando-as perante a Igreja Católica — o sagrado matrimônio. Buscamos apreender nos Livros de Casamento da Freguesia de São João de Cariacica-ES, da segunda metade do Oitocentos, o momento em que alianças previamente costuradas pelos escravos em seu cotidiano são confirmadas pelo pároco católico; procuramos vislumbrar a inserção e ampliação da rede de alianças em que os escravos cariaciquenses e da região estavam envolvidos, seja na própria comunidade cativa, seja na comunidade livre/liberta.

George F. Cabral de Souza (UFPE) Comércio, abastecimento e poder municipal: O Recife do século XVIII Pernambuco foi uma das áreas pioneiras de presença portuguesa na América e durante o período colonial foi um dos mais importantes estabelecimentos lusitanos dentro do contexto atlântico do Império. Além de sua importância como centro produtor de açúcar, Pernambuco desempenhou também um importante papel como um dos vértices das várias rotas comerciais que ligavam as diferentes praças do mundo colonial. O Recife, principal porto de Pernambuco, atuava como importante elo de ligação não só entre metrópole e colônia, mas também entre os portos africanos

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e vários portos brasileiros. O desenvolvimento deste centro urbano — sobretudo depois da presença holandesa — elevou consideravelmente a exigência cotidiana de aprovisionamento. A partir do início do século XVIII, com a criação da câmara do Recife, a vila passou a contar com suas próprias formas de regulação do comércio e do abastecimento. Pela importância de seu mercado, as decisões tomadas no âmbito da municipalidade repercutiam em uma vasta região produtora que convergia para o Recife. A partir da análise da documentação municipal da segunda metade do século XVIII, examinamos alguns aspectos do impacto extraterritorial das ações administrativas da câmara do Recife em toda a área de influência da capitania-geral de Pernambuco, bem como nos problemas cotidianos no abastecimento de um centro urbano na América portuguesa.

Geovana Cristina de Almeida (Ufes) Juventudes e políticas públicas: Considerações sobre o cotidiano de jovens em espaços de educação não-formal O presente artigo busca situar as políticas públicas destinadas aos jovens na cidade de Vitória/ES. Para isso, inicio com a exposição e reflexão sobre os elementos teóricos acerca do desenvolvimento histórico de tais políticas no contexto da América Latina e do Brasil. Em seguida apresentarei as ações dos executivos municipais voltadas para os jovens, tomando como base o Centro de Referência da Juventude. É crescente o número de programas e projetos destinados aos jovens, seja na esfera Municipal, Estadual ou Federal. Como conseqüência, aumenta também a quantidade de jovens atendidos, seja na perspectiva de valorização do protagonismo juvenil, etapa de transição para a vida adulta, “problema” (risco social), ou etapa de formação/contribuição produtiva. Desta forma, quando se pensa em políticas públicas de juventude, há que se considerar e analisar os atores que as demandam, portanto, parto do pressuposto da essencial participação dos jovens no acompanhamento e formulação de tais políticas, e da importância de dar visibilidade ao jovem como sujeito social. Por fim, neste texto são mencionados resultados parciais de um estudo de caso do tipo etnográfico, realizado em um programa social na cidade de Vitória/ES com jovens entre 16 e 17 anos, onde procuro compreender quem são estes jovens atendidos, apreender sua formação, suas relações com seus pares, o cotidiano do jovem inserido em um espaço de educação não-formal, e as relações de poder envolvidas neste contexto.

Geraldo Antônio Soares (Ufes) Ordem pública e vida cotidiana em Vitória no final do século XIX No final do século XIX Vitória era uma pequena cidade na qual a polícia estava longe de desempenhar um papel de vigilância estreita sobre as pessoas. Os habitantes da cidade procuravam estabelecer limites que não deveriam ser ultrapassados pela polícia. A partir da análise de inquéritos policiais procuramos perceber como as pessoas que viviam em Vitória no final do século XIX estabeleciam

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suas relações com a polícia. Nestas fontes às vezes temos a sensação de que as pessoas achavam que a polícia era algo que não era necessário na cidade. O que nos interessa são as respostas que as pessoas davam à ação da polícia a partir da perspectiva de que os policiais, ou os representantes da ordem pública, eram pessoas muito próximas daquelas que a princípio eles deviam manter em ordem. As funções e limites da polícia deviam ser redefinidos a cada momento pelas relações interpessoais na cidade já que a autoridade tinha de ser afirmada e reconhecida em cada situação.

Gerson Constancia Duarte (FDE) Discurso político e alternativa de desenvolvimento nacional no projeto do Brasil Potência O período que compreende o governo Geisel (1974-19790) foi caracterizado por um profundo antagonismo na política desenvolvimentista do bloco militar por marcar um processo de transição entre dois momentos importantes da política econômica do governo: o fim do “Brasil do milagre econômico” e o início do “Brasil potência”. Para garantia dessa ordem e da hegemonia conquistada era preciso reunir esforços para que a população não se insurgisse contra o sistema. Desta forma, o governo Geisel lança mão, além de uma política econômica voltada para o desenvolvimento, de um aparato discursivo capaz de persuadir a população, gerando um parecer social que promovesse uma comoção social, através do uso dos Aparelhos Repressivos e Ideológicos do Estado. Desta forma, discutimos as principais diretrizes do governo Geisel (1974 – 1979) pelo viés das políticas desenvolvimentistas implementadas, assim como das estratégias discursivas usadas pelos órgãos do governo para cooptar as classes sociais capazes de garantir a sustentabilidade do regime vigente.

Gilma Maria Rios (Unipac –MG), Mariana Menezes Rios (Unipac –MG) & Flauzer Franco Souza (Unipac – MG) São Sebastião, valei-nos! Olhares sobre a saúde e suas implicações sociais em Araguari/MG Essa comunicação pretende analisar e expor alguns dos resultados da pesquisa que esta sendo desenvolvida pelo Grupo de Pesquisa “História, gênero e cotidiano”, realizada na Universidade Presidente Antônio Carlos/Unipac — Araguari/MG, sobre as múltiplas modalidades de organização do espaço urbanos e um dos principais problemas da vida na cidade — assistência médica. Torna-se importante ressaltar que o foco principal é funcionamento do Programa Saúde na Família (PSF) no Bairro São Sebastião, localizado em Araguari, cidade do interior mineiro, implantado em 15 de janeiro de 1998. Para desenvolver essa pesquisa, estamos trabalhando com artigos de jornais da imprensa local, que circularam pelo espaço social a partir de 1987 a 2005 e entrevistas com funcionários que trabalham no

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PSF desde sua inauguração. Buscaremos, também, perceber no cotidiano dos moradores desse espaço social, as representações e memórias relacionadas à saúde do bairro, numa perspectiva histórica, de modo a vislumbrar como, diferentes agentes sociais lidaram com a tarefa de organizar o espaço no qual habita. Assim, através desse estudo esta sendo possível adentrar num canal de interlocução e de troca entre a história da saúde e a atuação do poder público. Pois, nas relações entre as classes dominantes e subalternas coexistem assimilações e rejeições ou redefinições nos seus propósitos e intenções.

Gilton Luis Ferreira (Ufes) A ilha e o espelho: O ideal moderno e a reestruturação urbana da cidade de Vitória (1892 a 1912) As concepções urbanísticas espelhadas, principalmente, no modelo parisiense do Barão de Haussmann influenciaram várias cidades brasileiras nos séculos XIX e XX. A reestruturação urbana passou a ser perseguida por administradores das diversas cidades brasileiras, entre elas, Vitória, capital administrativa do Espírito Santo desde o Período Colonial. Com o advento da República o passado colonial, que em sua longa trajetória fora imprimindo suas marcas na arquitetura da cidade, viria sofrer um forte processo de transformação que mudaria a paisagem e a dinâmica urbana da capital capixaba. O presente estudo tem por finalidade apresentar algumas notas de pesquisa sobre a influência do ideal moderno na reestruturação urbana da cidade de Vitória no limiar do século XX. A pesquisa empírica foi realizada pela análise dos Relatórios de Governo, apresentados pelos Presidentes do Estado do Espírito Santo, entre os anos de 1892 a 1912. Assim, o presente estudo historiográfico pretende analisar a gênese do processo de modernização urbana da cidade de Vitória, que tem início no fim do século XIX e se estende às décadas iniciais do século XX.

Gilvan Ventura da Silva (Ufes) Uma cidade na alma: João Crisóstomo e a formação dos “Atletas de Cristo” Além de ter sido o mais brilhante pregador da Igreja antiga, João Crisóstomo pode ser considerado um orador profundamente comprometido com o processo de cristianização da vida urbana, tanto em Antioquia quanto em Constantinopla, as duas cidades nas quais desenvolveu a sua ação pastoral. Para alguns autores, João poderia ser definido como um moralista ou um conservador. Para nós, ele é mais que isso: é um reformador da cidade antiga. De fato, suas homilias são repletas de críticas à cidade e às suas diversas modalidades de entretenimento (competições esportivas, combates de gladiadores, representações teatrais, festivais, corridas no hipódromo), bem como à proximidade de contato entre cristãos, pagãos e judeus. Em função disso, pretendemos explorar, na presente comunicação, a maneira pela qual João Crisóstomo, no seu tratado De

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innani gloria, concebe a formação educacional do jovem cristão, qualificado como um “atleta de Cristo”, em oposição aos valores e tradições características da cidade antiga.

Giovane José da Silva (UFSJ) Transpondo o “Rubicão” do século e conquistando a República para Cristo: polêmicas intelectuais, políticas e históricas na obra do Padre Júlio Maria (1897-1900) Através da obra de Júlio César de Morais Carneiro, mai conhecido como padre Júlio Maria (18501916), especialmente suas Conferências da Assunção, pregadas na cidade do Rio de Janeiro entre 1897 e 1900, assim como de sua Memória da Religião, Ordens religiosas, instituições Pias e beneficentes no Brasil, escrita para compor o livro do quarto centenário das comemorações do Descobrimento, organizado pelo IHGB, objetiva-se compreender, a partir da perspectiva de um padre, os meandros das polêmicas entre intelectuais de diversos matizes, especialmente católicos, liberais e positivistas, mas também os debates intelectuais internos ao campo intelectual católico, envolvendo os adeptos de uma ação pastoral de cunho católico-liberal ou tradicionalista, assim como republicana ou monarquista. A partir da noção de geração, argumenta-se que o padre Júlio Maria foi quem melhor interpretou os sinais de crise geracional e o esgotamento de certo modelo pastoral da Igreja de seu tempo, entre todos os membros do corpo eclesiástico brasileiro. Investiga-se também, na perspectiva koselleckiana, a função da história no discurso de Júlio Maria, isto é, o entrecruzamento, no presente, do “espaço de experiência e horizonte de expectativa”. Através daquelas obras e de jornais que circulavam na capital federal, tais como o jornal do comércio, é possível acompanhar a importância da pregação do padre Júlio Maria, assentada no apoio a República, aceitação do liberalismo e preeminência da questão social sobre a questão política, mas também as polêmicas suscitadas contra positivistas, liberais, tradicionalistas e monarquistas e até mesmo a desconfiança da Santa Sé. Assim, a análise da obra e trajetória intelectual de Júlio Maria entre 1897 e 1900 é fundamental para se compreender os fundamentos, o sentido, assim como os limites do novo modelo pastoral e postural intelectual católica frente ao mundo moderno, especialmente no Brasil.

Giovanna Entringer (Ufes) A violência contra cristãos em Alexandria no século IV: Ensaio sobre o conflito entre a política religiosa de Constâncio II e os Nicenos Nossa proposta consiste em abordar a violência ocorrida na cidade de Alexandria no século IV em decorrência da interferência do poder imperial o que contribui para o agravamento do conflito religioso existente naquela localidade. A controvérsia ariana encontra em Alexandria um palco no qual a discussão em torno da divindade de Cristo assumiu um caráter não somente teológico, mas político e social, que em parte contribui para que as ações e reações de arianos e nicenos sejam

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potencializadas congregando os cristãos a se posicionarem em favor de um dos grupos. Deste modo, Constâncio II ao instituir sua política religiosa na região, determinando a substituição e prisão do bispo da cidade, Atanásio, encontra a resistência por parte dos partidários do bispo ao cumprimento das determinações imperiais o que desencadeia ações de violência na cidade.

Gisele Bochi Palma (UDESC) “Revitalização”: Um processo de transformação muito além do espaço urbano O artigo apresenta uma observação da cidade de Florianópolis, particularmente da construção de uma nova avenida chamada de Beira-Mar Continental que está em fase de construção e que tem como proposta criar um novo acesso à área continental e “revitalizar” o bairro no qual está localizada, o Estreito. O processo de “revitalização” tem se intensificado nas últimas décadas nos centros urbanos, operando transformações que são justificadas através de melhorias para seus habitantes, como criação de áreas de lazer e geração de empregos, influenciando diretamente a vida do “homem ordinário”, conforme dito por Michel de Certeau, e se aproximando do processo de “gentrificação”, apontado por Catherine Bidou-Zachariasen, que se refere à substituição das camadas populares por classes com maior poder aquisitivo. Todo esse processo ainda converge para uma intensificação de uma valorização do turismo, que vem pautando as discussões da cidade de Florianópolis nos últimos 50 anos.

Gisele dos Reis Cruz (UFF) A redemocratização e as práticas democráticas: Uma reflexão sobre o discurso do consenso em instâncias participativas As cidades têm se apresentado como o centro das práticas democráticas direcionadas para a concertação entre poder público e sociedade civil. A partir da década de 80, a descentralização política e administrativa tem resultado em discursos voltados para a desconcentração do poder, de modo que a população de pequenas e médias cidades passaram a ser vistas como parceiras dos governos na elaboração e implantação de políticas públicas. Por sua maior complexidade em termos de relações econômicas e sociais, as cidades sempre foram palco de diversos conflitos político-ideológicos, onde grupos de interesses diversos e contrastantes travam uma disputa em termos organizacionais, políticos e ideológicos, no sentido da luta de classes marxiana. Com a redemocratização brasileira, o estímulo à participação passou a ser incentivada pelo próprio governo, não no sentido da luta de classes marxiana, e sim no sentido da concertação. Os diversos espaços públicos de interação entre governo e sociedade — fóruns e conselhos, por exemplo — se baseiam no consenso entre diferentes segmentos sociais, em favor do atendimento das demandas sociais. Ao invés de se reprimir os movimentos sociais ou de enxergar neles a

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luta de classes, o olhar passou a ser direcionado para o diálogo e o debate, visando o alcance de resultados virtuosos em termos de bem público. Apesar do discurso do consenso, as experiências participativas têm se deparado com o controle da participação por parte de alguns grupos, geralmente os mais instruídos e organizados; assim, a concertação nem sempre é alcançada. A metodologia dessas práticas se baseia no interesse geral, sem considerar os diversos interesses envolvidos, que estão por detrás do comportamento político.

Giselle Moreira da Mata (UFG) As comédias de Aristófanes: Gênero e poder na Atenas Clássica Nosso trabalho se propõe ao debate das relações entre gênero e poder visualizadas nas comédias Aristofânicas, extraindo das personagens femininas de algumas obras do autor questões pertinentes para as discussões relativas ao feminino na Atenas clássica. Nesta acepção, nos voltamos especialmente para a representação da esposa ideal do cidadão ateniense (Mélissa) em três comédias sobre as quais as Gynaikes possuem maior evidência. Selecionamos as peças Lisístrata (411 a.C.) As Mulheres que Celebram as Tesmophorias (411 a.C.); e Assembléia das Mulheres (392 a.C.). As personagens apresentadas nas obras acima abrem espaço para uma discussão concernente às fronteiras da cidadania democrática ateniense. São trabalhos que nos permitem avaliar a presença feminina fora do Gineceu, destacando seus mecanismos de atuação social para a identidade, a coesão e estrutura Políades. Desta maneira, a cidadania da Mélissa em Atenas pode ser trabalhada de duas formas. A primeira ocorre em virtude de sua participação na transmissão da cidadania e nos ritos religiosos, tornando necessário salientarmos os mecanismos pelos quais se operaram confluências entre a cidadania política e a civil. A segunda é a cidadania de mulheres proposta em Aristófanes, apresentada de forma cômica, porém, não ilegítima.

Glauce de Souza Luz (UFRJ) Agrigento e a construção da paisagem imperial Nesta comunicação pretendemos discutir os resultados obtidos pela pesquisa que venho realizando para a elaboração de dissertação de mestrado no Programa de Pós-Graduação em História Comparada da UFRJ. Partimos do princípio de que a territorialização do espaço e a construção da paisagem imperial significam um espaço delimitado sobre o qual se exerce o poder de uma entidade política, administrativa e judiciária, ou seja, uma forma de apropriação, intervenção e ordenação do espaço que se fundamenta nas relações de dominação e autoridade. Por outro lado, tal processo também implica na formação de novas formas de relação social que estimula nas áreas dominadas uma renegociação e uma reinvenção radicalmente aberta e interminável de processos que possibilitavam novas modalidades de ser, conviver e de aprender. Logo, pretendemos com esta

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pesquisa analisar a apropriação e o reordenamento do espaço da antiga cidade de Akragas pelos romanos e, o surgimento e desenvolvimento da cidade de Agrigento.

Gonçalo Rocha Gonçalves (The Open University/Fundação para a Ciência e Tecnologia) O governo do quotidiano: A reforma da Polícia Civil de Lisboa na última década do século XIX A criação de modernas forças policiais urbanas (profissionais e civis) tem sido explicada pela história social como uma resposta à criminalidade e desordens públicas decorrentes do processo de urbanização. Embora com menos insistência, alguns historiadores têm ligado o desenvolvimento destes novos dispositivos de poder com as demandas por uma nova (mais abrangente) ordem urbana. É nesta última perspectiva que esta comunicação se integra. Concentrando-nos no processo de reforma da Polícia Civil de Lisboa, que se arrastou por praticamente toda a última década do século XIX, argumentarse-á que existe uma relação directa entre o desenvolvimento da organização e funcionamento das forças policiais e a emergência e consolidação de novos padrões de comportamento social na cidade, em particular no espaço público. Assim, num primeiro momento, reflectimos sobre um dos aspectos mais característicos deste tipo de organização — a sua territorialidade. Isto é, a divisão da cidade em esquadras (no Brasil, delegacia) e as patrulhas operando vinte e quatro horas por dia. A polícia estruturava-se então em «escalas de proximidade», em que bairro e rua surgem como unidades base. Num segundo momento, relacionamos o desenvolvimento deste tipo de organização com a transformação do quotidiano urbano. A aplicação de uma visão cada vez mais hegemónica de espaço público como espaço de circulação, retirando daí actividades (económicas, sociabilidades etc.) e regulando as cada vez mais intensas e variadas práticas de circulação, influenciou decisivamente a reforma da organização e das práticas policiais. A principal fonte desta comunicação é composta pelas ordens de serviço diárias da Polícia Civil de Lisboa. Por esta via, através do quotidiano policial — que é também um quotidiano da cidade — podemos perceber como a organização e as práticas policiais não eram apenas uma estratégia política ou determinação organizacional (no seu todo), mas também o resultado da negociação quotidiana da ordem entre polícias (individualmente e em pequenos grupos) e os habitantes da cidade.

Gustavo Pinto de Sousa (UERJ) Os africanos livres na cidade do Rio de Janeiro, 1831-1850 O trabalho aqui apresentado tem como escopo mostrar a relação dos africanos livres na cidade do Rio de Janeiro. Partindo da concepção em perceber a cidade como um espaço dinâmico de constante mudança. É compreender, ao fim e ao cabo, no cotidiano da urbe as relações políticas e sociais, na qual os africanos livres estão inseridos. Identificando as localidades na cidade do Rio de Janeiro, onde os africanos livres são empregados como força de trabalho. Problematizar

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as especificidades dos ofícios no que tange as nuances entre trabalho e escravidão. Levando em consideração a perspectiva de poderes, que instituem e normatizam a presença dos africanos livres pela urbe. Cidade, cotidiano e poder são formas fulcrais para entender a dinâmica dos africanos livres e seus ofícios. Pois de maneira preliminar, podemos indicar que tais africanos trabalharam em obras centrais para modernização e civilização da Corte, tais como: a Casa de Correção, o Hospício Pedro II, o colégio D. Pedro II, entre outras. Assim, o cerne da questão é examinar e mostrar como os africanos livres foram peças fundamentais para transformação da cidade do Rio de Janeiro em seu momento de modernização.

Hanilton Ribeiro de Souza (UNEB) O povo, o poder e o destino do lugar: A difícil partilha do poder e o desenvolvimento de Castro Alves/Bahia A análise das inter-relações entre os diversos atores sociais do lugar, refletidas na forma de apropriação e gestão do território, e suas influências sobre a formação da identidade e cidadania do castroalvense, bem como as suas conseqüências sobre o desenvolvimento local, constitui-se no objeto de discussão deste artigo, intitulado: “O Povo, o Poder e o Destino do Lugar — A Difícil Partilha do Poder e o Desenvolvimento de Castro Alves/BA”. Atualmente, com a redefinição do papel do lugar e da sua revalorização no cenário acadêmico, há também um debate sobre a forma de atuação do cidadão no seu espaço vivido. Nesta perspectiva, realizamos uma discussão sobre a importância da participação cidadã na gestão e no desenvolvimento local, enfatizando também as relações de poder que se efetuam e se concretizam no território e interferem na formação da cidadania do castroalvense. Assim, podemos observar que a prevalência de vínculos sócio-políticos verticais no modo de gestão pública local, produz efeitos negativos sobre a postura do cidadão castroalvense, refletindo-se também sobre o desenvolvimento do lugar. Diante dessa realidade, concebemos que uma apropriação plena do lugar influi positivamente na identidade e na cidadania local, gerando responsabilidades civis sobre o mesmo. Além disso, uma partilha do poder local poderia viabilizar uma maior articulação entre os atores sociais, visando o debate de idéias, a busca de soluções e a proposição de alternativas de desenvolvimento calcadas nos anseios e potencialidades da própria comunidade, a fim de se construir no lugar uma outra realidade: alternativa, mais justa e democrática.

Hariadne da Penha Soares (Ufes) Os cultos de Ísis e Atargátis no alto Império Romano: Conflito religioso e formação de identidades em “O Asno de Ouro e De Dea Syria” Este artigo aborda o conflito religioso entre as deidades pagãs Ísis e Atargátis, também denominada Deusa Síria e sua inter-relação com a vida social romana no período do Alto Império.

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Basearemos nosso plano em duas fontes documentais muito importantes: o De Dea Syria, de Luciano de Samosata e a obra O Asno de Ouro, de Lúcio Apuléio. Partimos do pressuposto de que a orientalização do Império Romano, entendido como um processo de integração gradual e profunda dos costumes ancestrais com o patrimônio cultural absorvido do Oriente propiciou, num contexto permeado de diversidade religiosa, representações estigmatizantes e distintivas provocadas por conflitos religiosos entre adoradores de diferentes divindades demonstrando uma verdadeira construção identitária dentro da sociedade alto imperial romana.

Helena Mollo (UFOP) A elaboração de uma identidade histórica na segunda metade do Oitocentos no Brasil O presente trabalho tem como objetivo discutir as formas de elaboração de uma identidade histórica no Brasil da segunda metade do oitocentos. Após a Independência, os projetos de nação no Brasil disputaram formas narrativas sobre os acontecimentos no tempo. Na organização de uma identidade, o tempo passado é trazido à cena para uma legitimação não só do presente, mas — e sobretudo — do futuro.

Heloiza de Cácia Manhães Alves (UENF) Urbanização e poder político em Campos dos Goytacazes (1930-1965) A modernização urbana de Campos entre os anos 1930 e 1965 apresenta-se como um empreendimento estrategicamente pensado pelas elites locais, visando à sua afirmação como centro político no cenário fluminense. Apresento nessa comunicação uma análise da atuação das elites locais na formulação e implementação de projetos de reformas urbanas, buscando caracterizar essa atuação como meio para a obtenção de uma maior influência política local, regional e estadual. A modernização urbana, no período estudado, era vista como meio de habilitar a cidade para abrigar a capital do Estado, ou mesmo para justificar a criação de um novo estado — estado da Paraíba do Sul — do qual seria a capital. Tais projetos garantiriam a projeção política dessa elite, recuperando, na sua visão, uma “Idade do Ouro”, marcada pelo apogeu político econômico da região. Para compreender a ação dessas elites, considero necessário estudar a sua formação, composição social e educação, bem como sua atuação em tres importantes instituições: a Associação Comercial, a Câmara Municipal e Assembléia Legislativa Estadual (ALERJ). Acredito que esse estudo, com ênfase na imbricação entre os aspectos históricos, políticos, sociológicos e urbanísticos, lança luz também sobre ação da elite local no presente e suas relações com as políticas públicas de urbanização. Finalmente, ressalto que um estudo local não implica em perder de vista as questões mais gerais e não deve esquecer as articulações entre o local, o regional e o nacional.

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Humberto Perinelli Neto (UNESP/CEUBM/FEF) & Rodrigo Ribeiro Paziani (UNESP/CEUBM/FEF) Do desejo de civilização à máscara da barbárie: Por uma (re)leitura do “Almanach Illustrado de Ribeirão Preto” A proposta deste trabalho será a de compreender a experiência modernizante e o imaginário urbano de Ribeirão Preto por intermédio da presença de representações sobre a cidade num famoso e interessante documento de época, o Almanach Illustrado de Ribeirão Preto, publicado em 1913 e distribuído no município entre 1913 e 1914. Ao explorar este prisma, pretendo mostrar inicialmente que o Almanach Illustrado revela uma “leitura” não apenas idealizada, mas, especialmente, desejada das transformações urbanas por parte de sua elite local — desejo que coincidia com o sonho de fazer de Ribeirão Preto, ora a ‘Petit Paris’, ora a ‘Califórnia do Café’. Contudo, se o escrito presente no almanaque afinava-se com um imaginário urbano “civilizatório” e com a existência de uma tímida, mas incipiente sociedade de consumo na cidade, não era menos verossímil que a cidade-desejo evocada nas suas páginas servisse de carapaça à uma trama mais profunda, ambígua, que fazia do almanaque uma “máscara” por onde se escamoteava os contornos da “barbárie”, representados pelo mando pessoal, o uso da violência e o poder político das principais lideranças municipais, num lusco-fusco entre público e privado, atraso e progresso, civilização e barbárie.

Ingrid Silva de Oliveira (UFRRJ) Relações de trabalho na cidade do Rio de Janeiro no pós-abolição. Uma análise através da literatura de Júlia Lopes de Almeida No início do século XX, a cidade do Rio de Janeiro viu-se completamente transformada. A influência cultural européia pode até hoje ser vista em vários lugares da cidade. Porém, tal influência não se detinha às suas paisagens. Um exemplo disso é a forma como as teorias raciais produzidas na Europa invadiram os jornais e a literatura carioca dessa época. A escritora Júlia Lopes de Almeida (1862-1934) viveu na cidade justamente nesse momento de transformação e foi fortemente influenciada por essas teorias raciais. Tal fato pode ser observado na preocupação da autora em marcar as diferenças entre seus personagens negros e brancos. Entendendo a literatura como fonte histórica, acredita-se que estudar as representações do negro nesses textos do início do século XX, nos ajuda a compreender como seu papel no pós-abolição era visto pela elite intelectual, apontando caminhos para identificar as questões com as quais os negros tiveram de lidar naquele momento. Para isso, o presente trabalho apresenta uma análise do romance A intrusa (1908), de Júlia Lopes de Almeida, buscando perceber como o mundo do trabalho foi pensado pela elite intelectual carioca a partir da análise das representações do negro brasileiro no pós-abolição.

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Isadora Tavares Maleval (UERJ) A entrada de um manual de história do Brasil no ensino do Município da Corte em meados do Oitocentos: O caso do “Epítome da Historia do Brasil” de José Pedro Xavier Pinheiro A escrita de manuais para uso nos colégios de ensino primário e secundário era, em meados do século XIX, tarefa árdua que poderia garantir, caso bem sucedida, notoriedade ao autor de tal obra. Caso fosse utilizado pelo ensino no Município da Corte, essa notoriedade era ainda maior devido à importância do Rio de Janeiro como centro político e administrativo do Brasil imperial desde 1808. Nesse sentido, para chegar a ser publicado e utilizado no ensino dessa cidade, um manual voltado à mocidade deveria sofrer apreciação pelo lócus que desempenharia o importante papel de definir a entrada ou não de manuais escolares no âmbito das escolas: o Conselho de Instrução Pública, convocado pela Inspetoria Geral da Instrução Primária e Secundária do Município da Corte (IGIPSC), então presidida por Euzébio de Queiroz. Publicado em 1854, na Bahia, e já tendo sido utilizado no ensino dessa região, o Epítome da Historia do Brasil foi levado, em fins de 1858, a “teste” para o Rio de Janeiro, onde seu autor, José Pedro Xavier Pinheiro, já devia trabalhar e onde viria a falecer, em 1882. A trajetória do livro será aqui esboçada, sobretudo, com relação ao processo — no recorte entre os anos de 1859 a 1873 —, que culminaria em sua aprovação pelo Conselho, sua posterior publicação pelos Laemmert e sua utilização em casas de ensino da cidade do Rio de Janeiro.

Ismara Cristina Libardi Rocha (Centro Universitário São Camilo) Thatiane Pessin Viana (Centro Universitário São Camilo) O golpe civil-militar de 1964 nos livros didáticos: uma releitura historiográfica Nos últimos anos foram produzidos inúmeros trabalhos no campo historiográfico que fizeram uma ampla releitura dos eventos que marcaram o início da ditadura militar brasileira. Tais obras procuraram realizar uma interpretação das versões apresentadas sobre os motivos que levaram o país a experimentar esse longo período ditatorial. Ciente dessa realidade, através de uma pesquisa bibliográfica e de análise de livros didáticos, o presente trabalho pretende desenvolver uma releitura historiográfica desse importante episódio da história política brasileira.

Ivan Vieira Neto (UFG) As raízes do neoplatonismo nas tradições helenísticas tardo-antigas A filosofia neoplatônica teve origem no Egito, especificamente na cidade de Alexandria, a partir de expoentes como Amônio Saccas e Plotino de Licópolis. Mas a base do pensamento neoplatônico compreendia mais que simplesmente a concepção egípcia, abrangendo desde obras de filósofos

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gregos como Platão e Aristóteles a elementos das religiões orientais. Entre os séculos II e IV d.C., Plotino, Porfírio e Jâmblico estudaram e/ou ensinaram em Roma. Estas influências, vindas tanto do centro como das periferias do Império Romano, transformaram o neoplatonismo em uma filosofia de fronteiras, fundamentalmente ligada à cultura helenística. Neste trabalho pretendemos analisar as principais características de distintas culturas mediterrânicas no neoplatonismo, nos detendo principalmente sobre os aspectos helenísticos híbridos e sincréticos inseridos no interior desta filosofia.

Jackson de Souza Vale (UFJF) Machado de Assis e a participação eleitoral na cidade do Rio de Janeiro na primeira década republicana Com a ascensão do regime republicano no Brasil pouca coisa mudou em relação à participação eleitoral da população brasileira. Apesar do fim do voto censitário, outras restrições continuaram como o voto dos analfabetos e das mulheres. No Rio de Janeiro, cidade mais urbanizada do país e de razoável alfabetização, o eleitorado potencial era de cerca de vinte por cento da população. No entanto, desses eleitores, apenas um número ínfimo se alistava e votava. A exclusão legal entende-se facilmente, no entanto, a auto-exclusão necessita de uma interpretação mais aprofundada. Machado de Assis nas crônicas da série A semana escrita entre 1892 e 1897 na Gazeta de Notícias, frequentemente aborda o tema da participação cidadã “ativa” na capital federal. O escritor analisa a auto-exclusão do eleitorado e utiliza-se das crônicas para tentar incentivar a população carioca a uma maior participação sufragista. A forma literária mais utilizada para se atingir esses objetivos, no período estudado, era justamente a crônica. Ela procurava mais do que refletir sobre realidade, analisá-la e transformá-la, utilizando-se para isso, do seu tom mais leve e próximo ao leitor comum; além de serem publicadas nos jornais, o que garantia uma maior penetração social. Escritas durante um dos períodos mais conturbados da cidade do Rio de Janeiro, essas crônicas machadianas analisam uma entre as várias possibilidades possíveis à participação política, nesse período de afirmação do regime republicano.

Jadir Peçanha Rostoldo (USP) Fragmentos do cotidiano urbano: O médico, o inspetor de higiene, o fiscal geral, Carlos Pinheiros e Silvestre Alves As cidades podem ser apresentadas, analisadas e discutidas a partir de vários contextos e fontes. Nesse trabalho vamos focar a cidade de Vitória, capital do Estado do Espírito Santo, no início do século XX, especificamente no ano de 1908. As petições encaminhadas ao governo municipal serão nossas fontes de pesquisa, utilizadas para entender o cotidiano e o movimento da cidade. Revelaremos os questionamentos do médico do governo municipal, as preocupações do inspetor de higiene sobre a saúde pública, e os apontamentos do fiscal geral, além das demandas

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dos representantes da sociedade: Carlos Pinheiros e Silvestre Alves. A proposta é conhecer e entender o cotidiano da cidade a partir dos seus atores sociais e de suas motivações, o que proporcionará, a partir dos atores elencados, uma visão no âmbito público e privado. O objetivo é revelar a capital capixaba a partir dos seus sujeitos históricos, com o propósito de contribuir na construção de sua história e na formação de seu futuro.

Jaguaracy de Oliveira (UESC) Porto de Ilhéus 1918 – 1963 A comunicação analisa as atividades portuárias na cidade de Ilhéus durante o período de 1918 – 1963, o processo de concessão para a realização de obras no Porto de ilhéus, pela Companhia Industrial de Ilhéus (ou Porto Fluvial como era conhecido devido a sua localização próxima a foz do rio cachoeira), a reorganização do espaço urbano da cidade após o crescimento das atividades portuárias. O Porto era um entrave para o crescimento econômico e social da cidade de Ilhéus e toda região sul da Bahia gerando problemas para os produtores, comerciantes e principalmente para os trabalhadores portuários. Em relação à metodologia foram utilizados quatro tipos de fontes: administrativas, periódicas, documentos oficiais e iconográficas, com o intento de analisar o processo de concessão para exploração das atividades portuárias pela Cia industrial, a rescisão do contrato de concessão; as críticas nos jornais a atuação da concessionária do porto de Ilhéus; e as transformações urbanas ocorridas na zona portuária de Ilhéus, principalmente através das fontes iconográficas. O Porto em questão escoava a maior parte da produção regional de cacau, com a expansão dos mercados internacionais para o cacau imprimiu um novo ritmo na dinâmica portuária e no território do município de Ilhéus. Ilhéus teve seu ápice de desenvolvimento econômico, urbano e social atrelado às atividades comerciais marítimas, seja com a cana, ou com o cacau.

Jailma Maria de Lima (UFRN) Guerra, política e cotidiano em Natal – 1945 Vivia-se na capital do estado do Rio Grande do Norte, no início de 1945, entre inquietações e apreensões. De um lado, as notícias sobre os rumos da Segunda Guerra Mundial, de outro, a “tranqüilidade” política, ocorrida após a implantação do Estado Novo, em 1937. Contudo, as inquietações e apreensões, tranqüilizadas, com a emergência da paz mundial, deslocaram-se para o campo político e juntando-se a expectativas e esperanças, ganharam às ruas em diversos tipos de manifestações. Nesse sentido, a comunicação objetiva apresentar a intensidade dos acontecimentos políticos na cidade de Natal, em 1945, considerando que ocorreu uma efetiva ampliação do espaço público, com a mobilização da população em atividades políticas, vividas ainda sob o Estado Novo. Além disso, vale observar que a política não foi vivenciada apenas pelas elites, mas na dimensão

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cotidiana da população. As articulações, nos primeiros meses de 1945, ocorreram de forma muito rápida, com as lideranças políticas das décadas anteriores passando a ocupar a cena pública e mobilizando todo um passado político, agora em novo contexto. O passado era utilizado como recurso de poder e os novos partidos para se legitimarem mobilizavam memórias, valores, crenças e comportamentos da população, mas também toda uma genealogia política.

Janaina Madeira Brito Stange (Ufes) Elizabeth Maria Andrade Aragão (Ufes) Fomentando o cotidiano no bairro de peixes frescos Esta é uma produção da pesquisa de mestrado Um soluçar de vida: cantos ecoando com os projetos sociais de Barra do Riacho, integrante do Núcleo de Pesquisa Contornos de Cidades: movimentos e composições (Programa de Pós-Graduação em Psicologia Institucional/Ufes). Trata-se de um texto que reconhece na cidade, múltiplas formas de configurá-la e de pensar a vida e as construções astuciosas que os humanos fazem no cotidiano. Trazemos uma imagem do dia e do tensionamento político de um bairro, confrontando perspectivas de fragmentação social, de naturalização de territórios e, não menos, do fomento de uma existência para o cidadão baseada na homogeneidade e na previsibilidade. Produzimos uma narrativa, apostando na possibilidade de enlaçamento das vidas vividas de maneira diferenciadas, assim como no enredar dos tantos sentidos à cidadania e à participação política com os ‘novos movimentos sociais’ e as atuais formas de gestão das políticas de ‘interesse público’. Reconhecemos que as vidas na periferia não se curvam ao paradoxal dessas movimentações, ensinando que a ‘vilanização’ (de projetos, entidades sociais, empresas etc) não constitui caminho profícuo às pesquisas e teorizações, já que estas vidas se encontram com o paradoxal que há não apenas nos processos políticos modernos, mas também nos humanos e nas formas de agirem na política, na vida. Neste trabalho, o bairro, o cotidiano, os encontros políticos, os cheiros, a fábrica e a rua, dão materialidade a uma perspectiva de cidade que é efeito de cruzamentos e encruzilhadas, efeito de corpos e de contradições, de múltiplas lutas sociais e, sobretudo, da aspiração por uma vida que se faz mobilizada também pelo combate aos determinismos sociais.

Jaquelini Scalzer (Ufes) Ozirlei Teresa Marcilino(Ufes) A Carretella Del Vin: Manifestação extraordinária de representações e de memórias, adornada e revestida de cultura italiana Este trabalho pretende contribuir na reflexão acerca da forte presença de imigrantes italianos na cidade de Santa Teresa-ES, por meio da análise de marcas culturais impressas na organização do

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espaço urbano, nas relações cotidianas e na manifestação cultural que ocorre anualmente por ocasião das comemorações da Festa do Imigrante Italiano — A Carretella Del Vin. Pensados como elementos histórico-culturais, as relações cotidianas que compõem este espaço urbano marcado pela colonização italiana tem buscado, por meios teórico-científico e culturais, preservar a memória de uma tradição que compõem e define sua identidade sócio-política-cultural. A cidade constitui-se num terreno fértil para analisar as influências do passado na constituição de fronteiras históricas, geográficas e culturais. Tomando a acepção deleuziana, que define temporalidade como algo que transcende a diferença temporal cronológica, a Carretella Del Vin, realizada todos os anos, interceptada de representações e de memórias para os descendentes italianos e para todos que dela participam, numa temporalidade em que os sentidos se dividem e se multiplicam, tornou-se marco identitário da cidade, bem como dos teresenses. A partir de alguns instrumentos metodológicos buscamos registrar a história oral dos idealizadores desse evento: concepções, dificuldades e necessidades; detectar pontos significativos sobre a sua organização, numa interface analítica com as questões do cotidiano e de poder neste âmbito; reunir documentos e relatos de descendentes dos fundadores da cidade que possibilitem analisar a constituição do espaço urbano; pesquisar em documentos oficiais e outras publicações sobre a imigração italiana nesse município. Finalmente, compreender que, mesmo despontando recentemente para uma diversidade cultural em função de seu desenvolvimento sócio-econômico-educacional, Santa Teresa guarda marcas de um passado que se revela nos traços arquitetônicos, na disposição das ruas e praças, nas relações cotidianas individuais e coletivas e faz questão de manter uma memória identitária por meio da tradição oral, escrita e das manifestações culturais...

Jean Carlos Gomes Camargo (UNB) Os medos do contato na cidade de Brasília Analisamos os medos do contato e o processo de segregação sócio-espacial na cidade de Brasília. Objetivávamos captar subjetividades dos agentes sobre sua vida e sua percepção acerca da cidade de Brasília por meio de entrevistas. Através dos discursos deles, foi possível perceber valores, sentimentos, comportamentos e práticas. Intencionamos discorrer sobre a segregação sócio-espacial iluminando aspectos culturais. O indivíduo blasé de Simmel, os dois modelos de espaços (social e simbólico) de Bourdieu, que têm poder gerador e unificador de habitus, como também a história da cidade de Veneza do século XVI, narrada por Sennett, foram alguns dos recursos teóricos e conceituais que permitiram tratar esse assunto sem reduzi-lo ao fenômenos da violência urbana. A análise de Tuan nos mostra que o medo de “estrangeiros” pobres era um sentimento comum nas cidades do século XVIII. Percebemos que em Brasília manter a distância dos “estranhos” (ou estrangeiros no sentido simmeliano) tornou-se prática corrente ou generalizada. Notamos que o sentimento de insegurança vem acompanhado de uma vontade de limitar os acessos à cidadania aos “estranhos”, como também de um desejo de cercar fisicamente a “polis” com aparatos técnicos

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de proteção. Nossos dados de campo apontam ainda que o sentimento de insegurança não é senão receio de incivilidades ou medo do migrante pobre. Incivilidades são, portanto, assimiladas no cotidiano citadino como o princípio da ameaça social e pessoal.

Joana D’arc Fernandes Ferraz (Unirio) O não-lugar das classes perigosas na cidade do Rio de Janeiro contemporâneo Foucault assinala o questionamento de Nietzsche, que em pleno momento do neokantismo, discute a idéia de que “o tempo e o espaço podem preexistir ao conhecimento, idéia de que o tempo e o espaço não são formas de conhecimento, mas, pelo contrário, espécies de rochas primitivas sobre as quais o conhecimento vem se fixar” (2003:14). O tempo não é um dado. E o espaço também não é um dado. São invenções. Não somente a cidade é construída e fabricada como também o seu tempo e o seu espaço. O que se estabelece entre o espaço e o tempo como abstração é o conhecimento sobre eles. Assim, o conhecimento se afirma como violência, dominação, poder e força. Em que lugar na cidade se localizam aquelas memórias que não podem submergir? Em que lugar podem se fixar aqueles que não podem aparecer? Estamos falando da memória da ditadura brasileira e do lugar da favela e do favelado hoje. Tempos diferentes, lugares diferentes que guardam em si a marca da violência meticulosamente construída pelo Estado. Remontados e diariamente construídos esses lugares e tempos fixam-se no cotidiano como algo dado. Constrói-se o cinismo, cuja máscara dificilmente é possível de ser revelada. E o que nos é dado a conhecer sobre o lugar da memória da ditadura brasileira, construído a partir da década de 70, e sobre o lugar da favela e do favelado, a partir da década 90, guardam entre si uma relação bem próxima. Este trabalho procura analisar os conceitos de esquecimento, violência e pobreza em oposição aos conceitos de memória, solidariedade e ordem, a partir da violência produzida pelo Estado sobre as classes perigosas na contemporaneidade.

Joana Paula Pereira Correia (Ufes) Agostinho e identidade: “De Moribus Ecclesiae Catholicae” Agostinho inicia o combate ao Maniqueísmo logo após sua conversão (387), contudo, esta luta se estende por toda sua vida, com maior ou menor ênfase. Assim, ele escreve em 388 / 390 De moribus eclesiae catholicae et de moribus Manichaerorum. Trataremos neste artigo apenas o primeiro livro da obra De moribus ecclesiae catholicae, no qual o Bispo se encarrega de mostrar a moral cristã, a união com Deus na Caridade e a Virtude. Ao trabalhar com este texto objetivamos compreender o que Agostinho entende por ser cristão e assim, afirma a sua identidade.

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João Garcia Neto (UDESC) Os donos da rua: Vigilância e criminalidade no centro de Florianópolis Este trabalho pretendeu observar a relação que existe entre a movimentação de transeuntes e o índice de criminalidade registrado nas ruas do centro de Florianópolis no período da noite, utilizando-se de dados estáticos fornecidos pelas autoridades de segurança publica da capital catarinense além de pesquisas bibliográficas sobre o tema, tendo como principal referencia o livro “Morte e Vida das Grandes Cidades” da autora norte-americana Jane Jacobs. A observação da relação crime-vigilância torna-se importante do ponto de vista do planejamento urbano, pois, através dela é possível, pela revitalização de certas áreas, diminuir a incidência de crimes sem a utilização de força policial. O centro de Florianópolis foi escolhido como recorte espacial por ser uma área de ocupação mista, contendo em seus limites residências de alto a baixo padrão, além de comercio, tradicionais e de entretenimento, tendo assim um amplo campo de estudo com diversas possibilidades de observação. Tratou-se nesta pesquisa da forma como bares e clubes reduzem a criminalidade atraindo transeuntes para suas imediações e algumas estratégias de revitalização de ruas para que as mesmas tornem-se mais seguras e acolhedoras atraindo assim mais pessoas para as ruas e criando nelas o sentimento, quase inconsciente, de serem elas as “donas da rua” e portanto fazendo com que elas zelem também pelo bem-estar da mesma e de seus habitantes, moradores ou transeuntes.

João Henrique dos Santos (UERJ) Omnia Sunt Communia: “A pregação radical de Thomas Müntzer das cidades para os campos” A presente comunicação visa a apontar de que modo, na Alemanha da década de 1520, a pregação radical do teólogo reformador Thomas Müntzer, engendrada inicialmente no seio dos centros urbanos, atingiu a população camponesa a ponto de deflagrar a Guerra dos Camponeses (1524-1525). Observa-se que as barreiras entre a cidade e o campo eram de tal modo permeáveis que as ideias pregadas nas cidades em pouco tempo atingiam os campos, assim como os eventos ocorridos no campo imediatamente repercutiam no cotidiano das cidades, evidenciando uma intensa circularidade de pessoas e de idéias, analisadas a partir da força do que se tornou o lema dos camponeses como pregado por Müntzer: Omnia sunt communia (“Tudo é de todos”).

João Pedro Nunes (ISCTE/IUL - Lisboa) Da “cidade pedestre à metrópole do automóvel”: Forma urbana e mobilidade espacial em Lisboa (1950-2001) Nos últimos anos, as cidades europeias têm vindo a evidenciar um novo padrão de mobilidade espacial no qual a deslocação em automóvel assume um peso preponderante. O entendimento

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desta mudança no quadro da «transição urbana» (Wiel, 1999) permite sobretudo apreender os efeitos que a metropolização engendra ao nível do modo dominante de apropriação do solo e da produção da forma urbana. Nesta comunicação, a atenção é dirigida para experiência da deslocação na cidade de Lisboa e seus territórios limítrofes relacionando os padrões de mobilidade espacial daí resultantes com a produção de desigualdades sociais urbanas. Para tal, começar-se-á por analisar como é que Lisboa evolui de uma «cidade pedestre» — cidade na qual a maioria das deslocações era realizada a pé ou em associação a transporte colectivo — a uma «metrópole automóvel», um vasto território metropolitano no qual a maioria das deslocações de activos e estudantes se realiza em automóvel. Seguidamente, um enfoque histórico permitirá equacionar os diferentes regimes de produção da forma urbana e suas relações como os esquemas de mobilidade espacial urbana. E finalmente um enfoque mais sociológico permitirá levantar diferentes padrões de deslocação, relativos a diferentes grupos socio-económicos, e discuti-los sob a óptica da «motilidade» (Kaufmann et al. 2004) — isto é, uma aptidão à mobilidade entendida como cruzamento entre acessos, de competências e de apropriações do espaço urbano por parte dos urbanitas.

Jonivane Tavares (Ufes), Rafael Gonring (Ufes) & Rosimery Aliprandi Ribeiro (Ufes) A influência da Terceira Ponte na evolução da estrutura urbana de Vila Velha, Espírito Santo, Brasil A ponte Darcy Castello de Mendonça, a Terceira Ponte, é uma das mais importantes obras de engenharia do Estado do Espírito Santo. Sua principal função é ligar a capital do Estado ao município de Vila Velha. Sua construção foi reflexo da necessidade de uma nova ligação entre os dois municípios, uma vez que os dois acessos até então existentes não comportavam mais o intenso fluxo de veículos entre Vila Velha e Vitória. A proposta deste estudo é demonstrar como a Terceira Ponte influenciou a reestruturação urbana do município através de transformações físicas no sítio urbano e por meio do crescimento sócio-econômico. Deste modo, realizou-se uma análise de medidas regionais, que são indicadores que mostram a concentração, dispersão, reestruturação e especialização do arcabouço produtivo regional. As medidas utilizadas foram o Quociente Locacional, o Coeficiente de Localização, o Coeficiente de Reestruturação e o Coeficiente de Especialização. Para se calcular os indicadores supracitados, utilizou-se três categorias econômicas importantes: Estabelecimentos, Emprego e Produto Interno Bruto (PIB) entre 1985 e 1996, como forma de verificar o crescimento comparativo de Vila Velha em relação à Região Metropolitana da Grande Vitória (RMGV), na qual esta cidade está inserida. Vale ressaltar que a escolha do intervalo de análise se deu no intuito de verificar a situação do município na região metropolitana no período anterior e posterior à inauguração da ponte. Apesar do curto espaço de tempo analisado, foi possível constatar relevantes alterações espaciais e sócio-econômicas no espaço geográfico de Vila Velha.

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Jória Motta Scolforo (Ufes) O poder e a morte no “Jornal de Viçosa” na década de 1920 Este trabalho analisa as formas de manifestação do poder nas notícias de falecimentos publicadas no periódico Jornal de Viçosa, no município de Viçosa, na Zona da Mata de Minas Gerais. As análises concentram-se no período de circulação do jornal, ou seja, a década de 1920. O estudo foi realizado com os exemplares que estão arquivados e que abrangem os anos de 1923 a 1928. Por meio da análise dos discursos sobre a morte, dos valores, representações e do espaço dedicado aos falecimentos o artigo propõe uma reflexão sobre o cotidiano da morte na cidade de Viçosa, destacando, dentre outros aspectos, as hierarquias da vida presentes nos discursos sobre a morte. Os textos do Jornal de Viçosa possuem uma linguagem figurada e romântica com metáforas e espaço para a subjetividade. No jornal discutia-se sobre a finitude da vida e os falecimentos eram lamentados. O assunto era freqüente no periódico que além de publicar notícias e notas sobre os falecimentos trazia a repercussão provocada pelas mortes, poesias e artigos dedicados aos mortos. Vale destacar que este é um estudo sobre a morte com o intuito de compreender melhor a vida, o interesse principal é analisar como as atitudes e sentimentos relacionados à morte, influenciam e transformam os vivos.

Jorge Rodrigo da Cunha (UFSJ) Mulheres chefes de famílias: Vila mineira de São José Del Rei século XIX Este trabalho trata de questões da família mineira do século XIX, especialmente, no que se diz respeito às mulheres chefes de domicílios na vila de São José Del Rei, atual Tiradentes. Precisamente, analisamos as estratégias específicas de sobrevivência dessas em relação ao grupo social e à composição geral dos arranjos domésticos. Entendemos que a família é a instituição que configurou as relações sociais e definiu as normas de conduta da sociedade brasileira, entre os séculos XVI e XIX. Nesse sentido, a família independentemente do sexo do chefe e não necessariamente fundada no sacramento religioso se constituía, além da base do sistema econômico, numa rede de relações sociais que ultrapassavam os limites dos laços consangüíneos, por exemplo, os laços de parentela, de vizinhança e de solidariedade. Abordamos o fenômeno através das possibilidades da História Social. A partir da quantificação das mulheres chefes de domicílios na vila São José, presentes nas listas nominativas de 1831, e mediante a análise dos inventários e testamentos dessas, propomos resgatar elementos do cotidiano, das relações sociais e do papel que essas exerciam na sociedade. As análises têm demonstrado que essas mulheres estavam inseridas em complexas redes de vizinhas e de solidariedades. Relações importantes para a construção de suas estratégicas de sobrevivências e o espaço urbano da vila. Verificamos que a família mineira, no século XIX, foi heterogênea na sua composição. Podendo variar de região para região. E que apesar de toda limitação imposta pelos valores da sociedade escravista brasileira, a mulher, em sua vivência no dia-dia, transitava por lugares teoricamente masculinos. Insta ressaltar, que independente do sexo do chefe, a família era à base do sistema escravista brasileiro.

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José Alves Dias(UESB) Características da modernização e do desenvolvimento urbano na Bahia durante a ditadura militar: Uma estratégia da elite política em ascensão Desde o período colonial, incessantes modificações se realizaram na paisagem e no solo urbanos, nos limites territoriais e nas políticas públicas de alocação dos habitantes da Bahia. Nesse processo, sempre se fez presente a dicotomia entre tradição e modernidade, especialmente, quando essas concepções assumiam um caráter eminentemente semântico e, anacronicamente, embasavam o discurso de grupos políticos e/ou sociais distintos. No século XX, o Brasil passou por inúmeras transformações na configuração do seu espaço geográfico oriundas do crescimento populacional, das correntes migratórias para a zona urbana, da escassez de posto de trabalho e da absorção das doutrinas econômicas que pressupunham a industrialização como requisito primordial para o desenvolvimento do país. Na segunda metade do século, quando vivíamos sob uma ditadura política, essas questões se materializaram de forma mais aprofundada e a Bahia inseria-se nesse dilema. Concomitantemente, os momentos políticos turbulentos daquele contexto modificaram a correlação de forças na elite dirigente e a concorrência para o poder se tornou mais acirrada. Juracy Magalhães, Luiz Viana Filho e Antônio Carlos Magalhães constituíam, nesse momento, as matrizes políticas em evidência que disputavam a hegemonia política no estado e o apoio da ditadura, sendo, ainda, os principais articuladores das políticas públicas para a modernização urbana e o desenvolvimento econômico da Bahia. A análise das conformações e dissidências existentes na política local é fundamental para a compreensão das transformações estéticas e sociais desse período.

José Guilherme Rodrigues da Silva (Ufes) Políbio e a história do “mundo habitado” A universalidade de Políbio, atestada hoje por vários autores, é discutida em termos de sua visão de mundo, ou seja, de sua representação do mundo habitado, a partir da única obra sobrevivente do autor grego, as “Histórias”. Em contraposição ao mundo que conhecia, inclusive pessoalmente, o qual compreendia parte dos continentes europeu, asiático e africano, Políbio, em sua representação, exclui do “mundo habitado”, da oikoyméne, os povos não pertencentes ao mundo helenizado. Portanto, o “mundo habitado”, para Políbio, é o mundo helenizado, representação nitidamente estabelecida no texto e que estrutura a própria identidade do autor. Essa representação cria um limite, uma fronteira de identificação para o mundo habitado, o qual, na visão de Políbio, abrangia a Península Itálica, a Líbia (partes do norte da África), a Grécia e a Ásia helenizada. Fora desses limites estava a alteridade. A percepção de Políbio do “mundo habitado”, portanto, é o resultado de uma construção histórica compartilhada pelos helenizados, o grupo ao qual ele se identifica. A fronteira entre “helenizado” e “bárbaro” está, dessa forma, bem definida nas “Histórias”.

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José Mário Gonçalves (Ufes) Religião e violência na cidade: Representações do suicídio na “Réplica a Gaudêncio” de Santo Agostinho No ano de 420, Gaudêncio, bispo donatista da cidade Thamugadi, importante sede donatista, isola-se em sua basílica com a sua congregação e ameaça incendiar-se juntamente com os seus. A atitude extrema foi motivada pelos editos de um agente imperial determinado a cumprir a lei e converter os donatistas à força. O epísódio está na origem da Réplica a Gaudêncio, escrita por Santo Agostinho, o bispo católico de Hipona (354-430). A partir desta obra, analisamos as representações opostas que donatistas e católicos fazem do suicídio, prática legitimada pelos primeiros e estigmatizada pelos últimos.

José Mauriene Araújo Felipe (Ufes/FAFIA) A metrópole como negação do ideal de segurança pública na contemporaneidade Dentre as grandes realizações do homem, os centros urbanos são invenções extraordinárias, verdadeiros cenários onde questões de cunho político, socioeconômico e cultural, por exemplo, estão em desenvolvimento ininterrupto. Através dos tempos, as concentrações humanas citadinas evoluíram assombrosamente, sobretudo a partir da Revolução Industrial (1750-1870), tendo passado por instâncias revolucionárias inimagináveis. No decorrer do século XX, cidades inteiras foram arrasadas e mesmo varridas da superfície da terra pela ação beligerante de nações em tempos de guerras globais. Entretanto, de uma forma ou de outra, as velhas urbes renascem das cinzas e voltam a florescer, numa demonstração de que a espécie humana está ‘condenada’ a viver mais e mais em centros urbanos cada vez maiores e complexos. Com o surgimento das sociedades de massa, facilitado pelas revoluções técnico-científicas, os centros metropolitanos vêm-se transformando radicalmente na Contemporaneidade. O êxodo rural, ocorrido no século passado, foi um fenômeno social de proporções alarmantes. Para se ter idéia, em 1990 a população urbana brasileira representava 76 por cento do total. Assim, levado pela utopia de enriquecimento, segurança de seus bens materiais e de si mesmo, o fascínio do homem pela cidade obrigou-o a desenvolver diferentes formas de sociabilidade e a confiar cada vez mais nas promessas de um Estado paternalista, ‘protetor’ e promovedor de políticas de segurança pública, teoricamente incontestes. Na prática, as cidades modernas estão mudando suas vestes pelo avesso: individualismo, anonimato e a solidão das multidões são apenas alguns dos aspectos da metrópole que hoje se caracteriza por abrigar também toda espécie de violência e insegurança que atinge índices alarmantes.

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José Renato da Silva Marques (Ufes) O uso do “Kairós” na obra de Sócrates escolástico O conceito de fortuna (Tyche) está, na história, localizado no centro do pensamento pagão tradicional. Heródoto pensava que os deuses intervinham na história para controlar a sorte dos homens. Seu sucessor Tucídides, mesmo rejeitando a noção de intervenção divina na história, utilizou várias vezes a palavra tyche. Já para Políbio era a Fortuna que dirigia o processo histórico e que por meio dela é que Roma conquistou o mundo mediterrânico. Dificilmente algum historiador pagão no mundo greco-romano poderia pensar em escrever história sem que o conceito de Fortuna, por vezes personificada como uma deusa, estivesse presente. Também os cristãos, ao escreverem histórias, falaram sobre o poder da conjuntura inesperada de moldar o curso dos acontecimentos. Sócrates Escolástico, historiador da Igreja do século V, escolheu uma das linhas de pensamento grego sobre Fortuna, o conceito de Kairós (“evento chave”, “momento crítico”) ou seja, um evento que poderia desencadear mudanças na história humana. Em sua História da Igreja, ele interpretou os acontecimentos (guerras, catástrofes naturais, invasões bárbaras, tentativas de usurpação do trono) como conseqüências de distúrbios nas esferas da Igreja ou do Estado, rotulando assim o desempenho de vários Imperadores como sintonizados ou não a uma harmonia cósmica, reflexo terrestre da perfeição divina.

José Ricardo Ferraz (UERJ) Para além das “Cidades Mortas”: Industrialização e modernidade no Vale do Paraíba fluminense (1870/1910) As primeiras indústrias têxteis inauguradas no Vale do Paraíba fluminense foram a Cia. Têxtil Brasil Industrial (1871) no distrito de Macacos, atual Paracambi, e a Cia. Industrial Valenciana (1906), em Valença. As instalações destas indústrias não se constituíram em um evento de repercussão apenas local, mas se estenderam à região, onde hoje se encontram Valença, Vassouras e Paracambi. Estas cidades têm suas histórias interligadas, além da conquista das terras necessárias à expansão da cafeicultura, à busca de um caminho que abreviasse a distância entre a região aurífera mineira e o Rio de Janeiro. Já nas primeiras décadas do oitocentos, a principal via de acesso entre Minas Gerais e a Capital seria o Caminho Novo, e ao longo do seu leito ou às suas margens, distribuíram-se às centenas, ranchos, arraiais e povoados, todos formados e desenvolvidos como bases de apoio para os viajantes. Além de o café exigir um investimento inicial menor que a economia açucareira, a imensa extensão territorial disponível criou as condições que permitiram com facilidade e rapidez, no início do século XIX, a expansão da cultura cafeeira no Vale fluminense. O esgotamento do solo, o desmatamento e queimadas, a falta de preocupação com adubagem ou do aproveitamento dos detritos vegetais acabaram sendo responsáveis pelo deslocamento da produção cafeeira para o Oeste Paulista.

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Josemar Machado de Oliveira (Ufes) Soberania e poder popular durante a Revolução Francesa: O caso de Jacques-René Hébert Trata-se o presente trabalho de uma análise das idéias políticas do movimento secionário sansculotte entre 1792-94. Tomamos como referência para realizar tal análise aquele que foi considerado um dos principais porta-vozes desse movimento, Jacques-René Hébert. Hébert, subprocurador da comuna parisiense e membro do clube dos cordeliers, celebrizou-se na História da Revolução Francesa por ser o jornalista do panfleto periódico Père Duchesne, o qual permitiu que ele tivesse uma grande penetração entre os militantes sans-culottes. Nossa análise concentra-se na noção de soberania popular do sans-culottismo e tem por base a interpretação proposta por Jacques Guilhaumou de dividir tal noção de soberania em três componentes principais: o povo soberano juiz, o povo soberano legislador e o cidadão em armas. Assim, buscamos repertoriar no discurso político hébertista esses componentes, os quais eram os três domínios básicos em que se decompunha a soberania popular e, por meio dos quais, a sans-culotterie construía sua visão eminentemente prática e ativa desta última.

Josette Baptista (Ufes) Ordem nas ruas e desordem na política: Soluções domésticas no controle da rebeldia escrava Nessa comunicação discutir-se-á o desacordo estabelecido entre o poder executivo e a assembléia provincial do Espírito Santo em relação à política de segurança no século XIX. É fato reconhecido a costumeira declaração dos presidentes de província a respeito do sossego e tranqüilidade públicas na província capixaba. No entanto, essas mesma autoridades insistiam na necessidade de ampliação da força policial. Confrontando relatórios provinciais e atas das sessões da Assembléia provincial, apresentaremos o confronto político entre os dois poderes em relação à política pública de segurança para o Espírito Santo. Pretende-se enfocar as diferentes perspectivas políticas que orientavam essa desavença e os resultados na estruturação da polícia. Escolheu-se recortar a temática em relação à escravidão, sobretudo, o debate sobre o papel do Estado no controle e disciplina dos cativos. Pretende-se, assim, demonstrar que a elite política da província nem sempre esteve a serviço dos escravocratas e o Estado nem sempre elegeu o controle da escravidão transformou-se em políticas públicas. A polícia, espera-se demonstrar, não se colocava todo o tempo como uma instituição voltada ao controle e submissão das classes subalternas. Acredita-se que, na província do Espírito Santo, a Assembléia interessava-se mais pela manutenção da ordem nas ruas por meio da ação civilizadora dos costumes e pela organização dos espaços públicos do que representar a vontade senhorial.

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Jougi Guimarães Yamashita (UERJ) O papel de Estrasburgo para o nascimento dos “Annales” Os anos em que Marc Bloch viveu em Estrasburgo foram cruciais para que se iniciasse a revista que daria início ao “movimento” dos annales. Foi ali que ele conheceu Lucien Febvre, seu grande aliado desse projeto de renovação de perspectivas historiográficas. No entanto, devemos observar que para além do simples encontro entre dois futuros grandes nomes da historiografia, a cidade de Estrasburgo exerceu um papel muito importante para que os annales se iniciassem e pudessem se desenvolver minimamente. As idéias de uma nova visão sobre a história não se estabeleceram nessa cidade por acaso. A Universidade de Estrasburgo estava longe do grande “centro” de produção que os dois historiadores contestavam — a Sorbonne, em Paris. Ora, se esse espaço foi importante para o “nascimento” dos annales, parecia para ele e Febvre que o “amadurecimento” da revista não seria possível sem que os dois conseguissem notoriedade dentro dos grandes centros de produção do conhecimento. Justamente por isso, buscaremos discutir, além do papel da cidade na produção do conhecimento, esse caráter dual que Estrasburgo teve na trajetória inicial da revista.

Juan Pablo Sena Pera (Ufes/FTU) O antijudaísmo de Justino Mártir no “Diálogo com Trifão” Esta comunicação objetiva apresentar a dissertação de mestrado defendida por Juan Pablo Sena Pera, em 28 de abril do corrente ano, intitulada O antijudaísmo de Justino Mártir no Diálogo com Trifão. A pesquisa em questão identificou as linhas mestras presentes no corpo da obra Diálogo com Trifão, de Justino Mártir que se opõem ao judaísmo. Para tanto, foi utilizada a metodologia engendrada por Norbert Elias, em Os Estabelecidos e os Outsiders. Em conseqüência, pretende-se retificar o estatuto da obra do filósofo cristão, entendida por muitos estudiosos como destinada a fins proselitistas. Tomamo-la como um documento formativo da identidade cristã por meio de sua dissociação do judaísmo. Para isso, a pesquisa apresentada investigou e revisou o aspecto sóciocultural e político que deu origem ao cristianismo, o período do judaísmo do Segundo Templo. Considerou-se as dicotomias surgidas nesse período como propiciadoras no seio da comunidade judaica, da ruptura manifesta na ascensão e disseminação do cristianismo na Roma do século II.

Juçara da Silva Barbosa de Mello (PUC-RIO) Santo Aleixo: Um espaço em construção As transformações na estrutura econômica do país, iniciadas a partir da década de 1920, impulsionaram a modernização das indústrias têxteis já existentes em Magé, interior do Rio de Janeiro, especialmente em seu segundo distrito: Santo Aleixo. Local em que as instituições sociais foram tornando-se

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todas, de algum modo, subordinadas às fábricas, estas responsáveis pela criação de uma infraestrutura que contou com a construção de vilas operárias, postos de saúde, escolas, enfim, de uma série de benefícios sociais e mais a criação de clubes esportivos, cinemas e blocos carnavalescos. Todas estas implementações contribuíram, gradativamente, no decorrer das seguintes, para o estabelecimento de uma nova dinâmica social cujo mecanismo regulador buscamos compreender através de nossa pesquisa. Para tanto, consideramos tanto a documentação histórica quanto a memória social de um grupo de operários, referentes às décadas que se estendem de 1930 a 1960. Uma análise do cotidiano desses trabalhadores em todos os seus múltiplos aspectos desvenda as diversas formas de representação do discurso interiorizado, reelaborado e materializado como uma cultura específica, e principalmente em que medida essa cultura, desenvolvida por entre os “poros da disciplina fabril”, atuou como um aspecto ativo na própria organização social do grupo. A chegada ao local dos empresários Hermann Mattheis e Othon Lynch Bezerra de Mello, respectivamente proprietários das fábricas Andorinhas e Esther, se constituem em mito fundador de uma época áurea, por serem os responsáveis pela criação e manutenção de uma infraestrutura que conferiu ao local, aspectos de uma agradável cidade, apesar da distância dos grandes centros urbanos. Assim, os proprietários dessas empresas passaram a ser vistos como os “construtores de um lugar” marcado pela centralidade do trabalho fabril.

Júlia Ermínia Riscado (UFF) Associativismo e os imigrantes espanhóis na cidade do Rio de Janeiro (1981-1984) Este trabalho propõe discutir a questão do associativismo entre os imigrantes espanhóis na cidade do Rio de Janeiro. Para isso é necessário compreender a origem de suas motivações, além de procurar entender até que ponto suas construções sociais servirão para seu benefício político e econômico. Tendo como objeto de análise a Casa D’España, criada em 1982, pode-se ver que já em sua fundação havia o propósito fazer os imigrantes serem plenamente integrados na sociedade carioca. Criar e solidificar os elementos capazes de dar sentido às relações cotidianas baseadas no respeito às diferenças era fundamental. Além disso, através de uma análise dos contextos de Brasil e Espanha no final da década de 70 e início de 80 foi possível perceber como os interesses estatais convergiram com os interesses de uma comunidade de imigrantes espanhóis que se via há muito tempo à margem no cotidiano da cidade. O Rio de Janeiro é palco do complexo processo de reconstrução da imagem de um grupo específico, no caso, os imigrantes e descendentes espanhóis.

Juliana Bastos Marques (Unirio) As faces de roma e os centros do poder em Amiano Marcelino É na obra de Amiano Marcelino que encontramos os últimos ecos da presença de Roma como a grande capital do império. No entanto, suas digressões sobre a cidade contêm nuances, ênfases

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e recortes que revelam vários planos de ambigüidades em sua interpretação. Ao mesmo tempo em que Roma permanece como centro inquestionável do Império Romano, os acontecimentos narrados por Amiano sobre a cidade revelam o verdadeiro caráter quase irrelevante dela como centro político — de fato, o que se sobressai para Amiano é, em última instância, o caráter simbólico da cidade, urbs aeterna. Constantinopla é o novo centro de poder, mas permanece para o historiador um lugar pouco expressivo, enquanto que outros centros urbanos, como Antioquia, Milão e Trier adquirem uma importância no mapa político às vezes maior até do que Roma. Esse paradoxo reside exatamente no fato de que os centros do poder para Amiano Marcelino não são mais lugares físicos, mas são os próprios imperadores, suas cortes e exércitos. Sendo assim, as dinâmicas do poder no período narrado pelo historiador acabam por transcender os centros físicos de onde antes emanavam.

Juliana de Lima Gomes dos Santos (Ufes) Organização de Acervos Permanentes: O Fundo DOPS/ES A gestão documental é fundamental durante todo o ciclo de vida do documento desde sua origem, pois é através dos processos desenvolvidos na gestão que se torna possível organizar e avaliar o acervo documental produzido por qualquer Instituição até sua destinação final, quando deverá ser eliminado ou preservado pelo seu valor de prova e/ou valor histórico. A falta da gestão de documentos nas Instituições Públicas, implicam diretamente nos tratamentos arquivísticos que serão desenvolvidos, posteriormente, nas documentações recolhidas aos Arquivos Públicos, interferindo completamente em sua principal função que é disponibilizar a informação, de forma ágil e eficiente gerando conhecimento. O presente trabalho, diante das problemáticas geradas pela falta de gestão desde a origem dos documentos, pretende discutir o processo de organização realizado pela equipe do Projeto Memórias Reveladas no fundo documental da Delegacia de Ordem Política e Social do Espírito Santo (DOPS/ES), sob custódia do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (APEES).

Juliana Sabina Simonato (APEES) Memórias reveladas no Espírito Santo O Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (APEES), em dezembro de 2008, iniciou sua participação na constituição do Centro de Referência das Lutas Políticas no Brasil, sob denominação de “Memórias Reveladas”, projeto institucionalizado pela Casa Civil da Presidência da República do Brasil, sob coordenação do Arquivo Nacional. Com o fim último de preencher a Base de Dados do do Centro de Referência das Lutas Políticas no Brasil, “Memórias Reveladas”, o andamento do projeto busca facilitar a pesquisa em documentos até então indisponíveis e possibilitar a constituição de uma rede de informação entre os estados participantes. Nessa vertente, o Espírito Santo se inte-

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gra entre os treze Estados e o Distrito Federal que estão viabilizando um instrumento de pesquisa integrado, para a localização e consulta dos documentos do Período Ditatorial Brasileiro. O acervo que constitui o Fundo DOPS/ES, sob guarda do APEES, diz respeito a documentação produzida pela Delegacia de Ordem Política e Social do Espírito Santo (DOPS/ES), entre os anos da Ditadura Militar Brasileira. Trata-se de uma oportunidade única em estabelecer um padrão de consulta aos acervos documentais, de um mesmo período histórico, em nível nacional. Durante a Comunicação Coordenada Memórias Reveladas: Arquivo e História da Ditadura Militar no Espírito Santo, os participantes terão a oportunidade de conhecer a metodologia de trabalho adotada pela equipe responsável na organização do acervo pertencente ao Fundo DOPS/ES, bem como verificar alguns aspectos políticos e sociais, vivenciados naquele momento histórico.

Julio Bentivoglio (Ufes) Liberalismo brasileiro no oitocentos: Pensamento político e idéias liberais nos debates parlamentares (1840-1860) A presente comunicação destina-se a discutir a presença do ideário liberal no início do Segundo Reinado, localizando as matizes do liberalismo brasileiro no plano político e econômico à luz da história conceitual. Ela recupera a fala e a ação daqueles representantes parlamentares na arena política parlamentar entre 1840 e 1860, momento de profundas transformações vividas pelo governo imperial, identificadas pela historiografia sob a rubrica de consolidação do Estado brasileiro. Revela ainda o caráter multifacetado e heterogêneo atribuído a determinadas compreensões no vocabulário oitocentista, quando concepções mais antigas conviviam lado a lado a outras mais contemporâneas e atuais, sintonizadas com o debate político-econômico europeu e norte-americano.

Júlio Paulo Tavares Zabatiero (Faculdade Unida de Vitória/IEPG) Rearticulando os espaços urbanos — as origens de Israel nas regiões montanhosas de Canaã no séc. XIII a.C. Apresentarei as hipóteses contemporâneas sobre as origens do povo de Israel, no século XIII a.C., como um processo complexo que envolveu a sedentarização de grupos semi-nômades e a rearticulação dos espaços urbanos na região cananéia, a partir da fuga de habitantes das cidades-estado cananéias para as regiões montanhosas no período caótico que se estabelece com o declínio da dominação egípcia na região. Disputa-se a interpretação das fontes para o tema: os escritos da Torá, textos de outros povos orientais e dados da cultura material. Uma hipótese tenta harmonizar os dados da Torá com os demais, seguindo a tradição da escola americana de arqueologia bíblica (hipótese chamada de “maximalista”). Outra hipótese, seguindo a escola germânica de exegese histórico-crítica tenta harmonizar os dados arqueológicos com a reconstrução hipotética do processo de escrita da Torá

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(hipótese “crítica”). Uma hipótese, mais recente, tenta desvincular radicalmente os dados materiais dos dados textuais da Torá, recusando aos textos desta qualquer viabilidade documento para a história das origens israelitas. Em reação a esta hipótese “minimalista”, pesquisadores tentam uma solução alternativa, que recupere o valor dos textos da Torá, sem recair no maximalismo, nem depender da reconstrução hipotética dos mesmos feita pela exegese histórico-crítica. A chave para elucidação dessas hipóteses está no processo de reurbanização, sem Estado, promovido pelos “israelitas” nos séculos XIII-XI a.C., processo desarticulado a partir do séc. X a.C. pela monarquia judaico-israelita.

Júnia Helena Ferreira dos Santos (Faculdade Saberes) Revelando o cotidiano, a cidade e o poder através da Imprensa no Estado Novo Com o advento do Estado Novo, o Governo Getúlio Vargas passa a ter um controle cada vez maior em todos os segmentos da sociedade, inclusive sobre a imprensa. O presente trabalho visa, de maneira clara e objetiva, analisar as várias características dos acontecimentos ocorridos durante o Estado Novo a partir do Diário Oficial e do jornal A Gazeta, em especial assinalando aquilo que na compreensão do Estado brasileiro devia ou não ser divulgado.

Jussara Rodrigues da Silva (Ufes) O papel da historiografia na afirmação do Estado e da Nação brasileira no Segundo Reinado: A “História Geral do Brasil” de Francisco Adolfo de Varnhagen O Estado era entendido por Varnhagen como a maior e mais plena realização do espírito humano na história. Caberia, portanto ao homem de Estado saber identificar o momento correto para atuar enquanto que ao historiador, por sua intimidade com o poder em outras épocas, caberia esclarecer situações e apontar soluções. Segundo Varnhagen uma história nacional elaborada a partir da crítica documental e com sólidos princípios norteadores seria o ponto mais elevado da autoconsciência de uma cultura e nesse sentido meu objetivo nesse trabalho é analisar de que maneira a obra História Geral do Brasil de Francisco Adolfo de Varnhagen pretendeu contribuir para criar uma imagem do Estado Nacional brasileiro referendando sua consolidação política.

Kalna Mareto Teao (Ufes) Marcelo Oliveira A lei 11.645 E o ensino da História Indígena A lei 11.645 datada de março de 2008 instituiu o ensino da história indígena nas escolas de ensino fundamental e médio, públicas e particulares. A adoção da lei no espaço escolar significa

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a luta dos povos nativos para serem reconhecidos no campo da história escrita e ensinada. Nessa comunicação, tencionamos analisar os depoimentos de professores em cursos de formação continuada acerca do imaginário sobre os povos ameríndios. Nosso intuito consiste também em analisar práticas pedagógicas guarani como possibilidade de promoção e reflexão sobre o ensino da História Indígena.

Karla Monteiro Sanches de Moraes Fonseca (Ufes) 1964 Na ponta do lápis: A política retratada nas primeiras charges da imprensa capixaba A imprensa é uma das modalidades de destaque quando o assunto é a interação entre a cidade e o poder na vida cotidiana. Por meio dela, o ser humano compreende, transforma e torna a compreender o lugar onde está inserido. Nesse espaço de construções simbólicas, as charges têm lugar de destaque, já que conceitualmente tratam de assuntos políticos. Este trabalho faz uma análise das primeiras charges publicadas na imprensa capixaba, o que se deu em 1964, na cidade de Vitória, meses após a subida dos militares ao poder, na esfera nacional. Foi constatado que as charges locais tratavam basicamente de interesses ligados à diretoria do jornal, encabeçada por Carlos Lindenberg, que também era integrante do Partido Social Democrata (PSD). O PSD, por sua vez, era rival do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), chapa do governador do Estado, Francisco Lacerda de Aguiar, e do presidente deposto pelo golpe militar, João Goulart. As charges faziam oposição ao governador, tratando de denúncias de corrupção ou mesmo ridicularizando a figura do político, que mais tarde seria levado à renúncia graças à pressão dos militares, aliada a do veículo onde as charges foram publicadas (A Gazeta). Também foi constatado que, após a queda de Aguiar, em 1966, as caricaturas com temas políticos praticamente deixaram de ser publicadas, por um longo período. As poucas caricaturas veiculadas diziam respeito à política nacional ou, via de regra, ao futebol. Nossa hipótese, portanto, é de que as charges do jornal A Gazeta serviram para contribuir no processo de desmoralização e queda do governador Francisco Lacerda de Aguiar, conduzindo a uma mudança no cenário político da capital e de todo o Estado.

Karulliny Silverol Siqueira (UFRRJ) “Entre urnas e baionetas”: Eleições e disputas partidárias na província do Espírito Santo, 1860-1880 Momentos de conturbação efervescência política, as eleições no século XIX representavam momento crucial na disputa entre os partidos no Império, fazendo com que a ida às urnas transformasse as ruas em locais de conflito e agitação. Desta forma, a presente comunicação tem

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como objetivo evidenciar tais momentos de perturbação da ordem pública a partir de década de 1860, período de grande debate político e redefinições partidárias, tomando como objeto de estudo a província do Espírito Santo e as eleições ocorridas na segunda metade do século. A investigação conta com a análise de anais da Assembléia Legislativa Provincial, Relatórios de Presidente de Província e jornais do período, os quais auxiliam no entendimento das forças políticas envolvidas no cenário local, além de salientar aspectos importantes acerca da elite política do Espírito Santo oitocentista e dos conflitos entre liberais e conservadores. A análise centra-se no estudo da linguagem e do vocabulário político que estavam inseridos nos espaços públicos de discussão, almejando trazer à luz da pesquisa alguns momentos de suma importância para o entendimento da política capixaba no século XIX.

Kátia Sausen da Motta (Ufes) À luz da legislação: A atuação do Juiz de Paz no Brasil do Oitocentos A presente comunicação visa discutir a participação leiga na administração da Justiça no Brasil na primeira metade do Oitocentos. Delimitou-se a temática em torno da atuação dos Juízes de Paz, desde sua criação, em 1827, até a transferência da maior parte de suas funções às autoridades policiais em 1841. No intuito de elucidar o papel desempenhado pelo Juiz de Paz na organização da Justiça no Brasil Imperial, nesta apresentação, objetiva-se compreender as leis que nortearam a sua criação e a estruturação das suas funções. Discutir-se-á a legislação, decretos e atos do governo do Império Brasileiro promulgados entre os anos de 1824 e 1841 que disciplinavam a matéria.

Keila Auxiliadora Carvalho (UFF) “Cidade, saúde e doença”: A perspectiva modernizadora presente na política de segregação dos leprosos A criação e organização dos espaços urbanos segundo pressupostos e intenções específicas é um fenômeno comum no mundo contemporâneo. No Brasil, a preocupação em criar estes espaços intensificou-se no limiar do século XX, pois a perspectiva de organização urbanística compunha uma avalanche de propostas modernizadoras. Sendo assim, a formação de centros urbanos deveria obedecer, em primeiro lugar, a certo padrão de salubridade. Nesta comunicação o objetivo será discutir de que forma a política de saúde pública de segregação dos leprosos fazia parte deste contexto, no qual termos como higiene, salubridade, modernização e progresso tornaramse palavras de ordem. De maneira particular, nos deteremos na análise da Colônia Santa Izabel, que embora tenha sido criada para isolar os doentes, e, portanto “limpar” os espaços urbanos da sujeira representada pela lepra, foi estruturada como uma pequena cidade — com prefeitura, hospital, comércio, teatro, igreja, atividades recreativas, esportivas e laborais. Com este padrão

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de isolamento intencionava-se criar um clima de estabilidade entre aqueles que eram indesejáveis em uma sociedade que se pretendia moderna e, por isto mesmo, higiênica.

Keila Bárbara Ribeiro da Silva (Ufes) A invisibilidade da participação estudantil na gestão escolar Por falta de uma tradição de vivências democráticas, mesmo apoiados em legislações federais, estaduais e municipais, que asseguram à população a participação nas políticas públicas, não damos a devida importância a esses espaços. Muitas vezes, quando participamos, é mais no sentido de validar sem problematizar as proposições de um grupo ou indivíduo — aquele o qual elegemos como sendo o mais apto, intelectualmente capaz, ou que achamos saber o que é melhor para todos pelo cargo que ocupa. Romper com essa lógica passa por construir cotidianamente experiências democráticas nos espaços formadores das novas gerações, os quais, por excelência são: a família e a escola. Assim, poderemos tirar o modelo de democracia participativa do texto de nossas legislações e a levar para as práticas de nossas ações cotidianas bem como cessar o círculo vicioso que desqualifica a atuação juvenil e gera a repetição dos mesmos erros de alienação intencional dos estudantes até o momento em que é exigido deles a participação no sistema político e refletir até que ponto o desinteresse sobre a política institucional, que pairam nos discursos, não são conseqüência da forma como tratamos nossos jovens, antes de completarem 16 anos e ainda não são eleitores sobre o ponto de vista da legislação. O trabalho em questão aborda o cotidiano de trabalho de formação política desenvolvido a partir de 2007 com todos os representantes de turma e dos alunos conselheiros, assim como dos integrantes dos Grêmios Estudantis, das escolas que possuem essa modalidade de organização na Rede Municipal de Vitória.

Kellen Jacobsen Follador (Ufes) Os conflitos antijudaicos na cidade de Sevilha em fins do século XIV As conversões do final do século XIV, especificamente as de 1391 que se iniciaram na cidade castelhana de Sevilha, são reflexo de uma sociedade permeada por crises econômicas, sociais, políticas e religiosas. Em meio a tantas situações adversas a discriminação e o preconceito dos cristãos em relação aos judeus foram mais perceptíveis porque os primeiros acreditavam que todos os males que os atingiam eram ocasionados ou estavam relacionados com os judeus. O fato dos judeus serem encarados como uma minoria dentro da Cristandade e não pertencerem à comunidade cristã, apesar de estarem indiretamente ligados a ela, fez com que a Igreja buscasse uma provável resolução dos conflitos na conversão dos judeus ao Cristianismo.

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Klítia Loureiro (Ufes) Rompendo o silêncio: O índio, um vazio na história O reconhecimento étnico dos índios Tupiniquim do litoral norte do Espírito Santo ao contrário de boa parte dos processos de reconhecimento étnico realizados pela Funai fundamentou-se em critérios de auto-identificação deixando de lado questões culturais.Nestes termos, buscamos analisar o processo de reconstrução da identidade étnica dos índios Tupiniquim tendo como referência as novas abordagens impostas pela historiografia latino-americana. Pretende-se evidenciar os conceitos de grupos étnicos, fricção interétnica, identidade étnica, zona de contato e transculturação.

Laila Brichta (UESC) Movimento associativo no Brasil e em Angola na década de 1930: A Liga Nacional Africana e a Frente Negra Brasileira Durante as primeiras décadas do século XX tanto em Angola como no Brasil houve uma profusão de movimentos associativos de negros e mestiços, cujos objetivos específicos variavam, mas que apresentavam como eixo comum a proposta de criarem condições para dignificar a vida de sujeitos tradicionalmente marginalizados. Em ambos os países de formas e em contexto nacional diferentes, a perspectiva racial orientava a ideologia do Estado e com ela as políticas públicas, que desfavoreciam negros e mestiços. Como os direitos políticos e civis não eram estendidos a todos os indivíduos (em Angola por uma discriminação legal e no Brasil por uma discriminação disfarçada), intensificou-se o associativismo nas duas margens do Atlântico. Essas organizações reivindicavam direitos e promoviam condições de ascensão social e econômica, como foram a Liga Nacional Africana e a Frente Negra Brasileira. A questão de fundo que estava sendo debatida era de identidade nacional. Essas foram questões relevantes para a história contemporânea. Negros e mestiços estavam em desvantagem inicial no projeto nacional de inspiração européia, que ditou as políticas de demandas sociais. Mas nem por isso foram sujeitos passivos do processo histórico, organizando-se para as suas reivindicações. A Frente Negra Brasileira e a Liga Nacional Africana são dois exemplos dessa organização política e cultural, revelando que a criação da nacionalidade não foi um projeto imposto do Estado sobre os indivíduos, mas foi disputado, barganhado e negociado entre Estado e povo, ricos e pobres, negros e brancos, europeus e africanos.

Laila Novaes Santos (UVV) I Festa da Identidade Capixaba: Movimento Cultural e a Cidade de Vitória Apresenta a contribuição dos grupos folclóricos capixabas para a configuração da identidade do povo Espírito Santense. Aponta o envolvimento das manifestações folclóricas do estado com o patrimônio

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histórico arquitetônico de Vitória. Objetiva apresentar a I Festa da Identidade Capixaba como mantenedora da memória da cidade. Busca discutir a fusão cultural e seu resultado na composição da identidade das manifestações folclóricas do estado. Fundamenta seu procedimento de pesquisa em dados qualitativos e desenvolve coleta de dados por meio de entrevistas não-estruturadas. Apresenta conceitos acerca de hibridismo cultural sob a ótica de Peter Burke e norteia a perspectiva de identidade cultural por meio dos conceitos de Stuart Hall no contexto da pós-modernidade.

Lana Lage da Gama Lima (UENF) Os pecados capitais e as normas de convívio urbano A partir da reinterpretação da obra de Santo Agostinho “A Cidade de Deus” e da recuperação dos modelos bíblico de Babilônia e Jerusalém, forjou-se na Alta Idade Média um imaginário urbano de cunho religioso que permanecerá com plena vitalidade no século XII, embora sofrendo a concorrência da ideologia escolástica da “cité”, construída sobretudo na Universidade de Paris. Não há dúvida de que a vida urbana, que renasce nesse século, apresentava questões complexas para a doutrina cristã, a começar pela prática crescente da usura. O desenvolvimento urbano afrontava os modelos consagrados de vida cristã e tornava cada vez mais distante a utopia hierosolamitana. Os conflitos daí decorrentes podem ser acompanhados por meio dos manuais de confissão do século XVI, que tratam de situações cotidianas vividas pelos habitantes das cidades, procurando enquadrá-las na doutrina dos Dez Mandamentos e dos Sete Pecados Capitais.

Lana Lage da Gama Lima (UENF) Polícia e violência de gênero A construção de gênero na Civilização Cristã Ocidental: matrizes culturais. O patriarcalismo como modelo ideológico e as representações de gênero na sociedade brasileira. Gênero e violência contra a mulher. O feminismo e os “Direitos Humanos das Mulheres”. Políticas Públicas e violência de gênero: a gênese das delegacias especializadas no atendimento à mulher vítima de violência. A administração de conflitos de gênero nas delegacias de polícia: da Lei 9.099 à Lei Maria da Penha.

Larissa de Paula Souza (UFG) A Fronteira entre História e Literatura: “Vista do Amanhecer no Trópico”, de Guillermo Cabrera Infante Os limites entre História e Literatura são fluídos, muitas das vezes indeterminados. Isto posto, buscaremos analisar neste trabalho o caso do livro Vista do amanhecer no trópico, do escritor

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Guillermo Cabrera Infante, livro literário que reconta a história cubana de acordo com a ótica do autor, e o faz a partir de um tempo que é circular.

Leandro Augusto Viana Prado (Ufes) A cidade hispano-muçulmana No início do século VIII, tropas muçulmanas cruzaram o Estreito de Gibraltar em direção a Península Ibérica e ali se estabeleceram por quase oito séculos. Sua cultura teve forte influência na sociedade da época, na sua língua, em seus hábitos, comportamentos e também transformaram o espaço, criando um novo tipo de cidade que moldou e foi moldada pelo modo de vida da população desse momento histórico particular. Essa cidade, a cidade hispano-muçulmana, era um espaço distinto das cidades européias da época, com características que a tornava única. Este trabalho tem por objetivo analisar aspectos presentes nas cidades da Espanha muçulmana, ou Al-Andaluz, bem como aspectos da vida cotidiana de seus moradores, de modo a caracterizála e observar aspectos que permaneceram num processo de longa duração.

Leandro do Carmo Quintão (Ufes) Uma cidade e suas ferrovias: Vitória e a mais-valia da Capital A partir do início do século XIX, começou-se a arquitetar para o Espírito Santo um importante projeto político-econômico de desenvolvimento, a partir de sua capital, Vitória. Tratava-se do incremento comercial dessa cidade através da sua transformação em uma importante praça comercial, centro exportador de toda a hinterland capixaba bem como de parte da de Minas Gerais. Dessa forma, ao longo de todo o século XIX buscou-se tal concretização pela construção de estradas e pelo incremento populacional através da imigração, interesses esses em concomitância com o do projeto político-econômico. Contudo, apenas no século XX tal anseio se concretizou através da mais-valia da capital, quando Vitória sobrepõe seus interesses sobre o interior capixaba, através de duas ferrovias, tornando-se o principal centro exportador do estado.

Leandro Pereira Matos (UFJF) Quando o urbano silencia o rural: Memória e identidade de grupos em um município mineiro (Juiz de Fora, séculos XIX e XX) O município mineiro de Juiz de Fora originou-se como um ponto de paragem para os tropeiros e viajantes que circulavam pelo Caminho Novo no século XVIII. No entanto, sua urbanização iniciou-se apenas a partir da segunda metade do oitocentos, quando a produção de café para

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o mercado internacional se firmou como principal atividade econômica da região. O chamado “complexo cafeeiro” garantiu a construção de estradas férreas, a criação de bancos, a implantação de telégrafos, correios, telefone, energia elétrica e a industrialização da cidade iniciada já no final do século XIX. A utilização em larga escala da mão-de-obra escrava, colocava Juiz de fora entre os maiores municípios escravistas do Brasil. Somando-se a este aspecto, uma leva considerável de imigrantes europeus se dirigiu para esta região, principalmente a partir dos anos de 1880, incorporando-se ao mercado de trabalho local. Apesar de ter sido a zona rural o motor responsável pela expansão econômica da cidade, seu desenvolvimento urbano silenciou o campo. Ainda hoje nos depararmos com adjetivos engrandecedores do passado de Juiz de Fora. Termos como “Princesinha de Minas”, “Manchester Mineira”, entre outros, são frequentemente utilizados pela mídia e poder público local, que buscam na exaltação de certos aspectos sociais e econômicos (como pioneirismo industrial e desenvolvimento urbano) elementos para a construção de uma identidade local, definindo e moldando uma memória oficial. Apontamos para o fato de que o legado e a contribuição dos Afrodescendentes para a cidade ainda hoje é minimizada ou mesmo esquecida. Assim como, dentro dos grupos imigrantes, muitos personagens foram olvidados e não foram eleitos para fazer parte da memória da cidade, ou como costuma-se querer supor, da história oficial de Juiz de Fora. Opção confirmada no silêncio historiográfico acerca dos imigrantes pobres urbanos e daqueles que se fixaram nas áreas rurais. Trabalhadores anônimos, construtores da urbe juizforana.

Leandro Silva de Paula (UFJF) O discurso dos médicos da província mineira: Reflexões sobre urbanização e higiene no século XIX O processo de urbanização ocorrido na cidade do Rio de Janeiro no século XIX foi o resultado do crescimento econômico do período e pelas idéias civilizatórias européias, adotadas no Brasil após a chegada da família real. Este período foi marcado por um processo de urbanização acelerado, que em algumas situações, ocorreu de forma desordenada. Muitas vezes, esse processo não foi acompanhado pela devida e necessária ampliação dos serviços elementares de saúde, como limpeza das cidades e serviços sanitários. Tudo isso provocou um quadro de deterioração do espaço urbano, caracterizado por problemas de saúde, por péssimas condições de trabalho, alimentação e falta de salubridade. A ciência foi uma forte aliada na formação do Estado Nacional Brasileiro, médicos de diversas regiões recorriam às faculdades de medicina existentes na Europa, ou então as do Rio de Janeiro e a da Bahia no Brasil. O modelo europeu de civilização se contrastava fortemente com os costumes brasileiros, já que existiam diversos obstáculos da cultura brasileira que não correspondia ás representações médicas de uma sociedade ideal e higiênica. Os médicos desenvolveram uma política científica a qual oferecia um modelo de transformação à sociedade. Pretendemos inves-

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tigar teses de médicos mineiros, que estudaram na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, no século XIX. Analisando as representações existentes em torno de um projeto de intervenção médica, através do discurso da higiene, como um modelo regenerador da sociedade. Refletindo sobre a participação médica na formação do Estado Nacional. Assim investigaremos as seguintes questões: qual foi o modelo ideal, de sociedade brasileira, pensado pelos médicos mineiros em suas teses e quais intervenções e soluções eram indicadas.

Leila Mezan Algranti (Unicamp) História e historiografia da alimentação no Brasil (séculos XVI-XIX) A alimentação foi e continua sendo um tema presente nos estudos históricos devido aos impactos políticos, econômicos, culturais e demográficos que a abundância ou a carestia de alimentos provoca na vida cotidiana dos indivíduos. Nas últimas décadas, porém, observa-se não só um crescente interesse e produção pela História da Alimentação, como um alargamento das temáticas e das abordagens vinculadas à questão. O trabalho a ser apresentado visa a analisar essas mudanças de enfoque na historiografia da América Portuguesa e refletir, com base em documentos históricos, sobre a importância da alimentação para se entender as relações culturais no mundo luso-brasileiro, com ênfase nos aspectos urbanos dessa problemática.

Lélio Favacho Braga (UFPA) A passagem do Estado Positivo para o Estado Regulador na reforma do Estado brasileiro — A “Governance” centrada no cidadão Neste trabalho, utilizando os principais conceitos do paradigma Agente X Principal, abordarei como se deu a reconstrução das capacidades administrativas institucionais objetivando organizar os serviços públicos no Brasil, mediante a formação de “bons contratos” e de acordo com a New Management Public (NMP), centrada no cidadão. Já que, a passagem do Estado Positivo para o Estado Regulador na Reforma do Estado, trouxe dentre uma de suas conseqüências, um novo modo de Governance alterando algumas das características do sistema político brasileiro, a exemplo do aumento da produção legislativa e da criação das agências reguladoras. A partir da década de 1980, no Brasil ocorre uma situação comumente designada como crise do estado. Esta expressão é utilizada muitas vezes sob um falso consenso, por reunir sob o mesmo título diversas crises simultâneas: 1) a fiscal, entendida como o excesso de gasto público social; 2) a econômica, visando a um estado regulador, indutor, coordenador e mobilizador dos agentes econômicos e sociais; 3) a social, com a crise do bem-social; 4) a política, questionando-se a incapacidade de institucionalizar a democracia e prover uma cidadania adequada; e a 5) a crise do modelo burocrático de gestão pública, tendo em vista os elementos de custo e a baixa quali-

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dade dos serviços prestados pelo Estado. Cada perspectiva da crise do Estado vem impregnada de um entendimento específico sobre quais são os principais problemas e sobre o que fazer para que ocorra uma redefinição do papel ideal do Estado e consequentemente, como superar os problemas indicados.

Leonardo de Carvalho Augusto (PUC-RJ) Um antropófago forjado em aço: A construção de uma cidade futurista por Oswald de Andrade e seus interlocutores A preocupação inicial desta comunicação é abordar a relação de Oswald de Andrade com outros modernistas — principalmente Mário de Andrade — e com a cidade de São Paulo, como uma tentativa de entrada para a análise de sua atuação como um vanguardista. O espectador perceberá também, que dentre as proposições estéticas oswaldianas ainda não consta, neste momento, uma idéia central para sua compreensão da cultura brasileira como um composto híbrido, o primitivismo. Entre 1917 e 1923, sua crítica se direciona num outro sentido, como se os olhares de Oswald estivessem concentrados em atacar um passado que não cabia mais e em erigir uma cidade que se vestia de aço, reivindicando o futuro para si com o intuito de alavancar o país, deixando para trás tudo o que pudesse significar atraso. Neste sentido, é interessante levantar as questões que emergem desta situação histórica, na medida em que elas fundamentam — mesmo que pelo avesso — uma guinada representativa no pensamento de Oswald em direção ao primitivismo.

Leonardo Grão Velloso Damato Oliveira (Ufes) Herdeiros segundo a lei: A prática de sucessão no Brasil do Oitocentos Este trabalho pretende tratar das práticas de sucessão testamentária na legislação do Império português. Ir-se-á, portanto, elucidar como eram entendidas tais ações nas Ordenações Filipinas de 1870, comentadas por Cândido Mendes de Almeida. Em combinação com a investigação das Ordenações fez-se um levantamento das obras de alguns juristas portugueses do século XIX, como a Instituições de Direito Civil Portuguez, de Manuel Antônio Coelho da Rocha, e o Tratado de testamentos e sucessões, de Antônio Joaquim de Gouvêia Pinto. Neste conclave discutir-se-á a importância da sucessão para as sociedades brasileira e portuguesa do século XIX, bem como os problemas percebidos pelos juristas em relação ao ato de instituir um herdeiro nas disposições de última vontade. O tema será discutido de forma qualitativa, baseado na inter-relação entre os documentos investigados.

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Letícia dos Santos Ferreira (UFF) O sistema fiscal moderno: Vicissitudes na implantação de um donativo nas cidades de Lisboa e Salvador (1660-1663) Em que sentido o regime fiscal da época moderna pode ser diferenciado do atual? Quais eram seus limites? O que era considerado como lícito ou ilícito para a imposição de uma nova contribuição? De qual maneira uma nova tributação alterava o cotidiano social de uma cidade? O que diferenciava os impostos das contribuições voluntárias? Na comunicação a ser apresentada procuraremos discutir essas questões a partir da análise da documentação referente à determinação do donativo do dote de Inglaterra e paz de Holanda nas cidades de Lisboa e Salvador. Tal subsídio foi cobrado por ocasião do casamento da infanta Catarina de Bragança com Carlos II de Inglaterra e pelo acordo de paz com a Holanda, em 1661. Cabe dizer ainda que a fiscalidade será abordada de maneira a indicar que as questões referentes à taxação não eram desvinculadas dos aspectos simbólicos, e que estes estavam inseridos em uma relação de troca.

Liliana Grecco Pereira (Centro Universitário São Camilo) & Lusvani Nascimento Belmond (Centro Universitário São Camilo) Urbanização: Cachoeiro de Itapemirim e o desenvolvimento da cafeicultura O trabalho analisa o processo de urbanização de Cachoeiro de Itapemirim no final do século XIX e início do XX em que a cafeicultura foi responsável pelo desenvolvimento econômico, social e político na região, assumindo importante papel econômico na modernização desta cidade. Destaca-se que na época a cidade de Cachoeiro de Itapemirim era o mais rico e importante centro econômico da província, e após a introdução do café nesta região, surgiram atividades, serviços e estrutura urbana que modificaram o cotidiano da cidade. Para tanto, o trabalho utiliza bibliografias regionais e jornais da época.

Lincoln Marques dos Santos (UFF/Colégio Pedro II) & Paulo Cavalcante (Unirio/UERJ) “Ciência prática” e descaminhos: O modo de tecer a ordem com os fios da desordem na América portuguesa (D. Lourenço de Almeida, século XVIII) Esta comunicação é parte de um projeto de pesquisa que coloca em questão o descaminho na América portuguesa (século XVIII), partindo do pressuposto de que ele é uma prática social constitutiva e formadora daquela sociedade colonial. Os descaminhos não se reduzem ao roubo, ao furto, ao contrabando ou à corrupção, mas configuram um variado conjunto de práticas ilícitas, encobertas pelas formalidades oficiais, porém, radicalmente ativas e penetrantes, irradiadas por todo o corpo social, inclusive os escravos, formando e redefinindo, afirmando e negando,

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isto é, afirmando pela negação, enfim, caminhando pelo descaminho. Desse modo, busca-se identificar os descaminhadores, suas redes político-comerciais e os conflitos resultantes da sua prática nas diversas conquistas portuguesas na América tomadas em sua dimensão atlântica. Como estudo de caso, abordamos aqui as práticas políticas de D. Lourenço de Almeida em seus dois períodos de governo em Pernambuco (1715-1718) e nas Minas Gerais (1721-732).

Lívia de Azevedo Rangel (Ufes) “Feminismo ideal e sadio”: Movimento feminista e direitos políticos nos escritos das mulheres intelectuais capixabas (1923 A 1934) A constatação de um vazio historiográfico referente à história das mulheres no Espírito Santo, com ênfase na primeira metade do século XX, determinou a escassez de registros bibliográficos relativos a presença do feminismo no Estado, o que não presume a inexistência de tais manifestações nas práticas e discursos das mulheres espírito-santenses. Longe disso, nas entrelinhas das pesquisas concentradas em analisar a participação das mulheres nas artes e na cultura capixaba é possível vislumbrar o perfil de um feminismo que se manifestaria de maneira bastante intrincada com as atividades literárias femininas, que a essa época mantinham-se presas a produções romanescas, conformistas e reprodutoras da imagem idealizada da condição submissa da mulher. Tal fator teria acentuado a característica conservadora de tais manifestações, as quais certamente estiveram identificadas com a corrente comportada do movimento feminista, orientada, a nível nacional, pela campanha sufragista liderada por Bertha Lutz e a Federação Brasileira para o Progresso Feminino. Nesse sentido, a presente comunicação visa apresentar a justificativa e os objetivos pertinentes ao projeto de dissertação intitulado Feminismo Ideal e Sadio, o qual pretende desenvolver uma pesquisa a respeito dos principais aspectos constitutivos do movimento feminista no Espírito Santo, tendo por base os artigos escritos por mulheres na revista Vida Capichaba, publicados no período que compreende os anos de 1923 a 1934.

Lorenna Ribeiro Zem El-Dine (Ufes) “Suspeita de subversão”: Clero Católico e Ditadura Militar no Espírito Santo, a partir do fundo DOPS A comunicação tem como objetivo refletir acerca da documentação existente no fundo DOPS-ES, sob custódia do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, enfocando a atuação do clero católico, entre fins da década de 1960 até 1980. O eixo central da discussão se dará em torno da atuação da Arquidiocese de Vitória e de movimentos encampados pelo clero “progressista”. Serão levantadas também questões referentes a “ala conservadora” da igreja no estado,

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bem como, sobre os procedimentos de investigação utilizados pela Delegacia de Ordem Política Social, com intuito de reprimir e difundir informações entre os órgãos da ditadura, acerca desses movimentos.

Luana da Silveira (UERJ) Viajar é preciso: Experiência de migração de estudantes de pós-graduação em análise O objetivo deste trabalho é colocar em análise a experiência de migração de estudantes de pós-graduação em situação de intercâmbio internacional. Acredita-se na potência desta experiência enquanto analisadora da formação, do trabalho imaterial, das fronteiras geopolíticas, econômicas, culturais e o exercício da cidadania, e dos modos de lidar com a diferença e com o diferente. As migrações contemporâneas estão no cerne das transformações mundiais, envolvendo mudanças radicais que articulam planos macro e micropolíticos, mobilizando desejos, resistências e linhas de fuga. Tais mudanças engendram e intensificam processos de circulação de pessoas, diferentes modos de habitar os territórios e o cotidiano, afetam as noções de tempo e espaço, imprimindo articulações entre saberes, informações e redes sociais, de acordo com as perspectivas da Análise Institucional e da Autonomia das Migrações, de Mezzadra dentre outros. Os estudantes migrantes são atravessados por experimentações disruptivas, que produzem novos modos de subjetivação, das quais o paradoxo e o sofrimento são constitutivos. O processo de produção pode gerar tanto o isolamento, como também a solidão produtiva, condição de singularização de caminhos e práticas. O que implica em questionar que redes sociais e afetivas são rompidas, construídas e atualizadas a partir da migração. Mergulhados em jogos de forças complexos e descontínuos, avaliam sua experiência migratória, os novos modos de vida e seus desdobramentos, que incitam a invenção e gestão de si e do mundo, na intersecção entre o exercício de autonomia e a ação de barreiras e limites.

Luana Neves de Sousa (UFG) Aspectos cotidianos da polis presentes na comédia “As Nuvens” de Aristófanes Sabemos que o teatro grego desempenhou um papel proeminente na Grécia Clássica, sobretudo na cidade de Atenas. Durante o período clássico, a comédia tinha como função entreter e informar os espectadores sobre a vida na polis, com o intuído de fazê-los refletir sobre variados aspectos. Aristófanes, comediógrafo que viveu aproximadamente entre os anos 445 a.C e 384 a.C, escreve a comédia As Nuvens, encenada pela primeira vez no ano de 423 a.C, tecendo algumas críticas acerca da educação, da relação entre pais e filhos e da política na cidade. O objetivo dessa comunicação é apresentar a peça As Nuvens e a visão de Aristófanes acerca dos aspectos cotidianos da sociedade ateniense presentes nessa obra.

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Lucas do Carmo Falcão de Lacerda (Ufes) Mapa psicogeográfico com a comunidade da Fonte Grande: Reflexões sobre cidade, cotidiano e poder O trabalho aborda procedimentos da psicogeografia junto à comunidade da Fonte Grande, no município de Vitória-ES. A psicogeografia é uma criação da Internacional Situacionista e nos dias atuais tem sido recuperada e repensada enquanto meio de construção da concepção do espaço urbano a partir de experiência cotidianas, traduzidas por meio de mapas afetivos/cognitivos. Apresenta-se também como oportunidade de discutir o poder de mapas convencionais em mostrar formas que consolidam uma visão de cidade a partir do funcionalismo, estético e abstrato. Tais mapas são elementos de políticas urbanísticas que valorizam a estética da cidade em detrimento do seu significado existencial e, de acordo com Massey (2008), apresentam o espaço enquanto sincronicidade e não o espaço do acontecimento, construídos nas diacronias e nas “histórias até aqui”. Para se discutir as experiências psicogeográficas à luz dos situacionistas, baseando a prática nos comportamentos lúdicos-afetivos, opera-se com o conceito de Deriva, a exemplo de Dias (2006), que a partir de experimentações psicogeográficas com crianças produziu um mapa de afetos do município de Ipioca. A expressão do espaço psicológico do cidadão permite a discussão sobre os modos de interação entre a cidade e o transeunte, identificando espaços descontínuos, vividos ou negados pelo cidadão, conforme discutido por Lévy (2008). Esse trabalho é um estudo pontual a partir de contexto empírico de produção de imagens cartográficas e procura articular as temáticas de cidade formal, cidade vivida, cotidiano e poder dos mapas, com aprofundamentos teóricos, metodológicos e técnicos.

Lucésia Pereira (UFSC) Arte e coexistência: Vanguarda artística em Florianópolis — sobreposições, choques e assimilações (1970) As idéias apresentadas nesta comunicação são resultado de análises desenvolvidas em torno do ambiente artístico da cidade de Florianópolis nos anos setenta. Com esta pesquisa pretendemos trazer para a narrativa histórica um debate mais abrangente sobre a experiência urbana, sobre sua representação e sobre o fazer artístico que nela se desdobra Ou seja, compreender as feições estilísticas das obras à luz das novas demandas sociais e culturais que se desenrolaram neste período. Entre elas o processo migratório que se alavancará nos anos seguintes e o tenso quadro político provocado pela ditadura militar, e a tentativa de consolidar a vocação turística de Florianópolis. É em torno destes anos, que novas linguagens artísticas começam a “disputar” espaços com a proposta moderna, caracterizada principalmente pela pintura narrativa das cenas cotidianas, do folclore e do casario urbano. O repertório desta pintura fornecia fundamento a um ideário em desenvolvimento (que se consolidaria nos anos 90) em torno da vocação turística

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da cidade. Nos seus desdobramentos, esta tendência artística se configurou como um limite para outras experimentações, resultando em debates estampados em jornais e revistas, num jogo de choques e assimilações entre artistas e instituições culturais. A atuação do Grupo Nossa’Arte constitui um exemplo a ser destacado pois, além de uma temática sem referentes na cidade, os artistas pretenderam democratizar os espaços de exposição dos seus trabalhos, levando-os para escolas públicas e morros da cidade.

Lúcia Helena Pereira da Silva (UFRRJ) Um rio de águas: Técnicos, Estado e estrutura urbana carioca entre os anos 1840/1870 Por meio da problematização do abastecimento de água na cidade do Rio de Janeiro durante o Segundo Reinado, mais especificamente entre as décadas de 1840 e 1870, este trabalho analisa a discussão e a atuação dos técnicos alocados nas principais repartições do estado imperial voltados para os problemas da Corte. O principal objetivo desta narrativa é articular formação de um ideário técnico à instituição de uma administração pública voltada para resolução dos problemas urbanos, neste caso, o abastecimento de água e como sua alocação prepara desigualmente os espaços da cidade.

Luciana Rodrigues Ferreira Varejão (UFPE) “A urbe” em movimento: Um estudo do cotidiano de lutas dos trabalhadores têxteis recifenses em 1960 Ao migrarem do campo para a cidade os trabalhadores pernambucanos acreditavam encontrar na urbe a possibilidade de melhores condições de sobrevivência, no entanto, os que conseguiram se empregar nas indústrias depararam-se com a super-exploração de sua força de trabalho. No cenário político local figurava o populismo enquanto estilo de governo, concedendo pequenos ganhos e dando respaldo a algumas pautas levantadas pelas camadas oprimidas da sociedade. Nesse sentido, procuraremos destacar as principais reivindicações dos operários têxteis no Recife de 1960, evidenciando as reclamações que mais se repetem e foram registradas por estes junto à Justiça do Trabalho, nos trazendo, assim, um breve perfil das problemáticas comuns enfrentadas no cotidiano da dita categoria. Apoiado nos estudos de Thompson que consideram as vivências, tradições, valores e idéias como fundamentais para constituição identitária de uma classe é que este trabalho se constrói.

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Luciane Munhoz Omena (UFG) Cotidiano e relações de poder no espaço urbano da sociedade provincial romana Propomos uma reflexão sobre as esferas de poder no espaço urbano da sociedade romana provincial do século II d.C. a partir do romance Metamorfoses, de Lúcio Apuleio. Trabalhamos com a perspectiva de que as relações de poder estabelecem-se entre agentes inferiores e superiores e, portanto, pensadas a partir dos micropoderes. Daí o fato de encontrarmos situações em que um inferior hierárquico tem o poder de bajular ou não um aristocrata, de apoiar ou não uma autoridade, de revoltar-se. Estaremos, inevitavelmente, enfocando o poder de aristocratas em localidades como Hípata, entretanto, a relevância deles assim como dos outros agentes sociais se dá pelo fato de serem pessoas através das quais o poder transita, quer dizer, como figuras importantes no campo das relações de poder. Nesse sentido, as hierarquias sociais existem como instituição, mas, sobretudo, como formas de expressão de poder, necessitando ser legitimadas e reconhecidas a partir de seus símbolos e ritos.

Ludimila Caliman Campos (Ufes) Um Deus, um Bispo, uma Igreja: A formação do episcopado monárquico nas comunidades cristãs do Império Romano (século II d.C.) A História das Religiões e das Religiosidades é hoje uma importante ferramenta na investigação das ações humanas, bem como na compreensão das diversificadas e complexas manifestações das experiências sociais. E é a partir desse entendimento que estaremos desenvolvendo uma análise acerca das comunidades cristãs no contexto do Alto Império Romano. Deste modo, o presente trabalho tem por objetivo examinar a ampliação do poder dos bispos na ecclesia ao longo do século II d.C. buscando uma inter-relação entre as comunidades do Ocidente e do Oriente nesse processo. Para tal fim, exploraremos as Cartas de Inácio de Antioquia, a obra Contras as Heresias de Ireneu de Lião e dois livros da coleção A História Eclesiástica de Eusébio de Cesárea. Os documentos propostos são de grande valia para se entender a crescente hierarquização da Igreja em conformidade com o aumento do poder episcopal, o conflito ortodoxia versus heresia, a legitimação de uma Igreja dita apostólica e o desaparecimento gradativo dos ministérios carismáticos em favor da autoridade do bispo.

Luís Eduardo Formentini (UFES) A construção da imagem póstuma dos reis visigodos Chindasvinto e Recesvinto Durante o Reino Visigótico de Toledo, apesar da eleição ser a norma sucessória do trono, regra oficializada desde o IV Concílio de Toledo, em 633, houve várias tentativas de se estabelecerem

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dinastias, por parte do soberano reinante, embora tal objetivo nunca tenha sido realmente posto em prática. Apesar disso, houve ocasiões em que pai e filho se sucederam como reis da Hispânia: um destes casos é o de Chindasvinto e seu filho Recesvinto. Neste trabalho analisaremos as ações dos dois monarcas no decorrer de seus reinados, especialmente em suas relações com a Igreja e a nobreza. Nosso objetivo é, a partir desta análise, verificar a construção e a autenticidade da imagem posterior de ambos os reis: Chindasvinto como cruel e tirânico, e Recesvinto como manso e manipulável.

Luiz Felipe Falcão (UDESC) Usos do imaginário urbano: Memória e oralidade como certificação do passado As imagens e os imaginários acerca dos territórios e dos ambientes urbanos são, habitualmente, lugares de disputas simbólicas agudas em torno do direito legítimo de produzir uma história e uma memória acerca dos processos de constituição de uma determinada cidade e da materialidade com que ela se apresenta aos contemporâneos, sejam eles moradores antigos ou recentes, ou ainda visitantes ou viajantes. De acordo com isso, é instigante analisar as tensões e os conflitos que envolvem os usos da memória e da oralidade com o fito de produzir uma certificação do passado, tensões e conflitos esses que são muitas vezes apresentados na forma de uma oposição entre habitantes nascidos ou já bem adaptados à cidade, seus costumes e tradições, e forasteiros que chegaram há relativamente pouco tempo ou que, mesmo ali se fixando já há algum tempo, denotam estranhamento com tais costumes e tradições.

Magda Maria Jaolino Torres (UFRJ) Cidades: A emergência de heterotopias na América portuguesa do séc. XVI Há lugares reais, lugares efetivos, lugares que são delineados na própria instituição da sociedade, e que são espécies de contraposicionamentos, espécies de utopias efetivamente realizadas nas quais os posicionamentos reais que se podem encontrar no interior da cultura estão ao mesmo tempo representados, contestados e invertidos, espécies de lugares que estão fora de todos os lugares, embora eles sejam efetivamente localizáveis. É deste modo que Foucault contrapõe à noção de utopia aquela de heterotopia. Este é o ponto de partida deste trabalho que se propõe a pensar a demarcação do espaço colonial português em território americano. Passo a entendê-lo como a produção de “espaços outros” frente a um mundo tornado fabuloso pelos conquistadores, espaços sacralizados, altamente hierarquizados, segundo uma “ordem” que se afirma como a única possível, pois querida por Deus. É deste embate entre a alteridade absoluta e um regime de verdade que a reconhece como parte da criação divina que emerge a “cidade” e a sociedade colonial, inventando as muralhas em que inserirá colonos e nativos de um mundo que se quer novo e se visa a produzir.

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Mally Teixeira Freire (Ufes) & Lílian Rose Margotto (Ufes) “Ocupar, resistir, construir e morar”: Com o manguezal nasce um bairro Este trabalho é uma produção da pesquisa de mestrado e se caracteriza pelo destaque dado à História Oral, uma ferramenta valiosa à análise da intersecção entre a vida individual e um dado contexto social. A entendemos como um método que favorece a criação de fontes históricas a partir de depoimentos; contribui para a recuperação de memórias e obtém documentos não escritos. Neste contexto, o entrevistado é considerado um agente histórico e sua visão acerca da experiência e dos acontecimentos sociais que passaram, faz parte da reconstrução de um passado recente. Documentos obtidos com a via da História Oral permitem ao sujeito relembrar e ao mesmo tempo legitimar esta história do presente, que aborda o processo de formação do bairro Dom João Batista/ Vila Velha/ES. Os relatos orais e a interpretação dos depoimentos reconstruímos a história de ocupação e formação do bairro, uma história contada a partir de nosso objeto de estudo, o Manguezal. Compreendemos as memórias que por ele foram evocadas pelos ocupantes da área, desde os anos de 1980 até hoje, recompondo tempos e espaços de diferentes experiências vivenciadas, direta ou indiretamente, na luta pela moradia. Experiências individuais que se inscrevem no coletivo, como ensinam Halbwachs e constroem assim, o pano de fundo a uma leitura do processo de formação de um dado território urbano. A pesquisa se apóia em autores como Walter Benjamin e Michel Pollak, destacando a necessidade da existência de lugares de memória, sobretudo, pela escassez cada vez maior na sociedade moderna de práticas que privilegiem a comunicação e troca de experiências. A faculdade de narrar quanto à de ouvir estariam em declínio (ou já desapareceram), e é justamente em função deste, que nossa pesquisa se volta na busca de experiências vividas de dentro para fora de um bairro, ligadas a um significado e a uma pertinência.

Manoel Ribeiro de Marins Filho (UFF) Espacialidades do Sagrado: Quando o Axé pede passagem! O presente trabalho pretende descrever o impacto de ocupações residências e comerciais sobre os limites territoriais de uma Casa de Candomblé da Baixada Fluminense. A ocupação das áreas limítrofes ao território do Axé provocam na espacialidade do sagrado impactos importantes. Os jogos de convivência entre os atores sociais nestes territórios podem revelar conflitos de intolerância, como processos de ressocialização e resignificação das relações de vizinhança.

Mara Rúbia Sant’Anna (UDESC) & Renato Riffel (UDESC) Cidade desejada: O consumo como agente do projeto de modernização de Florianópolis nas décadas de 1950 e 1960

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Partindo da análise de anúncios e matérias veiculadas em jornais de Florianópolis nas décadas de 1950 e 1960, este artigo propõe discutir como a idéia de modernização da capital catarinense manteve-se atrelada às novas condições de consumo implantadas pelo comércio local. Os vestígios deixados nas páginas dos jornais locais evidenciam os projetos de cidade que estavam em pauta e as vontades que se colocavam como de todos, e nesse processo, empresários e comerciantes eram entendidos como importantes agentes de modernização, estabelecendo e redimensionando estratégias de poder. Com base na discursividade sobre as inovações implantadas no comércio local e na oferta de serviços, as novas condições de consumo aparecem como sinônimo de cidade moderna. A urbanidade, mais do que as conseqüências da industrialização dos processos produtivos, foi um desejo, um sonho construído a partir de um olhar ao longe, de cidades que já haviam sido consagradas como modernas e que, como espelhos, autorizavam um modelo a seguir.

Marcela Martins Fogagnoli (UFF) “Almoçar bem é no SAPS!”: O papel do SAPS na política pública de melhoria da condição de vida e alimentação dos trabalhadores (1940-1945) A proposição fundamental do trabalho — um exercício “preliminar” de análise de uma pequena parcela do corpus documental que fundamenta uma pesquisa de mestrado que apenas se inicia — consiste na abordagem das políticas públicas de alimentação desenvolvidas pelo Estado Novo, em especial dos fatores que as impulsionaram e os seus resultados para a classe trabalhadora. Nosso eixo de referência consistirá na caracterização da trajetória do Serviço de Alimentação da Previdência Social, tomando por exemplo o SAPS Central, dada a sua instalação no Distrito Federal e o papel que cumpriu nesse contexto.

Marcello Basile (UFRRJ) Problemas urbanos, imprensa e cidadania: O Rio de Janeiro no início do Segundo Reinado. O trabalho analisa as cartas de leitores publicadas no Jornal do Commercio e no Diario do Rio de Janeiro durante a década de 1840. Aborda, assim, os principais problemas urbanos da Capital imperial – nomeadamente, os referentes aos serviços de infraestrutura e à criminalidade e segurança pública –, segundo as reclamações, reivindicações, denúncias e críticas contidas na seção de correspondência dos jornais. Este canal é compreendido, no contexto de formação de uma cultura política moderna, como um espaço de exercício da cidadania e de afirmação da chamada opinião pública; como um mecanismo privilegiado de comunicação – mediada pela imprensa – entre as camadas sociais que se manifestavam nas missivas e as autoridades

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públicas, revelando noções correntes de direitos e as representações e os ideais sociais acerca da cidade e do poder público no início do Segundo Reinado.

Marcelo Crisafuli Nascimento Almeida (UFSJ) A admissão dos gêneros musicais populares pelos teatros de São João Del Rei no início do século XX A presente comunicação se propõe a demonstrar uma pretensa desqualificação, divulgada por alguns segmentos da sociedade, dirigida a certos gêneros musicais populares então presentes na periferia da cidade de São João Del Rei. No final do século XIX, um jornal de propriedade de um politico local veiculava um discurso contra gêneros como o cateretê, presente nos folguedos populares periféricos sanjoanenses. No entanto, adentrando o século XX, com a grande popularidade do teatro de revista, não só no Rio de Janeiro mas também em cidades de grande efervescência artística como São João Del Rei, em que a trilha sonora desse gênero teatral era feita pelos gêneros musicais mais populares do pais, setores da sociedade local que antes criticavam as manifestações musicais corriqueiros folguedos do povo, passam a aplaudí-las quando são executadas e lembradas nos palcos dos teatros. Portanto, percebemos nesse processo um trânsito cultural tanto por parte dos músicos locais que deixavam seu repertório sacro e erudito para executar cateretês, polcas, lundus e maxixes, como de segmentos da sociedade num determinado momento procuraram se distanciar dos folguedos do povo e suas manifestações artísticas e que, no entanto, os conheciam bem e que passaram a prestigiá-los nos teatros de São João Del Rei no começo do século XX.

Marcelo Ribeiro de Castro (Centro Universitário São Camilo) Organização dos espaços urbanos da corte do Rio de Janeiro a partir das intervenções das escravas, das prostitutas e dos médicos da FMRJ O trabalho discute a influência dos modos de vida das mulheres escravas e das mulheres prostitutas na organização dos espaços urbanos da Corte do Rio de Janeiro, no período compreendido entre 1832-1850. Para isso, são avaliados os tipos de trabalhos que essas mulheres desenvolviam com o intuito de prover seu próprio sustento, dos seus familiares e, também, o aumento da renda de muitos dos seus proprietários. Dentro deste mesmo contexto, é possível perceber em teses sustentadas pelos médicos da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro a existência de três ordens de prostituição pública, destacando-se cada uma com seus adornos e peculiaridades próprias que influenciaram diretamente a organização dos espaços urbanos próximos à Corte. Nessas três ordens de prostituição estão definidos, entre outras coisas, os respectivos espaços que essas mulheres poderiam trabalhar. Por fim, concluo que as formas de ser e tornar-se pros-

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tituta e/ou escrava no período entre 1832 a 1850 contribuíram diretamente na organização dos espaços urbanos próximos à Corte.

Marcelo Siano Lima (Ufes) Polícia e política no Espírito Santo durante a transição democrática da década de 1980: As representações e o funcionamento do Sistema de Segurança Pública A presente comunicação versará sobre um tema ainda pouco explorado pelos estudos acadêmicos no âmbito do Estado do Espírito Santo: a operação do sistema de segurança pública durante o período da transição democrática iniciada com a eleição direta do Governador Gérson Camata em 1982. Tomo como referência a figura do subdelegado de polícia da sede do Município de Vila Velha, Sr. Osíris Mendes. Quatro aspectos serão explorados: o papel institucional do subdelegado, indicado por forças políticas para a função sem que pertencesse necessariamente aos quadros dos órgãos de segurança pública; a teia de relações políticas que o ungiam e o sustentavam nas funções; as ações de segurança pública por ele operadas e suas relações com todo um conjunto de práticas e políticas até então característicos desse setor do Estado que persistiam na ordem democrática então em construção; os modelos de policiamento e a própria concepção do sistema e dos órgãos de segurança pública à época e suas relações com as transformações sóciopolítica-econômicas do Brasil e do Espírito Santo do início da década de 1980.

Márcia Cristina da Silva Sousa (Unirio) & Leila Beatriz Ribeiro (Unirio) Cidade descuidada: O processo de extinção dos Cinemas de Rua do Rio de Janeiro Nosso artigo pretende criar as bases para um estudo sistemático da memória e história dos cinemas de rua — estabelecimentos ou salas de projeções cinematográficas erguidas nas cidades em meio às construções urbanas habituais — da cidade do Rio de Janeiro sob a ótica do colecionismo. Nossa investigação procura propor também o reconhecimento dos cinemas de rua como bens culturais dignos de preservação. Uma parte importante do que poderia vir a integrar o patrimônio cultural de nossas cidades está sendo suprimida. Não são simplesmente salas de projeção. São espaços de socialização comunitária e de construção da cidadania. Com o desaparecimento do circuito exibidor das vias públicas interditam-se lugares vitais de lazer e cultura urbanos na rua. E a vida vai sumindo das ruas. Elimina-se assim um ponto de encontro, um local de discussão, um espaço de vivência da diversidade. O espaço físico, e toda a estrutura montada ao seu redor, onde a “experiência cinema” é projetada vem sofrendo grandes mudanças desde seus primórdios aos dias atuais. Um fenômeno de escala mundial. Estamos vasculhando o processo de extinção das salas de exibição cinematográfica das calçadas da cidade do Rio de Janeiro e tentando problematizar o impacto dessa mudança no indivíduo e no espaço citadino.

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Pretendemos formar uma coleção sistemática que abarque tanto objetos visíveis quanto invisíveis referenciando um patrimônio material — dos prédios, da arquitetura, da configuração das ruas, das fachadas — e imaterial — da experiência do espectador, dos funcionários, das lembranças. A arquitetura remanescente, fotos, um canhoto de ingresso, lembranças... Procuramos investigar essa memória através dos vestígios e rastros deixados pelos cinemas de rua ao longo do tempo. O cinema de rua parece ter entrado em xeque na contemporaneidade. Ainda haverá lugar para os cinemas nas ruas das cidades?

Marcos Aurelio Santana Rodrigues (UFRJ) Práticas anarquistas e produções de heterotopias no Rio de Janeiro da Primeira República “A anarquia não é a bomba, não é o punhal, não é a desordem, porém também não é a tirania do sabre, da corrupção burguesa; a anarquia é um princípio da filosofia moderna; é o mais sublime e belo ideal conhecido até hoje, sua base é a liberdade, a solidariedade, o amor e o carinho de todo ser humano (...).”. Este texto procurava definir anarquia a partir de diferenciações de noções que muitos discursos atribuíram às práticas anarquistas. Estes tipos de discursos, de várias maneiras, procurariam identificar todas as práticas anarquistas como anomalias, como anormalidades em relação às práticas sociais normais, normalizadas, em cada um desses discursos. Em outras palavras, estas práticas eram anormalizadas por discursos que falavam em controle social, em legalidade, em comportamentos adequados, em obediência, em eficiência revolucionária etc. Quando as práticas anarquistas entravam nestes tipos de discursos era quase sempre de modo depreciativo, degenerativo e negativo. Assim, através desses vários tipos discursos, as práticas anarquistas eram anormalizadas, estereotipadas, ocupando o que Michel Foucault chamou de lugares heterotrópicos [os não-lugares que estão lá, presentes em nossas sociedades]. Por outro lado, lançando mão de mecanismos de definições e de dispositivos de ordenamentos e controles, as noções de anarquismos procuravam, aos seus modos e em disputas de sentidos, uniformizar e universalizar suas próprias enunciações. Ou seja, criavam noções de anarquismos que sintetizariam e sistematizariam várias outras práticas que se identificavam como anarquistas, ao mesmo tempo em que criavam lugares heterotrópicos anarquistas para aqueles que não se enquadravam, não se subjetivavam e não se sujeitavam a tais enunciações. Portanto, é para discutir a produção de heterotopias anarquistas que este texto se volta.

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Maria Aparecida dos Santos (UERJ) Sob o símbolo da água — Relações de poder entre Estado e população de Araxá-MG Com a chegada da Família Imperial ao Brasil, em 1808, teve início a avaliação médico-científica das fontes hidrotermais brasileiras. Segundo Zema (1998), o Barreiro de Araxá-MG teve sua primeira análise in loco em 1816 com o mineralogista, tenente-coronel do Real Corpo de Engenheiros, Guilherme, Barão de Eschwege. Em 1860 as estâncias hidrominerais sul-mineiras, em início de funcionamento, foram prestigiadas com a visita da Princesa Isabel para tratamento de saúde, dando início a um período de desenvolvimento do Termalismo no Brasil. No prazo de 60 anos, este desenvolvimento colocou o Brasil em condições de igualdade com as instalações hidroterápicas européias. Hoje, as águas do Barreiro de Araxá estão contaminadas por bário. A população se lamenta da falta de mentalidade de proteção ambiental por parte dos governantes. Isso ocorre porque a água mineral não está sujeita à Política Nacional de Recursos Hídricos, estabelecida pela Lei 9.433, de 8 de janeiro de 1997, a chamada Lei das Águas ou dos Recursos Hídricos e sim ao Código de Águas Minerais e o Código de Mineração que definem a água mineral como um bem mineral. Isso permite que os recursos minerais sejam explorados até a exaustão, inclusive a água mineral. Sobrevêm relações de poder entre Estado e população, mediante a visão de aproveitamento econômico dos recursos, sem levar em consideração os humanos presentes nos espaços. O presente trabalho visa apresentar o percurso histórico das leis sobre águas no Brasil, designadamente relacionado a Minas Gerais focando a estação hidromineral do Barreiro do Araxá. Com isso busca trazer à tona as redes que se formaram diante dos entrelaces político/econômico através de um bem importante para a condição de vida no planeta: a água.

Maria Beatriz Nader (Ufes) Movimento feminista e violência contra a mulher: O resgate de uma conquista Na busca de soluções para o problema, desde os anos de 1970, as mulheres envolvidas no movimento feminista enfrentam um árduo trabalho no processo de construção e visibilidade dos conflitos da violência contra a mulher, principalmente a violência baseada em gênero, não apenas o revelando e o denunciando, mas construindo um panorama da questão que atinge mulheres de todos os segmentos sociais. Tiveram de consolidar idéias cujo objetivo era mostrar que o fenômeno existia e que ocorria em proporções alarmantes, além de provar que ele circunscreve certo conjunto de ações e atitudes que envolvem um leque determinado de relações. A violência contra a mulher, diante da nova compreensão ficou caracterizada como um problema social e não de indivíduos isoladamente.

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Maria Cristina C. L. Pereira (Ufes) Quando o claustro conquistou a cidade: Os monges de Moissac e a primeira cruzada Mesmo sem deixar o claustro, os monges do mosteiro cluniacense de Moissac tiveram uma participação significativa na divulgação da idéia de Cruzada, contribuindo para a pregação do papa Urbano II — ele mesmo antigo monge de Cluny. Teria sido forjada no scriptorium daquele mosteiro do sudoeste da França a famosa carta do papa Sergius IV (1009-1012) que servira como uma das incentivadoras para a partida de exércitos para “libertar” Jerusalém, ao denunciar os abusos dos “impiis paganorum” no Santo Sepulcro. Além do texto do scriptorium, em um dos capitéis historiados do claustro encontramos uma referência à tomada da Cidade Santa: soldados com cruzes em frente aos muros de uma cidade designada como Jerusalém. Neste trabalho buscaremos, pois, demonstrar como os monges, os oratores por excelência da sociedade medieval, não só usaram de suas armas espirituais para colaborar na libertação de Jerusalém, mas também de suas armas intelectuais: textuais e figurativas.

Maria da Conceição Francisca Pires (UFV) O imaginário político na Revolta do Vintém (1879-1880) A exposição abordará a cobertura jornalística presente no semanário Revista Illustrada (18761880) do episódio conhecido como Revolta do Vintém, ocorrido entre os meses de dezembro de 1879 e janeiro de 1880 na cidade do Rio de Janeiro. O interesse central é analisar de que forma questões referentes a cidadania política e social estavam presentes na analise desenvolvida pelo caricaturista Ângelo Agostini sobre os eventos. A cobertura de Agostini colocou em relevo três aspectos específicos: em primeiro lugar, a capacidade de organização desses homens livres e pobres no pleito por seus direitos e de atuarem como agentes de transformação social; em seguida, permite que se perceba a inserção da população livre no Império; finalmente, o artista assinalou a opção pela repressão armada e a inabilidade das elites políticas em articular formas de negociação com a população, considerada por essas elites informe e sem capacidade de ações estruturadas. A narrativa de Agostini tentou dialogar, e se contrapor, as outras versões apresentadas no interior da imprensa, travando um interessante debate interno. Ao mesmo tempo, buscou se distinguir das demais ao apresentar detalhes verificados nos locais onde ocorreram os distúrbios. A “Revolta do Vintém” foi apenas um entre tantos temas discutidos pelo lápis de Agostini e que tem como pano de fundo uma reflexão sobre as lideranças e práticas políticas locais e o próprio regime de poder instituído, bem como sobre o alheamento do governo com relação às demandas populares e sua incapacidade para organizar a população brasileira para o exercício pleno da cidadania.

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Maria da Penha Smarzaro Siqueira (Ufes) A urbanização e o projeto modernizador das cidades brasileiras na primeira metade do século XX A urbanização e a modernização das cidades brasileiras, a partir do final do século XIX e início do XX, estavam associadas às transformações que ocorriam no país, procurando inserir as principais cidades no ideário internacional de modernidade, notadamente o europeu, em direção ao desenvolvimento do capitalismo. As mudanças urbanísticas atendiam os princípios da política higienista, ideário determinante na prática do projeto de modernização, que materializou um amplo processo de reformulação urbana e embelezamento das cidades, marcando um novo tempo na sociedade brasileira. Tal processo promoveu alterações nos costumes e hábitos das populações urbanas, ao introduzirem novas ideologias e novos valores que veiculavam práticas tidas como “civilizadas”, no sentido de vida urbana, ostentando as representações da modernidade como vitrine de civilidade e progresso.

Maria do Carmo Parente Santos (UERJ) As cidades medievais ibéricas durante a Guerra de Reconquista O alargamento do território dos reinos cristãos do Norte durante a guerra de Reconquista determinou a disputa de numerosas cidades entre os exércitos muçulmanos e cristãos. Quando foram conquistadas pelos árabes as populações cristãs e judias que nelas habitavam receberam o estatuto dos dhimmis, que lhes permitia mediante o pagamento de impostos às autoridades islâmicas, continuar a prática de suas religiões e também facultava-lhes uma considerável autonomia. Assim, nestas urbes estabeleceu-se entre judeus, cristãos e muçulmanos uma convivência pacífica, raramente quebrada durante um largo tempo. Para os reis cristãos a captura destes centros urbanos significava um aumento de seu prestígio como guerreiros, mas também a obtenção de vultosos recursos econômicos, capazes de impulsionar ainda mais a guerra, levando a novas conquistas. Mas, toda vez que um monarca cristão entrava vitorioso em uma cidade que estivera sob dominação muçulmana era necessário estabelecer uma estratégia para lidar com os derrotados. Neste trabalho pretendemos analisar as estratégias políticas de Afonso VI e de seu neto Afonso Henriques no trato com a população moura das cidades de Toledo e Lisboa respectivamente.

Maria Edith Maroca de Avelar Rivelli de Oliveira (UFOP) A literatura histórica indianista alencareana como elemento de constituição de uma memória nacional no século XIX Esta apresentação se propõe a uma abordagem dos romances histórico-indianistas (Iracema e O guarani) do romancista José de Alencar, a partir dos pressupostos bergsoninanos sobre imagens

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e memória, intentando destacar a importância destas obras como elementos colaboradores na formação da memória histórica nacional em seu período (décadas de 50 a 70 do século XIX).

Maria Teresa Toribio Brittes Lemos (UERJ) Mexico-Tenochtitlán: Vida cotidiana de uma cidade mexicana Em Mexico-Tenochtitlán — vida cotidiana de uma cidade mexicana, pretende-se apresentar para discussão e reflexão aspectos relevantes de uma cidade mexica, no período da invasão espanhola. A análise baseia-se na leitura dos códices indígenas e relatos dos cronistas que estiveram no México logo após a entrada de Hernán Cortés. A sociedade asteca, descrita no Codex Mendonza, relata aspectos da vida cotidiana na cidade de Tenochtitlán. O livro, escrito em espanhol e asteca, através dos tlacuillos, pinturas vivas e coloridas dos mexicas, retrata a cotidianidade da capital mexicana, no século XVI. Assim como o Codex também são analisadas as obras de Francisco Javier Clavijero, Bernardino de Sahágun, Frei Diego Durán, entre outros franciscanos. Destacam-se naquelas leituras aspectos relevantes da vida cotidiana, práticas culturais e representações simbólicas, como rituais do nascimento, batismo, casamento, guerra, relações de produção, atividades econômicas, cultura, arte e religião, entre outras práticas e representações simbólicas. São marcas identitárias que permanecem até os dias atuais, apesar da mestiçagem com a colonização espanhola.

Mariana Eliane Teixeira (UFJF) A transição da mão-de-obra servil para o trabalho assalariado em duas cidades mineiras voltadas economicamente ao setor de abastecimento: São João Del Rei e Oliveira A proposta deste trabalho é pensar como se deu o processo de transição da mão-de-obra escrava para o trabalho assalariado em duas cidades do interior de Minas Gerais: São João Del Rei e Oliveira. A escolha destas duas cidades se dá pelo fato de ambas estarem envolvidas em atividades econômicas voltadas para o abastecimento interno, não produzindo gêneros agrícolas para exportação durante a maior parte do século XIX. Até então, os estudos dentro desta temática, dão prioridade em entender a transformação das relações de trabalho, típicas do final do Oitocentos, nos grandes centros urbanos como São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro etc. Todavia, faz-se necessário entender este processo em cidades de pequeno porte como São João Del Rei e Oliveira, cidades cujas fronteiras entre o urbano e o rural apresentam-se bastante tênues para a época. O motivo principal que nos faz pensar este problema da transição da mão-de-obra é o fato encontrarmos, para esta época, a presença de imigrantes, principalmente italianos, nos acervos cíveis e criminais destas duas regiões. Sendo assim, também cabe a nós pensar até que ponto estas duas cidades contaram com o trabalhador imigrante para substituir

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os escravos no pós-abolição, lembrando que a província mineira aderiu tardiamente às políticas imigratórias do Império Brasileiro.

Mariana Nunes de Carvalho (Unirio) Extra!!!! Extra!!!!A Imprensa carioca na transição da Monarquia para a República Este trabalho apresentará um estudo sobre a imprensa brasileira no final do século XIX (18741889). Primeiramente apresentará uma breve história da imprensa nacional, desde o lançamento de seu primeiro impresso, em 1747, passando pela criação da Imprensa Régia em 1808, a imprensa na independência e imperial, chegando até o período estudado, a imprensa da crise do Segundo Reinado. A partir daí, mostrarei um mapa da imprensa na Corte no período de 1874 até 1880, comparando as revistas de acordo com seu tempo e fazendo um breve comentário acerca de cada publicação, demonstrando, assim, como era o sistema de periódicos na Corte durante esse período bastante conturbado, qual seu crescimento e desenvolvimento, que tipo de discurso prevalecia, quem os escrevia, mostrando a imprensa como palco de disputas, onde os intelectuais são os responsáveis por estas, já que as características estéticas de sua produção demonstram sua inserção num debate mais amplo, cujo cerne era a proposta de uma nova e moderna identidade nacional que relacionasse uma determinada herança cultural com o discurso político proposto pelo grupo que evidenciava também a decadência do Império.

Mariana de Almeida Pícoli (Ufes) Em prol da redenção: As notas de concessão de alforria no jornal “A Província do Espírito Santo” no contexto do Movimento Abolicionista em Vitória (1882-1888) A progressiva radicalização do movimento abolicionista desenvolvido nacionalmente agravou a crise na política de domínio senhorial. A relação senhor/escravo encontrava-se abalada desde a promulgação da Lei Euzébio de Queiroz que impôs o fim do tráfico de escravos africanos para o Brasil. Os proprietários precisaram encontrar formas de negociação com seus cativos visando à manutenção pacífica das relações de subordinação inerentes à escravidão. A concessão de alforrias condicionadas a prestação de serviços representou uma estratégia eficaz de controle, pois não rompia repentinamente com a situação de dependência do cativo. Muitas vezes, a manumissão consentida pelo senhor ao seu escravo foi publicada nos periódicos locais de maior circulação das cidades imperiais. No período de realização da campanha abolicionista em Vitória, capital da província do Espírito Santo, tal prática pode ser acompanhada nos principais jornais. Nesta comunicação pretende-se analisar as notas de alforria concedidas pelos senhores de escravos publicadas no jornal A Província do Espírito Santo, durante o período compreendido entre os anos de 1882 a 1888. O objetivo desta pesquisa consiste em procurar compreender o significado dessa estratégia para os senhores, para os escravos e para a campanha abolicionista.

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Marilda Santana da Silva (UFC) A relevância do poder urbano, político e econômico das vilas de Santa Cruz do Aracati e do Aquiraz na capitania do Ceará no alvorecer do século XIX No Ceará, após a segunda metade do século XVIII, a população livre e pobre era empregada como força de trabalho nas principais atividades produtivas do território como, por exemplo, a pecuária, a agricultura de subsistência e na incipiente produção algodoeira. O espaço urbano da Vila de Santa Cruz de Aracati, o “reduto econômico” do território, criada em 1748, localizada às margens do rio Jaguaribe, era voltado para as atividades relacionadas à produção do couro e seus derivados. A Vila era considerada como o centro das Charqueadas, na qual a carne era salgada e abastecia grande parte da população da capitania subalterna do Ceará, além de ser exportada para outros centros consumidores, tais como: Recife, Olinda e Salvador. A Vila de Aquiraz, por sua vez, além de ter sido a primeira vila criada no território, possuía a primazia de ser a “cabeça” da Comarca, numa tentativa de aproximação do centro de gravidade econômica do Ceará colonial. A cidade de Fortaleza só sedimentou seu processo hegemônico no interior do território do Ceará na segunda metade do século XIX, com o fortalecimento da exportação da produção do algodão. Esta comunicação busca analisar as vicissitudes da importância dos espaços de poder urbano, político-administrativo e econômico destas duas vilas, ainda nas duas primeiras décadas do século XIX, mais especificamente após 1799, quando a capitania subalterna do Ceará conquistou a independência política e administrativa da capitania do Pernambuco.

Marilene Rosa Nogueira da Silva (UERJ) A cidade e a prisão: Fixação, normalização e controle da desordem urbana “...O Rio será, Alguma cidade submersa. Os escafandristas virão Explorar sua casa. Seu quarto, suas coisas Sua alma, desvãos, Sábios em vão tentarão decifrar o eco de antigas palavras. Fragmentos de cartas, poemas Mentiras, retratos Vestígios de estranha civilização...”. Como os escafandristas dos Futuros Amantes da musica de Chico Buarque procuro, organizo, descrevo e analiso numa cidade submersa marcada pela escravidão, a invenção da prisão. Na relação complexa desse lugar da punição com a cidade, melhor dizendo, na construção da cidadela da punição discuto a emergência da prisão como um local de ocultamento do corpo do condenado pela sociedade para a mesma sociedade, da deportação interna que aponta o criminoso e define o crime. Temos então a inclusão pela exclusão: não só nos manicômios e prisões, mas também nas casas de correção para menores infratores, nas escolas especiais para os deficientes, constituindo toda uma rede paralela de fixação da desordem. Sabemos que a história do poder é também a história dos espaços e das espacialidades. A Cidade emerge como um utópico sujeito universal e anônimo, de propriedades estáveis, isoláveis e articuladas uma sobre a outra. Entretanto, a noção de heterotopia que orienta a comunicação problematiza a espacialidade

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urbana como produto das relações de poder que delineiam e fixam lugares irredutíveis uns aos outros e, que não se podem sobrepor. Nesses espaços outros os fluxos são entendidos como velocidade de movimento onde as fronteiras são permeáveis e permeadas, forçando o reduto da significação territorial e simbólica fixa. Se os ares da cidade libertam suas leis aprisionam.

Marina de Mattos Dantas (UERJ) Futebol brasileiro: Do jogador operário ao operário jogador Desde sua chegada ao Brasil, em 1884, o futebol é marcado por conflitos intensos e relações de poder que o modifica continuamente e constituem modos de ser jogador de futebol. Sob a luz dos estudos de Michel Foucault acerca do poder disciplinar e biopoder, bem como de outros autores consonantes aos seus pensamentos, essa pesquisa se propôs a estabelecer conexões entre as mudanças ocorridas no futebol brasileiro desde a sua chegada, e a atual política de formação de atletas, dando ênfase as principais mudanças e as relações de poder inclusas nesse movimento. Vê-se que a profissionalização desse esporte, em 1933, e a sua comercialização cada vez mais freqüente e intensa são pontos de destaque, pois mudaram as formas de relacionamento entre os envolvidos na prática do futebol como atletas, dirigentes, comissão técnica, torcida, dentre outros. Esses agora constituem parte de um mercado global, funcionando conforme as regras do neoliberalismo econômico.

Marina Vieira de Carvalho (UERJ) Controles e resistências na cidade do Rio de Janeiro: A política no e do cotidiano da urbe carioca na virada do século XIX para o século XX Este trabalho pretende analisar o cotidiano da cidade do Rio de Janeiro, no período de 1888 a 1906, a partir da urdidura de um jogo polemológico. Primeiramente, as estratégias de controle do centro urbano do Rio de Janeiro: a institucionalização de leis federais, municipais e, principalmente, a formulação, concretização e legitimação do artigo 399 e 400 do Código Penal de 1890, o qual estabelece a contravenção e a reincidência à vadiagem; investigará também o imaginário difundido na época — o progresso, o chic, a Belle Époque carioca; enfim, o projeto normatizador da sociedade a partir da disseminação da ética do trabalho, do discurso da higiene (as reformas sanitárias), do discurso urbanístico (as reformas urbanas) e do discurso jurídico (a contravenção da vadiagem). Em segundo lugar, ajustaremos o enfoque da investigação para as resistências a essas tecnologias de controle: perceber, por meio do estudo do dia-a-dia da cidade, como os segmentos populares reagiam a essas leis, a esse imaginário, a esses novos padrões de convívio da cidade; os usos que faziam da lógica imposta por uma parte da sociedade que se pretendia moderna e civilizada. Deste modo, construir um novo olhar sobre a Primeira República: a atuação política dos “homens e mulheres comuns” em seus cotidianos.

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Marisa Schincariol de Mello (UFF) Expansão da literatura nordestina na década de 1930 Em 1936, o escritor alagoano Graciliano Ramos é preso sem acusação formal, no contexto das perseguições aos comunistas pelo Governo de Getulio Vargas, e transferido para o Rio de Janeiro no porão de um navio. Enquanto está preso, seu terceiro romance, Angústia, é lançado, como parte da “campanha” que resultou em sua soltura no ano de 1937. Durante o período de 1937 a 1945, Graciliano publica Vidas Secas e Infância, romances que se diferenciam, segundo ele, da produção do grupo que estava antes reunido e que nos é conhecido por “Geração de 30” da literatura modernista brasileira, marcada pela crítica social, dada a ruptura temática e estética nestas obras, posicionando-se contrariamente à produção mais bem comportada e dentro dos padrões. Raquel de Queiroz, José Lins do Rego e Jorge Amado, membros desta “geração”, mudam-se do Nordeste e também estão morando no Rio de Janeiro em 1937, como consequencia de uma grande aceitação de seus romances na capital. Segundo Graciliano, a transferência deles para o grande centro literário tornou a sua escrita em conformidade às convenções estabelecidas. Nesse período escreve dois documentos importantes para este debate, intitulados A decadência do romance brasileiro e O fator econômico no romance brasileiro, onde explicita críticas aos textos e, ao mesmo tempo, reafirma seu posicionamento sobre questões de forma e conteúdo na literatura. A crítica, no entanto, não é a mesma, porque, se José Lins e Raquel haviam se incorporado ao circuito literário dominante, Amado, por sua militância no Partido Comunista, submetia seus escritos literários à propaganda política.

Mathilde Larrère (UPE) Les compagnies de quartier de la Garde Nationale parisienne sous la monarchie constitutionnelle: Le pouvoir au bout du fusil dans les quartiers de la capitale? La Garde Nationale est une milice d’ordre publique aux enjeux éminemment politiques sous la monarchie constitutionelle, et ce particulierèment à Paris. Organisé sur le modéle militaire mais composée de citoyens, la garde est divisée en légions, bataillons et compagnies qui correspondent à des divisions territoriales. La compagnie est ainsi organisé à l’échelle du quartier dont elle assemble les contribuables. Elle a un rôle quotidien de maintein de la tranquilité publique, enraciné dans son quartier. Sous la monarchie de Juilliet, les officiers de la garde sont élus par les hommes: ces élections sont de plus en plus politisées au cours du règne et sont le cadre, à Paris, d’un apprentissage démocratique. Pour toutes ses raisons, les compagnies de la garde nationale ont été au coeur d’enjeux de pouvoir au centre de la ville et de ses quartiers.

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Maurizete Pimentel Loureiro Duarte (Farese/ES) Habitação popular: Ideário e contradições do sonho da casa própria É no governo de Getúlio Vargas que tem início a partir de 1930 as primeiras tentativas de intervenção pública na área habitacional de forma a prover a população com a habitação popular. Tais tentativas visavam não apenas solucionar um crescente problema urbano gerado pelo crescimento demográfico nas cidades brasileiras e pela escassez de moradias populares, mas também como tentativa política do governo de criar um pacto social capaz de possibilitar a manutenção e a sustentação de suas ações políticas junto ao povo. O ideário da habitação popular encontra na periferia o espaço de reprodução não apenas da moradia popular, mas também da condição perfeita de obtenção do apoio popular para manutenção e sustentação do poder político. Toda a significação da habitação popular assume magnitude a partir da criação do ideário da casa própria no imaginário popular, ideologia reproduzida pelos setores públicos como objetivo maior da vida do trabalhador, das famílias, da massa social brasileira.

Mauro Cezar Vaz de Camargo Junior (UDESC) Marechal Cândido Rondon e o processo de implantação do turismo O turismo no Extremo-Oeste do Paraná não é uma idéia recente como alternativa sócio-econômica, pois, na década de 1980, foi pensada a construção de praias artificiais com o represamento do rio Paraná e a formação do lago artificial da hidroelétrica de Itaipu, como forma de incremento da economia local. O turismo se constitui num processo de vendagem de paisagens e de alternativas gastronômicas e de lazer, que incide diretamente nas estruturas das cidades, como é bem visível na cidade de Marechal Cândido Rondon. Nela, em um primeiro momento investe-se nas praias artificiais e na produção de características étnicas, incentivando festas, arquitetura e grupos de dança, cenários esses que se vão adequando às constantes mudanças dos projetos regionais, das políticas internas dos municípios e do próprio Estado do Paraná, e, sobretudo, da relação dos munícipes com tais atividades. Com base nisso, o texto discute esse processo de implantação do turismo na região e seus impactos na vida e nas representações de mundo de seus moradores.

Mauro Marcos Farias da Conceição (UERJ) Espaços urbanos e a educação: Modalidades de controle e de hegemonia do Império Espanhol As populações vindas da Europa encontraram nos espaços urbanos — aldeias, cidades e vilas —, formadas na América Latina, os principais ambientes de uma nova, e diferenciada, modalidade de

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sociabilidade. Há que se observar que os modelos de socialização, que compunham as representações culturais destes segmentos imigrantes, foram pautados considerando-se os estilos e a formação social e política, possível de se estabelecer e realizar no Velho Continente; afirma-nos Richard Morse, quanto às concepções urbanas, que “uma forma de compreender as cidades hispano-americanas, portanto, é colocar a ‘idéia de uma cidade’ que vinha da Europa numa relação dialética com as condições de vida do Novo Mundo.”(Morse, 1999, p.61). Os ambientes urbanos não se constituíram tão somente em simples receptores de modalidades culturais — ou modelo de organização sócio-político — distinto àquelas existentes no continente. Esta observação, fundamentalmente, impulsionou-nos a cotejar os confrontos e as profundas desigualdades territoriais, étnicas e sociais intrínsecas aos espaços encontrados, bem como aos indivíduos participantes e partícipes das ações humanas que então seriam realizadas. A educação, a religião e as conformações políticas e sociais impostos às colônias tornaram-se, fundamentalmente, instrumentos de construção e consolidação do poder político que se configurou no Império espanhol.

Michele Bete Petry (UFSC) Personagens e histórias: Representações sobre o cotidiano e a cidade de Florianópolis (SC) entre 1969 e 1979 Esta pesquisa tem como objetivo analisar as manifestações político-culturais circunscritas ao cotidiano da cidade de Florianópolis (SC), entre 1969 e 1979, por meio das expressões gráficas de humor publicadas nos jornais “O Estado” e “Jornal de Santa Catarina”. O estudo proposto pretende contribuir, de modo geral, para a apreensão de narrativas históricas sobre um cotidiano apresentado em forma de arte e, em particular, para uma investigação sobre o uso das expressões gráficas de humor como fontes para a pesquisa e produção teórica em História. À medida que as caricaturas, charges e cartuns apreendem discursos e representações sobre diferentes tempos e lugares por meio de uma complexa linguagem de signos, podemos identificar, na seqüência de alguns quadros, personagens e histórias que se cruzam captando acontecimentos cotidianos e as vivências de uma cidade que se transforma embora também tente se preservar.

Michele Gonçalves Cardoso (UDESC) Voltando para a casa: A inserção dos retornados na cidade de Criciúma/SC (1995-2008) A cidade de Criciúma (SC) se construiu ao longo do século XX, em larga medida, através da exploração carbonífera, o que provocou a vinda de muitos migrantes para aquela que era conhecida como capital brasileira do carvão. No início da década de 1990, com a crise aguda sofrida pelo setor carbonífero na cidade houve um aumento considerável do desemprego. A partir deste fenômeno foram criadas outras estratégias de ação para fugir da crise, sendo uma destas a emi-

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gração. Assim, nas décadas de 1980 e 1990 a cidade assiste a saída de milhares de pessoas que buscavam na migração, principalmente para os Estados Unidos, a realização de seus sonhos. Contudo, grande parte destas pessoas encara o processo migratório como uma experiência temporária, ou seja, o retorno acaba sendo o objetivo final. Este processo de retorno promove alterações significativas na constituição citadina. Grande parte destes retornados conseguem adquirir imóveis e, além do capital financeiro, exercem também um capital simbólico, buscando se representar de maneiras diferenciadas na cidade. Estas relações também tornam a cidade polifônica, no sentido, em que mais vozes vão se estabelecendo e não somente as tradicionalmente ouvidas. A própria identidade da urbe é colocada em debate, pois Criciúma não pode mais ser vista como uma cidade de destino para migrantes. Assim, a presença dos retornados altera profundamente as relações sociais, culturais e econômicas na cidade, sendo, portanto, um tema fundamental para o entendimento dos fenômenos contemporâneos urbanos.

Milton Esteves Junior (Ufes) Contra a cidade do poder e a favor do poder da cidade: Leitura crítica e estratégias processuais Cidade: lugar de produção da História, em maiúscula porque, diferentemente da disciplina que organiza e reporta os fatos, analisa os modos como estes se plasmam no território; lugar preferencial de expressão das atividades e costumes cotidianos processados por mecanismos que estabelecem e mantêm o poder. Na configuração contemporânea, a cidade (produto) e o urbanismo (processo), há muito dominados pelo trinômio Estado, Dinheiro e Trabalho, abandonaram sua função ontológica de abrigo que dá sentido à vida para proporcionar a dominação social, a manipulação da conduta da coletividade em modos de vida mais aptos à reprodução de suprimentos e de comportamentos individualistas do que à produção de subjetividades e de espaços para a vida comum. Propõe-se reflexões sobre alguns fatores que geraram e alimentam esses processos: a conversão do absoluto em histórico; o culto à economia; a vulgarização do sentido racional e utilitário das coisas e da vida; a consciência social que apaga a noção de subjetividade e de coletividade. Esses fatores anulam a participação dos indivíduos na construção da própria História, são propícios aos processos de reificação e de separação e dominação sociais, e são facilmente visíveis nos modos de produção do território e nas manifestações públicas cotidianas ou efêmeras. Mas, antes de limitar-se à leitura crítica desses fatores que controlam a vida cotidiana por meio do urbanismo utilitário; pretende-se aqui tomá-los como ponto de partida e referência para divulgar o comportamento lúdico-construtivo e o urbanismo unitário, alternativas para superação da “cidade do poder” e, principalmente, para a recuperação do “poder da cidade”.

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Miriam Lourdes Impellizieri Silva (UERJ) Santidade e cidade na Úmbria medieval: O caso de Assis Herdeiros de uma tradição que remonta à Antigüidade Tardia, os cultos patronais das comunas italianas adquirem um novo vigor nos séculos finais da Idade Média. No quadro da civilização urbana, movimentos religiosos laicos impõem um novo modelo de vivência religiosa e de santidade, reconhecida pela sociedade e pelas autoridades eclesiásticas. É o que acontecerá em Assis, comuna umbra, envolvida nas lutas entre Império e Papado e nas rivalidades políticas e econômicas com suas vizinhas, e palco do surgimento e desenvolvimento do movimento Franciscano, no início do século XIII. Movimento que agirá profundamente na cidade, alterando não só a paisagem urbana como repercutindo em todo seu corpo social. Desde cedo, sólida e duradoura ligação se estabelecerá entre frades menores (liderados por Francisco) e damas pobres (tendo à frente Clara) de um lado e a cidade, do outro. Após a morte de ambos e suas respectivas canonizações (Francisco em 1228, e Clara em 1255), Assis, portanto, ver-se-á enaltecida e honrada diante das outras comunas umbras e protegida e tutelada por ser o berço e o túmulo destes dois “atletas de Cristo”, invocados nos momentos coletivos de desespero e recordados nas festividades realizadas em seus nomes.

Mônica Vermes (Ufes) As camadas musicais da cidade do Rio de Janeiro nos primeiros anos da República Nos anos que se seguiram à proclamação da República deu-se um rearranjo no cenário musical do Rio de Janeiro. No âmbito institucional, foi fundado o Instituto Nacional de Música sobre as bases do Conservatório de Música do período imperial. O ato que extinguiu este e criou aquele — Decreto No. 143 de 12 de janeiro de 1890 — promoveu uma substituição na administração do Instituto que refletiu não somente uma nova tendência política — na figura, principalmente, dos republicanos Leopoldo Miguez (1850-1902) e Alberto Nepomuceno (1864-1920) —, mas também uma nova corrente estética. Esse direcionamento duplamente novo geraria iniciativas com o intuito de transformar o meio musical carioca. A par das atividades musicais desenvolvidas no Instituto, o Rio de Janeiro contava com outros núcleos de atividade musical, como os teatros — os que apresentam recitais de ópera e música de concerto e aqueles dedicados ao teatro musical e às operetas —, as sociedades de música, os saraus semi-privados e a atividade musical das ruas. Esses diversos âmbitos se entrecruzavam através do trânsito dos músicos, do público e dos repertórios, constituindo uma rede complexa de relações e trocas, objeto deste artigo.

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Morgana Giovanella de Farias (UDESC) O orçamento participativo e a mudança de governo em Porto Alegre A partir de 1989, o Orçamento Participativo (OP) foi implantado na cidade de Porto Alegre, durante o governo do Partido dos Trabalhadores (PT). O sistema, que tem como base a participação direta da população na decisão orçamentária do município, logo se popularizou e virou bandeira do partido petista. Tornou-se a mais bem-sucedida experiência de Orçamento Participativo que se tem conhecimento. Depois de 16 anos, a cidade vive uma mudança de partido no governo. José Fogaça durante seu primeiro mandato (2005-2008) era membro do Partido Popular Socialista (PPS) e quando disputou seu segundo mandato (2009-2012) para a prefeitura de Porto Alegre já havia se vinculado ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Fogaça venceu as eleições para prefeito em 2004 e foi reeleito em 2008, sob promessa de manter o Orçamento Participativo. Durante sua gestão, o OP adquiriu uma nova representatividade para o Governo. Houve a criação de novos programas de participação popular, como a Governança Solidária Local, e observou-se uma diminuição no cumprimento das demandas definidas pela população nas reuniões do OP. Apesar disso, há um crescente número de participantes nas assembléias populares, o que demonstra a importância que a população dá ao Orçamento Participativo e o quanto ele representa como veículo de participação social na construção da consciência cidadã. Este trabalho debateu as principais mudanças do OP ocorridas a partir da nova gestão Fogaça. Fez-se um resgate de como foram as eleições de 2004 e 2008, e como a manutenção do projeto do OP foi determinante para a campanha do atual prefeito. Além disso, procuramos demonstrar a identificação que a população porto alegrense estabeleceu com o Orçamento Participativo, dando-lhe grande importância, devido a maior possibilidade de atendimento de suas necessidades.

Murilo Esteves Junior (Cesat/GEN/FML) 1984 – Uma crítica às sociedades de controle Gilles Deleuze propôs em seu post-scriptum sobre as sociedades de controle uma mudança na tecnologia de poder, que deixa de ser disciplinar para tornar-se controladora dos fluxos. George Orwell em sua obra 1984 foi capaz de perceber essa sociedade de controle que se parece em muitos aspectos com as sociedades e cidades contemporâneas onde vivemos. O BBB não é apenas na televisão, é nossa vida monitorada 24 horas por dia graças a mecanismos de controle como: câmeras de segurança, telefones celulares, internet e outras tecnologias.

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Nara Maria Carlos de Santana (Cefet/Petrópolis) O Rio de Janeiro como lócus do poder: Nacionalismo, identidade e conflito na Capital Federal Durante grande parte da República o Rio de Janeiro foi o lócus privilegiado das decisões políticas. Com a Revolução de 30 grandes alterações na vida política e social do país ocorreram com a chegada de Getúlio Vargas ao poder e marcaram o cotidiano da cidade. Neste trabalho pretendo discutir o estabelecimento de alguns partidos políticos no Brasil com sede no Rio de Janeiro e a importância destes núcleos como aglutinadores dos afiliados por todo o país. Mais que isso, discutirei o papel da Polícia Política no controle e repressão as atividades consideradas “alienígenas” e a importância central do Deops fluminense na efetivação do Projeto Nacional varguista pelo país. Durante os anos 30, o avanço de várias ideologias e de partidos políticos diferentes transformou o cenário político nacional, dinamizando as relações sociais no país e tornando-se um empecilho ao projeto nacionalista brasileiro. Dentre as ideologias dominantes as preocupadas com a unificação, “uniformização” ou simplesmente a manutenção de uma determinada cultura ou fidelidade a uma determinada Nação promoveram um intenso debate étnico/racial no país. Neste trabalho, enfocaremos especificamente a repressão a estes partidos no Brasil, o conflito existente mediante a necessidade de conformação de uma identidade nacional. Para finalizar, a proposta deste trabalho é discutir o papel da cidade do Rio de Janeiro como lugar privilegiado de embate entre a proposta nacional de Getúlio Vargas e as demais propostas nos anos 30 e 40.

Natalia Reis (UFF) O discurso neo-integralista: Ideologia e memória Este trabalho aborda o neo-integralismo, movimento que abarca os atuais seguidores da doutrina integralista preconizada por Plínio Salgado e demais líderes na década de 30, no Brasil. Os membros deste movimento tentam reativar as idéias, concepções de mundo e de organização da sociedade e do Estado do antigo movimento integralista, enfatizando a hierarquia, a desigualdade e os preconceitos raciais e sociais, amparados nos valores morais e cristãos. Nos textos neo-integralistas, é visível a reedição das antigas propostas e posturas defendidas na década de 30, como a democracia orgânica (concepção de Estado orgânico), o anti-imperialismo, o anticomunismo e o nacionalismo exacerbado, bem como o anti-semitismo e a crítica ao sistema político liberal. O racismo neo-integralista é herdeiro da ideologia racista do integralismo dos anos 30, cujos princípios o atual movimento procura resgatar em seus discursos. O conceito de nação, nos discursos do movimento, exprime, entre outras coisas, a idéia de uma sociedade homogênea, do ponto de vista cultural e racial.

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Natalia Azevedo Crivello (UERJ) Os laranjais da cidade de Nova Iguaçu: Testemunhos fotográficos de uma transformação urbana (1930-1940) O tema que propomos pesquisar objetiva analisar as transformações sociais e econômicas ocorridas no município fluminense de Nova Iguassú entre as décadas de 1930 e 1940. A forte produção da laranja da região a tornou em principal fornecedor do produto à Argentina e Europa, fato esse abrandado com a crise de 1929 e interrompido com o início da Segunda Guerra Mundial. Esta interrupção acentuou o destino — observado anterior a 1930 — dos recursos originários “da laranja”; para investir na região com objetivo de transformar o grande celeiro rural em espaço urbano, necessitavam-se encontrar alternativas que viessem substituir, com as devidas proporções, os retornos financeiros que se escassearam ao início da Segunda Guerra. A pesquisa, quanto aos desdobramentos que se observam em Nova Iguassú, pode ser testemunhada a partir das inúmeras fontes fotográficas que nos revelam as mudanças ocasionadas no município citricultor no período analisado: transformações urbanas, em decorrência do investimento das finanças geradas pela citricultura; transformações sociais e de costumes, que no período vinham contagiando todo o país. Nesta pesquisa a fotografia se insere auxiliando no processo de reconstrução de memórias e identidades. Na condição de reveladora implícita de fatos não ditos, ela nos desafia a desvendar algumas vicissitudes do cotidiano da cidade, bem como manipulações ideológicas que passariam despercebidas por olhares leigos.

Nathália Queiroz Mariano Cruz (UFG) Preceitos dignificadores do homem Judeu sob a ótica da Tradição e da Sabedoria As esferas sagradas do judaismo, alicerçadas em suas normatizações dos códigos legislativos e na tradição, resultam por determinar os valores e modos de conduta ideais de um judeu praticante. Com o passar dos anos a Tradição, tal qual entendida dentro das concepções hebraicas, reforça seu papel legitimador na busca pela dignificação tanto no âmbito social quanto no espiritual. Por meio desta perspectiva, buscaremos analisar neste trabalho a relação que se estabelece entre a construção dos valores tradicionais judaicos, com os princípios de Sabedoria e de Sábio preditos em suas literaturas.

Neuza Brito de Arêa Leão Melo (UFPI) Michel Foucault e a arquitetura das residências ecléticas de Parnaíba: Um novo caminho para a história O presente artigo procura analisar como a arquitetura das residências ecléticas construídas na primeira metade do século XX no sítio histórico de Parnaíba, importante cidade ao norte do Piauí, e

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os pensamentos do filósofo Michel Foucault se relacionam e contribuem para desvendar a história local. Trata-se de um rico patrimônio arquitetônico, cujas casas se destacam não só por aspectos estéticos, mas também por sua organização e representação. Busca-se ressaltar a importância da residência para a burguesia, sua organização, significados e objetivos, bem como as influências nessas construções, que variam desde as históricas e culturais, até as relações de poder tão discutidas por Foucault. A partir deste estudo e salientando que as fontes arquitetônicas são excelentes campos de pesquisa, inicia-se um novo caminho rumo à história de Parnaíba.

Norma Musco Mendes (UFRJ) A região sul da Lusitânia: Uma percepção arqueológica da mudança do espaço urbano Nesta conferência, temos por objetivo apresentar alguns resultados parciais obtidos com o projeto que ora executamos por meio da concessão de bolsa produtividade do CNPq. Trata-se de demonstrar a importância das informações provenientes da cultura material para a análise das mudanças na paisagem da região do Algarve, na província da Lusitânia, sob o domínio romano que, em conjunto com os dados extraídos da documentação textual, nos possibilitam um melhor entendimento do processo de Romanização na referida região, com destaque para a construção do espaço urbano.

Pâmella Passos Deusdará (IFRJ/UFF) Lan house pra quê? Debates entre o consumo e as apropriações tecnológicas Imersos num mundo no qual a tecnologia em rede se expande cada vez mais, possibilitando o deslocamento virtual entre longas distâncias, cabe pensar que rupturas e continuidades com uma sociedade desigual e excludente, essa nova realidade pode proporcionar. Assim, debruçaremos-nos sobre o espaço da LAN House, buscando analisar sua realidade cotidiana e seu potencial sócio-educativo em vigor ou reprimido. Partimos do principio de que significativa parcela da juventude popular carioca freqüenta tais, imprimindo nesses locais, um caráter de sociabilidade. Nas Lan Houses, os jovens entram em contato recorrentemente com a internet, no entanto, suas incursões na rede quase sempre se limitam a alguns sites, em geral de jogos, músicas, vídeos e relacionamentos. Percebemos com isto uma exploração restrita das capacidades da rede, através da qual os efeitos do avanço tecnológico e da globalização servem quase que exclusivamente para a reprodução do consumo e da alienação. Vislumbramos analisar a LAN House como um local de produção cultural e educacional, buscando identificar suas potencialidades para o cotidiano desta juventude que se encontra a margem da sociedade. Nosso estudo delimita-se em LAN Houses localizadas em comunidades populares, pois acreditamos que por atender a um público que em geral não possui computador e/ou internet em sua residência, a

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LAN House, assume outras especificidades. Como referencial teórico, recorremos às reflexões de Benjamin (1994) e Martín-Barbero (2006) acerca da indústria cultural e dos usos dos meios e suas mediações. De tal debate emergem questões acerca dos mitos da globalização e do ideário de progresso, refletido relações de poder cotidianas.

Patrícia M. S. Merlo (UVV) Algumas histórias: A demografia escrava em grandes plantéis No Espírito Santo a população cativa reproduzia-se majoritariamente por meio do nascimento e o tráfico escravo fornecia elementos suplementarmente, inclusive obedecendo à própria lógica de crescimento endógeno. Sabe-se que historiadores como Caio Prado registram esses eventos para o Brasil apenas a partir do fim do tráfico, desprezando as possibilidades de crescimento da população cativa por nascimento antes desse evento. Mais recentemente, Manolo Florentino e Cacilda Machado acusam raciocínios dessa natureza como meramente dedutivos, levantando a importância da ocorrência de famílias muito antes do fim do tráfico de almas. Diante dos dados coligidos para nossa tese sobre a demografia escrava ao longo do Oitocentos no Espírito Santo, possível foi por à prova os argumentos que desacreditam a importância da família como elemento estrutural da escravidão brasileira. Acreditamos que, ao tratar do cativeiro em Vitória, nos deparamos com escravarias afastadas há algum tempo do mercado de cativos. De maneira geral, os dados encontrados apontam para elevadas taxas de dependência, equilíbrio sexual, altos índices de recém-nascidos e grande incidência de famílias escravas. A partir de alguns estudos de caso por nós detalhados buscamos exemplificar tal cenário.

Patrícia Vargas Lopes de Araújo (UFV) Uma cidade em cena: Campanha/Minas Gerais (1850-1950) A Vila de Campanha da Princesa, posteriormente simplesmente Campanha (elevada à cidade em 1840), situada na Capitania e, posteriormente, Província de Minas Gerais, constituiu-se entre finais do século XVIII e todo o século XIX uma localidade com significativa repercussão política e econômica, não apenas local, mas também provincial e interprovincial. Mantendo sua elite ativa e em constante relacionamento com as esferas de governo central, bem como participando das decisões que afetavam a sociedade brasileira, Campanha destacou-se no cenário mineiro. A partir de finais do século XIX, as autoridades da cidade de Campanha empreendem esforços sistemáticos quanto à idéia de proporcionarem melhoramentos à cidade e de se equipararem às modernas cidades européias e para tal feito, com a perspectiva de se adaptarem a estas novas perspectivas, remodelaram, demoliram, introduziram novos materiais construtivos, cuidaram dos jardins e da paisagem citadina, preocuparam-se com questões sanitárias e de higiene, introduziram novos modelos culturais. É esse

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movimento que nos propomos analisar, procurando detectar as mudanças ocorridas, as permanências, os confrontos e a construção de uma nova percepção e de um imaginário sobre o espaço urbano, bem como a elaboração de novas representações acerca do viver urbano, ou seja, os novos hábitos difundidos (ou não) pelas pessoas que habitavam essa cidade no interior de Minas Gerais. Que experiências são traçadas neste momento? Que possibilidades afloram? Que transformações ocorrem na cidade, tanto do ponto de vista urbanístico quanto da urbanidade?

Paulo César Garcez Marins (USP) Entre o espaço traçado do rei e o espaço fortuito dos súditos: Desafios interpretativos na reflexão relativa às experiências urbanas da América Portuguesa A publicação de Raízes do Brasil, ensaio clássico de Sérgio Buarque de Holanda, instaurou o início de uma reflexão sobre a especificidade da experiência da urbanização de populações na América Portuguesa. A ênfase ao improviso dos traçados como padrão recorrente das povoações constitui-se ainda hoje como um balizamento e desafio às gerações de pesquisadores de diversas disciplinas que atentaram para as múltiplas experiências de configuração material de vilas e cidades no Brasil. A conferência irá apontar as principais vertentes interpretativas desta trajetória de urbanização, que oscilou entre o caráter marcantemente improvisado pelos súditos e o esforço da Coroa portuguesa em explicitar seu poder mesmo na forma urbana, atentando para a necessidade de superação de certos impasses por meio de novas abordagens metodológicas.

Paulo Henrique Fontes Cadena (UFPE) Às vésperas da eleição: A disputa política pela Regência expressa nas páginas do “Diário de Pernambuco” Muitas são as discussões sobre os problemas políticos no Brasil Imperial. No entanto, sobre as eleições de 1838 e o Período Regencial, as pesquisas são relativamente escassas. Este trabalho trata da última eleição para Regente do Império, particularmente em Pernambuco, ocorrida aos 22 de abril de 1838. Disputada por diversos candidatos e de forma mais acirrada pelos pernambucanos Pedro de Araújo Lima e Antonio Francisco de Paula e Holanda Cavalcanti de Albuquerque, a vitória local foi do segundo e a nacional do primeiro. Observaremos as discussões existentes no Diário de Pernambuco, travadas poucos dias antes do pleito. Os textos trazem atributos aos dois candidatos, traçando o perfil de cada um sob o olhar dos redatores, sendo difamatório ou bajulador. Cartas assinadas por pseudônimo são publicadas, trocando acusações sobre os adversários e com pedidos de defesa. São as disputas neste periódico que nos levarão a perceber a divisão na aliança conservadora formada em Pernambuco a partir de 1837 como “um acidente local e passageiro”, da forma afirmada por Joaquim Nabuco.

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Paulo Henrique Silva Pacheco (UERJ) A cerca, um limite corrompido: Um estudo sobre a reestruturação do espaço monástico beneditino no Rio de Janeiro Quando não pela urgência de ordem sanitária, mas em função do embelezamento urbano, a cidade do Rio de Janeiro, nunca esteve livre das obras promovidas pelo poder público. Ruas com no máximo 60 palmos de largura, precária rede de esgoto, quando existente, e uma iluminação insuficiente marcaram as áreas de maior trânsito e moradia no período colonial. Novas propostas urbanísticas, ocorridas com maior freqüência a partir de meados do século XVIII, caracterizaram o espaço urbano dessa época como sendo “velho”. A reestruturação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro logo interferiu no espaço monástico dos beneditinos. Nessa perspectiva, esse trabalho analisa o cotidiano dos monges do Mosteiro de São Bento em função da cerca, uma definição física do espaço que possibilitava ao religioso o recolhido e a separação do mundo secular da urbe, tomado aqui como profano. Caberá pensar, quais os elementos, além do desenvolvimento da cidade, que contribuíram para a dinâmica desse espaço monástico, interferindo na limitação existente, e como seus integrantes se adaptaram a isso. Como indicadores, tem-se em vista a necessidade de controle da população e da urbe e a instalação do Arsenal da Marinha. Questões que transpuseram os limites existentes entre o sagrado e o profano, o Mosteiro de São Bento e a Cidade do Rio de Janeiro.

Paulo Roberto Gomes Seda (UERJ) Espaços urbanos e formação de identidades na cidade do México (1519-1564) O processo de urbanização — passagem de sociedades camponesas a sociedades urbanas — é um dos eventos mais significativos no desenvolvimento da humanidade, relacionando-se a questões como o surgimento do estado, da sociedade de classes, da agricultura intensiva, centralização do poder e ao próprio conceito de civilização. Tal evento, por sua importância e conseqüências, leva Gordon Childe a chamá-lo de “Revolução Urbana”. A América Antiga não ficou a parte dos fenômenos que levaram ao surgimento das primeiras sociedades urbanas, muito pelo contrário, inúmeras cidades desenvolveram-se na Mesoamérica e na Área Andina. Pretendemos discutir os fatores que teriam levado ao surgimento e desenvolvimento das sociedades urbanas na América, analisando o processo cultural por que passaram, enfocando, principalmente, o México.

Pedro Ernestro Fagundes (Centro Uniersitário São Camilo) A “Carta dos Cem”: Ato de refundação do Partido Comunista do Brasil Fundado em 25 de março de 1922, o Partido Comunista do Brasil (PCB) esteve na vanguarda das manifestações políticas mais destacadas entre as décadas de 1920 e 1960. Contudo, em seu

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percurso histórico essa organização partidária colecionou uma série de conflitos internos, entre eles o mais grava foi a saída das fileiras partidárias de militantes históricos, entre eles João Amazonas, Pedro Pomar e Mauricio Grabois. Em 1962, ocorreu o lançamento da chamada “carta dos cem”, a publicação de tal documento marcou a primeira grande ruptura na unidade dos comunistas brasileiros e a refundação do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Utilizaremos como artefato histórico para a análise desse acontecimento o depoimento de um ex-dirigente comunista signatário da chamada “carta dos cem”. Entendemos que a História Oral é uma importante ferramenta no resgate da memória do movimento comunista brasileiro.

Pedro Paulo A. Funari (Unicamp) Pompeia: Quotidiano urbano à luz das discussões epistemológicas recentes O estudo da antiguidade insere-se nas discussões epistemológicas recentes. De início, apresentam-se os debates, nos últimos quarenta anos, com destaque para os modelos normativos e as críticas, a partir da valorização da diversidade social e cultural. Em seguida, apresentam-se as evidências materiais de Pompeia: inscrições, pinturas, artefatos. Conclui-se com a valorização das interpretações pluralistas do passado.

Penha Mara Fernandes Nader (Ufes) A sutileza da discriminação de gênero na nomenclatura dos logradouros públicos. Vitória (ES). 1970-2000 Este trabalho revela o caráter sutil da discriminação de gênero na nomenclatura dos logradouros públicos do município de Vitória (ES) na medida em que os nomes escolhidos pelo poder público para denominá-los são, predominantemente, de homens. A pesquisa comprovou que após o Movimento Feminista, embora tenha dobrado o número de nomes de logradouros com nomes de mulheres, mantém-se a superioridade masculina no que diz respeito ao porte e importância desses perante a população. Isto é, há de fato uma sub-representação feminina nos logradouros cujos endereços possuem mais valor no mercado imobiliário, como as avenidas e ruas mais valorizadas e prestigiadas da cidade. Nem sempre o Poder Público Municipal considera a devida parcimônia entre nomes de homens e mulheres na hora de escolher quem receberá o tributo. A subestimação com a qual se trata este tema explica-se pela ausência de uma cultura valorizativa da memória, de preservação da identidade e da história de uma cidade que logo vai completar cinco séculos. A precária coleção de nomes de mulheres nos logradouros não afeta somente uma compreensão deturpada sobre o caminho percorrido pelos capixabas para erguer a capital com todas as suas qualidades, mas também constrói uma imagem inapropriada para as futuras gerações e da importância do papel que as mulheres exerceram nesse processo. A

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superação dessa discriminação poderia se dar com uma emenda à legislação pertinente que se traduza num dispositivo legal afirmativo dos direitos femininos em Vitória.

Philipi Gomes Alves Pinheiro (Ufes) Uma questão de honra: Defloramentos na Comarca de Vitória/ES (1850/1871) Ao longo do século XIX, no ambiente provinciano da Comarca de Vitória, muitas mulheres tornavam-se alvo de inquirição policial e instauração de processo judicial. A análise dos episódios delituosos de defloramento, entre os anos de 1850 a 1871, pretende discutir de que modo esse tipo de crime era interpretado cotidianamente na sociedade capixaba e quais os discursos das autoridades judiciais debatidos durante o trâmite processual. Outro importante dado a ser evidenciado nesta comunicação diz respeito às motivações que deram lugar à prática do defloramento.

Priscila da Costa Pinheiro (UFJF) O associativismo na Corte: Algumas considerações sobre as “sociedades” e a legislação imperial (1860-1882) Ao longo da segunda metade do século XIX, no Rio de Janeiro, observou-se a existência de um número significativo de agrupamentos sociais distribuídos em diferentes tipos de associações. Destarte, o presente trabalho tem como objetivo pensar o associativismo no Brasil entre os anos de 1860-1882, período no qual percebeu-se significativa preocupação do Estado com a regulamentação legal das associações através da submissão de seus estatutos à avaliação do Conselho de Estado. Numa sociedade desorganizada, o fenômeno associativo parece ter funcionado como mecanismo de coesão social, pois resultou de escolhas estratégicas de diferentes atores sociais, e seu estudo é relevante não apenas no que tange à sociedade civil, mas também à relação e à ação do Estado em meio a um contexto de profundas transformações no cenário brasileiro. Diante disto, desejamos suscitar algumas reflexões sobre a legislação imperial relativa às “sociedades” e sobre a origem da documentação relacionada ao fenômeno associativo na Corte da segunda metade do século XIX, depositada no Arquivo Nacional.

Priscila Santos da Glória (UNEB) O espaço urbano em Itabuna-BA: Tensões entre o Poder Público e os migrantes na década de 1980 Reclamava o Diário de Itabuna em 1981: “loucos e mendigos infestam a cidade de Itabuna (...) mulheres acompanhadas de dezenas de crianças tomaram a cidade de assalto em busca de esmolas”. Estas eram

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representações recorrentes nos periódicos acerca dos migrantes que chegaram a Itabuna na década de 1980. Dessa forma a imprensa cobrava ao poder público soluções para este “incômodo”, o poder municipal por sua vez “solucionou” através da desapropriação de uma fazenda improdutiva, deslocando os migrantes para este espaço, o qual não apresentava nenhuma infra-estrutura, assim se constituiu o bairro Maria Pinheiro. Esta comunicação busca problematizar as tensões entre o poder público e os migrantes “expulsos” das fazendas de cacau devido a crise cacaueira, os quais visualizaram na cidade de Itabuna, no sul da Bahia, uma oportunidade de trabalho e melhores condições de vida. Relacionar os estereótipos acima citados com a constituição e a marginalização do bairro Maria Pinheiro, e discutir as estratégias dos migrantes frentes as políticas públicas são também objetivos deste trabalho.

Priscilla Dantas Delphino (UFSJ) A construção sócio-histórica do “Patrimônio Histórico”: Um estudo comparativo de jornais sanjoanenses da década de 1960 e da contemporaneidade Este estudo é fruto da pesquisa “Os jornais, o discurso, a cidade e a não-cidade. Representações de São João del-Rei na imprensa local”, produzida, entre os anos de 2007 e 2008, no âmbito do Programa Institucional de Iniciação Científica da Universidade Federal de São João del-Rei (PIIC-UFSJ). Tal pesquisa integra-se a trabalhos desenvolvidos pelo Núcleo de Investigações em Justiça Ambiental (NINJA), da UFSJ, que se ocupa da investigação das desigualdades sócio-ambientais em São João del-Rei e entorno. A leitura dos atuais periódicos do município possibilitou-nos detectar a proeminência da temática relacionada à salvaguarda do “patrimônio” local, o que oculta a exposição de problemas sócio-ambientais da cidade. Esse quadro de injustiça é conseqüência de longo processo sócio-histórico, de forma que a análise de períodos distintos explicita o papel dos veículos de comunicação sanjoanenses em velar as mazelas sofridas pela população local. Nosso intuito é averiguar as mudanças concernentes ao discurso sobre o “patrimônio” nos anos de 1960, sobretudo na vigência da ditadura militar, em contraposição aos anos de 2004 a 2008, em que pululam reverências à preservação do patrimônio, no contexto do neoliberalismo. A pesquisa procura detectar as formas pelas quais os discursos de defesa do “patrimônio”, em períodos distintos, colaboraram na perpetuação de problemas urbanos de grande envergadura. Analisamos, de um lado, os discursos presentes nos jornais examinados durante a Iniciação Científica, referentes ao período 2004-2008, e, de outro lado, os discursos dos periódicos locais A Comunidade, O Correio e Diário do Comércio publicados entre os anos de 1960 e 1970.

Poliane da Paixão Gonçalves Pinto (UFG) O herói e a “polis”: Uma análise da imagem de Héracles no contexto da polis grega A Atenas do V século passa por um momento bastante conturbado, pois no mesmo período em que realiza a sua estruturação política democrática, se envolve também na Guerra do

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Peloponeso. Neste contexto de profundas transformações teremos as tragédias, das quais analisaremos como o tragediógrafo Eurípides tratou da relação da polis com o heroísmo, a partir da representação de Héracles.

Pompéia Genaio (UERJ) Disputa e construção de projetos hegemônicos na Nova República Fatores internos e externos contribuíram para a crise política e econômica nos anos de 1980. Por um lado, o êxito econômico verso o fracasso no plano social da década de 1970, passou a ser identificada como um dos componentes básicos da crise brasileira. A expectativa em torno da Nova República era grande, esperava-se a construção da ordem democrática, com a implementação das reformas políticas necessárias e uma redefinição do modelo econômico que considerasse o resgate da dívida social. Por outro lado, o Brasil e a América Latina, de modo geral, foram marcados pela estagnação do crescimento econômico, fazendo com que a maioria dos países revissem suas políticas econômicas e sociais. O modelo econômico, baseado na substituição de importação, praticado desde os anos 30, mostrava sinais de esgotamento. Assim, essa crise suscitou disputas entre as frações da classe dominante nacional ao redor de um novo projeto hegemônico. Já nessa década, podemos visualizar a construção do projeto que se tornou hegemônico no decorrer da década de 1990. O objetivo deste trabalho é analisar a construção desse projeto hegemônico através do estudo dos seus principais intelectuais e fundadores do partido da social democracia brasileira.

Rafael Damaceno Dias (UFPR) Da paz que um dia, não mais teremos: Conflitos socioculturais em Florianópolis a partir das colunas sociais (1970–1990) Durante as décadas de 1970 e 1980 a cidade de Florianópolis vivenciou uma série de transformações urbanas e demográficas que alteraram profundamente os perfis identitários ali existentes. Dentre elas se destaca aquelas relacionadas com a presença de turistas e de contingente migratório o que ocasionou a emergência de um conjunto de conflitos socioculturais com a população residente na cidade. Isto fez com que uma parcela de moradores sentisse a necessidade de tentar interpretar quais seriam os efeitos das transformações em curso. Esse texto pretende articular algumas interpretações sobre essa tentativa a partir das colunas jornalísticas escritas por um colunista de Florianópolis e publicadas no mais importante jornal de Santa Catarina no período.

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Rafael Hygino Meggiolaro (Ufes) A cidade de Bracara Augusta como cenário de encontro entre romanos e germânicos Neste trabalho vamos abordar a consolidação de um núcleo urbano latinizado em uma província distante de Roma, no contexto da conversão ao Cristianismo e a desarticulação do controle imperial. Por sai própria natureza, a dominação romana se baseava em centros urbanizados. Desde o período republicano, os romanos expandiram o Império a partir da conquista de outras cidades, a exemplo da poderosa Cartago. Em locais como o Noroeste da Península Ibérica, em que as populações não estavam concentradas em cidades, a dominação romana significou a fundação de novas urbes ou a ampliação dos assentamentos existentes, com a conseqüente formação de uma elite local pró-romana. A cidade de Bracara Augusta foi um desses centros, procuraremos discutir este cenário de interação política entre romanos e germânicos.

Rafael Lima Alves de Souza (PUC-RJ) O fim da cidade e a cidade dos fins: O Rio de Janeiro sob o olhar da “comissão do Plano da Cidade” Criada no início da década de 30 para analisar aquilo que teria sido o primeiro planejamento urbano elaborado segundo os preceitos do urbanismo, o Plano Agache, a Comissão do Plano da Cidade atuou apenas alguns anos depois, nas reformas urbanas levadas a cabo pela administração do prefeito e interventor Henrique Dodsworth no período que coincide com o Estado Novo. Entre seus principais objetivos, estava o de dar à cidade uma fisionomia definitiva do ponto de vista qualitativo, eliminando sua historicidade. O presente trabalho pretende analisar a noção de urbanismo que permeava o pensamento dos técnicos da prefeitura para discutir até que ponto esse discurso, que se auto-intitulava legítimo e científico, representou uma novidade nas intervenções urbanas no Rio de Janeiro.

Rafaela Domingos Lago (Ufes) Estratégias sociais: Escravos, libertos e livres na composição das famílias capixabas (1831-1850) Pesquisas recentes no Espírito Santo comprovam o que já vem sendo amplamente discutido pela historiografia da escravidão na região Sudeste — a existência de relações familiares consangüíneas e por afinidade como fatores constitutivos da vida cotidiana dos cativos. Acreditando serem as alianças formalizadas na pia batismal pelas famílias envolvendo cativos, uma das principais estratégias utilizadas por esses agentes para se movimentar entre o universo cativo e livre e como forma de sedimentar relações de solidariedade, procedemos ao levantamento

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de registros paroquiais de batismo da Catedral de Vitória da primeira metade do século XIX. Tais registros indicam, em geral, além das escolhas por apadrinhamento, os limites verticais máximos da família, englobando um conjunto de três gerações ligadas por laços consangüíneos. Numa análise minuciosa de tais fontes, chega-se aos limites horizontais como a incorporação de primos ao sentimento de pertencer à família escrava. A redução na escala de análise e os estudos de caso como foco deste trabalho permitem, ao recompor parte da trajetória de construção das famílias, melhor compreender as estratégias que transparecem nas escolhas matrimoniais e de apadrinhamento. Portanto, a partir do cotidiano das relações familiares torna-se possível observar aspectos relevantes da lógica social dos grupos compostos por escravos na Freguesia de Vitória, na primeira metade do Dezenove.

Rafaela Duarte (UFSC) “Diretas Já” em Santa Catarina: Manifestações políticas e culturais do movimento através de periódicos catarinenses O ano de 1984 reabre caminho para uma nova democracia no Brasil. A campanha pelo retorno nas eleições diretas para presidente no país, conhecida como Diretas Já, foi um importante movimento político, social e cultural para a história brasileira, que marca a tentativa de redemocratização eleitoral, vinte anos após o golpe militar de 1964. O envolvimento dos brasileiros foi registrado pela imprensa de todo o país e em Santa Catarina foi enfatizado por periódicos de grande circulação, entre eles o jornal O Estado, O Jornal de Santa Catarina e A Notícia. Além da adesão da imprensa como estratégia para a campanha, salienta-se também o decisivo papel da sociedade civil como peça fundamental para o desencadeamento das Diretas Já. Com ênfase nas manifestações políticas e culturais desencadeadas em Santa Catarina, busco compreender o envolvimento da população apresentando as variadas formas de manifestação favoráveis à campanha, onde diferentes atores sociais voltam a ter vez e voz, explorando novos espaços de luta, expressando seus anseios e demonstrando a vontade popular naquele momento, ou seja, exigir seu direito ao voto e a democracia.

Raimundo Cesar Mattos (UERJ/USS) & Antonio Carlo da Silva (UERJ/USS) A cidade e seus espaços de poder: O caso de Valença no Vale do Paraíba Fluminense no século XIX As cidades são locais onde surgem espaços de poder e de sociabilidade, locais onde as pessoas exercem e fazem notar o seu poder, não apenas os tradicionais, como Câmaras, mas também as irmandades, associações de diversos gêneros e outras. O caso de Valença, cidade do Vale do Paraíba Fluminense no século XIX é ilustrativo de tal fato. Com uma grande produção cafeeira,

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a aristocracia não se mantinha apenas no espaço rural, mas trazia para o meio urbano as suas representações mediante o próprio traçado urbanístico e as construções típicas que erigiam. Tornou-se, por conseguinte, um local preferencial onde se firmava a imagem e a auto-imagem desta aristocracia que, mesmo na construção das sedes das fazendas, seguiam modelos urbanos em suas casas, tornando-se estas também um espaço onde o poder era exercido e manifestado. O que se propõe aqui é exatamente analisar tais espaços e descrever como eles se formavam, como se estruturavam e como serviam para demonstrar o poder daqueles que com eles se identificavam, na construção de uma imagem perante a sociedade e até mesmo de uma auto-imagem.

Raphael Leite Teixeira (Ufes) A concepção da “Civitas” no “Epitoma Rei Militaris” de Flávio Vegécio Renato (século IV d.C.) Enquanto o Império Romano tentava se recuperar das derrotas sofridas pelo seu exército na campanha da Pérsia (363) e na batalha de Adrianópolis (378), um alto funcionário da corte imperial — Públio Flávio Vegécio Renato — foi incumbido de redigir um tratado militar que ele intitulou Epitoma rei militaris. Trata-se de um importante testemunho sobre diversos aspectos da guerra romana que vão desde a seleção, o adestramento e a disciplina dos recrutas, até a poliorcética e a guerra naval. Como ele mesmo definiu, seu trabalho consistiu mais em uma compilação fiel de textos militares clássicos do que em uma pesquisa original. Assim, sua concepção de civitas — cidade — refletiu muito dos conceitos, preconceitos e paradoxos dos autores latinos que lhe precederam. O presente trabalho analisa o conflito da tradição concernente à civitas na fonte supracitada, com ênfase para os indícios sobre a difícil situação político-militar do Império no fim do século IV d.C.

Reinaldo Azevedo Schiavo (UFOP) Entre o rural e o urbano: Dilemas e desafios contemporâneos de uma pastoral missionária redentorista A Congregação do Santíssimo Redentor é um instituto religioso que nasceu no século XVIII com a finalidade de evangelizar os pobres e desprovidos da ‘palavra de Deus, principalmente aqueles viventes nos espaços mais inóspitos e bucólicos. A pastoral missionária é a principal característica dos confrades redentoristas, que chegaram ao Brasil no final do período novecentista e obtiveram êxito significativo em sua obra de evangelização nesse país. Contudo, um dos principais desafios dos redentoristas tem sido a adaptação de sua pastoral missionária à realidade cotidiana dos fiéis católicos nos centros urbanos. As diferentes configurações das relações sociais (e religiosas) vivenciadas e desencadeadas por citadinos e campesinos exigem, consequentemente,

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métodos específicos de evangelização nas cidades e nos campos. Desta forma, essa comunicação pretende analisar os dilemas e desafios enfrentados pelos redentoristas para a adaptação de sua pastoral missionária à realidade das cidades, atentando comparativamente para as diferenças e semelhanças entre as ‘missões rurais’ e as ‘missões urbanas’.

Renan Saab Rodrigues Manaia (UEL) Ville Fraternelle: Pouvoir, la discipline et de contrôle sur le secteur de la prostitution de la ville d’Assis, SP, entre les années 1930 à 1945 La ville d’Assis est connu à l’intérieur de São Paulo, comme la ville fraternelle. Ce titre est sur son ouverture et de fraternité avec ceux qui passaient par là et avoir sa résidence. Mais pour l’amener à retracer leur origine à la ville devait changer, la discipline et le contrôle de certains secteurs qui ne sont pas apporté avec eux l’idée. La zone la plus touchée est la zone de la prostitution, où circulent des putains, des suspects, à savoir, tous les agents qui ne correspondent pas à l’idée de la fraternité créée par la ville. Montrez-le à travers les procédures pénales concernant le domaine de la prostitution durant la période 1930 à 1945, qui couvre l’époque de l’urbanisation et la modernisation de la ville.

Renata Franco Saavedra (Unirio) “Estes boatos não tem o menor fundamento, são partos de imaginações esquentadas, ou de refinada maldade”: Política e circulação de idéias no Brasil do Segundo Reinado Este trabalho parte da revolta popular chamada de Guerra dos Marimbondos, centrada em Pernambuco de 1852, para pensar a dimensão política do boato no oitocentos brasileiro. No dito episódio, os revoltosos se levantaram contra a aplicação do recenseamento geral do Império e do registro civil da população, pautando-se pelo boato de que tais medidas seriam apenas um pretexto do governo, cujo real objetivo seria a escravização dos homens livres pobres. Defendo a historicização do boato, para que seja possível escrutinar a dimensão histórico-cultural do mesmo e identificar o que Margarita Zires chama de diferentes regimes de verossimilhança. O rumor é um exercício, uma construção coletiva em que se põem em jogo as pautas culturais, e devemos investigar seus sentidos e plausibilidades para os que o anunciam e para os que o ouvem. O boato dos marimbondos veicula uma visão de mundo dos sublevados, constrói e reforça o grupo que o emite e propaga, expressa uma forma de resistência cotidiana e dialoga diretamente com as relações de poder que tecem a sociedade oitocentista — suas hierarquias, hegemonias, trocas simbólicas e concomitantemente materiais.

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Ricardo Alexandre Ferreira (Unicentro/PR) Repositórios de homens perigosos: A construção de cidades mal afamadas nos sertões do Brasil Imperial Muito familiar à historiografia brasileira, o naturalista francês Augustin François César Prouvençal de Saint-Hilaire (1779-1853) permaneceu no Brasil entre os anos de 1816 e 1822. Em suas viagens pelas províncias do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, Saint-Hilaire colheu amostras da fauna, da flora, observou a geografia, nomeou regiões e produziu análises, quase sempre, explicitamente comparativas entre os costumes dos “campônios franceses” e os dos moradores dos sertões brasileiros. Uma questão, em particular, completamente afinada com o pensamento europeu do oitocentos, chama a atenção nas crônicas de viagem de Saint-Hilaire — sua descrição da gênese de cidades criminosas. Vilas conhecidas como “bocas de sertão” que o viajante francês visitou nas fronteiras da Província de Minas Gerais em seu trajeto do Rio de Janeiro até as nascentes do Rio São Francisco e de lá à sede da Província de São Paulo. Cidades que nasceram e permaneceriam, por gerações, como “repositórios de homens perigosos e mal afamados”. Dada a repercussão, por várias décadas após a publicação dos relatos de Saint-Hilaire, nas casas de leis da Corte do Rio de Janeiro e nas crônicas de outros viajantes que transitaram pelas mesmas áreas, a presente comunicação lança mão dos textos produzidos pelo naturalista para compreender e interpretar a construção de cidades mal afamadas nos sertões do Brasil Imperial.

Ricardo Augusto dos Santos (Fiocruz) A eugenia e o paraíso O movimento eugenista brasileiro foi exuberante em nomes, instituições e publicações. Renato Kehl é a figura central para a nossa análise. Mas, não o deixaremos sozinho. Um intelectual carrega idéias, argumentos, dialoga e relaciona-se com outros atores sociais. Sendo assim, para marcar a existência de um Campo Eugênico Brasileiro visitaremos as idéias de outros intelectuais como o sanitarista Belisário Penna e o escritor Monteiro Lobato. Khel fundou associações políticas, organizou congressos e criou periódicos que promoviam as idéias sobre a regeneração racial do país. Uma das marcas do seu discurso era o pessimismo quanto ao futuro da nação. Para ele, a miscigenação conduzia o Brasil para uma catástrofe. Porém, com procedimentos eugênicos, como a educação higiênica, o saneamento e a esterilização, o país poderia regenerar-se. Nossa hipótese central afirma que a existência do campo eugênico possibilitou a constituição de diferentes idéias para a esperada civilização. O eugenismo se constituiu por uma variedade de intelectuais e agências que formularam e tentaram implantar a eugenia no Brasil. Por meio dessa análise, estou criticando uma tendência que constata erros ou ausências, onde, na verdade, existem conexões não compreendidas. Os discursos dos intelectuais não são

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contraditórios. Penso que muitos dos equívocos cometidos por outros pesquisadores, que se aventuraram por essas áreas do pensamento social e político, ocorreram devido aos labirintos criados pelos autores estudados. Assim, leituras que enfatizam demasiadamente distinções — eugenia negativa, positiva ou preventiva —, estão baseadas em conceitos criados pelos próprios objetos de análise. Os agentes sociais e seus respectivos textos são testemunhas. Os discursos tendem a serem mais críveis, e, portanto, fornecem mais dados, tanto quanto nossas perguntas forem mais elaboradas.

Ricardo Mariani (Unirio) O mercador errante, cidadania e suas influências nas liberdades das cidades inglesas medievais Este trabalho pretende elucidar aspectos da pesquisa em andamento “Mercador consuetudinário”: A influência do mercador errante na dinâmica jurídico/institucional inglesa durante os séculos XII–XIV, que trata da transformação do direito inglês através das cartas de liberdade dos burgos e cidades até a consolidação da “common law”. A partir das primeiras cartas a consolidação de uma lei comum pode ser observada através do processo de proliferação de direitos através do reino e o culminar do processo de concessão de cartas de liberdade através da outorgação da Magna Carta. É a partir deste processo que a influência do mercador em algumas cartas específicas passa a influenciar as outorgações gradativamente por toda a Inglaterra evidenciando um direito vivo através do modelo consuetudinário inglês. Utilizando-se da analise de documentos como a Carta de Liberdade de Nottighan, outorgada em 1157. este trabalho, pretende tambem elucidar que, de fato, o início das atividades do mercador errante já fazia com que as cartas trouxessem em seus textos concessões de caráter protecionista quanto à nova atividade mercantil, sem deixar de levar em conta as viscissitudes da “cidadania” medieval e do caráter de proteção de direitos por exclusão de acesso à mesma. Consequentemente excluindo outros do usufruto das outorgações.

Robert Moses Pechman (UFRJ) “Como se fosse um limo”, ou de como o poder se deposita nas pedras da cidade Partindo do princípio que a vida cotidiana não é um resíduo desprezível da realidade social, histórica, política, cultural e que ela é própria da vida social do mundo moderno, podemos concluir que a vida cotidiana tornou-se a mediação fundamental na historicidade da sociedade moderna. Nesse sentido o cotidiano da cidade se transformou num dos lugares de disputa de poder. Certamente que não se trata do poder haurido das disputas políticas dos partidos. Certamente se trata do poder da cidade, do poder urbano. E o que pode no cotidiano de uma cidade o poder

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urbano? O poder urbano é a própria garantia de sobrevivência da cidade, uma vez que é através dele que um pacto urbano se estrutura. Podemos afirmar, portanto, que a possibilidade da cotidianidade é dada porque um invisível poder urbano é a referência inescapável das práticas dos cidadãos. Sendo assim interessa-nos observar como esse poder vai, no cotidiano, através de toda uma “pedagogia”, se depositando, como se fosse um limo, nas pedras da cidade. É dessa operação sutil, dessa necessidade de poder no cotidiano da cidade que se quer falar.

Robson Laverdi (Unioeste) O “mundo gay” na trama citadina interiorana: Interpret(ações) cotidianas Uma maior visibilidade pública, no Brasil, dos processos e lutas de movimentos sociais pela dignificação e afirmação das vivências homossexuais constitui-se, por sua vez, num corpo de imagens de uma realidade em transformação. Muitas vezes, esse plano de constatação da realidade é representado de uma forma quase essencializada por interesses diversos de grupos e meios de comunicação que dele se utilizam na contemporaneidade. Sensivelmente latente nos grandes centros metropolitanos, a experiência social das minorias sexuais assume direções e expectativas específicas na trama citadina interiorana. Inspirando-se nas contribuições teóricas de Raymond Williams, acerca daquilo que nomeou como processo social constitutivo e de estrutura de sentimentos, buscar-se-á nesta comunicação discutir historicamente a trama relacional entre imagens e sentidos intra e extracitadinos tidos como próprios do “mundo gay” e o horizonte das práticas socioculturais de jovens homossexuais que vivem em pequenas e médias cidades do interior, no Oeste do Paraná. Com base em relatos orais de rapazes de 18 a 25 anos, tais interlocuções serão analisadas em suas formulações a partir do campo teórico-metodológico multidisciplinar da História Oral. Parte-se da premissa de que tais fontes se constituem em interpret(ações) trazidas das múltiplas e complexas situações vividas na trama citadina cotidiana, o que as tornam potencialmente ricas para pensar tais questões. Ao propor uma leitura das práticas na trama citadina com base nas relações de alteridade presentes nesse fazer metodológico, interessa-se por driblar os sentidos restritivos à ordem da sexualidade, que nublam o protagonismo desses atores do e no urbano.

Robson Xavier da Costa (UFPB/UFRN) Entre a ponta e o farol: Morfologia e lógica museal no espaço expositivo da Estação Cabo Branco em João Pessoa Este trabalho tem como objetivo investigar a concepção espacial da Estação Cabo Branco: ciência, cultura e arte, da cidade de João Pessoa, Paraíba, Brasil, obra do arquiteto Oscar Niemeyer, construída em 2008; procurando compreender a estrutura espacial, o movimento e a experi-

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mentação dos visitantes no espaço expositivo. O papel da concepção e construção do layout do espaço museal, sua relação com o público e os objetos expostos tem sido tema de inúmeros estudos da análise sintática do espaço e do comportamento ambiental no âmbito da arquitetura a exemplo de Peponis (1989); Choi (1997); Psarra et. al. (2007); Tzorti (2007; 2009). Neste trabalho partiremos do entendimento que o espaço construído é capaz de influenciar a concepção e montagem das exposições e a capacidade de interação do público com o espaço do museu. Pretendemos observar no caso da Estação Cabo Branco se existe correlação entre movimento, co-presença do público, sua integração com o espaço construído e a paisagem a partir do estudo do layout do complexo cultural.

Rodrigo Amaral Leite da Silva (UESC) Meretrizes: A geografia da prostituição no centro de Florianópolis Este trabalho tem como objetivos tratar a evolução da espacialização dos pontos de prostituição distribuídos na cidade de Florianópolis, bem como a evolução dos mesmos, tendo que cada conjuntura de uma época, padrões de moralidade e outros fatores, determinam esta dinâmica de organização do comércio de sexo na capital catarinense. Outro fator que foi destacado neste trabalho foi uma modalidade específica de prostituição, as “Casas de Massagem” que aparecem em grande número nada cidade. Primeiramente foram utilizadas variadas bibliografias (tanto na área da geografia como em outras áreas como a antropologia, sociologia e direito) sobre a prostituição para uma contextualização e análise prévia, e posteriormente efetuada uma pesquisa de campo, com o objetivo de localizar geograficamente as localidades com maior número de estabelecimentos ligados a prostituição e a territorialidade ligada às prostitutas. Como resultado deste trabalho de campo obtivemos um mapeamento — ainda pouco detalhado — sobre as principais áreas com influencia da prostituição na cidade.

Rodrigo Barbosa Assunção (UFSJ) Considerações sobre a Vitória de Belo Horizonte na questão da mudança da capital de Minas Gerais A partir da Proclamação da República — e do realce dos Estados e Capitais, investidos de várias funções —, as discussões em torno da mudança da capital de Minas Gerais são retomadas com grande vigor. Para muitos, Ouro Preto não possuía as condições de desenvolvimento e urbanização condizentes aos ideais republicanos. Na Constituinte de 1891, o Congresso mineiro oficializou a proposta de mudança. Após intensos debates políticos que envolviam interesses de diferentes regiões do Estado, cinco localidades foram previamente selecionadas: Paraúna, Barbacena, Várzea do Marçal, Juiz de Fora e Belo Horizonte. A escolha seria feita levando-se em conta o relatório

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final dos estudos conduzidos por comissão técnica, chefiada pelo engenheiro civil Aarão Reis. Várzea do Marçal e Belo Horizonte foram selecionadas pela comissão. Findados os trabalhos do Congresso mineiro em sessão extraordinária, realizados na cidade de Barbacena em finais de 1893, ficou aprovada a construção da nova capital no arraial de Belo Horizonte. Será considerando este contexto de mudanças políticas, além da configuração econômica mineira, que o presente artigo pretende discutir como a vitória de Belo Horizonte foi construída dentro do Congresso mineiro. Pela análise dos debates políticos e dos jornais da época, é possível perceber o embate de idéias entre “mudancistas” e “antimudancistas”. Neles são expressos os confrontos entre setores progressistas, liberais e conservadores. Ao final, os dois primeiros grupos se conformaram num projeto único representado pelo moderno projeto arquitetônico de Belo Horizonte que, no entanto, se mostrou conservador em sua composição política.

Rodrigo de Almeida Ferreira (Centro Universitário Una-MG) O cotidiano nas vilas mineiras do século XVIII sob o olhar contemporâneo do cinema No presente artigo se propõe reflexões e possibilidades de trabalho a partir da estreita relação entre a história do cotidiano e o cinema. Voltando a atenção para a sociedade mineira setecentista, analisam-se alguns procedimentos administrativos reguladores aplicados com o objetivo de manter a ordem social, política e econômica. Em uma sociedade desigual e escravocrata como a existente na capitania de Minas, estas ações incidiam sobre os moradores, cuja dinâmica diária era influenciada. Mas é preciso pensar também que, para além dos espaços demarcados e apropriados pelos grupos sociais em virtude das leis, deve-se atentar para os modos de burlar essas restrições. Pretende-se reconhecer, a partir da documentação coeva ao século XVIII, como esses processos de sociabilidade e relações de poder delinearam o cotidiano nas vilas mineiras, e avaliar como filmes com temáticas históricas sobre Minas Gerais contribuem na construção de memórias coletivas referentes à região. Neste sentido, considera-se para esta análise os filmes Xica da Silva (1976), de Cacá Diegues, e Chico Rei (1985), de Walter Lima Júnior.

Rodrigo Santos Monteiro de Oliveira (UFG) Aspectos simbólicos do sincretismo helenístico no culto à deusa Ísis O homem romano sofre com a influência externa de regiões dominadas pelo Império, no que se refere aos aspectos religiosos. Observamos tal fato na descrição da jornada de Lúcio, personagem da obra Metamorfoses de Apuleio de Madaura, que em sua busca descuidada pelo conhecimento mágico transforma-se em asno, sendo ao final da obra “resgatado”pela deusa Ísis, que lhe devolve sua antiga forma humana. Através de tal obra, percebemos a formação de uma religião helenística, no que se insere na junção de características de diversas religiões, neste

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caso, a greco-romana e a egípcia. Objetivamos, a partir deste trabalho, entender este sincretismo religioso, discutindo também a simbologia da deusa Ísis, seus cultos e mistérios.

Rogério Rosa Rodrigues (UESC) A urucubaca no catete: Humor e política na candidatura de Hermes da Fonseca a Presidente da República (1909-1910) Durante a Campanha Civilista Rui Barbosa construiu de forma astuciosa a imagem de que a candidatura do general Hermes da Fonseca era de cunho militarista. Por meio dessa estratégia o então senador baiano exagerou nos traços da personalidade do sobrinho de Deodoro da Fonseca, desautorizou sua candidatura, além de ter conferido maior visibilidade à sua proposta divulgada como civilista. A imprensa carioca, maioria vinculada à campanha de Rui, aproveitou a estratégia para construir uma representação caricata de Hermes da Fonseca ao potencializar o suposto militarismo de sua candidatura. Nesse contexto, o objetivo desta comunicação é analisar as interrelações entre o discurso humorístico e o discurso político civilista com vistas a debater as vinculações entre humor e política durante a Primeira República. As fontes para a abordagem são as charges publicadas nos periódicos A Careta, Fon-Fon e O Malho durante a Campanha Civilista e os panfletos eleitorais distribuídos pelos civilistas. A hipótese a ser desenvolvida é de os humoristas se apropriaram das idéias políticas de Rui Barbosa e popularizaram a pecha militarista que povoou a atormentou a candidatura do oficial do Exército, tanto nos textos da época, quanto nos discursos historiográficos construídos a posteriori.

Roney Marcos Pavani (Ufes) Revisando o pensamento conservador: Juan Donoso Cortés O pensamento de Juan Donoso Cortés (1809-1853), um dos mais importantes pensadores políticos espanhóis do século XIX carece de novas análises. Isso é correto na medida em que, apesar de ser bastante conhecido, o autor é apenas lembrado por suas, assim chamadas, idéias reacionárias, sobretudo quando ligadas à defesa da Igreja Católica com guia para uma sociedade corrompida. De fato, pouco se sabe, ou se pesquisa a respeito dos primeiros anos de Cortés como político e como pensador, momento em que se destacava por defender idéias liberais na Espanha dos anos 1830, ainda que tais idéias estivessem sendo colocadas em prática de modo bastante particular. Como por exemplo, distanciando-se dos princípios liberais ditos clássicos, muito mais característicos dos países de cultura anglo-saxônica, como a liberdade de iniciativa. Por hora, gostaríamos de expor algumas idéias de autores vários a respeito da obra donosiana que não se preocupam em distinguir momentos diferentes em seu pensamento político, apenas lembrando-se com maior ênfase dos últimos anos de sua vida. Além disso, e nesses casos, os

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vários comentadores de Donoso Cortés analisam-no de um modo globalizante, não atentando às várias especificidades de seu pensamento político.

Rosângela D`Ávila (Ufes) Vidas (in)surgentes na cidade-casa Este trabalho é fruto de uma pesquisa de mestrado, ainda em andamento, que busca capturar instantes insurgentes e imagens-texto desobedientes que permitam o encontro com outros modos de vida na cidade de Vitória/ES, para além e aquém dos cartões postais. Nele, a cidade não aparece como um fundo de tela, mas como parte das micro-guerrilhas cotidianas em que se enredam homens e mulheres catadores de material reciclável, que caminham por seus becos e avenidas, se detendo a todo instante para recolher os restos que se acumulam pelos cantos. Seus passos são conduzidos não apenas pela necessidade de sobrevivência, mas também pelo desejo de não deixar estes restos se perderem. Desenham assim itinerários subjetivos sinalizados por marcos que se desmancham e se deslocam com o trajeto, em que separam e recolhem tudo aquilo que a cidade desprezou e jogou fora. Na tentativa de prospectar estas existências errantes, buscamos o olhar que segue as tramas micropolíticas que se desdobram na superfície urbana, que pousa sem pressa nas imagens do comezinho, do não memorável, a escuta que se atêm as palavras e ao ritmo dos discursos miúdos, o arrepio da pele diante do silêncio do indizível. As narrativas que surgiram destas incursões aventurosas não compõem paisagens tranqüilas, lineares, que assinalam a gestação de espaços harmônicos e isentos de conflitualidade. Longe disto, exibem lugares polissêmicos, plurais, que mesmo agregados de conflitos e tensões não deixam de exercitar a experiência de aceitação do outro na sua feiúra, no seu corpo sujo e destroçado, na sua vida despudorada e imp(r) udente. São tramas que desmontam continuamente a fixidez do presente e que afirmam a vida urbana como ela é: diversa, alegre, soturna, efêmera e instável.

Rosangela de Oliveira Dias (USS) Utopia urbana e cinematográfica: Brasília e Cinema Novo Nos anos 60 do século XX jovens diretores, oriundos da Academia, produzem no Brasil filmes cujo objetivo era transformar a injusta realidade social brasileira, o Cinema Novo. Uma estética concebida em função da precariedade de nossa incipiente indústria cinematográfica foi criada. Informando-a havia não somente as cinematografias européias que lhe eram contemporâneas, como também a idéia de que a sociedade podia ser transformada a partir da intervenção do intelectual. Concepção esta que também orientou a construção da nova capital brasileira: Brasília. Durante os anos 1960 no Brasil, a arquitetura criada na nova cidade-capital e o Cinema Novo pensaram esta mesma utopia: a transformação da sociedade brasileira. Para os cineastas que

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participaram do Cinema Novo isto seria possível, no dizer de Arnaldo Jabor, diretor cinemanovista, fazendo um cinema que “... arejava, ventava, com nossas câmaras abertas sobre o país”. Para os arquitetos que projetaram Brasília “... a concepção e a organização de Brasília deveriam transformar a sociedade brasileira”. O objetivo desta comunicação é analisar como estes dois discursos visuais, Cinema e Arquitetura, dialogaram no Brasil dos anos 60, no sentido de melhor alcançarem a proposta utópica que idealizaram.

Rossana Ferreira da Silva Mattos (UVV) Expansão urbana e violência na Região Metropolitana da Grande Vitória O artigo examina as contradições da urbanização/modernização da Região Metropolitana da Grande Vitória, partindo da primeira metade do século XX, num processo que combinou modernidade e desigualdade social. O fenômeno da urbanização se coloca como um conjunto complexo no processo de desenvolvimento da região, e exige uma compreensão histórica, para que possamos desvendar aspectos estabelecidos pelos processos econômicos, sociais e políticos, que configuraram modelos de desenvolvimento urbano desigual e contraditório, segmentando-se num processo de ampliação das desigualdades sociais e espaciais. Nesta perspectiva, o trabalho discute os binômios, cidade e urbanização, desenvolvimento e modernidade, desenvolvimento e desigualdade, urbanização desigual e violência, identificando em que medida o aprofundamento da segregação sócio-espacial pode levar à fragmentação social e, contribuir para a escalada da violência na Região. Palavras chaves: Modernização, urbanização, segregação e violência.

Rossi Alves Gonçalves (UFF) As falas que extrapolam as periferias A cultura das periferias, há algum tempo, vêm se libertando dos discursos canônicos, mediados por célebres nomes do meio cultural e cujas obras são sempre objetos de críticas favoráveis e muito bem recebidas pelo público em geral. No entanto, há que ressaltar a grande virada que, de certa forma, está se solidificando, no século XXI: aqueles personagens de outrora agora são os produtores dos seus discursos, da sua cultura. Ou seja, o personagem, atualmente, dispensa a mediação e assume-se como porta-voz das suas mazelas, desejos, alternativas. Fato este que não se limita a uma ou outra área, mas pode ser observado em diversas instâncias da produção cultural. Este trabalho terá como objetos a Literatura, na voz de Ferrez e outros autores da periferia, os movimentos funk/hip hop cariocas e ainda um olhar sobre os espaços alternativos para realização de uma cultura periférica independente das instâncias superiores.

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Salatiel Barbosa Júnior (Ufes) O Supremo Tribunal Federal sob suspeição Este trabalho trata de um assunto de extrema relevância voltado principalmente às questões atinentes ao processo democrático brasileiro, em cujo Poder Executivo interfere de forma direta ao nomear Ministros para o Supremo Tribunal Federal, dentre outros tribunais, ferindo o princípio da isonomia e interdependência harmônica dos Poderes ao induzir os ‘agraciados’ a um comprometimento indesejado e por que não a um pseudo vínculo político. Destarte, o critério adotado para a escolha de referidos ministros não é o mais adequado, pois se o Presidente da República incorrer em infrações penais comuns, decerto será julgado pelos mesmos Ministros que nomeara, sendo que nos crimes de responsabilidade será processado e julgado pelo Senado, este sob a batuta do Presidente do STF, sob suspeição. Dessa forma, dentro de cada tópico desenvolvem-se comentários no sentido de minorar tais contrapontos como também apresenta soluções para que haja uma maior credibilidade daquele Excelso Tribunal e conseqüentemente a tão desejada estabilidade democrática da nação sujeita as provocações ocasionadas pelo regime político ora no poder. Por fim, apresenta-se uma abordagem relativa à estrutura e funcionamento daquela Corte Maior; a sua evolução histórica, a inserção do Supremo Tribunal Federal junto à Constituição de 1988 e sua importância como guardiã das instituições democráticas. Também, os reflexos que a Emenda 16/97 acarreta na composição ideológica daquele Sodalício ao prolongar, no caso de reeleição, os mandatos dos membros do Poder Executivo; além de uma breve síntese interativa das Supremas Cortes de outros países.

Samara Cristina Zupeli (Ufes) As Cortes castelhanas do século XIII e suas disposições antijudaicas Com o governo de Afonso X, o Sábio a política seguida pelos reis de Castela em relação à comunidade judaica começa a se deteriorar. A situação dos judeus que viviam sob a coroa castelhana ficava cada vez mais difícil à medida que as Cortes se reuniam e deliberavam ordenamentos para regular a vida das aljamas. Esses ordenamentos eram conseqüência de petições levadas as Cortes pelos representantes das localidades castelhanas ou por membros da Igreja. Esses ordenamentos promulgados nas Cortes enfatizavam a condição minoritária dos judeus e mostrava o desejo cristão de manter as suas identidades separadas. A presente comunicação se propõe então à analisar as disposições antijudaicas das Cortes castelhanas do século XIII dando principal atenção as realizadas sob o reinado de Afonso X.

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Samuel Thomas Jaenisch (UFRGS) As origens do protestantismo em Porto Alegre: Implantação e expansão do cristianismo não-católico entre o final do século XIX e primeira metade do século XX O crescimento evangélico no Brasil consolidou-se nas últimas décadas como um importante fenômeno social altamente associado aos processos de urbanização e industrialização. Atual segunda maior força do campo religioso brasileiro, as igrejas evangélicas difundem-se no meio urbano — ora diluídas em pequenas garagens pelas periferias, ora enaltecidas nas “catedrais” dispostas nas grandes avenidas centrais — numa interação constante com as dinâmicas da cidade. Meu objetivo nesta comunicação é recuperar o início deste processo, analisando a inserção dos primeiros missionários protestantes norte-americanos e imigrantes não-católicos da Europa Central, no Brasil Imperial do século XIX, tendo como universo de pesquisa a cidade de Porto Alegre entre os anos de 1865 e 1950. O enfoque adotado privilegiou a dimensão espacial do fenômeno com uma análise baseada principalmente na disposição dos templos pela cidade. Para tal apresento quais as denominações que se estabeleceram na cidade, onde estabeleceram seus pontos de pregação e o incremento de suas atividades baseado na abertura de novas paróquias. Considero que os rumos seguidos pelo protestantismo estão em grande parte condicionados (mas não determinados) pelo crescimento e desenvolvimento da cidade. Sua presença em Porto Alegre deve, portanto, ser compreendida como parte intrínseca de uma complexa trama social, onde diferentes grupos sociais interagem na busca de seu espaço no tecido urbano.

Sebastião Pimentel Franco (Ufes) Os atores sociais da província do Espírito Santo a partir de autos criminais (1845-1875) Os autos criminais, como toda fonte histórica, permite ao pesquisador do nosso tempo, recuperar aspectos da vida cotidiana de um dado grupo social que nos antecedeu. A justiça ao tentar reconstituir o evento criminoso, penetra no dia-a-dia dos implicados e testemunhas, desvendando suas vidas íntimas, fazendo-nos recuperar os laços familiares, de solidariedade, afetivos, visões de mundo, valores morais, registrando portanto, o corriqueiro de suas existências. Os autos criminais permite-nos pinçar informações referente ao sexo, à idade, ao estatuto social, à cor, ao estado civil, á ocupação, ao grau de instrução de todos os personagens que lá aparecem, quer na condição de réus, vítimas e testemunhas, ou seja, desvendar o universo microssocial dos grupos sociais que viveram na província do Espírito Santo entre 1845 e 1875.

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Sergio Alberto Feldman (Ufes) Jerusalém: Entre as representações e a realidade A cidade da Paz: Ir Shalom. Uma representação que perpassa a trajetória de uma cidade que é considerada sagrada para as três religiões monoteístas do Ocidente. De sua conquista pelo rei David, passando pela sua relação com o Cristianismo primitivo, até chegar a conquista da cidade pelos muçulmanos, a cidade constrói uma aura sacra e sugere um relação com a Redenção e com a paz universal no Fim dos tempos. A realidade de seus primeiros dois milênios de existência demanda uma reflexão e uma análise do teor das Representações desta nos primórdios das três religiões monoteístas.

Sérgio Hamilton da Silva Barra (PUC-RJ) Luiz Edmundo e a Boemia do Rio de Janeiro “do seu tempo” O presente trabalho tem por objetivo investigar a leitura da cidade do Rio de Janeiro da virada do século XIX para o XX feita pelo cronista Luiz Edmundo Melo Pereira da Costa (26/06/1878-08/12/1961), a partir da noção de boemia por ele construída nas suas crônicas memorialísticas reunidas em O Rio de Janeiro do meu tempo (1938). É no início do século XX que o Rio de Janeiro passa a ser considerado uma cidade boêmia e a boemia se constitui como um traço característico de uma identidade cultural que se pretende legitimamente carioca. A boemia carioca é hoje um traço característico identificador da cidade e do seu habitante, explorado, inclusive, em anúncios publicitários de incentivo ao turismo. Porém, o que sobressai da leitura das crônicas de Luiz Edmundo é o fato de que nem sempre a boemia foi encarada de forma tão positiva. Podemos perceber que aí a noção de boemia apresenta uma polissemia que estaria diretamente relacionada à forma como aquele cronista lê o Rio de Janeiro da sua infância e juventude. No Rio de Janeiro do seu tempo conviveriam duas temporalidades diferentes, separadas pelas reformas de modernização da cidade implementadas pelo prefeito Francisco Pereira Passos (1903-1906). O momento anterior às reformas Passos seria o tempo do atraso colonial, enquanto o momento inaugurado com as reformas seria o tempo da harmonia com o progresso. A essas duas temporalidades corresponderiam duas diferentes noções de boemia: uma relacionada ao Rio de Janeiro colonial e atrasado anterior às reformas e outra noção mais adequada ao Rio de Janeiro saneado e civilizado por Passos.

Sergio Linhares Miguel de Souza (Instituto Estadual do Patrimônio Cultural/RJ) “Cidades Invisíveis” — Memória e patrimônio “Cidades Invisíveis” é um documentário realizado sobre as ruínas de quatro cidades extintas do Estado do Rio de Janeiro. Produzido pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural — Inepac, o filme percorre os vestígios do que um dia foram igrejas, pontes, ruas, câmaras e residências; entrevista

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antigos moradores e ouve as vozes de sua memória. Por meio de fragmentos contamos a história dessas antigas vilas, a importância do tombamento dos bens fluminenses e a luta pela preservação. Ativas entre os séculos XVIII e XX, Santo Antônio de Sá, São João Marcos, Iguassú e Estrela, importantes no processo de ocupação do solo fluminense, desapareceram em meio a crises econômicas, epidemias e o abandono dos portos depois do advento das estradas de ferro. Imerso em ruínas, “Cidades Invisíveis” é uma tentativa de reconstrução de memórias políticas, culturais e afetivas. Entre a memória e o esquecimento, revela-se a seletividade da história oficial. A história dessas ruínas conta também uma parte da história do Brasil, de suas lutas políticas, dos momentos de auge e decadência econômica e, das obras que em nome do progresso desprezaram o aspecto humano e identitário. A Vila de Estela, a Vila de Iguassú, a Vila de Santo Antônio de Sá e a Vila de São João Marcos foram grandes centros econômicos. As três primeiras abandonadas por força do deslocamento do eixo econômico, provocado pelo aparecimento da ferrovia. São João Marcos foi vítima da insanidade humana, capaz de destruir uma cidade, que teve uma importância enorme e que criminosamente, no século XX, teve seu destombamento decretado para se fazer a ampliação de uma represa, cujas águas nunca subiram a ponto de chegar onde estava situado o seu centro histórico.

Sérgio Luiz Marlow (Faculdade Saberes) Transformações e mudanças no cotidiano religioso dos teuto-brasileiros na Era Vargas Dentro do cotidiano dos teuto-brasileiros (descendentes de alemães nascidos em solo brasileiro), encontramos uma série de atividades ligadas à pátria de origem, a Alemanha. Destacam-se, neste sentido, a imprensa teuta, as agremiações culturais e esportivas, os jornais em circulação nas colônias ligadas a estes imigrantes e as instituições religiosas, sejam católicas ou protestantes históricas, mas especificamente luteranas. Todas essas instituições foram atingidas quando, com a ascensão do Estado Novo, Getúlio Vargas lançou as bases da campanha de nacionalização, visando com isso, no seu entender, “abrasileirar” todos os imigrantes e seus descendentes que viviam em solo brasileiro. Neste sentido, também os teutobrasileiros. A presente comunicação justamente pretende resgatar o contexto histórico em que tal fato se sucedeu, bem como analisar, em especial, como o cotidiano religioso deste grupo foi atingido, à medida que praticamente todas as atividades religiosas ainda versavam em língua alemã, e esta foi proibida de ser usada. Ao mesmo tempo, busca-se nesta pesquisa resgatar os enfrentamentos, os dilemas e as mudanças e transformações que os teuto-brasileiros sofreram com tais medidas de ordem federal.

Sérgio Miguel Prúcoli Barboza (Ufes) Reflexões sobre a cidade como Corpo sem Órgãos O porvir da humanidade e o devir urbano, para muitos autores, estão intimamente ligados, talvez por este motivo, a temática da cidade tem sido foco de diversos saberes que buscam

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compreender este objeto tão complexo. O seguinte artigo pretende explorar o conceito, de Gilles Deleuze e Felix Guattari, de Corpo sem Órgãos aplicado à cidade. A ativação de uma reflexão sobre a aplicação deste conceito no urbanismo se faz presente na primeira parte do texto, onde, através de revisão bibliográfica, trabalhamos um movimento resumido de decomposição do “fazer urbanismo” e o uso da metáfora da cidade como corpo, desde seu surgimento como disciplina no século XIX. A segunda parte deste artigo analisa este conceito em sua “forma pura”, para, finalmente, questionar e propor de que forma a cidade como um Corpo sem Órgãos pode se constituir, e como constituí-la. Por meio desta discussão pretendemos estimular a constituição de outro saber-poder Arquitetura e Urbanismo, assim como outros devires urbanos.

Severino Cabral Filho (UFCG) Dimensões simbólicas da modernização urbana: Água, desejo, promessa e espetáculo — Campina Grande-PB (1936-1939) O nosso objetivo com a presente comunicação é destacarmos uma experiência de modernização havida na cidade de Campina Grande, Paraiba, entre os anos 1936 e 1939. Tal experiência diz respeito à construção de dois modernos sistemas: um, de abastecimento de água tratada; o outro, de esgotamento sanitário. Tais processos, de acordo com a imprensa local, estariam colocando Campina Grande entre as cidades brasileiras mais desenvolvidas no aspecto sanitarista. Trabalhamos com artigos de jornal, com imagens fotográficas e com documentos oficiais que relatam estes empreendimentos: nas matérias publicadas pela imprensa nos deparamos com projeções de desejos e promessas de desenvolvimento urbano; com as imagens fotográficas somos colocados diante da dimensão espetacular, característica desse projeto; por meio dos documentos oficiais nos mantemos informados sobre os desejos da população em ter acesso às benesses que tais obras lhe traria. Esses materiais nos remetem a dois feixes de representações: por um lado, se destacam as tensões entre o poder público e aqueles atingidos pela violência com que esses projetos foram implantados; por outro lado, explicitam as mudanças de comportamento e atitude face à percepção positiva dos discursos sobre a salubridade e o sanitarismo.

Sheila Conceição Silva Lima (UERJ) Roma: Espetáculo de luxo e poder na Embaixada do Marquês de Fontes Na sociedade de corte internacional, as cidades européias, na primeira metade do século XVIII ganharam papel de grande destaque, por serem palco da representação do poder dos grandes monarcas e príncipes. A face diplomática desse espetáculo, é o que ilustra uma nova constituição política no universo da Cristandade Ocidental. As intermediações políticas adquiriram vigor e precedência, diante das guerras religiosas e estabeleceram, com representações diplomáticas per-

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manentes ou com embaixadores residentes, uma nova vida internacional para a Europa. Sendo assim, Roma é duplamente uma cidade de esplendor, pois ainda exercia o fascínio de poder sobre as monarquias católicas, julgando-se árbitro da respública cristiana, como uma monarquia barroca, onde o Sumo Pontífice era o príncipe e o Colégio Cardinalício, sua corte. Contido neste panorama, D. João V, financiado pelo ouro do Brasil, proporcionou a Roma um grandioso teatro político, cuja magnitude deixa a cidade estupefata. A Embaixada do Marquês de Fontes ilustra a transformação vivenciada na arte de parlamentar, mas ratifica o modelo de representação e identidade de se fazer a política, expressa pela linguagem do luxo, da magnificência e da teatralização. Experiência que as cidades européias, em especial Roma, registraram.

Silas Raasch (Ufes) Conquista do sertão capixaba: Os imigrantes na colônia Santa Izabel A imigração européia para o Brasil, no século XIX, ocasionou grandes transformações na realidade nacional. Abordada freqüentemente, privilegiando os contextos paulista e fluminense, com enfoque sobre o processo de substituição da mão-de-obra escrava, os estudos sobre o contexto capixaba, acerca dessa temática, mostram-se ainda incipientes. O presente artigo analisa esse tema a partir de uma perspectiva diferenciada, enfatizando a realidade capixaba, na tentativa de mostrar que esses imigrantes, muitas vezes, conseguiram imprimir sua força e marcar não só a economia, mas também a sociedade e cultura dos locais em que foram instalados. O objetivo central é avaliar o caso da Colônia Santa Izabel, criada em 1847 por iniciativa imperial no Espírito Santo, que recebeu imigrantes de origem germânica sob a premissa de “povoar e desenvolver o território” e tentar esclarecer como se deu a relação desses imigrantes em sua nova realidade territorial e cultural.

Silvana Mota Barbosa (UFJF) Trajetórias e experiências políticas no Conselho Ministerial (1847-1889) O objetivo desta comunicação é discutir a formação dos ministérios ao longo do segundo Reinado, tendo em vista as trajetórias intelectuais e políticas dos presidentes do Conselho Ministerial. Segundo a Constituição, o Imperador nomeava e demitia livremente os ministros de Estado. Em 1847 foi criado o cargo de presidente do Conselho de Ministros, e assim os membros do gabinete passaram a ser, em teoria, escolhidos pelo presidente, com a anuência do Imperador. Podemos questionar se tal cargo alterou o grau de influência do monarca no poder executivo e, também, quais os limites do poder do Presidente do Conselho na condução da política geral do Império. Tendo em vista a construção das identidades políticas e de suas linguagens próprias, na medida em que se definem historicamente, buscamos recuperar a origem política destes ministros, desde

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o local de início de sua carreira até os laços de parentesco e o perfil de sua formação. Inseridos no quadro indeterminado de alternativas políticas, que se constroem no embate de diferentes atores sociais, estes ministros nos possibilitam recuperar novas facetas da história política do século XIX. (Financiamento Fapemig Edital Universal 2006; CNPq Edital 50/2006 e Edital 15/2007)

Silvia Amaral Pimenta de Pádua (Ufes) Modernização e intervenção no cotidiano das relações de gênero na cidade de Vitória na Primeira República O presente trabalho propõe uma discussão da forma como a cidade de Vitória, se inseriu no contexto dos movimentos de modernização das capitais, durante a primeira República. Com a proclamação da República, fez-se necessário apagar da mente dos cidadãos, o passado imperial tão recente. Neste sentido, a elite política brasileira procurou dar início a um processo de modernização das capitais brasileiras à semelhança das grandes capitais européias. Neste sentido o Estado logo passou a se fazer presente e buscou por todas as frentes, estabelecer e caracterizar os espaços públicos reservados ao lazer e dos privados reservados à intimidade familiar, que deveria ser institucionalizada pelos códigos de comportamentos, veiculados pela nascente elite burguesa. Portanto procuro resgatar a história da capital, Vitória, como núcleo político e comercial do Estado do Espírito Santo, contextualizando-a no bojo da história nacional. Apesar de alguns historiadores capixabas, pontuarem o fato da cidade de Vitória ser econômica e politicamente menos influente no cenário político do sudeste, na Primeira República, não deixou de absorver o ideário de progresso vivido pela elite brasileira. A capital capixaba, ganha, assim, uma nova feição urbana, e adere às prática das modernas estratégias e técnicas de controle social.

Silvia Carla Pereira de Brito Fonseca (UERJ) Agremiações políticas no período regencial: A Sociedade Federal de Pernambuco como um estudo de caso (1831-1833) A presente comunicação examina a constituição da Sociedade Federal de Pernambuco nos primeiros anos do período regencial. Em primeiro lugar, será apresentado o perfil dos membros desta agremiação política com base no comprometimento de seus membros com os movimentos contestatórios ocorridos na província desde a década de 1820. Em segundo lugar, procura-se avaliar a correspondência entre a luta pela federação no contexto das reformas constitucionais e o ideário republicano, a partir da análise dos estatutos da associação, dos temas de suas atas, bem como dos artigos doutrinários publicados pelos periódicos a ela vinculados

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Sílvia de Souza Dias (Centro Universitário São Camilo) & Thiago Elias Tognere (Centro Universitário São Camilo) Cidade de Muqui: Manifestações populares dentro de seus espaços urbanos A cidade de Muqui, de nome indígena que significa entre morros, localizada no sul do Espírito Santo, é rica em lendas, tradições e folguedos. Há exatamente 58 anos acontece, ininterruptamente, um encontro de folia de reis, manifestação popular de origem portuguesa que ao longo do tempo ganhou traços das culturas afros e indígenas. Entretanto, há que se ressaltar, que mesmo realizando o maior e mais longevo evento dessa manifestação folclórica, com grande participação popular, não encontra difusão entre as camadas mais jovens da população, razão talvez dos poucos grupos de folia de reis em atividade no município. Quantos grupos havia em atividade quando a cidade passou a sediar o encontro de folias? E hoje, quantos estão em atividade? Essa grande manifestação popular dentro dos espaços urbanos vem de fato se refletindo em políticas públicas voltadas para o desenvolvimento? Assim o artigo discute o impacto dessa tradição nos espaços urbanos de Muqui.

Silvia Sasaki (UDESC) Rua Augusta: Uma abordagem da cidade de São Paulo através de suas representações citadinas e ordinárias Importante via arterial da cidade de São Paulo, a rua Augusta interliga não somente o centro da cidade ao bairro nobre dos Jardins, mas também conecta indivíduos das mais diversas classes sociais, gêneros e culturas, em um transito heterogêneo de sentidos e vozes. Ao mesmo tempo em que é estigmatizada pelos locais de prostituição, também é uma das áreas mais desenvolvidas e valorizadas da cidade. E, nos últimos anos, novamente está passando por processos transformadores — desta vez, uma espécie de higienização visual e auditiva, através dos projetos “Cidade Limpa” e “Psiu”. Assim, através de uma breve análise dos grafittes em seus muros, dos adesivos stickers colados pela rua anonimamente, das fachadas (agora sem neons), dos estabelecimentos comerciais e dos indivíduos que ali transitam ou moram, é possível traçar uma perspectiva de territorialidades polifônicas, permeadas de história, mas que também não cessam de se reestruturar.

Silvio de Almeida Carvalho Filho (UFRJ/UERJ) Um cão flanando em Luanda: A cidade, o cotidiano e o poder na literatura de Pepetela Escolhemos analisar as relações entre cidade, cotidiano e poder como emergem na obra O Cão e os Caluandas de Pepetela. Livro escrito entre 1978 e 1982, mas publicado em 1985, um marco

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cronológico importante, por dois motivos: o primeiro, político, pois nessa data o Movimento pela Libertação de Angola (MPLA) realizou o seu 2o Congresso, expondo um balanço das realizações de um decênio de independência; o segundo, cultural, pois nesse ano e no anterior afloram para o público as primeiras obras literárias angolanas, nas quais se teceram críticas mais contundentes ao regime político angolano, dentre elas o texto literário que analisamos. O livro de Pepetela, como grande parte da literatura angolana no período, tornou-se, por excelência, uma metáfora histórica, nele, denunciava-se a traição da nação que se estruturava ao imaginário socialista programado pelo MPLA. Por isso, através do narrar das andanças de um cão pela capital de Angola, criticava-se as práticas dos comportamentos sociais, em outros termos, as relações de poder que não condiziam com os ideais de uma nação que se pretendia socialista. Nele, o autor censura a burocracia, a corrupção e o etnicismo e outros desvios do projeto libertário angolano.

Stephanie Azevedo (Célula EMAU) Projeto Habitação, Memória e Vivência em São Benedito, Vitória-ES O projeto Habitação, Memória e Vivência em São Benedito é fruto da necessidade de uma aproximação do mundo acadêmico com a realidade das comunidades populares. O objetivo do Célula EMAU — Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo é conhecer os modos de habitar, os processos construtivos e técnicos da chamada cidade informal. Para tal, procurou-se nesse estudo entender como pessoas que somam cerca de 80% da população brasileira, independentemente da atuação de profissionais da construção civil ou do poder público, construíram suas casas e consolidaram uma comunidade. A possibilidade de trabalhar com o bairro de São Benedito foi facilitada pela Associação Ateliê de Idéias, que atua no bairro desde 2003 e possui interesse no desenvolvimento social e econômico daquela comunidade. Foi realizada uma vivência e outros tipos de abordagem e registros com os moradores do bairro. Dezenove moradores preencheram uma ficha com campo para desenho e perguntas relativas à sua moradia, além de maquinas fotográficas descartáveis, para que registrassem em imagens o bairro e sua casa. Também foram realizadas entrevistas com estes moradores que eram os mais antigos no bairro. Como resultado deste trabalho foi elaborado um catálogo importante para preservação da memória da comunidade e que poderá ser apreciado pelas próximas gerações. Escreveu-se a história da ocupação sobre o morro de São Benedito mediante as narrativas e as lembranças desses moradores. Esse registro da história do bairro propaga a história da ocupação para a comunidade e para o mundo. Além disso, esse estudo promove para o Célula o entendimento crítico da autoconstrução para melhor êxito na intervenção urbana e arquitetônica em áreas de ocupação informal. Cabe salientar que o Célula atua exclusivamente em comunidades organizadas e encontrou desta vez um grupo com alto nível de organização e com plena sapiência da complexidade política em que esta inserida.

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Surama Conde Sá Pinto (UFRRJ) Um eterno burgo podre? A política carioca na Primeira República Nos discursos proferidos por parlamentares que fizeram parte da representação carioca na Primeira República, a expressão burgo podre é utilizada com frequência para caracterizar a política da cidade do Rio de Janeiro, capital da República no período. O objetivo central da comunicação aqui proposta é contribuir para o debate acerca a dinâmica política do Distrito Federal nas duas primeiras décadas do século XX, através da análise do alcance desse e de outros enunciados frequentes nos meios político e acadêmico, como o da debilidade das instituições partidárias da cidade, do papel de supervisor desempenhado pelo Senado no campo político local, da falta de coesão da bancada carioca no Congresso e da ação do prefeito como um interventor do Governo Federal na cidade na Primeira República.

Tácila Aparecida Mattos (Ufes) Cenas femininas: Violência e gênero na comarca de Vitória/ES (1850-1870) Busca-se discutir nessa comunicação o cotidiano violento da cidade de Vitória, Capital da Província do Espírito Santo, na segunda metade do século XIX, entre os anos de 1850 a 1870. A análise qualitativa encontra-se focada nos personagens femininos, uma vez que, os comportamentos das mulheres no âmbito social favorecem a compreensão do modus vivendi. A documentação histórica utilizada constitui-se de correspondências policiais (1850-1870). Tal fonte possibilita discutir os padrões de conduta impostos às mulheres, ou, pelo menos, como as autoridades policiais exerciam controle sobre elas, seja na posição de vítimas ou acusadas. Pretende-se, por meio desta investigação, conhecer melhor o cotidiano feminino, foco principal deste estudo.

Tarcísio Glauco da Silva (Favale/FDC) Fotografia e cidade: Memória, pesquisa e fontes históricas O objetivo desta comunicação é discutir a utilização de fontes visuais, notadamente a fotografia, como fonte de pesquisa, como meio de discussão da memória e as rupturas e permanências da vida social de uma cidade e levantar uma discussão sobre o tratamento dado pela maioria dos historiadores ao material iconográfico utilizado como fonte histórica. A comunicação está baseada numa pesquisa, ainda em andamento, no acervo do Arquivo Histórico e Geográfico de Carangola (AHGC), estado de Minas Gerais. Nesta pesquisa foi feito o levantamento de todas as fotografias do acervo do AHGC e, no momento, é realizado o cadastro e digitalização dessas imagens a fim de colocá-las à disposição da comunidade como fonte de pesquisa. O levantamento das fotografias nos colocou em contato com um rico acervo onde fotografias de prédios, eventos sociais e políticos, bem como de pessoas em diferentes situações, nos dão um quadro bastante interessante sobre as transformações ocorridas no espaço físico

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e, porque não dizer, do espaço social da cidade. Através do estudo e da disponibilização para pesquisa deste acervo fotográfico poderemos entender melhor as mudanças ocorridas na cidade de Carangola. O estudo das fotografias poderá possibilitar a compreensão das transformações do meio urbano, os atores envolvidos nestas transformações e de como estas poderiam ter influenciado (ou até modificado) a percepção da população sobe sua própria cidade. A comparação entre o ‘ontem’ das fotografias e o ‘hoje’ em que vivemos também poderá auxiliar no entendimento e, por vezes, no questionamento das mudanças ocorridas (ou não) no espaço urbano. A fotografia é uma poderosa fonte de pesquisa ainda não utilizada em todo seu potencial pela maioria dos historiadores. Através desta pesquisa tentaremos, além de disponibilizar o acervo digital para consultas, discutir a utilização da fotografia como fonte histórica que possa ser vista como “uma fonte de pesquisa além da imagem fixada”.

Tatiana Silva de Lima (UFPE) Entre o aprendizado e as fronteiras do trabalho doméstico: Recife em meados do século XIX A partir da historiografia e dos documentos do Recife no século XIX, percebemos a importância de refletirmos sobre as nuances e historicidades do trabalho doméstico. Os testemunhos dos contemporâneos oferecem indícios de que em meados dos oitocentos o mundo do trabalho na cidade possuía uma dinâmica própria. Em parte, concorreram para esta dinâmica o crescimento demográfico da população recifense durante a primeira metade do XIX, que acirrou a concorrência entre os trabalhadores, e a “passagem” do trabalho escravo para o livre em Pernambuco que começou desde a década de 1840, antes mesmo da lei Eusébio de Queirós em 1850. Mas tais mudanças conjugavam com parâmetros culturais enraizados, notadamente a escravidão e outras formas de exploração e controle sobre os trabalhadores, que tendiam a se atualizar. Assim, este estudo focaliza as tênues fronteiras do mundo do trabalho, notadamente entre o que denominamos de trabalho doméstico, atividades em estabelecimentos comerciais e o trabalho domiciliar. Um/a criado/a “do serviço de casa” podia desempenhar múltiplas funções ao mesmo tempo, inclusive lucrativas na rua ou no negócio do/a seu/ sua superior/a — como uma padaria ou uma confeitaria. Nesta configuração, fazia-se importante o aprendizado das atividades de cozinhar, engomar, coser, entre outras, oferecido às “negras e escravas” em lojas comerciais ou dirigido a um público mais amplo em outros espaços.

Tatielly Fernandes Silva (UFG) A mitologia e o palco: Breve análise da representação teatral do Mito de Helena nas obras de Eurípedes A tragédia é uma das manifestações mais expressivas da sociedade grega clássica. Tendo surgido em fins do século IV no âmbito dos festivais dionisíacos, chegou ao seu apogeu no século

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seguinte, nos deixando como grandes marcos de sua produção os tragediógrafos Ésquilo, Sófocles e Eurípides. Pretendemos com este trabalho nos deter numa análise das características da produção teatral deste último, bem como dos recursos cênicos e narrativos por ele utilizados para representação dos mitos no palco por meio de sua versão do mito da Helena de Tróia nas obras Helena e As Troianas.

Tatyana Nunes Lemos (Ufes) “Monarquia”: Uma análise de Dante Alighieri (1265-1321) Os séculos XII e XIII na Europa foram marcados por conflitos entre os poderes espiritual e temporal. A luta pela afirmação da autoridade esteve presente em várias regiões do continente. Um desses locais de conflito era Florença, república italiana onde as disputas entre ‘guelfos’ e ‘gibelinos’ marcaram a obra do maior poeta italiano, Dante Alighieri. Em seu tratado Monarquia, o exilado autor realizou uma apaixonada defesa do poder imperial frente às pretensões do papado.

Teresa Vitória Fernandes Alves (UFJF) Educação: Eixo da transformação social na visão dos gráficos (Rio de Janeiro/1916-1919) Na capital da República, o Rio de Janeiro, reforma empreendida pelo prefeito Pereira Passos passa a servir de referencial das novas idéias de progresso e de civilização para o restante do país. A cidade do Rio de Janeiro, entre outras, torna-se um espaço de difusão de idéias vindas da Europa. A aplicabilidade delas transformaria a sociedade carioca em civilizada. A forma mais concreta para esta realização está na educação, no letramento. A cidade deixa de ser vista como uma grande “selva” e transforma-se em um espaço “urbano” e civilizado. Para que tal fato ocorra, novas regras são impostas com o objetivo de proteger e conservar a ordem. Sob esse espírito de construção e fortalecimento, em 17 de outubro de 1915 é criada a Associação Gráfica do Rio de Janeiro. Em dezembro do mesmo ano, essa associação tira a sua primeira diretoria que decide, de imediato, criar um jornal da categoria. Assim, em 1916, nasce o jornal O GRAPHICO (1916/1919), que passa a ser o porta voz da Associação Gráfica, formada por um grupo já previamente rotulado como “contestador social”, os tipógrafos. Ao escreverem e editarem o seu próprio jornal, os gráficos deixam de ser meros operários de tipos e passam a ser produtores de textos. Isso faz com que a profissão ganhe um status diferente, onde eles se vêem como “operários do pensamento”, diferentes dos demais operários, pois ao dominarem a escrita e a leitura entram-se em um outro lugar.

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Thiago Brandão Zardini (Faculdade Saberes) A proteção das cidades no fim do século IV d.C.: O discurso pagão de Zózimo, na obra “Nova História”, contra Teodósio I O Império Romano do século IV d.C. é palco dos mais variados conflitos e oposições. Ao observarmos pelo viés religioso, percebemos que os assuntos públicos, via de regra, tomarão a atenção de autores pagãos e cristãos, das mais variadas correntes as quais pertenciam. Analisar de que modo tais autores compreendiam a vida urbana, e construíam uma idealização de cidade, torna-se, então, de grande valia. Ainda mais ao notarmos que as discussões sobre a cidade refletem potencialmente nas questões religiosas. Por esse caminho envereda Zózimo, um “historiador” pagão do século V d.C. que, ao narrar o governo de Teodósio I (379-395), na sua obra Nova História, culpa o imperador pelos males urbanos que descreve — como a corrupção administrativa, a falta de recursos e as invasões bárbaras. Ora, Teodósio foi aquele que oficializou o cristianismo em 391 d.C., o que Zózimo traduz como abandono das práticas tradicionais romanas (pagãs), o que, a seu ver, causa o fim do próprio Império. Ao centrarmos o foco dessa comunicação no discurso de um autor que defende o culto tradicional e não aceita um Estado que se firma cada vez mais sob preceitos cristãos, visamos compreender o sentido simbólico que a cidade possui para o Império Romano no seu último século de existência. Mais interessante que isso, buscamos contrapor esse modelo ideal de cidade as crescentes proposições cristãs de escapismo do mundo terreno, que ocorre neste mesmo período histórico, por bispos como Agostinho de Hipona, que, em seu aclamado Cidade de Deus, remodelará não só a noção de cidade como de toda a organização política e social.

Thiago Dias Santos (Ufes) O amor divino vai ao combate: O ideário político de Frei Caneca nas páginas do “Typhis Pernambucano” O trabalho tem como objetivo central analisar o periódico Typhis Pernambucano, onde de dezembro de 1823 até agosto de 1824, às quintas-feiras, Frei Caneca expunha suas idéias em relação ao cenário político do país. Num tempo de recém-independência, a efervescência política era grande. Buscando saídas de cunho liberais, mas no caso, saídas radicais, Caneca expunha em seus escritos teses que iam de encontro ao pensamento político do centro-sul. Visando medidas federalistas em detrimento de atitudes centralizadoras do poder, na capital do Império. O frei pernambucano foi um dos teóricos do movimento que iria eclodir em 1824 em Pernambuco (Confederação do Equador) e acabaria ganhando outras províncias. Movimento que visava frear a interferência do poder central nas respectivas regiões rebeladas. Permitindo que as mesmas tivessem mais independência, mais autonomia perante o poder da capital do Império. Tal análise, a considero relevante pois primeiro resgata um pensador de importância para o país.

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Segundo que põe em voga um tema tão debatido no cenário acadêmico no tocante a política, que é o federalismo. Onde até que ponto o poder central tem poderes demais em relação aos Estados, e isso atrapalha o desenvolvimento sócio-econômico dos mesmos. Assim, no tempo de Frei Caneca, até que ponto a recém-independente coroa, se arvorou de muitos poderes em relação as províncias. E os desenlaces que resultaram, diante de tal relação de imposição de força.

Thiago Enes (UFF) A privação dos desejos: As cidades medievais e a invenção do pútrido A palavra urbano constitui-se em termo bastante polissêmico. Além de designar tudo aquilo que diz respeito às cidades ou quaisquer outras formas de aglomeração humana, deixa transparecer certo sentido comportamental. Viver em cidades implica necessariamente em urbanidade, termo caracterizado por muitos analistas como civilidade. Durante muito tempo camponeses habitaram áreas rurais adquirindo hábitos e executando certas práticas a seu bel prazer, tropegamente preocupados com regras ou normas que cerceassem ou definissem uma vivência cotidiana. Contudo, a passagem dessas populações para as cidades, ainda na chamada Idade Média, criou uma série de problemas relacionados à ocupação desses espaços urbanos. Os dejetos e demais detritos associados ao consumo e vivência diária, anteriormente tidos como absolutamente inócuos, geraram sérias questões de ordem sanitária e social, culminando com a necessidade de intervenção dos governos no sentido de se estabelecer verdadeiras legislações e ações fiscais para tentar coibir as velhas práticas rurais e substituí-las por comportamentos adaptados ao viver em cidades.

Thiago Menini dos Reis (Ufes) Hugo Chávez: O homem, o mito e a história oficial A pesquisa tem por objetivo desenvolver uma análise histórica sobre a fabricação da imagem pública de Hugo Chávez na Venezuela, utilizando como fontes as narrativas biográficas feitas pelos intelectuais que se instalaram nas diversas instâncias do Estado venezuelano e que por meio da imprensa oficial trabalham na constituição de uma História visando à promoção da imagem pública de Chávez através de sua associação a Simón Bolívar, o herói da libertação nacional. A fabricação dessa imagem pública tem como marco inicial a primeira grande aparição em rede nacional de Chávez no ano de 1992, onde ele e outros militares são frustrados em uma desastrosa tentativa de golpe, que acarretou em sua prisão. A partir desse momento Chávez foi ampliando seu espaço no campo da política venezuelana, até que em 1998 conseguiu pelas eleições diretas sua ascensão para a presidência do país, estruturado em um grande movimento político que foi organizado e dirigido diretamente por ele. Em 1992 em meio a insurgência sur-

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giu o homem Chávez, que se associou imediatamente ao mito bolivariano que pairava sobre o imaginário nacional e que ao chegar ao poder em 1999 montou uma estrutura formada por políticos e intelectuais com o intuito de oficializar, acelerar e ratificar o processo de fabricação de sua imagem através de obras amplamente divulgadas, a qual a pesquisa categorizou como a História Oficial.

Thiago Reisdorfer (Unioeste) Diálogos de alteridade na cidade: Viveres universitários em Marechal Cândido Rondon-PR Objetiva-se a partir desta comunicação discutir a vivência de jovens universitários da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), na cidade de Marechal Cândido Rondon, no Oeste do Paraná. A pesquisa da qual esta comunicação decorre desenvolve-se junto ao Programa de Pós-Graduação, em nível de Mestrado em História, da mesma instituição e tem como objetivo entender os múltiplos viveres, representações e estratégias de identidade construídas e vivenciadas a partir da presença de universitários na cidade. Pensamos a categoria cidade, como aquela constituída pelo e a partir do real, sendo pelo mesmo atravessada e constituindo-se, desta forma, num lugar privilegiado de disputas, trocas, diálogos, que tem, entre outros, a reelaboração cultural como tema. Os universitários são vistos nesta perspectiva a partir da noção de que, enquanto grupos sociais heterogêneos, a partir das suas práticas citadinas, estabelecem com a mesma, tensões e movimentos de alteridade e reelaboração cultural. Para a construção do diálogo realizado, tomam-se basicamente como fontes, entrevistas orais com universitários que vivenciaram e vivenciam a instituição e a cidade de Marechal Cândido Rondon em diversos tempos. Entende-se as entrevistas como lugares de construção de diálogos que as ultrapassam, constituindo-se na, a partir e para a trama social de embates e alteridades que compõem a vida citadina.

Tiago de Araujo Camillo (IFES) Por um retrato urbano do Espírito Santo Provincial: Nota sobre o “Fundo Fazenda” e seu potencial de suporte à investigação histórica A História da expansão das freguesias, vilas e cidades no Espírito Santo Provincial ainda está por ser escrita. Pouco se esclareceu, por exemplo, acerca das relações existentes entre a concentração imobiliária e a expansão da atividade cafeeira e movimentos imigratórios. Diante desta constatação, debruçando-se sobre a documentação do “Fundo Fazenda”, este trabalho tem por objetivo discutir o potencial de parte do universo de documentos primários que podem possibilitar a construção desse importante capítulo de História Regional. Tal corpo documental — sob

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a guarda do Arquivo Público do Estadual — é composto por fontes originadas da atividade tributária da Província do Espírito Santo no decorrer do século XIX, dentre as quais estão livros e registros em talonários da arrecadação da “décima urbana”, imposto cobrado no Brasil oitocentista sobre a posse de prédios existentes no interior dos núcleos de povoamento.

Tito Souza da Silva (Ufes) Questão nacional e liberalismo argentino no século XIX Após um breve período de unidade durante o processo de Independência, a história política da Argentina do século XIX fora caracterizada pela clara divisão entre a cidade de Buenos Aires e as demais províncias. Logo, a questão da unidade nacional tornou-se objeto de reflexão dos intelectuais que buscaram adaptar as idéias políticas européias, principalmente o liberalismo, ao contexto específico argentino. Por conseguinte, destacou-se o pensamento de Juan Bautista Alberdi (1810-1884), o qual propôs um modelo constitucional centralizador para essa República ainda em construção. Dessa forma, em El crimen de la guerra, Alberdi destacou o caráter pacificador do comércio, bem como o cristianismo como paradigma moral para essa nova sociedade. Tais elementos seriam fundamentais para que a Nação lograsse o mesmo progresso alcançado pelas nações civilizadas e industrializadas. Esta comunicação tem por objetivo analisar a particularidade do liberalismo argentino expressa nas idéias de Juan Bautista Alberdi e sua contribuição na constituição do Estado-nacional argentino.

Tulio de Oliveira Tortoriello (UFSJ) São João del-Rei: Um patrimônio histórico e cultural na contemporaneidade No presente trabalho pretendo discutir a relação de São João del-Rei com seu patrimônio histórico e cultural na contemporaneidade, numa sociedade pós-moderna e plural. Ao contrário de outras cidades mineiras do ciclo do ouro, fundadas na mesma época e que tiveram seu apogeu durante o século XVIII até meados do século XIX, São João del-Rei continuou a se desenvolver durante os séculos XIX e XX, encontrando no comércio e na agropecuária e, posteriormente em algumas indústrias têxteis, importante fonte de renda. Este desenvolvimento praticamente perene da cidade, que chegou ao século XXI como um pólo potencialmente turístico e cultural, e as várias mudanças por que passou nestes trezentos anos fizeram com que ela absorvesse as características de várias épocas, em seu patrimônio histórico e cultural, na sua cultura e na vida social, vislumbrando-se, atualmente, uma identidade cultural múltipla para a cidade. Como membro do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural da cidade durante cinco anos e por ter participado de várias discussões sobre a preservação do patrimônio histórico da cidade, usarei o exemplo de um episódio envolvendo a utilização do coreto da cidade pela Universidade Federal

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de São João del-Rei num festival de cultura aberto à população, em julho de 2008, para mostrar como podem ocorrer conflitos e dissociação entre as idéias de um órgão institucional de proteção do patrimônio e os anseios da população em usufruir de um monumento público, em nossos dias, numa sociedade multicultural, em que não há mais uma hierarquia entre o tradicional e o moderno nem entre o culto e o popular. Utilizarei teorias de autores contemporâneos, como Néstor Canclini, antropólogo argentino que estuda a cultura latino-americana e suas peculiaridades frente a outras culturas, para mostrar como é possível haver mais liberdade e criatividade nas relações das cidades com seus monumentos históricos e culturais.

Ueber José de Oliveira (Ufes) Mudanças no cotidiano de poder, no Espírito Santo: Da hegemonia rural para a urbano-industrial (1950-1980) Trata do processo de atualização histórica vivenciado entre as décadas de 1950 e 1980, no qual, a partir das razões de Estado, se implementaram iniciativas de políticas públicas e investimentos para o desenvolvimento urbano-industrial, comercial e financeiro, que implicaram em transformações na ordem estabelecida, quando, a partir de então, aspectos culturais próprios do mundo urbano passaram a prevalecer sobre elementos da cultura política rural, o que implicou, por sua vez, em profundas modificações no âmbito político-eleitoral. A análise pretende dar ênfase às mudanças verificadas no modus operandi das campanhas, dos arranjos políticos bem como das relações de poder inerentes aos pleitos eleitorais, no Estado do Espírito Santo, observando a confluência entre as novas tecnologias da informação e as práticas de propaganda política a partir da década de 1950, manifestado, de modo especial, a partir da campanha de 1954, quando caiu o governo do PSD — que se perpetuava através do revezamento entre Jones dos Santos Neves e Carlos Lindenberg no poder — em favor da ascensão de agrupamentos oposicionistas que, após sucessivas derrotas sofridas em disputas para o executivo, venceram com Francisco Lacerda de Aguiar. A indicada confluência entre as novas tecnologias da informação e as práticas de propaganda política avançam no contexto da ditadura militar (1964-1985) e a análise desse processo, permite ter uma visão mais ampliada das transformações qualitativas que, após a redemocratização iniciada em meados da década de 1970, levou à incorporação destes recursos técnicos e procedimentais às estratégias dos candidatos, propiciando, em estágio avançado, o surgimento daquilo que se convencionou chamar de Campanhas Modernizadas.

Valdete Côco (Ufes) Instituições de educação infantil na paisagem social A comunicação, vinculada a pesquisa Mapeamento da Educação Infantil (EI) no Espírito Santo, explora as possibilidades de diálogo das instituições de EI com outros espaços artístico-cul-

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turais (cinemas, museus, bibliotecas, teatro, praças, parques e associações recreativas) para o desenvolvimento de suas ações educativas, no contexto das cidades. Nesse propósito focaliza a configuração das instituições de EI, em face da proposição de padrões de construção nas políticas públicas para essa etapa da educação básica, sua dinâmica de funcionamento (em períodos letivos no horário parcial ou integral, em fins de semana e em períodos de férias), os processos de movimentação para inserção das crianças em outros espaços educativos e a disponibilidade de espaços artístico-culturais no cenário dos municípios do ES. Nessa perspectiva, tomamos os espaços habilitados pelas crianças pequenas e as sociabilidades vividas cotidianamente inseridos no percurso de institucionalização da infância, com vistas a evidenciar a participação das crianças nos espaços sociais e as demandas de políticas públicas que reconheçam a população infantil em seus direitos educacionais.

Valter Lenine Fernandes (Unirio) & Victor Hugo Abril (Unirio) Espaços de poder: O cotidiano da ilicitude no Rio de Janeiro colonial Este trabalho analisa os jogos de poder encetados entre instituições coloniais presentes na cidade do Rio de Janeiro durante a primeira metade do século XVIII e instituições do reino para efetivar a colonização. Nessa perspectiva, a Câmara, a Fazenda Real e a Alfândega eram algumas dessas instituições que constituíram o cenário da cidade. Ao discutir os grupos sociais que compuseram o espaço das referidas instituições nos deteremos na análise dos relatos da nobreza da terra, dos homens de negócio e dos governadores coloniais. Muitas dessas correspondências remetem a conflitos, a união dos grupos sociais e descrevem caminhos e descaminhos nos portos do Rio de Janeiro. Essa cidade também é analisada sob o olhar das instituições metropolitanas. Como essas notícias circulavam no reino? Qual era o papel do Conselho Ultramarino no cotidiano da cidade do Rio de Janeiro? Na realidade, as notícias chegavam ao reino através de inúmeras correspondências enviadas pela Câmara que representava os poderes locais, pela Fazenda Real que era responsável pela fiscalização dos direitos do reino, pela Alfândega que cobrava a dízima das fazendas que vinham nas frotas das cidades de Lisboa e do Porto e, por último, pelo governador, o representante do rei na cidade.

Valter Pires Pereira (Ufes) Hegemonias rural e urbana na formação social brasileira (1930-1980) Trata do processo de atualização histórica vivenciado em meio século, no qual, a partir das razões de Estado, se implementaram iniciativas de políticas públicas e investimentos para o desenvolvimento urbano-industrial, comercial e financeiro, com repercussões sociais, que implicaram em mudanças no âmbito da hegemonia de poder. São considerados os efeitos do

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desenvolvimentismo em prol da hegemonia dos interesses urbanos sobre os rurais, bem como o significado do regime militar na consolidação dessa inversão de hegemonias.

Vanderson R. Pedruzzi Gaburo (Ufes) “Os Jagunços”: O sertanejo e a Guerra de Canudos A Guerra de Canudos representou um importante momento na história do país, sendo imortalizada em Os Sertões de Euclides da Cunha, apresentando um povo até então ignorado por parte das elites intelectuais que tinham seus olhares voltados para além do Atlântico. Porém, Euclides não foi o pioneiro nessa abordagem. O livro Os Jagunços, de Afonso Arinos publicado em 1898, cinco anos antes de Os Sertões, representa importante documento de valorização do sertanejo e de sua cultura como elo da nacionalidade brasileira e apresenta a crueldade com que fora combatido o movimento religioso de Canudos.

Vanessa Silva de Faria (UFJF) Eleições e poder em um município mineiro no período imperial: O perfil da população votante em Juiz de Fora O sistema eleitoral adotado no Império do Brasil estabeleceu, pelo art. 90 e por uma série de leis subsequentes, as eleições indiretas e em dois graus. Nas eleições primárias votavam aqueles que escolhiam os eleitores responsáveis pelas eleições secundárias. No entanto, em 1881, com a Lei Saraiva, as eleições deixaram de ser indiretas e adotou-se o sistema de eleições diretas em todo o país. De acordo com os critérios de inclusão eleitoral adotados, ficavam excluídos do processo a população escrava, as mulheres livres e os homens livres com renda inferior a 200 mil réis e/ ou menores de 25 anos (com algumas exceções), os praças de pré do Exército, da Armada e da força policial paga, assim como os marinheiros dos navios de guerra. Neste texto focaremos apenas o universo dos votantes (elegíveis ou não elegíveis), que se constitui, basicamente, por homens livres, maiores de 25 anos e que possuem alguma renda. Através do exame das listas de qualificação de votantes referentes ao distrito sede de Juiz de Fora (1867-1882) pretendemos traçar um perfil do universo de votantes correlacionando os dados referentes à idade, renda, instrução, residência e atividade profissional buscando, dessa maneira, caracterizar as diferenças e as semelhanças entre as áreas mais urbanizadas e as menos urbanizadas deste município. Apesar de ter se originado como ponto de paragem àqueles que circulavam pelo Caminho Novo no século XVIII, a urbanização de Juiz de Fora se deu apenas a partir da segunda metade do século XIX, sobretudo, atrelado ao desenvolvimento das lavouras de café na região. E a instalação de agência bancárias, dos correios e telégrafos, telefones e energia elétrica somadas à construção de estradas de ferro e de rodagem e a um significativo processo de industrialização

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já nas últimas décadas do oitocentos são indicativos do acelerado processo de transformação e ocupação do espaço juizforano.

Vera Lúcia Bogéa Borges (UERJ/ Colégio Pedro II) A Capital Federal na campanha eleitoral à presidência (1909-1910) A cidade do Rio de Janeiro, então capital federal, é o ponto de partida escolhido para nossa discussão. Na administração do presidente Campos Sales (1898-1902), inaugurou-se a política da capital, isto é, nos estados se fazia a política e, por sua vez, a capital administrava o país. Desta forma, era importante harmonizar os interesses gerais e redefinir as relações centro (capital)-periferia (demais áreas). Assim, nesta vinculação, era importante garantir a ordem, elemento central da República e característica si ne qua non de uma grande metrópole, capaz de superar instabilidades como em episódios que comprometiam a paz. No processo eleitoral à presidência do Brasil, entre 1909 e 1910, o Marechal Hermes da Fonseca e o civilista Rui Barbosa concorreram em chapas distintas. Naquele momento, o distrito federal servia tanto de palanque aos dois candidatos — recebidos de maneira ruidosa ao retornarem de suas excursões eleitorais e da realização dos meetings — quanto também servia, já há algum tempo, de lócus para as manifestações de críticas e da luta pelas reivindicações da população. Neste último caso, muitas vezes, motivadas pelas necessidades por reformas e mudanças nos hábitos políticos que vigoravam na Primeira República.

Vera Lucia Nehls Dias (UDESC) O bairro: Território e identidade de populações de baixa renda em Florianópolis/SC e Le Mans/França Esta pesquisa buscou compreender e cartografar os espaços de vida das populações de baixa renda de três assentamentos urbanos da cidade de Florianópolis: Vila Cachoeira, Conjunto Via Expressa e Vila União em comparação com moradores de habitações sociais de dois bairros distintos — o Sablons e o Bruyères — da cidade de Le Mans na França. Os assentamentos no Brasil foram criados entre os anos de 1990 e 2000 e representam parte dos esforços do poder público municipal em resolver problemas relacionados à habitação de populações anteriormente faveladas ou localizadas em áreas de risco. Na França, as habitações sociais tem origem mais remota (se comparada ao Brasil), mas também representam respostas do poder público municipal frente aos problemas de habitação do município. A metodologia utilizada foi baseada em revisão bibliográfica, entrevistas com os moradores, elaboração de mapas mentais, pesquisa participante e enquetes que foram aplicadas em população representativa das cinco localidades (pelo menos 100 moradores de cada). Também foram entrevistados os representantes das associações de bairro, igrejas, postos de saúde (quando havia) e escolas localizadas nas proximida-

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des. Pesquisa documental foi realizada em jornais e panfletos para conhecer os discursos acerca dos moradores. Os espaços de vida foram discutidos à luz da teoria que aborda conceitos como o de território e identidade. Os objetivos da pesquisa intentaram refletir sobre os espaços de vida das populações de baixa renda e a apropriação que estes fazem do espaço da cidade, bem como conhecer os limites do espaço ocupado. Nesta escala, destacou-se a categoria “bairro” como referência para estudos de geografia social e urbana.

Vera Lúcia Silva Vieira (UNESP/Franca) Cidade, memória e literatura: Uma leitura de “Não verás país nenhum” e “Bebel que a cidade comeu”, de Ignácio de Loyola Brandão Numa postura interdisciplinar, percebemos o espaço urbano como uma miríade de sociabilidades, um livro infindável que está sempre sendo reescrito, (re) construído, propiciando múltiplas possibilidades de interpretação. A cidade, como uma produção humana é plural e dinâmica, não cessa de renovar-se tanto em seus aspectos materiais como em suas sensibilidades. Não é somente produto da racionalidade humana, é também emoção e expressão da cultura dos grupos que nela vivem e que constroem diferentes representações e identidades culturais. A cidade, lugar que concomitantemente atemoriza e fascina, apresenta formas variadas de manifestações de valores e símbolos que disputam espaço, podendo ser lida e interpretada através de suas imagens e das relações tecidas por seus sujeitos. Ignácio de Loyola Brandão, jornalista e escritor sensível às questões que envolvem a cidade, percorre seus caminhos com o olhar atento e ávido para observá-los cruamente, revelando suas entranhas, sensibilidades e os ressentimentos que brotam do concreto de suas ruas e lugares, dialogando com um momento específico da história brasileira — a ditadura militar de 1964. Dessa forma, produz uma memória sobre a cidade de São Paulo, apresentando-nos densas amostras das experiências urbanas em seu cotidiano e as lutas imagéticas que aí se fazem presentes e são constantemente redimensionadas.

Victor Emmanuel Teixeira Mendes Abalada (Unirio) Metastasio na Península Ibérica: Ópera e poder na Lisboa do século XVIII Este trabalho visa ressaltar a relação entre a ópera, vista tanto como um espetáculo cortesão quanto citadino, e o poder no século XVIII. Partindo da afirmação tardia do gênero lírico em Portugal e tendo este caso como modelo a ser comparado com a situação de outras capitais européias, busca-se, através do estudo dos libretos de Pietro Metastasio, de suas traduções e representações em Lisboa, mostrar o papel da ópera como parte de cotidiano cultural urbano da sociedade de corte que tenta ser estruturada no período pós-Restauração e, como tal, ressaltar como o teatro lírico pode servir como instrumento de poder, capaz de espelhar e sacralizar relações sociais, além

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de servir como meio de angariação de poder ao monarca. O processo de desenvolvimento da ópera em terras lusas culminaria com a construção da Ópera do Tejo em 1755, rico teatro, que, infelizmente, durou apenas sete meses, vindo a ser destruído pelo terremoto de primeiro de novembro, mas que fora inaugurado com extraordinária pompa a 2 de abril com Alessandro nelle Indie, um dos devaneios Antigos de Metastasio, em versão musicada por Davide Perez, mostrando o papel crucial do poeta italiano na formação tanto de um gosto operístico português quanto de, indiretamente, uma nova mentalidade em Portugal, como pretendemos demonstrar.

Victor Reis Mazzei (Ufes) A censura do jornal “A Gazeta”, nos Anos de Chumbo (1968-1974) Em 2 de abril de 1964 tem início um dos períodos mais conturbados da história do Brasil, quando se instaura a Ditadura Militar. Com ela, abria-se, então, um regime de exceção no Brasil que, se a princípio, parecia de caráter provisório, com o intuito de prover a recuperação do país da dramática situação econômica e de insatisfação social, geradas no governo dos presidentes anteriores, Jânio Quadros e João Goulart, acabou ganhando contornos mais duradouros, nos 21 anos em que vigorou. No período multiplicaram-se os órgãos de vigilância e repressão, os quais agiam com enorme autonomia e impunidade. Os suspeitos eram submetidos a interrogatórios e torturas. Descortina-se uma era de cassações, prisões e torturas. Políticos, artistas, intelectuais, e estudantes com ligações a grupo comunistas ou que demonstrassem uma suposta afinidade à ideologia socialista estavam sob a constante mira dos militares. A imprensa, constituída por jornais, revistas, emissoras de televisão e rádio, que, em sua maioria, havia apoiado a tomada do poder pelos militares, se percebe inserida em uma “cultura do medo”, com a instituição da censura sobre o que poderia ou não ser publicado. Pouco documentada, percebe-se que esse cerceamento estendeu-se também à atividade publicitária, seja impedindo a publicação de certos materiais ou até pressionando empresas a não anunciar em certos veículos de comunicação considerados simpatizantes do comunismo. A proposta de estudo desse trabalho tem seu foco nesse ponto: investigar como operou o processo de censura no mercado publicitário nos Anos de Chumbo (1968-1974), no Jornal A Gazeta, do Espírito Santo.

Vincent Lemire (UPE) La lutte quotidienne pour l’approvisionnement en eau potable à Jérusalem, entre conflits de pouvoirs et conflits de mémoires (1850-1950) Vincent Lemire (UPE). Il est très délicat de rendre compte de la vie « quotidienne » des habitants d’une ville telle que Jérusalem: ville-sanctuaire saturée de mémoires concurrentes, ville-bataille traversée d’innombrables frontières, Jérusalem est plus que toute autre une ville patrimoniali-

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sée et instrumentalisée. Pour retrouver la vie quotidienne de ses habitants, sous le sanctuaire et sous le champ de bataille, sans pour autant perdre de vue la singularité des enjeux symboliques et stratégiques qui s’y déploient, le prisme hydraulique se révèle d’une grande efficacité: parce que l’eau est à la fois un besoin domestique quotidien et le support des rites religieux, parce que les réseaux d’adduction hydraulique sont à la fois le point de départ des politiques de modernisation urbaine et le vecteur de l’archéologie biblique, l’hydro-histoire d’une ville telle que Jérusalem permet de dépasser les cloisons artificielles entre histoire profane et histoire religieuse, entre histoire sociale et histoire politique, entre histoire de la ville dans sa «quotidienneté» et histoire de la ville dans sa dimension politique et symbolique. Les processus et les procédures qui accompagnent la mise en place des réseaux techniques urbains sont incontestablement des enjeux de pouvoirs. Outils d’appropriation entre les différents pouvoirs qui gouvernent la ville, les réseaux techniques urbains apparaissent également comme des réseaux de mémoires, car leurs dessins sont le résultat d’une négociation entre des héritages multiples. Les réseaux techniques paraissent ainsi capables de rendre compte des phénomènes cumulatifs qui constituent le tissu urbain: hérités, restaurés, détournés, réinvestis, ils conjuguent le temps long de la mémoire urbaine et le temps court de l’action politique, tout en rendant compte de la vie quotidienne de ses habitants. Entre le décollage démographique qui intervient vers 1840 et la mise en place en 1936 d’une gigantesque canalisation puisant son eau dans la plaine humide de Jaffa/Tel-Aviv, Jérusalem manque d’eau potable, pour les besoins domestiques les plus élémentaires. Située au sommet de la dorsale palestinienne, à quelque 800 mètres d’altitude, la ville sainte souffre d’une pluviométrie aléatoire et contraignante. Cette «soif de Jérusalem» provoque des conflits quotidiens et produit de l’archive, ce qui permet le travail de l’historien. Pour scander cette hydro-histoire de la ville sainte, c’est la logique des sources qui impose ses propres rythmes. Trois temporalités ou trois «régimes d’historicité» s’articulent ainsi autour des infrastructures hydrauliques de Jérusalem: un temps de la mémoire, dilué dans la longue durée du souvenir biblique et de la commémoration religieuse ; un temps de l’administration, scandé par les différentes institutions ottomanes en charge du dossier; un temps de la guerre, enfin, imposé par l’émergence de la dimension stratégique du problème hydraulique.

Vítor Castro de Oliveira (Ufes) Liberalismo e burguesia: estudo sobre Alexis de Tocqueville Alexis de Tocqueville, reputado pensador liberal, foi um crítico contundente do modus vivendi burguês, que considerava portador dos vícios do novo estado social democrático e responsável, pelo menos parcialmente, pelo fracasso da Monarquia de Julho. Essa ofensiva não poderia ser compreendida nos quadros de uma historiografia que reduzisse a história do liberalismo político àquela do desenvolvimento da economia capitalista. Como colocou Rosanvallon, se na Inglaterra a distinção entre liberalismo político e econômico não tem sentido, ela é fundamental

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quando se trata da realidade francesa. O estudo da obra de Tocqueville pode, portanto, revelar as complexidades das relações entre liberalismo e burguesia no início do século XIX, corroborando a idéia de que “é impossível falar em geral e no singular de um pensamento liberal moderno”. Pois, como definiu Skinner, a mitologia da coerência consiste justamente em “dar às reflexões de diversos autores clássicos uma coerência e, em geral, uma aparência de sistema fechado que talvez nunca tenham alcançado e nem sequer pretendido alcançar”.

Vitor Silva Mendonça (Ufes) A cidade de Alfredo Chaves: Reflexões do contexto histórico à realidade sanitária atual A cidade de Alfredo Chaves foi colonizada inicialmente por imigrantes italianos, por volta do ano de 1877, que se estabeleceram nas proximidades do rio Benevente, formando um povoado denominado de Alto Benevente. As atividades de trabalho estavam concentradas na lavoura cafeeira. Passado alguns anos, o imperador Dom Pedro II envia o engenheiro Alfredo Rodrigues Fernandes Chaves para a então região, com a finalidade de expulsar invasores indígenas de fazendas da localidade, fato esse que deu o nome ao município. Atualmente, Alfredo Chaves possui aproximadamente 14.440 habitantes, com a economia voltada para a agricultura e agroturismo, principalmente. Grandes transformações foram ocorrendo na cidade, e com a saúde não foi diferente. Desse modo, este trabalho busca apresentar uma reflexão sobre o processo histórico da situação sanitária do município de Alfredo Chaves e suas influências na atual configuração do sistema de saúde. Percebe-se, dentre outros aspectos, que assim como o processo histórico nacional, o município enfrentou dificuldades para estruturação do sistema sanitário, pois da República Velha até a década de 1970 a população rural e os não trabalhadores ficavam sem acesso à saúde, já que não se configurava a idéia de direito à saúde, nem tão pouco a noção de saúde para quem precisasse. Somente com o advento da Nova República foi que a situação começa a tomar novos rumos e apresentar maior abrangência sanitária, culminando com a constituição de 1988 que promoveu um marco histórico na saúde brasileira e proporcionou melhor estrutura ao serviço de saúde da cidade de Alfredo Chaves.

Viviane Vieira Vasconcelos (APEES) O Fazer Arquivístico no Fundo DOPS/ES A presente comunicação pretende expor a experiência vivenciada pelos membros do Projeto Memórias Reveladas, evidenciando as dificuldades e os caminhos encontrados para o tratamento do acervo do Fundo DOPS/ES, que assim como grande parte dos arquivos oriundos de Instituições Públicas, principalmente no período contemplado pelo acervo em questão, foi acumulado e recolhido recebendo, minimamente, uma organização empírica. O fazer arquivístico

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ultrapassa o trabalho manual e mecânico, trata-se de um trabalho criterioso, investigativo, intelectual, científico e sistêmico. As relações entre as ciências, principalmente entre a Arquivologia e a História, quando bem aplicadas, possibilitam um ganho a toda a humanidade que terá sua história contada e seu acesso garantido, através dos registros arquivísticos.

Vladimir Ferreira de Ávila (PUC-RS) A institucionalização dos serviços de limpeza e coleta de lixo na Porto Alegre oitocentista: Um processo-cotidiano O trabalho de dissertação que estamos desenvolvendo, aborda do ponto de vista histórico, a forma de como teria se processado a institucionalização dos serviços de limpeza e coleta de lixo da cidade de Porto Alegre, no ano de 1898. Nosso objetivo central consiste em compreender como ocorreu essa institucionalização em tal cidade. Para isso, realizamos um estudo que articula dois conceitos que consideramos chave para a produção do conhecimento histórico: o processo histórico e o cotidiano. O primeiro busca entender a institucionalização como sendo fruto de um processo histórico, baseado em uma longa duração, o qual remete-se como um componente complexo para além da circunscrição do espaço e do tempo da própria cidade de Porto Alegre, no século XIX. O segundo trabalha a institucionalização diante a percepção do cotidiano, ou a vida cotidiana dos habitantes, da então capital da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, entre 1850 e 1898. Nesta segunda parte, tratamos de analisar os diferentes discursos, costumes e hábitos dos habitantes da cidade, perante a ideia de lixo, sujeira e limpeza pública, como componentes específicos para o entendimento da ocorrência desta institucionalização. Adiante, pretendemos desenvolver também este assunto, mediante o entendimento da institucionalização como resultado de uma junção das duas terminologias anteriores, a que denominamos de processo-cotidiano ou cotidiano-processual na história.

Waldefrankly Rolim de Almeida Santos (UFPE) Cidade, literatura e memórias urbanas nas representações dos escritores e memorialistas sobre os espaços urbanos aracajuanos Nos últimos anos os estudos sobre representações sociais têm adquirido bastante espaço no conjunto das pesquisas científicas desenvolvidas nas ciências humanas e sociais. Por sua vez, nos estudos urbanos, as análises representacionais têm permitido explorar o universo urbano e as diversas percepções elaboradas pelos vários grupos sociais que o compõe, bem como as relações de poder que se inscrevem em seu interior. Nesse sentido, os diversos discursos produzidos sobre a cidade e seus atores precisam ser investigados. O objetivo deste texto, portanto, é analisar o papel da produção dos intelectuais sergipanos e/ou dos que escreveram sobre Sergipe, particu-

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larmente historiadores eruditos, memorialistas, poetas e romancistas diversos quando trataram da cidade de Aracaju, no sentido de evidenciar as representações elaboradas por eles sobre os espaços urbanos da cidade. Utilizaremos para esse fim um conjunto de fontes bibliográficas caracterizadas por poemas, romances e memórias e verificaremos os problemas que esses discursos podem apresentar para os estudos urbanos sobre Aracaju.

Wallace Manoel Hupp (Ufes) “Estrada de Ferro Central do Brasil” e “Morro da favela”: Uma versão do “Projeto Araribá” para a urbanização na Primeira República Desde o século XIX, o livro didático se configura como um importante recurso para a educação básica no Brasil. Sua origem está vinculada à criação do sistema educacional e às tentativas do Estado de controlar o saber a ser ensinado. Hoje, no entanto, é considerado por muitos um objeto cultural (BITTENCOURT, 1993, 2008), caracterizado por uma complexidade que não se limita apenas à função de suporte deste saber; é considerado também uma mercadoria e um meio de comunicação, transmissor de valores e de políticas educacionais, despertando, por isso, o interesse de pesquisadores da área de Educação. Sendo assim, pretendemos analisar neste trabalho o sentido atribuído ao processo de urbanização do Brasil na Primeira República através do uso que os autores da coleção Projeto Araribá (2005) fazem da reprodução das telas Estrada de Ferro Central do Brasil (1924) e Morro da Favela (1922), de Tarsila do Amaral. Tal reflexão representa um aspecto da pesquisa de Mestrado que atualmente desenvolvemos no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Espírito Santo, cujo interesse recai sobre as possibilidades de produção do conhecimento histórico a partir das imagens, consideradas evidências visuais, dos livros didáticos de História. Nesse sentido, utilizamos, como base, a coleção Projeto Araribá (2005); os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) e o Guia do livro didático PNLD (2008). Burke (2004) e Bittencourt (1993, 2004, 2008) compõem os aportes teóricos e metodológicos que embasam nosso trabalho.

Wania Amélia Belchior Mesquita (UFF) Percepções dos moradores de favela de Campos dos Goytacazes: Religião, violência e vida cotidiana Os moradores de favelas da cidade de Campos dos Goytacazes são estigmatizados por viverem em proximidade territorial com a criminalidade violenta, especialmente narcotraficantes. Nestas condições, o pentecostalismo surge como uma variável simbolicamente relevante, capaz de alterar as formas de sociabilidade do local, bem como de facilitar a inserção dos fiéis numa rede social que amplia o acesso aos serviços urbanos e às outras instâncias da cidade. Além disso, os líderes

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religiosos pentecostais intervêm no narcotráfico destes territórios, atenuando a violência praticada pelos traficantes. Neste estudo, buscar-se-á através de métodos qualitativos — acompanhamento das estratégias dos fiéis pentecostais moradores e entrevistas — compreender como essa população lida com a violência em seu cotidiano e quais as alternativas/recursos de que dispõe para reduzir a insegurança e o risco nas favelas. Visa-se compreender as formas como os pentecostais constroem suas relações e o significado destas num contexto de ordem violenta.

Wendryll José Bento Tavares (UFG) Dion Cássio e as festividades nos governos de Septímio Severo e Caracala A apresentação do trabalho tem por objetivo a divulgação do projeto de pesquisa “A construção de identidades nos governos de Septímio Severo e Caracala, a partir da leitura de Dion Cássio”. Um estudo baseado na obra-documento História Romana, do autor Dion Cássio, nascido na região da Bithynia e que viveu boa parte da sua vida em Roma acabando por se tornar membro do Senado. Durante os governos dos imperadores estudados, o autor além de relatar as atitudes políticas desses homens, mostrou também diversas festividades promovidas pelos mesmos em sua obra. Partindo da leitura desta, abre-se a discussão sobre diversas problemáticas e a comunicação visa justamente apresentar algumas delas que são objeto de estudo no projeto de pesquisa mencionado.

William de Souza Martins (USS/UGF) Os viajantes estrangeiros, os letrados e as festas religiosas no Rio de Janeiro: O olhar civilizador (c. 1820-1860) A comunicação pretende analisar as representações construídas por viajantes estrangeiros, por letrados que colaboravam na imprensa e por alguns literatos da época acerca das festas religiosas populares celebradas na Corte do Império. A hipótese fundamental é que as referidas representações agrupavam-se em torno de dois eixos, a saber: uma perspectiva “civilizadora”, que considerava as práticas religiosas populares sinais de um atraso a ser superado; e outra mais tolerante em relação às referidas práticas, identificando-as como ocasiões legítimas de lazer e devoção para a população. Além do conceito de representação de R. Chartier, são empregados os conceitos de campo intelectual de Pierre Bourdieu e de cultura popular de Mikhail Bakhtin. As fontes analisadas são relatos de viajantes franceses, ingleses e norte-americanos que retratavam o cotidiano da cidade; periódicos que comentavam a vida social e os costumes; as Comédias, de Martins Pena e o romance Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida.

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Yllan de Mattos (UFF) A última inquisição: Os meios de ação e funcionamento do Santo Ofício no GrãoPará Pombalino (1763-1769) Esta comunicação parte do pressuposto de que a visitação do Santo Ofício ao Estado do Grão-Pará serviu ao projeto pombalino na tarefa de conhecer as gentes e as terras do Cabo Norte. O inquisidor Giraldo José de Abranches permaneceu em Belém confiado à responsabilidade da diocese, como vigário capitular. Portanto, se a Visitação, por um lado, era parte indissociável e complementar das mudanças no funcionamento da Inquisição portuguesa, por outro, esteve necessariamente circunstanciada pela política regalista josefina e pela disposição adicional da Coroa em fazer-se presente na região por intermédio de importantes transformações político-administrativas.

Instituições Participantes

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Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (APEES) Célula Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo (Célula EMAU) Centro de Ensino Superior Anísio Teixeira (Cesat) Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet/Petrópolis) Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) Centro Universitário São Camilo – ES Centro Universitário UNA – MG Centro Universitário Vila Velha (UVV) Colégio Amadeus Colégio Pedro II Faculdade Brasileira Univix Faculdade da Região Serrana (Farese/ES) Faculdade de Educação (FAED) Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Alegre (Fafia) Faculdade Novo Milênio Faculdade Saberes Faculdade São Geraldo Faculdade Teológica Unida (FTU) Faculdade Unida de Vitória Faculdades Cearenses (FAC) Faculdades Integradas Simonsen (FIS) Faculdades Vale (Favale) Fundação Educacional de Divinópolis (Funedi) Fundação Educacional de Florianópolis (FEF) Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Fundação para a Ciência e Tecnologia (FTC) Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE) Grupo de Estudos Nietzsche (GEN) Instituto Estadual do Patrimônio Cultural/RJ (Inepac-RJ) Instituto Êxito de Pós-Graduação (IEPG) Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE/IUL) Polícia Militar (PM) Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC – MG) Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC – SP) Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC – RJ)

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Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC – RS) Prefeitura Municipal de Vitória (PMV) The Open University Universidade de Brasília (UnB) Universidade de Pernambuco (UPE) Universidade de São Paulo (USP) Universidade do Estado da Bahia (UNEB) Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Universidade do Minho (UMinho) Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Universidade Estadual de Goiás (UEG) Universidade Estadual de Londrina (UEL) Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG) Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF) Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) Universidade Estadual Paulista (UNESP) Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) Universidade Federal de Goiás (UFG) Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) Universidade Federal de Viçosa (UFV) Universidade Federal do Ceará (UFC) Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) Universidade Federal do Pará (UFPA) Universidade Federal do Paraná (UFPR)

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Universidade Federal do Piauí (UFPI) Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Universidade Federal Fluminense (UFF) Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) Universidade Gama Filho (UGF) Universidade Presidente Antônio Carlos (Unipac) Universidade Salgado de Oliveira (Universo) Universidade Severino Sombra (USS)

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