CINEMA E MULHER: EXTENSÃO, ENSINO E PESQUISA

June 6, 2017 | Autor: Lucia Leiro | Categoria: Cinema, Estudios de Género, Educação
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CINEMA E MULHER: EXTENSÃO, ENSINO E PESQUISA.

Lúcia Leiro Universidade do Estado da Bahia Centro de Estudo Diadorim [email protected] Resumo: O artigo trata da contribuição do projeto de extensão Cinema e Mulher, apresentado no Departamento de Educação, do Campus I, em quatro edições, para o exercício do olhar e, assim, contribuir para a formação de estudantes e profissionais de diferentes áeras do conhecimento. Como é um projeto sediado no Departamento de Educação, o aspecto pedagógico nortearam as reflexões pautada na categoria de gênero, apontando para a necessidade de inserir o cinema (e não apenas o filme) na vida escolar, na medida em que as identidades de gênero são produzidas na cultura através de seus dispositivos tecnológicos e artísticos. Palavras-chaves: cinema – extensão – gênero Eixo-temático: Ensino baseado em experiência de extensão

Enquanto docente, busco sempre articular as três atividades que alicerçam as ações no espaço acadêmico: o ensino, a pesquisa e a extensão. As desigualdades sociais me acompanham desde muito cedo, e elas estão marcadas no meu corpo e na minha história, afinal sou mulher e fui criada nos bairros da periferia de Salvador. Este trajeto de vida fez-me aproximar dos projetos de extensão. A prática de ensino foi se tornando real quando ingressei na universidade para fazer o curso de licenciatura em Letras. Já a pesquisa me foi apresentada sistematicamente na graduação e nos cursos de pósgraduação, quando pude escolher o objeto de pesquisa e uma vertente teórica dos estudos literários que pudesse explicar o objeto, articulado ao meu percurso de vida. As teorias feministas me ajudaram neste movimento e também a ver como, nós, mulheres, com todas as nossas diferenças, nos comportamos dentro dos esquemas socioculturais hegemônicos de gênero. Na prática do domínio acadêmico, após ter lecionado no Campus VI e XIX, iniciei em 2010, no Departamento de Educação, Campus I, um diálogo mais contínuo e consistente entre estes três pilares da universidade, propondo em minhas atividades uma prática do exercício do olhar por meio de filmes dirigidos por mulheres. Foi por meio de um projeto intitulado Cinema e Mulher que pude empregar a minha formação feminista à linguagem cinematográfica, entendendo que a análise fílmica não se refere

apenas a um recorte temático e ao tratamento dado a este, mas, também, a um estudo sobre a sintaxe e a semântica audiovisual. Esta forma de tratar o filme coaduna com os estudos contemporâneos sobre as linguagens porque considera importante tanto a forma quanto o conteúdo na materialização do dizer. Assim como o texto linguístico, o não verbal também possui sintaxe e semântica, sendo que, no lugar do código linguístico, o texto visual possui códigos visuais encadeados que geram sentidos, efeitos. A ideia neste Curso de Extensão era mostrar como o cinema educa para um olhar de gênero e como as mulheres respondem a este olhar, uma vez que a tradição cinematográfica tratou de representá-las por meio de um viés distintivo e polarizado – homem x mulher. O fato dos homens terem sido, ao longo dos séculos, dirigentes, produtores, distribuidores, diretores, roteiristas majoritários na indústria de cinema, fez com que os seus interesses influenciassem na escolha dos temas e no gênero fílmico, bem como as temáticas e tratamento dado a elas. Com isso, por muito tempo a indústria do cinema educou o seu espectador para uma expectativa de gênero, ainda que a resposta a essa formulação representacional não significasse uma correspondência direta de identificação por parte do espectador, mesmo com recursos bastante persuasivos, como a técnica do star system, um modelo forjado pela indústria norte-americana para a construção das estrelas de cinema. Para se ter uma ideia de como o cinema ainda é um setor inóspito às mulheres, seguem os dados coletados da Ancine entre os anos de 1995 a 2009:

Ano

Homens

Mulheres

Total

1995

12

02

14

1996

13

05

18

1997

16

05

21

1998

19

04

23

1999

27

01

28

2000

21

02

23

2001

22

08

30

2002

23

06

29

2003

23

07

30

2004

45

03

48

2005

32

13

45

2006

60

11

71

2007

67

11

78

2008

70

09

79

2009

70

14

84

Total

520

101

621

Tabela 1

Apesar de estas informações serem de 1995 a 2009, defasada em sete anos, é importante salientar que se trata de uma produção cultural no intervalo de catorze anos, e que é possível ver a discrepância entre as realizações fílmicas, aquelas voltadas para a exibição em salas comerciais, de homens e mulheres no Brasil. Estudar cinema envolve o seu contexto, também marcado por gênero, e não apenas a análise fílmica, daí a importância de ser também estudo de cinema. Se levarmos em consideração a produção na Bahia, este número cai assustadoramente, já que existem desníveis regionais que são revelados nas produções culturais, além da frágil política de formação, produção, distribuição e exibição dos filmes. A terra de Glauber Rocha - um dos maiores representantes do cinema brasileiro e referência internacional - ainda anda a passos lentos quando o assunto é produção cinematográfica, mas, sobretudo, distribuição e formação do espectador para temas e tratamentos que fale de nós mesmos, baianos e nordestinos. É importante sinalizar que, nos últimos anos, algumas cineastas baianas vêm buscando mudar esses tristes dados, a exemplo de Ceci Alves, cujo filme 'Da Alegria, Do Mar e de Outras Coisas', conquistou menção honrosa do júri, no festival “Visões Periféricas” que aconteceu no Rio de Janeiro. O seu trabalho mais premiado é o curta-metragem Doido Lelé, de 2009, com mais de 08 premiações. É importante dizer que o formato curta-metragem tem sido bastante utilizado pelas diretoras por não exigir, a meu ver, tantos recursos e ao mesmo tempo por trazer uma linguagem mais poética, sugestiva. Esta relação entre cinema e educação me levou a outra questão: a importância dos estudos da linguagem cinematográfica para o professor, já que as escolhas dos filmes passam pela seleção prévia destes profissionais. Em sala de aula, sou questionada sobre como usar a categoria de gênero nas séries iniciais, ou seja: como falar de gênero para as crianças? Esta é uma pergunta frequente e que tenho escutado, principalmente, nas aulas de graduação. O projeto Cinema e Mulher visa responder às questões que emergem no calor das discussões em sala de aula, por isso respondo que a consciência das identidades de gênero deve contribuir para que o olhar do professor, o seu posicionamento político, possa guiá-lo na seleção do material didático, incluindo os

filmes. O professor precisa entender também que os temas não são em si o mais importante, mas há que se observar o tratamento dado a eles. É nesta hora que o docente precisa conhecer as categorias de análise para avaliar o material didático e interpor com convicção e qualidade argumentativa sobre os textos e as práticas pedagógicas usadas na escola. Sem esta formação, o professor prestará um desserviço à sua comunidade escolar e por extensão a toda a comunidade com a qual se relaciona porque os textos – fílmicos ou não – trazem valores, ideologias, código de ética, regras sociais, padrões de beleza, estereótipos, que, a depender de como sejam mostrados pelo autor ou autora, podem contribuir para a uniformização das identidades e consequentemente para a exclusão. Antes de começar o projeto no Departamento de Educação, iniciei em 2009 uma atividade de catalogação, que consistia em fazer um levantamento de filmes dirigidos e roteirizados por mulheres, já que eu me interessava também pelo que as mulheres escreviam. Por uma questão de acesso, tive que, no começo, me ocupar dos filmes “comerciais”, já que a sua aquisição e localização eram bem mais fáceis do que aqueles chamados de “arte”. Foram mais de cem diretoras de diferentes nacionalidades a cujos filmes eu assisti. Elegi alguns indicadores elementares que considerei importantes para a minha análise porque poderiam me oferecer um panorama sobre o acervo coletado, foram eles: origem das diretoras, idade, gênero do filme, temáticas, tratamento dado às temáticas e ano do filme. Com estes indicadores, conclui que, em razão do acervo, 1) a maioria das diretoras é de origem norte-americana; 2) possui idade acima dos 40 anos; 3) os gêneros mais filmados são o subgênero comédia-romântica ou o gênero drama e 4) os temas estão relacionados à condição da mulher na sociedade e como elas sobrevivem e enfrentam as discriminações de gênero, além de outras discriminações, como as étnico-raciais, sobretudo quando as diretoras são afrodescendentes ou de outra formação étnica, como as iranianas, indianas, além das latino-americanas, entre outras. Com estas informações, algumas perguntas surgiram: como as mulheres falam de si mesmas através dos filmes, principalmente das comédias românticas? Como a crítica feminista do cinema se posiciona diante deste subgênero fílmico? Seria possível as diretoras e roteiristas falarem de coisas tão sérias por meio de um subgênero tão “leve”? Esses questionamentos no curso de extensão Cinema e Mulher foram importantes porque uma parte dos filmes das diretoras mostra que as mulheres têm histórias de vida dramáticas, atravessadas pelo patriarcado, pelo sexismo, pelo machismo, por isso, a meu ver, as diretoras acabam recorrendo ao gênero drama; já

outras diretoras, optam pelos filmes mais divertidos, provavelmente, por questões comerciais ou por estratégia, e têm o desafio de trazer as violências de gênero para as comédias românticas, mostrando que é possível textualizar questões violentas e incômodas às mulheres em um formato mais leve e que se tornou bem aceito entre as mulheres em geral. Parece contraditório, mas sabemos o quanto podemos violentar as pessoas por meio de gags e piadas e se o riso pode ser a passagem da ideologia para a opressão, pode ser também a passagem para a ideologia que liberta. Na primeira versão do Curso, priorizei: a) O estudo da linguagem cinematográfica, conceituando plano, ângulo e movimento de câmera, levando os cursistas a identificá-los e a conhecerem as formas de uso na filmagem e os seus efeitos; b) A interdisciplinaridade, relacionando o cinema com a literatura, a música, a fotografia, o teatro, a dança, as artes plásticas; c) A intertextualidade, identificando no texto fílmico as referências a outros textos marcados ou não; d) A interdiscursividade, revelando no enunciado discursivo feminista, outros discursos interditados pela ideologia. Com base nestes aspectos, destacamos 1) a construção das personagens e os papeis de gênero, 2) as desigualdades de gênero, 3) os discursos e práticas de controle e de subjugação; 4) os resquícios do patriarcado em algumas sociedades 5) as formas das mulheres subverterem e construírem seus caminhos no enfretamento da violência contra a sua dignidade.

Com isso, os cursistas se apropriaram da linguagem e técnicas

cinematográficas

para

analisar

como

as

diretoras

refratavam

estereótipos,

comportamentos, códigos socioculturais e propunham outras formas de existir, de representar uma mulher mais emancipada, liberta, sujeito do seu caminhar, mas sem deixar de evidenciar que este percurso é tomado por conflitos, incoerências, retrocessos e avanços. É neste sentido que os cursos de extensão adquirem uma feição política e educativa, contribuindo com a formação dos sujeitos. Os debates sobre as condições das mulheres em nossa sociedade, vistas por diferentes diretoras, ajudaram os cursistas a identificarem pontos comuns e distintos entre elas.

Imagem 2 – Apresentando a diretora Mira Nair, de origem indiana.

Do ponto de vista metodológico, o curso Cinema e Mulher variava de edição para edição. Na primeira edição, que visava mais o estudo da linguagem cinematográfica, a metodologia utilizada era assistir ao filme para no dia seguinte analisar as cenas “congeladas” (imagem estática) e explicar como o ângulo, o plano, os raccords, a montagem (avanços espaciais e temporais), o movimento de câmera, a iluminação - entre outros recursos cinematográficos – eram importantes para produzir sentidos, provocar emoções nos espectadores, fazendo-os se transferirem para a história do filme (METZ). O curso teve mais de cem participantes, somando as quatro edições, e aconteciam aos sábados no turno matutino, ou em algum dia da semana à noite. Este procedimento foi necessário a fim de que pudéssemos contemplar públicos diversos, mas tivemos mais público à noite e aos sábados:

Imagem 1: Auditório Jurandir Oliveira, Departamento de Educação (UNEB), 2012.

Na primeira edição, elegemos os filmes da feminista norte-americana Callie Khouri, roteirista de Thelma & Louise, 1991, vencedora do Oscar nesta categoria. Além deste, vimos todos os outros dirigidos ou roteirizados por ela no formato longametragem, a saber: ROTEIROS: Divinos Segredos (Divine Secrets of the Ya-Ya Sisterhood, 2002), O Poder do Amor (Something to Talk About, 1995), DIREÇÃO: Loucas por Amor, Viciadas em Dinheiro (Mad Money, 2008) e Divinos Segredos (Divine Secrets of the Ya-Ya Sisterhood, 2002). Após a projeção, analisamos cronologicamente os filmes, e percebemos que Khouri inicia as suas atividades como roteirista e só depois como diretora. Depois de 2002, ela só dirige um longa-metragem e depois disso dedica-se à TV. Este é um percurso muito recorrente entre as mulheres: elas muitas vezes começam na TV e depois migram para o cinema; outras começam no cinema e depois passam a atuar na televisão e ainda tem diretoras que fazem as duas coisas, com intervalos entre um e outro. A televisão tem sido o caminho quase inevitável para as diretoras porque abre possibilidades pela diversidade de projetos, programas e de emissoras. Pelo fato de muitas mulheres terem mais atuação como roteiristas, não é raro encontrar entre seus personagens mulheres trabalhando nesta profissão, enfocando a dificuldade delas se manterem nesta atividade, ou de como elas sofrem nos relacionamentos por não terem um roteiro de vida, dando aqui ao roteiro um sentido metafórico para plano, projeto de vida.

Outra edição muito enriquecedora foi a que realizamos com base em temas, a exemplo dos filmes protagonizados por crianças, tais como: Nascidos em Bordéis (Born Into Brothels: Calcutta's Red Light Kids, 2004), um documentário dirigido por Zana Briski, Ross Kauffman sobre as crianças indianas nascidas nos bordéis de Calcutá; O Jardim Secreto (The Secret Garden, 1993) dirigido por Agnieszka Holland, a partir do romance de Frances Hodgson Burnett, escrito em 1949, com o roteiro de Caroline Thompson (screenplay) e, por fim, A Culpa é do Fidel (Blame it on Fidel!, 2006), dirigido por

Julie Gravas, a partir do romance italiano Tutta Colpa di Fidel, de

Domitilia Calamai, com a colaboração de Arnaud Cathrine. O primeiro é um documentário e os dois seguintes, ficção, sendo que o segundo citado é uma adaptação da literatura e o terceiro uma história ambientada nos anos 70 em Paris. Estes filmes trazem como protagonistas crianças, com as suas angústias, carências emocionais e materiais, conflitos familiares e histórias de superação. A mudança na forma de exibir ajudou a mostrar que um filme pode ser trabalhado em sala de aula de diferentes maneiras, cabendo ao professor manejar com as possibilidades: autoria, ano, temas, gêneros, origem, discursos, intertextos, são exemplos de indicadores a partir dos quais os professores e alunos podem desenvolver um debate, mas sem perder de vista a linguagem cinematográfica, a arte de dizer e de persuadir através da imagem em movimento. É importante o estudo da sintaxe e semântica fílmica. Já em outra edição, também autoral, trabalhamos apenas com as diretoras brasileiras e escolhemos os filmes: Sonhos Roubados (2009), de Sandra Werneck, Desenrola (2010), de Rosane Svartman, Iluminados (2007), de Cristina Leal e Mulheres do Brasil (2006), de Malu de Martino. Nesta seleção, optamos por quatro longas-metragens, sendo que dois do gênero drama, um documentário e um subgênero comédia-romântica. Destes, apenas Desenrola é explicitamente voltado para o público adolescente que tem recebido atenção especial dos cineastas e produtoras devido ao fato deste público frequentar bastante o cinema. Para o gênero documentário, que vem sendo também foco de interesse das diretoras, foi selecionado Iluminados, a meu ver, um dos documentários mais sensíveis e inteligentes do cinema brasileiro, pela forma da diretora nos chamar a atenção para aqueles que estão fora da cena. Os iluminadores são profissionais que não aparecem para o espectador e a sua atividade, embora imprescindível no cinema, não é valorizada, talvez porque o seu trabalho não seja visto como autoral, mas Leal mostra exatamente o contrário, ao trazer cinco iluminadores

para compor e dirigir uma mesma cena. O resultado deste trabalho mostrou que cada um fez uma filmagem diferente, sugerindo que o trabalho do iluminador também é autoral, mas que, por alguma razão, eles não gozam do mesmo status que os diretores e roteiristas. Esta realidade se assemelha com a de muitas mulheres que, embora as suas atividades sejam importantes, elas não aparecem e não são valorizadas. Por fim, trouxe uma edição mais recente, de 2014, mantendo o recorte autoral e desta vez inserindo o componente racial e étnico em nossa escolha e análise, por isso elegemos a diretora norte-americana Kasi Lemmons. A seleção deu-se em razão de ser uma das poucas diretoras negras com um número significativo de longas disponíveis em DVD para aquisição e pelo fato de trazer temas importantes para o debate étnico-racial feminista. Destes, consegui apenas três que foram exibidos durante o curso: Amores Divididos (Eve’s Bayou,1997), Visões de um Crime (The Caveman's Valentine, 2001) e Fale Comigo (Talk to Me, 2007). Nestes três filmes, todos os protagonistas são negros e homens, exceto o primeiro que equilibra com as participações das mulheres, muito embora, ao escolher um ator (Samuel Lee Jackson) de grande projeção internacional para o papel masculino principal, dá-se uma relevância maior à personagem que ele incorpora. Apesar disto, a presença das mulheres é marcante neste filme, traduzindo desta forma uma inclinação inicial da diretora pelas questões feministas, transversalizadas por classe e raça/etnia. Já o segundo filme é construído a partir da visão de um artista, um músico virtuoso, considerado esquizofrênico, mas que ajuda a solucionar um caso de assassinato. É um filme que traz uma crítica contundente ao capitalismo, colocando-o como inimigo da arte que liberta, da criação artística que emancipa o sujeito. Por este percurso, vimos que a diretora buscou em suas referências e vivências a matéria prima para compor os seus filmes e, mesmo trazendo protagonistas homens, era para mostrá-los também frágeis, vulneráveis dentro de uma sociedade segregacionista de classe, raça e gênero. Por fim, o terceiro filme aborda a biografia de Ralph Waldo, um comunicador e ativista negro que viveu o final dos anos 60 em Washington e que, durante o tempo que esteve na prisão, atuava numa rádio no próprio presídio, mas que, ao sair, passou a trabalhar numa rádio com problemas de audiência, alcançando rápida projeção entre a população negra, sendo um dos seus porta-vozes. É importante destacar que os projetos de extensão, assim como os projetos de ensino, contam com a colaboração de monitores que se inscrevem e participam dos cursos através de uma seleção. Alguns são remunerados por meio de bolsa, outros são voluntários e convertem as suas horas de dedicação ao projeto em certificação. Durante

as edições do Curso de Extensão Cinema e Mulher, tivemos a colaboração de algumas estudantes de Pedagogia, são elas: Rafaela Gomes, Najla Gama, Letícia Araújo e Nívea Lobo. As duas últimas fizeram os registros fotográficos de algumas edições, já Rafaela Gomes chegou a aplicar um questionário de sondagem que foi apresentado ao grupo como parte das suas atividades de monitoria. Neste sentido, a monitoria exerce um papel importante na formação dos estudantes da graduação, interagindo com os participantes e assumindo responsabilidades pertinentes à sua função mediadora. É oportuno destacar que na primeira edição, solicitei que cada um cursista fizessem um TECCEX (Trabalho de Conclusão de Curso de Extensão) que eram entregues no final do curso. O texto consistia em analisar um filme que fosse dirigido por uma mulher e depois apresentasse para o grupo de forma resumida para que todos tivessem uma sinopse comentada. Foi uma experiência muito enriquecedora, já que cada um teria que pesquisar, selecionar, fazer uma leitura e depois socializar:

Imagem 3 – Rafaela Gomes apresentando o seu trabalho de monitora a partir do questionário de sondagem

Imagem 4 – Uma das perguntas do questionário.

A educação de gênero pela linguagem cinematográfica proporciona ao sujeito um olhar mais crítico sobre si mesmo na relação com o outro e vice-versa, e o conhecimento da linguagem cinematográfica oferece aos críticos da cultura e das linguagens os elementos formais necessários que estruturam a composição fílmica. Educar pelo cinema significa entender a confluência entre tecnologia, narrativa e linguagens com seus múltiplos códigos e, sobremaneira, a sua recepção. É com satisfação que realizamos os cursos sobre Cinema e Mulher destacando aspectos semânticos e sintáticos do cinema para uma educação de gênero. O cinema pode ensinar os sujeitos a se comportarem como homens e mulheres, dentro de uma visão polarizada a partir do binômio macho/fêmea, mas esses comportamentos são ao mesmo tempo constitutivos da identidade e performativos, e é da mesma forma que por meio do cinema esse paradigma pode ser questionado. É importante destacar que o cinema vem nos últimos anos focalizando temas relacionados à sexualidade como virgindade, estupro, aborto, relacionamentos homoafetivos, entre outras questões. O cinema nos ensina que estar no mundo é uma aprendizagem contínua e processual, com fluxos e refluxos, performatizada pelos sujeitos em diferentes práticas e situações sociais. Os cursos de extensão Cinema e Mulher continuarão a alimentar as aulas na graduação e a buscar novas hipóteses para as pesquisas sobre a relação cinema, mulher, gênero e educação, ligando os três pilares que sustentam as ações universitárias. Com este estudo e metodologia, damos sentido ao que realmente seja a universidade e ao que chamamos de educação inclusiva, orgânica, e de diálogo com as esferas da sociedade. Esta integração, com base nas discussões de gênero, contribui significativamente para pensarmos e tomarmos decisões no âmbito pedagógico e no âmbito da gestão, intercambiando as esferas do pessoal, do profissional e das políticas públicas.

Os estudos de gênero a partir do cinema nos mostram o quanto tem sido difícil para as mulheres se integrarem nos espaços da produção cultural, lugar fundamental para falar de suas experiências, ideias, valores. Esses estudos também dão visibilidade às intervenções das diretoras e roteiristas neste locus de formação política, nem sempre trilhando um caminho coerente, mas oscilante, com grandes intervalos “improdutivos”, mas que longe de significar incompetência, sinalizam para o árduo caminho enfrentado por elas na esfera da produção cultural, seja audiovisual ou outra qualquer.

Imagem 2 – Auditório Jurandir Oliveira, Departamento de Educação (UNEB), 2012

Referências

A Culpa é de Fidel (La Faute à Fidel). 1 DVD (1h39min) Direção: Julie Gavras Roteiro: Arnaud Cathrine, Domitilla Calamai, Julie Gavras Elenco: Benjamin Feuillet, Julie Depardieu, Marie Kremer, Martine Chevallier, Nina Kervel-Bey, Olivier Perrier, Stefano Accorsi Produção: Sylvie Danton Fotografia: Nathalie Durand Trilha Sonora: Armand Amar Duração: 99 min. Amores Divididos (Eve’s Bayou). Direção e Roteiro: Kasi Lemmons. Elenco: Samuel L. Jackson, Lynn Whitefeld, Jurnee Smollett, Meagan Good. Produção: Cevin Cathell,

Mark Amin, Cami Winikoff, Bobby Rock, Margaret Matheson, Michael Bennett, Nick Wechsler, Jay Polstein, Julie Yorn, Samuel L. Jackson, Caldecot Chubb e Eli Selden. Trilha Sonora: Terence Blanchard. Distribuição: SND, Manga Films, Lions Gate Films Home Entertainment, H.R.S. Funai Co. Ltd., Verenigde Arbeiders Radio Amateurs (VARA), New KSM, Trimark Pictures, Lions Gate Films, Paradiso Home Entertainment, Aquarius TV, Trimark Home Video, British Broadcasting Corporation (BBC), Momentum Pictures e Dutch FilmWorks (DFW).1 VHS. 1997(109min)

Desenrola. Direção e Roteiro: Rosane Svartman. Produção: Clélia Bessa. Elenco: Olívia Torres, Lucas Salles, Kayky Brito, Claudia Ohana, Letícia Spiller, Marcelo Novais. Distribuição: Downtown filmes. 2010 (1h28min).

Divinos Segredos (The Divine Secrets of the Ya-Ya Sisterhood). Direção e Roteiro: Callie Khouri. Elenco: Sandra Bulock, Ellen Burstyn, Ashley Judd, James Garner, Trilha Sonora: David Mansfield. Produção: Beth Midler/Lisa Stewart. 2002 1 DVD (1h51min).

Fale Comigo (Talk to Me, 2007). Direção: Kasi Lemmons. Roteiro: Kasi Lemmons, Michael Genet, Rick Famuyiwa Elenco: Cedric the Entertainer, Chiwetel Ejiofor, Don Cheadle, Elle Downs, Jeff Kassel, Martin Sheen, Taraji P. Henson, Vicky Lambert. Produção: Joe

Fries,

Josh

McLaughlin,

Mark

Gordon,

Sidney

Kimmel

Fotografia: Stéphane Fontaine Trilha Sonora: Terence Blanchard Ano: 2007, 1 DVD, (118min)

Iluminados. Direção: Cristina Leal, Roteiro: Cristina Leal, Reinaldo Pinheiro, Elenco: Dib Lutfi, Edgar Moura, Fernando Duarte, Mário Carneiro, Pedro Farkas, Walter Carvalho, Produção: Aída Marques, Cristina Leal Fotografia: Antônio Luis Mendes Trilha Sonora: Erik Satie , 2007 (100min) Loucas por amor, viciadas em dinheiro (Mad Money). Direção: Callie Khouri. Roteiro: Callie Khouri/Terry Winsor. Elenco: Diane Keaton, Queen Latifah, Katy Holmes, Ted Danson. Produção: Frank DiMartine/Avi Lerner. Trilha Sonora: Marty Davich/James Newton Howard. Distribuidor: Califórnia Filmes. 2008, 1 DVD (1h40mim)

Mulheres do Brasil. Direção: Malu de Martino. Direção: Malu De Martino, Roteiro: Douglas Dwight, Melanie Dimantas, Elenco: Ana Beatriz Nogueira, Bete Coelho, Camila Pitanga, Carla Daniel, Deborah Evelyn, Dira Paes, Emiliano Queiroz, Léa Garcia, Luana Carvalho, Luciano Szafir, Roberta Rodrigues, Stepan Nercessian, Tuca Andrada. Produção: Elisa Tolomelli. Fotografia: Heloísa Passos. Trilha Sonora: Leandro Lima, Paulo Ricardo, Zezé d'Alice. 2006 (106 min).

Nascidos em Bordéis (Born Into Brothels: Calcutta's Red Light Kids. Direção e Roteiro:

Zana

Zana

Briski, Puja

Mukerjee, Gour, Mamuni, Kochi, Manik,Tapasi, Avijit, Suchitra, Shanti

Das.

Produção: Zana

Briski/Ross

Briski/

Ross

Kauffman.

Kauffman.

Elenco:

Trilha

Sonora:

John

McDowell.

Documentário, 1 DVD (1h23min), 2004

O Jardim Secreto (The Secret Garden). Direção: Agnieszka Holland. Roteiro: Caroline Thompson. Distribuidor: Warner Bros. Intérprete: Irene Jacob, Kate Maberly. Maggie Smith. Trilha Sonora: Produção: Fred Fuchs, 1993, 1 DVD (1h42min)

O Poder do Amor (Something to talk about). Direção: Lassie Halstrom. Roteiro: Callie Khouri. Produção: Anthea Sylbert/ Paula Weinstein/Goldie Hawn. Elenco: Julia Roberts, Denis Quaid, Robert Duval. Trilha Sonora: Hans Zimmer. 1995, 1 DVD (1h46min). Oca/Ancine – Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual/Agência Nacional de Cinema e do Audivisual. Disponível em: . Acesso em: 30 jun 2014.

Sonhos

Roubados

(2009),

de

Sandra

Werneck,Direção: Sandra

Werneck.

Roteiro: Adriana Falcão, José Joffily, Mauricio Dias, Michelle Franz, Paulo Halm, Sandra Werneck Elenco: Amanda Diniz, Ângelo Antônio, Daniel Dantas, Kika Farias, Marieta Severo, MV Bill, Nanda Costa, Nelson Xavier, Silvio Guindane Produção: Sandra Werneck Fotografia: Walter Carvalho Trilha Sonora: Fabio Mondego, Fael Mondego, Marco Tommaso Empresa Distribuidora: Europa Filmes Duração: 90 min. Ano: 2009

Thelma & Louise. Direção: Ridley Scott. Roteiro: Callie Khouri. Produção: Ridley Scott/Callie Khouri/Dean O’Brien. Elenco: Susan Sarandon, Geena Davis, Harvey Ketel. Trilha Sonora: Hans Zimmer. Distribuidor: Fox Filmes, 1991, 1 DVD (2h9min).

Visões de um Crime (The Caveman's Valentine). Direção: Kasi Lemmons. Roteiro: George Dawes Green .Elenco: Ann Magnuson, Anthony Michael Hall, Aunjanue Ellis, Colm Feore, Rodney Eastman, Samuel L. Jackson, Tamara Tunie. Produção: ndrew Stevens, Danny DeVito, Elie Samaha, Michael Shamberg, Stacey Sher. Fotografia: Amy Vincent. Trilha Sonora: Terence Blanchard. 1 DVD. 2001 (105min)

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