Cinquentenário do laboratório de Conservação e Restauro de Conimbriga

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“O laboratório de Conimbriga: 50 anos na vanguarda da conservação e restauro” Fundado o Museu Monográfico de Conimbriga a responsabilidade da sua direção foi entregue, naturalmente, ao Dr. Bairrão Oleiro. Este tinha sido um dos principais mentores da sua criação. Da sua equipa próxima faziam parte o Dr. Jorge e Adília Alarcão e, de acordo com o programa que desde então havia sido perfilado quanto à filosofia de gestão do primeiro museu de sítio em Portugal, nasce o laboratório de conservação e restauro de Conimbriga, assegurando a Dr.ª Adília a responsabilidade pelo espaço e trabalhos nele desenvolvidos. Esta, tinha acabado de receber formação em conservação e restauro no único curso académico existente à época, lecionado com um carácter experimental no, prestigiado e avançado, Instituto de Arqueologia de Londres. O laboratório foi instalado numa das extremidades da grande cave do edifício, numa área suficientemente espaçosa e bem iluminada com luz natural. Nos primeiros anos de funcionamento do museu não existia um quadro de pessoal porque, propriamente, naquela altura nem sequer haviam sido ainda definidas as carreiras técnicas para a missão e as necessidades muito particulares dos museus, especialmente para um museu com as características do de Conimbriga. O trabalho desenvolvido no museu e no laboratório era executado por técnicos e investigadores, estudantes e colaboradores voluntários, que participavam nas campanhas arqueológicas que iam decorrendo, assim como da equipa permanente que se começava a desenhar. Começou-se a formar no laboratório um corpo de funcionários, todos recrutados localmente, que tinham que obedecer aos requisitos que a Dra. Adília definira para o exercício da conservação e restauro. No

essencial, gosto pela área, capacidade de trabalho, boa visão, destreza manual, paciência, meticulosidade e concentração. Estes primeiros funcionários do laboratório, consoante a demonstração das suas aptidões teórico-práticas, adquiriram especialização diferencial. Uns, ou deveria dizer umas, mostravam-se vocacionadas para o tratamento das ligas metálicas e vidros, outros orientados para os materiais cerâmicos e líticos. Uns inclinados para a modelação da matéria e da forma, outros para o rigor do traço, da perceção da cor ou da textura. Formou-se uma equipa versátil de quatro técnicas e um técnico que, com suporte na pesquisa e recurso à interdisciplinaridade, começava a dominar todos os aspetos, não só da intervenção em objetos arqueológicos mas, também, das boas práticas e procedimentos museológicos. A diversidade de metodologias que se foram desenvolvendo ao longo dos anos no laboratório, transfigurou estes funcionários em profissionais altamente especializados e, paulatinamente, conferiu-lhes uma enorme capacidade para ensinar e monitorizar, quer os estudantes e outros voluntários que participavam nas campanhas de escavação e colaboravam nas práticas do laboratório, como, frequentemente, funcionários enviados doutros organismos para ali aprender os princípios da conservação e metodologias de intervenção. A sua ação pedagógica fez-se notar especialmente nos cursos de técnicos e técnicos auxiliares de conservação e restauro que mais tarde se viriam a realizar e, ainda, sobre outras pessoas interessadas que não encontravam oferta no país para aprender a conservar e restaurar bens arqueológicos ou objetos etnográficos; uma singular vertente de intervenção seguida na linha de atuação do laboratório, quer prática quer formativa. O serviço do laboratório tinha sido pensado para satisfazer as necessidades de intervenção no acervo do museu; naquele preexistente, no proveniente das escavações arqueológicas futuras e naquele, que por outras formas, podia ser incorporado na coleção de Conimbriga.

Desde cedo, o interesse que suscitou o trabalho que se ia desenvolvendo no laboratório de Conimbriga despoletou pedidos dos mais variados quadrantes, quer institucionais quer particulares, e depressa a sua atividade se alargou no sentido do tratamento de espólios de outros locais. Esta abertura ao exterior proporcionou ao laboratório um amplo conhecimento do património artístico, histórico e arqueológico português. Por outro lado permitiu conquistar e sensibilizar as entidades que entregavam ao cuidado de Conimbriga os seus espólios para, no essencial, muitos aspetos do que se viria mais tarde a chamar, a conservação preventiva. O Museu albergava já um espaço de reserva que permitia o acondicionamento, em relativas boas condições de ambiente e acondicionamento, quer o espólio que mantinha em depósito, quer as peças em trânsito a aguardar tratamento ou entrega. Na sua essência cabia ao laboratório a missão de realizar o acompanhamento dos projetos de escavação, a coordenação e execução das intervenções de manutenção e conservação e restauro de Conimbriga, contudo, ainda devido a muitos pedidos externos, veio, igualmente e decisivamente, contribuir para a valorização e conservação de locais arqueológicos em todo o território português. Assim, em 1966, o Ministério da Educação, reconhecendo as imensas solicitações de outras instituições públicas e de particulares para os procedimentos únicos de conservação e restauro que se praticavam no laboratório de Conimbriga, decretou a sua existência e atividade, estabelecendo uma prerrogativa excecional - a possibilidade de poder prestar serviços ao público. É nesse ano que se vive o grande apogeu do laboratório de conservação e restauro, a par das escavações luso-francesas que avançavam de uma

forma sistemática, todo o trabalho laboratorial se desenvolve com grande dinamismo. As intervenções assentavam em bases científicas. Examinava-se o objeto quanto à sua composição, tipo e forma, estudava-se e tentava-se compreender os fenómenos físico-químicos e biológicos provocados pela ação do tempo e do meio ambiente. Para o método de observação e a análise recorria-se a meios complementares de diagnóstico, frequentemente, ao desenho e á fotografia, do que resultou um acervo documental muito significativo e, em alguns aspetos, notável, não só pela quantidade mas, sobretudo, pela qualidade dos registos produzidos. O desenvolvimento de técnicas de desenho arqueológico foi, a par da conservação dos objetos, um dos fatores que despoletou grande interesse no meio académico, de forma a atrair a Conimbriga muitos arqueólogos e técnicos, para aprenderem ou verem as suas peças desenhadas. A constituição de um fundo bibliográfico dedicado à conservação e restauro, que reúne exemplares únicos sobre esta matéria, como por exemplo, desde o inicio, a assinatura da revista cientifica de edição quadrimestral “Studies in Conservation”, fornecia outra ferramenta ao laboratório, fundamental para levar a cabo a pesquisa dos processos de conservação e restauro e se obter conhecimento das metodologias mais recentes. As intervenções caracterizavam-se essencialmente por assegurar, em cada caso, a resistência e integridade física do objeto, mas a capacidade de reversibilidade dos produtos utilizados era visto como um requisito primordial de qualquer intervenção. Simultaneamente protagonizava-se um conceito de conservação e restauro que só mais tarde foi consensualmente aceite pela comunidade

científica - o princípio da intervenção mínima em património arqueológico. Em 1974, o laboratório apresentava já equipamentos que ainda hoje são utilizados com regularidade. Está apetrechado com lupas binoculares e um microscópio petrográfico, aparelhos e instrumentos de registo e de análise, como termohigrógrafos, condutívimetros e medidores de pH, para citar os mais comuns, unidade de tratamento de águas, estufas de secagem, câmaras de vácuo para impregnação de peças - uma das quais feita propositadamente para as necessidades do laboratório -, equipamentos para o processo de redução eletrolítica - uma metodologia laboratorial pioneira e única em Portugal no tratamento de artefactos arqueológicos metálicos - e, ainda, foi também aqui que surgiu o primeiro jacto abrasivo utilizado na conservação e restauro. A limpeza mecânica a seco, uma técnica de conservação e restauro recente na altura, ganha uma grande relevância em Conimbriga, fazendo com que o laboratório se especializasse neste tipo de intervenção. Esta metodologia aplica-se frequentemente no tratamento de objetos metálicos que apresentam espessa camada de corrosão, e executa-se quer através do uso de bisturis e vários tipos de lâminas, quer por meio de jacto abrasivo, vibradores de agulhas, brocas e fresas elétricas, assim como escovas manuais e outros instrumentos de gume e corte. Outra técnica inovadora e assinalável, desenvolvida com excelente qualidade e resultado, em todos os seus aspetos, foi o restauro de objetos em vidro. Ainda, no âmbito das práticas de conservação e restauro do laboratório de Conimbriga, para fins de preservação, divulgação, comercialização ou exibição, destaca-se o conhecimento e a experiencia adquirida na execução de múltiplas cópias, reproduzindo peças arqueológicas.

Com as obras de remodelação e ampliação do museu, ocorridas entre 1976 e 1985, o laboratório é transferido para a uma das novas alas do edifício. É melhor apetrechado e para distinguir os tipos de intervenção em cada caso e em função, do número, da dimensão e, sobretudo, da composição material dos artefactos a tratar, sectorizam-se as zonas de trabalho. Enfim, o laboratório cresce e moderniza-se. No espírito que presidiu, desde a sua génese, à filosofia de intervenção do laboratório, ou seja, a importância dada à aplicação dos recursos tecnológicos e científicos na observação e exame de materiais arqueológicos como fundamental à formulação do diagnóstico do seu estado de conservação, afigura-se de especial importância a aquisição de uma lupa digital, para a análise endoscópica e superficial dos artefactos, e o apetrechamento do laboratório com uma unidade de raio X, para exame estrutural de peças de elevada densidade. É que, por observação e análise se transmite informação que determina, na maior parte dos casos, a metodologia de intervenção a levar a cabo. O ensaio, a experiência, a transformação de matérias-primas, a preparação de produtos, fórmulas e soluções para a conservação e restauro, o exercício regular do contato próximo com as tecnologias e as ferramentas novas ou do passado, e o recurso ao conhecimento científico de outras áreas do saber, é também apanágio do percurso histórico e técnico-científico do laboratório de Conimbriga. Sempre que possível, já como diretora, a Dra. Adília promovia para os técnicos e estudantes de conservação, visitas a museus, a indústrias dos vidros, a fábricas de moldes, a fábricas de curtumes, a olarias, a oficinas de ourivesaria, etc. que, conjuntamente com o convívio próximo com académicos e pessoas da cultura que os trabalhos externos proporcionava, abriu novos horizontes e elevou o conhecimento de quem teve a sorte e o ensejo de trabalhar e estudar em Conimbriga.

Os técnicos eram estimulados e orientados para executar os procedimentos de conservação e restauro e a atividade laboratorial para os quais mostravam maior apetência, sensibilidade e capacidade. De assinalar, quer do ponto de vista técnico quer do históricodocumental, é o registo das intervenções nas peças que deram entrada no laboratório de conservação e restauro de Conimbriga. O arquivo sistematizado é constituído por fichas de tratamento enumeradas e colocadas em pastas com quatro denominações: “escavações antigas”, “escavações Dr. Jorge Alarcão”, “escavações luso-francesas” e “estranhos”. Peças integradas nas “escavações antigas”, correspondem às primeiras incursões no terreno, anteriores á construção do museu e instalação do laboratório. O primeiro objeto a ser tratado, segundo o registo então iniciado, foi um machado em ferro. Está inscrito na primeira ficha de laboratório, datada de 10 de Fevereiro de 1963. Este ficheiro está contido em 6 pastas que incluem cerca de 1500 fichas em papel. O arquivo de fichas de laboratório correspondente às escavações conduzidas pelo Dr. Jorge Alarcão entre 1963 e 1977, neste momento, contém cerca de 300 entradas. A primeira deste ficheiro tem o nº 24 e é de 1 de Abril de 1963. Refere o tratamento de um “denário em prata”. Entre os anos de 1964 e 1971 têm lugar as “Escavações Luso-francesas”. O acompanhamento permanente do laboratório às campanhas de escavação no centro monumental da cidade, primeiro sob a direção de Bairrão Oleiro e depois Jorge Alarcão e Robert Etienne, foi a fase mais profícua de investigação em Conimbriga, o que trouxe, em termos

práticos quanto aos achados, quer à obtenção de maior quantidade de peças, quer variedade de tipologias e materiais. A primeira peça intervencionada proveniente das campanhas lusofrancesas foi uma placa de bronze. A respetiva ficha de tratamento possui o número 50 e está datada do mês de Agosto de 1964. São cerca de 2000 fichas entradas, distribuídas por 8 pastas. Para os objetos designados por “estranhos”, aqueles que não se inserem no contexto da cidade, o primeiro registo na ficha de laboratório, a número 11 de Fevereiro de 1963, é a de um artefacto com a designação de “assobio de prata”, no caso, pertença de um privado. Nesta altura, este ficheiro, contempla mais de 5000 fichas distribuídas por 16 pastas. Aproximadamente desde o início do milénio o registo das peças em fichas de laboratório é feito numa base de dados informática. Durante este período deram entrada para avaliação e tratamento cerca de 1000 objetos. Cada ficha identifica e descreve o tratamento de uma peça ou pode incluir conjuntos de objetos, no caso de acervo da mesma proveniência com diagnóstico e proposta de intervenção similares. Há descrições de tratamento de algumas peças continuadamente ao longo de 7 anos. Maioritariamente, as fichas correspondem ao tratamento de espólio metálico. O registo de tratamento de peças cerâmicas e materiais pétreos de Conimbriga em fichas de laboratório, com algumas exceções, é escasso, o

que pode parecer paradoxal, se se considerar o vastíssimo volume de peças destes materiais tratados no laboratório. No entanto, a intervenção neste tipo de objetos compreendia procedimentos frequentes e comprovados e, só em casos mais emblemáticos, que exigissem operações de maior complexidade, ou naqueles em curso no âmbito de prestação de serviço ao exterior, era digna de registo e descrição do processo de restauro realizado, caso a caso. Relativamente às peças metálicas o registo é exaustivo e completo. Quer pela variedade dos tratamentos físicos, químicos e eletroquímicos aplicados, quer, à suscetibilidade para a reativação de fenómenos de alteração do seu estado de conservação e de se poder vir a colocar a necessidade de um novo tratamento. O que de facto acontece, sobretudo em peças de estranhos, muitas das vezes, e saídas de Conimbriga, sujeitas a condições de ambiente menos adequado à sua estabilidade físicoquímico e, por vezes, em condições expositivas ou de acondicionamento impróprios para a sua estabilidade mecânica. Nos anos 80, finalmente definidos os conteúdos e reguladas as carreiras museológicas, o quadro de pessoal do laboratório, integrou no seu serviço quatro técnicas profissionais e um técnico de conservação e restauro. Nesta década, em Portugal, faz-se notar a intervenção do laboratório no quadro da formação em Conservação. Realizaram-se dois cursos de técnicos de conservação e restauro de bens arqueológicos e etnográficos, um entre 1981 e 1983 e o outro entre 1987 e 1989, no qual, este vosso interlocutor, ou melhor, narrador, se inclui. Em simultâneo decorria um curso de artífices de restauro de mosaicos e um curso de assistentes do património cultural. Todos os cursos foram ministrados pela Dra. Adília Alarcão e um corpo docente multidisciplinar, que a própria reuniu e facultou, que, para os cursos técnicos, era constituído por arqueólogos, geólogos, químicos, fotógrafos, pintores e, até, matemáticos, entre outros.

Nas suas próprias palavras, “o museu veio dar ao sítio uma alma, uma vida quotidiana, um rosto, através dos objetos expostos, do seu pessoal, da atividade científica e, entre outros, dos programas de formação tão diversos…” O arranque e, em certa medida, o modelo pedagógico e a componente curricular do Curso da Escola de Conservação e Restauro e mais tarde da licenciatura da Universidade Nova de Lisboa, teve origem partilhada por Conimbriga, pela influência, causa e perseverança da Dra. Adília. Muitos dos que se formaram em Conimbriga exercem atualmente uma profissão na área da conservação e restauro e quase todos os que neste serviço estagiaram ou produziram trabalho académico, estão a desempenhar funções conciliáveis, quer em outros organismos do estado, quer em empresas privadas, seja a realizar investigação, exercer docência ou em projetos de intervenção. Para dar uma visão global dos trabalhos realizados pelo laboratório de conservação e restauro de Conimbriga, salienta-se que: No período de remodelação do Museu Monográfico, entre 1976 e 1985, foram tratados para a exposição permanente, 1161 objetos. Entre 1979 e 1986 para a renovação da exposição permanente do Museu Nacional de Arqueologia foram tratados todos os materiais expostos e, grande parte deles, intervencionados pela primeira vez. Ainda durante parte dos anos oitenta foram restaurados em Conimbriga mais de cinquenta objetos etnográficos africanos, duma coleção maioritariamente constituída por instrumentos musicais. Durante a maior parte da década de 90 o laboratório relançou a sua atividade para as grandes exposições nacionais de arqueologia como: Lisboa Subterrânea, em 1994; A Idade do Bronze em Portugal, em 1995;

De Ulisses a Viriato, em 1996; Portugal Romano, em 1997; De Scallabis a Santarém, em 1999; Regiões da Lusitânia - no qual participou, por exemplo, no tratamento de um vasto conjunto de elementos escultórios romanos em mármore - e Pavilhão de Portugal da EXPO’98, cujo tratamento do espólio subaquático, então recolhido do naufrágio duma embarcação na Barra de São Julião em Cascais, recebeu uma intervenção a todos os títulos única e exemplar. Desde o tratamento de grãos de pimenta, vasos chineses, astrolábios e até conjuntos de pratéis em estanho, dá para ficar com uma panorâmica da diversidade e do alcance do trabalho realizado no laboratório de conservação e restauro de Conimbriga. Desde sensivelmente década e meia, sob os auspícios do novo diretor, o Dr. Virgílio Correia, o laboratório manteve a sua atividade de forma regular e a bom nível. Acompanhou, no que diz respeito ao tratamento do espólio arqueológico, o projeto de valorização e conservação dos edifícios públicos de Conimbriga levado a concurso pelo ministério das obras públicas, com inicio em 2001 e findo em 2006. No âmbito das suas funções e competências, o laboratório acompanhou os planos de trabalhos arqueológicos que têm sido levados a cabo nas ruínas, designadamente os desenvolvidos por Maria Pilar Reis e Adriaan De Man, o primeiro no âmbito duma investigação em sistemas hidráulicos romanos e o segundo sobre os aspetos defensivos da cidade, num projeto de investigação conduzido pela Universidade Autónoma de Madrid e do Centro de Estudos Arqueológicos de Coimbra e do Porto que incidiu no estudo da basílica. Escavou-se parte da insula a oeste das termas e está a ser levado a cabo pelo Dr. José Ruivo um projeto na casa do tridente e da espada. Na área da intervenção externa e no plano académico e profissional, o laboratório tem integrado programas de investigação, vem acolhendo e orientando estágios e formações a muitos níveis, e continua a prestar

inúmeros serviços a entidades públicas e privadas, donde se destaca o envolvimento em projetos em villas romanas, como a do Coriscada no concelho de Mêda, ou na Abicada no concelho de Portimão, mas, igualmente, em Santiago da Guarda - parte integrante do eixo da romanização de que Conimbriga é o cerne -, elaborou, por solicitação da Direção Regional de Cultura do Algarve, os termos de referência para importantes projetos de restauro, designadamente para o sitio arqueológico de Milreu e para os pavimentos de mosaico da Abicada, este último em execução. Ainda, no decurso da sua atividade laboratorial, tratou-se um imenso espólio de peças metálicas do museu de Évora, para além de muitas objetos trazidos por empresas e investigadores a trabalhar em contextos arqueológicos vários, donde se salienta peças cerâmicas da idade do bronze e do ferro. Foi o laboratório de conservação e restauro, como lhe competia, que elaborou o plano de conservação preventiva de Conimbriga. Este instrumento normativo, muito importante no quadro de funcionamento do museu, foi homologado pelo então diretor do IMC, o Dr. Manuel Oleiro, acerca de três anos. Atualmente, pese embora todas as dificuldades de ordem financeira e administrativa que atrasam ou impedem, não poucas vezes, que se proceda a aquisição de produtos e materiais absolutamente necessários ao funcionamento do laboratório e, principalmente, a escassez de recursos humanos especializados e não especializados que o atinge, o laboratório continua a prestar serviços a uma larga gama de instituições. Entre outros, o Museu Machado de Castro, o Museu do Carmo, a Câmara Municipal de Coimbra e o Museu da Comunidade Concelhia da Batalha. No quadro traçado, o laboratório tem sofrido uma redução drástica de pessoal pelo motivo óbvio da reforma das técnicas mas, menos explicável, pela falta de abertura de concursos para a contratação de novos técnicos. Não havendo a transmissão dos conhecimentos e experiência acumulados

em 50 anos de actividade do laboratório, perde-se igualmente um património de saber fazer que demorará a ser recuperado. Gerou-se, portanto, uma situação que se pode considerar no mínimo preocupante. A ampliação da coleção permanente do museu, programada para o final deste ano do seu cinquentenário, é o próximo e sério desafio que se coloca ao laboratório. No entanto numa aproximação ao espírito dos antecessores, prosseguem-se ensaios e investigam-se novas metodologias e processos. A conservação e restauro de bens arqueológicos é uma atividade relativamente recente que exige por parte dos atores nesta área, além de um enorme interesse pelo património cultural em geral e particularmente pelo artefacto, coleção ou estruturas a intervir, um conhecimento profundo da composição dos materiais e do seu comportamento face aos agentes de deterioração, um bom suporte técnico-científico e, não menos importante, um elevado grau de maturidade e sensibilidade histórico e técnico-artística. Nesse sentido o laboratório de Conimbriga, a partir da segunda metade do séc. XX, desenvolveu uma verdadeira cultura de conservação e restauro, que se encontra bem espelhada nos milhares de objetos que tratou e nos projetos de arqueologia e museologia em que participou. Pode-se afirmar com causa e efeito, que o laboratório de Conimbriga, no processo evolutivo de reflexão sobre as teorias e práticas de conservação e restauro e no campo da gestão do património cultural, quer ainda no que respeita ao domínio das metodologias de intervenção em objetos arqueológicos, assim como em edificado e estruturas arqueológicas, tornou-se um exemplo em Portugal e, a muitos títulos, uma referência internacional. Sendo a razão de ser do museu de Conimbriga a materialização da necessidade de preservar, conservar e valorizar as ruinas que tutela, por

inerência, o exercício destas funções deve, evidentemente, ter como principal suporte, os serviços de conservação e restauro de Conimbriga. Assim, ainda que as estruturas arqueológicas expostas tenham tido um expressivo acréscimo de área e volume e o laboratório venha a sentir, cada vez mais, a carência de recursos humanos e técnicos, o balanço, nesta passagem do cinquentenário, é de que esse objetivo tem sido mais que razoavelmente cumprido. Perspectivam-se projectos de investigação arqueológica e parcerias culturais, verifica-se o aumento do interesse turístico e de público diversificados e prevê-se a ampliação do perímetro visitável, contudo, ao museu e às ruinas de Conimbriga, decerto, não faltará um programa de conservação e restauro que guie a tutela no sentido de continuar a ser o garante da sua salvaguarda e preservação, agora e na posteridade.

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