Cinema, quadrinhos e ensino de História: a experiência com estudantes do Ensino Médio

May 30, 2017 | Autor: Hector Molina | Categoria: Cinema, Ensino de História, Quadrinhos
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Cinema, quadrinhos e ensino de História: a experiência com estudantes do Ensino Médio

Hector Molina Mariana Zablonsky Thiago Natário

Resumo: A comunicação pretende apresentar alguns aspectos referentes às experiências dos alunos bolsistas do “PIBID História 2 – História e(m) imagens”, da UFPR, por meio de uma série de atividades desenvolvidas no colégio Bento Munhoz da Rocha com turmas de ensino médio. Partindo da premissa central do projeto, a utilização de quadrinhos e cinema no ensino de História, os bolsistas abordaram diferentes conteúdos da grade letiva da disciplina, adotando as referidas mídias como principal recurso didático em suas aulas. Essas foram ministradas em turmas dos três anos do ensino médio, e trataram de temáticas que se inscreviam nos assuntos já trabalhados pelo professor-supervisor em cada turma. Para tanto, os participantes do projeto se dividiram em grupos de acordo com as temáticas a serem trabalhadas: resistência de escravizados indígenas e africanos; a ditadura civilmilitar e a Guerra Fria. Cada eixo temático foi pensado e trabalhado de formas diferentes, o que trouxe como desdobramentos resultados igualmente diversos. Desse modo, o presente trabalho visa apresentar e discutir os êxitos e possibilidades que se abrem a partir desse conjunto de aulas, ministradas no final de 2015, bem como considerar suas relações com o andamento e as futuras ações do projeto. Palavras-chaves: ensino de história; cinema; quadrinhos;

INTRODUÇÃO Este artigo é embasado em uma série de atividades realizadas pelos bolsistas do PIBID UFPR História 2: História e(m) Imagens no colégio Bento Munhoz da Rocha1, no mês de dezembro de 2015, em Curitiba. O projeto possui como premissa a iniciação à docência através da utilização do cinema e dos quadrinhos no ensino e aprendizado de História, abordando diversas 1

O projeto existe desde 2014 e é coordenado por Clóvis Gruner, professor do departamento de história da UFPR, e supervisionado por Fabiano Stoiev, professor da rede pública de ensino do estado do Paraná.

temáticas de acordo com o conteúdo de cada turma. Nesse sentido, buscaremos apresentar algumas considerações metodológicas acerca da utilização de quadrinhos e filmes enquanto instrumentos didáticos, bem como algumas possibilidades e problemáticas que se abrem aos professores e professoras que buscam nas referidas mídias a estruturação de suas aulas. Além disso, descreveremos três conjuntos de aulas nos quais quadrinhos e cinema foram o eixo didático em exposições que abordaram diferentes temáticas: i) resistência de escravizados indígenas e africanos; ii) Guerra fria; iii) ditadura civil-militar brasileira e as relações entre passado e presente. Optamos por temáticas que de uma forma ou de outra se relacionassem com os conteúdos já trabalhados pelo professor Fabiano Stoiev nas turmas em que realizamos as atividades. Buscamos, com isso, apresentar alguns

resultados

práticos

das

atividades

desenvolvidas

pelo

grupo,

relacionando-os com as intenções do projeto em relação aos futuros trabalhos a serem realizados, o que será tratado ao final do artigo.

O cinema na sala de aula “O filme não faz parte do universo mental do historiador” (FERRO, 1992: 79). O tom crítico de Marc Ferro, referindo-se à produção historiográfica da primeira metade do século XX, suscita uma série de reflexões acerca de como o cinema é utilizado pelos historiadores, seja enquanto fonte histórica, ou como instrumento

didático.

Muito

embora

seja

cada

vez

mais

discutido

academicamente, ganhando relevo na produção historiográfica, o cinema ainda parece ser subaproveitado em relação ao seu potencial didático. Muitas vezes utilizado de forma descuidada, parece que “o cinema ainda não foi ‘captado’ devidamente, do ponto de vista didático e da crítica histórica, para dentro da sala de aula” (NASCIMENTO, 2008: 2). Segundo Jairo Carvalho do Nascimento (2008), foi somente a partir da década de 1980 que o cinema ocupou efetivamente um espaço importante nas discussões pedagógicas, muito pela influência da historiografia francesa. Para o autor, o exercício pedagógico apoiado nas produções fílmicas é muitas vezes pouco eficiente por

duas questões principais: um problema estrutural das escolas e falhas na formação de professores. Nesse sentido, afora as problemáticas que envolvem questões políticas de investimentos na estrutura escolar, sobretudo no sistema público de ensino, alguns aspectos metodológicos devem ser apreendidos pelos professores e professoras para uma utilização eficaz na sala de aula. Um apanhado importante em relação a isso é feito por Marcos Napolitano (2001). O autor pensa o cinema como uma produção artística que, além de ser tecnicamente sofisticada, pertence também à cultura de massa. Esse aspecto multifacetado abre muitas possibilidades aos docentes. Napolitano sugere alguns elementos importantes para o uso do cinema em sala de aula de acordo com a faixa etária de cada turma, além de elencar uma série de possibilidades e armadilhas relacionadas ao seu uso didáticopedagógico. As considerações do autor passam por questões organizativas (checagem

dos

equipamentos,

etc)

até

outras

de

caráter

teórico-

metodológicos, como por exemplo, a abordagem do cinema através de seu conteúdo, linguagem ou técnica. O trabalho de Napolitano é de grande valia aos professores que se interessam em desenvolver uma utilização mais substanciosa do cinema em sala de aula, articulando ao currículo escolar habilidades, competências e conceitos os mais variados através dos filmes.

Os quadrinhos na sala de aula Os professores possuem uma posição geralmente refratária à utilização dos quadrinhos em sala de aula, talvez ainda mais arraigada em relação ao que acontece com o cinema. Para Roberto Elísio dos Santos (2003), isso se dá principalmente por um ambiente de preconceito aos quadrinhos no contexto acadêmico e escolar, o que pode ser fomentado pelo equívoco no pensamento que relega a esse tipo de mídia um caráter infantil, muito simples e banal. Entretanto, o autor aponta que os quadrinhos oferecem um amplo conjunto de possibilidades pedagógicas e de desenvolvimento dos alunos, como o incentivo à leitura, aprendizado de línguas estrangeiras, discussão dos mais variados

temas. Pensando nisso, Santos atenta para a necessidade de um conhecimento técnico desse tipo de histórias, ou seja, o professor precisa ser capaz de promover uma “leitura analítica de histórias em quadrinhos” (SANTOS, 2003: 7). Uma série de aspectos formais descritos pelo autor deve ser dominado pelos professores para um maior aproveitamento dos quadrinhos. Trata-se de compreender de maneira mais profunda a articulação dos elementos visuais e elementos verbais que compõem as chamadas HQs. O uso de quadrinhos na abordagem de conteúdos históricos não opera através de um sistema óbvio e mecânico. Como aponta Marjory Palhares (2008), as possibilidades que se abrem com a sua utilização são múltiplas e podem ser exploradas de diversas maneiras. “As histórias em quadrinhos podem ser utilizadas para introduzir um tema, para aprofundar um conceito já apresentado, para gerar discussão a respeito de um assunto, para ilustrar uma ideia” (PALHARES, 2008: 4). Essa polivalência dos quadrinhos – caráter também presente no cinema – pode ser observada através de exemplos práticos. Vejamos três conjuntos de aulas em que essas mídias foram o principal instrumento didático para abordagem de temas muito diferentes.

Colonização do Brasil: as resistências de indígenas e africanos no processo de escravização Esta atividade foi desenvolvida em quatro horas/aulas com alunos de segundo ano. Ao considerar o trabalho das/os historiadoras/es e o uso de HQ’s e filmes na construção e na transmissão do conhecimento, buscamos apontar aos alunos questionamentos provenientes de panoramas que permitam a observação do posicionamento de combate e resistência de indígenas e africanos escravizados pelos portugueses. Abordando elementos sociais, políticos e culturais do período do Brasil colonial, a intenção era problematizar o entendimento que relega aos grupos supracitados uma posição de vítimas passivas e sem agência efetiva frente aos intentos europeus. Para isso, utilizamos trechos do filme Uma história de amor e fúria e da HQ Cumbe. O primeiro demonstra algumas dinâmicas de enfrentamento Tupinambá frente

aos portugueses, bem como conflitos com outros grupos indígenas. O segundo aborda o contexto de fuga de escravizados africanos, suas dificuldades e conflitos. Uma vez que os dois materiais escolhidos pretendem se colocar na ótica do escravizado indígena/negro, pretendemos demonstrar as cambiantes maneiras de se construir o conhecimento a partir da noção de diferentes sujeitos históricos. Na primeira aula, promovemos uma exposição acerca da pertinência da utilização de HQ’s e filmes pelos professores e professoras de história como instrumentos de ensino. Após esta breve introdução, iniciamos efetivamente os conteúdos históricos a serem abordados na aula. A partir de duas palavraschave, “escravidão” e “colonização”, pedimos aos alunos que falassem outras palavras ou ideias que, para eles, estavam relacionadas às nossas. Uma vez compiladas as ideias dos alunos, buscamos traçar alguns elementos importantes ao estudo da escravização e colonização no Brasil, completando lacunas e corrigindo equívocos percebidos através das relações feitas por eles. A segunda aula foi dedicada à questão indígena. Após retomarmos rapidamente aspectos abordados na aula anterior, apresentamos à turma um trecho de aproximadamente 15 minutos do filme Uma história de amor e Fúria, no qual são retratados conflitos entre Tupinambás e portugueses. Após assistirmos ao trecho selecionado, abrimos uma discussão com a turma através de questionamentos previamente pensados para que a resistência dos indígenas fosse percebida. Desse modo, quisemos vincular os pontos que emergiram na discussão com àqueles expostos anteriormente, ressaltando os elementos mais importantes através da mediação dos bolsistas. Em seguida, na terceira aula, abordamos a resistência dos escravizados africanos. De modo similar à anterior, estabelecemos algumas considerações acerca da escravização dos africanos na colonização brasileira, atentando para o processo de substituição da escravização indígena pela africana, buscando a desconstrução de alguns estereótipos arraigados no senso comum e que produzem explicações racistas, como a ideia de que negros africanos seriam mais fortes e aptos ao trabalho pesado do que os indígenas. Entregamos aos

alunos – divididos em duplas – a primeira história da HQ Cumbe, que retrata a fuga de escravizados de um engenho no período colonial brasileiro. Buscamos apontar a posição combativa e resistente dos escravizados, além de perceber as diferentes formas de resistência escrava, como os acontecimentos cotidianos, os pequenos atos de rebeldia e insubmissão nos engenhos e plantações. A quarta aula foi dedicada à aplicação de uma atividade avaliativa aos alunos. Pretendíamos, com a proposta, que a turma relacionasse os elementos enfatizados nas aulas anteriores de modo a compreender a existência de múltiplas possibilidades na construção do saber histórico e, a partir disso, perceber similaridades e especificidades nas duas esferas de resistência escrava (indígena/africana). E, de modo geral, problematizar noções que posicionam tais agentes históricos como sujeitos passivos frente aos europeus. Para isso, os alunos deveriam elaborar um texto em formato de e-mail respondendo um suposto amigo haitiano que teria vindo ao Brasil, permanecido por algum tempo e retornado a seu país, sem deixar de manter contato com os amigos feitos aqui. Dentre outras coisas, Pierre, o amigo haitiano, comenta sobre como é interessado pela história brasileira, mas que não teria tido chance de conhecê-la melhor, exceto em alguns livros de história que teria lido, mas que não comentavam sobre revoluções ou revoltas escravas no Brasil. Isso intrigava Pierre, uma vez que, na história do Haiti, a agência escrava é algo notável, como ele mesmo comenta no e-mail. Desse modo, Pierre pede ajuda ao aluno para que tire algumas dúvidas como: “Será que os africanos e os indígenas aceitavam passivamente suas condições de escravidão?”, “Houve resistência desses grupos frente à exploração dos portugueses?”. Um endereço eletrônico simulando o contato com o amigo haitiano foi criado para recebermos as respostas dos alunos. Contudo, nem todos possuíam acesso à internet. Desse modo, adaptamos a avaliação para as respostas em papel, que foram entregues na semana seguinte à aplicação. Consideramos que os resultados foram muito bons, atingindo os objetivos pensados na estruturação das aulas.

Guerra fria e polarização ideológica: o conflito no campo da propaganda A proposta montada pelo grupo também previa uma série de quatro aulas, dessa vez para abordar o tema da Guerra Fria, através da propaganda, com os alunos do terceiro ano do mesmo colégio. Nesse caso optamos pelo uso do documentário The Atomic Café, lançado em 1982 e produzido integralmente com arquivos fílmicos norte-americanos principalmente das décadas de 50 e 60, em sua maioria materiais governamentais e militares. Também foram utilizados cartazes soviéticos para contrapor à propaganda norte-americana. Em nosso primeiro encontro optamos por requisitar aos alunos, inicialmente, que escrevessem numa folha de papel o que os acometia quando ouviam de Guerra Fria, a fim de preparar um diagnóstico sobre o conhecimento da turma acerca do tema. Realizada esta atividade, os incentivamos para que falassem um pouco sobre o que tinham escrito em suas folhas, recolhidas por nós, e o que pensavam sobre o assunto. Passado esse diálogo inicial, contextualizamos brevemente o período pós-Segunda Guerra Mundial, essencial para compreendermos a polarização que o mundo conheceu até 1991, além de apresentarmos algumas considerações sobre o documentário, falando sobre sua produção e narrativa, e ressaltando que se tratava de um documentário

que

utiliza

essencialmente

propaganda

norte-americana

antissoviética, portanto, apenas um lado do mundo bipolar. Em seguida, assistimos aos 23 minutos iniciais do filme, nos quais eram abordados os testes atômicos estadunidenses em 1945; os lançamentos das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki; os subsequentes testes feitos em ilhas do Pacífico, como o teste na ilha de Bikini; e como, através da propaganda, criavase a atmosfera do medo comunista no pós-guerra. Em nosso segundo encontro, composto por duas aulas, adentramos especificamente ao objetivo principal de nosso plano de aula: analisar a Guerra Fria a partir da propaganda. Para tanto na primeira aula, exibimos o trecho de 27:40 até 35:30 para analisarmos em conjunto com a turma a propaganda

norte-americana anticomunista. Neste trecho ficava claro a atmosfera de medo que a propaganda criava dentro do próprio território norte-americano durante a década de 50, alertando constantemente sobre a existências de espiões infiltrados nos principais órgãos estatais. Também trouxemos à discussão a Doutrina Truman, executada por meio do Plano Marshall, e a criação de uma aliança política-militar, representada pela criação da Organização do Tratado Atlântico Norte, a OTAN, em 1949, fortalecendo ainda mais a divisão mundial, já que a URSS recusara o convite de ingressar na aliança. Como dito anteriormente, a fim de contrapor a propaganda capitalista estadunidense, optamos por utilizar cartazes soviéticos que eram utilizados extensivamente como propaganda anticapitalista. A respeito da terceira aula, especificamente, iniciamos pontuando as especificidades do regime socialista soviético. Num segundo momento abordamos o regime soviético a partir do governo de Josef Stálin, Nikita Khrushchov e Leonild Brejnev. Sem nos aprofundarmos, pontuamos os aspectos que consideramos mais importantes para que os alunos compreendessem a conjuntura política e econômica soviética no período da Guerra Fria. Em seguida apresentamos um conjunto de cartazes soviéticos e, juntamente aos alunos, analisamos um a um, procurando destacar como a propaganda era apresentada à população e quais os objetivos que elas buscavam alcançar. Por fim, discutimos o fim da Guerra Fria e a queda do Muro de Berlim. Na quarta aula, procuramos verificar os conhecimentos apreendidos pelos alunos através da aplicação de uma avaliação. A atividade foi composta por duas questões: a primeira pedia para que eles refletissem sobre a Guerra Fria por meio das propagandas apresentadas, procurando traçar algum paralelo com a atualidade; a segunda apresentou um cartaz soviético e, partindo

de

um

roteiro

estabelecido,

pedia

para

que

os

alunos

problematizassem a imagem. Ao corrigirmos as atividades notamos algumas dificuldades por parte dos adolescentes. No que diz respeito à primeira questão, observamos que, provavelmente devido a extensão do enunciado, os alunos não conseguiram

responder completamente o que foi solicitado, principalmente quando foi pedido para que associassem o conteúdo trabalhado com questões do presente. Na segunda, notamos que os alunos não encontraram tantas dificuldades, provavelmente por contar com uma imagem e um roteiro a ser seguido. Contudo, foi possível observar que nem todos abordaram todos os aspectos solicitados no roteiro.

A ditadura civil-militar: movimentos sociais, repressão e violência Neste conjunto de 4 horas/aulas com alunos do terceiro ano, pretendemos abordar questões relativas ao período de ditadura civil-militar no Brasil, os mecanismos de repressão e violência aos movimentos sociais na época e traçar elementos de reflexão com o presente. Inicialmente, aplicamos um questionário com o objetivo de obter um panorama referente aos conhecimentos dos alunos sobre o tema da ditadura civil-militar no Brasil, consistindo em sete questões abertas. Após a realização da análise exploratória preparamos uma aula expositiva sobre o tema. A nossa segunda aula teve como objetivo apresentar em linhas gerais a época da ditadura civil-militar brasileira, abordando os principais conceitos historiográficos ligados à mesma, com ênfase para as temáticas com as quais os alunos demonstraram possuir maiores dificuldades segundo as respostas do questionário diagnóstico. O início se deu com uma explanação sobre o período antes do golpe, com o governo Jânio Quadros, abordando a crise política e econômica que predominava no período, passando então para uma exposição acerca do governo João Goulart, citando as reformas de base propostas por esse presidente e a reação negativa dos setores conservadores da população. Em seguida trabalhamos com um tema sobre o qual os alunos apresentavam muitas dúvidas, a tomada de poder pelos militares. Buscamos abordar os principais argumentos das forças armadas para defender o seu golpe, citamos a participação estadunidense em sua articulação, e optamos por destacar a participação das elites e da classe média nessa virada institucional, para reforçar também o seu caráter civil. Dividimos o período pelo governo de

cada ditador, apontando para as transformações da ditadura ao longo de seus 21 anos. Atribuímos especial atenção a alguns elementos como aos atos institucionais, em especial o AI-5, à maneira como a repressão foi se transmutando com o passar do tempo, e por fim, ao processo de redemocratização. Dada à aula expositiva, trabalhamos na aula seguinte com o quadrinho de Ferraz e Bortone. Foram distribuídas cópias das obras aos alunos e concedido um tempo para que fizessem a leitura do material. Isso feito, trabalhamos questões relativas a abordagem do quadrinho em relação à leitura. Neste ponto, os alunos foram participativos e demonstraram grande interesse. O quadrinho “Brasil: ditadura-militar. Um livro para os que nasceram bem depois...”, foi escolhido justamente por apresentar uma linguagem acessível e por abordar o passado em um diálogo com o presente, o que se mostrou frutífero, pois os alunos conseguiram compreender a linguagem, o contexto histórico do período e fazer a relação entre passado e presente. Dando sequência às aulas ministradas por nosso grupo, o tema seguinte foi sobre Ditaduras na América Latina, e após a discussão sobre este conteúdo, aplicamos a atividade avaliativa. Logo, esse momento serviu também como um processo de revisão de todos os assuntos estudados e questões levantadas por nós. Diante disso, buscamos discutir com eles as indagações propostas no questionário inicial que aplicamos no primeiro dia de inserção na sala de aula desta turma. Como também pudemos perceber, nesse questionário os estudantes tiveram muita dificuldade em referenciar outras ditaduras, principalmente as latino-americanas. Desse modo a aula buscou englobar todas as ditaduras, traçando uma análise sobre questões comuns e as especificidades de cada, mapeando assim, características importantes deste período histórico no continente. Visando facilitar a assimilação desse conteúdo, e pensando sobre a interdisciplinaridade, apresentamos durante a aula expositiva sobre o tema um mapa da América Latina onde os países que passaram por ditaduras estavam sinalizados e destacados. No fim, revisamos alguns conceitos importantes como censura, repressão, perigo vermelho, entre

outros, e após essa pequena revisão, partimos para a leitura da atividade avaliativa. A atividade consistia em uma questão, estruturada como uma carta enviada por uma cidadã argentina endereçada aos alunos, em que a mesma pedia notícias e informações sobre os acontecimentos durante a ditadura militar brasileira, de modo que os alunos deveriam exercitar a capacidade de explicá-la e suas consequências de forma clara. A questão trazia também uma deixa para que os estudantes relacionassem o período trabalhado com os demais regimes da América Latina, bem como as relações de poder e interesses políticos por trás dos golpes, e concluía propondo uma análise da visão da sociedade atual sobre esse período. Dispusemos de 50 minutos para a aplicação da atividade avaliativa, e para a realização da mesma seria necessário o uso de computadores com acesso à Internet. Porém, no dia em questão não havia computadores com internet em número suficiente no laboratório para todos os alunos presentes, o que acabou atrasando a dinâmica da aula e dificultando a aplicação da atividade. Portanto, a avaliação foi realizada em sala de aula, e a questão foi exposta no quadro negro.

Considerações Finais Muito embora as aulas tenham privilegiado assuntos muito diferentes entre si, podemos observar algumas similaridades no que diz respeito à forma com que foram desenvolvidas pelos bolsistas. A partir de discussões conjuntas entre bolsistas, coordenador e supervisor, levantamos alguns elementos que servem para pensar os êxitos das atividades, assim como os entraves encontrados e as possibilidades para tentar evitá-los em atividades futuras. As avaliações diagnósticas, aplicadas de maneiras diferentes em cada contexto, mostraram-se fundamentais para o exercício didático através do PIBID, principalmente porque os bolsistas não possuem contato tão contínuo com os alunos, o que torna necessária a utilização de outros meios para o levantamento do conhecimento prévio da classe sobre determinado assunto. Por outro lado, avaliamos que as atividades poderiam ter sido ainda mais

frutíferas, uma vez que, em maior ou menor grau, as lacunas percebidas nas avaliações diagnósticas não foram totalmente resolvidas. Tal defasagem entre o levantamento do conhecimento prévio dos alunos e as exposições do bolsistas deve-se, em nosso entender, sobretudo pelo fato de que esse exercício exige um maior ganho de experiência da área docente, situação adquirida pelos bolsistas ao passar do tempo e das inserções nas escolas. A questão dos quadrinhos e do cinema para o trabalho dos conteúdos também levantou importantes reflexões ao projeto como um todo. A utilização dessas mídias nos casos citados no artigo mostrou-se interessante e exitosa. A escolha dos quadrinhos e das produções fílmicas afinou-se bem aos objetivos de cada aula, atendendo às expectativas do grupo no cumprimento dos objetivos levantados previamente de acordo com cada conteúdo. No entanto, avaliamos que seria preciso entendermos ainda mais das estruturas formais que dão suporte à produção cinematográfica e dos quadrinhos para que, em sala de aula, obtivéssemos resultados ainda melhores. Dito de outro modo, entendemos que seria necessário um retorno ao estudo e discussão dos aspectos técnicos das nossas mídias visando um melhor aproveitamento delas como instrumentos didáticos no ensino e aprendizado de história.

Referências Bibliográficas

FERRO, Marc. Cinema e História. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2003. NASCIMENTO, Jairo Carvalho do. Cinema e ensino de história: realidade escolar, propostas e práticas na sala de aula. Revista de História e Estudos Culturais. Vol. 5, n. 2, 2008. PALHARES, Marjory Cristiane. História em Quadrinhos: Uma Ferramenta Pedagógica para o Ensino de História. Trabalho de Conclusão do Programa de Desenvolvimento Educacional. Disponível em:

http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/2262-8.pdf. Acesso em 04 de julho de 2016. SANTOS, Roberto Elísio dos. A história em quadrinhos na sala de aula. Intercom. XXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Belo Horizonte, 2003.

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