Cinco Ensaios Sobre a Motivação Humana

June 4, 2017 | Autor: Mamlio Martinez | Categoria: Motivation (Psychology)
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Centro de Competências de Artes e Humanidades
Mestrado em Psicologia da Educação
Aprofundamentos em Psicologia da Educação I
Ano letivo 2015/2016
1º Semestre



RECENSÃO CRÍTICA
Cinco Ensaios Sobre a Motivação Humana
Manuel Viegas Abreu

Docente: Professora Doutora Glória Franco
Discente: Mamlio Martinez


Esta recensão objetiva analisar os percursos contemporâneos da reestruturação das relações entre o Homem, a Natureza e a Cultura. São abordados aspetos relativos à essência das necessidades humanas implícitas nos comportamentos da vinculação e da coesão social, à relação existente entre as necessidades, os interesses, os valores e o desenvolvimento das potencialidades pessoais, e aos fatores favorecedores e inibidores da emergência de comportamentos agressivos, presentes no livro enunciado. O foco central assenta na temática motivacional, baseada na Teoria Relacional desenvolvida por Joseph Nuttin.



Abreu, M. V. (1998). Cinco Ensaios sobre a Motivação. Coimbra: Livraria Almedina.

Manuel Amâncio Viegas Abreu nasceu em Olhão, a 8 de Abril de 1936. Atualmente é Professor Catedrático Jubilado da Universidade de Coimbra, investigador do Instituto de Psicologia Cognitiva, Desenvolvimento Vocacional e Social, e membro da Academia de Ciências de Lisboa. A sua formação académica reúne uma licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas, alcançada em 1961 pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, e uma outra em Psicologia, em 1968 pela Fundação Calouste Gulbenkian na Universidade Católica de Lovaina. Nesta mesma altura, apresentou uma dissertação intitulada Contribution à l'étude expérimentale de la perception des réussites et des échecs (Contribuição para o estudo experimental da perceção de sucesso e fracasso), sob orientação do professor Joseph Nuttin. Acrescente-se, ainda, um doutoramento em Psicologia Experimental, no ano de 1978, na Universidade de Coimbra. Adicionalmente, exerceu funções docentes na Universidade de Coimbra desde 1963, na Faculdade de Letras e, posteriormente, entre 1976-1977, no Curso Superior de Psicologia. Tal originou, em 1980, a atual Faculdade de Psicologia e de Ciências de Educação. A sua área científica de conveniência e investigação tem-se centrado na sua formação e em diversas temáticas educacionais. Publicou diversas obras, entre as quais se destaca o presente livro, e artigos em revistas científicas, tais como "Para além dos exames" (2005). Além disso, tem participado, ativamente, em congressos, colóquios e conferências científicas, no país e no estrangeiro. Refira-se, também, que é membro de várias associações científicas, nacionais e internacionais, foi Presidente da Sociedade Portuguesa de Psicologia e da Association de Psychologie Scientifique de Langue Française, colaborou na criação do Centro de Psicopedagogia da Universidade de Coimbra, e fundou o Instituto de Psicologia Cognitiva, Desenvolvimento Vocacional e Social, bem como a revista Psychologica (http://www.almedina.net/catalog/Livros/cvs/CurriculumManuelAmancioViegasAbreu.pdf).
O livro em questão foi escrito à medida que as necessidades e exigências específicas investigativas lhe acrescentavam matéria suficiente. Portanto, as ideias e capítulos não apresentam uma linha cronológica contínua. Todavia, o autor esclarece que não foi comprometida a unidade conceptual da organização, nem o conjunto de ideias, já que a linha de raciocínio teórico seguido é a luz da própria visão global do comportamento humano.
Deste modo, o livro encontra-se estruturado em cinco capítulos, respetivos aos cinco ensaios motivacionais. No Capítulo I - Motivação e o desenvolvimento da personalidade -, encontram-se duas perspetivas epistemológicas fundamentais acerca da natureza da personalidade, a individualista e a relacional, cujo apoio empírico da teoria relacional da motivação da personalidade se sustenta nos efeitos de abandono, isolamento e carências afetivas (e.g., o caso das crianças selvagens), abordados nas investigações de Spitz, Bowlby e Harlow. Atendendo a que estas situações provocam diversas perturbações, regressões, fixações, bloqueios ou paragens no desenvolvimento global da personalidade, é a própria constância motivacional (ou autoconceito) que exige uma nova modalidade de interação "organismo-mundo", concedendo suporte dinâmico ao desenvolvimento contínuo e inacabado da personalidade. Ademais, permite, também, que as suas deficiências, deformações e dificuldades sejam como tal consideradas pelo próprio individuo e pelos outros. Já o Capítulo II - Motivos e organizações cognitivas na construção da personalidade –, debruça-se sobre a importância da compreensão mais adequada da personalidade a partir da unidade de interação funcional intrínseca do individuo, como o perceber, interpretar, selecionar e usar a informação que intervém neste processo comportamental indivíduo-mundo, e não da dicotomia tradicional, em que cada polo dessa unidade é tratado separadamente, permanecendo numa posição de análise objetiva onde comportamento, organismo e mundo são indissociáveis. Por sua vez, no Capítulo III - Para uma teoria relacional dos interesses –, e neste contexto da teoria relacional da motivação de Nuttin, é apresentado o conceito de interesses como uma força orientada para um fim, requeredor de um conjunto de processos, atividades e aquisições intermédias valiosas para o alcance da relação requerida. Tal não deverá ser confundido com os conceitos relativos a outros processos dinâmicos, como os motivos ou necessidades existentes em função de cada pessoa, das suas mentalizações e projetos de vida. Espera-se, então, num futuro próximo, uma abordagem mas integradora, conseguindo, assim, pôr termo à situação de imprecisão e flutuação na área. De modo geral, o Capítulo IV - Motivação, aprendizagem e desenvolvimento – desenvolve uma consciencialização sobre o amor e a importância que o indivíduo desenvolve pelo saber e pelo saber fazer bem aquilo que lhe corresponde fazer. Isto é a fonte mobilizadora da confiança diária, auxiliando no confronto criativo dos inúmeros desafios, problemas, incertezas e angústias relacionadas com a liberdade e na realização de projetos que valham a pena preparar e levar adiante. Por fim, o Capítulo V - O problema da violência e desafio cultural do nosso tempo – debate uma questão contemporânea, nomeadamente, "Será o homem por natureza violento'". Neste sentido, o autor remete-nos a uma internalização, independentemente da orientação sociocultural, acerca da importância de nos desfazermos da ideia de que a moderação e o autocontrolo comportamental é falta de vontade, desmotivação ou fraqueza do dinamismo da afirmação pessoal e do desenvolvimento social. Seria muito mais adequada uma catalisadora, apoiada no conhecimento global da realidade relacional do homem, orientada ao seu aperfeiçoamento e sustentada axiologicamente pela ética de solidariedade. Através da difusão desta atitude promover-se-iam ações subjetivas e objetivas favoráveis e tentar-se-ia confrontar um dos grandes desafios dos nossos tempos, tentar a diminuir a violência e propagar um constructo baseado na paz.

Confronto de Ideias
O Professor Manuel Viegas Abreu é um gestaltista com uma paixão pela personalidade na visão da Psicologia Fenomenológica. Esta tem por base o relacionamento existente entre nós e o mundo, e a importância de se começar pela perceção/sentidos, defendendo que as experiências prematuras e o contacto com o meio, no início das nossas vidas, originam, gradualmente, um sistema de pensamentos, memórias, crenças, expectativas e emoções sobre si mesmo e os outros.
Este livro possui uma fundamentação teórica assente na teoria relacional da personalidade, do psicólogo belga Joseph Nuttin, que o próprio denominou de estrutura ego-mundo (abertura para o mundo). Nesta, o ego é racionalizado como um conjunto de funções e de potencialidades psíquicas do individuo e o mundo é seu objeto de mutação intrínseca. Essa estrutura bipolar é um processo de interação na qual a personalidade e o mundo coexistem como resultantes, sendo que para Nuttin os motivos ou necessidades subjacentes ao comportamento dos indivíduos resulta de um esquema de interação organismo-mundo. Evidenciam-nos que, para Abraham Maslow, a necessidade é um instinto da própria pessoa organizando-a numa hierarquia em forma piramidal. Maslow (1943,1970)
Também Rodrigues (2000) esclarece-nos que, como em todas as demais teorias do pensamento, os seguidores da corrente gestáltica sofreram as suas críticas. Em geral, os teóricos alegavam que a mesma tratava do problema como se ele não existisse, pois a organização dos processos percetuais não era vista como um problema científico, apenas se dizia que ela existia, e porque existia deveria ser aceite. Por outro lado, os teóricos da psicologia experimental afirmavam que a mesma era muito vaga e que os seus conceitos básicos não eram rigorosamente definidos. Face a isto, os gestaltistas refutavam, alegando que, como em toda a ciência jovem, a teoria era ainda incompleta, mas não vaga. Ademais, os behavioristas afirmavam que o trabalho experimental gestaltista era inferior aos seus trabalhos apresentados, por causa dos poucos dados quantitativos e não passíveis de análise estatística. Porém, os psicólogos da Gestalt sustentavam que os seus trabalhos tiveram menos dados quantitativos que as outras escolas, pois deveria trabalhar-se com dados qualitativos.
Atualmente, mais do que nunca, este movimento tem vindo a contribuir, concisa e produtivamente, no que respeita à perceção, aprendizagem, pensamento, personalidade, psicologia social e à motivação. Os seus princípios máximos não foram absorvidos no início da Psicologia, porém, deixou a sua marca permanente na Psicologia Contemporânea. Tal é passível de verificação na Teoria de Unificação de Sameroff (2010), ao expor-nos uma abordagem integrativa das mudanças pessoais, contextuais, reguladoras e as suas representações nos diferentes modelos desenvolvimentais. Esta mesma teoria elucida que, ao longo da vida, o corpo, o cérebro e a mente mudam, e de alguma forma, neste processo, independentemente da teoria, juntam-se, acabam por se complementar e ser consequência um do outro. Isto é, uma unidade dinâmica da conduta global. Daí que o estudo fragmentado não seja de grande valor para estes autores.
Reflexão Pessoal
Tendo abordado o livro através da perspetiva teórica relacional apresentada por Viegas, o instinto leva-me a refletir sobre a base fundamental da motivação como um conceito central para a compreensão do comportamento humano. Sem motivação é difícil obter bons resultados, seja em qual for a atividade. É impossível desassociar a motivação intrínseca, advinda do interior da vontade própria, da motivação extrínseca consequente de fatores externos.
Nos tempos atuais, verifica-se um aumento na procura de estratégias e implementação de técnicas promotoras do aumento motivacional em diversas áreas, tais como no trabalho (e.g., para aumento da produtividade), nas escolas (e.g., para aumentar o aproveitamento escolar e prevenir o abandono escolar precoce), nas famílias (e.g., para uma maior compreensão do indivíduo no seu meio envolvente), entre outras.
Como futuro profissional da área da Psicologia da Educação, recomendo um olhar e reflexão a partir deste prisma, pois só assim conseguiremos criar modelos de apoio e de intervenção adequados, em situações envolventes de decisão ou necessidade de mudança, começado e aproveitando esta nova corrente educacional ecológica que nos permite ser muito mais específicos. O nosso acompanhamento, em qualquer um dos contextos supramencionados, poderá revelar-se uma mais-valia no trabalho para o desenvolvimento da motivação e, consequentemente, para o processo de facilitação de mudança. Destarte, visa-se um futuro muito mais produtivo, não só a nível do constructo pessoal, como também na construção de uma sociedade estável.

Referências Bibliográficas
Hesketh, J. L., & Costa, M. T. P. M. (1980). Construção de um Instrumento para Medida de Satisfação no Trabalho. Revista de Administração de Empresas, 20(3), 59-68. doi: 10.1590/S0034-75901980000300005

Maslow,A.H (1943). A theory of human motivation. Psychological Review, 50,390-396.

Maslow,A.H (1970). Motivation and personality. (2ª edition). Nova iorque: Harper & Row.

Rodrigues, H. E. (2000). Introdução à Gestalt-Terapia: Conversando sobre os fundamentos da abordagem gestáltica. Petropolis: Vozes.

Sameroff, A. (2010). A uni ed theory of development: a dialectic integration of nature and nurture. Child Development, 81(1), 6–22. Doi: 10.1111/j.1467-8624.2009.01378.x.





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