Clássicos da Arqueologia. Vol.II Livro III. Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro,Estado de São Paulo. Autor: Tom.O.Miller Junior. Orgs.Rossano Lopes Bastos & Erika M. Robrahn-González. XVI Congresso da Sociedade de Arqueologia Brasileira/UISPP. Florianópolis/SC. 2011

July 22, 2017 | Autor: Rossano Lopes Bastos | Categoria: Arqueologia Pré-Histórica
Share Embed


Descrição do Produto

ISBN 978-85-60967-39-1

9 788560 96 7391

O Arqueólogo e Antropólogo brasileiro Tom O. Miller, Jr. (TOM), nasceu na área florestal da fronteira internacional do norte das Montanhas Rochosas da America do Norte em 1931. Bacharelou-se na Universidade de Washington (Seattle), fez o curso de mestrado na Universidade de Califórnia (Berkeley) e passou o curso de doutoramento na Universidade de Arizona (Tucson). As suas áreas de interesse, desde início, eram Arqueologia, Etnografia Indígena, Teoria e Método, e a região geográfica de América Latina, e já com uma orientação sistêmica e transdisciplinar. Em 1961 se mudou para Curitiba, e em 1964 para Rio Claro, onde desenvolveu um Levantamento Arqueológico, inicialmente na Depressão Periférica paulista, com a intenção de se expandir para outras partes do interior do Estado. Engajou os seus alunos em pesquisas de campo e laboratório, com bolsas de pesquisa da FAPESP para alguns. A sua tese de doutoramento foi feita na base dos trabalhos de Levantamento realizados em Rio Claro. Possui uma vasta produção científica publicada em periódicos nacionais e internacionais. Entre 1990 e 1993, publicou diversos trabalhos didáticos em Teoria e em Metodologia nas Ciências Antropológicas, pela UFRN e a Cooperativa Cultural da mesma Universidade. Em 1995 se aposentou. Mesmo não podendo andar (artrose nos joelhos), continua os seus trabalhos didáticos e de pesquisas na área de Memória Patrimonial (Arqueologia).

Este livro reproduz o trabalho produzido por Tom Oliver Miller Junior em 1968, para sua tese de doutorado, apresentada à Cadeira de Antropologia, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro.

I

O Arqueólogo e Antropólogo brasileiro Tom O. Miller, Jr. (TOM), nasceu na área florestal da fronteira internacional do norte das Montanhas Rochosas da America do Norte em 1931. Bacharelou-se na Universidade de Washington (Seattle), fez o curso de mestrado na Universidade de Califórnia (Berkeley) e passou o curso de doutoramento na Universidade de Arizona (Tucson). As suas áreas de interesse, desde início, eram Arqueologia, Etnografia Indígena, Teoria e Método, e a região geográfica de América Latina, e já com uma orientação sistêmica e transdisciplinar. Em 1961 se mudou para Curitiba, e em 1964 para Rio Claro, onde desenvolveu um Levantamento Arqueológico, inicialmente na Depressão Periférica paulista, com a intenção de se expandir para outras partes do interior do Estado. Engajou os seus alunos em pesquisas de campo e laboratório, com bolsas de pesquisa da FAPESP para alguns. A sua tese de doutoramento foi feita na base dos trabalhos de Levantamento realizados em Rio Claro. Possui uma vasta produção científica publicada em periódicos nacionais e internacionais. Entre 1990 e 1993, publicou diversos trabalhos didáticos em Teoria e em Metodologia nas Ciências Antropológicas, pela UFRN e a Cooperativa Cultural da mesma Universidade. Em 1995 se aposentou. Mesmo não podendo andar (artrose nos joelhos), continua os seus trabalhos didáticos e de pesquisas na área de Memória Patrimonial (Arqueologia).

Este livro reproduz o trabalho produzido por Tom Oliver Miller Junior em 1968, para sua tese de doutorado, apresentada à Cadeira de Antropologia, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro.

Tom Oliver Miller Junior

Um Estudo em Metodologia

Erechim RS 2011

Todos os direitos reservados pela SAB-Sociedade de Arqueologia Brasileira. Proibida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma e por qualquer meio mecânico ou eletrônico, inclusive através de fotocópias e de gravações, sem a expressa permissão do autor.

Preparação de originais e Revisão técnica: Tânia Tomázia do Nascimento Editoração: Darcy Rudimar Varella Elen Luci da Gama Capa:

José Alfredo Abrão Gabi Cavion

Organizadores: Rossano Lopes Bastos Erika M. Robrahn-González

M648d Miller Junior, Tom Oliver Duas fases Paleoindígenas da Bacia do Rio Claro, E. S. Paulo : um estudo em metodologia / Tom Oliver Miller Junior. – Erechim, RS : Habilis, 2011. 384 p. ; 14 x 21 cm. - (Clássicos da Arqueologia ) ISBN 978-85-60967-39-1 1. Arqueologia 2. Paleoindígenas 3. São Paulo – Bacia do Rio Claro I. Título II. Série C.D.U.: 902(815.6) Catalogação na fonte: bibliotecária Sandra Milbrath CRB 10/1278

IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL

Apresentação Quatro anos após o primeiro volume da série “Clássicos” da arqueologia brasileira, que visa publicizar trabalhos de excelência e relevância, publicados nos últimos cinquenta anos na arqueologia brasileira, vimos através de um congresso conjunto – XVI Congresso da Sociedade Brasileira de Arqueologia e XVI Congresso Mundial da UISPP – apresentar, o segundo volume da série. Ressaltamos que os critérios de seleção dos trabalhos ora apresentados, pautaram-se na excelência, inovação e persistência das obras escolhidas. Enquanto secretário geral do XVI Congresso Mundial da UISPP é uma honra apresentar os autores que abrilhantaram o segundo volume da série: Pedro Ignácio Schmitz, Tom Oliver Miller Junior e José Luiz de Morais. Arqueólogos que dedicaram suas vidas para a arqueologia, e contribuíram para delimitar e marcar os cânones da arqueologia nacional. E embora a arqueologia brasileira, hoje, passe por grandes transformações, com a inserção de métodos, teorias e novas áreas de atuação, advindas com a modernidade, quaisquer trabalho atual estará ligado à matriz arqueológica começada pelos precursores. Visando divulgar para as gerações presentes e futuras as obras: “Sítios de Pesca Lacustre em Rio Grande, RS, Brasil” de Pedro Ignácio Schmitz, “Duas Fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: um Estudo em Metodologia” de Tom Oliver Miller Junior, e “Perspectivas Geoambientais da Arqueologia do Paranapanema Paulista” de José Luiz de Morais, esperamos contribuir com o fácil acesso e democratização do conhecimento, através da publicação do trabalho de pesquisadores que colaboraram para o reconhecimento da arqueologia brasileira em cenário nacional e mundial. Rossano Lopes Bastos Secretário Geral do XVI Congresso Mundial da UISPP

Prefácio Resistência e generosidade Antonio Carlos Sarti A sensação experimentada foi como se o tempo não tivesse passado. Naquele pequeno quarto estavam à minha frente os olhos azuis muito conhecidos. Emitia o mesmo brilho de fascínio com que nos brindara a cada palavra, som ou copo de cerveja. Ali estava o Tom, de camisa ocre e cabelos desarranjados. A última vez que o vira talvez tenha sido em 1975. De lá para cá, setembro de 2007, somente os anos nos separaram. Mas este tempo não foi obstáculo, pois, num olhar, dobrou-se, emendando passado e presente no intervalo de uma sinapse. Um abraço fraternal e a conversa correu solta por horas, fazendo-me lembrar, lá pelas tantas, que viera até Natal para gravar uma entrevista. E lá estávamos nós, falando sem parar de Rio Claro, das pessoas de Rio Claro, das pedras de Rio Claro, dos bares de Rio Claro. Rio Claro, único lugar onde Tom parou o tempo suficiente para criar raízes, segundo ele próprio. E assim fomos, por três dias, ora parando para que ele pudesse se recompor fisicamente, ora para recarregar a bateria da filmadora, emprestada do amigo Percy. Eram intervalos que acabamos chamando de “recarga da bateria”, servindo para ambos os casos. Era o momento em que Tom pedia ao Robson, afilhado de sua filha adotiva Iara, para pegar alguma pasta na estante, cuidadosamente organizada à direita da cabeceira de sua cama ou noutro

móvel aos pés dela. Robson, com paciência e tranquilidade, acessa os arquivos e retira a pasta solicitada sem antes perguntar: “- É esta seu Tom?”. Numa destas pastas encontrei um manuscrito intitulado “A segunda revolução científica” obtendo a explicação de que seria um material que utilizara em aulas, por muitos anos, na UFRN. Impressionou-me a atualidade dos temas e a visão interdisciplinar claramente desenvolvida, em sintonia ou até mesmo precursora em relação aos consagrados autores desta concepção de ciência. O ventilador se encarregava de fazer circular o ar meio quente que vinha de fora, depois de passar pelas paredes e entrar pela janela metálica. As roupas úmidas penduradas no varal do corredor, melhoravam a umidade do ar, ampliando a sensação de conforto. O computador e a impressora ligados demonstravam que ali não era só um lugar de repouso. Antes, era um gabinete de trabalho habitado pelo Tom. A netinha Isabel, com a curiosidade própria de criança, vinha a todo momento mostrar alguma coisa, um brinquedo, e desandava a falar, a contar alguma coisa que mal entendíamos. Fazia questão de marcar sua presença e de obter a nossa atenção. Nada perturba a tranquilidade do Tom, agora enredado em lembrar os nomes, os lugares, os cheiros, as cores, as paisagens, as estradas e cascalheiras que percorrera em meio a canaviais. Tom estava animadíssimo com a idéia de ser o tema de nossa exposição “Pioneiros da Arqueologia: Tom Miller – percurso e obra” e, freneticamente ia se lembrando de coisas e objetos que poderiam compor a mostra. Mandou descer da parede dois quadros. Encontrou um maço de desenhos. Selecionou poemas. Todas manifestações produzidas como forma de resistir à ditadura. Poderia ter pego em armas? Poderia. Mas ponderou com seus alunos, à época, Gera à frente, que isto seria lutar no campo “deles”. A melhor maneira de resistência seria manter-se criativo, produtivo, exaltando a cultura, campo para “eles” inatingível. Assim, ir ao Altarurgio em retiro para escrever poemas (e ficarem ilhados por conta de uma forte chuva que elevou o nível do Passa Cinco) era o exercício do bom combate. Palavras por balas. Balaspalavras.

Ao final do dia, Francisca vinha conferir. Ah! Francisca, a filha mais velha do Tom. Aquela indiazinha com olhos negros e rosto arredondado que ficava agarrada ao pai onde quer que ele estivesse, nos olhando sempre assustada. Tinha a impressão de que ela não sabia, não entendia, o que nós, jovens estudantes fazíamos ali ao lado do pai dela. Incrível foi, para mim, quando cheguei a Natal para localizar o Tom: só tinha o endereço da Francisca localizado pela lista telefônica e, assim como a ele, não a via por igual tempo. Da mesma maneira, aqueles olhos cravados no rosto redondo, marcados na minha memória de adolescente, revelaram aquela menina, hoje uma senhora, professora na UFRN. Ao término de três dias e da entrevista, uma forte emoção nos tomou, ambos desejando que não demorasse tanto tempo para que nos encontrássemos novamente. E não demorou. Tom passou a ser colaborador assíduo em todas as situações criadas no decorrer do Projeto Turismo e Arqueologia, sempre entrando com auxílio da web cam e do skype por meio dos quais fez comunicações que ao público emocionou pela precisão das palavras, pela generosidade com que apresenta seu conhecimento, pela experiência e percepção da vida e pelo exímio domínio destes artefatos tecnológicos do alto de seus 80 anos. Tecnologia é com ele mesmo! Tom O. Miller, Jr. (como gosta de ser grafado) apresenta-se como um arqueólogo transdisciplinar cujas áreas de interesse incluem Teoria e Método da Arqueologia e da Antropologia, Etnografia Indígena, Etnoarqueologia, Educação Patrimonial e a região geográfica de América Latina. É Brasileiro, nascido em vinte de novembro de mil novecentos e trinta e um, na cidade de Coeur D´Alene no Estado de Idaho, E.U.A. Seu pai, Tom Oliver Miller era engenheiro civil e sua mãe Margareth N. Miller motorista da ambulância da Cruz Vermelha durante a Segunda Guerra Mundial. A formação de Tom Oliver Miller Jr se deu por volta de 1940, no Coeur d`Alene Highschool, na pequena cidade de Coeur D`Alene. Sua formação Acadêmica ocorreu na University of Washington (Seattle), nos Estados Unidos da América, no curso de bacharelado em Antropologia, no período de1951/53.

Em 1953 inicia na University of California em Berkeley nos E.U. A curso de Mestrado em Antropologia não tendo defendido a dissertação por haver sido aprovado no exame a nível de doutorado na Universidade de Arizona (Tucson). Em 1954, inicia suas pesquisas na área de Arqueologia na região de Coeur D`Alene recolhendo dados e artefatos sobre os indígenas e compõe o artigo “Four Burials from the Coeur d`Alene Region, Idaho”. Em 1957, cursa as disciplinas de doutoramento na Universidade de Arizona (Tucson). Em 1959, publica “Archaeological Survey of Kootenai County, Northern Idaho” e “Evolutionismo and History in American Archaeology”. Neste mesmo ano publica ainda “A Proposal for the use of Cultural Taxonomy in Pacific Northwest Archaeology” e “Statistical Techniques for Handling Quantities of Variable Projectile Points: Test Case: Northern Idaho”, trabalho apresentado ao XXIVº Congresso da Society for American Archaeology, Salt Lake City. No Brasil, inicia sua experiência didática ministrando disciplinas de antropologia e arqueologia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro – FFCLRC (que viria dar origem à UNESP, Campus do Rio Claro, SP), local onde defende sua tese intitulada “Duas fases paleoindígenas da bacia de Rio Claro”, em 1969, sob a orientação de Fernando Franco Altenfelder Silva. Procurando entender aspectos tecnológicos dos artefatos encontrados na Região de Rio Claro, entrou no campo da Etnoarqueologia estudando cerâmica Caingáng e tecnologia lítica Xetá, através de pesquisas etnográficas com pessoas vivas. Sensibilizado com o abandono e sofrimento das populações indígenas brasileiras da época, passou a atuar nos campos do Indigenismo e da Antropologia Aplicada também, num trabalho ousado e inovador que lhe custaria a tranqüilidade da família e a incompreensão da comunidade rioclarense embebida no conservadorismo e no provincianismo. Foi nessa época que conheci Tom. Era estudante do Colégio de Aplicação da FAFI e nosso contato com estudantes universitários era normal, corriqueiro. Também eram muito próximos dos estudantes

do CAFAFI os professores da FAFI. Tom era um deles e nos fascinava com seu jeito diferente. Era uma pessoa de grande estatura, mancava numa das pernas, falava com sotaque, tinha aparência de um hippie com roupas largas e coloridas. E sempre estava acompanhado de um punhado de jovens, coletando lascas de pedras e cacos cerâmicos. Numa dessas oportunidades, acompanhei o trabalho de seleção dos pedaços em laboratório e essa experiência ficou marcada para sempre. Viera do Vocacional e, lá, com os Estudos do Meio, tinha conhecimento da ocorrência dos sítios arqueológicos e da importância deles para a nossa noção de tempo. Mas estar frente a frente com os objetos e com as pessoas que os estudavam foi uma experiência profunda. Tom incentivava o teatro, a música, as artes plásticas, as saídas a campo para conhecer os lugares e paisagens de nossa região. Íamos em grupos á Fazenda da Toca, à cachoeira do Wichmann, ao alambique do Altarúrgio, ao casarão da Fazenda Serra D’Água, ao Horto Florestal. Conhecíamos nosso território. Enquanto coletava matérias para sua tese, Tom transformava a vida de uma geração. Sua tese e trabalho científico já teriam alcançado tempos jamais imaginados no passado remoto ou no futuro, já ou distante: ensinara a resistir com generosidade. Permaneceu na FFCLRC até o ano de 1975. Posteriormente é convidado como professor visitante por Silvio Coelho do Santos para lecionar a disciplina Teoria Antropológica no curso de Mestrado em Antropologia Social na UFSC em Florianópolis, SC, onde desenvolveu pesquisa etnoarqueológica com os índios Xokleng, lá permanecendo até o ano de 1977. Em dezembro de 1977 foi convidado pelo professor Nassaro Nasser para ajudar a estruturar o curso de Mestrado em Antropologia Social e lecionar a disciplina de teoria antropológica na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Na UFRN, realizou pesquisas arqueológicas no Vale do Açu e no Município de Ares/RN, através do Museu Câmara Cascudo. Na década de 80, iniciou suas pesquisas com comunidades de pesca artesanal. Várias foram as pesquisas arqueológicas realizadas pelo Professor Tom Oliver Miller Jr. e, entre elas cabe citar as realizadas

na Região Central da Depressão Periférica e Regiões adjacentes no planalto Ocidental de Botucatu e Bauru/SP. Realizou ainda pesquisa etnoarqueológica com ceramistas Caingáng Paulistas. Dessas pesquisas resultaram publicações como: “Arqueologia da Região Central do Estado de São Paulo” e “Tecnologia Cerâmica dos Caingáng Paulistas”, ”Stonework of the Xetá Indians of Brazil” in, Bryan Hayden, org., Lithic Use-Wear Analysis, p. 401-407. New York: Academic Press, “A Crise da Pesca Artesanal no Rio Grande do Norte”. Natal/UFRN. Tom Oliver Miller Jr é professor aposentado do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte desde 1995. Mesmo aposentado está realizando pesquisas sobre Memória Patrimonial ligada à Arqueologia. Foi o que encontrei Tom fazendo: pesquisando a arqueologia dos carimbos postais pois é um objeto que lhe permite recolher material por correio, acionando a vasta rede de colecionadores. Nos anos que se seguiram, Tom colaborou com autores diversos e publicou “A SEGUNDA REVOLUÇÃO CIENTÍFICA” pela Editora da UFRN e trabalhou intensamente nos últimos dois anos para organizar, fundar e manter funcionando a ANARQUEOLOGIA - Associação Norte-rio-grandense de Arqueologia, da qual é seu primeiro presidente, desencadeando um processo de organização da comunidade dos arqueólogos potiguares, cientes dos imensos desafios que tem decorrentes do importante legado dos povos que habitaram aquela parcela do território brasileiro. Portanto, a publicação de sua tese “Duas fases paleoindígenas da bacia de Rio Claro”, muito mal divulgada à época, é o reconhecimento pela grandiosidade de sua obra intelectual decorrente de sua visão humanista, persistência, resistência e generosidade.

ÍNDICE PARTE 1 - TEÓRICA..................................................

13

1.1 Definições e propósitos ...................................... 1.2 Estratégia do levantamento arqueológico de SP . 1.3 Operação da pesquisa .......................................... 1.4 Tipologia de artefatos .......................................... 1.5 Metodologia adotada ..........................................

15 19 26 32 47

PARTE 2 - HISTÓRICA ............................................

51

2.1 A Jazida José Vieira............................................. 2.2 Outros estudos no interior ................................. 2.3 O Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas 2.4 Trabalhos mais recentes ...................................... 2.5 Resumo ...............................................................

56 57 59 60 62

PARTE 3 - GEOGRÁFICA.........................................

65

3.1 Relevo ................................................................. 3.2 Clima e vegetação atual ......................................

67 73

PARTE 4 - DESCRITIVA............................................

77

4.0 O sítio de Tira Chapéu ........................................ 4.1 O componente de Tira Chapéu III ....................... 4.2 O componente de Tira Chapéu II ........................ 4.3 O componente de Tira Chapéu I ......................... 4.4 O componente de Monjolo Velho ....................... 4.5 O componente do Bairro do Cabeça ................... 4.6 A jazida da Serra d’Água .................................... 4.7 A jazida de Tamandupá .......................................

79 84 102 117 125 138 149 160

PARTE 5 - TIPOLÓGICA .........................................

173

5.1 Forma do gume ................................................... 5.2 Comprimento do gume ....................................... 5.3 Ângulos do gume ................................................ 5.4 Peças com gumes múltiplos ...............................

175 177 180 188

PARTE 6 - COMPARATIVA......................................

193

6.1 Jazidas brasileiras................................................ 6.2 Jazidas em outros países sul-americanos ............

195 197

PARTE 7 - CRONOLÓGICA .....................................

201

7.1 Seleção dos atributos, modos e tipos .................. 7.2 A linha de regressão ............................................ 7.3 A Fase Monjolo Velho ......................................... 7.4 A Fase Santo Antônio .......................................... 7.5 A datação dos depósitos .....................................

204 209 210 210 212

PARTE 8 - RESUMO...................................................

219

NOTAS .........................................................................

223

ANEXOS .......................................................................

225

Anexo I - Artefatos Típicos da Bacia do Rio Claro . Anexo II - Poço Fundo .............................................. Anexo III - São Lourenço ......................................... Anexo IV - Pós-Fácio, Retrospecto de 2008 ............

229 241 281 325

1 TEÓRICA

1.1 Definições e Propósitos 1. 1.0 O atual estudo, sob a orientação da Arqueologia Moderna, tem o propósito de descobrir e definir seqüências de culturas líticas locais. Por ser uma obra pioneira, é necessário certo pormenor na definição da orientação, ou abordagem, dos propósitos teóricos e operacionais dos conceitos. “Entre as nossas divisões acadêmicas convencionais, a Arqueologia é mais estreitamente aliada a duas disciplinas em particular: a História, que é o estudo de acontecimentos em seqüência; e a Etnologia, que é, em parte, a reconstrução de acontecimentos pela análise...” (EHRICH 1950: 468). As duas procuram traçar o desenvolvimento do homem, enquanto a Arqueologia se torna um conjunto de métodos e técnicas de pesquisa histórica e etnológica. Os historiadores tendem a limitar-se a estudar as sociedades literárias, esquecendo que, no final das contas, a História é concomitante com a espécie humana. Para a maior parte da história humana, inclusive, dependemos completamente das evidências e argumentos arqueológicos para nosso conhecimento do passado (ver MacWHITE 1956: 3). Aquelas, por exemplo, circunscrevemse à parte da cultura material que as circunstâncias possibilitaram sobreviver até agora. Sendo assim, o objetivo último da Arqueologia não poderia ser outro senão a criação de uma imagem de vida dentro dos limites dos restos do passado que estão à nossa disposição (PHILLIPS E WILLEY 1953: 616), pelo procedimento da reconstrução das relações espaço-temporais, de um lado, e contextuais, de outro (THOMPSON 1958: 1). Aqui trataremos especialmente da primeira destas últimas. Sapir observou, uma vez, que “todas as ciências especiais da natureza física e cultural do homem tendem a erguer uma armação 15

Tom Oliver Miller Junior

de suposições tácitas que permite, aos seus especialistas, trabalharem com o máximo de economia e generalidade” (SAPIR 1964: 172). Infelizmente, às vezes, estas suposições podem esconder uma lógica circular que determina as conclusões dentro dos propósitos. Por esta razão, está-se tornando um costume entre os arqueólogos tornar explícitas as suposições que jazem atrás dos seus argumentos. Thompson (1958) introduziu os conceitos ou princípios de contexto e de analogia na Arqueologia. Baseando-se nas idéias de Dewey, ele explica que o primeiro “define a província de conhecimento à qual pertence uma pesquisa” (1958: 2). Tal província fornece o contexto de uma investigação, de onde provém a maior parte dos dados necessários para elaborar e testar as inferências. “Os dados utilizados no atual (ou qualquer) estudo arqueológico consistem em observações dos resultados de atividade humana. Estes dados aqui estão organizados com o propósito de descrever certos padrões culturais de comportamento” (ibidem). O segundo princípio de Thompson é o de analogia, segundo o qual: O arqueólogo que lavra uma conclusão sugere uma correlação entre certa série de percepta materiais arqueológicos e certa classe de comportamento sócio-cultural (1958: 5).

O tipo de analogia mais óbvio, segundo Chang (1967:229), encontra-se nos estudos folclóricos do Velho Mundo e a abordagem “histórica direta” do Novo (ver STEWARD 1942). Aqui, a analogia se faz entre as ferramentas pré-históricas e as dos povos recentes da mesma região. Um outro tipo, chamado de “comparativa geral” (WILLEY 1953, citado em CHANG 1967: 229),.em vez de uma analogia histórica específica, consiste na suposição de que a correlação entre o artefato e o comportamento se “deriva de um padrão de ocorrências repetidas num grande número de culturas” (THOMPSON 1958: 5). Em face à aplicabilidade limitada do primeiro tipo, o segundo torna-se, assim, preocupação maior para os arqueólogos, tanto na teoria quanto na prática, embora normalmente sem exame mais profundo. A prática é bastante velha na Arqueologia; particularmente 16

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

desconheço a primeira ocorrência, embora saiba que foi utilizada desde Lubbock (1865) e Pitt-Rivers, no século XIX. Outro conceito bastante básico para os nossos trabalhos é o de Cultura. Esta é vista, geralmente, como uma abstração do comportamento padronizado e normativo, compartilhado e comunicado (por endoculturação ou socialização) por sociedades humanas, através das gerações. Esta abstração tem tantas definições quanto estudantes para defini-la (KROEBER E KLUCKHOHN 1952), apesar da sua posição central em nossa ciência, visto a matéria do antropólogo, segundo Kroeber, ser a cultura. Sem embargo, o conceito permanece vago. Sapir, por exemplo, começou uma corrente de pensamento que vê com certo receio o conceito de cultura, preferindo considerar o comportamento humano mais em termos lingüísticos. Em vez de dizer que sociedades humanas têm cultura, ele observa que indivíduos humanos estruturam o seu comportamento por padrões compartilhados por outros membros da mesma sociedade. Assim, homens não participam de cultura, do mesmo modo que não participam de uma língua; apenas fazem atos que podem ser observados, quantificados, para de eles induzir-se a estrutura. O enfoque no estudo de línguas, por exemplo, está na palavra e na frase ditas por indivíduos; as unidades são sons (fonemas) e idéias (morfemas). A atividade humana, assim, pode ser vista, no mesmo sentido, como uma relação entre atividades e idéias, e relações específicas entre atividades e objetos (ver PRESTON 1966; BINFORD 1965: 205). Do ponto de vista operacional, a definição que segue, de White (1959: 8), é a mais útil para o arqueólogo: “Os meios extrasomáticos da adaptação para o organismo humano”. Nesses meios extra-somáticos não existe distinção entre (1) artefatos, (2) a sua fabricação e (3) o seu uso. Nas definições de cultura como uma abstração normativa, o artefato não é “cultura”, pois esta não é material e, sim, ideacional. Para os fins do atual estudo, utilizaremos a definição de White, uma vez que ela nos permite tratar com fatos culturais diretamente e não apenas através de inferências sobre uma abstração normativa. 17

Tom Oliver Miller Junior

Os nossos artefatos, então, nessa ótica, são cultura, visto estarem ligados a seres humanos através das estruturas de manufatura e de uso (atividades). Estes conceitos serão explorados em maiores detalhes na parte 1. 4. 2. abaixo. 1.1.1 Objetivos

O termo “objetivo” refere-se ao produto final de qualquer segmento, no procedimento de pesquisas histórico-culturais (ver ROUSE 1953: 57 e SWARTZ 1967:487). Uma definição básica das finalidades da Arqueologia precisa incluir a idéia da derivação do intangível pelo tangível (DEETZ 1965: 1). Enquanto, por exemplo, certos aspectos de ecologia, religião e organização social são facilmente reconstruídos pela manipulação dos dados, como Deetz assinala, antes ficamos mais preocupados com os dados mais específicos (concretos) como ponto de partida nessas manipulações. Também entre a prática e a Epistemologia, Willey e Phillips (1962: 4) apontaram três níveis de organização de análise científica: observação, descrição e explicação. Tugby (1965: 1) prefere usar os termos identificação, distribuição e análise processual, embora a idéia seja a mesma. O primeiro passo seria a coleta de dados; o segundo, a organização desses dados em formas significantes, isto é, apresentando as suas dimensões formais e não formais; e, por fim, com esses conceitos básicos, proceder à reconstrução de atividades e conceitos culturais do passado. O presente estudo é uma parte pequena de um programa amplo e de longo alcance (ver MILLER 1965b). As suas finalidades – apenas no sentido conceitual, pois na prática não são facilmente separáveis - são (1) taxionômicas, (2) cronológicas, (3) ecológicas, (4) distributivas, (5) históricas e (6) processuais. Seu objetivo abrange as duas primeiras – as taxionômicas e as cronológicas -, embora sempre no contexto das outras, pois estes se fundamentam nos resultados daqueles. O objetivo taxionômico é a identificação e definição das características das culturas materiais de povos pré-históricos da Bacia de 18

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Rio Claro (definida em Penteado 1968), enquanto o cronológico é a organização dessas culturas numa seqüência dentro da região. Aqui, toma-se por constante a dimensão espacial, pois trata-se apenas de uma bacia hidrográfica de tamanho limitado; a dimensão formal refere-se ao objeto imediato das investigações de campo e laboratório, e a temporal deriva-se das evidências internas das jazidas. As cronologias, por sua vez, podem ser absolutas ou relativas (ver também ZEUNER 1956). As primeiras implicam em datas do calendário (p. ex. 4.004 a. C.) ou idade medida (p. ex. 3123 + 250 anos antes do presente, ou - 3123 anos). As segundas implicam uma posição dentro de uma seqüência de acontecimentos ou épocas (p. ex. pré-asteca mas pós-tolteca). A cronologia aqui lavrada é relativa, embora pretendamos fazer, também, sugestões de correlações com cronologia absoluta. No que diz respeito à data, esta pode ser derivada por meios internos (radiocarbono em quantidades analisáveis), associados (inclusão de um objeto de data conhecida dentro do depósito), tipológicos (inclusão de um objeto análogo aos de data conhecida), seriação (organização de componentes em seqüências na base de flutuações de popularidade relativa de estilos), ou estratigráficos (inclusão dentro de formações reconhecidas ou em seqüência). Os métodos aplicados aqui são de estratigrafia e seriação. Culturas materiais encontradas em estratos homólogos (t1 ou terraço baixo, pp1 ou primeiro paleopavimento, solo recente) são analisadas e, se bastante semelhantes incluídas na mesma “fase” (ver 1. 4. 8. abaixo). Esta cronologia cultural servirá, inclusive, de armação para erguer outros estudos posteriores sobre problemas ecológicos, distributivos, históricos e processuais.

1.2 Estratégia do Levantamento Arqueológico do Estado de São Paulo. Aqui trataremos da estratégia desenvolvida e aplicada na nossa pesquisa. Rouse (1953) observou que “pesquisa pioneira numa ciência como a Antropologia é, talvez, inevitavelmente à toa” até o ponto 19

Tom Oliver Miller Junior

em que tenhamos suficientes dados básicos para planejar o trabalho. Durante quinze anos após esta afirmação, vimos acompanhando uma verdadeira revolução na ciência de arqueologia, no que se refere a abordagem, técnicas e teoria. No mesmo ano - 1953 -, apareceram não somente estudos arqueológicos tradicionais de jazidas, associação de artefatos com animais extintos e escavações de ossuários, mas, também, o estudo pioneiro de Spaulding (1953) de dimensões e quantificação, e o começo de um interesse na aplicação de aplicação de análises de matriz para seriação de jazidas arqueológicas (introduzido por Brainerd e Robinson em 1951). Dez anos depois (1963), vemos estudos sobre conservação de água e solos em tempos pré-históricos e medidas da eficiência de economias extrativas pré-históricas na base de evidências internas... Não se precisa mais começar obra pioneira trabalhando à-toa. A estratégia de uma pesquisa arqueológica pode ser planejada em vários níveis de especificidade e com vários fins levados em conta simultaneamente, embora conceitualmente separados. Rouse, no estudo citado, assinala uma necessidade de se escolher entre dois objetivos para uma pesquisa integrada: “Um, o de traçar um programa de pesquisa rígido e compreensivo, em que um objetivo segue logicamente ao outro até o último mais importante;” e o outro “é considerar cada objetivo independentemente, levando em conta que alguns objetivos, necessariamente, têm que anteceder a outros... mas tratando cada objetivo com importância igual para a construção da história cultural total” (ROUSE 1953: 58).

Taylor (1948) também acredita num programa total na sua “abordagem conjuntiva”. Rouse, porém, prefere a segunda das suas alternativas; agora, com conceitos atuais, como a estatística de amostragem, não sendo necessário que um programa seja rígido nem enorme para ser compreensivo (ver BINFORD 1964). Steward (1967:239), por sua vez, nos lembra a abordagem ou orientação humanística e a abordagem da história natural desenvolvida pela Arqueologia durante os muitos anos em que ela foi uma 20

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

disciplina de museus. Taxonomia existia por si mesmo, e na base de “artefatos de pedra”, “artefatos de osso”, etc., com o “uso” ou o “estilo” sendo fatores distintamente secundários. Os materiais assim classificados eram organizados em seqüências programáticas para pesquisa arqueológica foram apresentadas, por Swartz (1967: 487) e por Willey e Phillips (1962: 4). Estes últimos programaram trabalho de campo, integração cultural-histórica e interpretação processual; enquanto Swartz propôs preparação, aquisição, análise, interpretação, comparação e abstração. A nossa finalidade na Arqueologia, todavia, é a reconstrução e estudo da etnologia e história do passado pré-histórico. “Mesmo que não possamos escavar um sistema de parentesco nem uma filosofia, podemos escavar e escavamos os itens materiais, que funcionaram junto com os elementos mais comportamentais, dentro dos subsistemas culturais apropriados. A estrutura formal de conjuntos de artefatos junto com as relações contextuais de elementos devem apresentar, e de fato apresentam, um quadro sistemático e compreensivo do sistema cultural extinto total” (BINFORD 1962:218-219).

Os arqueólogos (aliás, pré-historiadores) têm sido criticados, como Rouse (1965: 6) explica, inclusive por outros arqueólogos (TAYLOR 1948), porque prestam demasiada atenção a pedras lascadas e cacos de cerâmica. Talvez não tenhamos deixado suficientemente explicado que esses refugos antigos não nos interessam por si, mas simplesmente porque nos fornecem uma pista para o estudo de povos, de sociedades e seres humanos. A nova finalidade de procurar “explanações causais de similaridades e diferenças culturais” (STEWARD 1967:239) galvanizou a Arqueologia e a Etnologia nessa época. Conduziu, necessariamente, a estudos de processos de mudança e aos fatores que iniciaram esses processos, pela comparação de sistemas socioculturais, dentro dos quais tanto as semelhanças quanto as diferenças assumem importância,.embora as diferenças nos ajuntamentos arqueológicos se devam não apenas ao tempo (processo ou evolução), mas também às “posturas estruturais” (GEARING 1958) ou “fácies” (ver abaixo) 21

Tom Oliver Miller Junior

de uma sociedade, no decorrer de distintas atividades econômicas ou sociais, durante o ciclo anual. As várias atividades humanas implicam, assim, estruturas diferentes, pois os padrões de comportamento humano variam com as espécies diferentes de atividades. Estas deixam um registro “fóssil”, para cuja análise possuímos agora algumas técnicas, combinando as de escavação, amostragem, testes de probabilidade, pedologia, estudos de pólen, paleontologia, paleoclimatologia, ecologia, análise de radiocarbono e coeficientes de associação de tipos de instituições humanas conhecidas na Etnologia, etc. Por exemplo, a relação íntima entre Arqueologia e Ecologia está implícita no propósito de que o homem sempre viveu em sociedades organizadas, de tal maneira que ele podia utilizar certos “nichos”, culturalmente selecionados, dos recursos disponíveis (GJESSING 1967:238). Pesquisamos, levando em conta o fato de que estudamos sistemas culturais totais, em termos de conteúdo, estrutura e dimensões (em espaço e tempo). Um sistema cultural total “pode ser caracterizado como povos e objetos em associação interacional; os etnólogos normalmente usam os povos como ponto de partida, enquanto que os arqueólogos têm que começar com os objetos. Esta diferença de tática implica em sistemas metodologicamente separados” (CHANG 1967: 234), embora as finalidades sejam as mesmas. 1.2.1 A Estratégia de Amostragem

Esta parte corresponde, junto com “testes” e “escavação”, ao trabalho de campo de Willey e Phillips e à aquisição de Swartz (ver acima); pois a preparação de Swartz implica (1) familiarização com os trabalhos já feitos e (2) preparação para os problemas técnicos de trabalho de campo. Para começar uma pesquisa pioneira em pré-história, é necessário muito trabalho de reconhecimento ou levantamento no campo, para os fins de identificar sítios ou jazidas, registrá-los com as suas características e levar amostras ao laboratório para análise, o que 22

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

permite uma melhor definição das lacunas no conhecimento e elaboração da tipologia, bem como outras viagens ao campo. Neste caso, não há maneira de separar, operacionalmente, as tarefas de aquisição e análise, embora, conceitualmente, não haja inconveniência. Os espécimes retirados de cada sítio ou jazida, preferivelmente em número superior a cem (o que para fins estatísticos é um bom mínimo), são levados para o laboratório, lavados, marcados e analisados. No nosso caso em questão, a maioria das jazidas foi facilmente encontrada, porque a erosão as perturbou, deixando as peças na superfície e, assim, sem contexto. Desse modo, não havia nenhum perigo de destruição de evidências contextuais na retirada dos espécimes. Embora essas coleções tenham pouco valor nas reconstruções ou sínteses culturais, têm sido de utilidade inestimável nos três anos de estudos, análises e manipulações de atributos, que forneceram os alicerces da compreensão da cultura material imperecível dessa região e as bases para a tipologia de artefatos, numa província de pesquisa pioneira, e sem as quais este estudo não seria possível. Tais coleções serão publicadas posteriormente, depois de novamente analisadas com base em conhecimentos mais atualizados. Depois de definidos os atributos, para o primeiro passo na construção da tipologia e das fases culturais, torna-se mister voltar ao campo para “testes”, isto é, prospecções específicas em jazidas, cujos contextos geológicos permitem controle estratigráfico, e, por isso, temporal. Essas amostras, analisadas em termos de modos e tipos e comparadas nas suas dimensões formais e não formais (temporais, dentro do contexto espacial da Bacia de Rio Claro), juntamente com as interpretações decorrentes, formam a base deste estudo. 1.2.2 A Estratégia da Tipologia

“Análise”, segundo Swartz (1967: 489; ver também Brainerd 1951: 302), “é o procedimento pelo qual os dados arqueológicos 23

Tom Oliver Miller Junior

estão colocados numa estrutura de tempo e espaço; é o passo inicial no estudo dos materiais arqueológicos apanhados no campo.” Swartz a considera distinta dos fins e meios de reconstrução cultural, embora forneça a organização espaço-temporal para esta última. Ele vê análise como “a manipulação de massas de dados arqueológicos para os fins de induzir uma ordem (ou estrutura) espaço-temporal” (SWARTZ, 10c. cit.). Tal ordem, forçosamente, tem que ser acompanhada pela classificação, a maneira pela qual as unidades úteis à demonstração das similaridades e diferenças através do espaço e do tempo podem ser formuladas. Classificação, segundo Cowgill (1967: 237) é, essencialmente, uma série de “operações em conexão com armazenamento e recuperação de dados, e que embora nunca independente de síntese e interpretação, não deve ser confundida com estas últimas.” Obviamente, o arqueólogo não pode tratar cada achado, individualmente, para tirar as suas conclusões. É necessário encontrar categorias significantes, configurações naturais nessas populações de ferramentas pré-históricas, as quais permitirão estudo de grandes quantidades de informações em conjuntos. A resposta tradicional da Arqueologia é a tipologia. Com as primeiras grandes coleções armazenadas no laboratório, podemos estudar as associações de atributos das peças, e quais as combinações de atributos que tendem a associar-se de maneira significante. Eis a base do conceito do tipo (ver Parte 1.4. para uma maior discussão da teoria de tipologia). Com os modos e tipos quantificados, podemos construir matrizes, representando as jazidas, e calcular os coeficientes de diferença ou relação, reconstruindo a cronologia relativa e índices de variação na região. Uma vez construída a cronologia, cada nova jazida pode ser colocada na série, na mesma base. Também as mudanças de estilo dos vários tipos podem ser estudadas, o que fornecerá valiosas informações sobre relações e processos culturais e sobre as diferenças de fácies definidos, para se abstraírem os fatores ou complexos que representam atividades econômico-industriais específicas (BINFORD e BINFORD 1966).

24

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

1.2.3 A Estratégia de Testes

Uma vez estabelecidos os atributos comuns aos artefatos da região, certas jazidas podem ser escolhidas para testes. Esses testes têm a finalidade de estabelecer contextos estratigráficos, da cronologia relativa, dos vários ajuntamentos arqueológicos da região. Rouse explica a estratégia assim: Primeiro, cada sítio tem que ser dividido em componentes... Se o sítio forneceu um ajuntamento homogêneo de artefatos, deve ser tratado como um componente único, mas, se não, terá que ser dividido em vários componentes, cada um com o seu ajuntamento homogêneo. Todos os componentes que forneceram ajuntamentos semelhantes são agrupados juntos. Cada grupo é definido por intermédio de um registro de traços distintos e recebe o nome de um sítio típico. O nome se refere não somente ao grupo de componentes mas, também, aos traços que o caracterize e ao povo que o habitou. Os traços constituem um complexo que identifica o povo. Cada vez que se descobre um novo sítio, pode-se identificar o povo que o habitou simplesmente, determinando qual o complexo incluído (ROUSE 1965:6).

A análise de modos e tipos de cada componente, bem como a definição de vários componentes no mesmo horizonte geológico, em termos de fases ou culturas de sociedades específicas e das características para a identificação dessas fases, onde se encontrarem, constituem a primeira construção da análise da pré-história de uma região, o que, necessariamente, tem que anteceder todos os trabalhos de estudos de processo sociocultural e abstração de fatores fácies. Esta é a parte central deste estudo, que, todavia, deverá ser vista sempre no contexto de uma pesquisa maior e mais compreensiva, embora, conceitualmente, divisível com facilidade. 1.2.4 A Estratégia de Escavações

Uma vez estabelecida a cronologia relativa da região e a definição das fases, pode-se começar a última etapa da pesquisa da região, ou seja, a escavação de certas jazidas para relacionar as 25

Tom Oliver Miller Junior

sociedades fósseis com os seus ambientes ecológicos, para coletar carvão vegetal para datas radiocarbônicas (absolutas), e procurar indícios de clima e vegetação através de solos e pólen fósseis. Ainda mais: na escavação, procuramos todos os artefatos e ecofatos (ver SPAULDING 1960; MEIGHAN 1958) dentro da amostra da jazida escolhida para tal. De preferência, não escavamos a jazida inteira, pois, com o passar dos anos, as técnicas vêm melhorando, de maneira que sempre estão sendo definidas novas técnicas para a coleta de informações que, no presente, muitas vezes não podem ser salvas. Na Europa, vários países têm leis contra a escavação de mais da metade de determinada jazida, exatamente por essa razão, o que permite a futuros investigadores confirmarem ou modificarem o trabalho de hoje. Na parte escavada, procuramos o registro fóssil do sistema social, representado pelos achados: traços de casas, sepultamentos, oficinas, abatedouros, restos de fogueiras, fornos, covas de armazenamento, oferendas rituais, e as relações contextuais de todos. Com essas informações, poderemos reconstruir a etnologia da sociedade na época; e, juntando os resultados com os de outras regiões e outros tempos, poderemos reconstruir a história não escrita ou a pré-história dessas áreas (integração cultural-histórica, com implicações locais, e interpretação processual, com implicações universais para a natureza de processos de sociedades humanas). Esse estágio da pesquisa não está dentro dos propósitos do presente estudo, pertencendo a uma parte posterior, a qual, porém, só pode surgir através dos resultados deste estudo.

1.3 Operação da Pesquisa até agora O Levantamento Arqueológico do Estado de São Paulo, com estudo piloto na região de Rio Claro, desenvolveu, pelos estágios de preparação, com planejamento para as tarefas de campo e laboratório, e pesquisa dos materiais bibliográficos sobre a região, trabalho de campo, inclusive com a aquisição de materiais documentados, análise dos dados no laboratório, pelo isolamento ou descobrimento 26

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

de atributos e modos, na classificação analítica, e a construção da tipologia, na classificação tipológica, investigação dos contextos estratigráficos e geomorfológicos, e interpretação. 1.3.1 Operação da Preparação

Trabalhos anteriores da Arqueologia e Geomorfologia serão revistos nas Partes II e III abaixo. A Fundação de Amparo e Pesquisa do Estado de São Paulo forneceu uma verba no valor de Cr$ 1.000,000,00 (velhos) em 1965 e uma verba de continuação de valor igual em 1966, para as fases inicial (reconhecimento) e secundária (testes), além de fornecer viação (um jipe), durante uma parte de 1965. A verba supriu, principalmente, gastos de transporte para reconhecimento e transporte ao local de testes, além de material permanente (ferramentas), material de consumo (sacos, etc.), e uma parte da mão-de-obra. A Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro forneceu uma parte do material de consumo, tal como papel de mimeografia para fichas, estênceis, quatro dias de mão-de-obra de dois operários, e, mais importante, o serviço do servente, o Sr. Gil E. Contato, cuja colaboração tem sido indispensável nesta pesquisa desde o começo, tanto no campo quanto no laboratório, e espaço e facilidades para armazenamento e análise dos materiais. Quando o jipe em questão não estava mais à nossa disposição, compramos outro, do nosso ordenado. Também do nosso ordenado compramos livros de referência e, quando os recursos da verba da Faculdade se encontravam congelados em 1968, caixas de madeira para armazenamento, e papel e tinta para mimeografia, filmes e papel fotográfico, além dos dias do trabalho do fotógrafo oficial da Faculdade, quando este se encontrava de férias. As fotografias foram batidas, reveladas e as cópias foram feitas pelo fotógrafo oficial da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro, com equipamento dessa instituição. Uma equipe foi formada entre os alunos da Faculdade, e orientada para o trabalho de campo. Alguns desses alunos agora se encontram com bolsas de estudo da FAPESP, especializando-se na nossa ciência. 27

Tom Oliver Miller Junior

Uma fase do reconhecimento foi ajudada, adicionalmente, pela cooperação com o Project “Smithsonian”, do United States National Museum, numa articulação deste trabalho com o projeto deles. O Laboratório de Arqueologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro conta com três secções, todas sob a orientação da Cadeira de Antropologia dessa instituição. Em Rio Claro, encontram-se a Secção de Cerâmica e a de Lítico, e graças à gentileza e espírito de cooperação com a ciência, dos proprietários da “Fazenda Poço Fundo”, deles obtivemos um prédio da dita fazenda, o que agora é o Laboratório de Campo “Augusto Schmidt Pinto”. Agradecemos aqui, publicamente, a colaboração de cidadãos como o Prof. José Schmidt Pinto e o Eng. Sebastião Schmidt Pinto. Também devemos agradecer ao Sr. Manoel Pires, de Rio Claro, um arqueólogo amador, que nos acompanhou graciosamente nas primeiras viagens exploratórias. Os trabalhos foram desenvolvidos, também, sempre em contato e colaboração com o Instituto de Préhistória da Universidade de São Paulo. A abordagem operacional, seguida aqui, é a desenvolvida especialmente nos Estados Unidos da América do Norte, nos últimos anos, particularmente na parte ocidental do Continente, abordagem esta que aprendemos em aulas, no laboratório e no campo, nas Universidades de Washington (Seattle), California (Berkeley), e Arizona (Tucson), motivo pelo qual devemos os nossos profundos agradecimentos aos Professores Doutores Douglas Osborne, Emil W. Haury, e Raymond H. Thompson. Estes cientistas e educadores devem ter sofrido bastante desgosto com a nossa predileção por um campo ou uma abordagem sempre afastada das trilhas normais, preparadas para o treinamento dos alunos. Se este estudo tem valor, é devido à paciência e determinação deles em nos encorajar a desenvolver novas idéias, as quais, todavia, estavam, sempre e estreitamente, dentro dos cânones da arqueologia científica. Devemos, também, agradecimentos ao nosso Chefe e Colega, Prof. Dr. Fernando Altenfelder Silva, que, além de sempre encorajarnos na superação das dificuldades, não as colocou à nossa frente. Agradecimentos, também, à Profa. Dra. Margarida Penteado, do Departamento de Geografia da Faculdade acima citada, que nos 28

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

ajudou com as interpretações geográficas e geomorfológicas. As nossas alunas Maria Eugênia Brandão do Prado, Maria José Leme e Leonida Vivan, ajudaram com a redação, enquanto a tarefa árdua de corrigir o português deste estrangeiro foi graciosamente aceita pelos Professores José Schmidt Pinto e Maria José (“Vevé”) David Teixeira. Posteriormente, o trabalho passou por uma extensiva revisão, já em Natal (2007). 1.3.2 Operação de Trabalho de Campo

Nos anos de 1965, 1966 e 1967, procedeu-se a um reconhecimento da região da Bacia de Rio Claro e regiões adjacentes, tais como: as de Iracemápolis-Santa Gertrudes-Cordeirópolis, ArarasLeme, Botucatu-Bofete-Anhambi-Conchas-Laranjal Paulista, e Torrinha-Brotas-Dois Córregos-Santa Maria da Serra-Itirapina. Esse reconhecimento tinha como objetivo um levantamento dos recursos arqueológicos desta parte central do Estado de São Paulo, como elemento de uma pesquisa maior do Levantamento Arqueológico do Estado de São Paulo. O fim imediato do trabalho era a procura de amostras dos materiais arqueológicos, provenientes da região, com o propósito de estudar, analisar e isolar as variáveis ou “atributos” das suas ferramentas pré-históricas, como primeiro passo na construção de uma cronologia pré-histórica, na base de (1) tipologia, e (2a) seriação ou (2b) estratigrafia, onde quer que o material fosse encontrado (ver as partes 1.2.1. e 1.1.1. acima). Mais de noventa componentes foram encontrados e fichados, com as amostras sendo retiradas para análise no Laboratório de Arqueologia. Depois da análise, certos componentes foram escolhidos para testes, os quais se realizaram na base da demarcação de áreas delimitadas para a retirada de amostras, normalmente de dois metros quadrados. Essa retirada se deu através de escavação, até à formação do Grupo Passa Dois, com controles estratigráficos, sendo cada unidade vertical de escavação normalmente de 10 cm. No caso de features distintos, como em Santa Rosa, cada um destes foi tratado como um componente separado, o mesmo suce29

Tom Oliver Miller Junior

dendo com as camadas estratigraficamente separadas, como em Tira Chapéu, Serra d`Água, Poço Fundo, São Lourenço, etc. Os sítios receberam um número de campo, inclusive prefixos distintos para o estado e para o município, a saber: “SP”, para o Estado de São Paulo, “RC”, para Rio Claro, “IN”, para Ipeúna, “CQ”, para Charqueada, “PC”, para Piracicaba, etc., e o número de sítio na seqüência achada dentro do município. No laboratório, outro número foi designado para o componente (ver abaixo). Os alunos foram treinados na técnica de reconhecimento, de maneira que se tornaram competentes para seguir o trabalho sozinhos. Fomos informados de que as inclusões dos terraços fluviais eram da Formação “Rio Claro”, de Pleistoceno Médio ou Superior, por isso, não lhes demos atenção particular, no princípio. No entanto, em 1967, descobrimos artefatos na formação “t1” (baixo terraço), do Córrego Santa Rosa. Depois, procurando especificamente esse terraço, encontramos também material em São Lourenço (Córrego de Covetinga), Serra d’Água (Rio da Cabeça), Poço Fundo (Ribeirão Passa Cinco), e Tira Chapéu (Córrego da Barreira, ver Mapas). Consultando os especialistas Dra. Margarida Penteado e Dr. Alfredo Bjornberg, este último concordou conosco que a formação t1 devia ser bem mais recente do que pensávamos. Depois, a Dra. Penteado (1968) resolveu tirar a t1 da Formação Rio Claro, considerando-a mais recente. Jazidas no paleopavimento já foram encontradas em Tamandupá, Santo Antônio, Serra d’Água, Tira Chapéu e em vários outros locais. Voltando ao campo outra vez, para melhor definir essas formações, observamos que Tira Chapéu tinha dois paleopavimentos, ambos com materiais culturais. A sugestão da Dra. Penteado, acatada no campo, na base de matéria-prima idêntica, foi que pp1 fora uma redeposição de pp2 oriundo do sopé da colina, por solifluxão, mas, a análise no laboratório mostrou a distinção cultural entre os artefatos de pp1 e pp2. Os materiais arqueológicos de outros paleopavimentos mostraram afinidades ou com pp1 ou com pp2 de Tira Chapéu. Só à luz de comparação com o inventário miniaturizado de Tira Chapéu II (pp2) é que a indústria miniaturizada em quartzo de Monjolo Velho 30

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

e outros locais foi reconhecida como de artefatos. Quartzo é um material bem mais difícil de trabalhar do que sílex. Esses materiais foram, então, recolhidos e levados para análise no laboratório. Devemos explicar, que em Tira Chapéu II, 32% dos artefatos medem 4,0 cm ou menos na medida maior (cumprimento); em Monjolo Velho, 97% obedecem a esta medida, inclusive 57% menor do que 2,0 cm. No Velho Mundo, uma indústria assim chama-se “microlítica”, embora este termo tenha implicações culturais e cronológicas que devemos evitar por enquanto. Por isso, preferimos o termo “miniaturizado”, pois muitas das mesmas formas, bicos, gumes, etc. encontram-se em peças maiores nos horizontes anteriores (Santa Rosa) e posteriores (Santo Antônio, etc.). Curiosamente, Willey descreve uma indústria denominada “Chivateros” no Peru, evidentemente na faixa de 8.000 a 8.500 anos de idade. 1.3.3 Operação da Análise

Operacionalmente, não é possível separar análise de trabalho de campo, ou seja, de aquisição. Apenas conceitualmente o podemos fazer. As coleções foram colocadas na mesa do laboratório e divididas em grupos de artefatos semelhantes. A abordagem funcionalista (TAYLOR: 1948) indicava que devíamos olhar, primeiramente, para as partes dos artefatos aplicados no uso: os gumes e os bicos. Estes foram combinados e recombinados com forma, tamanho, matéria-prima, manufatura, etc., até que pudéssemos entender a natureza desses atributos. Este trabalho, numa área absolutamente não estudada, do ponto de vista de arqueologia lítica, sem as bases mínimas para tipologia, levou três anos. Só a nossa abordagem funcionalista e as idéias mais atualizadas de quantificação e as nossas idéias de tipologia possibilitaram terminar o trabalho em tão pouco tempo. O número de parâmetros para medir foi de vinte, com um total de mais de duzentas variáveis, numa população de cinco mil peças. Para essa fase de estudo, só coleções de mais de cinqüenta peças, coletadas por nós, foram analisadas. 31

Tom Oliver Miller Junior

O registro dos atributos nas fichas procedeu-se na base de um código binomial, ou seja, uma letra para o parâmetro e um número para a variável. Tal modelo possibilita uma fácil conversão das fichas noa cartões de punção hoje disponíveis. O sistema binomial de indicação de atributos, no entanto, nos facilitou a análise por métodos quantitativos, embora tudo tenha sido feito manualmente. Cada ficha representa uma peça, começando com o número-código do componente, juntamente com o número em seqüência da peça. Fichas e dados quantificados (com porcentagens) foram mimeografados para manipulação no laboratório. A cronologia de jazidas da superfície foi elaborada por métodos de seriação (regressão para estabelecer séries e X2 para estabelecer o nível de confiança de distinção cultural). Esse estudo não faz parte do atual; cabe dizer, apenas, que os cálculos mostraram uma divisão cultural tripartida, com distinção maior (90% de nível de confiança) entre um “Grupo Santa Rosa” e um “Grupo de Marchiori-Tirolese”, com um nível menor (60% até 80%) de um “Grupo Santo Antônio”, intermediário entre estes dois. Agora, que dispomos de estratigrafia com controle, esta seqüência foi comprovada: Santa Rosa corresponde a t1 (depois mudado para tv), Santo Antônio, a pp1, e Marchiori, à formação do solo recente. Quantificando os dados sobre gumes, a tendência de certos atributos a se associarem foi notada, e a tipologia de gumes foi elaborada nessa base. Essa tipologia corresponde à tipologia descritiva de Rouse (1955: 713), desde que provém de dentro dos dados para fins descritivos, e não da comparação entre fases distintas. Sem embargo, usaremos, também, certos tipos de gumes para fins históricos.

1.4 Tipologia de Artefatos Aqui traçaremos o desenvolvimento da teoria de tipologia arqueológica. Durante os últimos anos, a preocupação do arqueólogo com os seus dados tem sido criticada, pois outros estudiosos, especialmente etnólogos, querem informações culturais, ou seja, informes 32

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

sobre o comportamento de sociedades humanas, ficando mesmo impacientes com as descrições tediosas de artefatos e conjuntos de artefatos. Mas é justamente aqui, no nível de descrição e apresentação das informações mais básicas, que o arqueólogo tem a maior responsabilidade para com a ciência. Se há falhas nesse nível, o resto não vale muito, pois não podemos erguer as nossas estruturas teóricas na base de informações errôneas. É aqui que o arqueólogo define as dimensões de forma, espaço e tempo que permitem todo o resto. “O seu uso de procedimentos técnicos em alcançar escalas cronológicas sempre mais finas não necessita de desculpa nenhuma; estes são pré-requisitos à sua determinação de mudança cultural pelo tempo, um assunto em que ele deve ser capaz de trabalhar com autoridade única” (BRAINERD 1951: 302). 1.4.1 Unidades

A unidade básica empregada na Arqueologia é o atributo. Este é qualquer qualidade ou aspecto de manifestação material que pode ser ordenado ou descrito (ver SWARTZ 1967: 489). Artefatos combinam atributos, e cada combinação destes pode ter um ou mais artefatos, representados no ajuntamento arqueológico. Outra unidade é o modo. Pelo termo “modo” indica-se qualquer padrão, conceito, ou costume que governa o comportamento dos artesãos de uma comunidade, o que eles herdam através das gerações, e o que pode espalhar-se de comunidade em comunidade, através de consideráveis distâncias. Tais modos estarão refletidos nos artefatos, como atributos que se conformam com os padrões da comunidade, expressam os seus conceitos, ou revelam as suas maneiras costumeiras de fabricação e uso de artefatos... Nem todos os atributos indicam modos. Alguns expressarão, antes, idiossincrasias particulares dos artesãos. ...Outros atributos estão dentro das categorias de biologia, química ou física em vez de cultura. (ROUSE 1960: 313).

A ferramenta-prima no trabalho do arqueólogo é o conceito de tipo. Definimos o tipo como uma constelação repetida de atributos encontrados numa certa espécie de artefato. 33

Tom Oliver Miller Junior

Outra unidade, usada na Arqueologia, mas raramente definida formalmente, é a classe. Esta é simplesmente um grupo de artefatos ajuntados como uma unidade, na base de semelhanças. Uma classe, um grupo de classes, ou uma subclasse, que serve como diagnóstico de relações temporais ou espaciais, é um tipo. O tipo seria a expressão concreta de uma idéia padronizada na mente do artesão ou dos artesãos, combinando a natureza funcional do objeto, hábitos motores de construção e uso, e estilos, tudo isto condicionado pelas limitações e possibilidades inerentes à matériaprima. Do outro ponto de vista, o tipo não é mais do que um grupo repetido de atributos fixos no artefato. Um grupo de tipos ou de combinações de atributos que se encontram associados em vários ajuntamentos arqueológicos forma um complexo ou fator, e implica o equipamento de uma atividade econômica ou industrial. A associação dos modos, tipos e complexos dentro do contexto geológico de um nível num sítio é tratada como a manifestação material de uma sociedade num espaço e num curto período de tempo (MCKERN 1939: 508; WILLEY e PHILLIPS 1962: 22). Um componente ou um grupo de componentes numa região e num tempo suficientemente limitado, com modos ou tipos característicos, de maneira que possamos distingui-los de outras unidades similarmente conceitualizadas, chama-se uma fase. O componente pode ser comparado à comunidade e a fase a uma sociedade simples, tal como bando ou tribo. Quando certos modos, estilos ou tipos se difundem rapidamente através de uma região ampla, desaparecendo em seguida, podendose mostrar a contemporaneidade das fases em questão, e o fenômeno chamar-se-á horizonte. Como horizonte é uma ferramenta conceitual de relações espaciais, uma tradição serve para o mesmo fim, através do tempo. Tradição é uma manifestação de continuidade de certos modos, tipos ou estilos dentro de uma região limitada.

34

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

1.4.2 Discussão das Unidades e Parâmetros

O termo “classificação” refere-se ao ato de colocar artefatos em sua devida classe. Se a classe é nova, tem que ser definida em termos dos critérios usados na sua identificação e designada por um nome ou um número. Se as classes já foram estabelecidas, é suficiente determinar se o novo artefato tem os critérios diagnósticos da classe e, então, dar-lhe o nome daquela classe. Classificação, como estatística, não é um fim em si; antes, uma técnica para alcançar certos objetivos, e tem que ser variada em termos do objetivo (ROUSE 1960: 313). Osgood (1951) divide a totalidade de cultura em três categorias, mutuamente exclusivas: material, social e mental. Considerando que as categorias materiais e comportamentais são as partes da cultura que podem ser observadas ou percebidas, este autor as trata de “percepta” da cultura. Já as idéias concebidas por seres humanos formam os elementos mentais, os “concepta” da cultura. O arqueólogo não pode escavar esse tipo de fenômeno, apenas os seus resultados, na forma de idéias e comportamento. Os “percepta” da cultura são de dois tipos: os materiais e os sociais. No primeiro caso, são assim chamados porque se referem aos objetos estáticos ou cultura material; no segundo, porque se refere ao movimento ou comportamento. Visto ser muito difícil descrever os objetos sem referência à sua manufatura ou ao seu uso, Osgood crê que o comportamento associado à manufatura e ao uso dos objetos devem ser combinados com os “percepta” materiais, para poder-se elaborar um sistema mais condizente com a natureza dessas idéias. O autor mencionado propõe “tecnicultura” para tal conceito. Uma abordagem assim fornece ao arqueólogo, forçado a trabalhar com objetos materiais, uma base prática para tratar a sua matéria (THOMPSON 1958: 3). “Tecnicultura” é, por necessidade, um fim imediato de estudo arqueológico. Em termos do tratamento de modos e tipos, isto implica nas atividades de manufatura e uso. Krieger, num estudo pioneiro sobre o método tipológico, observou que “idealmente, um tipo arqueológico deve representar 35

Tom Oliver Miller Junior

uma unidade de prática cultural, equivalente ao ‘traço cultural’ da etnografia” (1944:272). A nossa visão do tipo, hoje em dia, não pode ser equivalente a um traço; precisa ser uma constelação de traços. Essa confusão gerou bastantes controvérsias no passado, o que repercute até agora. Numa tentativa de ultrapassar esses problemas, Rouse procurou usar o termo “modo” para significar traços, sem entrar na questão de tipo, mostrando que, para determinados fins, o conceito de “modo” serve melhor do que o de “tipo” (ROUSE 1939; 1953:63-4). Apesar das objeções de alguns (ver LOTHROP 1941), esse conceito de Rouse ainda é corrente na Arqueologia, embora permaneça ainda o conceito de tipo para outras finalidades. Os traços regularmente associados formam o tipo, e um conjunto funcional de tipos forma um complexo. Certas variações dentro do tipo podem, inclusive, ser úteis para fins específicos, às quais chamamos de subtipos (WHEAT, GIFFORD e WASLEY 1958; PHILLIPS 1958). Steward (1954: 54-7) definiu quatro variedades de tipos: (1) o tipo morfológico, o mais simples, pois a classificação se baseia apenas na forma; (2) o tipo índice-histórico, com base não apenas na forma mas também no significado cronológico; (3) o tipo funcional, com base no seu uso cultural mais do que na forma ou posição cronológica; e (4) o quarto tipo de Steward, o tipo cultural, que se refere a um nível de abstração maior do que usaremos neste estudo. Rouse (1960: 317), por sua vez, distingue entre (1) tipos históricos, cujos modos diagnósticos foram selecionados para o seu significado cronológico, e (2) tipos descritivos, compostos de modos, tendo referência, primariamente, à natureza dos artefatos. 1.4.3 Os Primeiros Passos na Tipologia Arqueológica

Na primeira tentativa de tipologia americana de arqueologia, que foi aceita em geral, Thomas Wilson (1898) ofereceu uma classificação na base de forma. Houve tentativas adicionais no mesmo 36

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

sentido, tomando como base o trabalho de Wilson, sendo notáveis as de Black e Weer (1936), especificamente para gorjais e pontas de projétil (flechas e lanças), e de Finkelstein (1937), que usou uma fórmula de classe, subclasse, tipo, subtipo. Na base de forma, a classificação mais nova e mais sofisticada é a de Gardin (1958), elaborada especificamente para programação em computadores e armazenamento em cartões de punção, com base organizacional análoga à lingüística. Uma das declarações mais sofisticadas dessa etapa (pré 1944) é a de Byers e Johnson: Na descrição dos artefatos desta jazida temos que levar em conta, continuamente, certos fatores, os quais inevitavelmente limitam as nossas conclusões. É provável que os artefatos que achamos não representam a gama completa, conhecida e fabricada por este grupo particular de homens. A escavação compreendeu apenas uma parte pequena da jazida e, conseqüentemente, é bem possível que coisas que ignoramos ainda jazem ali... Brevemente, a base dos métodos mais novos parece descansar no descobrimento, por análise cuidadosa e controlada, de critérios definidos e característicos. Estes se arrumam, tanto quanto possível, na ordem que facilita a identificação... (BYERS e JOHNSON 1940 : 32-33).

1.4.4 Metodologia Tipológica

Um tipo, segundo Byers e Johnson (1940: 35) “é um grupo de implementos unido por características comuns, as quais, por sua vez, os separam e os distinguem de outros implementos ou grupos de implementos... Em resumo, o termo tipo deve representar o exemplo perfeito, mostrando todas as características, as quais o diferenciam dos outros tipos”. Em 1944, Krieger fez um estudo notável sobre o pensamento tipológico, até então. Ele destacou quatro atitudes principais para com a organização e descrição de materiais culturais: 1. Descrição completa, a qual os espécimes se descrevem individualmente e com pormenores, na esperança de que nenhuma conseqüência seja esquecida... 37

Tom Oliver Miller Junior

2. Tipologias visualmente determinadas, nas quais o agrupamento é feito primariamente, para reduzir a descrição repetidora, os critérios divisionais sendo escolhidos sem plano ou na base de impressões obtidas por experiência particular. 3. Sistemas de classificação, que procuram estandardizar a descrição e comparação, através de áreas amplas. Esses sistemas, em geral, têm a forma de rubricas esboçadas e subcategorizadas, expressos em símbolos, os quais fornecem uma série de categorias, onde os espécimes se arrumam e são tabulados. 4. O verdadeiro método tipológico, no qual os tipos são entendidos como agrupamentos de características estruturadas, os quais, mesmo tendo mostrado significação histórica, se descobrem na análise do material...(KRIEGER 1944: 272-3).

No caso mais significante, segundo Krieger, os sistemas são construídos para lidar com grandes massas de material, reduzindoas a uma forma digestível que facilita referência. “Qualquer que seja a razão e o método por trás de tais esquemas, os seus autores, automaticamente, chamam cada agrupamento de um tipo” (KRIEGER 1944: 275). Krieger ofereceu uma série de críticas à metodologia tipológica da época, juntamente com certas recomendações a serem seguidas (ver MILLER 1965a: 107),.abrindo fogo com o primeiro “salvo” de uma controvérsia que não foi encerrada até agora. “O primeiro problema confrontado pelo analista é a organização dos espécimes em grupos maiores, os quais parecem mostrar que têm sido feitos com o mesmo ou semelhante padrão estrutural em vista” (KRIEGER op. Cit : 280). Todos os tipologistas reconhecem um elemento subjetivo ou intuitivo, na operação da natureza do tipo. Trataremos deste aspecto, em outros pormenores, em 1. 4. 6. abaixo. “Classificação tipológica é implícita em todas as abordagens,” observou Ehrich (1950: 469), “e são os níveis diferentes de abstração e a validez das categorias selecionadas para estudo que compõem as diferenças básicas de interpretação.” 38

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

1.4.5 Dimensões na Classificação “Integração cultural histórica são escalas espaciais e temporais bem como de conteúdo e das relações, que elas medem” (WILLEY e PHILLIPS 1962:12).

Todas as formulações unitárias arqueológicas, segundo Willey e Phillips, são alcançadas na combinação de três espécies de dados: conteúdo formal, distribuição no espaço geográfico e duração no tempo (Ibidem:17). Os tipos consideram não apenas os grupos repetidos de atributos fixos nos artefatos, mas também as relações de uns atributos com os outros, solicitadas pela existência compartilhada como artefatos. Essa dimensão adicional do tipo, não presente para modos isolados, lhe dá importância como uma técnica para poupar tempo e trabalho na quantificação de características. O manifesto mais completo, até agora, sobre as dimensões dos atributos é o de Spaulding (1960). Este emprega o termo “atributo” para “significar qualquer propriedade ou qualidade de uma coisa ou acontecimento. O atributo pode consistir, por exemplo, num grupo contínuo, numa medida de comprimento, numa qualidade discreta, como no caso da observação de que um objeto é fabricado de osso, ou ainda numa propriedade física ou química de um objeto (peso, forma, composição química, etc.) ou numa posição em espaço ou tempo. E tem mais: o atributo pode também ser um resultado de comportamento culturalmente padronizado ou não... Por conveniência, a classe de atributos mais apropriada e incomodamente chamada de ‘propriedades físio-químicas’ é a dos atributos formais; e os das categorias de espaço e tempo, às vezes, combinar-se–ão como atributos não formais (SPAULDING 1960:61). Os arqueólogos, tipicamente dirigem a sua atenção, antes para conjuntos de artefatos do que para objetos individuais, um contraste notável da atitude de estudantes das humanidades ...Cultura é comportamento padronizado, no nível de atividade simbólica, e a padronização e simbolismo são interpessoais, um produto da vida social humana. Artefatos tendem, forçosamente, a acontecer nos conjuntos espaciais, que chamamos de sítios, principalmente 39

Tom Oliver Miller Junior

porque aqueles que os fabricaram e usaram viviam em sociedades. A unidade ideal do estudo arqueológico é o conjunto de artefatos produzido e utilizado por uma única sociedade, durante uma etapa de tempo bastante curta; isso pra evitar quaisquer mudanças notáveis por inovações culturais ou modificações na popularidade relativa de atributos ou combinações de atributos (SPAULDING 1960: 61-2). A lista de atributos: O nível mais elementar de descrição é o do registro dos atributos arqueologicamente significantes. Arqueólogos, na prática, não abordam esta tarefa com um ponto de vista idealmente empírico; a matriz intelectual de reconhecimento de atributos é, antes, uma boa mistura implícita de funcionalismo intuição tipológica e experiência. É nessa área de reconhecimento de atributos que fica o coração da perícia arqueológica... A adequação de todas as subseqüentes descrições e comparações se apóia, justamente, na habilidade com que os atributos são discriminados, e é justamente aqui que os procedimentos mecânicos, impessoais e estatísticos são de utilidade mínima. Não há como substituir o arqueólogo por um técnico e um computador eletrônico... Atributos métricos: Atributos métricos, ou simplesmente medidas, são um exemplo de dados, para os quais a descrição e análise por técnicas estatísticas clássicas são apropriadas. Aqui, o registro de medidas de uma dimensão comparável de certa classe de artefatos é a matéria-prima fornecida pela observação, e o observador quer apresentar a informação incluída no registro de maneira econômica... Atributos discretos ...são, por definição, propriedades... as quais podem ser medidas apenas no sentido de que a sua presença ou ausência é notada para cada artefato... Inter-relações de atributos: Na prática, o observador não só pode perceber as dimensões medidas, mas também formar diretamente uma impressão da sua relação, como um conceito de forma. Essa relação tem alguma coisa da qualidade de um atributo mesmo, e é desejável ter uma expressão objetiva da sua forma. Um modo de alcançar essa forma é de apresentar a série de medidas em pares, num diagrama espalhado (scattergram) em duas dimensões, a saber: uma medida como o comprimento, no eixo horizontal; e a largura, no vertical... A lista de combinações de atributos: Uma descrição formal do conjunto consiste no registro das descrições de atributos e na lista 40

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

de todas as combinações observadas, juntamente com um total dos números de artefatos que cada combinação observada possui. Conjuntos de atributos: Listas de combinações de atributos apresentam um conjunto de classes distintas de artefatos; cada uma define uma espécie particular de artefato visto, digamos, como um ajuntamento de atributos formais. Os atributos em si são, na prática, vistos como divididos em grandes famílias, em termos de sua relação com categorias amplas de artefatos, associadas com a função ou com classes de material, das quais os artefatos se compõem... Na discussão de conjuntos de atributos, convém emprestar a terminologia das ciências físicas e falar em dimensões de atributos. Uma dimensão é aquele aspecto da classe de coisas, ou acontecimentos, que exige o seu próprio aparato para medir... (Ibidem: 62-72).

1.4.6 A Natureza do “Tipo”

Observamos em 1.4.4. acima que Krieger, com a sua definição do “tipo”, já deixou o terreno preparado para uma briga amarga, que ainda repercute na Arqueologia. Trata-se da natureza do “tipo”. As correntes de opinião podem ser resumidas, brevemente, em termos (1) daqueles que acreditam que todas as combinações de atributos, vistos simultaneamente em todo espaço e todo tempo, são igualmente prováveis e que o “tipo” depende, apenas, do lugar do qual o observador forma o seu ponto de vista; e, de outra parte, (2) dos que acreditam que o tipo é uma construção mental na cultura do artesão, que ele acha apropriada para determinado objetivo, e que ele procura reproduzir materialmente na fabricação de um artefato, embora essas idéias mudem gradativamente com o tempo e o espaço. A implicação dessa diferença de pontos de vista é que, no primeiro caso, o tipo é um artefato do observador, feito na base das arbitrariedades do seu ponto de referência e para o seu uso; enquanto, no segundo caso, o tipo é considerado uma idéia real a ser descoberta no processo de análise. No nível operacional, a diferença entre os dois pontos de vista não é séria, mas no nível teórico, como com qualquer credo, tem gerado mais calor do que luz. Eu acredito, com Willey e Phillips, 41

Tom Oliver Miller Junior

embora eles tendam para a primeira hipótese, que “todos os tipos são aptos a possuir algum grau de correspondência com a realidade e que o aumento da tal correspondência deve ser a finalidade constante da tipologia” (Willey e Phillips 1962: 13). Spaulding iniciou a divergência inadvertidamente, quando escreveu: O tipo de artesanato aqui se vê, como um grupo de artefatos, que mostra uma constelação consistente de atributos, cujas propriedades combinadas dão um padrão característico. Isto implica que, mesmo dentro de um contexto de artefatos altamente semelhantes, a classificação em tipos é um processo de descobrimento de combinações de atributos, favorecidas pelos artesãos dos artefatos, não um procedimento arbitrário do classificador (SPAULDING 1953: 305).

Este manifesto provocou uma resposta de outro arqueólogo competente, que também tem feito trabalhos de alta qualidade, na base de quantificação de dados arqueológicos (FORD 1949; PHILLIPS, FORD e GRIFFIN 1951). Para Ford, o ponto de vista de Spaulding é qualificado de ... fantasticamente ingênuo. Mostrará o grau relativo a que o povo conformou o seu conjunto de tipos cerâmicos, em determinada época e lugar, e nada mais... Se a sua jazida fosse cem milhas ao norte e cem anos mais antiga, ( o tipo) Klankenburg Texturizado teria sido algo diferente – ou uma categoria na qual se pode classificar, mais ou menos, a metade dos cacos (de cerâmica), atualmente chamados por este nome (FORD 1954a: 391).

Isto motivou Spaulding a replicar que A incompatibilidade, alegada, de conjuntos de atributos e a situação de desenvolvimento cultural contínuo... podem ser tratadas de uma maneira simples. Os métodos que apresentei devem ser um processo eficiente para descobrir e descrever os conjuntos de atributos em qualquer ajuntamento arqueológico, e não passam disso. Nenhuma sugestão foi feita de que operações estatísticas mostrariam o significado último dos conjuntos descritivos; o significado depende da natureza do ajuntamento (SPAULDING 1954: 391).

Este impasse impulsionou Ford a um manifesto mais comprido, sobre a natureza do conceito tipológico. 42

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Na hora em que os estudantes de fenômenos culturais não mais se satisfazem com as comparações de meras qualidades de traços culturais e começam a tratar os seus dados quantitativamente, torna-se óbvio que a ferramenta conceitual básica da pesquisa cultural é ... o tipo... A pergunta pode ser colocada desta maneira: Existem tipos culturais nos fenômenos de maneira que possam ser descobertos por um arqueólogo capaz?... Esta discussão (de Spaulding) toma como dado à presunção de que os tipos existem na cultura e podem ser descobertos por metodologias competentes. Isto eu duvido (FORD 1954b: 42). Cada localidade terá uma média distinta e uma distribuição em torno dessa média, o que tende para as médias das culturas circunvizinhas... A variação geográfica seria uma função gradativa do espaço... Diferenciação qualitativa na cultura é uma função da distância (Ibidem: 47-9). Deixar que a sorte da amostragem determinasse a tipologia funciona bem apenas enquanto o arqueólogo tem uma amostragem bastante incompleta da história cultural. Os tipos são facilmente separáveis e parecem naturais. De fato, quando as lacunas se preenchem de maneira que a história se apresenta como um contínuo através do tempo e do espaço, o tipologista ingênuo certamente tornará a tipologia uma aglomeração sem sentido. A artificialidade dos conjuntos deve ser levada em consideração... (Ibidem: 52).

A prática arqueológica tem mostrado a utilidade do conceito do tipo, e as técnicas de Spaulding e outros para ajudar na definição dos tipos pelas características internas e externas têm sido comprovadas muitas vezes, qualquer que seja a base teórica. ... Teoria cultural, amplamente aceita, indica que o padrão normal é de estabilidade relativa, seguida de um crescimento rápido, pela introdução de uma novidade de importância crítica, acompanhada rapidamente por vários outros elementos novos e, então, outro período de estabilidade relativa, etc. Desenhado num gráfico de tempo contra cultura, este resulta numa curva ogival de crescimento, e o reconhecimento das curvas agudas é obrigação científica do arqueólogo. Os segmentos, assim reconhecidos, certamente não são o resultado de classificação arbitrária: as mudanças na inclinação da linha são tanto características dela quanto a sua natureza contínua... 43

Tom Oliver Miller Junior

Mudança cultural em relação ao tempo, provavelmente, nunca se processa numa taxa constante, e as classificações arqueológicas úteis de cronologia são aquelas que têm mudanças agudas como os seus pontos limítrofes... (Carta de Spaulding reproduzida em WILLEY e PHILLIPS 1962: 15-6).

Acreditamos que os artefatos são os produtos materiais de comportamento humano socialmente padronizado. A padronização é evidente nos atributos que caracterizam qualquer série de artefatos semelhantes, porque o comportamento que os produziu é padronizado. Séries repetidas de ações idênticas, praticadas por uma pessoa ou um grupo de pessoas, produzem uma população de objetos com alto grau de padronização. Essa padronização sociocultural é responsável pela correspondência entre grandes quantidades de artefatos num dado ajuntamento, o que, por sua vez, torna possível a tipologia (DEETZ 1965: 2). A nossa tipologia é um modelo para fins de estudo; o nosso dever é procurar um modelo que se aproxime, ao máximo, da estrutura inerente no fenômeno e que seja apenas imposta pelo classificador. 1.4.7 Classificação Analítica

O conceito de modo de Rouse foi introduzido na Parte 1. 4. 1. acima. A classificação analítica, segundo este autor, deve fatorar os modos, que são culturais, e excluir os traços puramente biológicos, químicos ou físicos. Em cada passo do procedimento, pode-se observar que o artesão escolhe entre alternativas de padrões ou costumes. Esse fato possibilita, por exemplo, a divisão de uma dada coleção em uma ou mais séries de classes, na base de materiais usados. Depois, podem-se redistribuir os mesmos espécimes em séries de classes, na base de técnica de manufatura, elementos de forma e de decoração e ainda utilidade. Cada classe terá um ou mais atributos “diagnósticos”, e estes serão indicativos de um único modo (ROUSE 1960: 314). Os modos podem ser de duas variedades: “(1) conceitos de material, forma e decoração, aos quais os artesãos se conformaram e (2) procedimentos costumeiros, seguidos na fabricação e utiliza44

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

ção dos artefatos. No caso dos modos conceituais, o arqueólogo só precisa designar um ou mais atributos dos seus artefatos como diagnósticos de cada classe; mas, no caso de modos de procedimento, ele também precisa inferir comportamento dos artesãos na base dos atributos diagnósticos” (Ibidem: 315). 1.4.8 Classificação Taxionômica

A classificação taxionômica, segundo Rouse, é aquela que trata dos atributos que indicam tipos. Os atributos, mais uma vez, têm que ser selecionados visando ao seu significado cultural. O classificador deve decidir quantos modos serão diagnósticos para o tipo, pois, se usar demais, será difícil limitar o número de tipos, e, se o número for reduzido demais, o número de exemplos da classe aumentará até o ponto de diminuir a sua utilidade como unidade taxionômica. Quando o número de modos é grande e a definição do tipo um pouco complicada, torna-se útil uma chave, como os esboços feitos na Biologia para ajudar na classificação. Para os dois “tipos de tipos” de Rouse, os modos a serem selecionados serão diferentes (ver a discussão de “tipos históricos” e “tipos descritivos”, na Parte 1.4.2. acima. 1.4.9 Métodos Quantitativos

A critica de que o arqueólogo se preocupa demais com detalhes pode ser válida, mas sempre se tem mostrado que esses mesmos detalhes são verdadeiramente significativos. O arqueólogo empenhado na análise de um grande ajuntamento de artefatos não pode, de qualquer maneira, fazer presunções apriorísticas sobre quais elementos dos artefatos terão ou não significado na determinação de relações culturais, areais, ou temporais (WHITEFORD 1947: 227).

Os primeiros passos na quantificação dos dados para objetivar as conclusões foram dados por Kroeber, Nelson e outros na segunda década doste século XX. 45

Tom Oliver Miller Junior

Kroeber, por exemplo, fazendo um estudo etnográfico na área de Zuni, em 1915, sentiu a curiosidade de examinar certas ruínas na região, algumas delas já conhecidas de documentos espanhóis e levando, ainda, os mesmos nomes que constam nesses documentos. Este autor recolheu uns três mil cacos de cerâmica destas ruínas mencionadas, além da sua amostra de Zuni. Fazendo comparações das quantidades relativas de espécies de cerâmica, ele pôde dividir as jazidas em dois grupos cerâmicos, e viu que esses grupos correspondiam aos dois grupos de ruínas, conhecidas historicamente ou não (KROEBER, 1916). Mais ou menos na mesma época, N.C. Nelson se interessou na elaboração de uma cronologia de ruínas no vale do Rio Bravo. Vendo uma série de jazidas com pequenas estruturas e quantidades de cacos e já com a idéia do que deve ser a cronologia relativa, ele escolheu um aterro de refugos de uma ruína e fez uma escavação bem controlada em termos de unidades estratigráficas. Em onze níveis de dez polegadas cada um, ele mostrou as mudanças de popularidade das várias séries cerâmicas, bem como a seqüência de aparecimento dos vários tipos de decoração vitrificada. Mesmo nessa data antiga, Nelson notou a natureza lenticular do crescimento e diminuição de popularidade de um tipo através do tempo (NELSON 1916). Até recentemente, esse conceito não era explorado sistematicamente pelos arqueólogos para inferir cronologia, mas apenas empiricamente, para descrever. Foram Ford e seus associados que, em Virginia, no Vale do Mississipi, e especialmente no Vale Viru, no Peru, desenvolveram uma técnica para a seriação cronológica de coleções de superfície. Tal técnica foi bastante apreciada e utilizada, inclusive no Brasil (SILVA 1962). Uma crítica da técnica na base do significado da data, quer seja “média” ou quer seja “terminal”, não mudaria o significado da técnica (ver FORD 1949; BENNYHOFF 1952; FORD 1952). O próximo arranque neste sentido resultou da colaboração de um estatístico - W.S. Robinson - com um arqueólogo - George W. Brainerd - na Califórnia - um acontecimento que nos lembra a associação entre R. Braidwood e Libby, que resultou na datação por radiocarbono. 46

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Brainerd descreveu os seus problemas cronológicos para Robinson, que sugeriu a análise de fatores na base de matriz (ROBINSON 1951; BRAINERD 1951). O resultado foi tão positivo que ninguém atacou a idéia, gerando apenas o surgimento de várias controvérsias sobre mudanças na metodologia (BELOUS, 1953; LEHNER, 1951; DEMSEY E BAUMHOFF, 1963; CLARKE, 1963; MATEWS, 1963). Ao mesmo tempo, um australiano - Donald J. Tugby - procurava uma solução semelhante,(ainda análise de matriz), mas com o propósito de fazer uma cronologia de tipos dentro de uma região, em vez de uma de jazidas (TUGBY, 1958). As aplicações para cronologia já têm chegado ao ponto de fazer programas específicos de matriz para computador (ASCHER E ASCHER, 1963). O método de Robinson se baseia na idéia de que as jazidas arqueológicas próximas em tempo mostram distribuições de tipos em porcentagens semelhantes, enquanto as separadas em tempo mostram uma distribuição dissimilar. Para ordenar um grupo de jazidas cronologicamente, onde a ordem é desconhecida, a distribuição em porcentagem de cada tipo é calculada para cada jazida. Uma medida de similaridade das distribuições é obtida, então, para cada par de jazidas. Estas medidas, ou coeficientes, arrumam-se num quadro tabular ... Robinson estabelece que, se as jazidas estão arrumadas em série ao longo da margem da tabela, em ordem cronológica, os coeficientes em cada fila, da esquerda para direita, devem mostrar aumento progressivo até o elemento diagonal e, depois, um decréscimo progressivo (ASCHER e ASCHER, 1963, p. 1045)

Outras técnicas estatísticas seguiram-se a essa tentativa pioneira, com certos problemas e certos êxitos (MILLER, 1965a). O melhor resumo de métodos estatísticos na Arqueologia encontra-se em Spaulding (1960).

1.5 Metodologia Adotada Dentro dos preceitos filosóficos e teóricos descritos acima, podemos indicar a metodologia deste estudo. 47

Tom Oliver Miller Junior

O objetivo deste estudo é a apreensão da cultura material e tecnicultura dos meios extrassomáticos de adaptação de seres humanos em sociedades pré-históricas, na Bacia de Rio Claro. Focalizaremos os aspectos formais na análise e classificação, controlando os aspectos não formais de espaço e tempo, para identificação dos modos e tipos diagnósticos, reconhecendo, assim, as fases da pré-história regional, bem como os povos a elas associados, e estabelecendo uma cronologia relativa ou seqüência dessas fases, na base da estratigrafia geológica. Além deste objetivo, o estudo tem a finalidade de erguer uma primeira aproximação de uma armação para estudos das fácies ecológicas, distribuição das fases, reconstrução da história e etnologia dos povos das fases, e estudar a dinâmica das mudanças evolutivas e adaptativas, num ambiente que sofreu grandes mudanças climatológicas, para matéria-prima adicional com vistas a estudos do processo social humano. O estudo, que se utiliza de conceitos de contexto e analogia apresenta como contexto formal a parte material da tecnicultura das sociedades pré-históricas, e, como contextos não-formais, as várias formações geológicas dos diversos sítios selecionados dentro de uma única região: a Bacia de Rio Claro. O princípio de analogia aplica-se à comparação de tipos homólogos de implementos encontrados nos vários componentes juntamente com a função a eles imputada, supondo-os iguais em função a instrumentos semelhantes utilizadas por muitos povos caçadores e coletores com organização simples já conhecidos e estudados em muitas partes do globo. 1.5.1 Metodologia de Campo

No trabalho de campo utilizamos as técnicas de amostragem e testes na aquisição das partes materiais da tecnicultura dos povos pré-históricos, juntamente com o princípio de contexto, inclusive (1) a associação dos artefatos entre si e em conjunto, dentro do mesmo estrato geológico e (2) a distância temporal e social entre esse 48

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

ajuntamento e outros provindos de outros componentes e estratos. Essa distância foi mantida pelo uso de um número-prefixo distinto para artefatos provindos do mesmo componentes no mesmo estrato. 1.5.2. – Metodologia de Laboratório

No laboratório, os aspectos formais dos artefatos foram analisados, classificados e quantificados para fins comparativos, sempre se respeitando o controle dos aspectos não-formais. Os artefatos foram analisados em termos de identificação dos atributos métricos (arco, tamanho e ângulo do gume) - alguns destes, inclusive, tratados como discretos (grande, pequeno, miniatura, fino, grosso) - e dos atributos discretos (material, base, forma, manufatura, acabamento, lasqueamento, entalhes, bicos, etc.). Os sítios, por sua vez, foram analisados em termos de componentes distintos nos estratos distintos. Quanto à classificação dos artefatos, esta se deu termos de modos, na classificação analítica; e de classes e tipos, na classificação tipológica, com a definição dos atributos ou modos diagnósticos dos tipos. Os componentes foram classificados em fases, na base da relação entre o seu conteúdo formal e contexto não-formal, e os tipos diagnósticos das fases, definidos. Os modos e tipos foram quantificados para fins de comparação de tipos homotaxiais, fornecendo um meio para medir a distância sociocultural entre componentes dentro da mesma fase e entre fases. Por enquanto, tais comparações podem ser feitas somente entre os componentes definidos neste estudo, pois os outros estudos arqueológicos de indústrias líticas feitos na América do Sul, até agora, são metodologicamente tão fracos, faltando modelos sistemáticos, que as comparações podem ser feitas, apenas, em termos muito vagos. Os primeiros passos foram dados na interpretação, para uma descrição dos “percepta” e tecnicultura dos povos pré-históricos, as suas dimensões não-formais e o esboço da seqüência das suas mudanças, relacionando tudo com o contexto geral das mudanças climatológicas e geomorfológicas da região e do Hemisfério Sul. 49

50

2 HISTÓRICA

Aqui trataremos do desenvolvimento da Arqueologia no interior do sul do Brasil. Na maioria das regiões arqueológicas do mundo, começa-se com algumas publicações sobre descobrimentos por observadores não profissionais interessados, seguidas por uma série de trabalhos locais de vários graus de competência e por outros bons trabalhos que tentam pôr ordem na literatura séria sobre a região; além de trabalhos teóricos seguidos por trabalhos que visam à solução de problemas específicos. Devido a várias razões, este não foi o caso do desenvolvimento da Arqueologia e Pré-História no Brasil. Primeiro, devemos distinguir entre Arqueologia e Pré-História. Ao contrário de Silva (1967a, pp. 19-20), vemos uma distinção entre Arqueologia - uma disciplina técnica para descobrimento, registro e explicação de informações paleo-etnográficos - e a PréHistória - estudo dos povos sem história escrita. A distinção é análoga à existente entre Etnografia - uma disciplina técnica que visa ao registro de informações sobre povos simples, ou partes-culturas - e Etnologia - o estudo geral das(s) cultura(s) humana(s). Todas se enquadram na ciência de estudo geral do homem como animal social - Antropologia - sendo Etnografia o registro de matérias-primas sobre povos vivos, e Arqueologia o mesmo sobre povos extintos. Etnologia e Pré-História seriam os estudos sintéticos correspondentes para fornecer, finalmente, matéria-prima à Antropologia: o estudo holístico, analítico, sintético, prático e teórico do homem. Embora já se tenham começado estudos arqueológicos no Brasil desde o século XIX (Lagoa Santa), houve uma longa demora para iniciar a fase de estudos locais. “Isso”, segundo Silva (1967a, p. 17), deve-se, principalmente, a duas causas básicas, que motivaram certo retardamento na arqueologia desta parte da América: um início tardio do que poderíamos chamar de pesquisa sistemática, e 53

Tom Oliver Miller Junior

a orientação quase sempre autodidata dos primeiros pesquisadores ... A arqueologia no Brasil se caracterizou, ainda quando nos seus pontos mais altos, por uma simples coleta de peças a serem exibidas em museus, sem um trabalho adequado, quer de análise das condições ambientais dos achados, quer de tentativas de interpretação do material recuperado.

O que pode ser considerado o começo dos trabalhos, por não profissionais, é o estudo do naturalista dinamarquês, Peter Wilhelm Lund (1950), que investigou uma série de grutas na Lagoa Santa, MG, de possível idade pleistocênica, no século XIX,.concluindo que há uma possível associação entre os animais extintos pleistocênicos e o homem (PAULA COUTO, 1950). Nem todos os estudiosos, porém, estavam de acordo com essa conclusão (HRDLICKA, 1912). O interesse gerado atraiu outros estudiosos à região, geralmente para trabalhar sem controle científico, procurando mais ossos (WALTER et al, 1937; WALTER s. d.; MATTOS, 1946; ver também WATSON, 1949; HURT, 1960, pp. 569-73; SILVA e MEGGERS, 1963, pp. 123-4). Outras jazidas começaram a ser investigadas, especialmente os sambaquis do litoral. Por várias razões, estes ficam fora da nossa província de estudo atual (ver LAMING e EMPERAIRE, 1959, p. 119), de maneira que deles não trataremos aqui. Aliás, já existem, convém ressaltar, resumos excelentes da história de trabalhos nos sambaquis já existem (SILVA e MEGGERS, 1963, p. 124-5; SILVA, 1967a, pp. 21-3), o que não se dá com comentários, em geral, sem utilidade científica, publicados na base de espécimes dos museus, inclusive da região de Rio Claro (PEREIRA de GODOI, 1946; GUIDON, 1964). Quanto à Bacia Amazônica, dele não trataremos por considerar os trabalhos ainda incipientes, largamente espalhados e de qualidade científica muito desigual (ver SILVA e MEGGERS, 1963, pp. 120-3), Em 1947, Virginia Watson publicou um breve estudo de Ciudad Real de Guairá, um sítio histórico do rio Paraná. Watson embora tenha feito a descrição dos materiais de cerâmica do Guairá sem 54

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

definir os tipos de maneira final, ou mesmo nomeá-los, notou a sua similaridade com os materiais da Argentina, descritos por Lothrop (1932), e com outros materiais geralmente considerados como sendo manufatura Tupi-Guarani. Em 1951, começou-se a trabalhar também no sítio de Estirão Comprido, um sítio estratificado na parte superior do Ivaí, no Paraná. Esse material foi discutido por Silva e Blasi, numa série de publicações, Tendo o primeiro definido e nomeado os tipos de cerâmica, considerando-os Tupis-Guaranis. Todavia, a comunicação dos resultados das pesquisas e descobrimentos isolados atrasou, no Brasil, as ocasionais notícias em jornais e revistas científicas nacionais, o que terminou por ficarem esses resultados desconhecidos até 1954, quando, durante o 31º Congresso Internacional de Americanistas em São Paulo, estes, cientes da situação, aprovaram “uma moção em que se sugeria aos poderes competentes a criação de cadeiras de pré-história em nossas universidades” (SILVA, 1975a, p. 18). Um possível divisor de águas na arqueologia sul-brasileira foram os trabalhos organizados pelo Prof. José Loureiro Fernandes, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de Paraná. Foi criado em Curitiba um Centro de Ensino e Pesquisas Arqueológicas, sob a direção dele, por volta de 1955, razão pela qual muito embora através de “notas prévias”, o Paraná simplesmente detém a maior cobertura, em termos de levantamento arqueológico. No Estado de São Paulo, o Prof. Paulo Duarte sempre lutou para a preservação, em prol da ciência, do grande patrimônio arqueológico do país, continuamente destruído pela construção e industrialização. Para um resumo dessa luta contra a cegueira burocrática, ver Duarte, 1968. Foi em 1954 que o Prof. Loureiro Fernandes convidou Clifford Evans e Betty Meggers, do Museu Nacional dos Estados Unidos, para dar um curso que preparasse arqueólogos, profissionalmente, em Curitiba, convite que não podia ser aceito até 1964. Como parte do programa de trazer arqueólogos para o Brasil, o Dr. Loureiro Fernandes foi anfitrião no estágio de Anette Laming 55

Tom Oliver Miller Junior

e José Emperaire, arqueólogos franceses, que, além de fornecer o treinamento para paranaenses, realizaram a primeira escavação feita por arqueólogos profissionais, numa jazida estratificada, précerâmica e cerâmica, do interior do sul do Brasil. Por esta razão, damos o período 1954-1959 como os anos do começo da arqueologia na nossa região. 2.1 A Jazida José Vieira

Os Emperaire observaram, na jazida José Vieira, do médio Ivaí no Estado do Paraná, evidências de mudanças climáticas, alternando épocas de climas secos com as de climas mais úmidos. Concluíram que o fenômeno de fase seca foi geral na região (LAMING e EMPERAIRE, 1959, p. 20). Tentaram coordenar esse período com o “ótimo” climático (altitérmico) da América do Norte e o “displuvial” da região saara-saheliana, ou seja, uma época remontando 4.000 anos ou mais, embora observando que, para a Bacia do Paraná, não dispomos de dados (Ibidem, p. 22). O nível mais antigo (Camada IV) produziu apenas artefatos de pedra lascada, sem cerâmica, com data radiocarbônica de 6.683 anos (ANDREATTA, 1968). Nos níveis mais recentes (Camadas III e II), a indústria lítica foi acompanhada por cerâmica não-guarani (Camada III) e guarani (Camada II), em associação (Ibidem, p. 81), embora, na opinião de Laming e Emperaire, continue sendo a mesma indústria lítica.. A datação radiocarbônica para Camada III é de 1.287 anos (ANDREATTA, 1968). Os artefatos de pedra polida são representados por um único espécime (Camada II), o que eles consideram irrelevante ante a visão de uma indústria sem pedra polida. Sem embargo, um espécime de pedra polida, num total de 180 achados, inclusive de peças consideradas não trabalhadas, não parece pouco, do ponto de vista do atual autor, tendo-se em conta dezenas de jazidas do interior paulista, que produzem centenas de peças de pedra lascada para cada uma de pedra polida e para cada ponta de projétil. Os achados foram definidos e classificados segundo a tecnologia: os que os Emperaire reconheceram como trabalhados foram, 56

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

adicionalmente, classificados em termos funcionais (faca, raspador, chopper, etc., embora nem sempre com descrições adequadas), e quantificados. Gumes e bicos não tinham sido reconhecidos naquela época. A maioria dos artefatos, e quase todos os grandes e pesados, foram de arenito silicificado, matéria-prima que também tem sido encontrada mais ou menos tardia, na região de Rio Claro (associada com cerâmica, na coleção da Prefeitura de Itirapina, da jazida Água Ronca). Na falta de artefatos de forma padronizada, os Emperaire deram muita ênfase à técnica de lasqueamento, quantificando lascas primárias com crosta, lascas com arestas, etc., abordagem que continua até hoje no Paraná, por Igor Chmyz. Muitos dos controles estratigráficos, que o leitor gostaria de ver, estão em falta, sendo necessário aceitar a palavra, sem provas, dos autores, de que as várias “camadas” sempre representam a mesma coisa em todas as partes da jazida. Além disso, apenas uma pequena parte foi escavada, não se tendo chegado nem mesmo até à parte mais baixa da jazida, razão pela qual, especialmente em vista da datação radiocarbônica, será necessário que estes ou outros pesquisadores façam maior investigação nessa jazida. As conclusões dos Emperaire foram: (1) “a indústria de tipo bi-facial parece caracterizar mais os níveis inferiores que os níveis superiores”; (2) “as grandes lascas simples em forma de faca oval são mais abundantes nos níveis superiores que nos níveis inferiores”; (3) “a indústria sobre lascas é, por toda parte, extremamente rústica” (LAMING e EMPERAIRE, 1959, p. 111). 2. 2 Outros estudos no interior

No ano de 1959, também, apareceram vários estudos no sul do Brasil, especialmente no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Em 1960, Hurt publicou o resultado do trabalho conjunto do Museu Nacional e da Universidade de Dakota do Sul sobre as grutas da Lagoa Santa. Quanto ao material do complexo Cerca Grande, caracterizado por lascas e fragmentos de quartzo, considerados artefatos, incluin57

Tom Oliver Miller Junior

do facas, raspadores, broca, furadores, pontas, etc., este não foi publicado, ainda, mas tem data radiocarbônica de 7349+120 A.C. (-9310 anos) e 8055+ 127 A.C. (-10.016 anos). O relatório final será publicado logo, em Curitiba (ver HURT, 1960;1962). Em 1961, Oldemar Blasi publicou uma nota sobre o sítio de Três Morrinhos, no rio Paraná, abaixo do Paranapanema. A maior parte da cerâmica foi novamente considerada tupi-guarani. Nesse sítio, figuram dez poças líticas, e a descrição é inconclusiva. Desde então, Blasi, Silva, Chmyz e outros têm trabalhado em jazidas cerâmicas, definindo os vários tipos cerâmicos e fases guaranis e não-guaranis, o que permanece alheio ao nosso trabalho. Para resumo desses desenvolvimentos, ver Silva e Meggers (1963, p. 125). Também em 1961 houve os “Encontros Intelectuais de São Paulo”, patrocinados pela UNESCO (GOMES, 1961; DUARTE, 1968). Em 1963, na VI Reunião Brasileira de Antropologia, em São Paulo, dedicou-se uma secção à Pré-História, ano em que começou também, o Instituto de Pré-História de São Paulo, sob a direção de Paulo Duarte, Instituto que atualmente faz parte da Universidade de São Paulo. No mesmo ano, Chmyz publicou o estudo de Kavales, em que quis atribuir aos Kaingang o elemento cerâmico. Registrou apenas 38 implementos de pedra lascada, cujos termos não dão base para comparação. Com coleções tão pequenas, Chmyz não consegue fazer análise mais profunda, embora ele continue sendo o único que analisa e quantifica os seus resultados na arqueologia lítica brasileira (CHMYZ, 1963, p. 497-509). Em 1964, Chmyz publicou uma reportagem sobre o sítio do Passo do Iguaçu, Na qual externava querer atribuir aos Kaingang, a cerâmica lisa encontrada na superfície e na jazida Casa de Pedra (CHMYZ, 1963, p. 295). Embora material lítico tenha sido apresentado, não consta se este provinha da superfície ou dos testes, não havendo também quantificação nem de classes nem de modos. Consta na Figura 4 do trabalho, uma ponta pedunculada, com aletas e base reta, além de fragmentos de cerâmica. O que se conclui é que Chmyz faz muita força para tirar interpretações de informações tão “magras”. 58

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

1964 também foi a data do seminário intensivo dos Evans em Curitiba, patrocinado pelo Prof. Loureiro Fernandes, com a cooperação da Comissão Fulbright, Conselho de Pesquisas da Universidade de Paraná, CAPES e Smithsonian Institution. Com a participação de estudiosos de vários estados, foram debatidos os problemas de cada região. Depois de evento, procedeu-se a visitas a várias instituições de Ensino Superior, no País, elaborando, por fim, um programa de desenvolvimento arqueológico para cada estado, com maior ênfase à (1) seqüência e (2) influências, migrações e difusão (EVANS, 1967, pp. 8-9). Em 1965, Blasi publicou material sobre Barracão e Dionísio Cequeira, na fronteira com a Província de Missiones, comparando o material recuperado com o da citada Província. As pranchas deste pesquisador foram tão reduzidas pela editora, que é extremamente difícil se chegar a qualquer conclusão, especialmente em vista da falta de descrição sistemática. A associação de uma indústria de arenito silicificado, concorrente com cerâmica e uma variedade de matérias-primas de freqüência secundária, está de acordo com achados em outras regiões, inclusive a nossa. Uma referência a “gravadores de cristal” é curiosa, e nenhum exemplo consta nas pranchas. Seria bom saber se há semelhança com os “furadores” ou “brocas” de cristal que encontramos em sítios dentro de pavimentos detríticos. Blasi, além de não ter quantificado os achados, não explica se figurou a coleção inteira, nem quantificou os achados (BLASI, 1965). 2. 3 O Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas

Em 1966, houve o 37º Congresso Internacional de Americanistas, em Mar del Plata, Argentina, onde, pela primeira vez em qualquer reunião internacional de Antropologia, “era reservado um dia inteiro para um simpósio de Arqueologia Brasileira, apresentado por arqueólogos brasileiros e baseado em projetos de pesquisa dirigidos por brasileiros” (EVANS, 1967, p. 7). O Dr. Evans exagera um pouco, pois foram ele e Meggers que dirigiram as pesquisas em questão - o primeiro PROGRAMA 59

Tom Oliver Miller Junior

NACIONAL DE PESQUISAS ARQUEOLÓGICAS organizado no Brasil, originário do seminário de Curitiba (citado acima). Alguns dos estudos foram publicados pelo Museu Paraense Emílio Goeldi (Publicações avulsas nº. 6), 1967, incluindo entre outros: Eurico Th. Miller, que definiu várias fases no nordeste do Rio Grande do Sul, a saber:três pré-cerâmicas e quatro cerâmicas, embora em associação com artefatos líticos. Nem todas as jazidas das fases cerâmicas incluíram materiais líticos. Os artefatos líticos não foram nem definidos nem quantificados, embora vários tenham sido figurados nas fotografias. Walter F. Piazza pesquisou jazidas no Vale do Itajaí, litoral e interior, todas não-cerâmicas. Os artefatos não foram nem definidos nem quantificados. Seis foram figurados em fotografias. Chmyz deu a sua “Nota Prévia” sobre 75 sítios, 66 qualificados de cerâmicos e 9 não-cerâmicos, divididos em duas fases não-cerâmicas e cinco cerâmicas. Artefatos líticos não foram bem definidos, nem tampouco quantificados ou figurados. Sobre algumas das jazidas mencionadas, Chmyz já tinha publicado (em outras notas prévias) em maiores detalhes. Silva deu um “progress report” da arqueologia de Rio Claro. Não se reportou à matéria lítica, porque ainda estávamos o analisando. Com relação ao material cerâmico, este não foi definido aqui, pois já tinha sido em outro lugar, mas Silva deu algumas indicações de mudanças por tempo, e um resumo da situação paleogeográfica da região. Ondemar F. Dias Junior reportou-se a 33 sítios arqueológicos do Rio de Janeiro e Guanabara, 24 cerâmicos e 8 não-cerâmicos, divididos em três fases: uma pré-cerâmica e duas cerâmicas. O material lítico não foi definido, nem quantificado ou figurado. 2. 4 Trabalhos mais recentes

Em outro estudo, publicado em 1967, Silva (1967a, p. 27) tentou organizar a pré-história brasileira, apresentando: Um esboço do quadro arqueológico no Brasil, destacando os seguintes horizontes arqueológicos: 1) Um horizonte antigo ou 60

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

paleo-indígena, entre 10.000 e 5.000 anos, e alcançando as jazidas de Lagoa Santa, sambaquis, como os de Maratuá, os níveis inferiores de José Vieira, e outras jazidas líticas do interior; 2) um horizonte arcaico, representado pelos sambaquis, como os de Saquarema, Gomes e Macedo, variando entre 5.000 e 3.000 anos, e possivelmente alcançando os níveis médio ou superior de jazidas, como as de Lagoa Santa, José Vieira ou níveis médio ou superior de sambaquis, como o de Maratuá; 3) um horizonte pré-cerâmico recente, representado pelos níveis inferiores ou médios de sambaquis, como os de Ilha dos Ratos, Araújo II, e, possivelmente, os sambaquis da costa catarinense, bem como os níveis superiores das jazidas atribuídas acima a outros horizontes; para este horizonte pré-cerâmico recente, estimamos uma antiguidade variando entre 3.000 e 1.500 anos; 4) um horizonte cerâmico antigo, abrangendo, na Amazônia, a fase Ananatuba, , no sul, os níveis tupis-guaranis mais antigos, entre 2.500 anos e 1.000 anos atrás, coincidindo, provavelmente, no seu início, com o final do pré-cerâmico recente; a este horizonte poderíamos referir o sambaqui da Pedra Oca, no litoral baiano; 5) um horizonte cerâmico recente, de 1.000 e 500 anos atrás, alcançando o período dos contactos com os europeus; a este horizonte deveremos referir as bases Marajoara e Santarém, bem como os níveis mais recentes dos sítios tupis-guaranis.

Silva defende a idéia de que a região de Rio Claro serviu de passagem a grandes movimentos de migrações, “pois se constitui um ponto de confluência de duas rotas básicas do caminho das migrações, que demandaram quer o sul quer o norte: a depressão periférica, rota tradicional das migrações em todo o período da história colonial e recente, e também, provavelmente, em períodos pré-históricos; e a bacia do Rio Tietê, o qual, desembocando no Rio Paraná, constitui-se em estrada natural para os deslocamentos humanos ... Do ponto de vista arqueológico, essas conjeturas se justificam pela grande abundância de sítios, distribuídos ao longo da área” (SILVA, 1967a, p. 81). Acontece que o período melhor documentado para tais movimentos é o proto-histórico e histórico, portanto cerâmico, que justamente nos dá o menor número de vestígios em termos de número de sítios. O número de sítios nos horizontes líticos não tem que significar migrações; pode, antes, significar ocupação intensiva 61

Tom Oliver Miller Junior

da região por um povo, durante muito tempo. É possível que agora seja um pouco cedo para atribuir aos tempos pré-agriculturais e pré-cerâmicos as mesmas condições demográficas, conhecidas nos primeiros séculos, após a introdução dessas atividades por invasores de origem paraguaia. Silva também notou a estranha falta de ocorrência simultânea de sítios cerâmicos e não-cerâmicos, isto é, ausência de artefatos de pedra nos componentes cerâmicos. A existência de sítios cerâmicos sem artefatos líticos acontece ocasionalmente em todas as partes do sul do Brasil, e agora conhecemos, aqui, algumas jazidas que produzem alguns cacos de cerâmicas, além do material lítico, embora esses achados sejam mais novos do que a data da publicação em questão. Chmyz, em 1967, denuncia outra jazida paranaense de dois componentes. A parca coleção lítica não é muito diagnóstica, mas leva data radiocarbônica para a Camada II (800 + 50 ou seja 1.150 D.C.; CHMYZ, 1967a, p. 36). Isto corresponde ao nível III, setor I de José Vieira, também com data de -1.287 anos (Ibidem, p. 37). De interesse especial no desenvolvimento de comunicação e intercâmbio de idéias entre arqueólogos que trabalham na região, é a série de Simpósios de Arqueologia da área do Prata, patrocinada pelo Prof. Pedro Ignácio Schmitz (1968), do Instituto Anchietano de Pesquisas, RGS, em 1967 e 1968, com um terceiro simpósio programado para 1969. 2. 5 Resumo

Assim, antes de 1954-59, ocorreram vez ou outra trabalhos ocasionais realizados por interessados; durante essa etapa, apareceram as primeiras pesquisas modernas, esporádicas mas importantes; depois, uma série de trabalhos mais especulativos do que técnicos e descritivos;e, atualmente, uma tendência de se dar maior cobertura aos trabalhos de reconhecimento de toda a zona, junto com maior comunicação e cooperação entre os pesquisadores ativos. 62

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Embora a maioria ainda esteja sem treinamento profissional em Arqueologia, estamos, agora, preparando os primeiros alunos universitários, que se vão especializando na matéria, os quais poderão preencher nos próximos anos, as lacunas referentes ao trabalho arqueológico.

63

64

3 GEOGRÁFICA

3.1 Relevo Trataremos aqui do ambiente natural da região estudada. Das grandes províncias do interior paulista encontra-se, entre os Planaltos, Atlântico e Ocidental, uma faixa de bacias interplanálticas deprimidas de direção geral NE – SW, em sentido contrário ao curso dos maiores rios, que atravessam o Estado, até o rio Paraná. Essa faixa denomina-se Depressão Periférica, e é a terceira das três grandes províncias geográficas do interior do Estado. É drenada pelos sistemas hidrográficos dos rios Pardo, Moji-Guaçu, Tietê e Paranapanema. Apesar de estar em sentido contrário à direção destes últimos, o subnivelamento geral dos interflúvios (600 – 700 m) sugere que a região inteira sofreu um processo geral de escavação e aplainamento no decorrer do Plioceno Superior e Pleistoceno Inferior, que apagou o antigo relevo, cujos vestígios ainda se encontram nas superfícies cimeiras do Estado (PENTEADO, 1968, p. 18).

67

Tom Oliver Miller Junior

Mapa 2: Região Central do Estado de São Paulo.

As superfícies de cimeira do planalto ocidental (950 – 1000 m) estão num desnível geral de 350 m em relação ao nível geral dos interflúvios. Adicionalmente, há três níveis intermediários entre o 68

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

“interflúvio” e o cascalho das várzeas, indicando “fases sucessivas de aplainamento lateral e entalhe, oriundas de alternâncias climáticas e lento tectonismo positivo ... até épocas subatuais, ou seja, entre o Pleistoceno e o Holoceno” (PENTEADO, 1968, p. 19). As formas suaves de colinas e patamares, levemente convexas, embora produto de processos morfoclimáticos atuais, segundo Penteado, fase quente e úmida, ainda retêm, devido a curta duração da última fase, a influência de processos antigos, resultantes de fases mais secas do clima do passado. Dentro da Depressão Periférica, há sub-regiões, entre as quais figura a do Médio Tietê, incluindo a área de Rio Claro. 3.1.1 Área Estudada

A Bacia de Rio Claro, segundo Penteado (Ibidem, p. 58), “desenvolvida em compartimento interplanáltico da Depressão Periférica, embutida entre elevações arenítico-basálticas, constitui um exemplo de pequena bacia de origem fluvial e playa-lacustre de ambiente de antigas baixadas semi-áridas”. Os afloramentos estudados estão localizados na bacia hidrográfica do Médio-Corumbataí, ou seja: no Ribeira Passa-Cinco e seus afluentes: Rio da Cabeça, Ribeirão João Pinto, Rio dos Pereira, Córrego da Barreira, e o próprio Corumbataí. Os afloramentos dessas fases encontram-se nos paleopavimentos acima do bairro terraço (t1), nos primeiros intermediários, e, ocasionalmente, nos festões remanescentes da superfície interplanáltica (650 m), tais como Pitanga e Paraíso (ver Mapa 1). Rodeada de todos os lados por escarpas de cuestas e seus festões rebaixados, está a Bacia de Rio Claro, em forma geral circular, estreitando-se para o norte até às cabeceiras do Corumbataí, e, para o sul, perto da confluência dos rios Passa-Cinco e Corumbataí. Dentro dessa área, vê-se um relevo levemente ondulado, “de colinas tabuliformes, terraços escalonados e várzeas relativamente estreitas e descontínuas, cujas altitudes oscilam entre 550 e 600 m (nível das várzeas) e 600 – 650 m (nível das plataformas inter69

Tom Oliver Miller Junior

fluviais e colinas mais altas)” (PENTEADO, op. cit., p. 21), de forma que se pode caracterizar a paisagem de monótona, com as suas extensões arenosas, planas, com cerrado ou campos de “barba de bode”. Tais depósitos arenosos, que capeiam essas superfícies interplanálticas, foram características de “modernos”.

Mapa 3.

3.1.2 Litologia das Formações Subjacentes

Penteado resume as formações assim: A formação Estrado Nova ocupa grande extensão de área, acompanhando o vale do Corumbataí e seus afluentes, e são os seus 70

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

sedimentos siltosos e argilosos, entremeados de sílex, que se apresentam desdobrados em patamares e baixas colinas, esculpidos por epiciclos erosivos recentes (570 a 540 m). Os sedimentos mais característicos do topo dessa formação são os siltitos variegados, predominantemente rosa e arroxeados, conhecidos regionalmente como “piçarra”. São bastante friáveis, facilmente esculturáveis, formando colinas de vertentes suavizadas. A base dessa formação é representada por camadas de transição, para a Formação Iratí e é constituída por siltitos cor de cinza, bastante duros, dispostos em camadas pouco espessas, lajes de sílex ou de margas, com importância local muito grande nas formas do relevo, apresentando quebras bruscas de declives e patamares estruturais (550 – 560 m) ... Ao sul ... nos Vales Corumbataí e do Passa-Cinco, afloram arenitos avermelhados, siltitos, calcários, etc. do Grupo Tubarão, onde as camadas mais resistentes têm expressão topográfica, formando patamares correspondentes à superfície de Rio Claro ... (Ibidem, pp. 26-7).

3.1.3 Topografia

Da grande pediplanação Neogênica, hoje encontramos só restos nas superfícies de 700 m e suas dejeções de quartzo e canga, testemunhos de um clima semi-árido. A dissecação do planalto seguiu essa fase de aplainamento geral, durante um clima úmido, seguida, por sua vez, por outra fase seca de aplainamento. Geomorfólogos atribuem essa fase ao Pleistoceno Inferior. Penteado chama de “Superfície de Rio Claro” à superfície elaborada, entre 600 e 650 m e cerca de 50 m acima das várzeas (Ibidem, pp. 58-9). Para os depósitos correlativos a essa superfície, a autora citada vê uma “deposição em planícies de inundação temporárias ou playas lacustres, a montante de soleiras escalonadas ao longo da drenagem” (Ibidem, p. 61). Assim, a Formação Rio Claro assenta-se em discordância erosiva sobre sedimentos Paleozóicos e Mesozóicos, e freqüentemente, como base, exibe camada detrítica descontínua, referente aos vestígios da grande fase erosiva de pediplanação. 71

Tom Oliver Miller Junior

A maior fonte do material detrítico foi o arenito Botucatu, facilmente identificado nos estudos granulométricos dos solos da região. 3.1.4 Os Terraços: O resultado da ação dos processos morfogenéticos, através do Quaternário, está presente nos níveis escalonados das vertentes. A superfície do interflúvio ... apresenta todas as características de um pedimento resultante dos processos de planação lateral, ligados no recuo da escarpa, em fase mais seca do clima passado, colocada entre o fim do Terciário e o começo do Quaternário (Ibidem, pp. 83-4).

Essa superfície, generalizada na área, corresponde, também, aos terraços mais altos do Corumbataí (t3), vistos em forma de cascalheiras aluviais a 40 ou 50 m acima da várzea atual. O processo de reentalhamento foi epicíclico (cada nível pedimentado representando nova fase). Ao nível intermediário (t2), a 555 – 570 m corresponde outro terraço, modelado numa oscilação climática seca pelos mesmos processos. Penteado situa a época de elaboração do t2 no Pleistoceno Médio, na base da sua posição intermediária (cronologia relativa) entre t3 e t1. Tais pedimentos e patamares foram reentalhados em outra fase úmida e, na subseqüente fase seca, foi transportada e depositada pelo escoamento concentrado outra cascalheira, formando os baixos terraços aluviais (t1) a partir do leito dos rios, até 3 ou 4 metros acima. 3.1.5 Paleopavimentos

Os terraços e pedimento foram, mais uma vez, entalhados por uma ou mais fases úmidas sub-atuais, o que também aprofunda o assoalho das várzeas. Mais outra oscilação seca foi vista como causa da linha de cascalho miúdo, encontrada até 2 ou 3m abaixo do solo, no caso de não haver muita erosão, cascalhos remobilizados dos antigos depósitos e formando uma pavimentação detrítica descontínua, generalizada na região. Geomorfólogos supõem uma fase seca, refletindo climas de savana “e dominância de morfogênese mecânica” (Ibidem, p. 89). 72

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

3.2 Clima e Vegetação Atual O clima atual pode ser caracterizado mais como tropical do que como subtropical, com chuvas torrenciais durante o verão e menos intensas durante o resto do ano, ocasionadas pelas incursões de massas polares. Os médios anuais de precipitação giram em torno de 1.000 – 1.200 mm. A temperatura média do mês mais quente é superior a 22ºC e, do mês mais frio, inferior a 16ºC. As primeiras grandes chuvas do verão encontram o solo ressecado e, devido ao ciclo de agricultura, desnudado. O resultado é “ablação intensa dos solos, com predomínio de escoamento areolar difuso ou laminar, nas vertentes com inclinação inferior a 10º, e do escoamento torrencial, concentrado em fundas ravinas, nas rampas de inclinação superior a 15 ou 20” (Ibidem, p. 82). O intemperismo químico é ativo, resultando em solos lateritizados. Os processos erosivos atuais podem sugerir acontecimentos climáticos semelhantes no passado. A vegetação está, atualmente, completamente modificada da do passado, pelas constantes queimadas, em conexão com o ciclo agricultural. A remoção da cobertura vegetacional ocasionou expansão dos campos de cerrado. Há indícios de que estamos entrando em outro ciclo de elevação das temperaturas e de épocas secas, com processos erosivos acelerados.

73

Tom Oliver Miller Junior

Mapa 4.

74

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Mapa 5.

75

76

4 DESCRITIVA

4.0 O Sítio de Tira-Chapéu No quilômetro 197 da estrada Rio Claro – São Pedro, no município de Ipeúna, há uma pequena ponte. Esta atravessa o pequeno Córrego da Barreira, afluente do Passa-Cinco, cujas vertentes são tão abruptas que o local recebeu o nome de Tira-Chapéu (ver Mapa 1). O córrego, situado dez metros abaixo do barranco (ver Figura 1 e Foto 1) fica despercebido devido à vegetação beirando a estrada. Do lado sul do córrego, onde o barranco está recuando, há uma colina que forma o último vestígio do antigo nível interplanáltico, ou seja, do terceiro terraço do Passa-Cinco, onde afloram lascas e núcleos de sílex siltado, cor cinza-claro até cinza-escuro. A montante do córrego há uma pedreira, num afloramento de calcário e sílex. Essa área descrita pertence à propriedade de Aristéu Vianna, de Rio Claro. De baixo para cima, notam-se no barranco: 1. Os siltitos do Grupo Passa-Dois; 2. Um nível de cascalheira, predominando sílex preto não siltado, freqüentemente seixinhos e lascas rolados pelo córrego; 3. Um nível da mesma argila amarela, que acompanha o 2º nível, com a cascalheira; 4. Um nível de argila arenosa; 5. Um nível de argila branca e amarela, com fragmentos não rolados de sílex siltado, cor cinza-claro até cinza-escuros, com ocasionais fragmentos do sílex preto não siltado; 6. Outro nível estéril de argila arenosa; 7. Outro nível de fragmentos de sílex siltado, misturado com argila arenosa, até o horizonte A do solo; 79

Tom Oliver Miller Junior

8. O próprio solo recente (horizonte A) com a vegetação (ver Figuras 1 e 2). Da hipótese expressa no campo foi que tratamos, em (2) do depósito do primeiro terraço, hipótese apoiada pela presença de certos artefatos, semelhantes aos da formação t1 de Santa Rosa e Serra d’Água; (5) representa o paleopavimento, e (7) uma redeposição de (5), aflorando colina acima e descendo por rolamento ou por solifluxão. Uma análise no laboratório mostra que as culturas humanas nos três níveis são distintas, e que (5) e (7) são paleopavimentos distintos. (2) mostra diferenças importantes de Santa Rosa, Serra d’Água I e São Lourenço

80

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Os níveis foram chamados de Tira-Chapéu I (camada 2) TiraChapéu II (camada 5), e Tira-Chapéu III (camada 7, ver Figura 1). Os números prefixos para a jazida Tira-Chapéu (SP. IN.8), estabelecidos no Laboratório, são: Tira-Chapéu III (componente 61) Tira-Chapeu II (componente 62) Tira-Chapeu I

(componente 63)

Foto 1: Tira Chapéu, vista geral do barranco sul. 81

Tom Oliver Miller Junior

Foto 2: Cascalheira Superior de Tira Chapéu III.

82

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Foto 3: Detalhe do perfil da Cascalheira Superior, Tira Chapéu III.

83

Tom Oliver Miller Junior

4.1 O Componente de Tira-Chapéu III Na prospecção, foi retirada uma amostra de 245 artefatos, trabalhados da 7.a a camada (ver Fotos 2 e 3), além de muitas peças não trabalhadas, com sinais de uso. Foram analisados nessa fase do trabalho, somente os modos das peças trabalhadas, pois estas foram intencionalmente modificadas, para conformar-se a um padrão pré-estabelecido de ferramentas apropriadas, o que mais pode nos dizer sobre a tipologia. Modos de escolha da matéria-prima: das 245 peças trabalhadas da amostra, 244, ou seja, 99,6%, foram de sílex siltado, de cor cinzaclaro até cinza-escuro, e uma peça de sílex preto não siltado (0,4%). Modos da base: todas as peças trabalhadas foram de uma face só; nenhum biface foi observado. Os “choppint tools”, como na jazida de José Vieira (LAMING EMPERAIRE, 1959, p. 82), não são verdadeiros bifaces, sendo apenas o gume trabalhado de duas faces e não a peça inteira. As peças obedeceram às seguintes freqüências: Base da Peça

Fragmento sem forma Núcleo Lasca primária Chapa de sílex tabular (Figura 2) Lâmina (Figura 10) Lâmina prismática. Lâmina lateral Lasca secundária Seixo fendido. Pedrinha fendida

Freqüência

117 56 43 12 5 2 4 3 2 1 245

Porcentagem

47,8 22,9 17,6 4,9 2,0 0,8 1,6 1,2 0,8 0,4 100,0

Modos da manufatura: (estes termos não são mutuamente exclusivos): Percussão direta simples 211 86,1 84

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Percussão direta controlada 7 Crosta deixada em alguma parte 116 Plataforma de percussão visível 36 Bulbo de percussão visível 15 Bulbo conoidal visível (Foto 8 e Figura 11) 1 Lascas discoidais, grossas 1

2,9 47,3 14,7 6,1 0,4 0,4

Acabamento: Percussão direta controlada Percussão indireta ou pressão Esfregado Serrações não removidas Retoques irregulares Sinais de bater Retoques marginais em volta

151 111 19 17 6 4 1

61,6 45,3 7,8 6,9 2,4 1,6 0,4

Retoques marginais localizados

18

48,2

99

40,4

Micro-retoques

4.1.1 – Tecnicultura do Trabalho

Acredita-se que um bloco ou seixo de sílex escolhido tenha sido espatifado contra outro, e os fragmentos, escolhidos para os usos simples de cortar ou raspar. Foram escolhidas as peças que menos precisavam de modificação para uso. Para lâminas e outras ferramentas especializadas, escolheu-se uma peça com uma plataforma, e uma série de golpes contra essa plataforma tirou lascas e lâminas plano-convexas, deixando um bulbo de percussão na lasca e a sua cicatriz (bulbo negativo) no núcleo usado. A técnica bipolar foi usada, segundo a qual o núcleo é colocado sobre uma bigorna para bater com percutor. O resultado é a tiragem de lascas côncavas, com bulbo cônico, em vez de concoidal, e o resultante núcleo gasto tem a forma de uma bola poliédrica. 85

Tom Oliver Miller Junior

Não era costume afilar o implemento, tirando lascas de toda a face; normalmente, os retoques eram feitos por pequenos golpes na margem de trabalho, ou abrandamento de uma aresta para aplicar força pela mão, retirando-se a parte aguda. Alternativamente, esse trabalho foi feito por pressão contra a aresta, o que causa lasquinhas a sair da face oposta. A fabricação do artefato é simples e rápida, e ele não foi retrabalhado para afinar-se um gume gasto, embora o mesmo fragmento possa ter sido utilizado, em outra ocasião, como matéria-prima, para fazer-se outro tipo de ferramenta (p. ex. formão). Assim, foram feitos e usados na hora, e jogados fora. Não foram levados de um lugar para outro, devido à facilidade de fabricação de novas peças. Isto explica, também, o número elevado, fora de comum, de artefatos encontrados neste e em outros horizontes dessa região. Então, a forma global do implemento não era uma preocupação dos artesãos, mas, sim, a parte específica – gume ou bico – com a qual pretendiam trabalhar. A forma global da peça podia ser definida em apenas 30 exemplos, nos quais muitos têm tal forma por simples casualidade. Atributos de forma: Poliédrica (núcleos, em geral) 18

7,3%

Discoidal

5

2,0

Retangulóide

3

1,2

Triangulóide

3

1,2

Ovalóide

1

0,4

2

0,8%

Secção transversal: Prismática Plano-convexa

11

4,5

Biconvexa chata

3

1,2

Biconvexa grossa

7

2,9

23

9,4

Triangular ou carinada

86

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Os modos do tamanho das peças seguem a seguinte distribuição: Espessura: Mais do que 2 cm

120

49,0%

De 2,0 a 0,5 cm

116

47,3

Menos de 0,5 cm

9 245

3,7 100,0

Comprimento: Maior do que 10 cm

20

8,2%

De 4,0 a 10,0 cm

179

73,1

De 2,0 a 4,0 cm

45

18,4

1

0,4

245

100,1

Menor do que 2,0 cm

Observa-se, então, que os núcleos, devido à forma de lasqueamento, tenderam a uma forma poliédrica (Foto 8). Facas e raspadores, feitos na base de uma lasca primária (freqüentemente plano-convexas em forma, face interior lisa, onde se dividiu do núcleo, e face externa com arestas formadas pela tiragem de outras lascas, e em partes a aresta original - Foto 8) mostram uma leve tendência a serem plano-convexas. Raspadores, às vezes, mostram uma forma transversal triangular ou carenada; essa forma tem vantagem funcional para ferramenta a ser empurrada pela mão, como plaina (Foto 6). Em tamanho, a amostra se divide em dois grupos, quase iguais em termos de espessura: maior do que 2,0 cm e menor do que essa medida. O número de peças menores do que 0,5 cm é reduzido. A maioria dos artefatos mede de 4,0 a 10,0 cm, no sentido maior (comprimento), além de números apreciáveis maiores e menores do que essa distribuição. Só peças menores do que 2,0 cm é que são raras.

87

Tom Oliver Miller Junior

4.1.2 As Partes Funcionais de quase todos os artefatos são divisíveis em três classes: entalhes ou reentrâncias, bicos e gumes. Peças com reentrâncias ou entalhes: 88 Peças com bicos de formão: 166 Peças com gumes padronizados: 149

35,9% 67,8 60,8

Reentrâncias, entalhes ou goivas serviram para alisar paus ou varas e para preparar cordas vegetais, e os exemplares pequenos também poderiam ter servido na fabricação de barbantes e cordas. Aos pequenos chamamos de “entalhes”, e as reentrâncias dividiramse em quatro classes: profundas (180º ou mais de arco), rasas (menos de 180º de arco), retas com ângulo, e quadrangulares (Fotos 6 e 7). Entalhes 32 Reentrâncias 26 Reentrâncias rasas 38 Reentrâncias com ângulo 7 Reentrâncias quadrangulares 0

13,1% 10,6 15,5 2,9 0,0

As formas básicas dos bicos (Figura 8) são: arredondadas, agudas, quadrangulares e ocas. Estes, por sua vez, são pequenos, médios, grandes ou duplos. Estas mesmas categorias, por sua vez, também existem em forma simples, com pescoço, entre 2 entalhes ou reentrâncias, ou no meio do gume (Fotos 6, 7, 8 e Figura 8). Bicos simples Bico A pequeno (Foto 6) Bico A Bico B Bico C

4 27 40 51

1,2% 7,9 11,7 15,0 88

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Bico bifurcado Bico AA Bico D Bico E Cinzel Bico quadrangular (Foto 7) Bico Oco

0 3 43 25 19 26 2

0,0 0,9 12,6 7,3 5,6 7,6 0,6

Bicos entre entalhes Bico A pequeno Bico A (Foto 8) Bico B Bico C (Foto 7) Bico bifurcado Bico AA (Foto 7) Bico D Bico E Cinzel Bico quadrangular

33 21 2 25 0 13 3 1 0 2

9,7% 6,2 0,6 7,3 0,0 3,8 0,9 0,3 0,0 0,6

1 341

0,3 100.1%

Bicos no meio do gume Bico C

Com 341 bicos, num total de 160 peças com bico formão, a razão de bicos por formão é de 2,13. O cinzel é variável, alguns (especialmente de componentes antigos) são verdadeiros buris (BANDI, 1963). A situação de gumes é algo mais complicado (Figura 16), Pois destes há três variáveis, a saber: forma, inclusive arco, se o gume é curvado, ângulo e comprimento. Da tipologia de gumes tratar-se-á na Parte V abaixo. Um total de 149 peças, com um total de 210 gumes, dá a razão de 1,41 gumes/peça. 89

Tom Oliver Miller Junior

Os comprimentos dos gumes seguem a seguinte freqüência: 1,5 cm ou menor 114 54,3% 2,0 cm 48 22,9 2,5 cm 14 6,7 3,0 cm 25 11,9 3,5 cm 4 1,9 4,0 cm 3 1,4 4,5 cm 0 0,0 5,0 cm 2 1,0 5,5 cm ou maior 0 0,0 X = 1,96 cm 210 100,1% Os ângulos obedeceram às seguintes freqüências: 10º a 20º 1 0,5% 25º 0 0,0 30º 2 1,0 35º 3 1,4 40º 4 1,9 45º 3 1,4 50º 14 6,7 55º 12 5,7 60º 28 13,3 65º 24 11,4 70º 21 10,0 75º 5 2,4 80º 21 10,0 85º 16 7,6 90º 40 19,0 95º e maior 16 7,6 X = 72,1º 210 99,9%

O significado dessa distribuição e combinação de atributos será tratado na Parte V abaixo. 90

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Formas dos arcos variam entre côncavas, retas, convexas, irregulares, e ondulantes. Côncavas e convexas são divisíveis em termos de arco - aqui definido como o tamanho do diâmetro do círculo de que foi tirado o segmento (arco - Foto 4). Côncava: arco 1 (cm) arco 2 arco 4 arco 6 arco 8 arco 10 arco 12 arco 18 Reta Convexa arco 18 arco 12 arco 10 arco 8 arco 6 arco 4 arco 2 Ondulante Irregular

0 3 10 6 9 0 0 15 71

0,0% 1,4 4,8 2,9 4,3 0,0 0,0 7,1 33,8

24 0 1 6 10 13 2 4 36 210

11,4 0,0 0,5 2,9 4,8 6,2 1,0 1,9 17,1 100,1%

4.1.3 Tecnicultura Industrial:

Resta, então, analisar as tendências de variáveis, destes três parâmetros, de se associarem, o que será feito mais adiante. Já sabemos que gumes irregulares e agudos são os mais úteis para fins de cortar (facas), enquanto os ângulos mais abertos servem para raspadores e plainas; especialmente os convexos e côncavos 91

Tom Oliver Miller Junior

que servem para alisar paus, à maneira de goivas. Levando-se tal fato em consideração, podemos dividir a amostra nas seguintes categorias de ferramentas: Facas (Foto 4, Figuras 9, 10 e 11) Faca de mão (ulo, tchi-tho) (Figura 11) Faca discoidal Faca triangulóide Lâmina (Figura 10) Outras facas (Parte V)

66

26,9%

1 3 3 3 57

0,4 1,2 1,2 1,2 23,3

Raspadores: 127 Raspador lateral (Foto 6) 38 Raspador terminal (Foto 6) 63 7 Raspador vertical abrupto (Foto 6) 10 Raspador de bico comprido (Foto 5) 16 Raspador com bico F (Foto 8) 13 mesmo entre reentrâncias 2 Raspador com bico de pato (Foto 34) 3 Raspador com bico quadrangular 18 mesmo entre reentrâncias 4 Raspador de bico bifurcado (Foto 5) 13 Raspador com bico de pé (Foto 5) 4 Raspador com 2 ou 3 pés (Foto 5, Figura 12) 8

51,8% 15,5 25,7 4,1 6,5 5,3 0,8 1,2 7,3 1,6 5,3 1,6 3,3 92

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Raspador Discoidal 3 Raspador planconvexo 1 Raspador carinado (Figura 13) 3

1,2 0,4 1,2

Outras ferramentas: Goivas (Foto 7, Figura 2) 88 Plainas pequenas (ângulo 90º; Foto 7, Figura 2) 39 Talhadeira 1 “Chopping tool” 2 Furador, base em expansão (Foto 4, Figura 2) 23 Agulha (Figura 2) 0 Bolas (Foto 8) 11 Formão (Fotos 6 e 7) 166 Lasca retocada (Foto 4) 9 Pontas de projétil 0 Machado 0

35,9% 15,9 0,4 0,8 9,4 0,0 4,5 67,8 3,7 0,0 0,0

Nota-se que a talhadeira, como quase todas as outras ferramentas, é trabalhada numa face só, enquanto o “chopping tool” tem lascas tiradas das duas faces do gume. Apesar disso, não é uma ferramenta verdadeiramente “biface”, como já notamos. As bolas são núcleos, gastos da maneira explicada acima, que poderiam ter sido usados como na Argentina, em grupos de três, para prender caça, à maneira dos índios e gaúchos pampianos. Sobre as agulhas, veremos mais adiante. Pontas de projétil não apareceram. As únicas possíveis ferramentas da caça, aqui encontradas, são as bolas (4,5%), embora os processos de descarnar (talhadeira 0,4%, facas 26,9%) e tratar o couro (raspadores 51,8%, furadores 9,4%), estejam presentes. Aqui são interpretadas como instrumentos para trabalho em madeira e osso (utilizando o princípio de analogia; ver I.1 acima), incluindo as goivas (35,9%), plainas pequenas (15,9%, para dar 93

Tom Oliver Miller Junior

uma superfície rasa ou lisa) e formões (67,8%, para talhar sulcos de várias formas e tamanhos). O bico bifurcado talvez tenha servido para o desenho de ponto e círculo, tanto quanto para dois sulcos. O bico A podia dar um ponto ou um sulco, e o bico A entre entalhes, talvez um par de sulcos ou, talvez, um círculo em relevo. A variedade de formões sugere uma variedade correspondente em desenhos talhados em madeira e osso. Exemplos em osso desse trabalho não estão ainda ao nosso alcance. Espera-se que a escavação de uma gruta em calcário, perto de Araras, venha a no-los proporcionará. Muitas peças serviram para mais de uma função. Não se sabe, com certeza, em quais casos atuaram na mesma operação, ou em quais houve reutilização de uma peça, usada e jogada como matériaprima para outra atividade, noutra ocasião. No primeiro caso, haveria uma tendência de associação a certas espécies de bicos, gumes, etc., e, no segundo, uma associação à-toa. Algumas das combinações observadas são: Faca com Lasca retocada Faca com Raspador Faca com Furador Faca com Formão Faca com Goiva Faca com Plaina Pequena Raspador com Furador Raspador com Formão Raspador com Goiva Raspador com Plaina Pequena Goiva com Plaina pequena Goiva com Formão Plaina Pequena com Formão

6 18 8 38 15 7 4 97 53 11 7 65 16

2,4% 7,3 3,3 15,5 6,1 2,9 1,6 39,6 21,6 4,5 2,9 26,5 6,5

94

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Foto 4: Artefatos típicos de Tira Chapéu III: Facas de Gume Irregular (acima, esquerda); Facas de Gume Côncavo (acima, direita); Faca de Gume Reto (direita, meio); Lascas Retocadas (abaixo, esquerda), Furadores (abaixo, direita). 95

Tom Oliver Miller Junior

Foto 5: Artefatos típicos de Tira Chapéu III – Raspador de dois Bicos Pé (acima, esquerda); Raspadores de Bico Pé (acima, direita); Raspadores de Bico Bifurcado (esquerda, no meio); Raspador de dois Bicos Pé (direita, no mei); Raspadores com Bico Comprido (abaixo). 96

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Foto 6: Artefatos típicos de Tira Chapéu III – Raspadores Laterais (acima, esquerda); Raspadores Terminais (acima, direita); Raspadores Verticais (direita, no meio); Raspador Terminal (direita, abaixo); Formão com Bico A Pequeno (abaixo, esquerda). 97

Tom Oliver Miller Junior

Foto 7: Artefatos típicos de Tira Chapéu III – Plainas Pequenas (acima, esquerda); Goivas (acima, direita); Formões com Bico C (esquerda, no meio); Formões com Bico AA entre Entalhes (esquerda, abaixo); Formão de Bico Quadrangular (direita, abaixo). 98

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Foto 8: Artefatos de Tira Chapéu III – Bolas (acima); Lascas Côncavas (no meio, flechas marcam o bulbo cônico); Raspadores com Bico F (esquerda, abaixo); Formões de Bico A entre Entalhes (direita, abaixo). 99

Tom Oliver Miller Junior

Foto 9: Tira Chapéu II: mostrando a cascalheira intermediária (Paleopavimento Inferior).

100

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Foto 10: Tira Chapéu II – detalhe do perfil.

101

Tom Oliver Miller Junior

4.2 O Componente de Tira-Chapéu II Passaremos aqui a considerar os materiais do segundo componente da jazida (Fotos 1, 10 e 11). Na prospecção, foi retirada uma amostra de 164 artefatos trabalhos da 5ª camada, além das peças não trabalhadas com sinais de uso. Matéria-prima: das 164 peças retiradas, 163, ou seja, 99,4% foram de sílex siltado, de cor cinza clara até cinza escuro, e uma peça de sílex preto, não siltado (0,6%). Modos da base: todas as peças foram trabalhadas de uma face só, nenhuma biface foi observada. As peças obedeceram às seguintes freqüências: Fragmento sem forma

99

60,4%

Núcleo

13

7,9

Lasca primária (bulbo conc.) 12

7,3

Chapa de sílex tabular (Figuras 2,3)

25

15,2

Lâmina

3

1,8

Lâmina prismática

7

4,3

Lâmina lateral

1

0,6

Lasca secundária

0

0,0

Seixo fendido

4

2,4

164

99,9%

Peça velha retrabalhada (vernizada)

2

1,2

Peça rolada pelo córrego

1

0,6

Modos da manufatura: estes categorias referem-se às categorias fora as de simples fragmentos utilizados para vários fins, com acabamento, mas não com formação da peça geral e as peças de 102

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

“percussão direta simples” que não sejam outra coisa, incluindo-se fragmentos sem forma, chapas etc. 4.2.1 Tecnicultura de Trabalho

A técnica de fragmentação de seixos descrita para Tira Chapéu III é, aqui, praticamente a única técnica utilizada. A técnica de martelo e bigorna (resultando em bulbo cônico) está ausente, e até o sistema de golpe de vertical a 130º com martelo, que produz um bulbo de percussão de forma concoidal, também está em falta. Às poucas lâminas, maior em número do que Tira Chapéu III, aqui, curiosamente, faltam bulbo de percussão bem visível. Há maior tendência de se usar pressão para retoques (bordo de preensão), menor para percussão controlada. Retoques em um ou mais locais pequenos da margem total da peça, e utilização de micro-retoques, o que possivelmente vem do uso, não intencional. Entretanto, a lente freqüentemente mostre um padrão em forma de escamas em fila, o que sugere retoque intencional, também aparecendo mais do que no componente superior. A forma global da peça é até menos do que em Tira Chapéu III um padrão procurado pelos artesãos. Os atributos da forma são os seguintes: Discoidal

1

0,6%

Retangulóide

1

0,6

Prismática

7

4,3%

Plano-convexa

4

2,4

Biconvexa chata

2

1,2

Biconvexa grossa

11

6,7

2

1,2

Secção transversal:

Triangular ou carinada

Os modos do tamanho das peças seguem a seguinte distribuição: 103

Tom Oliver Miller Junior

Espessura: Mais do que 2 cm De 2,0 a 0,5 cm Menos de 0,5 cm

16 133 15 164

9,8% 81,1 9,1 100,0%

8 104 48 4 164

4,9% 63,4 29,3 2,4 100,0%

Comprimento: Maior do que 10 cm De 4,0 a 10,0 cm De 2,0 a 4,0 cm Menor do que 2,0 cm

Observa-se que a grande maioria das peças é bem menor em espessura e comprimento do que é o caso para o componente superior. Na espessura, 148 dos 164 (90,2%) peças trabalhadas são menores de 2,0 cm, e 52 (31,7%) menores de 4,0 cm em comprimento ou maior medida em qualquer sentido. 4.2.2 As Partes Funcionais

As partes funcionais de quase todos os artefatos são divisíveis em três classe como em Tira-Chapéu III. Peças com reentrâncias ou entalhes Peças com bico de formão (Figura 2) Peças com gumes padronizados

34

20,7%

114

69,5

118

72,0

Reentrâncias, entalhes, etc.(Figura 2), acusam a seguinte distribuição: Entalhes 7 4,3% Reentrâncias 4 2,4 104

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Reentrâncias rasas Reentrâncias com ângulo Reentrância quadrangular

18 6 0

11,0 3,7 0,0

Os bicos de formão são os seguintes (Figura 2): Bicos simples Bico A pequeno 1 Bico A 24 Bico B (Foto 12) 2 Bico C 39 Bico bifurcado 0 Bico AA 0 Bico D (Foto 12) 35 Bico E 16 Cinzel 22 Bico quadrangular (Foto 13) 19 Bico oco 5 Bicos entre entalhes (Figura 2, G) Bico A pequeno (Foto 12) 13 Bico A (Foto 13) 12 Bico B 0 Bico C (Foto 13) 15 Bico bifurcado 0 Bico AA (Foto 12) 10 Bico D 1 Bico E 1 Cinzel 1 Bico quadrangular 0 Bico no meio do gume Bico A pequeno 2 Bico AA 1 219

0,5% 11,0 0,9 17,8 0,0 0,0 16,0 7,3 10,0 8,7 2,3

5,9% 5,5 0,0 6,9 0,0 4,6 0,5 0,5 0,5 0,0 0,9% 0,5 100,3% 105

Tom Oliver Miller Junior

Com 219 bicos num total de 114 peças com bico de formão, a razão de bicos por formão é 1,92. Os gumes, em total de 185 gumes em 118 peças com gume, apresentam a razão de 1,57 gumes por peça. Os modos dos gumes são o seguinte: Comprimento: 1,5 cm ou menor 130 2,0 cm 34 2,5 cm 12 3,0 cm 5 3,5 cm 3 4,0 – 4,5 cm 0 5,0 cm 1 5,5 cm ou mais 0 X = 1,75 cm 185 Ângulos: 10º - 25º 30º 35º 40º 45º 50º 55º 60º 65º 70º 75º 80º 85º 90º 95º ou maior X = 76,4º

0 1 0 6 5 6 6 13 10 21 8 33 25 36 15 185

70,3% 18,4 6,5 2,7 1,6 0,0 0,5 0,0 100,0%

0,0% 0,5 0,0 3,2 2,7 3,2 3,2 7,0 5,4 11,4 4,3 17,8 13,5 19,5 8,1 99,8% 106

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Formas do gume: Côncavo: Arco 1 (cm) Arco 2 Arco 4 Arco 6 Arco 8 Arco 10 Arco 12 Arco 18 Reto: (Foto 11) Convexo: Arco 18 Arco 12 Arco 10 Arco 8 Arco 6 Arco 4 Arco 2 Ondulante: Irregular (Foto 11)

0 3 3 1 6 0 1 15 87

0,0% 1,6 1,6 0,5 3,2 0,0 0,5 8,1 47,0

42 1 0 4 6 6 1 4 5 185

22,7 0,5 0,0 2,2 3,2 3,2 0,5 2,2 2,7 99,7%

4.2.3 Tecnicultura Industrial

Veremos aqui os modos de facas, raspadores e outras ferramentas do componente Tira Chapéu II. Facas: Canivete (“backed knife”, Foto 11) Outras facas (Parte V)

23

14,0%

1 22

0,6 13,4

107

Tom Oliver Miller Junior

Raspadores: Lateral (Foto 11) Terminal (Foto 11) Vertical Bico comprido (Foto 11) Com bico F (Foto 13) Mesmo entre reentrâncias Com bico de pato Com bico quadrangular Com bico bifurcado Com bico pé Com bico 2 ou 3 pés Discoidal Planoconvexo Carinado

43 12 24 0 2 5 1 2 5 0 1 0 0 2 1

26,2 7,3 14,6 0,0 1,2 3,0 0,6 1,2 3,0 0,0 0,6 0,0 0,0 1,2 0,6

Outros: Goivas (Foto 13) 34 Plaina pequena (ângulo 90º; Figuras 2, 3, Foto 13) 78 Talhadeira 0 Chopping Tool 0 Furador, base em expansão (Foto 12) 12 Agulhas (Figura 2, Foto 12) 7 Bolas 0 Formão (Fotos 12 e 13) 114 Lasca retocada 2 Pontas de projétil 0

20,7 47,6 0,0 0,0 7,3 4,3 0,0 69,5 1,2 0,0

As poucas ferramentas de caça que reconhecemos em Tira Chapéu III, não aparecem neste componente, embora o processo de descarnar esteja presente (facas 14,0%), tanto quanto trabalho em 108

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

couro (raspadores 26,2%, furadores 7,3%, agulhas 4,3%). Instrumentos para trabalho em madeira e osso, na nossa interpretação são as goivas (20,7%), plainas pequenas (47,6%), e formões (69,5%). Algumas das combinações observadas em ferramentas múltiplas são: Faca com lasca retocada

1

0,6%

Faca com raspador

4

2,4

Faca com furador

2

1,2

Faca com formão

18

11,0

Faca com goiva

1

0,6

Faca com plaina pequena

3

1,8

Raspador com furador

1

0,6

Raspador com formão

38

23,2

Raspador com goiva

10

6,1

Raspador com plaina pequena 9

5,5

Goiva com plaina pequena

14

8,5

Goiva com formão

29

17,7

Plaina pequena com formão

51

31,1

4.2.4 Observações

Ora, certas características salientam-se quando os dois componentes estão comparados. Visto em termos de passagem em tempo de Tira Chapéu II para Tira Chapéu III, percebemos que, ao mesmo tempo em que se dá um aumento do tamanho global dos artefatos, ocorre uma diminuição do número de ferramentas miniaturizadas (comprimento menor do que 2,0 cm). As agulhas, que já eram poucas, diminuem ate zero; os raspadores também diminuem em freqüência, tanto quanto as bolas. A utilização de lascas primárias aumenta com o tempo, assim como a de facas e raspadores. A técnica de lasqueamento bipolar, 109

Tom Oliver Miller Junior

que produz bolas e lascas côncavas com bulbos cônicos, não chegou a ser desconhecida em Tira Chapéu II. Os raspadores laterais, as goivas, e as chopping tools aumentam com o tempo, tanto quanto bicos C e D entre entalhes, enquanto o cinzel (ferramenta muito semelhante ao buril) diminui em popularidade. Os gumes pequenos diminuem em freqüência e os gumes de tamanho médio aumentam. Os gumes côncavos de arco fechado diminuem em popularidade, enquanto os convexos de arco fechado e médio aumentam. Os gumes retos diminuem, se bem que isto reflita principalmente a diminuição em popularidade da plaina pequena (gume reto ou quase reto, comprimento menor do que 2 cm, ângulo de 80º - 100º, a maioria de 90º). O caso das agulhas é, particularmente, interessante. São pequenos “palitos” de pedra (Fotos 12 e 21), de espessura menor do que um lápis e secção transversal geométrica (quadrangular, triangular, trapezoidal, etc.) tendo sido consideradas uma espécie de furador, no princípio. Uma vez que outros componentes de tecnicultura semelhantes a Tira Chapéu III já eram conhecidos, especialmente o Sítio Santo Antônio e Tamandupá, procuramos outras jazidas com as características de Tira Chapéu II, inclusive ferramentas miniaturizadas e agulhas. A primeira encontrada foi no Ribeirão João Pinto (Fotos 15 e 16), afluente do Passa Cinco e perto da sede municipal de Ipeúna, Onde deparamo-nos com ferramentas miniaturizadas de sílex, ágata, quartzo e outros materiais, inclusive agulhas. As pedrinhas de quartzo que mediam, normalmente, de 2,0 a 4,0 cm, foram fendidas, com vistas a dar uma superfície lisa atrás de um gume. Com relação a uma explicação sobre as agulhas, esta foi dada no local, devido ao fato de a grande maioria desse tipo de instrumento encontrada, ser de cristal natural de quartzo. A forma um tanto fora do normal para uma ferramenta em sílex observada tinha ali a sua explicação: eram cópias em sílex de cristais naturais de quartzo (Fotos 12 e 21 para comparação). 110

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Todavia, não podíamos usar o referido sítio para o presente estudo, pois a sua maior parte era um afloramento na superfície, faltando todo um controle estratigráfico, fora certas partes restringidas (Foto 15). E mais: o sítio ainda apresentava outro componente. Pouco depois, descobrimos a jazida de Monjolo Velho, na mesma zona, no rio dos Pereiras, afluente do Passo Cinco, onde 80% da matéria-prima foram pedrinhas de quartzo e 16%, cristais do mesmo material. Outra vez, salienta-se uma hipótese para a explicação da miniaturização das ferramentas nesse horizonte: a pedrinha de quartzo é a matriz, o original, sendo o artefato em sílex uma cópia. Outro componente foi localizado no Bairro do Cabeça, Rio da Cabeça, tributário de Passa Cinco, aqui com 50% de quartzo e 45% de sílex, com as ferramentas de sílex ainda mais toscas do que as de Tira Chapéu II. Componentes semelhantes a Tira Chapéu III foram escolhidos para o estudo: Tamandupá, na beira da escarpa da Pitanga, acima da Usina Tamandupá, situada à margem do rio Corumbataí; e Serra d’Água III todos em paleopavimento. Apenas no caso de Tira Chapéu ocorre mais de um paleopavimento, embora a distinção entre Tira Chapéu II e III, do ponto de vista cultural, mostre com clareza que o processo geomorfológico de paleopavimentação não fora único, mas cíclico.

111

Tom Oliver Miller Junior

Figura 2 – A-C: Agulhas; D-E: Furadores de Bico D com Pescoço; F-H: Goivas; Plainas Pequenas feitas na Base de uma Chapa; M-N Plainas Pequenas.

112

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Foto 11: Tira Chapéu II: Facas, Raspadores e Gumes Padronizados.

113

Tom Oliver Miller Junior

Foto 12: Tira Chapéu II: Agulhas, Furadores e Formões.

114

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Foto 13: Tira Chapéu II: Plainas Pequenas, Formões, Raspadores e Goivas.

115

Tom Oliver Miller Junior

Foto 14: Tira Chapéu I: Mostrando o Nível Inferior.

116

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

4.3 O componente de Tira Chapéu I O material retirado da segunda camada de Tira Chapéu (Figura 1 e Foto 14) está fora dos propósitos deste estudo, estando relacionado com problemas bem mais complexos de toda a relação entre as várias inclusões da formação t1 e entre estes e os paleopavimentos. Além disso, não temos, no momento, outro componente exatamente semelhante a Tira Chapéu I, de maneira que não estamos animados a definir uma fase cultural-histórica na base de um componente. Este problema tem que ficar para outro estudo, junto com os de Serra d’Água I, Santa Rosa, Poço Fundo I, e São Lourenço I. As características desse componente que, todavia, saltavam aos olhos eram: uso de sílex preto não siltado, quase exclusivamente como matéria-prima, “chapas” e pedrinhas com retoques marginais em volta, tiragem de lascas grandes discoidais e grossas das peças trabalhadas e grandes raspadores discoidais trabalhados bifacialmente (Figura 4).

Figura 3: Artefatos de Tira Chapéu II e Tira Chapéu I: Plainas Pequenas na Base de Chapas com Retoques de Uso, a. Tira Chapéu II; b.Tira Chapéu I. 117

Tom Oliver Miller Junior

Figura 4: Artefatos de Tira Chapéu I: A) Peça discoidal biface, com entalhe (acima); B) Peça discoidal biface; C) Formão feita na base de uma chapa; Bico A entre entalhes (abaixo); D) Goiva com reentrância rasa; E) Chapa com retoques marginais; F) Furador com bico de cinzel

118

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Foto 15: A Jazida do Ribeirão João Pinto: Aspecto Geral.

119

Tom Oliver Miller Junior

Foto 16: A Jazida do Ribeirão João Pinto: Detalhe do Barranco.

120

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Foto 17: Monjolo Velho – Aspecto Geral do Barranco W.

121

Tom Oliver Miller Junior

Foto 18: Monjolo Velho – Descida e Barranco, Lado Oeste, olhando para o Leste.

122

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Foto 19: Monjolo Velho: Aspecto do Barranco, Lado Oeste.

123

Tom Oliver Miller Junior

Foto 20: Monjolo Velho: - Aspecto do Barranco, Lado Leste.

124

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

4.4 O Componente de Monjolo Velho Perto da cidade de Ipeúna, o rio dos Pereiras, afluente do Passa Cinco, flui paralelo a este, a pouca distância da confluência. A estrada de sítio, na propriedade do Sr. Hélio Vianna, atravessa o rio ao lado de uma ponte velha e caída. Nos barrancos da estrada, nos dois lados do rio, no médio terraço (aproximadamente 575 m de altitude; Fotos 17 e 18), aparece um afloramento e um estrato de paleopavimento (Fotos 19 e 20), principalmente de seixos rolados de quartzo e quartzito. Entre essas pedrinhas estão muitos artefatos miniaturizados: gumes, bicos, goivas, formões, furadores e agulhas de cristal (componente nº 81; figuras 21 e 22). Evidentemente, a acumulação desde material foi feita através da remobilização de detritos das colinas mais altas durante épocas de erosão intensiva. A profundidade da jazida na época atual varia entre um metro até poucos centímetros, formando-se, por vezes, apenas uma camada superficial. A espessura do depósito oscila entre 25 cm e 40 cm. A Dra. Margarida Penteado considera esse paleopavimento a ser de originado da parte basal da Formação Rio Claro e remobilizado dentro do quaternário, em época em que o homem já estava presente para utilizar essa matéria-prima. O paleopavimento está assentado em piçarra da Formação Botucatu. A matéria-prima escolhida para as ferramentas acusa a seguinte freqüência para as 313 peças trabalhadas e coletadas: Sílex Quartzo Quartzito Cristais naturais Concha fóssil Com pátina (sílex)

4 250 7 51 1 313

1,3% 79,9 2,2 16,3 0,3 100,0%

1

0,3

125

Tom Oliver Miller Junior

Modos da base: Fragmento sem forma 65 Núcleo 0 Lasca primária (bulbo conc.) 5 Chapa de sílex tabular 0 Lâmina 1 Lâmina prismática 0 Lâmina lateral 1 Lasca secundária 0 Seixo fendido 0 Pedrinha fendida 192 Cristais naturais não modificados 49 312

20,8% 0,0 1,6 0,0 0,3 0,0 0,3 0,0 0,0 61,3 15,7 100,0%

Modos da Manufatura: incluídos com “percussão direta simples” são as pedrinhas fendidas de quartzo (Técnica Bipolar). Embora não consigamos reproduzir no laboratório a técnicas dos paleo-indígenas em fender e trabalhar quartzo, parece que estes devem ter-se utilizado de uma pedra com uma depressão pequena, que serviu de uma espécie de bigorna para segurar a pedrinha, e de um percutor (Foto 23). Essas ferramentas, apesar de não terem aparecido nos três componentes incluídos no atual estudo, na jazida Laboratório I (Mapa 1), ao redor do Laboratório de Campo “Augusto Schmidt Pinto”, foram encontradas. Essa jazida não parece mista, embora, sendo um afloramento superficial, não foi incluído no atual estudo. Percussão direta simples Percussão direta controlada Plataforma de percussão Bulbo de percussão Bulbo cônico

255 9 4 3 0

81,5% 2,9 1,3 1,0 0,0

Acabamento: 126

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Percussão direta controlada 261 Percussão indireta ou pressão 3 Retoques marginais localizados (sílex e concha) 5 Micro-retoques (sílex) 1

83,4% 1,0 1,6 0,3

4.4.1 Tecnicultura de Trabalho

No nosso entender, na maioria dos casos, uma pedrinha de quartzo foi colocada numa bigorna com concavidade, e uma lasca plana tirada com a ajuda de um percutor. Utilizando-se a superfície plana como plataforma, outra lasca plana podia ser tirada por percussão direta. Alternativamente, com a ajuda de um instrumento de osso, madeira ou cristal pontiagudo, uma lasca concoidal foi tirada (percussão indireta), deixando um entalhe. Tirando-se uma série desses entalhes de dois lados, deixar-se-ia um bico. Os quatro exemplos de sílex na amostra mostram a tecnologia mais comum de se tirar uma lasca com bulbo concoidal de percussão, de um núcleo com plataforma de percussão. Nenhum núcleo, porém, foi encontrado na jazida. Atributos de forma: Triangulóide Secção transversal: Plano-convexo Triangular ou carinada

2

0,6%

13 3

4,2% 1,0

Adicionalmente, 23 fragmentos ou lascas pequenas de quartzo mostram características que em outros lugares são chamadas de “micrólitos” (BANDI, 1963; WILLEY, 1971): de forma de dente ou semelhante, fina e menor do que 1,0 cm em comprimento. Esses artefatos, sem dúvida, foram encabados em série, para formar ferramentas compósitas, como no Mesolítico eurasiático (LAMING 127

Tom Oliver Miller Junior

e EMPERAIRE, 1963). Micrólitos

23

7,3%

Os modos do tamanho são os seguintes: Espessura: Mais do que 2 cm 7 De 2,0 a 0,5 cm 211 Menor de 0,5 cm 95 313 Comprimento: Maior do que 10 cm 0 De 4,0 a 10,0 cm 10 De 2,0 a 4,0 cm 124 Menor de 2,0 cm 179 313

2,2% 67,4 30,4 100,0% 0,0% 3,2 39,6 57,2 100,0%

Observa-se que a maioria das peças cai dentro da nossa categoria de “peças miniaturizadas” (comprimento menor do que 2,0 cm), e que um terço da coleção de espessura menor do que 0,5 cm. 4.4.2 As partes funcionais: Peças com gumes padronizados83

26,5

Reentrâncias, entalhes, etc., acusam a seguinte distribuição: Entalhes 49 15,7% Reentrâncias 30 9,6 Reentrâncias rasas 23 7,3 Reentrâncias com ângulo 1 0,3 Reentrância quadrangular 0 0,0 128

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Os bicos de formão são os seguintes: Bicos simples: Bico A pequeno (Foto 22) 6 Bico A (Foto 22) 38 Bico B (Foto 22) 23 Bico C 12 Bico bifurcado (Foto 22) 6 Bico AA (Foto 22) 2 Bico D 7 Bico E (Foto 22) 9 Cinzel 24 Bico quadrangular 19 Bico oco 2

2,8% 17,8 10,8 5,6 2,8 0,9 3,3 4,2 11,3 8,9 0,9

Bicos entre entalhes Bico A pequeno Bico A (Foto 22) Bico B Bico C Bico AA

31 21 1 4 7

14,6% 9,9 0,5 1,9 3,3

1 213

0,5 100,0%

Bico quadrangular

Com 213 bicos, em 160 peças com bico de formão, a razão de bicos por peça é de 1,33. Com 86 gumes, em 83 peças com gume padronizado, a razão de 1,04 gumes por peça. Os gumes mostrando as seguintes características. Comprimento: 1,5 cm ou menos 2,0 cm

85 1

98,8% 1,2

X = 1,51 cm

86

100,0% 129

Tom Oliver Miller Junior

Ângulos: 10º - 35º 40º 45º 50º 55º 60º 65º 70º 75º 80º 85º 90º 95º ou mais X = 74,9º Formas de gumes: Côncavo: arco 1 arco 2 arco 4 arco 6 – 12 arco 18 Reto: (Foto 21) Convexo: arco 18 arco 12 – 10 arco 8 arco 6 arco 4 arco 2 Ondulante: Irregular:

0 3 0 4 3 16 4 10 1 7 9 24 5 86

0,0% 3,5 0,0 4,7 3,5 18,6 4,7 11,6 1,2 8,1 10,5 27,9 5,8 100,0%

0 2 2 0 1 50

0,0% 2,3 2,3 0,0 1,2 58,1

5 0 1 2 5 2 0 16 86

5,8 0,0 1,2 2,3 5,8 2,3 0,0 18,6 99,9 130

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

4.4.3 Tecnicultura Industrial

Aqui, como nos outros componentes, veremos os modos de facas, raspadores e outras ferramentas do componente. Facas: (Foto 21) Canivetes Lamina Outras (Parte V)

32 2 1 29

10,2% 0,6 0,3 9,3

Raspadores: (Foto 21) Lateral Terminal Vertical Bico comprido Com bico F (Foto 21) Com bico de pato Com bico quadrangular mesmo entre reentrâncias Bico bifurcado Bico pé Com 2 ou 3 pés Discoidal etc.

56 17 35 0 1 14 0 4 2 8 0 0 0

17,9 5,4 11,2 0,0 0,3 4,5 0,0 1,3 0,6 2,6 0,0 0,0 0,0

66 33 0 0

21,1 10,5 0,0 0,0

22 28 0

7,0 8,9 0,0

Outros Instrumentos Goivas (Foto 21) Plaina Pequena (Foto 21) Talhadeira Chopping tool Furador, base em expansão (Foto 21) Agulha (Foto 21) Bolas

131

Tom Oliver Miller Junior

Formão (Foto 22) Lasca retocada Pontas de projétil

160 12 0

51,1 3,8 0,0

Instrumentos de caça não aparecem em pedra nesse componente, embora o processo de descarnar esteja presente (facas 10,2%), tanto quanto trabalho em couro (raspadores 17,9%, furadores 7,3%, agulhas 8,9%). Instrumentos para trabalho em osso e madeira destacam-se nesse componente, com goivas (21,1%), plainas pequenas (10,5%), e formões (51,1%). são:

Algumas combinações observadas em ferramentas múltiplas

Faca com Lasca retocada Faca com Raspador Faca com Furador Faca com Formão Faca com Goiva Faca com Plaina Pequena Raspador com Furador Raspador com Formão Raspador com Goiva Raspador com Plaina Pequena Goiva com Plaina Pequena Goiva com Formão Plaina pequena com Formão

2 6 2 9 4 0 1 21 11 5 9 23 9

0,6% 1,9 0,6 2,9 1,3 0,0 0,3 6,7 3,5 1,6 2,9 7,3 2,9

4.4.4 Observação

Essa jazida mostra claras afinidades com Tira Chapéu II e, na maioria das características que distinguem esta última de Tira Chapéu III, a jazida Monjolo Velho as mostra em maior grau do que Tira Chapéu II.

132

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Foto 21: Monjolo Velho – Esquerda, de cima para baixo: Agulhas, Plainas Pequenas, Goivas e Raspadores com Gume Côncavo; Direita, de cima para baixo: Furadores, Facas de Gume Reto, Raspadores com Bico F e “Micrólitos”.

133

Tom Oliver Miller Junior

Foto 22: Monjolo Velho – Esquerda, de cima para baixo: Cinzéis, Formões com Bico AA, com Bico A e com Bico A pequeno; Direita, de cima para baixo: Formões de Bico Bifurcado, com Bico E, com Bico B e com Bico A entre entalhes.

134

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Foto 23: Sítio do Laboratório – Percutores (acima) e Bigorna (abaixo).

135

Tom Oliver Miller Junior

Foto 24: O Sítio Bairro do Cabeça – Aspecto Geral Olhando para o Rio (NE).

136

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Foto 25: O Componente Inferior do Bairro do Cabeça – Detalhe do Barranco com Cascalheira.

137

Tom Oliver Miller Junior

4.5 O Componente do Bairro do Cabeça Nos dois lados da ponte do Bairro do Cabeça, atravessando o rio da Cabeça, no terraço médio (altitude aproximado 545 m), há um paleopavimento que varia em espessura de 15 cm até 80 cm, encontrado a 1,40 m de profundidade, coberto de depósito coluvial (Mapa 1 e Fotos 24 e 25). No paleopavimento, há seixos de quartzo e quartzito e fragmentos de sílex de tamanho variável, juntamente com outras pedras. A jazida, Componente nº 82, encontra-se nos dois lados da estrada, na frente da propriedade do Sr. João Pinto, lado W do rio. O solo mostra, além do paleopavimento, evidências de vários ciclos erosivos, com mudanças nítidas na qualidade do solo. Das 211 peças trabalhadas coletadas, os artesãos escolheram para matéria-prima os seguintes: Sílex não siltado Sílex siltado Quartzo Quartzito Arenito Botucatu Arenito Bauru

Com verniz (sílex) Com pátina (sílex) Modos de base: Fragmento sem forma Núcleo Lasca primária, (bulbo concoidal) Chapa de sílex tabular Lâmina

4 95 106 3 1 2 211

1,9% 45,0 50,2 1,4 0,5 0,9 99,9

3 3

1,4 1,4

63 18

29,9% 8,5

11 7 1

5,2 3,3 0,5 138

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Lâmina prismática Lâmina lateral Lasca secundária Seixo fendido Pedrinha fendida Pedra rolada do rio

0 0 0 1 104 6 211

0,0 0,0 0,0 0,5 49,3 2,8 100,0%

Modos de manufatura: Percussão direta simples 206 Percussão direta controlada 1 Crosta deixa em alguma parte 11 Plataforma de percussão visível 6 Bulbo de percussão visível 4 Bulbo cônico 0 Lascas grandes, grossas, discoidais 1 Toda face trabalhada 1 Trabalho bifacial 1

97,6% 0,5 5,2 2,8 1,9 0,0 0,5 0,5 0,5

Acabamento: Percussão direta controlada 178 Percussão indireta ou pressão 39 Esfregado 1 Serrações não removidas 2 Sinais de bater 6 Retoques marginais em volta 4 Retoques marginais localizados40 Micro-retoquees (sílex) 19

84,4% 18,5 0,5 0,9 2,8 1,9 19,0 9,0

4.5.1 Tecnicultura de Trabalho

As mesmas técnicas conhecidas de Monjolo Velho e Tira Chapéu II encontram-se nessa jazida, parecendo mais, porém, com este. 139

Tom Oliver Miller Junior

A presença de uma biface, uma peça com toda a face trabalhada e com lascas grandes, grossas e discoidais tiradas, quatro peças com retoques marginais em toda a volta, e a utilização de pedras roladas do rio quase sem alteração parecem indicar Tira Chapéu I no último e primeiro casos, e Santa Rosa, em todos menos no último. Porém, a pequena freqüência de tais atributos indica que não devemos exagerar a importância. Podiam ser peças extraviadas de um componente anterior, embora devamos lembrar que as relações entre os (2 ou 3) paleopavimentos e a formação t1 ainda estão para ser resolvidas. Atributos de forma: Discoidal Secção transversal: Biconvexo grosso Micrólitos (Foto 26)

4

1,9%

1 19

0,5 9,0

Os modos do tamanho são os seguintes: Espessura: Mais do que 2,0 cm 46 De 2,0 a 0,5 cm 119 Menor de 0,5 cm 46 211 Comprimento: Maior do que 10,0 cm 5 De 4,0 a 10,0 cm 52 De 2,0 a 4,0 cm 66 Menor de 2,0 cm 88 211

21,8% 56,4 21,8 100,0% 2,4% 24,6 31,3 41,7 100,0%

O número de “peças miniaturizadas” é maior do que Tira Chapéu II e menor do que Monjolo Velho.

140

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

4.5.2 As partes Funcionais Peças com reentrâncias ou entalhes 55 Peças com bico de formão 111 Peças com gumes padronizados 63

26,1% 52,6 29,9

Reentrâncias, entalhes, etc., são os seguintes: Entalhes 11 Reentrâncias 16 Reentrâncias rasas 32 Reentrâncias com ângulo 2

5,2% 7,6 15,2 0,9

Os bicos de formão são os seguintes: Bicos simples 4 Bico A (Foto 26) 21 Bico B (Foto 26) 13 Bico C 13 Bico bifurcado 8 Bico AA 1 Bico D (Foto 26) 7 Bico E 5 Cinzel 14 Bico Quadrangular 7 Bico oco 1

2,5% 12,9 8,0 8,0 4,9 0,6 4,3 3,1 8,6 4,3 0,6

Bicos com pescoço: Bico F Bicos entre entalhes: Bico A pequeno Bico A (Foto 26) Bico B Bico C (Foto 26) Bico AA (Foto 26)

6

3,7

10 25 2 11 8

6,1 15,3 1,2 6,7 4,9 141

Tom Oliver Miller Junior

Bico D Bico E Cinzel Bico quadrangular

0 5 1 1 163

0,0 3,1 0,6 0,6 100,0%

163 bicos em 11 peças com bico de formão dão uma razão de 1,47 bicos por peça. Características de gumes: 74 gumes em 63 peças mostram os seguintes atributos, com uma razão de 1,17 gumes por peça: Comprimento: 1,5 cm ou menor 2,0 cm 2,5 cm 3,0 cm 3,5 cm ou mais X = 1,67 cm

59 9 2 4 0 74

79,7% 12,2 2,7 5,4 0,0 100,0%

Ângulos: 10º - 25º 30º 35º 40º 45º 50º 55º 60º 65º 70º 75º 80º 85º

0 1 1 1 2 5 2 6 7 5 1 10 6

0,0% 1,3 1,3 1,3 2,7 6,8 2,7 8,1 9,5 6,8 1,3 13,5 8,1 142

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

90º 95º ou mais X = 75,3º

22 5 74

29,7 6,8 99,9

Formas de gumes: Côncavo: arco 1 arco 2 arco 4 arco 6 – 12 arco 18 Reto:

0 2 2 0 2 49

0,0% 2,7 2,7 0,0 2,7 66,2

8 0 1 1 0 0 9 74

10,8 0,0 1,3 1,3 0,0 0,0 12,2 99,9%

Convexo: arco 18 arco 12 – 10 arco 8 arco 6 arco 4 – 2 Ondulante: Irregular:

4.5.3 Tecnicultura Industrial

Aqui, como nas outras jazidas, veremos os modos de facas e raspadores e outras ferramentas do componente. Facas Canivete Lâmina Outras (Parte V)

9 2 1 16

9,0% 0,9 0,5 7,6

143

Tom Oliver Miller Junior

Raspadores Lateral (Foto 26 Terminal Vertical Bico comprido Com bico F Com bico de pato Com bico quadrangular Com bico bifurcado Com bico pé Com 2 ou 3 pés Discoidal Outros Instrumentos Goivas (Foto 26) Plaina pequena (Foto 26) Talhadeira Chopping tool Furador, base em expansão Agulha (Foto 26) Bolas Formão Lasca retocada Ponta de projétil

41 6 21 0 9 8 0 5 3 2 0 3

19,4 2,8 10,0 0,0 4,3 3,8 0,0 2,4 1,4 0,9 0,0 1,4

5 30 0 0 19 1 0 111 8 0

26,1 14,2 0,0 0,0 9,0 0,5 0,0 52,6 3,8 0,0

Ferramentas de caça não aparecem em pedra nesse componente, embora o processo de descarnar esteja presente (facas 9,0%), tanto quanto trabalho em couro (raspadores 19,9%, furadores 9,0%, agulhas 0,5%). Instrumentos para trabalho em osso e madeira incluem goivas (26,1%) plainas pequenas (14,2%), e formões (52,6%). Algumas das combinações observadas em ferramentas múltiplas são: 144

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Faca com Lasca retocada Faca com Raspador Faca com Furador Faca com Formão Faca com Goiva Faca com Plaina pequena Raspador com Furador Raspador com Formão Raspador com Goiva Raspador com Plaina pequena Goiva com Plaina pequena Goiva com Formão Plaina pequena com Formão

2 4 2 4 2 1 3 16 6 6 8 21 14

0,9% 1,9 0,9 1,9 0,9 0,5 1,4 7,6 2,8 2,8 3,8 10,0 6,6

145

Tom Oliver Miller Junior

Foto 26: Artefatos do Componente do Bairro do Cabeça – Acima: Raspador Lateral e Formões com Bico B (no meio) e com Bico D (direita); No Meio Acima, Formões de Bico A, Agulhas, “Micrólitos” e Formões de Bico A entre entalhes; No Meio Abaixo: Goivas, Plainas Pequenas e Formão de Bico AA entre Entalhes; Abaixo: Formões de Bico C entre Entalhes (esquerda) e Furadores (Direita).

146

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Foto 27: Serra d’Água: Aspecto Geral, olhando para o Rio do Cabeça e a Sede da Fazenda Bôer.

147

Tom Oliver Miller Junior

Foto 28: Serra d’Água III – Linha de Pedras no Barranco. Foto de Vivan.

Figura 5: Croquis mostrando a Localização de Vários Componentes do Complexo Serra d’Água, inclusive a do Sítio Alice Bôer. 148

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

4.6 A Jazida da Serra d’Água Na confluência dos rios Passa Cinco e Cabeça, na Fazenda Serra d’Água (Mapa 1, Figura 5 e Foto 27), de propriedade do Sr. Artarúgio, há material arqueológico em três componentes na vertente íngreme do Cabeça: um com ferramentas roladas e não roladas, cimentadas na formação t1, com pedrinhas de quartzo e seixos e lascas de sílex preto não siltado (Serra d’Água I, Componente 77); e um segundo, de aproximadamente 50 cm de espessura, 60 cm abaixo da superfície atual do solo, composto de seixos, núcleos e lascas de sílex siltado, de cor cinza amarelada, juntamente com outras pedras (Serra d’Água II, Componente 76, Foto 28); e um terceiro componente em solo recente com lascas de sílex de cores diversas (Serra d’Água III, Componente 75). A Dra. Margarida Penteado não queria qualificar de paleopavimento o segundo nível - aquele que nos interessa aqui, pois ela julga que a deposição fora feita pela acumulação de detritos lavados da colina acima, durante épocas de erosão intensiva, trazidos então pelas águas. O local apresenta esses depósitos em cima da Formação Estrada Nova, em contato com diabásio. 4.6.0 Serra d’Água III

Das 229 peças retiradas na amostra, os artesãos escolheram para matéria-prima os seguintes: Sílex siltado Quartzo

222 7 229

96,9% 3,1 100,0%

Modos de Base: todas as peças foram trabalhadas a partir de uma face só. Nenhuma biface foi observada. As peças obedeceram à seguinte freqüência: 149

Tom Oliver Miller Junior

Fragmento sem forma Núcleo Lasca primária (bulbo concoidal) Chapa de sílex tabular Lâmina Seixo fendido Pedrinha fendida

94 63

41,0% 27,5

60 0 5 1 6 229

26,2 0,0 2,2 0,4 2,6 99,9%

Modos de manufatura: Percussão direta simples 208 Percussão direta controlada 15 Crosta deixada em alguma parte66 Plataforma de percussão visível53 Bulbo de percussão visível 20 Bulbo cônico 45

90,8% 6,6 28,8 23,1 8,7 19,7

Acabamento: Percussão direta controlada 135 Percussão indireta ou pressão 120 Esfregado 11 Serrações não removidas 1 Sinais de bater 3 Retoques marginais em volta 1 Retoques marginais localizados45 Micro-retoques 42

59,0% 52,4 4,8 0,4 1,3 0,4 19,7 18,3

4.6.1 Tecnicultura de Trabalho

As seis pedras fendidas de quartzo obedecem à técnica descrita para Monjolo Velho. O resto da indústria apresenta uma combinação da técnica de fragmentação de seixos descrita para Tira Chapéu III em combinação com uma indústria de lasqueamento direto de lascas, 150

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

com golpes de martelo contra uma plataforma de percussão, o que tira lascas largas e planoconvexas, com bulbo concoidal de percussão e arestas de um lado, representando as cicatrizes de outras lascas anteriormente tiradas do núcleo e a face inferior (a do bulbo) plana. Outra técnica foi a descrita para Tira Chapéu III, qual seja: de colocar o seixo numa bigorna e bater com percutor, de maneira a tirar lascas côncavas (Foto 20), assumindo o núcleo a forma de uma bola poliédrica. Os atributos de forma são os seguintes: Poliédrica 13 Discoidal 2

5,7% 0,9

Secção transversal Triangular ou carinada Micrólitos

1,3 0,0

3 0

Os modos do tamanho dos espécimes seguem a seguinte distribuição: Espessura: Mais do que 2,0 cm 62 27,1% De 2,0 a 0,5 cm 143 62,4 Menor de 0,5 cm 24 10,5 229 100,0% Comprimento: Maior de 10,0 cm De 4,0 a 10,0 cm De 2,0 a 4,0 cm Menor de 2,0 cm

5 87 113 24 229

2,2% 38,0 49,3 10,5 100,0%

4.6.2 As Partes Funcionais Peças com reentrâncias ou entalhes

33

14,4% 151

Tom Oliver Miller Junior

Peças com bico de formão 110 Peças com gumes padronizados96

48,0 41,9

Reentrâncias, entalhes, etc., acusam a seguinte distribuição: Entalhes 11 4,8% Reentrâncias 9 3,9 Reentrâncias rasas 19 8,3 Reentrâncias com ângulo 1 0,4 Reentrância quadrangular 0 0,0 Os bicos de formão são os seguintes: Bicos simples Bico A pequeno 2 Bico A 25 Bico B (Foto 29) 14 Bico C 11 Bico bifurcado 8 Bico AA 1 Bico D 17 Bico E 6 Cinzel 9 Bico quadrangular 10 Bico oco 0 Bicos com pescoço Bico F 2 Bicos entre entalhes Bico A pequeno 16 Bico A 35 Bico B 3 Bico C 13 Bico AA 11 Bico D 1 Bico E 1 186 152

1,1% 13,5 7,6 5,9 4,3 0,5 9,2 3,2 4,9 5,4 0,0 1,1 8,6 18,9 1,6 7,0 5,9 0,5 0,5 99,7%

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Com um total de 185 bicos em 110 peças, os formões acusam uma razão de 1,68 bicos por peça. O total de 127 gumes, em 96 peças, dão uma razão de 1,32 gumes por peça, e mostram os seguintes atributos. Comprimento 1,5 cm ou menos

80

63,0%

2,0 cm

30

23,6

2,5 cm

8

6,3

3,0 cm

7

5,5

3,5 cm

2

1,6

4,0 cm ou maior

0

0,0

X = 1,80 cm

127

100,0%

Ângulos: 10º - 20º 25º 30º 35º 40º 45º 50º 55º 60º 65º 70º 75º 80º 85º 90º 95º ou mais X = 64,2º

0 1 4 4 7 6 14 15 11 8 14 5 16 5 14 3 127

0,0% 0,8 3,1 3,1 5,5 4,7 11,0 11,8 8,7 6,3 11,0 3,9 12,6 3,9 11,0 2,4 99,8% 153

Tom Oliver Miller Junior

Formas do gume: Côncavo: arco 1 – 2 arco 4 arco 6 arco 8 arco 10 – 12 arco 18 Reto: Convexo: arco 18 arco 12 arco 10 arco 8 arco 6 arco 4 arco 2 Ondulante: Irregular (Foto 20)

0 6 5 2 0 6 37

0,0% 4,7 3,9 1,6 0,0 4,7 29,1

9 0 1 4 4 8 0 0 45 127

7,1 0,0 0,8 3,1 3,1 6,3 0,0 0,0 35,4 99,8%

4.6.3 Tecnicultura Industrial

Veremos aqui os modos de facas e raspadores e outras ferramentas do componente Serra d’Água III (Figuras 6 e 7). Facas Canivete Discoidal Outras facas (Parte V) Lâmina

59 3 2 51 3

25,8% 1,3 0,9 22,3 1,3

Raspadores Lateral Terminal

70 28 25

30,6 12,2 10,9 154

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Vertical

4

1,7

10

4,4

Com bico F

7

3,1

Com bico de pato

1

0,4

Com bico quadrangular

7

3,1

Com bico pé (Foto 29)

2

0,9

Com 2 ou 3 pés

1

0,4

Discoidal etc.

0

0,0

Goivas

33

14,4

Plaina pequena

12

5,2

Talhadeira

1

0,4

Chopping tool

2

0,9

35

15,3

Agulha

0

0,0

Bolas (Foto 29)

7

3,1

110

48,0

18

7,9

0

0,0

Bico comprido

Outros Instrumentos

Furador, base em expansão (Foto 29)

Formão (Foto 29) Lasca retocada (Foto 29) Ponta de projétil

Os instrumentos de caça estão representados possivelmente apenas nas bolas (3,1%), embora o processo de descarnar esteja presente (facas, 25,8%; talhadeira, 0,4%; chopping tool, 0,9%), tanto quanto o trabalho em couro (raspadores, 30,6% e furadores, 15,3%). Os instrumentos para se trabalhar em madeira são em menor número do que em outros componentes, sendo goivas, 14,4%, plainas pequenas, 5,2%, e formão, 48,0%. Algumas das combinações observadas em ferramentas múltiplas são: 155

Tom Oliver Miller Junior

Faca com Lasca retocada Faca com Raspador Faca com Furador Faca com Formão Faca com Goiva Faca com Plaina pequena Raspador com Furador Raspador com Formão Raspador com Goiva Raspador com Plaina pequena Goiva com Plaina pequena Goiva com Formão Plaina pequena com Formão

9 9 9 15 5 2 2 22 8 1 1 21 5

3,9% 3,9 3,9 6,6 2,2 0,9 0,9 9,6 3,5 0,4 0,4 9,2 2,2

156

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Figura 6: Desenhos de Vivan.

157

Tom Oliver Miller Junior

Figura 7: Desenhos de Vivan.

158

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Foto 29: Serra d’Água III – Artefatos Típicos. Acima: Bolas e Formão com Bico B; no meio: Raspador de Bico Pé, Facas de Gume Irregular; Abaixo: Furadores, uma peça das quais tem Gume Irregular, Lascas Côncavas retocadas.

159

Tom Oliver Miller Junior

Foto 30: Tamandupá – Aspecto Geral, olhando para o Oeste.

4.7 A Jazida de Tamandupá Na Formação Irati, num festão do dono da Pitanga (altitude aproximada de 600 m), entre os rios Guamium e Corumbataí e acima da Usina Tamandupá, há uma jazida de 15 a 20 cm de espessura, coberta de uns 15 cm de solo recente. Estando numa espécie de sela entre os dois rios (Mapa 1 e Foto 30), o local tem sofrido bastante erosão, deixando uma camada fina de solo. A jazida, nº 44, fica na propriedade de Carlo Nani, na divisa das propriedades da Usina Costa Pinto. A Dra. Margarida Penteado hesitou em chamar de paleopavimento essa formação, considerando-a uma remobilização de material que poderia ter provindo do paleopavimento, pelas águas, em época de erosão intensiva (Foto 31). Nas proximidades da jazida (depois da curva da estrada que aparece na Foto 30), há um afloramento superficial de material da fase Monjolo Velho, em pedrinhas fendidas de quartzo.

160

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Foto 31: Tamandupá – Detalhe do Barranco. 161

Tom Oliver Miller Junior

Das 326 peças trabalhadas coletadas, os artesãos escolheram para matéria-prima as seguintes: Sílex não siltado Sílex siltado Quartzito

Com verniz

1 324 1 326

0,3% 99,4 0,3 100,0%

10

3,1%

Modos da base: Fragmento sem forma 101 Núcleo 28 Lasca primária (bulbo concoidal) 162 Chapa de sílex tabular 0 Lâmina (Foto 23) 16 Lâmina prismática (Foto 23) 8 Lâmina lateral (Foto 23) 7 Lasca secundária 1 Seixo fendido 0 Pedrinha fendida 3 326 Peça velha (vernizada) retrabalhada Biface Modos de manufatura: Percussão direta simples Percussão direta controlada Crosta deixada em alguma parte Plataforma

31,0% 8,6 49,7 0,0 4,9 2,5 2,2 0,3 0,0 0,9 100,1%

4 7

1,2% 2,2

287 33

88,0% 10,1

43 114

13,2 35,0 162

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Bulbo concoidal bem visível Bulbo cônico Toda face trabalhada Lascas grandes, grossas, discoidais Acabamento: Percussão direta controlada Percussão indireta ou pressão Esfregado Serrações não removidas Sinais de bater Retoques marginais em volta Retoques marginais localizados Micro-retoques

88 46 7

27,0 14,1 2,2

1

0,3

201

61,7%

209 54 37 22 6

64,1 16,6 11,3 6,7 1,8

46 57

14,1 17,5

4.7.1 Tecnicultura de Trabalho

A técnica de lascas côncavas e núcleos poliédricos e a de fragmentação de seixos ainda continuam, embora em menor grau. A técnica de lasqueamento por golpe de martelo contra um núcleo com plataforma de percussão, concoidal, aumentou âs custas de todas as outras. Um número maior de peças visam a uma forma específica. Atributos da forma são os seguintes: Poliédrica 9 Discoidal 10 Triangulóide 3 Folha de louro 2

2,8% 3,1 0,9 0,6

Secção transversal Prismáticas Plano-convexa

2,5% 8,3

8 27 163

Tom Oliver Miller Junior

Triangular ou carinada Micrólitos

17 0

5,2 0,0

Os modos do tamanho das peças seguem a seguinte distribuição Espessura: Mais do que 2,0 cm 98 30,1% De 2,0 a 0,5 cm 192 58,9 Menor de 0,5 cm 36 11,0 326 100,0% Comprimento: Maior do que 10,0 cm De 4,0 a 10,0 cm De 2,0 a 4,0 cm Menor de 2,0 cm

35 262 29 0 326

10,7% 80,4 8,9 0,0 100,0%

4.7.2 As Partes Funcionais Peças com reentrâncias ou entalhes

101

31,0%

Peças com bicos de formão

135

41,4

192

58,9

Peças com gumes padronizados

Reentrâncias, entalhes, etc., acusam a seguinte distribuição: Entalhes

19

5,8%

Reentrâncias

32

9,8

Reentrâncias rasas

65

19,9

Reentrâncias com ângulo

2

0,6

Reentrâncias quadrangulares

2

0,6

Os bicos de formão são os seguintes: 164

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Bicos simples Bico A pequeno Bico A Bico B Bico C Bico bifurcado Bico AA Bico D Bico E Cinzel Bico quadrangular Bico oco Bicos com entalhes Bico A pequeno Bico A Bico B Bico C Bico AA Bico D Bico E Cinzel Bico quadrangular

1 3 29 24 11 5 23 18 2 12 2

0,3% 1,0 9,5 7,9 3,6 1,6 7,6 5,9 0,7 3,9 0,7

23 54 10 53 25 2 5 0 2 304

7,6 17,8 3,3 17,4 8,2 0,7 1,6 0,0 0,7 100,0%

Um total de 304 gumes em 135 peças dá uma razão de 2,25 bicos por peça. O total de 266 gumes, em 193 peças, mostram uma razão de 1,33 gumes por peça, além dos seguintes atributos: Comprimento: 1,5 cm ou menor

49

18,4%

2,0 cm

56

21,1 165

Tom Oliver Miller Junior

2,5 cm 3,0 cm 3,5 cm 4,0 cm 4,5 cm 5,0 cm 5,5 – 6,5 cm 7,0 cm X = 2,72 cm

38 55 25 33 1 5 0 4 266

14,3 20,7 9,4 12,4 0,4 1,9 0,0 1,5 100,1%

Ângulo 20º 25º 30º 35º 40º 45º 50º 55º 60º 65º 70º 75º 80º 85º 90º 95º ou mais X = 54,2º

2 5 15 16 35 29 45 18 27 9 20 7 24 6 6 2 266

0,8% 1,9 5,6 6,0 13,2 10,9 16,9 6,8 10,2 3,4 7,5 2,6 9,0 2,3 2,3 0,8 100,2%

1 3 12

0,4% 1,1 4,5

Formas de gume: Côncavo: arco 1 arco 2 arco 4

166

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

arco 6 arco 8 arco 10 arco 12 arco 18 Reto: (Foto 31) Convexo: arco 18 arco 12 arco 10 arco 8 arco 6 arco 4 arco 2 Ondulante: Irregular:

11 14 2 2 18 40

3,8 5,3 0,8 0,8 6,8 15,0

18 2 1 5 3 6 1 2 125

6,8 0,8 0,4 1,9 1,1 2,3 0,4 0,8 47,0

4.7.3 Tecnicultura Industrial

Nas atividades de extração e manutenção, veremos os modos de facas, raspadores e outras ferramentas do componente do Tamandupá. Facas Canivetes (Foto 32) Enxertadeira Faca de mão (ulo; Foto 33) Lasca preparada (Foto 33) Folha de louro (biface; Foto 35) Discoidal Lâmina (Foto 33) Outras (Parte V)

164 14 1 10 19

50,3% 4,3 0,3 3,1 5,8

2 1 6 111

0,6 0,3 1,8 34,0 167

Tom Oliver Miller Junior

Raspadores 148 Lateral 44 Terminal 29 Vertical 31 Bico comprido 19 Com bico F 31 mesmo entre reentrâncias 5 Com bico de pato (Foto 34) 5 Com bico quadrangular 14 mesmo entre reentrâncias 2 Com bico bifurcado 18 Com bico pé 9 Com 2 ou 3 pés 21 Discoidal 8 Planoconvexo (Foto 33) 10 Carinado 4 Casca de tartaruga 1 Outros Instrumentos Goivas (Foto 34) Plaina pequena Talhadeira (Foto 34) Chopping tool (Foto 34) Furador, base em expansão Agulha Bolas Formão Lasca retocada (Foto 32) Picão Machado (pedra lascada; Foto 34) “Pontas” unifaciais (Foto 33) Ponta de projétil (biface)

45,4 13,5 8,9 9,5 5,8 9,5 1,5 1,5 4,3 0,6 5,5 2,8 6,4 2,5 3,1 1,2 0,3

101 6 1 5 32 0 2 135 38 2

31,0 1,8 0,3 1,5 9,8 0,0 0,6 41,4 11,7 0,6

1 3 0

0,3 0,9 0,0 168

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Possíveis ferramentas de caça estão representadas apenas pelas bolas (0,6% se as “pontas”, 0,9%, forem facas e não projéteis), embora o processo de descarnar esteja presente (facas, 50,3%, sem contar as “pontas”; talhadeira, 0,3%; chopping tools, 1,5%), tanto quanto o trabalho em couro (raspadores, 45,4%; furadores, 9,8%). Os instrumentos para trabalhar em osso e madeira são em menor quantidade menos o caso das goivas com 31,0%; plainas pequenas apenas 1,8% e formões 41,4%. Algumas das combinações observadas em ferramentas múltiplas são: Faca com Lasca retocada Faca com Raspador Faca com Furador Faca com Formão Faca com Goiva Faca com Plaina pequena Raspador com Furador Raspador com Formão Raspador com Goiva Raspador com Plaina pequena Goiva com Plaina pequena Goiva com Formão Plaina pequena com Formão

30 38 15 45 36 3 8 72 51 4 3 62 4

9,2% 11,7 4,6 13,8 11,0 0,9 2,5 22,1 15,6 1,2 0,9 19,0 1,2

169

Tom Oliver Miller Junior

Foto 32: Tamandupá – Artefatos Típicos: Facas. Acima: Canivetes e Lâmina Prismática; No Meio: Lâmina Lateral (flecha marca plataforma), Gume Côncavo com Reentrância; Abaixo: Lâmina e Lasca Côncava retocada.

170

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Foto 33: Tamandupá – Acima, Esquerda: Facas de Mão (Ulo) e Raspador Planoconvexo; Abaixo: “Pontas” Unifaciais e Facas de Lasca Preparada.

171

Tom Oliver Miller Junior

Foto 34: Tamandupá – Acima Esquerda: Talhadeira; Direita: Machado de Pedra Lascada na Base de um Núcleo (bola) Poliédrica; No Meio: Goivas; Abaixo, Esquerda: Raspador com Bico de Pato, Direita: Chopping Tool.

172

5 TIPOLÓGICA

Nesta parte, trataremos de classificar os gumes em tipos. Na parte 1.4.1 acima, definimos um tipo como “uma constelação repetida de atributos encontrados numa certa espécie de artefato”. Para tratar com as combinações de atributos que têm significado e não apenas fazer um catálogo de todas as combinações de atributos possíveis, é necessário medir a tendência de atributos de formarem conjuntos, o que nós esperamos ter alguma relação com os “percepta” dos artesãos. No caso dos bicos (Figura 8), já os classificamos na base de forma, tamanho, pescoço, entalhes e presença num gume. No caso dos gumes, é necessário um trabalho mais pormenorizado, pois, em vez de ver combinações de atributos discretos, estamos tratando de atributos métricos medidos em três parâmetros simultaneamente. Isto dá possibilidade a um número excessivo de possíveis combinações de atributos. Seria útil procurar os modos e dividir o ajuntamento em termos de conjunto de atributos, cada conjunto a ser tratado como uma medida discreta. Em outras palavras, precisamos inferir os tipos.

5.1 Forma do Gume Os três parâmetros métricos dos gumes são forma, ângulo e largura. Dois atributos da forma podem ser tratados como discretos: irregular e ondulante. Gumes côncavos, retos e convexos formam um contínuo. Na coleção total, temos a seguinte distribuição: 175

Tom Oliver Miller Junior

Tabela 1 – Distribuição de freqüências de arcos de gumes Forma Côncavo Côncavo Côncavo Côncavo Côncavo Côncavo Côncavo Côncavo Reto Convexo Convexo Convexo Convexo Convexo Convexo Convexo

Arco (diâmetro) 1 cm 2 cm 4 cm 6 cm 8 cm 10 cm 12 cm 18 cm 18 cm 12 cm 10 cm 8 cm 6 cm 4 cm 2 cm

F 1 13 35 22 31 2 3 57 334 106 3 3 21 26 38 6 701

% 0,1 1,9 5,0 3,1 4,4 0,3 0,4 8,1 47,6 15,1 0,4 0,4 3,0 3,7 5,4 0,9 99,8

Conforme vemos no Gráfico 1, há uma nítida separação – três grupos desiguais -, no que é evidente que arcos mais abertos (de 12 cm e 18 cm de diâmetro) devem ser considerados junto com gumes retos. Defini-los-emos, portanto, como gumes mais ou menos retos (arcos de 12 cm de diâmetro ou mais).

176

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

O resto da distribuição, então, é divisível em duas categorias: gumes côncavos (arco de 1 cm até 10 cm de diâmetro) e gumes convexos (arcos de 2 cm até 10 cm de diâmetro). As variáveis de forma, portanto, dividem-se em cinco atributos discretos: Gumes côncavos Gumes retos Gumes convexos Gumes irregulares Gumes ondulantes

104 502 94 237 10

5.2 Comprimento do Gume A largura dos gumes, como já vimos, varia bastante entre um componente e outro. Aqui vamos testar comprimento contra forma e contra ângulo. Tabela 2 – Distribuição de freqüência de largura de gumes contra forma de gume Forma Largura 1,5 cm ou menos 2,0 cm 2,5 cm 3,0 cm 3,5 cm 4,0 cm 4,5 cm 5,0 cm 5,5 cm 6,0 cm 6,5 cm 7,0 cm

Côncavo f %

Reto f %

52 50,0 31 29,8 8 7,7 8 7,7 2 1,9 3 2,9 0 0 0 0 0 0 104 100,0

337 67,1 81 16,1 26 39 11 5 0 3 0 0 0 0 502 100,0

5,2 7,8 2,2 1,0 0,6

Convexo f %

Irregular f %

Ondulante F

58

69

20,1

1

46

19,4

0

30 37 21 26 1 3

12,7 15,6 8,9 11,0 0,4 1,3

2 3 1 1 0 2 0 0 0 0

55,2

31 29,5 7 6,7 8 7,6 0 0,0 1 1,0 0 0 0 0 0 0 105 100,0 177

0 0 0 4 1,7 237 100,1

10

Tom Oliver Miller Junior

Tabela 3 – Distribuição de freqüências de largura de gumes contra ângulo de gumes Ângulo 20/25º 30º 35º 40º 45º 50º 55º 60º 65º 70º 75º 80º 85º 90º 95/120º S=

1,5 1 4 7 17 14 30 22 55 35 52 20 65 52 119 24 517

2,0 1 5 3 13 9 24 11 11 12 21 2 29 8 16 13 178

2,5 3 2 9 5 11 6 8 10 7 2 4 1 2 3 73

3,0 3 3 6 8 5 11 9 17 2 9 2 6 4 5 5 95

178

3,5 5 1 3 5 4 4 2 3 2 1 4 1 35

4,0 4 2 2 5 4 6 3 4

4,5

5,0

6,0

7,0

1 1

2 1 1 3

2 1 1

2 1 36

1

8

0

4

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

179

Tom Oliver Miller Junior

Por inspeção da distribuição de freqüências de largura contra forma e contra ângulo, percebemos uma tendência para a distribuição dividir-se em quatro partes de tamanho desigual (Tabelas 2 e 3, Gráficos 2, 3, 4 e 5), a saber: 2,0 cm de largura ou menor; 2,5 – 4,0; 5,0 cm; e 7,0 cm. A quantidade dos dois últimos é tão baixa que se duvida se seria útil fazer divisões especiais para essas duas categorias. Descobre-se na distribuição de largura contra forma que os de 5,0 cm estão divididos entre gumes retos e gumes irregulares, e os de 7,0 cm encontram-se apenas entre estes últimos. Finalmente, aqueles de 5,0 cm estão distribuídos entre três componentes de dois níveis, e estes de 7,0 cm provêm todos de um só componente sendo, portanto, uma indicação da distinção daquele. Em conclusão, dividiremos o ajuntamento em três categorias de tamanho. Gumes de 2,0 cm comprimento ou menos Gumes de 2,5 – 5,0 cm Gumes de 7,0 cm comprimento ou mais

5.3 Ângulos do Gume Dos três parâmetros aqui tratados, apenas o ângulo tem sido estudado anteriormente na literatura arqueológica (WILMSEN, 1968; SEMENOV, 1964). Embora o trabalho de Seminov tenha sido publicado durante a época do começo do Levantamento Arqueológico, devido à falta de comunicação com os nossos colegas científicos soviéticos e à falta de verba para a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro comprar livros para Ciências Sociais durante vários anos, o citado estudo ainda não está ao nosso alcance, apenas soubemos porque Wilmsen citou. O trabalho de Wilmsen foi escrito em 1967 (depois de dois anos dos nossos trabalhos com gumes, no campo e no laboratório), e publicado em abril de 1968, chegando à nossa biblioteca a 13 do 180

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

mesmo anno, tendo já a maior parte de nosso trabalho sido feita neste sentido. Também convém salientar que este autor não procurava uma tipologia de gumes, nem tampouco tratou gumes como tal, mas simplesmente quantificava o modo do ângulo do gume (“edgeangle”). A única divisão sugerida por ele, o que nós não usamos, é a distinção entre gumes laterais e gumes terminais. Wilmsen tratou de medir 1,448 espécimes paleoindígenas e outras ferramentas esquimós. Os resultados são distintos dos nossos, encontrando ele médias de 56,4º, no total; 51,9º, laterais e 66,1º, terminais. A nossa distribuição de ângulos contra largura é a seguinte: Tabela 4 – Distribuição de freqüências de ângulos contra largura Ângulo

Gume pequeno

Gume largo

Gume muito largo

20/25º

2

7

30º

9

14

35º

10

14

40º

30

26

45º

23

21

2

50º

54

33

1

55º

33

23

60º

66

34

65º

47

15

70º

73

18

75º

22

5

80º

94

16

85º

60

6

90º

135

7

95/120º

37

9 181

1

Tom Oliver Miller Junior

Tabela 5 – Distribuição de freqüências de ângulos contra forma de gumes Gume Ângulo 20/25º 30º 35º 40º 45º 50º 55º 60º 65º 70º 75º 80º 85º 90º 95/120º Sf S%

Côncavo f 1 1 2 2 10 8 13 6 13 5 22 8 8 5

% 1,0 1,0 1,9 1,9 9,6 7,7 12,5 5,8 12,5 4,8 21,2 7,7 7,7 4,8

104

Reto F 1 4 14 10 24 18 41 34 53 16 69 52 129 37

Convexo %

f

0,2 0,8 2,8 2,0 4,8 3,6 8,2 6,8 10,6 3,2 13,7 10,4 25,7 7,4

502 100,1

2 3 4 1 7 7 10 12 15 4 17 6 4 2

% 2,1 3,2 4,3 1,1 7,4 7,4 10,6 12,8 16,0 4,3 18,1 6,4 4,3 2,1

94 100,2

182

Irregular f

%

9 19 16 36 32 46 22 33 9 10 2 2

3,8 8,0 6,8 15,2 13,5 19,4 9,3 13,9 3,8 4,2 0,8 0,8

1

0,4

237 100,1

99,9

ondulante F

1 1 1 4 1

2 10 0

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

183

Tom Oliver Miller Junior

Salta aos olhos que a situação de ângulos é mais complicada do que as de forma e largura. Seminov (citado em WILMSEN, 1968, pp. 156-7) sugere que os ângulos de 20º - 35º eram superiores para cortar carne e couro (facas). Os melhores ângulos para cortar madeira (facas) são melhores com 35º - 40º. Já o modo de 45º - 55º, sendo mais comum para Seminov e Wilmsen, sugere um atributo de amplas aplicações e funções, como por exemplo, cortando-se osso ou chifre, raspandose couro e trabalho com fibras vegetais. Assim, instrumentos com esse ângulo de gume servem tanto de facas quannto de raspadores. O atributo de ângulos de 65º - 75º sugere trabalho em madeira, osso, amaciamento de couro e trabalho pesado com fibras. Os atributos de 80º - 95º não são tratados por Wilmsen, pois não formam uma parte significativa de sua coleção. A minha inferência é que essas ferramentas, na sua maioria de gumes retos e pequenos, implicam o aplainamento de espátulas, espadas ou varas. A primeira divisão que se destaca é aquela de 75º, quase todos as amostras exibindo, adicionalmente, baixas na curva de distribuição entre 45º e 55º. 184

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

No caso dos gumes irregulares, sugere-se uma divisão a 35º, e os retos a 65º e 85º, o que exploraremos provisoriamente. A sugestão de uma divisão a 65º, para gumes côncavos, é interessante, embora a baixa freqüência dessa forma argumente contra tal divisão, pois implicaria células de comparação demasiadamente pequenas. Podemos oferecer, provisoriamente, a tipologia desenvolvida na Tabela 6, sendo de combinações de atributos que podemos tratar como medidas discretas. Na Tabela 7, somamos os tipos de gumes por componente, apresentando o resultado em freqüências e porcentagens para fins de comparação. Esses tipos são descritivos e não históricos. Para as mudanças de um componente para outro, ter-se-ão três possíveis explicações: (1) diferenças ecológicas entre um microambiente e outro, o inventário variando com as oportunidades para exploração do local; (2) mudanças adaptativas acompanhando as mudanças ecológicas e climáticas; (3) mudanças de estilo, as quais mudam de geração a geração, especialmente entre sociedades de baixa densidade demográfica, por razões de “erros de amostragem”, pois as idéias (concepta) da cultura não são todas comunicadas perfeitamente de geração a geração. A estas alturas, numa obra pioneira, não podemos separar tais diferenças, mas apenas empiricamente medir as que parecem indicar mudanças por tempo, para nossa cronologia.

185

Tom Oliver Miller Junior

Tabela 6 – Tipologia provisória de gumes (com funções) Ângulo

Forma

Largura

Tipo

20º - 30º

Irregular

-------

1

35º - 45º

Irregular

1 - 2 cm

2

35º - 45º 30º - 45º 30º - 45º 30º - 45º 30º - 45º

Irregular Reto Reto Côncavo Convexo

2,5 – 5 cm 1 – 2 cm 2,5 – 5 cm -------

3 4 5 6 7

50º - 55º

Irregular

1 – 2 cm

8

“ “ “ “ “

Irregular Reto Reto Côncavo Convexo

2,5 – 5 cm 1 – 2 cm 2,5 – 5 cm -----

9 10 11 12 13

45º - 65º

7,0 cm

14

---

15

60º - 75º

Irregular Ondulante Irregular

1 – 2 cm

16

“ “ “ “ “

Irregular Reto Reto Côncavo Convexo

2,5 – 5 cm 1 – 2 cm 2,5 – 5 cm -----

17 18 19 20 21

70º - 75º

Reto

1 – 2 cm

22

70º - 75º 80º - 85º 80º - 85º 80º - 100º 80º - 100º

Reto Reto Reto Côncavo Convexo

2,5 – 5 cm 1 – 2cm 2,5 – 5 cm -----

23 24 25 26 27

90º - 100º

Reto

1 -2 cm

28

90º - 100º Miscelânea

Reto ------

2,5 – 5 cm ----

29 30

45º - 65º

186

Função sugerida Faca p/substâncias macias Faca p/ subst. Resistentes Idem Idem Idem Idem Idem Faca com osso ou chifre Idem Idem Idem Idem Idem (Faca com gume comprido) Faca Faca para trabalho pesado Idem Diversos Idem Idem Idem Raspadores para couro Idem Trabalhos pesados Idem Idem Idem Aplainamento de madeira Idem ----

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Tabela 7 – Distribuição de freqüências de tipos de gumes por componente. Componentes: Nº 61 = Tira Chapéu III; Nº 62 = Tira Chapéu II; Nº 81 = Monjolo Velho; Nº 82 = Bairro do Cabeça; Nº 75 = Serra d’Água III; Nº 44 = Tamandupá Comp. Nº 61 Tipo f % 1 2 1,0 2 3 1,4 3 4 1,9 4 1 0,5 5 1 0,5 6 1 0,5 7 1 0,5 8 7 3,3 9 5 2,4 10 2 1,0 11 4 1,9 12 3 1,4 13 5 2,4 14 15 4 1,9 16 5 2,4 17 9 4,3 18 17 8,1 19 4 1,9 20 14 6,7 21 17 8,1 22 11 5,2 23 24 23 11,0 25 3 1,4 26 10 4,8 27 9 4,3 28 39 18,6 29 5 2,4 30 1 0,5 Sf = 210 S% = 100,3

Nº 62 F % 0 0,0 2 1,1 6 1

3,2 0,5

2

1,1

8 1 2

4,3 0,5 1,1

4 2 1 14 1 2 7 18 5 39 4 9 8 47 2

2,2 1,1 0,5 7,6 0,5 1,1 3,8 9,7 2,7 21,1 2,2 4,9 4,3 25,4 1,1

185

100,0

Nº 81 f % 0 0,0 3 3,5

3

3,5

4

4,7

Nº 82 f % 1,4 1 2,7 2 2

2,7

3 1 2

4,1 1,4 2,7

1

1,4

10

11,6

2

2,7

8

9,3

2 5 6

2,3 5,8 7,0

10

11,6

2 5 28

2,3 5,8 32,6

7 2 1 2 4 1 14 1 2

9,5 2,7 1,4 2,7 5,4 1,4 18,9 1,4 2,7

25 1

33,8 1,4

86

100,0

187

74

100,4

Nº 75 F % 5 3,9 9 7,1 2 1,6 4 3,1 2 14 2 5 1 3 4

1,6 11,0 1,6 3,9 0,8 3,4 3,1

11 2 6

8,7 1,6 4,7

3 6 8 2 9 1 7 5 16

2,4 4,7 6,3 1,6 7,1 0,8 5,5 3,9 12,6

127

100,0

Nº 44 F % 20 7,5 19 7,1 37 13,9 1,9 5 3,0 8 2,3 6 1,9 5 9 3,4 22 8,3 2,3 6 11 4,1 3,0 8 1,9 5 1,5 4 2 0,8 0,4 1 13 4,9 2,3 6 13 4,9 13 4,9 1,5 4 2,6 7 1,5 4 3,4 9 2,6 7 15 5,6 0,8 2 1,1 3 0,8 2 266

100,0

Tom Oliver Miller Junior

5.4 Peças com Gumes Múltiplos Como no caso de ferramentas de utilidade múltipla, nem todas as peças têm gumes e algumas têm dois ou mais. As combinações estão notadas abaixo. É difícil interpretar o significado destas sem ter à disposição um computador e programa para análise de fatores, pois os dados precisam ser registrados para serem utilizados em conclusões de futuros trabalhos. Gumes múltiplos de Tira Chapéu III (nº em parênteses = freqüência) Tipo: 2 3 6 7 8 10 11 12 13 15 16 17 18 19 20 21 22 24 25 26 27 28 29

Combina com os tipos: 18(2), 24(2) 11 20 28 18, 20, 21, 22 18 3, 17 24(2) 18, 20, 27 20, 22, 26, 28 17, 21, 28 11, 16, 18, 22, 24, 27, 28 2, 8, 10, 13, 17, 18(2), 19, 24, 26, 27, 28(4) 18, 21(2) 6, 8, 13, 15, 22, 26(2), 27, 28 8, 16, 19(2), 21, 22, 24(2), 26, 28(3) 8, 15, 17, 20, 21, 24, 28, 29 2(2), 12(2), 17, 18(2), 21(2), 22, 24, 25(2) 24 15, 18, 20(2), 21, 28(2) 13, 18, 20, 29 7, 15, 16, 17, 18(4), 20, 21(3), 22, 24(2), 26(2), 27, 28(3) 22, 27 188

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Gumes múltiplos de Tira Chapéu II: 2 12, 18(2), 24 4 7, 10, 11, 13, 19, 21 7 4, 21, 24 10 4, 19, 22, 24, 28(2) 11 4 12 2, 4, 18 15 15 17 18 18 2, 17, 21, 22, 24(3), 26, 28(2) 19 4, 10 20 24, 28 21 4, 7, 18, 22, 26(2) 22 10, 21, 22(3), 24(3), 28(4) 24 2, 7, 10, 18(3), 20, 22(5), 23, 24(2), 25(2), 26, 28(15), 29 23 10, 24, 28(2) 25 24(2), 27, 28(2) 26 18, 21(2), 24, 28(2), 29 27 25, 28 28 10(2), 18(2), 20, 22(4), 23(2), 24(13), 25, 26(2), 27, 28(10) 29 24, 26 Gumes múltiplos de Monjolo Velho: 8 21 16 28 18 22 21 8, 28 22 18 24 24 28 16, 21 Gumes múltiplos do Bairro do Cabeça 8 18 19 24 21 25 189

Tom Oliver Miller Junior

23 24 25 28

28(2) 19, 24(3), 28 21 22, 23, 24, 28(3)

Gumes múltiplos da Serra d’Água III: 1 1, 9 2 4, 12 3 4 4 3, 4 7 8 8 7, 8, 22 9 1 11 25, 26(2) 12 2 13 27 16 22, 23, 24, 26, 27, 28 18 22, 27 20 20 22 8, 16, 18, 26, 27 23 16, 24, 28(2) 24 16, 23, 28 25 11, 26(2) 26 11, 16, 22, 25, 26, 28(3) 27 13, 16, 28 28 16, 18, 22, 23(2), 24, 26, 27, 28(3) Gumes múltiplos de Tamandupá: 1 2, 5, 9, 10, 11, 12, 19, 22, 23 2 1, 3(3), 4, 7, 8 3 2(3), 3(3), 6, 10, 11(2), 12, 18(3), 19, 28 4 2, 5, 17, 25 5 1, 4, 6, 11 6 3, 5, 10, 24 190

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

7 8 9 10 11 12 13 14 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29

2 2, 12 1, 9, 11, 18, 19(2), 21, 24(3), 25 1, 3, 6, 12, 20, 25 1, 3(2), 5, 9, 11, 24 1, 3, 8, 10, 13,17, 20 12, 17 22, 26 22 4, 12, 13, 20(2), 22, 25, 27, 28 3(2), 9, 18, 22 1, 3, 9(2), 19, 20, 21, 22, 24, 26, 29 10, 12, 17(2), 19, 22, 24, 26(2), 29 9, 19, 28 1, 9, 14, 16, 17, 18, 19(2), 20, 26 1 6, 9(2), 11, 19, 20 4, 9, 17, 26 10, 14, 19, 20(2), 25, 29 17 2, 17, 21 19, 20, 26

191

192

6 COMPARATIVA

6.1 Jazidas brasileira Fazer comparações entre os materiais da Bacia de Rio Claro, e, especificamente, das Fases Monjolo Velho e Santo Antônio e os de outras regiões sul-americanas é uma tarefa extremamente difícil, devido à falta de análises e descrições completas, quantificação de modos, tipos e modelos sistemáticos de apresentação dos resultados de pesquisas arqueológicas brasileiras e de países vizinhos, nessa época da infância da ciência arqueológica na região. Não há termos para comparações significativas, apenas umas observações sobre semelhança formal de fotografias de peças ou discussão em torno de conceitos vagos como “biface” quando ninguém podia ter certeza de que se trata da mesma coisa ou não. 6.1.1 Cerca Grande

No caso do complexo lítico da Lagoa Santa, MG, denominado “Cerca Grande” por Hurt, há uma série amorfa de raspadores e machados de lascas e seixos de quartzo, machados parcialmente polidos e pontas de projétil de forma triangular com ombros ou aletas e com pedúnculo em contração de base reta. O complexo leva idades radiocarbônicas de -9.600 e 10.350 anos. Visto a publicação final não ter ainda aparecido, escrevemos para o Dr. Hurt sobre a possibilidade de uma relação com a Fase Monjolo Velho, embora esta não tenha produzido pontas de projétil. O Dr. Hurt muito gentilmente forneceu-nos cópias Xérox dos desenhos de artefatos típicos, comentando que ele “encontrou quase nada em comum entre as indústrias que ... descreve e as de Lagoa Santa ...” (HURT, Carta de 28 outubro de 1968). Os desenhos de raspadores e outros artefatos fornecidos por este estudioso também mostram quase nada em comum com Monjolo Velho. 195

Tom Oliver Miller Junior

Algumas das pontas de projétil figuradas por Hurt muito se assemelham a pontas da região de Rio Claro, mas as do horizonte de solo recente, não de paleopavimento nenhum. 6.1.2 José Vieira

Laming e Emperaire trabalharam durante um lapso de tempo muito mais curto do que nós, na escavação, estudo e análise do material de José Vieira, embora, mesmo começando com controles estratigráficos, a quantidade de peças seja extremamente baixa para uma análise tipológica pioneira, o que não é de admirar que não tenham conseguido muita coisa na tipologia lítica, em comparação com o nosso estudo, que durou muito mais tempo e dispunha de muito mais material para análise. Em comparação, apenas podemos dizer que parece que há uma pálida semelhança entre o material de José Vieira, especialmente Camada IV com as bifaces, e a Fase Santo Antônio, mas tal declaração é apenas impressionista e carece de qualquer fundamento científico. Embora a dificuldade de fazerem comparações entre os ajuntamentos de José Vieira e a Bacia de Rio Claro, estamos de acordo com as conclusões de Laming e Emperaire: 1. A indústria de tipo bi-facial parece caracterizar mais os níveis inferiores que os níveis superiores (aqui, mais Santa Rosa e Santo Antônio do que o horizonte de solo recente). 2. As grandes lascas simples em forma de faca oval são mais abundantes nos níveis superiores que nos inferiores (aqui, mais freqüente no grupo Marchiori do que nas fases anteriores). 3. A indústria sobre lascas é por toda parte extremamente rústica (LAMING e EMPERAIRE, 1959, p. 111). Adicionalmente, estamos de acordo que “parece que a evolução da indústria lítica dos sambaquis seja completamente independente da dos sítios do interior” (Ibidem, p. 113). A escassez de instrumentos de pedra polida e a presença de uma indústria na base de 196

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

arenito silicificada, em associação com cerâmica, paralela os pelos achados da Bacia de Rio Claro. Porém, a camada IV de José Vieira leva uma data de – 6.683 anos (ANDREATTA, 1968), o que parece muito antigo para fase Santo Antonio.

6.2 Jazidas em Outros Países Sul-Americanos Estou de acordo com Willey (Carta de 26 de setembro de 1968) que Santa Rosa, Altoparanaense e outros fenômenos semelhantes das terras baixas da América do Sul Ocidental “estão derivados de alguma espécie de horizonte antigo, pré-ponta de projétil e prébiface”. que tem suas raízes numa indústria de lascas da Sibéria, mesmo que, por enquanto, não seja possível qualquer documentação científica dessa relação. Entre outros problemas, há uma tendência demasiada em se definirem as culturas arqueológicas pré-cerâmicas apenas em termos de tipos de ponta de projétil, impossibilitando uma definição mais ampla, tanto quanto uma identificação de ajuntamentos sem ponta de projétil -- e isto é a maior razão da falta de acordo sobre o “horizonte” pré-ponta de projétil. Esperamos que as linhas de pesquisa esboçadas por este estudo possam sugerir os meios para solucionar tal problema. Altoparanaense, identificado por Menghin (1957) em coleções particulares da Província de Missiones, é uma tradição de trabalho bifacial sobre núcleos e lascas grossas e grandes de basalto, diábase e arenito silicificado, o que deve representar várias fases, pois se encontra em associação com cerâmica (ELDORADENSE; MENGHIN, 1957; RIZZO, 1968; SCHMITZ e BECKER, 1968). Na Argentina, foi feito um excelente trabalho de escavação e interpretação pelo Prof. Dr. Alberto Rex Gonzales (1960), em cuja obra foram definidos vários horizontes. As semelhanças do noroeste da Argentina com o nosso material são, porém, muito gerais e duvidamos que fosse lucrativo fazer comparações pormenorizadas. Trata-se de um complexo antigo de caçadores, os quais utilizavam pontas lanceoladas em forma de folha de salgueiro, semelhante a outras do mesmo horizonte, em outras partes do Continente (El Jobo em Venezuela, Lauricocha em Peru). 197

Tom Oliver Miller Junior

O problema de bifaces em forma de folha é muito complexo, pois temos a certeza de que se trata de mais de um fenômeno, com semelhança formal. Duas tradições antigas de pontas sul-americanas podem ser, como Willey (1966, pp. 67-8) assinala, as “Folhas El Jobo” e os “Rabos de Peixe” do Estreito de Magalhães. As pontas de projétil mais antigas na nossa região podem ser descendentes destas últimas, pois são pedunculadas (em São Paulo, freqüentemente apresentam-se com pedúnculo de base arredondada ou reta ou, no Paraná, com base côncava ou bifurcada), embora muito mais recentes em tempo do que a seqüência de Magalhães. Bifaces em forma de folha de louro (não salgueiro) aparecem na Fase Santo Antônio, Tamandupá, e outros, em tempos posteriores, tendendo a ser grandes (11,0 cm – 16,0 cm) naquela Fase, com lascas grandes, grossas e discoidais tiradas das duas faces inteiras, e menores em componentes posteriores à Fase. Um exemplo foi retirado do Feature 1 de Santa Rosa, sendo o maior e mais pesado e com o lasqueamento mais tosco da série (Foto 35). Não é possível fazer comentários ainda, além do que Bryan (1965, p.78) chama de “tradição de pontas grandes em forma de folha”: um complexo, uma cultura ou coisa qualquer, na base de uma idéia que Butler (1961) chama de “Cultura da Velha Cordilheira”, a qual, para este escritor, em vez de “cultura”, não passa de uma forma de ponta e não necessariamente de projétil (incluem-se os “machados de mão” de Menghin, p. ex.).

198

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Foto 35: Bifaces em forma de folha de louro - Acima: Santa Rosa, Tamandupá, Marchirori; Abaoxp: Santo Antonio, Pitanga.

199

200

7 CRONOLÓGICA

As classificações analítica e tipológica, já feitas, dão-nos condições de fazer as comparações entre os componentes, para inferir as relações cronológicas, definir as fases e, finalmente, fazer uma sugestão sobre a relação destas com outras regiões e continentes, em termos cronológicos. Brainerd e Robinson (1951; ver 1.4.9 acima) propuseram um método de “coeficiente de concordância” (coeficient of agreement), utilizado também por Tugby (1958). Esse coeficiente deriva-se comparando-se as jazidas em pares, colocando-as numa matriz (matrix analysis), na qual os números menores ficam mais próximos da diagonal. O cálculo foi feito, em verdade, na base de tipos cerâmicos ou de pontas de projéteis, p. ex., e, se se quiser uma medida de concordância, somam-se as diferenças entre os pares de jazidas, tirando-se as diferenças de 200 (sendo 200% a máxima diferença possível entre dois ajuntamentos de tipos). Ao se colocar 200 – d para cada par de componentes nas células da matriz, quando estes estiverem em ordem cronológica, todos os números menores estarão mais pertos da diagonal. A nossa primeira observação é que se pode usar apenas d, em vez de 200 - d. A única diferença seria que estarão ao longo da diagonal os números maiores, em vez de menores. Uma segunda observação é que, se se quiser quantificar e comparar porcentagens de modos selecionados, pode-se fazê-lo sem referência a totais de 100% ou 200%, pois o uso da porcentagem destina-se apenas a colocar todas as observações em termos do mesmo padrão de referência. Mas há outra maneira que pode ser utilizada também, em termos de células de jazidas comparadas, menos trabalhosa do que a matriz (uma vez que as diferenças já tenham sido somadas) e que

Tom Oliver Miller Junior

dá uma linha para indicar o tempo. Tem a mesma desvantagem da matriz, de não indicar qual dos pontos terminais da seqüência é o mais antigo e qual o mais recente (embora alguns estudiosos digam até que isto poderia ser inferido sem outras informações extras). O de que se precisa neste caso, nós já temos: o sítio estratificado, com um componente mais antigo que o outro (neste caso, Tira Chapéu). A outra operação a qual referimos é a de uma linha de regressão, usada na Antropologia desde os tempos de Galton, mas nunca, ao que sabemos, na Arqueologia.

7.1 Seleção dos Atributos, Modos e Tipos Fazendo uma comparação entre Tira Chapéu III e Tira Chapéu II, podemos selecionar certos critérios para testar os que são maiores para um e menores para o outro e mais ou menos consistentes para os outros componentes relacionados. Primeiro devemos ver os critérios básicos unificadores para distinguir entre o grupo representado por Tira Chapéu II e o de Tira Chapéu III. Já notamos que lascas primárias, bulbos cônicos, tamanho grande, bolas, gumes largos, facas, lâminas e outros modos têm maior incidência em Tira Chapéu III, Serra d’Água III e Tamandupá do que nos outros, enquanto ferramentas miniaturizadas, cinzéis, plainas pequenas, agulhas, gumes de 90º ângulo, gumes retos e outros modos têm maior incidência em Tira Chapéu II, Monjolo Velho e Bairro do Cabeça do que nos outros. Dividindo-se os componentes nesses dois grupos, observamos que as seguintes características abaixo apresentadas aumentam com o tempo (do grupo Tira Chapéu II para o de Tira Chapéu III). Sílex siltado como matéria-prima, lascas primárias, plataforma de percussão, bulbo concoidal, bulbo cônico, acabamento esfregado, forma poliédrica, tamanho grosso e grande, raspadores (total), raspadores laterais, verticais, de bico comprido, com bico de pato, com bico pé, 2 ou 3 pés, bico C entre entalhes, bico D entre entalhes, chopping tool, bolas, goivas, gume de 2,0 cm, gume de 3,0 cm e maior, facas (total), canivetes, faca de mão, faca discoidal, faca de 204

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

lâmina, gume côncavo arcos 4 e 6, gumes convexos arcos 10 e 8, e os gumes tipos 1, 3, 9, 11, 12, 17 e 20. A média do gume também aumenta mas, como não se trata de porcentagem, e assim não pode ser incluída. Diminuindo com o tempo (de Tira Chapéu II para Tira Chapéu III) têm-se: Quartzo como matéria-prima, micrólitos, tamanho fino e miniatura, plaina pequena, cinzel, bico quadrangular, agulhas, gume de 1,5 cm ou menos, gume côncavo de arco 2, gume reto, gume de 90º ângulo, gume tipo 28. Fazendo-se estas comparações - utilizando a jazida Monjolo Velho para base de comparações, pois esta parece mostrar estas características de Tira Chapéu II em maior grau ainda do que este último, obtêm-se os seguintes resultados: Tabela 8 – Diferenças entre Monjolo Velho e outros componentes: a) características em aumento. Quando a característica é menor em vez de maior, indica que ela podia ser anterior em vez de posterior em tempo e registra-se negativo em vez de positivo. Se o total sai negativo para um componente, ele devia ser anterior em tempo do que Monjolo Velho, aqui tomado como base, e aquele deve ser usado então, como base Componente  Característica  Sílex siltado Lasca primária Plataforma Bulbo concoidal Bulbo cônico Esfregado Poliédrica Grosso Grande Raspadores R. lateral

LA- 62

LA-82

LA-61

LA-75

LA-44

99,4 5,7 9,7 -0,1 0,0 0,0 0,0 7,6 4,9 8,3 1,9

43,7 3,2 1,5 0,9 0,0 0,5 0,0 19,6 2,4 1,5 -2,6

99,6 16,0 13,4 5,1 0,4 7,8 7,3 46,8 8,2 33,9 10,1

96,9 24,6 21,8 7,7 19,4 4,8 5,7 24,9 2,2 22,7 6,8

98,1 48,1 33,7 26,0 14,1 16,6 2,8 27,9 10,7 27,5 8,1 Continua...

205

Tom Oliver Miller Junior

LA- 62 LA-82 LA-61 LA-75 LA-44 Componente  R. vertical 0,0 0,0 4,1 1,7 9,5 R. bico comprido 0,9 4,0 6,2 4,1 5,5 R. bico de pato 0,0 0,0 1,2 0,4 1,5 R. bico de pé 0,6 0,9 1,6 0,9 2,8 R. 2 ou 3 pés 0,0 0,0 3,3 0,4 6,4 Goiva -0,4 5,0 14,8 -6,4 9,9 Chopping tool 0,0 0,0 0,8 0,9 1,5 Bolas 0,0 0,0 4,5 3,1 0,6 Facas 3,8 1,2 16,7 15,7 40,1 Canivete 0,0 0,3 -0,6 0,7 3,7 F. de mão (ulo) 0,0 0,0 0,4 0,0 3,1 F. discoidal 0,0 0,0 1,2 0,9 0,3 F. lâmina -0,3 0,2 0,9 1,0 1,5 Bico C, entalhes 5,0 4,8 5,4 5,1 15,5 Bico D, entalhes 0,5 0,0 0,3 0,5 0,7 Gume 2,0 cm 17,2 11,0 21,7 22,4 19,9 Gume 3,0 e mais 4,8 5,4 16,2 7,1 46,3 Gume côncavo a. 4 -0,7 0,4 2,5 2,4 2,2 Gume côncavo a. 6 0,5 0,0 2,9 3,9 3,8 Gume convexo a. 10 0,0 0,0 0,5 0,8 0,4 Gume convexo a. 8 1,0 0,1 1,7 1,9 0,7 Gume tipo 1 0,0 1,4 1,0 3,9 7,5 Gume tipo 2 0,0 0,0 1,9 1,6 13,9 Gume tipo 9 0,0 1,4 2,4 1,6 8,3 Gume tipo 11 0,5 0,0 1,9 0,8 4,1 Gume tipo 12 1,1 1,4 1,4 2,4 3,0 Gume tipo17 0,5 0,0 4,3 1,6 4,9 Gume tipo 26 2,6 0,4 2,5 3,2 3,3 b) características que diminuem por tempo. Valor negativo indica que a característica aumenta em vez de diminuir Quartzo 79,9 29,7 79,9 75,8 79,6 Micrólitos 7,3 -1,7 7,3 7,3 7,3 Fino 21,3 8,6 26,7 19,9 19,4 Miniatura 54,8 15,5 56,8 46,7 57,2 Continua... 206

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

LA- 62 -37,1 4,6 1,3 0,2

LA-82 -3,7 8,4 2,7 4,6

LA-61 -5,4 8,9 5,7 1,3

LA-75 5,3 8,9 6,4 3,5

LA-44 8,7 8,9 10,6 5,0

28,5

19,1

44,5

35,8

80,4

Gume côncavo arco 2 0,7

-0,4

0,9

2,3

1,2

Gume reto Gume ângulo 90º Gume tipo 28 Totais

-8,1 -1,8 -1,2 199,8 -19,5 180,3

24,3 8,9 14,0 650,1 -6,0 644,1

29,0 -1,2 20,0 588,4 -7,8 580,6

43,1 25,6 31,5 913,0 -0,0 913,0

Componente  Plaina pequena Agulha Cinzel Bico quadrangular Gume 1,5 cm ou menos

10,0 8,4 7,2 400,7 -38,6 362,1

Tabela 9 – Diferenças entre Tamandupá e outros componentes: a) características que aumentam por tempo (diminuindo de Tamandupá para Monjolo Velho). Valores negativos indicam características que aumentam em vez de diminuir de Tamandupá para Monjolo Velho Componente  Característica  Sílex siltado Lasca primária Plataforma Bulbo concoidal Bulbo cônico Esfregado Poliédrica Grosso Grande Raspadores R. lateral R. vertical R. bico comprido R. bico de pato R. bico de pé R. 2 ou 3 pés Goiva

LA-81

LA-62

LA-82

LA-61

LA-75

98,1 48,1 33,7 26,0 14,1 16,6 2,8 27,9 10,7 27,5 8,1 9,5 5,5 1,5 2,8 6,4 9,9

0,0 42,4 24,0 27,0 14,1 16,6 2,8 20,3 5,8 19,2 6,2 9,5 4,6 1,5 2,2 6,4 10,3

54,4 44,5 32,2 25,1 14,1 16,1 2,8 8,3 8,3 26,0 10,7 9,5 1,5 1,5 1,9 6,4 4,9

-0,2 32,1 20,3 20,9 13,7 8,8 -4,5 -18,9 2,5 -6,4 -2,0 5,4 -0,7 0,3 1,2 3,1 -4,9

2,5 23,5 11,9 18,3 -5,6 11,8 -2,8 3,0 8,5 14,8 1,3 7,8 1,4 1,1 1,9 6,0 16,6 Continua...

207

Tom Oliver Miller Junior

LA-81 LA-62 LA-82 LA-61 LA-75 Componente  Chopping tool 1,5 1,5 1,5 0,7 0,6 Bolas 0,6 0,6 0,6 -3,9 -2,5 Facas 40,1 36,3 41,3 23,4 24,5 Canivete 3,7 3,7 3,4 4,3 3,0 F. de mão (ulo) 3,1 3,1 3,1 2,7 3,1 F. discoidal 0,3 0,3 0,3 -0,9 -0,6 F. lâmina 1,5 1,8 1,3 0,6 0,5 Bico C, entalhes 15,5 10,5 10,7 10,1 7,4 Bico D, entalhes 0,7 0,2 0,7 0,4 0,2 Gume 2,0 cm 19,9 2,7 8,9 -1,8 -2,5 Gume 3,0 e mais 46,3 41,5 40,9 30,1 39,2 Gume côncavo a. 4 2,2 2,9 1,8 -0,3 -0,2 Gume côncavo a. 6 3,8 3,3 3,8 0,9 -0,1 Gume convexo a. 10 0,4 0,4 0,4 -0,1 -0,4 Gume convexo a. 8 0,7 -0,3 0,6 -1,0 -1,2 Gume tipo 1 7,5 7,5 6,1 6,5 3,6 Gume tipo 2 13,9 13,9 13,9 12,0 12,3 Gume tipo 9 8,3 8,3 6,9 5,9 6,7 Gume tipo 11 4,1 3,6 4,1 2,2 3,3 Gume tipo 12 3,0 1,9 1,6 1,6 0,6 Gume tipo17 4,9 4,4 4,9 0,6 3,3 Gume tipo 26 3,3 0,5 2,9 0,8 0,1 b) características que diminuem por tempo (aumentando de Tamandupá para Monjolo Velho). Valor negativo significa que a freqüência diminui de Tamandupá para Monjolo Velho. Quartzo Micrólitos Fino Miniatura Plaina pequena Agulha Cinzel Bico quadrangular Gume 1,5 cm ou menos Gume côncavo arco 2 Gume reto Gume ângulo 90º Gume tipo 28 Totais

79,6 7,3 19,4 57,2 8,7 8,9 10,6 5,0

-0,3 0,0 -1,9 2,4 45,8 4,3 9,3 4,8

49,4 9,0 10,8 41,7 12,4 0,5 7,9 0,4

-0,3 0,0 -7,3 0,4 14,1 0,0 4,9 3,7

2,8 0,0 -0,5 10,5 3,4 0,0 4,2 1,5

80,4

51,2

61,3

35,2

44,6

1,2 43,1 25,6 31,5 913,0 -0,0 913,0

0,5 32,0 17,2 24,3 554,3 -2,5 551,8

1,6 51,2 27,4 32,7 734,2 -0,0 734,2

0,3 18,8 16,7 17,5 323,4 -53,2 270,2

-1,1 14,1 26,8 11,5 358,2 -17,6 340,6

208

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

A maior diferença somada é a do componente Tamandupá. Nenhum componente saiu com soma negativa, de maneira que Monjolo Velho parece ser mesmo o mais antigo. Agora, vamos comparar Tamandupá com os outros componentes, com reverso de diminuição/aumento. Naturalmente, para o complemento das diferenças de Monjolo Velho, exatamente as mesmas características têm que ser usadas.

7.2 A Linha de Regressão Agora que temos as diferenças entre Monjolo Velho e outras jazidas, e as entre Tamandupá e outras, podemos fazer a tabela para estabelecer a linha de regressão. Tabela 10 – Regressão de Monjolo Velho sobre Tamandupá Componente Monjolo Velho Tira Chapéu II B. do Cabeça Tira Chapéu III Serra d’Água III Tamandupá S= Onde

Monjolo Velho X 0,0 362,1 180,3 644,1 580,6 913,0 2680,1 X = 446,7

Tamandupá Y 913,0 551,8 734,2 270,2 340,6 0,0 2809,8 Y = 468,3

X -446,7 -84,6 -226,4 197,4 133,9

Y 444,7 83,5 265,2 -198,1 -127,7

x=X–X

y=Y–Y

Usando-se os valores de Monjolo Velho para o eixo x, e os de Tamandupá, para y, vemos no resultado do Gráfico 11, que os valores ficam tão próximos da diagonal, que é inteiramente desnecessário computar a estatística da linha de regressão (EDWARDS, 1958, pp. 78-81), pois o corretivo não nos daria uma seqüência melhor ou mais exata. A seqüência dos componentes (cronologia relativa), então, é a seguinte: 209

Tom Oliver Miller Junior

• • • • • •

LA-81: Monjolo Velho (mais antigo) LA-82: Bairro do Cabeça LA-62: Tira Chapéu II LA-75: Serra d’Água III LA-61: Tira Chapéu III LA-44: Tamandupá (mais recente)

7.3 A fase Monjolo Velho Esta Fase, inclusive os componentes Monjolo Velho, Bairro do Cabeça e Tira Chapéu II, das aqui estudadas, e R. João Pinto, Laboratório I e outros, a serem publicados posteriormente, caracterizam-se por agulhas de pedra, miniaturização das ferramentas e freqüências relativamente altas de plainas pequenas, cinzéis, gumes pequenos e uma variedade de matérias-primas, com ênfase no quartzo; bolas, pontas de projétil, lascas côncavas, com bulbo cônico, e pouquíssima tendência de se usar lascas primárias tiradas de núcleo preparado com plataforma e formando bulbo. Usaremos o nome Monjolo Velho para a Fase porque foi o primeiro componente onde esta foi isolada e reconhecida. O primeiro reconhecimento se deu em Tira Chapéu. Entretanto, este sítio apresenta mais dois componentes, além do fato de a manifestação da fase em Tira Chapéu ser tardia, ou seja, quase transicional.

7.4 A Fase Santo Antônio Esta Fase, inclusive os componentes Serra d’Água III, Tira Chapéu III e Tamandupá, dos aqui estudados, e Nalim, Santo Antônio e alguns outros a serem publicados posteriormente, caracterizam-se pelo uso quase exclusivo de sílex siltado como matéria-prima, com ênfase numa indústria unifacial de lascas primárias, tiradas de um núcleo preparado com plataforma de percussão, deixando-se um bulbo de percussão, e de lascas côncavas, com bulbo cônico, tiradas de um núcleo poliédrico; acabamento esfregado, ferramentas 210

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

de tamanho médio até grande, com ênfase em facas e raspadores, especialmente os primeiros, presença de chopping tools, canivetes, facas de mão (ulo ou tchi-tho), lâminas, bolas e raspadores abruptos, de bico de pato, de bico pé e de bicos 2 ou 3 pés. Bifaces, grandes facas ou machados de mão em forma de folha de louro, trabalhados tirando-se lascas grandes e deixando-se cicatrizes grandes, discoidais e fundas, por todas as duas faces, também estão presentes. Pontas de projétil com pedúnculo em contração, largas e achatadas, também podem estar presentes nos componentes tardios da Fase, tanto quanto machados de pedra lascada. “Pontas” unifaciais também estão presentes.

A Fase Santo Antônio foi isolada e reconhecida pela primeira vez no sítio Santo Antônio, que não foi incluído neste estudo porque a jazida encontra-se bastante perturbada pela erosão e pela agricultura. 211

Tom Oliver Miller Junior

Esta Fase mostra bastante continuidade do grupo Santa Rosa, de formação t1, continuidade que ainda se nota nos componentes em solo recente (tradições de lasqueamento e formas padronizadas de certas ferramentas), mas a fase Monjolo Velho, posterior à Santa Rosa e anterior a Santo Antônio (erro derivado do fato que a distinção entre as formas geomorfológicas t1 e tv ainda não tenha sido reconhecida, nota do autor em 2008), mostre pouquíssima continuidade com as outras, possivelmente indicando a intrusão de um povo de outra tradição na região, durante uma época de clima e habitat distintos dos de outros tempos. Somente futuros trabalhos poderão solucionar esta questão (já solucionaram, n. do a.).

7.5 A Datação Dos Depósitos Como já notamos na Parte III, os terraços e paleopavimentos da região exibem uma série de grandes oscilações climáticas durante o Quaternário. Essas oscilações representam fenômenos mundiais acompanhando oscilações eustáticas, isostáticas, climáticas, de temperatura e distribuição da pluviosidade. Nas latitudes altas, houve ciclos de geleiras e degelo, com mudanças dos climas de tundra, taiga e floresta de coníferas decíduas e mistas (ZEUNER, 1956). Nas baixas latitudes, por sua vez, houve ciclos de pluviais, isopluviais (chuvas distribuídas durante o ano) e displuviais (seca intensa de inverno com chuvas torrenciais no verão). Nesta região, é provável que tenha ocorrido mudança de floresta de coníferas com nível de mar de 100 m a 110 m abaixo do atual, e clima continental, há 20.000 anos (PAULA COUTO, 1968, pp. 268; HESTER, 1966), para savana ou estepe com florestas de galeria, erosão intensiva e fauna pampiana até 7.000 anos atrás. Durante essas fases, houve períodos de suavização climática intercalados, até o desenvolvimento de florestas subtropicais de há 2.500 anos até o presente. Para coordenar as nossas observações, devemos resumir as evidências e fazer interpretações na base do nosso melhor perfil estratigráfico: Tira Chapéu (Figura 1, Parte IV, acima). 212

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

7.5.1 Oscilações Tectônicas e Eustáticas

Evidências são de que o mar, na região da costa da Argentina, na base de fósseis e datação de conchas por radiocarbono, encontravam-se nos seguintes níveis, nas seguintes idades (PAULA COUTO, 1968, pp.34-9; HESTER, 1966): -117 m

-11.000 anos

-54 m a 72 m

-15.000 anos

-144 m

-18.700 anos

Mais de-144 m

-35.000 anos

Adicionalmente, a isostasia está à mostra na presença de uma praia com datação radiocarbônica de conchas marítimas de apenas -5.000 anos, encontrada a nove metros acima do atual nível do mar, em Rivadávia, Patagônia (PAULA COUTO, 1968, p. 8). Terraços com praias marinhas encontram-se a 20 m, 30 m e 50 m sobre o nível do mar, na costa do Brasil (seria interessante datar essas praias em termos dos terraços fluviais da Bacia do Paraná). É possível que os terraços fluviais da Bacia de Rio Claro, ao menos t2 e t3, estejam associados com movimentos epirogênicos locais, recentes, como no Egito (de -8.700 a -3.500 anos) e outros locais (MONOD, 1963, pp. 158-9). 7.5.2 Oscilações de Temperatura

Bernard (1959, citado em de HEINZELIN) recentemente apresentou um estudo de oscilações climáticas para as latitudes baixas, coordenando pluvial de frente polar com períodos de glaciação nas latitudes altas e também displuvial (com chuvas estivais intensas e seca de inverno), isopluvial (com chuvas regulares bem distribuídas durante o ano), interpluviais e aridificação. A cronologia de Bernard para latitudes baixas é a seguinte (de HEINZELIN, 1963, p. 295): 213

Tom Oliver Miller Junior

Período Displuvial Aridificação Isopluvial Aridificação

Idade cronológica -2.000 a – 11.000 anos -18.000 a -33.000 anos -39.000 a -52.000 anos -52;000 a -75.000 anos

O período de maior interesse para nós é o displuvial. Essas mudanças climáticas representam mais a distribuição das chuvas e a temperatura média do que a total quantidade da chuva. Com estações de seca e chuvas torrenciais, a erosão seria máxima, embora a taxa de evaporação superficial varie em proporção direta com a temperatura média. Nos períodos interglaciais, a temperatura média subiu no mundo inteiro, provocando uma maior taxa de evaporação de águas superficiais e, portanto, o mesmo resultado prático do de uma diminuição das chuvas médias, também diminuindo a cobertura vegetal e aumentando os processos de meteorização química e física. Finalmente, em regiões como esta de solo arenoso (arenito Botucatu intemperizado), a porosidade provoca a descida das águas para abaixo da superfície, aflorando como mananciais nas camadas mais impermeáveis da base das escarpas. Em resumo, o Quaternário era e é uma época geológica de erosão cíclica nessa região, variando com a distribuição estacional das chuvas e a temperatura média. A temperatura média mundial está em elevação desde -10.500 anos, uma alta sendo inferida para -11.500 anos entre oscilações com baixas às -12000 e 10.500 anos, respectivamente (MÜLLERBECK, 1966, p. 1192). 7.5.3 A Antiguidade do Homem na América

Já tem sido estabelecido que os primeiros seres humanos a entrar na América foram da raça moderna - Homo sapiens -, de variedade sinu-australoide ou uma hibridização destes com mon214

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

golóide não-especializada, e com uma tecnologia de ferramentas de lascas, principalmente unifaciais, sem pontas de projétil, mostrando hibridização das tradições Chopper-Chopping Tool da Ásia Oriental com o Levalloiso-mousterioide, da Ásia central. O homem não podia entrar na América antes de entrar na Sibéria e as indicações são de que ele ocupou esta última depois das descobertas do fogo e roupa costurada, em tempos de Paleolítico Médio e começo do Paleolítico Superior, com cultura material de tradição Levvalloiso-mousterioide de fácies aurignacióide e solutreóide (MÜLLER-BECK, 1956; RUDENKO, 1961. OKLADNIKOV, 1958; WILLEY, 1966; WILMSEN, 1964). A cultura mais antiga já identificada na Sibéria é a de Ust’ kanskaya (3º Interglacial) (RUDENKO, 1961), o que, juntamente com Mal’ta-Buret’, está bastante semelhante à mais antiga do Alasca - o Complexo British Mountain (MACNEISH, 1964; SCHLESIER, 1967; WILMSEN, 1964). Esse complexo, por sua vez tem uma semelhança espantosa com o grupo Santa Rosa, da formação t1 (tv, n. do a.), da nossa região. Santa Rosa não será aqui objeto de maiores considerações de nossa parte. Lembramos apenas que não tem pontas de projétil a não ser pontas triangulóides e toscas, trabalhadas en uma face só (como os do caso de Sedna Creek, Complexo British Mountain; SCHLESIER, 1967). Paralelamente, Ibarra-Grasso identifica um horizonte (Viscachani) sem pontas de projétil, anterior a Ayampitin, o que contém pontas lanceoladas, bifaciais, em forma de folha de salgueiro e datado por radiocarbono como -8.068 anos (REX GONZALES, 1960, p. 306). Os complexos siberianos de Buret’-Mal’ta, que Wilmsen considera ancestral a British Mountain, datam de -15.000 a -20.000 anos, e British Mountain a possivelmente -16.000 anos (WILLEY, 1966, p. 36; WILMSEN, 1964, pp. 341-2). A data mais antiga da América do Norte em associação com indústria humana, até agora, provém do sítio de Tule Springs, Nevada - um complexo sem pontas de projétil, datando de -23.800 anos (KRIEGER, 1964). 215

Tom Oliver Miller Junior

O homem podia ter entrado no Alasca durante as duas épocas da emersão da ponte terrestre entre a Sibéria e o Alasca, com as águas do mar em nível baixo. Essas épocas datam, depois da entrada do homem na Sibéria, aproximadamente de -11.000 a -20.000 anos e -40.000 a -50.000 anos. Os primeiros horizontes com pontas de projétil (bifaciais) na América do Norte e do Sul aparecem com -11.000 anos, sendo naturalmente pós-British Mountain e pós-Tule Springs. 7.5.4 Sugestões de cronologia para Tira Chapéu

Na base das informações resumidas, acima, em Butzer (1964), e Paula Couto (1968, p.25), Heusser (1969), Heinzelin (1963), Bernard (1959) e Muller-Beck (1966), propomos, tentativamente, as seguintes correlações cronológicas a serem testadas por radiocarbono e objeto de maiores trabalhos no futuro: Idade hipotética  -16.000 a -12.000

Condições climáticas Fria, seca

Displuvial: seco, -12.000 a --- 11.000 erosão Suavização climática -10.000 a -8.000 (represamento) -8.000 a -6.500 Seco, quente -6.500 a 4.500 Suavização -4.500 a -2.500 Erosão -2.000 a atual

Suavização climática

Camada (removida pela erosão) 2 (t ) 1

3e4 5 (pp1) 6 7 (pp2) 8 (solo recente)

Horizonte ________ Santa Rosa etc. Monjolo Velho Santo Antônio Marchiori etc.

Essa datação, embora seria inteiramente provisória, está mais ou menos consoante com o que sabemos das mudanças mundiais nas fases climáticas do Quaternário recente e a tecnicultura comparativa das sociedades pré-históricas do Novo Mundo, mesmo não sendo a única correlação possível na base desses dados. A datação da Fase Monjolo Velho, então, seria anterior e talvez contemporânea à época da remobilização dos detritos dela na ca216

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

mada 5, durante a época 8.000 a 6.500 anos atrás, digamos 7.000 a 8.500 anos atrás, contemporâneo com o desaparecimento da fauna pampiana; e a da Fase Santo Antônio seria anterior e contemporânea ao ciclo erosivo representado pela camada 7, ou seja, 3.500 a 5.000 anos atrás. As datas seriam mais recentes, naturalmente, se a deposição fosse primária, o que não o é. Os sinais de represamento dos lençóis aluviais notados na camada 4 devem corresponder à terceira camada (Estágio 2) de São Lourenço (VIVAN e LEME, 1968, pp. 3-4), que também se encontra encostada na formação t1. Esse estancamento podia ter sido associado à transgressão marinha da época pré-boreal (-9.000 a -10.000 anos) ou então da Alleroed-Two Creeks (-12.000 a 11.000 anos), ou ainda a movimentos tectônicos, ou ao aparecimento de um dos diques no sistema fluvial Piracicaba-Corumbataí (PENTEADO, 1968). Com essa correlação, segundo os estágios de Silva (1967a, p.27), a Fase Santo Antônio aqui seria classificada como “arcaica”, em vez de “paleoindígena”, mas, devido à incerteza da datação absoluta e ao fato de se tratar de uma formação pré-atual, preferimos ficar com o termo “paleoindígena” até termos maiores informações. Deve-se salientar, como já notamos, que esta não é a única correlação possível. Também poderia ser uma correlação da camada 7, com o ciclo erosivo de -8.000 a -6.500, camada 5, com -12.000 a -11.000 anos, e a formação t1 com a época de aridificação (-33.000 a -18.000) de Bernard (ver 7.4.2 acima). Esta última correlação ficaria em maior concordância com a datação de José Vieira - Camada IV - coordenada com a Fase Santo Antônio. De acordo com a opinião da Dra. M. Penteado, a formação t representa condições climáticas qualitativamente distintas das que produziram os paleopavimentos, e não apenas outro ciclo do mesmo tipo. 1

A variação cultural nas formações t1, exemplificadas por Santa Rosa e Serra d’Água I, de um lado, e por Tira Chapéu I, São Lourenço I e ainda mais de Poço Fundo I, por outro, também implica em maior lapso de tempo durante a época da formação. Isto data217

Tom Oliver Miller Junior

ria, então, a formação t1 como mais antiga do que -18.000 anos, o que vai de encontro ao que é geralmente aceito pela maioria dos especialistas sobre a datação de indústrias humanas no Continente. A data palpite de Wilmsen de -16.000 para British Mountain, seria então mais recente do que a presumida para Santa Rosa. Mas, como MacNeish observou, British Mountain não foi ainda datada. A correlação-palpite, então, seria a seguinte: Idade hipotética

Condições climáticas

Camada Horizonte

-33.000 a -18.000 Aridificação

2 (t1)

-16.000 a -12.000 Fria, seca Displuvial: seco, -12.000 a -11.000 erosão -10.000 a 8.000 Suavização climática

3e4

-8.000 a -6.500

Seco, quente

7 (pp2)

Santo Antônio

-6.500 a -4.500

Suavização climática

solo

Marchiori etc.?

-4.500 a -2.500

Erosão

Hiato *

Marchiori etc.?

Suavização climática

solo

Cerâmica Itirapina?

-2.000 a atual

5 (pp1)

Santa Rosa etc. Monjolo Velho

6

Visto em vários sítios (ver pág. 88 acima).

Futuros trabalhos poderão indicar se uma ou outra dessas correlações tem valor ou não, embora o primeiro passo já tenha sidofoi dado.

218

8 RESUMO

Os resultados deste trabalho podem ser resumidos muito brevemente, pois, como um primeiro estudo dessa espécie em toda a região, não poderia ir muito longe. 1) Constatamos o fato de que o processo de paleopavimentação é cíclico, e que há mais do que um paleopavimento. 2) Estabelecemos o fato da presença do homem em épocas anteriores à atual na Bacia de Rio Claro. 3) Estabelecemos que o homem paleo-indígena dessa região teve um desenvolvimento no local bastante longo e com grandes mudanças registradas na tecnicultura. 4) Estabelecemos três técnicas de preparo da matéria-prima (sílex) das ferramentas líticas nessa região: a) quebra dos seixos em estilhaços, escolhendo os pedaços que mais aproximam a ferramenta desejada; b) lasqueamento primário, tirando lascas ou lâminas com bulbo de percussão, de um núcleo, utilizando uma plataforma de percussão; c) lasqueamento, com percutor e bigorna (“bloco-sobrebloco”), tirando lascas côncavas, deixando um núcleo em forma de uma bola poliédrica, e com bulbo cônico na lasca. 5) Estabelecemos uma tecnicultura paleoindígena adaptada a uma vida de caça e preparo de couro e ferramentas de madeira e osso, sugerindo condições climáticas de estepe ou savana com florestas de galeria. 6) Definimos duas fases, em relação às formações geológicas e depósitos superiores, na Bacia de Rio Claro, e indicamos as relações cronológicas entre os componentes destas fases, e de horizontes anteriores (t1) e posteriores (solo recente), e ainda sugerindo umas correlações provisórias para a cronologia absoluta, que mais satisfazem às condi221

Tom Oliver Miller Junior

ções de harmonizar as características formais associadas a essas fases com o que conhecemos de outras regiões do Continente, do Hemisfério, e do Mundo. 7) Estabelecemos uma metodologia e uma abordagem adequadas a futuros estudos arqueológicos da pré-história da região e do país. 8) Estabelecemos uma tipologia de gumes e bicos de ferramentas líticas, pela primeira vez em tais estudos, o que deve facilitar consideravelmente futuros estudos do gênero. 9) Estabelecemos as bases para estudos de culturas líticas sem pontas de projétil, sem perder nenhuma base para comparações, embora não usando pontas para indicadores de tradições e horizontes. 10) Estabelecemos as bases (para comparações) para estudos de fatores paleo-ecológicos dos povos da região. 11) Estabelecemos pela primeira vez a utilidade de uma linha de regressão para inferir cronologia arqueológica. 12) Estabelecemos elementos para estudos da cronologia dos depósitos correlativos dos diferentes níveis erosivos regionais.

222

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Notas 1. (p. 16) – Penteado ainda não tinha feito uma distinção entre o Terraço Pedimentado Inferior ou Terração Fluvial Inferior (t1) e o Terraço de Várzea (tv), todos tendo sido interpretadas como t1. Ver Pós-Fácio para uma discussão das mudanças de interpretações após 1968. 2. (p. 33) – Mais recentemente, alguns estudiosos fazem objeções a esta visão da Arqueologia, querendo que seja mais “A Ciência da Cultura Material” (Tecnologia), pois não tem outra Ciência que trate isto, ou então porque a definição deixaria a Arqueologia como apenas um conjunto de técnicas para “ilustrar” a História pré-escrito. Pela nossa formação, a Arqueologia para nós é a Antropologia Sociocultural do passado. 3. (p. 49 e ) – Agora consideramos estas duas formações como exemplos do Terraço de Várzea (tv) e não do Primeiro Terraço Fluvial (t1) ou Primeiro Teraço Pedimentado (TP1). Ver Pós-Fácio. 4. (p. 52) – Veja que esta afirmação, na base da observação dos restos arqueológicos, foi feita antes do trabalho realizada com os Xêta, publicado em 1979, mas parcialmente comentado em 1975. 5. (p. 83) – Ver nota 1 da página 16. 6. (p. 155, Tabela de Datação) – A data para Santa Rosa nesta tabela está equivocada, porque presume que o seu contexto é do Baixo Terraço Fluvial em vez do Terraço de Várzea, distinção que ainda não tinha sido feito. Adicionalmente, não temos a análise feita para testar os dados quantificados comparativamente, sem encontrar a sua posição na Linha de Regressão. Não foi feito por causa de dúvidas nossas sobre a natureza do depósito, muito embora a tecnologia e 223

Tom Oliver Miller Junior

os instrumentos apontem tudo o que foi dito na tese original. Ver o Pós-Fácio para maiores esclarecimentos. 7. Todos os exemplos de Raspador Vertical (Abrupto) devem ser reexaminados, pois, pensamos agora que os bicos e reentrâncias, tanto quanto os micro-retoques, podem fazer parte do preparo da margem da plataforma em vez de margens feitos para processar outras matérias primas.

224

ANEXOS

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Na edição mimeografada de 1968, constava como anexo um grupo de desenhos de artefatos típicos. Manteremos o mesmo como Anexo I, e ainda achamos conveniente juntar ao trabalho dois artigos publicados em 1969, com o mesmo tipo de apresentação do texto de 1968, assim acrescentando mais informação disponível ao leitor, pois era limitada a circulação da publicação em questão Os dois apareceram num volume mimeografado lançado pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro, com o título da série sendo “Cadernos Rioclarenses de Ciências Humanos”, o volume sendo o número 1 da série. O trabalho sobre o Sítio de Poço Fundo (Anexo II) é da nossa autoria e se encontra nas páginas 1-21 do volume. O outro é sobre o Sítio de São Lourenço (Anexo III), e foi feito em co-autoria com duas bolsistas da FAPESP, Maria Eugênia Brandão do Prado e Leonida Vivan. Esse estudo se encontra nas páginas 53-88 do mesmo volume. Levando em consideração o fato de que mudanças em certos aspectos das nossas interpretações passaram despercebidas, nos anos seguintes, achamos conveniente fazer uma espécie de retrospecto ao trabalho, o que aqui se apresenta como um Pós-Fácio, no Anexo IV.

227

228

ANEXO I Artefatos Típicos da Bacia de Rio Claro

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Figura 8

231

Tom Oliver Miller Junior

Figura 9: Tipos de Facas.

232

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Figura 10: Tipos de Facas.

233

Tom Oliver Miller Junior

Figura 11: Tipos de Facas.

234

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Figura 12: Raspadores com 2 pés.

235

Tom Oliver Miller Junior

Figura 13: Raspador Carinado.

236

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Figura 14: Casca de Tartaruga.

237

Tom Oliver Miller Junior

Figura 15: Tipos de Raspadores – Lesma e Raspador Vertical abrupto.

238

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Figura 16: Gumes Padronizados.

239

240

ANEXO II Prospecções no Sítio Arqueológico Lítico de Poço Fundo, Estado de São Paulo

Tom Oliver Miller Junior

Foto 36: Erosão da Vertente.

242

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

PROSPECÇÕES NO SÍTIO ARQUEOLÓGICO LÍTICO DE POÇO FUNDO, ESTADO DE SÃO PAULO Tom O. Miller, Jr. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro O presente trabalho trata de prospecções feitas numa jazida lítica estratificada na Bacia de Rio Claro, Estado de São Paulo. Dentro da Depressão Periférica, há uma série de bacias fluviais, incluindo, entre outras, a Bacia de Rio Claro (definida em Penteado, 1968), cujos principais rios são o Corumbataí e os seus afluentes, especialmente o Passa Cinco. Poço Fundo encontra-se (Figura 17) no Passa Cinco, perto da desembocadura deste no Corumbataí. Aqui, pouca distância de superfícies interfluviais separam o Passa Cinco do Corumbataí (E) e Covitinga (W), estes dois, por sua vez, flanqueados pelas escarpas de Paraíso (W) e Pitanga (E). Neste local, o Ribeirão Passa Cinco forma a divisa entre os Municípios de Rio Claro e Ipeúna. Na frente da sede da Fazenda Poço Fundo, propriedade do Eng. Sebastião Schmidt Pinto e do Prof. José Schmidt Pinto, há uma ponte. No lado de Rio Claro (E), poucos metros rio abaixo, a partir da ponte, há um corte de barranco de uns três metros (Foto 36). Neste corte, afloram dois componentes (Figura 18). No superior, há restos de uma cultura semelhante à de São Lourenço II (VIVAN, 1969; BRANDÃO DO PRADO, 1969) na formação de solo recente, desde aproximadamente um metro de profundidade, perto do rio, até poucos centímetros de profundidade na vertente. Chegando, em certos lugares, mesmo, a aflorar na superfície. Na profundidade de poucos mais de um metro e meio, há um paleopavimento de cascalho miúdo numa deposição argilosa, até 2,5m ou mais. Ferramentas humanas de tamanho reduzido afloram neste paleopavimento. 243

Tom Oliver Miller Junior

O sítio, SP.RC.17, foi encontrado durante o Levantamento Arqueológico do Estado de São Paulo (MILLER, 1964), primeiro estágio deste, na região de Rio Claro. O trabalho foi financiado, em parte, pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, e em parte, pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro. O trabalho de campo e laboratório foi feito pelo autor e alunos do Laboratório de Arqueologia desta instituição. Nesta ocasião (1965), foi notado o componente superior (LA-51), sendo o inferior reconhecido apenas em 1968 durante um levantamento de Baixos Terraços e Paleopavimentos, pelo mesmo autor. O componente inferior (LA-89) mostra claras afinidades com Tira Chapéu II e outros componentes da Fase Monjolo Velho (MILLER, 1968), tanto quanto a São Lourenço I (BRANDÃO DO PRADO, 1969; MILLER, 1969b)

Figura 17: Croquis da Área dos Sítios Poço Fundo e São Lourenço. 244

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Descrições completas dos 155 artefatos nas prospecções encontram-se no Apêndice II, segundo a classificação do Apêndice I. Os números do catálogo de artefatos acompanham os desenhos (Figuras 19-24), de maneira que o leitor pode verificar a classificação de cada exemplo. Nas prospecções, foram retirados 61 artefatos do componente superior, do barranco e da superfície, e 94 do inferior, do barranco. Estes foram lavados, marcados e analisados no Laboratório de Arqueologia, segundo a tipologia elaborada pelo autor (MILLER, 1968; 1969a).

Figura 18:

Os modos da escolha da matéria prima dos artesãos de Poço Fundo apresentam a seguinte freqüência:

245

Tom Oliver Miller Junior

Poço Fundo II

Poço Fundo I

MATERIAL

F

%

F

%

Sílex não siltado Sílex siltado Outro sílex Quartzo Ágata Diábase S=

17 36 7 0 0 1 61

27,9 59,0 11,5 0,0 0,0 1,6 100,0

26 54 0 6 8 0 94

27,7 57,4 0,0 6,4 8,5 0,0 100,0

Com verniz

36

59,0

78

83,0

A proporção de sílex siltado/não siltado é igual, o que é de admirar, tratando de componentes de formações diferentes. O uso de quartzo e ágata é normal na Fase Monjolo Velho. A peça de diábase de Poço Fundo II é o machado de pedra polida (Figura 25). A alta proporção de verniz nas peças deste componente mostra duas coisas: devem ter ficado na superfície em tempos secos (GOODWIN, 1960), e, desde que estão em solo recente, não podemos confiar nesta característica para a indicação de datas relativas. Os modos da base mostram o seguinte aproveitamento para artefatos: BASE Núcleo Lasca primária Lasca secundária Lâmina Lâmina lateral Chapa de sílex tabular Fragmento sem

Poço Fundo I 14 22,9 36 59,0 0 0,0 2 3,3 2 3,3 0

Poço Fundo II 0 0,0 12 12,8 0 0,0 0 0,0 0 0,0

0,0

46 48,9 246

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

forma definível Pedrinha fendida Lasca côncava S= Peça velha retrabalhada

5 0 2 61

8,2 0,0 3,3 100,0

2

3,3

26 27,7 10 10,6 0 0,0 94 100,1 0

0,0

Nos tempos de Poço Fundo II, a manufatura de artefatos líticos deu maior ênfase em lascas tiradas de núcleos, também aproveitados, enquanto nos tempos de Poço Fundo I a maior ênfase foi na utilização de chapas e fragmentos espatifados, utilizados com a mínima modificação. Três peças de Poço Fundo II (4,9%) foram trabalhadas bifacialmente, sendo uma ponta de projétil (51-46), um machado de pedra polida (51-61, e um chopping tool de forma oval (51-52). O resto do ajuntamento (58 peças: 95,1%) apresenta trabalho numa face só. Nenhum artefato de Poço Fundo I foi trabalhado nas duas faces. FORMA DEFINÍVEL Total peças Poliédrica Discoidal ou oval Triangulóide Semilunar Folha de louro

F 18 1 8 3 1 1

% 29,5 1,6 13,1 4,9 1,1 1,1

f 1 0 0 0 0 0

% 1,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

Secção transversal Cônica Côncavo-convexa Prismática Plano-convexa Biconvexa (chata) Biconvexa (grossa) Triangular

F 1 2 1 3 1 1 1

% 1,1 3,3 1,6 4,9 1,6 1,6 1,6

f 0 0 0 0 0 0 1

% 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 1,1

247

Tom Oliver Miller Junior

No Poço Fundo II, como no caso de São Lourenço II, embora uma minoria dos artefatos tenham uma forma definível, sua proporção é maior do que qualquer componente das Fases Monojolo Velho (nenhuma) e Santo Antônio (poucas: MILLER, 1968). Os modos do tamanho obedecem à seguinte distribuição de freqüências: TAMANHO Grossura Mais de 2,0 cm De 0,5 cm a 2,0 cm Menos de 0,5 cm S=

25 36 0 61

41,0 59,0 0,0 100,0

0 51 43 94

0 54,3 45,7 100,0

9 44 6 0 2 61

14,8 72,1 9,8 0,0 3,3 100,0

0 2 36 56 0 94

0,0 2,1 38,3 59,6 0,0 100,0

Comprimento Mais de 10,0 cm De 4,0 cm a 10,0 cm De 2,0 cm a 4,0 cm Menos de 2,0 cm Não determinável S=

A diferença na distribuição de freqüências de tamanho entre os dois componentes, como se vê, é enorme. O tamanho reduzido de artefatos é uma característica da Fase Monjolo Velho. Os modos da manufatura e acabamento também são reveladores, como se vê na seguinte distribuição:

248

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

MANUFATURA Plataforma de percussão Bulbo conchoidal Bulbo cônico Percussão direta simples Percussão direta controlada Toda face trabalhada Lascas grandes, grossas, discoidais Crosta deixada em parte

Poço Fundo II F % 31 50,8 30 49,2 8 13,1 21 32,8 40 65,6 4 6,6 1 1,6 17 27,9

Poço Fundo I f % 9 9,6 0 0,0 0 0,0 91 96,8 5 5,3 0 0,0 0 0,0 21 22,3

ACABAMENTO Percussão direta controlada Percussão indireta ou pressão Esfregado Triturado ou polido Batido (como martelo) Retoques marginais em volta Retoques marginais ocasionais Micro-retoques

37 56 10 1 1 15 5 7

59 4 1 0 2 1 11 77

60,7 91,8 16,4 1,6 1,6 24,6 8,2 11,5

62,8 4,3 1,1 0,0 2,1 1,1 11,7 81,9

Naturalmente, estes termos não são mutuamente exclusivos. Juntando estes dados com os resultados de experiências no laboratório, vê-se que a tecnologia consistia na seguinte:

Tecnicultura de Trabalho Poço Fundo I: um bloco ou seixo, ou chapa, escolhido foi espatifado contra outro, e os fragmentos selecionados para os usos simples de cortar, talhar ou raspar. Foram escolhidas peças que requeriam menor modificação para uso. Raras vezes uma lasca primária foi tirada de um núcleo, a partir de uma plataforma de percussão. Este trabalho talvez não tenha sido feito no local, pois nenhum núcleo foi encontrado. 249

Tom Oliver Miller Junior

Poço Fundo II: Duas técnicas de lasqueamento primário foram empregadas. Um bloco de sílex foi escolhido, e quebrado de maneira a deixar uma superfície plana, a qual servia de plataforma de percussão. Golpes foram desfechados contras as margens desta plataforma, deixando um bulbo conchoidal na lasca, junto à plataforma, e sua cicatriz (bulbo negativo) no núcleo. Na segunda técnica, o núcleo está colocado numa bigorna (“bloco-sobre-bloco”) e recebe golpes de um percurtor. Neste caso, as lascas saem freqüentemente de forma côncava (ou côncava-convexa), com bulbo em vez de conchoidal. O núcleo gasto tem a forma de uma bola poliédrica. Estas bolas foram usadas, embrulhadas em couro e ligadas a uma corda, para projéteis na caça (como entre os gaúchos). O povo do componente Poço Fundo I utilizou o princípio de mínimo esforço na confecção dos seus instrumentos, modificando o fragmento de sílex com uns poucos golpes diretos ou fazendo micror-retoques por pressão. No caso de Poço Fundo II, para preparar instrumento de melhor feitio maior cuidado foi o costume, embora, como em todas as jazidas do leste deste continente, muito menos do que em outras áreas do mundo. A impressão forte é que os instrumentos foram, freqüentemente, usados na mão, pelo povo de Poço Fundo II, e como partes de ferramentas compósitas (osso, madeira) pelo povo de Poço Fundo I. Gumes: Uma abordagem funcionalista nos impulsiona a ver, em primeiro lugar, as partes dos artefatos que trabalhavam (MILLER 1964). Estes são os bicos, as reentrâncias e entalhes, e os gumes. Destes, os gumes são os mais complicados, sendo combinações de atributos medidos em três parâmetros, ou seja, forma, ângulo e largura. Na tipologia desenvolvida (ver PARTE V), de vinte e nove tipos, nós encontramos, destes, os seguintes em Poço Fundo:

250

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

TIPOS DE GUMES Tipo 1 Tipo 3 Tipo 4 Tipo 5 Tipo 6 Tipo 7 Tipo 8 Tipo 9 Tipo 10 Tipo 11 Tipo 12 Tipo 14 Tipo 15 Tipo 16 Tipo 17 Tipo 18 Tipo 19 Tipo 20 Tipo 21 Tipo 23 Tipo 24 Tipo 25 Tipo 26 Tipo 27 Tipo 28 Miscelânia

Poço Fundo II F % 2 3,2 4 6,5 5 8,1 2 3,2 1 1,6 4 6,5 1 1,6 1 1,6 2 3,2 1 1,6 2 3,2 2 3,2 2 3,2 1 1,6 2 3,2 8 12,9 5 8,1 1 1,6 8 12,9 1 1,6 0 0,0 2 3,2 1 1,6 1 1,6 0 0,0 3 4,8 62 99,8

Poço Fundo I f % 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 3,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 2 6,1 0 0,0 0 0,0 4 12,1 0 0,0 1 3,0 1 3,0 0 0,0 6 18,2 0 0,0 0 0,0 0 0,0 15 45,5 1 3,0 33 100,0

Dois gumes não classificados (“miscelânea”) para Poço Fundo II são quebrados, mas parece que são Tipo II, o que daria 4,8% para este tipo. 251

Tom Oliver Miller Junior

Com estes totais, podemos ver o seguinte:

Peças com gumes Número de gumes Razão de gumes por peça FORMA DO GUME Côncava, arco 2 Côncava, arco 4 Côncava, arco 6 Côncava, arco 8 Côncava, arco 10 Côncava, arco 12 Côncava, arco 18 Reta Convexa, arco 18 Convexa, arco 12 Convexa, arco 10 Convexa, arco 8 Convexa, arco 6 Convexa, arco 4 Escopro Com ombro Ondulante Irregular S= ÂNGULO DO GUME 30º 35º 40º 45º 50º 55º 60º

Poço Fundo II F % 41 67,2 62

Poço Fundo I f % 30 31,9 33

1,51

1,10

1 1 1 1 1 2 2 14 10 1 4 2 3 4 1 0 2 12 62

1,6 1,6 1,6 1,6 1,6 3,2 3,2 22,6 16,1 1,6 6,5 3,2 4,8 6,5 1,6 0,0 3,2 19,4 99,9

0 0 1 0 0 0 1 25 2 0 0 0 0 1 0 1 2 0 33

3 5 5 5 6 5 11

4,8 8,1 8,1 8,1 9,7 8,1 17,7

0 0 0 1 0 1 2

252

0,0 0,0 3,0 0,0 0,0 0,0 3,0 75,8 6,1 0,0 0,0 0,0 0,0 3,0 0,0 3,0 6,1 0,0 100,0 0,0 0,0 0,0 3,0 0,0 3,0 6,1

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

65º 70º 75º 80º 85º 90º 95º 100º S= X = (Médio)

9 6 3 0 4 0 0 0 62

14,5 9,7 4,8 0,0 6,5 0,0 0,0 0,0 100,1 56,37º

COMPRIMENTO DO GUME 1,0 cm 2 3,2 1,5 cm 11 17,7 2,0 cm 17 27,4 2,5 cm 12 19,4 3,0 cm 2 3,2 3,5 cm 3 4,8 4,0 cm 4 6,5 4,5 cm 1 1,6 5,0 cm 6 9,7 5,5 – 6,5 cm 0 0,0 7,0 cm 4 6,5 S= 62 100,0 X= 2,88 cm

2 4 3 1 5 14 0 1 33

6,1 12,1 9,1 3,0 15,2 42,4 0,0 3,0 99,9 82,58º

21 63,6 10 30,3 2 6,1 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 33 100,0 1,21 cm

Já foram estabelecidas (MILLER, p. 111-3) as razões para incluir gumes de arcos abertos (12 e 18) junto com os retos. O arco é uma medida do diâmetro do círculo do qual o arco foi tirado. Gumes irregulares são facas, o que falta no componente inferior, a mesma explicação obtendo para a diferença de distribuição de ângulos entre os dois componentes. Gumes de ângulos fechados servem melhor para facas, para cortar substâncias macias; enquanto gumes de ângulos muito abertos servem melhor para trabalho em madeira e osso. 253

Tom Oliver Miller Junior

Tecnicultura Industrial Sessenta e oito tipos de artefatos foram encontrados nos dois componentes, sendo assim divididos: Implementos de caça, curtume, etc. FACAS (total) Canivetes (Figuras 19, 22 e 24) Enxertadeira (atípica) (Figura 19) Faca de mão (ulu, tchi-tho) (Figura 24) Faca de lasca preparada Faca em forma de folha (Figura 24) Faca semilunar (Figura 21) Faca discoidal ou oval (Figura 22) Faca de gume reto Faca de gume irregular (Figura 22) Faca com lasca retocada Outras facas

RASPADORES (total) Raspador lateral Raspador terminal Raspador vertical (Figura 23) Raspador discoidal Raspador plano-convexo Raspador com bicos (Figuras 19 e 21) Bico C Bico E Bico F Bico quadrangular (Raspador com bicos) Bico de pato Bico bifurcado 254

35 5 0 5 1 1 1 4 8 7 1 7

57,4 8,2 0,0 8,2 1,6 1,6 1,6 6,6 13,1 11,5 1,6 11,5

11 3 1 0 0 0 0 0 2 0 1 5

11,7 3,2 1,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 2,1 0,0 1,1 5,3

Poço Fundo II Poço Fundo I f % f % 26 42,6 14 14,9 4 6,6 2 2,1 7 11,5 5 5,3 6 9,8 3 3,2 3 4,9 0 0,0 1 1,6 0 0,0 19 31,1 3 3,2 3 4,9 5 5,3 5 8,2 1 1,1 4 6,6 1 1,1 0 0,0 1 1,1 2 3

3,3 4,9

0 2

0,0 2,1

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Bico pé 2 ou 3 pés (Figura 23)

4 11

6,6 18,0

3 0

3,2 0,0 2,1

Outros raspadores

0

0,0

2

FURADORES (total) (Figuras 19 e 20) Bico A pequeno com pescoço Bico A com pescoço Bico D com pescoço Cinzel com pescoço Bico D sem pescoço Chopping Tool Oval (Figura 25) Bola (Figura 21) Ponta de Projétil (Figura 21) Lasca Retocada

4 1 0 1 0 2 1 1 1 1

6,6 1,6 0,0 1,6 0,0 3,3 1,6 1,6 1,6 1,6

17 4 1 4 5 4 0 0 0 0

18,1 4,3 1,1 4,3 5,3 4,3 0,0 0,0 0,0 0,0

Implementos de trabalho em madeira e osso etc. Poço Fundo II f % Machado (Figura 25) 1 1,6 Broca [“Agulha”] (Figura 20) 0 0,0 Plainas Pequenas (Figura 20) 0 0,0 Goivas (total) (Figuras 19, 21 e 22) 18 29,5 Entalhe 3 4,9 Reentrância 6 9,8 Reentrância rasa 12 19,7 Reentrância com ângulo 1 1,6 FORMÕES (total) (Figuras 19, 21 e 22) 37 60,7 Bicos simples (Figura 8) Bico A pequeno 0 0,0 Bico A 4 5,4 Bico B 5 6,8 Bico C 4 5,4 Bico D 2 2,7 Bico E 5 6,8 Cinzel 0 0,0 255

Poço Fundo I f % 0 0,0 2 2,1 19 20,2 27 28,7 1 1,1 2 2,1 25 26,6 0 0,0 66 67,0 5 11 2 8 9 1 6

6,5 14,3 2,6 10,4 11,7 1,3 7,8

Tom Oliver Miller Junior

Bico quadrangular Bico oco Bicos com pescoço Bico A pequeno Bico A Bico B Bico C (F) Bico cinzel (Figura 19) Bico quadrangular Bicos entre entalhes Bico A pequeno Bico A Bico B Bico C Bico AA Bico E Cinzel Bico quadrangular Bico bifurcado Buril (Figura 20) Total de bicos Razão de bicos por formão

2 1

2,7 1,4

2 0

2,6 0,0

0 5 4 4 0 1

0,0 6,8 5,4 5,4 0,0 1,4

1 9 0 0 5 1

1,3 11,7 0,0 0,0 6,5 1,3

2 3 0 3 3 0 0 0 0 6 77

2,3 3,9 0,0 3,9 3,9 0,0 0,0 0,0 0,0 7,8 99,8 1,22

3 10 5 3 1 2 1 2 9 0 74

4,1 13,5 6,8 4,1 1,4 2,7 1,4 2,7 12,2 0,0 100,5 2,00

Muitas peças tiveram para mais de uma função. Não se sabe com certeza em quais casos foi na mesma operação ou em quais foi reuso de uma peça usada e jogada, como matéria-prima para outra atividade em outra ocasião. No primeiro caso teria uma tendência de associação a certas espécies de bicos, gumes etc, e, no segundo, uma associação à toa. Algumas das combinações observadas são: COMBINAÇÕES

Poço Fundo II F % 10 16,4 3 4,9

Faca com Raspador Faca com Furador 256

Poço Fundo I f % 2 2,1 1 1,1

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Faca com Formão (Figuras 19 e 22) Faca com Goiva (Figura 22) Raspador com Formão Raspador com Goiva Raspador com Plaina pequena Furador com Formão Furador com Goiva Formão com Goiva Formão com Plaina pequena Goiva com Plaina pequena

21 9 12 10 0 4 1 14 0 0

34,4 14,8 19,7 16,4 0,0 6,6 1,6 23,0 0,0 0,0

5 1 9 2 5 9 2 14 11 6

5,4 1,1 9,6 2,1 5,3 9,6 2,1 14,9 11,7 6,4

A comparação das porcentagens do inventário cultural dos dois componentes de Poco Fundo mostra que Poço Fundo II está dentro da Tradição Rio Claro (MILLER 1969b). Uma Tradição Direta (HAURY et al., 1956) adaptada a uma ecologia de caça e curtume num ambiente de estepe ou bosque, e que Poço Fundo I está dentro da Tradição Ipeúna: uma Tradição em Divergência e Redução, adaptada a uma vida florestas, com ênfase em trabalho de madeira.

Caça, curtume, etc. CAÇA Bolas Pontas DESCARNAR Chopping tools Facas CURTUME e COSTURA Furadores Raspadores Total

Marcenaria, etc. 257

II 1,6 1,6

I 0 ,0 0,0

1,6 57,4

0,0 11,7

6,6 42,6 111,4

18,1 14,9 44,7

Tom Oliver Miller Junior

Goivas Plainas Pequenas Formões Brocas Total

29,5 0,0 60,7 0,0 90,2

28,7 20,2 67,0 2,1 118,0

Comparação entre Poço Fundo II e a Tradição Rio Claro: Vinte e duas variáveis das usadas anteriormente (MILLER, 1968, p. 133-6) foram selecionadas como sensíveis às mudanças no tempo dentro da Tradição Rio Claro, sendo 12 características em aumento e dez em redução (ver também a discussão de tipologia do mesmo volume). Aqui, comparamos Poço Fundo II (LA-51) com São Lourenço II (LA-37; VIVAN, 1969; BRANDÃO DO PRADO, 1969); Tamandupá (LA-44, MILLER, 1968, p. 102-10), Serra d`Água III (LA-76, Ibidem, p. 95-101), e Tira Chapéu III (LA-61, Ibidem, p. 47-62). Nas características que aumentam com o tempo, o valor dos componentes é tirado do de LA-51; nas que diminuem, o valor de LA-51 é tirado do outro. AUMENTAM COM O TEMPO (“51” – X = D)

37

44

61

75

Lasca primária Plataforma de percussão Bulbo conchoidal Raspador vertical Raspador com bico pé Raspador com 2 ou 3 pés Chopping tool Facas Canivetes Faca de mão Gume 3,0 cm e + G. conv. arco 10

19,5 0,8 19,4 -11,3 4,8 14,5 1,6 21,4 1,2 7,2 1,5 0,3

9,3 15,8 22,2 0,3 3,8 11,6 0,1 7,1 3,9 5,1 -14,0 6,1

41,4 36,1 43,1 5,7 5,0 14,7 0,8 30,5 8,2 7,8 16,1 6,0

32,8 27,7 40,5 8,1 5,7 17,6 0,7 31,6 6,9 8,2 25,2 5,7

258

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

DIMINUEM COM O TEMPO (X – “51” = D) Sílex siltado Bulbo cônico Poliédrica Raspador lateral Bolas Bico C entre entalhes Plaina pequena Cinzel Gume 1,5 cm (e menos) Gume tipo 28

-1,6 0,1 0,2 0,4 -1,6 1,6 6,1 0,0 11,4 4,6 102,2

71,5 1,0 1,2 6,9 -1,0 13,3 1,8 0,7 -2,5 1,1 165,3

71,7 -12,7 5,7 8,9 2,9 3,2 15,9 5,6 33,4 18,6 368,6

69,0 6,6 4,1 5,6 1,5 2,9 5,2 4,9 42,1 12,6 364,2

Tira Chapéu III (LA-61) sendo o mais antigo desta série, está tomado como a outra base com as mesmas características: AUMENTAM COM O TEMPO (X – “61” = D) Lasca primária Plataforma de percussão Bulbo conchoidal Raspador vertical Raspador com bico pé Raspador com 2 ou 3 pés Chopping tool Facas Canivetes Faca de mão Gume 3,0 cm (e+) Gume conv. arco 10

75

44

37

8,6 8,4 2,6 -2,4 -0,7 -2,9 0,1 -1,1 1,3 -0,4 -9,1 0,3

32,1 20,3 20,9 5,4 1,2 3,1 0,7 23,4 4,3 2,7 30,1 0,1

21,9 35,3 23,7 17,0 0,2 0,2 -0,8 9,1 7,0 0,5 14,6 5,7

DIMINUEM COM O TEMPO (“61” – X = D) Sílex siltado Bulbo cônico

-2,7 19,3

0,2 -13,7

73,3 -12,8

259

Tom Oliver Miller Junior

Poliédrica Raspador lateral Bolas Bico C entre entalhes Plaina pequena Cinzel Gume 1,5 cm (ou Gume tipo 28

-1,6 -3,3 -1,4 -0,3 -10,7 -0,7 8,7 -6,0 6,0

4,5 2,0 3,9 -10,1 14,1 4,9 35,9 17,5 203,5

5,5 8,5 4,5 1,6 9,8 5,6 22,0 14,0 266,4

Com estas comparações podemos fazer uma linha de regressão, o que representa a soma das diferenças (distância) entre os componentes da Tradição Rio Claro. No ajuste, x = X- ΣX/nX e y = Y – ΣY/nY. (x igual a média das freqüências de X menos X) (y igual a média de Y – Y). Poço Fundo II São Louranço II Tamandupá Serra d’Água II Tira Chapéu III S= X = 168,9

61 (X) 368,6 266,4 203,5 6,0 0 844,5

51 (Y) 0 102,2 165,3 364,2 368,6 1000,3

X 199,7 97,5 34,6 -162,9 -168,9

Y -200,1 -97,9 -34,8 164,1 168,5

Y = 200,1

Esta relação pode ser expressa graficamente em forma de uma linha (Gráfico 12). Uma relação semelhante já foi calculada entre São Lourenço I, a Fase Monjolo Velho e Poço Fundo I (BRANDÃO DO PRADO, 1969, p. 64-5), com o seguinte resultado: Monjolo Velho Poço Fundo I Bairro do Cabeça Tira Chapéu II São Lourenço I

x 222,2 115,7 101,2 -81,7 -357,4 260

Y -226,6 -103,8 -101,6 78,8 353,0

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

O quadro supra mostra (Gráfico 12 e 13) que Poço Fundo I é um componente da Fase Monjolo Velho (baixo Paleopavimento) dentro da Tradição Ipeúna. A nossa seqüência racional agora consta: Poço Fundo II São Lourenço II Tamandupá Serra d’Água III 1º PALEOPAVIMENTO Tira Chapéu III Monjolo Velho Poço Fundo I 2º PALEOPAVIMENTO Bairro do Cabeça Tira Chapéu II São Lourenço I BAIXO TERRAÇO3 Santa Rosa I SOLO RECENTE

------FASE SANTO ANTÔNIO FASE SANTO ANTÔNIO FASE SANTO ANTÔNIO FASE MONJOLO VELHO FASE MONJOLO VELHO FASE MONJOLO VELHO FASE MONJOLO VELHO --------

Conclusões O sítio arqueológico de Poço Fundo, Município de Rio Claro, Estado de São Pulo, apresenta dois componentes em formações geomorfológicas distintas, com inclusões culturais distintas. O componente superior (Poço Fundo II (LA-51) mostra claras semelhanças com o componente São Lourenço II, também na formação de solo recente, e na Tradição Rio Claro, com adaptações adequadas a uma ecologia de caça e curtume, num ambiente de estepe ou bosque, no arcaico ou pré-cerâmico (Silva 1967). O componente inferior (Poço Fundo I, LA-89) cabe muito bem na já definida Fase Monjolo Velho, da Tradição Ipeúna, uma tradição adaptada a uma economia florestal, com ênfase no trabalho de madeira.

Recomendações Já sabendo a posição cultural de Poço Fundo II, este componente deve ser escavado para aumentar a definição da cultura e conseguir amostras de radiocarbono para datação absoluta. O componente 261

Tom Oliver Miller Junior

inferior também pode proporcionar-nos maiores esclarecimentos sobre a Fase Monjolo Velho, desde que é a camada maior de baixo paleopavimento observada até agora.

Gráfico 12: Linha de Regressão da Tradição Rio Claro, incluindo Poço Fundo II e São Lourenço II.

262

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Figura 19: Artefatos de Poço Fundo I

263

Tom Oliver Miller Junior

Figura 20: Artefatos de Poço Fundo I

264

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Figura 21: Artefatos de Poço Fundo II

265

Tom Oliver Miller Junior

Figura 22: Artefatos de Poço Fundo II

266

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Figura 23: Artefatos de Poço Fundo II

267

Tom Oliver Miller Junior

Figura 24: Artefatos de Poço Fundo II

268

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Figura 25: Artefatos de Poço Fundo II

269

Tom Oliver Miller Junior

SUMMARY Poço Fundo is a two-component lithic site on the Passa Cinco River, at its confluence with the Corumbataí, in the Rio Claro Basin, in central São Paulo State. The upper component, in recent soil formation, is characterized by Stone knives, scrapers, forming tools, apokeshaves, and other tools, in variety of forms. A bifacial discoidal chopping tool, a ground Stone axé, ans a fragmento f projectile point were also present. The assemblage shows clear affinities to São Lourenço II, also in recent soil formation. The lower componet (Poço Fundo I) is a small-tool assemblage tipical of the Monjolo Velho Phase, of the Ipeúna Tradition, in imbricated Sandy grey Clay, clearly the pp2 formation. The site is interesting s the two componentes, besides being of different geological strata, are also of separate traditions.

Figura 26: Exemplo de Ficha de Laboratório 270

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

APÊNDICE I Chave da tipologia lítica para fichas de laboratório MATERIAL B1 Sílex não siltado B2 Sílex siltado B3 outro sílex B4 quartzo B5 quartzito B6 cristal de quartzo B7 arenito silicificado B8 ágata B9 diabase B10 basalto B11 granito B12 com verniz B13 com pátina BASE L1 (uniface) L2 biface L3 núcleo L4 lasca primária L5 lasca secundária L6 lâmina L7 seixo quebrado L8 chapa de sílex tabular L9 lasca (lâmina) lateral L10 peça velha retrabalhada L11 fragmento sem forma definível L12 pedrinha fendida L13 lasca côncava (bulbo cônico)

TAMANHO C1 grosso (mais de 2,0 cm) C2 fino (menos de 0,5 cm) C3 miniatura (menos de 2,0 cm) C4 pequeno (menos de 4,0 cm) C5 grande (mais de 10,0 cm) C6 leve (menos de 50 gr) C7 pesado (mais de 200 gr) C8 muito pesado (mais de 400 gr) MANUFATURA Z1 plataforma de percussão visível Z2 plataforma com facetas Z3 bulbo conchoidal visível Z4 bulbo cônico visível Z5 lascas grandes, grossas, discoidais Z6 lascas finas compridas Z7 lascas finas largas Z8 toda face trabalhada Z9 percussão direta simples Z10 percussão direta controlada Z11 crosta deixada em qualquer parte ACABAMENTO X1 percussão direta controlada X2 percussão indireta ou pressão X3 esfregado X4 triturado ou polido 271

Tom Oliver Miller Junior

X5 serrações não removidas X6 dentado FORMA A1 poliédrica A2 discoidal ou oval A3 retangulóide A4 triangulóide A5 semilunar A6 folha de louro A7 folha de salgueiro Secção transversal A8 cônica A9 côncavo-convexa A10 prismática A11 plano-convexa A12 biconvexo (achatada) A13 biconvexo (grossa) A14 triangular ou parabólica a (arco do gume) FACAS J1 canivete J2 enxertadeira J3 faca de mão J4 faca de lasca preparada J5 faca em forma de folha J6 faca semilunar J7 faca discoidal ou oval J8 outras facas J9 faca de gume reto J10 faca de gume irregular X7 marcas de bater (como martelo) X8 retoques marginais em volta

X9 retoques marginais ocasionais X10 retoques irregulares (mousterioide) X11 micro-retoques X12 sinais de uso (apenas) ÂNGULO DO BULBO DE PERCUSSÃO (aB) medido em graus desde a plataforma FORMA DO GUME F1 côncavo F2 reto F3 convexo F4 escopro F5 corte com ombro F6 ondulante F7 irregular F8 Curva-S (lascas alteradas – bifacial) T (tipo de gume) RASPADORES Q1 raspador lateral Q2 raspador terminal Q3 carapaça de tartaruga (lesma) Q4 outro raspador Q5 plaina Q6 raspador vertical7 Q7 raspador de bico comprido Q8 raspador haltere Q9 raspador discoidal Q10 raspador carinado J11 faca de lâmina J12 faca lâmina prismática 272

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

BICOS DE RASPADOR M1 bico quadrangular M2 bico bifurcado M3 bico C M4 bico F M5 bico E M6 bico pé M7 2 ou 3 pés M8 bico de pato

J13 faca triangulóide J14 faca de lasca retocada GOIVAS D1 reentrância D2 entalhe D3 reentrância quadrangular D4 reentrância com ângulo D5 reentrância rasaFORMÕES Q11 raspador com bicos (ver abaixo) Q12 raspador plano-convexo FORMÕES Bicos simples V1: A pequeno V2: A V3: B V4: C V5: AA V6: D V7: E V8: cinzel V9: quadrangular V10: oco

Com pescoço V11 V12 V13 V14: (F) V15 V16 V17 V18 V19 V20: bifurcado

OUTRAS FERAMENTAS R1 martelo, soquete, percurtor R2 chopping tool R3 chopper ou talhadeira (uniface) R4 lasca utilizada R5 picão ou ponta (não projétil) R6 bigorna R7 bola

273

Entre entalhes V21 V22 V23 V24 V25 V26 V27 V28 V29

No meio do gume V31 V32 V33 V34 V35 V36 V37 V38 V39

V30: buril FURADORES T1 com bico A com pescoço T2 com cinzel com pescoço T3 bico D com pescoço T4 bico A pequeno, com pescoço T5 “agulha” (ver R13) T6 bico D sem pescoço

Tom Oliver Miller Junior

R8 lasca retocada R9 machado R10 ponta de projétil R11 plaina pequena R12 tembetá R13 broca (“agulha”)

APÊNDICE II Descrição dos artefatos de Poço Fundo POÇO FUNDO II 51-1: B2 L3 C1 Z9 Z11 X1 Q11 M5 M7 51-2: B2 B12 L3 C1 C5 Z1 Z4 Z11 X1 X2 X8 J3 V20 Gume F3 al8 7,0 cm 65º t14 51-3: B2 L3 C1 Z1 Z3 X1 X2 D5 V23 51-4: B2 L11 C1C5 Z9 X1 X2 X8 Q1 Q11 M5 M7 V20 V27 V34 51-5: B2 B12 L4 A2 Z1 Z3 Z11 X2 X3 X8 aBulbo 130º J7 Q6 Gume 1: F2 2,5 cm 35º t5: Gume 2: F3 a18 2,0 cm 40º t4: Gume 3) F7 2,5 cm 45º t3 51-6: B1 L3 C1 Z9 Z10 X1 X2 D1 D5 Q11 M7 51-7: B2 L4 C1 C5 Z4 Z9 Z11 X1 X2 X3 X11 J3 Gume F7 7,0 cm 55º t14 51-8: B3 L4 C1 Z1 Z3 Z10 Z11 X1 X2 X8 aB 120º D4 J9 Q6 Q11 M6 T6 V7 V22 Gume F3 a19 5,0 cm 50º t11 51-9: B2 B12 L4 C1 C5 Z9 Z11 X1 X2 Q6 Gume a18 5,0 cm 85º t25 51-10: B2 B12 L4 Z4 Z9 Z10 X1 X2 X3 X8 J10 Q11 M2 Gume 1: F7 2,5 cm 60º t17 Gume 2: F3 a6 3,5 cm 85º t27 51-11: B2 B12 L3 C1 Z3 Z9 Z10 X1 X2 X8 Q2 Q11 M2 V4 V20 V22 V23 51-12: B2 B12 L11 Z9 X1 X2 T3 51-13: B2 B12 L4 Z4 Z10 X1 X11 J8 V22 Gume F6 4,0 cm 55º t15 51-14: B2 L4 C1 Z3 Z10 X2 J10 V12 Gume F7 2,5 cm 30º t1 51-15: B2 L4 Z1 Z3 Z10 Z11 X2 aB 125º J1 V12 V22 Gume F7 2,0 cm 60º t16 51-16: B2 B12 L4 A11 Z10 X1 X2 X8 Q2 Q6 Q11 M6 M8 274

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

51-17: B1 B12 L3 A1 C1 Z4 Z10 X2 V2 V4 R7 51-18: B2 B12 L4 Z1 Z3 Z10 X1 X2 X8 aB 100º J9 V7 V12 V14 Gume 1: F2 1,5 cm 45º t4 Gume 2: F3 a18 2,0 cm 60º t18 51-19: B1 B12 L4 A2 Z1 Z3 Z10 X2 X8 X10 aB 105º D1 J4 J7 V2 V21 V29 Gume F3 a4 2,5 cm 40º t7 51-20: B1 B12 L4 Z1 Z3 Z10 X1 X2 X8 aB 130º D5 J8 V2 V10 V22 Gume F1 a8 2,5 cm 50º t12 51-21: B3 B12 L4 Z1 Z3 Z10 X1 X2 X8 aB 130º Q11 M2 M4 M7 V14 V20 51-22: B2 B12 L4 Z10 Z11 X1 X2 X8 D1 V7 V13 V29 51-23: B2 L4 A10 C4 Z1 Z3 Z10 X1 X2 X11 aB 115º J1 V19 Gume F2 2,5 cm 60º t19 51-24: B2 L4 Z9 X1 X2 X9 J10 T6 V2 V25 Gume F7 1,0 cm 55º t8 51-25: B1 B12 L11 Z9 X1 X2 J9 V3 V9 Gume F3 a18 2,0 cm 65º t18 51-26: B2 L3 A2 A8 C1 C5 Z9 Z11 X1 Q9 Q11 M3 M5 M7 51-27: B3 L4 Z1 Z10 X2 X11 J10 Gume F7 4,5 cm 55º t9 51-28: B3 B12 L9 C1 C4 Z1 Z3 Z10 X2 X3 J1 V7 Gume F2 1,0 cm 45º t4 51-29: B3 B12 L6 A14 Z1 Z3 Z10 X2 X3 X11 aB 120º J1 T4 Gume F7 3,0 cm 40º t3 51-30: B2 L11 C4 X1 X2 Z9 D5 Q2 Q11 M4 V13 51-31: B3 B12 L4 Z1 Z3 Z10 X2 aB 140º J8 Q6 Q11 M6 Gume 1) F3 a10 3,5 cm 70º t21 Gume 2) F2 2,0 cm 60º t18 51-32: B2 L4 A2 A11 C1 Z1 Z3 Z10 X2 X9 X11 aB 125º Q9 Q11 M4 M7 51-33: B2 B12 L4 Z1 Z3 Z10 X1 X2 aB 135º D5 Q11 M4 V13 V21 V24 Gume 1) F1 a2 1,5 cm 70º t20 Gume 2) F2 1,5 cm 70º t18 51-34: B2 L11 C4 Z9 X2 V13 51-35: B1 B12 L4 C4 Z1 Z3 Z10 X2 X3 aB 135º J8 J14 V9 Gume 1) F6 2,0 cm 60º t15 Gume 2) F3 a4 1,5 cm 35º t7 51-36: B2 L9 Z1 Z3 Z10 X2 X3 aB 130º J1 J9 V12 Gume 1) F2 1,5 cm 35º t4 Gume 2) F2 2,5 cm 65º t19 51-37: B2 B12 L4 Z1 Z3 Z10 X2 aB 100º D2 D5 Q2 V21 V23 V28 Gume F3 a4 2,0 cm 65º t21 51-38: B2 B12 L4 Z1 Z3 X1 X2 aB 120º D1 J8 V6 V20 V22 Gume F3 a10 2,0 cm 70º t21 51-39: B2 B12 L13 A2 A9 C1 C5 Z1 Z9 Z10 X1 X2 X8 D2 D5 Q9 Q11 M3 M5 M7 51-40: B1 B12 L4 A5 A11 Z1 Z3 Z10 X1 X2 X8 aB 115º J6 Q1 Q12 Gume 1) F3 a6 5,0 cm 75º t21 Gume 2) F3 a18 5,0 cm 75º t23 51-41: B1 L4 Z1 Z3 X1 X2 aB 120º D5 J9 Q6 Q11 M7 V4 V12 V22 Gume 1) F2 1,5 cm 65º t18 Gume 2) F1 a4 1,5 cm 85º t26 275

Tom Oliver Miller Junior

51-42: B1 B12 L4 A2 Z1 Z10 X1 X2 J7 Gume F3 a6 2,0 cm 40º t7 51-43: B2 B12 L4 C1 Z1 Z3 Z10 X2 aB 130º Q1 V3 Gume F1 a18 2,5 cm 85º t25 51-44: B2 L13 A2 A9 Z1 Z3 Z10 X2 X11 aB 115º J7 Gume 1) F7 1,5 cm 30º t1 Gume 2) F1 a12 1,5 cm 65º t18 Gume 3) F3 a10 2,0 cm 65º t21 51-45: B2 L3 C1 Z9 X2 X3 X9 V4 V22 51-46: B1 L2 L4 A4 A12 Z10 X2 R10 51-47: B1 B12 L4 C1 Z9 X1 X2 D1 D2 J8 Q11 M7 V3 V7 V22 V23 Gume F1 a10 1,5 cm 45º t6 51-48: B1 B12 L3 C1 C5 Z9 Z11 X1 X2 X9 D1 J9 Q2 Q11 M8 Gume 1) F2 2,0 cm 60º t 18 Gume 2) F3 a8 2,5 cm 65º t 21 51-49: B1 B12 L4 A4 C1 Z1 Z3 Z10 X1 X2 X9 aB 130º J8 J10 V20 Gume 1) F3 a18 3,5 cm 70º t19 Gume 2) F7 2,5 cm 60º t17 Gume 3) F3 a10 2,0 cm 35º t7 51-50: B1 B12 L3 C1 Z8 Z9 Z10 Z11 X2 X7 D5 V3 V20 R3 51-51: B2 L3 Z4 Z9 Z11 X1 X2 D5 V20 V22 51-52: B2 L2 A2 C1 Z4 Z5 Z10 Z11 X1 Q2 Q11 M5 M7 V27 51-53: B2 B12 L4 L10 Z1 Z3 Z10 X2 aB 130º D5 J10 Q1 Gume 1) F7 5,0 cm 35º t3 Gume 2) F1 a6 2,0 cm 60º t12 51-54: B3 L4 Z10 X2 X3 J9 V14 Gume 1) F3 a12 2,5 cm 30º t5 Gume 2) F1 a12 1,5 cm 45º t4 51-55: B1 B12 L4 C1 Z1 Z3 Z10 Z11 X1 X2 aB 135º D5 J3 V24 Gume F3 a18 4,0 cm 70º t19 51-56: B1 B12 L4 A6 Z10 X1 X2 J5 Gume 1) F3 a18 (7,0 cm?) 50º (t11?) Gume 2) F3 a18 (7,0 cm?) 55º (t11?) 51-57: B2 B12 L3 C1 C5 Z4 Z9 Z11 X1 X2 J3 Q11 M3 Gume 1) F2 2,0 cm 65º t18 Gume 2) F2 4,0 cm 60º t19 51-58: B2 B12 L4 A4 Z1 Z3 Z4 Z10 Z11 X1 X2 X8 J3 J10 Gume 1) F7 4,0 cm 40º t3; Gume 2) F4 a12 3,0 cm 50º t? 51-59: B1 B12 L4 Z1 Z3 Z10 X2 aB 135º J9 V6 V14 Gume 1) F2 2,0 cm 50º t10 Gume 2) F2 2,0 cm 50º t10 51-60: B2 L6 Z1 Z3 Z10 X2 aB 105º Q2 V3 V20 V23 Gume F3 a4 2,0 cm 60º t21 51-61: B9 L2 L3 Z13 C1 C5 Z9 X4 R9 Gume F3 a8 5,0 cm 75º t21 POÇO FUNDO I 89-1: 89-2:

B2 B12 L8 C4 Z9 X1 X11 D5 V2 V30 R11 Gume F2 1,0 cm 90º t28 B2 B12 L8 C3 Z9 X11 Q2 R8 Gume F2 1,0 cm 70º t22 276

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

89-3: 89-4: 89-5: 89-6: 89-7: 89-8: 89-9: 89-10: 89-11: 89-12: 89-13: 89-14: 89-15: 89-16: 89-17: 89-18: 89-19: 89-20: 89-21: 89-22: 89-23: 89-24: 89-25: 89-26: 89-27: 89-28: 89-29: 89-30: 89-31: 89-32: 89-33: 89-34: 89-35: 89-36: 89-37: 89-38: 89-39: 89-40:

B2 B12 L8 C2 C3 Z9 X11 T3 B2 B12 L11 C3 Z9 Z11 X11 Q6 M1 R11 Gume F2 1,0 cm 85º t24 B8 L12 C2 C3 Z9 Z11 X11 T6 V6 B1 B12 L8 C2 C3 Z9 Z10 X1 X11 T2 V18 V30 B2 B12 L8 C4 Z9 X1 X9 V2 D5 B2 B12 L8 C2 Z9 X1 X11 V9 Gume F2 1,0 cm 90º t28 B2 B12 L8 C2 C3 Z9 X11 V25 B2 B12 L8 C3 Z9 Z11 X1 X11 V8 V12 B1 B12 L11 C4 Z9 X11 V2 B2 B12 L4 C4 Z9 Z11 X1 X11 D5 Q2 M3 B1 B12 L11 Z9 X1 X11 D5 Q2 M3 B2 B12 L8 Z9 Z11 X1 X11 D5 V24 B2 B12 L4 A14 C4 Z9 X1 X11 D5 Q1 V3 Gume F1 a6 2,0 cm 70º t20 B1 B12 L8 C2 C4 Z9 X1 X2 X9 X11 J1 J14 V25 B2 B12 L8 C2 C3 Z9 X11 V8 R11 Gume F2 1,0 cm 90º t28 B2 B12 L8 C2 C3 Z9 Z11 X1 V6 B2 B12 L8 C2 C4 Z9 T4 T5 R13 B4 L11 C2 C3 Z9 X11 T4 V4 V11 Gume F3 a4 1,0 cm 65º t21 B8 L12 C2 C3 Z9 X11 V6 V8 B2 B12 L8 C2 C3 Z9 X11 V2 B2 B12 L8 C2 C3 Z9 X11 D5 V4 B8 L8 C2 C3 Z9 X11 T2 V18 B2 B12 L8 C2 C3 Z9 X11 D5 B1 B12 L8 C2 C3 Z9 X11 V21 B2 B12 L11 C2 C3 Z9 X11 T6 B2 B12 L8 C2 C4 Z9 X11 T1 V12 B2 B12 L11 C4 Z9 X1 X11 D5 Q11 M5 M6 R11 Gume F2 1,5 cm 90º t28 B2 B12 L8 C3 Z9 X11 R11 Gume F2 1,0 cm 85º t24 B2 B12 L11 C4 Z9 X11 R11 Gume F2 1,0 cm 90º t28 B2 B12 L4 C2 C4 Z10 X3 X11 aB 60º J1 T3 B2 B12 L8 C3 Z9 X11 V8 V9 B2 B12 L11 C4 Z9 X9 X11 J8 Q2 V3 Gume F2 2,0 cm 75º t18 B8 L11 C3 Z9 X11 D5 B8 L13 Z9 X11 V1 B1 B12 L11 C4 Z9 X11 J8 Q4 V2 Gume F3 a18 1,5 cm 75º t18 B2 B12 L8 C4 Z9 X1 T4 V21 B2 B12 L8 C4 Z9 X1 X11 D5 R11 Gume 1) F2 1,0 cm 85º t24 Gume 2) F2 1,0 cm 100º t28 B1 B12 L8 C4 Z9 Z11 X1 X9 V22 277

Tom Oliver Miller Junior

89-41: 89-42: 89-43: 89-44: 89-45: 89-46: 89-47: 89-48: 89-49: 89-50: 89-51: 89-52: 89-53: 89-54: 89-55: 89-56: 89-57: 89-58: 89-59: 89-60: 89-61: 89-62: 89-63: 89-64: 89-65: 89-66: 89-67: 89-68: 89-69: 89-70: 89-71: 89-72: 89-73: 89-74: 89-75: 89-76:

B4 L12 C3 Z9 X1 X11 V4 B1 B12 L11 C2 C3 Z9 X1 X11 V8 B2 B12 L11 C2 C3 Z9 X1 X11 T3 B2 B12 L11 C4 Z9 Z11 X1 X9 X11 D5 V18 B8 L8 C2 Z9 X11 D5 V6 B1 B12 L8 C2 C3 Z9 Z10 X1 X11 V30 B2 B12 L8 C3 Z9 X11 V2 V12 R11 Gume F2 1,0 cm 90º t28 B2 B12 L8 C3 Z9 Z11 X1 X11 V2 V8 B2 B12 L8 C2 C3 Z9 X11 V25 B2 B12 L4 C2 C3 Z10 X1 X11 aB 105º J1 V12 B2 B12 L8 C3 Z9 X1 X11 D5 B2 B12 L4 C4 Z1 Z9 X1 X11 aB 105º D5 Q2 M2 V22 V24 R11 Gume F2 1,5 cm 90º t28 BI B12 L11 C4 Z9 X1 X9 X11 D1 Q1 Q11 M3 V4 V22 R11 Gume F3 a18 1,5 cm 90º t28 B2 B12 L11 C3 Z9 X1 X11 Q6 M3 V4 B1 B12 L4 C4 Z1 Z9 X11 Q6 M3 V2 B2 B12 L11 C4 Z9 Z11 X9 V4 B2 B12 L8 C4 Z9 X11 Q5 M6 V12 R11 Gume F2 1,5 cm 85º t24 B2 B12 L11 C4 Z9 Z11 X1 X11 J8 B2 B12 L11 C3 Z9 X9 X11 V2 B1 B12 LI C4 Z9 Z11 X1 X7 X9 D1 D5 V1 V6 R11 B1 B12 L8 C2 C3 Z9 X1 X11 D5 V6 R11 Gume F2 1,0 cm 85º t24 B2 B12 L4 C2 C3 Z1 Z9 X1 X7 X11 D2 T2 B1 B12 L4 C2 C3 Z1 Z9 X1 X11 aB 100º Dr T3 B1 B12 L8 C3 Z9 X1 T2 B1 B12 L8 C2 C4 Z9 X1 X11 D5 B2 L11 C2 C4 Z9 Z10 X1 T5 R13 B8 L11 C2 C3 Z9 Z11 X1 X11 D5 V12 B2 L11 C4 Z9 X11 V6 B1 B12 L12 C4 Z9 Z11 X1 X11 V12 R11 Gume F2 1,0 cm 90º t28 B1 B12 L12 C4 Z9 X1 X11 D5 V4 B4 L12 C3 Z9 Z11 X1 D5 J8 V24 Gume F6 1,5 cm 60º t15 B1 B12 L8 C3 Z9 Z11 X1 V18 B1 B12 L4 C2 C3 Z1 Z9 X1 X2 X11 aB 95º J2 Gume 1) F2 1,0 cm 55º t10 Gume 2) F5 1,5 cm 60º t? B1 B12 L8 C3 Z9 Z11 X1 X11 R11 Gume F2 1,0 cm 90º t28 B1 B12 L4 C2 C3 Z1 Z9 X1 X2 X11 J8 Gume F6 1,0 cm 45º t15 B1 B12 L8 C2 C3 Z9 X1 X11 V30 278

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

89-77: 89-78: 89-79: 89-80: 89-81: 89-82: 89-83: 89-84: 89-85: 89-86: 89-87: 89-88: 89-89: 89-90: 89-91: 89-92: 89-93: 89-94:

B2 B12 L11 C3 Z9 X1 X11 T6 V30 B4 L12 C4 Z9 X1 D5 V2 B2 B12 L1 C4 Z1 Z2 Z11 X9 X11 D5 Q11 M4 M6 B2 B12 L11 C4 Z9 X1 X11 V12 B2 B12 L11 C4 Z9 Z11 X1 V12 B1 L8 C2 C3 Z9 X1 X11 X18 Gume F2 1,0 cm 90º t28 R11 B2 B12 L8 C2 C3 Z9 X1 T4 B1 B12 L8 C2 C4 Z9 X1 X9 X11 D5 B1 B12 L8 C2 C3 Z9 X11 R11 Gume F1 a18 1,5 cm 90º t28 B2 B12 Ll11 C2 C3 Z9 X1 X11 J9 V6 Gume F2 1,0 cm 70º t18 B4 L12 C4 Z9 Z11 X1 D5 B2 B12 L4 C2 C3 Z1 Z9 Z11 X1 X8 X11 J9 V1 V2 R11 Gume F2 1,5 cm 75º t18 B8 L12 C2 C3 Z9 X1 X11 V1 R11 Gume F2 1,0 cm 90º t28 B2 B12 L4 C3 Z1 Z9 X1 X2 X11 T6 V4 V6 Gume 1) F2 1,0 cm 80º t24 Gume 2) F2 1,0 cm 70º t22 B4 L12 C3 Z9 X1 V1 V19 B2 B12 L11 C4 Z9 X1 X11 D5 V7 B2 B12 L8 C2 C3 Z9 X1 T2 V30 B2 B12 L8 C2 C3 Z9 X11 R11 Gume F2 1,0 cm 90º t28

279

280

ANEXO III O Sítio Arqueológico Lítico de São Lourenço, Estado de São Paulo

Tom Oliver Miller Junior

Figura 37: São Lourenço> Vista do Barranco.

Figura 27: São Lourenço: Perfil Estratigráfico do Barranco.

282

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Foto 38: São Lourenço: Local do Teste.

283

Tom Oliver Miller Junior

O SÍTIO ARQUEOLÓGICO DE SÃO LOURENÇO – ESTADO DE SÃO PAULO Tom O. Miller Jr., M. Eugênia Brandão do Prado; Leonida Vivan* Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras de Rio Claro O presente trabalho é um estudo do sítio arqueológico de São Lourenço, na fazenda do mesmo nome, município de Charqueada, Estado de São Paulo, sendo um relatório das escavações, análise dos artefatos, e a posição cultural dos dois componentes do sítio. A jazida foi observada pela primeira vez em 1965 por Miller, durante o seu trabalho de Levantamento Arqueológico da região central do Estado, sendo este programa desenvolvido com a colaboração da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro. Nessa ocasião, só foi observado o componente superior (São Lourenço II, Componente LA-37 do Laboratório de Arqueologia) aparecendo a 70 cm na região do Corte 2, frente à sede da fazenda. Em 1967, numa segunda visita à jazida, para conferir a formação do baixo terraço, foi observado o componente inferior (São Lourenço I, Componente LA-67). O sítio arqueológico de São Lourenço encontra-se no Córrego de Covetinga, afluente do Corumbataí paralelo ao Passa Cinco, ao oeste deste último (ver Mapa), e a leste da escarpa de Paraíso. No sentido leste da jazida, há um festão remanescente da superfície interfluvial da Bacia de Rio Claro, acima dos patamares escalonados do segundo e terceiro terraços, e abaixo das escarpas de Pitanga (SE) e Paraíso (W). 284

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

O resultado da ação dos processos morfogenéticos, através do Quaternário, está presente nos níveis escalonados das vertentes. A superfície (...) apresenta todas as características de um pedimento resultante dos processos de planação lateral, ligados no recuo da escarpa, em fase mais seca do clima passado, colocada entre o fim do Terciário e o começo do Quaternário (PENTEADO, 1968, p. 83-4).

Professor assistente da cadeira de Antropologia, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro; e, bolsistas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro. Este trabalho foi desenvolvido pela equipe de bolsistas da FAPESP, Maria Eugênia Brandão do Prado, Leonida Vivan e Maria José Leme, sob a orientação do Prof. Tom Miller. A bolsista Maria José Leme teve que interromper os trabalhos antes de participar no relatório, para participar em outras pesquisas, sendo afastada das atividades de trabalho em Rio Claro. Esta superfície e os terraços mais altos (t3) foram reentalhados por novo epiciclo, formando os terraços intermediários (t2), provavelmente no Pleistoceno Médio, e, finalmente, mais uma vez (t1), outra cascalheira, então, sendo transportada e depositada pelo escoamento concentrada, formando os baixos terraços aluviais a partir do leito dos rios até 3 ou 4 metros acima (São Lourenço I). A jazida apresenta, como já foi indicado, dois componentes: o primeiro, componente superior, encontrado em solo recente e cuja área é de aproximadamente 50.000 m2. O segundo, componente inferior, apresenta uma área difícil de calcular, aparecendo no barranco como o baixo terraço. O material do componente superior, por suas características, não apresenta sinais de ter sido transportado; tem a sua origem no próprio local, ou seja, numa deposição primária. O componente inferior é um redeposição, assentada desconformavelmente sobre os siltitos da formação do Grupo Passa Dois, e cimentado numa calcreta. Neste contexto, Butzer (1963, p. 22) explica que na Cimentação em calcreta, precipitados ou evaporados de carbonato de cálcio ou sais são encontrados em zonas rasas de aereação acima 285

Tom Oliver Miller Junior

do lençol freático situado perto da superfície. Estas incrustações de calcreta forma-se pela ascenção com os materiais dissolvidos das águas capilárias durante períodos de dessecação (...) Em conclusão, sugere-se que (1) (...) em geral são formados pela precipitação de águas de movimento lento e carregadas de cal em solução e com pouco ou limitado movimento subterrâneo sobre as camadas mais impermeáveis (...) 2) que também são depositados abaixo de uma cobertura espessa de vegetação com bastante atividade na primavera e pluviosidade suficiente, com temperatura certamente não abaixo das de hoje; 3) que os seus componentes clásticos grosseiros provavelmente cimentados no local por tais precipitados depois do seu transporte original, pelos primeiros temporais e enchentes da última parte do verão, antes da volta da gramada depois da estação de seco intenso.

Acima da formação t1 propriamente dita, há uma camada de argila arenosa compacta, sugerindo represamento do córrego ou um nível mais alto do Corumbataí. O levantamento topográfico foi feito com a colaboração dos professores Roberto Lopes de Morais, da cadeira de Aerofotogrametria do Departamento de Geografia, e Onildo João Marini, da cadeira de Mineralogia do Departamento de História Natural da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro, e para a geologia consultamos o prof. Dr. Paulo Milton Barbosa Landim, e a análise do solo foi feita pelo prof. Helmut Tropmair, desta instituição. Prof. Tropmair caracteriza o solo do sítio como aluvialhidromórfo. O relevo, terraço fluvial, pode ser classificado como sub-normal hidromórfo, pertencente à classe plana, uma vez que a declividade é inferior a 1,5º em 3%, portanto da classe A de Ranzani (1963). A vegetação dominante é hidrófila (formação de banhado) destacando-se a “sangra”. O clima da região é tropical, apresentando os seguintes índices térmicos e pluviométricos mensais:

286

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Tabela1 – Índices térmicos e pluviométricos mensais da região de Rio Claro TemperatuChuva (mm) ra (ºC) J 24,1º 231,2 F 23,4º 210,8 M 22,8º 161,0 A 20,9º 61,8 M 18,2º 74,5 J 16,9º 36,5 Média = 20,7º; Total = 1.315, 3mm

Mês

Mês J A S O N D

Temperatura (ºC) 17,0º 18,4º 19,9º 21,3º 22,4º 23,2º

Chuva (mm) 23,5 38,0 48,5 126,0 120,3 182,2

A drenagem interna do solo pode ser classificada de pobre para moderada. A drenagem externa (de fluvio), devida a área plana de baixada, pode ser classificada como nula e, no máximo, muito lenta. A erosão laminar é ligeira em sulcos e pode ser considerada como ocasional e rasa. A permeabilidade do solo é rápida nas camadas horizontais, passando para moderada no horizonte B. Tabela 2 – Morfologia do solo do Sítio São Lourenço

A1 0 – 30 cm

Pardo-cinzento, seco (2,5 y 5/3); barro argiloso; gramosa, maciça, ligeiramente duro; friável, não plástico; não pegajoso; raízes fasciculadas, finas, comuns; macropóros; comuns pH 4,6, limite suave gradual.

A2 30 – 55 cm

Cinza claro, seco (2,5 y 7/2); barro limoso; esferoidal, maciça, muito dura; firme; ligeiramente plástico, ligeiramente pegajoso; raízes fasciculadas finas, comuns; macro-póros pH 4,8; suave e gradual.

B 55 – 155 cm

Vermelho amarelado SJR 4/6; argila, prismática, forte, muito firme; muito plástico; muito pegajoso; raíses finas, poucas; macro-póros; ph 5,0 limite abrupto

C 155 cm

Rágolito rocha sedimentar, laminar horizontal, argilito = a geologia. 287

Tom Oliver Miller Junior

As áreas que possuem solos hidromórficos têm muita dificuldade de penetração, devido ao encharcamento que tem como característica comum a grande influência do lençol freático condicionado, principalmente, pelo relevo. O lençol freático reflete-se no perfil por meio de acumulação de matéria orgânica no horizonte superficial ou redução indicadas pelas cores cinzentas, a qual é característica da gleização. Aqui, encontram-se solos de várzeas de relevo plano, normalmente pouco profundos, encharcamento com acumulação de matéria orgânica na camada superior ou redução nas subjacentes. As áreas que possuem solos aluviais são caracterizadas por materiais que não têm consolidação de deposição recente, sendo que as suas camadas estratigráficas não possuem relação genética entre si. Os horizontes não são bem diferenciados, com exceção do horizonte A1 que normalmente aparece, mas fora camadas estratigráficas, não apresentando, por conseguinte, verdadeiros horizontes pdeo-genéticos. Os agentes de formação, como o clima e os fatores biológicos, não agiram ainda por falta de tempo e assim não puderam transformá-los em horizontes. São solos normalmente muito profundos. O perfil do solo varia grandemente de acordo com a natureza do material segmentar. Assim sendo, os perfis destes solos podem apresentar camadas argilosas, sobrepostas às camadas arenosas e vice-versa, fato que tem grande importância no que se refere a drenagem que é, no caso, muito variável.

Escavação – Teste Devido à nitidez apresentada pelo barranco onde se nota uma estratigrafia, foi escolhido o local para o teste Nº 1 após a prospecção inicial. Efetuada a limpexa do local, prosseguiu-se o estaqueamento, sendo abertas seis unidades de um metro quadrado e dispostas sob a forma de um “L”. No trabalho inicial, a terra foi retirada em camadas de 0,10 m para o maior controle dos níveis estratigráficos. O solo foi retirada até 0,80 m da superfície usando-se para a retirada desta terra pás e picaretas leves. Artefatos foram registrados no local, tanto quanto 288

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

“featuras” e amostras de carvão vegetal. O solo de cada camada foi peneirado separado, para recuperar qualquer achado que não foi colhido na escavação. A quantidade de achados coletados até o fim da escavação do componente superior atinge um total de duzentos e vinte e sete, sendo que, destas peças, sessenta e três foram retiradas da escavação; oitenta e quatro foram coletadas na peneira e setenta e seis fazem parte da prospecção inicial e também das peças coletadas na superfície perto do local da escavação, onde o material, principalmente lascas, aparecem de forma abundante. Constatamos que houve uma maior ocorrência de artefatos nos níveis 0,80 – 1,20 m, especialmente 0,90 – 1,10 m. Na unidade 3, no entanto, observamos que a ocorrência de material ainda era constante, tornando-se escasso de 1,50 a 1,60 m, apenas uns fragmentos de sílex patinado não trabalhado aparecem neste nível, e ao nível de 1,70 não apareceram mais artefatos, apenas fragmentos de sílex patinado, siltito, quartzo e pedregulho. Retiramos das unidades do componente superior quatro amostras de carvão (C1, C2, C3, C4) para análise. A análise dessas amostras, especial C3 e C4, pode nos fornecer a datação do componente, uma vez que eles estavam em associação primária. As amostras foram recolhidas com pinça de metal e guardadas em latas de metal esterilizadas, para evitar qualquer contaminação. Coletamos, também, amostras de solo para a análise palinológica, a fim de verificarmos a natureza da flora que acompanhava o paleosolo. No início da escavação, a terra se encontrava um tanto umedecida, devido à recente retirada das camadas anteriores, até bater sol e vento, quando o solo ficava duro, como é natural nos solos laterilizados. Para evitar este problema, adotamos o costume, após o término do trabalho do dia, trazer de um bambuzeiro próximo folhas que eram colocadas dentro do corte. O quartzo encontrado no nível 1,15 m é provavelmente uma redeposição, pois nas vertentes, ladeando o primeiro terraço do córrego, encontra-se um componente (Laboratório I) de Fase Monjolo 289

Tom Oliver Miller Junior

Velho (ver Tópico 4.4), cuja matéria-prima é quase que exclusivamente deste material. A erosão, em tempos pré-históricos, poderia ter levado este material da vertente para baixo. Encontramos na superfície, a dez metros do local da escavação, duas pontas de projétil, uma de sílex preto e outra de quartzo. Quando as duas pontas foram encontradas, houve um período de chuvas contínuas na região; é provável que as chuvas as descobriram. A presença das pontas pode indicar que elas foram perdidas por algum caçador local ou errante, e com o tempo tenham sido soterradas. Não é possível saber com certeza se as pontas pertencem ao componente ou não, mas a matéria-prima e tecnologia da ponta de sílex sugere uma cultura semelhante à São Lourenço II, enquanto a de quartzo sugere uma posterior, semelhante às de Itirapina, PC.5, e outras mais tardias. Pontas semelhantes foram encontradas em associação com cerâmica em Itirapina. No componente inferior (São Lourenço I), os trabalhos ainda prosseguem, mas para fins deste relatório, a amostra retirada do barranco é suficiente para caracterizar a importância do componente. O resultado das pesquisas do ano de 1969 serão publicadas posteriormente.

Laboratório No Laboratório de Arqueologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro, foram analisadas e guardadas todas as fichas e peças deste e de outros trabalhos da região. Cada peça foi marcada com o número do componente (37 ou 67) e o número da peça, como consta nas fichas de nível, de feature e de artefato. A análise foi feita segundo a tipologia de Miller (1969) e todos os atributos e tipos quantificados e expressos em termos de porcentagens do total. A abordagem de atributos, modos e tipos quantificados, permite uma comparação detalhada com outros componentes, que nenhuma outra fornece. Desenhos foram feitos de artefatos típicos, e a análise completa, proveniência e comparações apresentadas. Coletamos um total de duzentas e vinte e sete peças do componente superior e cento e sessenta e cinco do inferior. Das do superior, 290

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

114 foram trabalhadas. Das do inferior, só foram contadas as 165 peças trabalhadas. Os artefatos, carvão e features coletados na escavação seguem a seguinte distribuição por unidade e nível de aparecimento: Tabela 3 – Distribuição dos artefatos, por unidade, localizados desde o Ponto Dado (zero) UNIDADE 1 (0 – 1 W; 0 – 1 N) Nível Artefato 0,75 m 37-50 0,83 m 37-57 1,15 m 37-65 1,15 m 37-98 1,15 m 37-113 1,15 m 37-137 1,15 m 37-145 UNIDADE 2 (1 – 2 W; 0 – 1 N) 0,92 m 37-62 1,10 m 37-66 1,15 m 37-82 1,15 m 37-89 1,16 m 37-120 1,16 m 37-122 1,18 m 37-126 *Coletada na peneira UNIDADE 3 Nível 0,52 m 0,55 0,70 1,05 1,16 1,18

Artefato 37-32 37-35 37-44 37-67 37-111 37-148

Localização desde Ponto Zero Terra solta (peneira) 0,20 m W; 0,19 m N; -0,825 m 0,75 m W; 0,75 m N; -0,970 m Terra solta 0,71 m W; 0,80 m N; -0,970 m 0,23 m W; 0,91 m N; -0,110 m *Terra solta 1,18 m W; 0,30 m N; -0,835 m 1,80 m W; 0,18 m N; -1,025 m 1,38 m W; 0,40 m N; -1,065 m Terra solta 1,18 m W; 0,58 m N; -0,980 m 1,12 m W; -0,98 m N: -0,980 m 1,54 m W; -0,43 m N; -1,105 m

Localização Terra solta Terra solta Terra solta 2,87 m W; -0,52 m N 2,96 m W; -0,19 m N 2,63 m W; -0,89 m N 291

P.O. ----------0,835 -1,055 -1,165

Tom Oliver Miller Junior

1,18

37-196

2,40 m W; -0,76 m N

-1,120

37-40 37-41 37-42 37-43 37-46 37-55 37-56 37-60 37-68 37-69 37-71 37-91 37-128

Terra solta Terra solta Terra solta Terra solta Terra solta 2,90 m W; -1,30 m N 2,20 m W; -1,87 m N 2,90 m W; -1,87 m N 2,68 m W; -1,70 m N 2,49 m W; -1,65 m N 2,13 m W; -1,42 m N 2,36 m W; -1,17 m N 2,46 m W; -1,31 m N

----------------0,685 -0,755 -0,700 -0,955 -0,975 -1,015 -1,090 -1,090

-0,985mm

UNIDADE 4 0,67m 0,67m 0,72m 0,72m 0,74m 0,80m 0,80m 0,80m 1,00m 1,02m 1,06m 1,15m 1,15m UNIDADE 5 0,55m 0,60m 1,05m UNIDADE 6 0,50 0,50 0,50 0,53 0,55 0,60 0,60 0,62 0,70 0,73 0,74 0,74

37-28 37-38 37-70

Terra solta Terra solta 2,27 m W; -2,60 m N

37-29 37-30 37-31 37-33 37-34 37-36 37-37 37-39 37-47 37-49 37-51 37-53

Terra solta Terra solta Terra solta Terra solta Terra solta Terra solta Terra solta Terra solta Terra solta Terra solta Terra solta Terra solta

0,80

37-58

2,15 m W; -3,67 m N

0,80

37-59

2,15 m W; -3,67 m N

0,83 0,84

37-61 37-73

2,80 m W; -3,25 m N 2,00 m W; -3,10 m N

0,84

37-74

2,00 m W; -3,10 m N

0,84 0,84 0,84

37-75 37-76 37-77

“ “ “ 292

------------------------------------0,910 (Feat.6) -0,910 ( “ ) -0,775 -0,775(Feat.3) -0,775 ( “ ) “ “ “ “ “ “

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

0,84 0,84 1,09

37-78 37-79 37-93

“ “ 2,43 m W; -3,89 m N

“ “ -1,000

Feature Nº6 Nº 3

Unidade 6 6

Profundidade Localização 0,80m 2,15 m W; -3,67 m N 0,84m 2,00 m W; -3,10 m N

P.O. 0,910 0,775

Carvão C1 C2 C3 C4

Unidade 3 6 1 4

Nível 0,40m 0,84m 0,17m 0,14m

P.O. 0,285 0,390 0,840 1,040

Localização 2,00 mW; -0,45 m N 2,00 m W; -3,1 m N 0,11 mW; -P.O. N 2,83 m W; -1,92 m N

“ “

Análise Após a análise descritiva de cada artefato, tanto da superfície como da escavação, descobrimos que não há diferenças estatisticamente significantes entre o material da superfície e o da escavação de São Lourenço II. A equipe conjunta analisou os atributos dos artefatos no laboratório, segundo a tipologia de Miller (1969), o qual fez os cálculos e comparações com outros componentes já analisados por ele (ver abaixo). Na escavação e na amostra tirada do barranco, encontramos um total de 114 peças trabalhadas do componente superior e 165 do inferior. Os modos de escolha da matéria-prima são os seguintes:

Sílex siltado Sílex não siltado Quartzo Ágata Outro sílex Outra pedra Com verniz Com pátina

São Lourenço II f % 30 26,3 79 89,3 4 3,5 0 0,0 0 0,0 1 0,9 114 100,0 0 0,0 0 0,0 293

São Lourenço I f % 0 0,0 163 98,8 0 0,0 1 0,6 1 0,6 0 0,0 165 100,0 164 99,4 24 14,5

Tom Oliver Miller Junior

Modos de base: 4 peças (3,5%) do componente superior foram trabalhadas bifacialmente, três delas sendo pontas de projétil e uma face triangulóide. Nenhuma biface foi encontrada no componente inferior. Núcleos Lascas primárias Lascas secundárias Lâminas Lâminas laterais Fragmentos sem forma Seixo quebrado Chapa de sílex tabular (Fig. 26: A) Pedrinha fendida Pedra rolada pelo rio

São Lourenço II F % 12 10,5 45 39,5 21 18,4 11 9,6 2 1,8 17,5 20

São Lourenço I f % 14 8,5 20 12,1 0 0,0 1 0,6 1 0,6 76

46,1

0

0,0

1

0,6

0

0,0

47

28,5

2 1 114

1,8 0,9 100,0

5 0 165

3,0 0,0 100,0

Manufatura: estes termos não são mutuamente exclusivos: Plataforma de percussão visível Bulbo conchoidal visível Bulbo cônico visível Percussão direta simples Percussão direta controlada Lasca fina, compridas Lascas finas, largas Toda face trabalhada Crosta deixada em alguma parte

São Lourenço II f % 57 50,0 34 29,8 15 13,2 64 56,1 52 45,6 1 0,9 1 0,9 5 4,4 23 20,2

São Lourenço I f % 17 10,3 0 0,0 1 0,6 152 92,1 10 6,1 0 0,0 3 1,8 0 0,0 58 35,2

Acabamento Percussão direta controlada Percussão indireta ou pressão Esfregado Serrações não removidas

São Lourenço II f % 46 40,2 70 61,4 30 26,3 1 0,9 294

São Lourenço I f % 157 95,2 40 24,2 0 0,0 4 2,4

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Dentada Sinais de bater Retoques marginais em volta Retoques marginais ocasionais Retoques irregulares Micro-retoques Sinais de uso (apenas)

1 2 1 5 1 17 18

0,9 1,8 0,9 4,4 0,9 14,9 15,8

0 2 12 63 2 61 0

0,0 1,2 7,3 38,2 1,2 37,0 0,0

Tecnicultura - Manufatura Três técnicas foram, evidentemente, usadas na preparação da matéria-prima para fabricar ferramentas: (1) quebra dos seixos em estilhaços, escolhendo os pedaços que mais aproximam a forma ou característica da ferramenta desejada (fragmentos sem forma, seixo quebrado, chapa quebrada, pedrinha fendida); (2) lasqueamento primário, tirando lascas ou lâminas com bulbo de percussão, de um núcleo preparado, utilizando uma plataforma de percussão (núcleo, lascas primárias e secundárias, lâminas, plataforma de percussão, bulbo conchoidal); (3) lasqueamento primário, com percutor e bigorna (“bloco-sobre-bloco”), tirando lascas côncavas, deixando um núcleo em forma de uma bola poliédrica, e com bulbo cônico de percussão (núcleo poliédrico, lascas côncavas, bulbo cônico). Evidentemente o n ] 1 foi dominante em São Lourenço I (é típico da Fase Monjolo Velho), o nº 2 em São Lourenço II (é típico da Fase Santo Antônio e os componentes no solo recente), e o nº 3 também mais forte no componente superior (mais típico da Fase Santo Antônio). Ângulo do bulbo (medido da plataforma e da face interior da lasca)

90º 95º 100º 105º 110º X – 116,5º

SL - II 1 1 2 3 7 95,0º

SL - I 0 2 0 0 0

115º 120º 125º 130º 135º 295

SL - II 5 13 6 4 1

SL - I 0 0 0 0 0

Tom Oliver Miller Junior

Atributo de forma:

Poliédrica Discoidal ou oval Triangulóide Folha de louro Semilunar

São Lourenço II f % 2 1,8 1 0,9 3 2,6 1 0,9 0 0,0

São Lourenço I f % 4 2,4 1 0,6 7 4,2 0 0,0 1 0,6

São Lourenço II f % 3 2,6 6 5,3 3 2,6 0 0,0 5 4,4 1 0,9

São Lourenço I f % 1 0,6 3 1,8 0 0,0 0 0,0 6 3,6 0 0,0

Secção transversal:

Prismática Planoconvexa Biconvexa achatada Biconvexa arredondada Triangular ou carinada Esférica

Embora a tendência para forma padronizada seja pequena, é maior do que qualquer componente das fases Monjolo Velho e Santo Antônio, no caso de São Lourenço II. Os modos do tamanho das peças seguem a seguinte distribuição: Grossura: Mais do que 2,0 cm De 2,0 a 0,5 cm Menos de 0,5 cm

15 72 27 114

13,2 63,2 23,7 100,1

3 62 41 8 114

2,6 54,4 36,0 7,0 100,0

24 118 23 165

14,5 71,5 13,9 99,9

Comprimento: Maior do que 10,0 cm De 4,0 a 10,0 cm De 2,0 a 4,0 cm Menos de 2,0 cm

296

0 82 66 17 165

0,0 49,7 40,0 10,3 100,0

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

As partes funcionais:

A maior parte dos artefatos é divisível em termos de três aspectos funcionais: artefatos com reentrâncias ou entalhes (goivas), artefatos com bicos de formão, e artefatos com gumes padronizados (raspadores, plainas e facas). Gumes:

Há três dimensões ou parâmetros para medir na análise de gumes, ou seja, forma, largura e ângulo. Formas são côncavas, retas, convexas, irregulares, ondulantes, com ombro, escopros, e corte com curva – S. As três primeiras formam um contínuo, em termos de arco (medido como segmento de um círculo de diâmetro X (MILLER, 1968-1969)), já constando que arcos abertos (de 12cm de diâmetro para cima) devem ser contados junto com gumes retos. As freqüências de formas são: Forma do Gume Côncava: arco 2 cm arco 4 cm arco 6 cm arco 8 cm arco 10 cm arco 12 cm : arco 18 cm Reta: Convexa: arco 18 arco 12 arco 10 arco 8 arco 6 arco 4 Irregular: Ondulante: Escopro: Curva-S:

São Lourenço II f % 0 0,0 3 4,6 5 7,7 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 1,5 20 30,8 5 7,7 1 1,5 4 6,2 3 4,6 4 6,2 1 1,5 17 26,2 0 0,0 0 0,0 0 0,0 65 100,0 297

São Lourenço I f % 4 5,6 4 5,6 2 2,8 1 1,4 1 1,4 0 0,0 2 2,8 30 42,3 4 5,6 2 2,8 2 2,8 2 2,8 2 2,8 4 5,6 0 0,0 0 0,0 1 1,4 7 9,9 71 99,8

Tom Oliver Miller Junior

Largura:do Gume 1,0 – 1,5 cm 2,0 cm 2,5 cm 3,0 cm 3,5 cm 4,0 cm 4,5 cm 5,0 cm 5,5 cm

Ângulos: 20º 25º 30º 35º 40º 45º 50º 55º 60º 65º 70º 75º 80º 85º 90º 95º

Tipos de Gume: 1 2 3 4

São Lourenço II São Lourenço I f % f % 21 32,3 41 57,8 13 20,0 20 28,2 11 16,9 4 5,6 10 15,4 1 1,4 4 6,2 0 0,0 1 1,5 4 5,6 2 3,1 1 1,4 1 1,5 2 3,1 65 100,0 71 99,9 X - 2,43 cm 1,81 cm São Lourenço II F % 1 1,5 3 4,6 2 3,1 2 3,1 8 12,6 9 13,8 8 12,3 7 10,8 6 9,2 4 6,2 5 7,7 2 3,1 3 4,6 2 3,1 2 3,1 1 1,5 65 100,0 X - 54,5 79,5 São Lourenço II F % 4 6,2 5 7,7 2 3,1 3 4,6 298

São Lourenço I f % 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 1,4 0 0,0 3 4,2 2 2,8 3 4,2 2 2,8 7 9,9 5 7,0 10 14,1 10 14,1 28 39,4 0 0,0 71 99,9

São Lourenço I f % 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 Outros

2 5 4 2 1 2 3 1 6 0 0 0 2 3 4 2 3 2 1 5 0 0 0 3 0 0 65

3,1 7,7 6,2 3,1 1,5 3,1 4,6 1,5 9,2 0,0 0,0 0,0 3,1 4,6 6,2 3,1 4,6 3,1 1,5 7,7 0,0 0,0 0,0 4,6 0,0 0,0 100,0

0 0 1 0 0 1 0 0 3 0 0 0 0 5 5 1 6 0 0 8 2 11 3 18 0 8 71

0,0 0,0 1,4 0,0 0,0 1,4 0,0 0,0 4,2 0,0 0,0 0,0 0,0 7,0 5,6 1,4 8,5 0,0 0,0 11,3 2,8 15,5 4,2 25,4 0,0 11,3 100,0

Observamos 65 gumes em 50 peças com gumes. A razão de gumes por peça, para São Lourenço II é de 1,30 gumes por peça. São Lourenço I, no entanto, apresenta 71 gumes em 64 peças, ou seja, uma razão de 1,11 gumes por peça. Tecnicultura - Uso

Podemos dividir as amostras nas seguintes categorias de ferramentas:

299

Tom Oliver Miller Junior

São Lourenço II F % 41 36,0 8 7,0 0 0,0 1 0,9

FACAS (total) Canivetes (Fig. 32: 37-77) Enxertadeira (Fig. 30: 37-14) Faca de mão (Fig. 30:37-6) Faca de lasca preparada (Fig. 29: L; Fig. 32: 37-55) Faca triangular (biface) Lâmina Lâmina prismática (Fig. 31: 37-39) Faca discoidal oval Faca de lasca retocada Outras (gumes agudos) RASPADORES (total) Raspador lateral (Fig. 28: C, 29: E; Fig. 33: 37-9) Raspador terminal (Fig. 33: 37-3) Raspador vertical abrupto (Fig. 32: 37-28; Fig. 33: 37-4)

Raspador de bico comprido Raspador com bico C (ver Fig. 8) Raspador com bico E Raspador com bico F Raspador com bico de pato Raspador com bico quadrangular Raspador com bico bifurcado Raspador com bico pé Raspador com 2 ou 3 pés Raspador discoidal ou oval (Fig. 33:37-148) Raspador planoconvexo (Fig. 33:

37-2; Fig.34: 37-12)

FURADORES (total) (Fig. 29: F, G; 30: 37-7; Fig. 31: 37-91) Com bico A, pescoço Com bico A pequeno, pescoço (Fig. 29: F, G) Com bico D, pescoço Com bico D, sem pescoço Cinzel com pescoço AGULHAS (Fig. 29: H) GOIVAS (total) Entalhes Reentrâncias (Fig. 29: M) Reentrâncias rasas 300

São Lourenço I f % 13 7,3 4 2,4 0 0,0 0 0,0

2

1,8

1

0,6

1 4 3 0 0 24 34

0,9 4,4 2,6 0,0 0,0 21,1 29,8

0 0 0 1 1 6 52

0,0 0,0 0,0 0,6 0,6 3,6 31,5

8

7,0

17

10,3

6

5,3

12

7,3

25

21,1

3

1,8

3 0 0 0 0 5 4 2 4

2,6 0,0 0,0 0,0 0,0 4,4 3,5 1,8 3,5

2 10 3 13 2 3 8 5 5

1,2 6,1 1,8 7,3 1,2 1,8 4,8 3,0 3,0

1

0,9

0

0,0

2

1,8

0

0,0

12

10,5

8

4,8

4

3,5

4

2,4

3

2,6

1

0,6

6 0 0 0 11 8 5 13

5,5 0,0 0,0 0,0 9,6 7,0 4,4 11,4

4 0 0 1 72 5 18 50

2,4 0,0 0,0 0,6 43,6 3,0 10,9 30,3

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Reentrâncias com ângulo PLAINAS PEQUENAS (Fig. 29: K ; Fig. 30: 37-11) FORMÕES (total (Fig..32: 37-34, 37-49; Fig. 34: 37-10, 37-16) Bicos simples A pequeno A (Fig. 28: D) B C Bifurcado AA D E Cinzel (Fig. 28: G) Quadrangular Bicos entre entalhes ou reentrâncias A pequeno (Fig. 28: F) A B (Fig. 29: B) C AA D E Quadrangular Bico com pescoço A pequeno A (Fig. 28: E) B C D E Cinzel Quadrangular Bicos no meio do gume A pequeno Total bicos Razão bicos por formão BOLAS (Fig. 29: A) LASCAS RETOCADAS LASCAS UTILIZADAS

1

0,9

2

1,2

7

6,1

20

12,1

54

47,4

120

72,7

4 7 1 11 2 1 4 6 0 5

4,6 8,0 1,1 12,6 2,3 1,1 4,6 6,9 0,0 5,7

2 12 7 13 7 1 10 7 1 3

1,2 6,2 3,7 6,8 3,7 0,5 5,2 3,7 0,5 1,6

1 9 7 5 7 1 0 0

1,1 10,3 8,0 5,7 8,0 1,1 0,0 0,0

14 23 11 12 18 4 2 4

7,3 12,0 5,7 6,2 9,4 2,1 1,0 2,1

3 10 1 1 0 1 0 0

3,4 11,5 1,1 1,1 0,0 1,1 0,0 0,0

0 12 15 3 1 1 4 4

0,0 6,2 7,8 1,6 0,5 0,5 2,1 2,1

0 87

0,0 99,3

1 192

0 31 7 301

1,61

0,0 27,2 6,1

0,5 100,0 1,60 2 1,2 8 4,8 0 0,0

Tom Oliver Miller Junior

CHAPAS RETOCADAS (Fig. 28: H; Fig. 29: D) PONTAS DE PROJÉTIL (Fig.. 30: 37-15; Fig. 31: 37-64, 37-156)

0

0,0

4

2,4

3

2,6

0

0,0

Talhadeira, “chopping tools”, e machados não apareceram. São Lourenço II: As ferramentas de caça aqui encontradas são as pontas de projétil (2,7%). Provavelmente, a maioria das pontas foi fabricada de osso ou de madeira e então, desaparecia. Bolas (características da Fase Santo Antônio, mas presente nos baixos terraços) estão ausente. O processo de descarnar está representado (facas 35,7%) tanto quanto o tratamento de couro (raspadores 30,9%, furadores 11,3%) dando retrato de uma indústria equipada para os produtos de caça (78,0%). Interpretados como instrumentos para trabalho em madeira e osso são as goivas (9,6%), plainas pequenas (6,1%) e formões (47,0%), dando menor impressão de uma indústria equipada para trabalho em madeira (63,1%).

São Lourenço I: As ferramentas de caça aqui encontradas se limita às bolas (1,2%), mas as pontas de madeira ou osso, se realmente existiram, teriam desaparecido. O processo de descarnar está representado pelas facas (7,3%), e o tratamento de couro nos raspadores (31,5%) e os furadores e agulhas (4,8% e 0,6%), dando menor impressão de uma indústria equipada para a caça e os seus produtos (44,8%). A atividade de trabalho em madeira destaca-se neste componente, com goivas (43,6%), plainas pequenas (12,1%) e formões (72,7%), dando um retrato de uma indústria equipada para trabalho de madeira (127,8%). Muitas peças serviram para mais do que uma função. Não se sabe com certeza em quais casos que foi na mesma operação ou em 302

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

quais que foi re-uso de uma peça usada e jogada como matéria-prima para outra atividade em outra ocasião. No primeiro caso teria uma tendência de associação a certas espécies de bicos, gumes, etc., e, no segundo, uma associação qualquer. Algumas das combinações observadas são: São Lourenço II f % 10 8,8 11 9,6 4 3,5 19 16,7 4 3,5 1 0,9 1 0,9 24 21,1 3 2,6 1 0,9 7 6,1 1 0,9 0 0,0 4 3,5

Faca com lasca retocada Faca com raspador Faca com furador (Fig. 34: 37-120) Faca com formão (Fig. 29: L) Faca com goiva Faca com plaina pequena Raspador com furador Raspador com formão Raspador com goiva Raspador com plaina pequena Goiva com formão (Fig. 28: A, B) Goiva com plaina pequena Furador com formão Plaina pequena com formão

São Lourenço I F % 0 0,0 0 0,0 0 0,0 9 5,5 7 4,2 0 0,0 0 0,0 34 20,6 19 11,5 7 4,2 53 32,1 6 3,6 5 3,0 17 10,3

Relações culturais As comparações das porcentagens do inventário cultural do componente São Lourenço I sugere uma estreita relação com a Fase Monjolo Velho, embora o primeiro se encontre na formação do baixo terraço (igual aos componentes Santa Rosa I e Serra d’Água I e Tira chapéu I) em vez do segundo ou baixo paleopavimento. A adaptação é mais apropriada a um ambiente florestal em vez de estepe. Conforme já mostramos em outro lugar, o horizonte Santa Rosa, da formação dos baixos terraços, deu origem a uma tradição em divergência, ou seja, uma tradição direta (Tradição Rio Claro) adaptada à vida de caça em ambiente de estepe ou savana (Santa 303

Tom Oliver Miller Junior

Rosa – Santo Antônio – Marchiori – a que corresponde a Baixo Terraço – Primeiro Paleopavimento – Solo Recente), e uma tradição em divergência e em redução (Tradição Ipeúna), adaptada à vida florestal (Santa Rosa – São Lourenço I – Monjolo Velho – o que corresponde a Baixo Terraço – Segundo Paleopavimento). São Lourenço I, embora ainda no baixo terraço, representa a Tradição Ipeúna já em divergência da matrix (Santa Rosa). São Lourenço I, então, é uma manifestação em pleno baixo terraço da Tradição Ipeúna, anteriormente conhecida só no baixo paleopavimento (Fase Monjolo Velho), mostrando a sua origem no local, não sendo, portanto, uma tradição intrusiva na região. São Lourenço II é um componente típico da Formação de Solo Recente, mais estreitamente relacionado com Poço Fundo II, da mesma formação, e Tamandupá, o componente mais tardio (dos já analisados) da Fase Santo Antônio. Assim, São Lourenço II é uma manifestação tardia da Tradição Rio Claro.

SUMMARY São Lourenço is a two-componente site on a small tributary of the Corumbataí, in the Rio Claro Basin, of central São Paulo State, Brazil. The upper component (São Lourenço II) presents na assmblage with a variety of knives, scrapers, punches, spokeshaves and forming tools, of médium to large size. Projectile points are also presente. The assemblage shows clear similarities to Poço Fundo II, also in the Recente Soil Formation. The lower component (São Lourenço I) as a very important lik between the Santa Rosa Horizon and the Monjolo Velho Phase. In Lower Terrace calcrete, the component presentes reduced variety and size of artefacts, in comparison with Santa Rosa I, as well as considerable emphasis on smaill plaining tools, forming tools, ans spokeshaves, with a reduction of numbers and varieties most notable in knives and scrapers. The hunting-butchering-leatherworking activities arre present, but overshadowed by the woodworking tools. On the bases of this information, we have been able to hypothesize a contnuity from Santa Rosa I to São Lourenço I to the 304

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Monjolo Velho Phase,which together we term the Ipeúna Tradition, and in contrast to the Direct Rio Claro Tradition, from Santa Rosa I through a hiatus to Santo Antônio Phase, to archaic and preceramic sites such as São Lourenço II.

A) B) C) D) E) F) G) H)

Figura 28: Artefatos de São Lourenço I: Goiva-formão feita na base de uma chapa; reentrâncias e Bico A abaixo Goiva-formão com reentrância e Bico B abaixo Raspador Lateral (acima) com escôpro (abaixo) feito de ágata Formão com Bico A (abaixo) Formão com Bico A (curvado) com pescoço Formão com Bico A pequeno entre entalhes Cinzel Seixo (originalmente chapa) rolado com retoques marginais

305

Tom Oliver Miller Junior

Figura 29: Artefatos de São Lourenço I: A) Bola; B) Formão com Bico B entre reentrâncias (esquerda); C) Raspador terminal com Bico F; D) Chapa com retoques marginais; E) Raspador lateral em seixinho semelhante à chapa; F) Furador com Bico A pequeno com pescoço (acima) e Bico A (abaixo); G) Furador com Bico A pequeno com pescoço; H) “Agulha”; K) Plaina pequena; L) Faca de lasca preparada. Esquerda, gume irregular 3 cm com ângulo 65º; direito, Bico A pequeno entre entalhes; M) Goiva com reentrâncias.

306

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Figura 30: Artefatos de São Lourenço II: Para Descrição, ver Número do Artefato no Apêndice. Desenhos de Vivan.

307

Tom Oliver Miller Junior

Figura 31: Artefatos de São Lourenço II: Para Descrição, ver Número do Artefato no Apêndice. Desenhos de Vivan.

308

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Figura 32: Artefatos de São Lourenço II: Para Descrição, ver Número do Artefato no Apêndice. Desenhos de Vivan.

309

Tom Oliver Miller Junior

Figura 33: Artefatos de São Lourenço II: Para Descrição, ver Número do Artefato no Apêndice. Desenhos de Vivan.

310

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Figura 34: Artefatos de São Lourenço II: Para Descrição, ver Número do Artefato no Apêndice. Desenhos de Vivan.

311

Tom Oliver Miller Junior

APÊNDICE Descrição dos artefatos de São Lourenço. Chave é igual à usada no Apêndice de Poço Fundo. Artefatos trabalhados, encontrados na superfície. 37-1:

B1 L6 C2 Z10 X2 X10 J8 R8; Gumes 1) F7 3,0 cm 25º t1; 2) F7 1,5 cm 30º t1 (Figura 30)

37-2:

B1 L3 C1 Z1 Z4 Z10 Z11 X1 X2 aB 120º V21 Q12; Gume F3 a8 2,5 cm 75º t22 (Figura 33)

37-3

B1 L3 C1 Z9 Z11 X2 X3 Q2 Q6 Gume F3 a8 2,5 cm 70º t21 (Figura 33)

37-4:

B1 L4 C4 Z1 Z3 Z10 X1 X7 X9 aB 130º V2 V25 V6 V8 Q6 Gumes 1) F2 1,5 cm 50º t10 2) F2 1,5 cm 65º t18 (Figura 34)

37-6:

B1 L4 A11 C1 Z1 Z6 Z10 Z11 X2 V3 Q6 J3 Gumes 1) F3 a18 7,0 cm 65º t 19 2) F3 a18 4,5 cm 70º t23 (Figura 30)

37-7:

B1 L4 Z1 Z3 Z4 Z10 X1 X2 aB 125º T4 Q6 Gume F2 2,5 55º cm t11 (Figura 30)

37-9:

B1 L4 A14 Z1 Z3 Z9 X2 X3 aB 120º V24 Q1 Gume F1 a10 2,5 cm 70º t20 (Figura 33)

37-10:

B1 L4 Z9 X1 X2 X3 V22 (Figura 34)

37-11:

B1 L3 A11 C4 Z9 X2 R11 Gume F2 1,5 cm 80º t24 (Figura 30)

37-12:

B1 L4 A11 C5 Z1 Z3 Z8 X10 X1 X2 X5 X8 aB 110º D5 V6 V24 V8 Q12 Gume F3 a18 3,0 cm 60º t19 (Figura 34)

37-14:

B1 L4 C2 Z10 Z9 X1 X2 V2 V25 J2 (Figura 30)

37-15:

B1 L2 L6 A4 Z8 Z10 X2 R10 (Figura 30)

37-16:

B2 L4 A11 Z1 Z3 Z10 X2 X3 aB 125º V9 V25 Q6 (Figura 34)

37-17:

B1 L4 A14 C1 Z9 X2 X3 X9 R11 Q11 Gumes 1) F2 2,0 cm 85º t24 2) F1 a6 3,0 cm 55º t12

37-20:

B1 L4 A11 Z1 Z9 X2 X9 aB 115º V8 V7 Gumes 1) F1 a18 1,5 cm 55º t10 2) F2 2,0 cm 60º t18

37-21:

B1 B13 L14 Z9 X2 X3 D4 J4 J10 Gumes 1) F7 1,5 cm 45º t2 2) F2 1,5 cm 60º t18 312

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

37-23:

B1 L11 Z9 X2 X3 V6 V12 V42 R8

37-24:

B1 L4 C4 Z1 Z3 Z10 X3 aB 110º V10 R8 Gume F7 1,5 cm 45º t2

37-27:

B1 L4 Z1 Z3 Z9 X3 aB 110º D5 V2 V8 Gumes 1) F3 a10 3,5 cm 45º t7 2) F1 a4 1,5 cm 40º t6

37-64:

B1 L2 L4 A12 C5 Z8 Z10 X2 R10 (Figura 31)

37-156: B4 L2 L4 A6 A12 C4 Z8 Z10 X2 R10 (Figura 31) 37-157: B1 L4 Z4 Z9 Z11 X1 X2 D5 V4 V10 Gume F7 2,0 cm 45º t2 37-158: B1 L11 Z9 X1 X2 V1 V2 V4 V11 V31 V41 Q1 Q2 Q6 Gumes 1) F2 2,0 cm 90º t28 2) F3 a10 1,5 cm 70º t21 37-159: B1 L4 Z11 X3 X11 V10 R8 Gume F7 2,0 cm 35º t2 37-160: B1 L4 Z1 Z9 X2 X12 V6 V10 R8 Gume F7 2,0 cm 35º t2 37-161: B1 L4 F1 Z4 Z9 Z11 X2 aB 95º V5 Q1 R8 R11 Gume F2 1,5 cm 80º t24 37-162: B1 L6 Z10 X11 X12 V10 R8 Gume F7 2,5 cm 30º t1 37-163: B1 L5 C2 C3 Z1 Z3 Z10 X12 zB 105º R4 37-165: B1 L5 C2 C4 Z1 Z10 X11 R8 37-166: B1 L2 L4 Z9 Z10 Z11 X1 X2 D5 V7 V12 V22 R10 37-168: B1 L11 Z1 Z4 Z9 X1 V25 R11 Gume F2 1,5 cm 95º t28 37-169: B1 L5 C2 C4 Z1 Z3 Z10 X1 X12 aB 120º D2 V22 Q6 R8 37-170: B1 L4 C4 Z1 Z3 Z10 X1 aB 125º V25 Q6 R8 37-174: B2 L11 C1 C5 Z9 Z10 Z11 X1 X2 D1 D2 V16 V18 V23 Q1 Q8 Q7 Gumes 1) F1 a6 3,0 cm 70º t20 2) F2 2,0 cm 75º t22 37-175: B1 L4 C4 Z1 Z3 X11 X12 V17 R6 R8 37-176: B1 L5 C2 C4 Z10 X12 R4 37-177: B1 L5 C2 C2 Z1 Z3 Z10 X2 X3 aB 120º R8 37-181: B1 L5 C2 C3 Z10 X2 V4 37-182: B1 L5 C2 C4 Z9 X1 X10 X11 R8 37-185: B1 L5 C2 C4 Z9 X10 X11 R4 37-188: B1 L5 C2 C3 Z1 Z3 Z11 X11 aB 110º R8 313

Tom Oliver Miller Junior

37-189: B1 L5 C2 C4 Z10 X12 R4 37-190: B1 L5 C2 C4 Z10 X2 V8 R8 Gume F3 a18 2,5 cm 55º t11 37-220: B1 L11 Z8 Z9 Z11 X1 X6 X7 V12 V14 V22 Q6 37-221: B2 L6 A10 Z3 Z10 X12 V10 Gume F7 4,5 cm 40º t3 37-222: B2 L11 Z9 X1 X12 V12 R1 R6 37-223: B2 L6 Z1 Z3 Z10 X1 X2 aB 120º V12 V1 Q2 M3 Gume F2 2,5 cm 25º t5 37-224: B1 L4 Z10 X2 X3 X12 aB 125º V1 Gume F3 a6 2,5 cm 40º t7 37-225: B2 L5 C4 Z10 X1 V12 Q6 R8 M8 37-226: B2 L5 C2 C4 Z10 C2 C4 Z10 X2 R8 37-227: B2 L5 C2 C4 Z10 X2 R8 1) Artefatos trabalhados, encontrados na escavação: 37-28:

B2 L6 A10 Z1 Z3 Z10 X2 X3 aB 110º V23 V12 Q6 Gumes 1) F2 6,0 cm 45º t5 2) F7 5,0 cm 25º t1 (Figura 32)

37-29:

B1 L3 A1 C1 C4 Z1 Z10 X2 X3 V4 V12 Q1

37-30:

B2 L4 Z1 Z3 Z10 X3 aB 115º V8 Q6 R8 MR Gumes 1) F3 a8 3,0 cm 45º t7 2) F1 a6 2,5 cm 40º t6

37-31:

B1 L9 Z1 Z9 X1 aB 120º Q6 M2

37-32:

B1 L4 C2 Z1 Z3 Z9 X2 aB 120º V4 T3 R6 R8

37-33:

B2 L3 C1 Z4 Z9 X1 X2 D2 V1 V22 Q2 Q4

37-34:

B2 L3 C1 Z1 Z4 Z9 Z11 D5 V4 V7 (Figura 32)

37-35:

B1 L4 Z1 Z10 X1 X2 aB 120] V4 V10 Q6 Gume F7 3,0 cm 40º t3

37-36:

B1 L4 C1 Z1 Z10 X2 X3 aB 130º D5 V4 V10 Gume F7 3,0 cm 60º t17

37-37:

B1 L4 Z1 Z4 Z9 X2 X11 aB 130º V2 V4 V7 V10 Gume F7 2,0 cm 50º t8

37-38:

B1 L4 C4 Z1 Z9 X2 X3 V13

37-39:

B1 L6 A10 C2 Z1 Z3 Z11 X12 aB 110º V12 J12 (Figura 30) 314

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

37-40:

B1 L4 Z1 Z4 Z9 X1 X3 X11 aB 130º D1 V8 Q6 M1 Gume F3 a6 50º t13

37-41:

B1 Z9 L11 X1 X2 V1 Gume F7 3,5 cm 55º t9

37-42:

B1 L11 C4 Z1 Z4 Z9 X2 aB 90º V24

37-43:

B1 L4 C4 Z1 Z4 Z10 aB 125º R4

37-44:

B2 L4 Z1 Z4 Z9 Z11 X3 aB 115º J8 RI Gume F3 a6 2,0 cm 50º t13

37-46:

B1 L5 C2 C3 Z10 X12 R4

37-47:

B1 L11 Z9 Z11 X1 X2 X3 D2 R8

37-49:

B2 L4 Z1 Z3 Z9 Z11 X2 aB 120º D5 V26 V27 (Figura 32)

37-50:

B1 L4 C4 Z1 Z4 Z9 X1 X2 aB 130º D2 D5 V23 R8

37-51:

B2 L4 Z1 Z3 Z9 X1 X3 aB 100º V1 V12 Q6 M2 Gumes 1) F2 3,5 cm 55º t11 2) F3 a2 1,5 cm 50º t13

37-53:

B1 L4 C4 Z1 Z3 Z9 X1 X2 aB 125º V1 V6 Q6 M6

37-55:

B2 L6 A14 Z1 Z3 Z10 Z11 X1 X2 aB 110º J4 Gume F3 a18 3,0 cm 60º t19 (Figura 32)

37-56:

B1 L3 C1 Z4 Z9 X1 X2 D2 V2 V4 V25

37-57:

B2 L3 C1 Z9 Z11 X1 X2 V7 V20 V23 V11

37-58:

B1 L4 Z9 Z11 X2 D1 Q6 M7

37-59:

B1 L3 A1 C1 C4 Z1 Z10 X1 X11 X12 D2 V6

37-60:

B1 L3 C1 C4 Z9 Z11 X2 X9 Q2 M3

37-61:

B1 L11 Z9 Z11 X2 X3 D1 D5 V4 V8 Gume F1 a4 2,0 cm 45º t6

37-62:

B1 L11 C4 Z9 Z11 X1 X2 D5 V22

37-65:

B1 L6 Z1 Z3 Z10 Z14 X1 X2 X3 aB 105º V10 V41 Gumes 1) F3 a8 2,5 cm 65º t21 Gume 2) F2 1,5 cm 80º t24

37-66:

B2 L4 Z1 Z3 Z9 X2 X3 aB 115º V8 V12 R11 Gumes 1) F3 a8 2,5 cm 65º t21 2) F2 1,5 cm 40º t4 3) F7 2,5 cm 60º t17

37-67:

B2 L4 Z9 X2 T1

37-68:

B1 L11 Z9 X1 D1

37-69:

B2 L4 C4 Z1 Z3 Z9 X1 X2 aB 120º V3 V8 Q6 Gume F1 a6 3,5 315

Tom Oliver Miller Junior

cm 45º t6 37-70:

B1 L4 C4 Z1 Z9 V7 T3 V8 R8 Gume F2 1,5 cm 40º t4

37-71:

B1 L6 C2 C4 Z10 X12 T3 R8

37-73:

B2 L11 C2 Z9 X1 X2 V2 V20 Q7 M1

37-74:

B2 L11 Z9 J10 Gumes 1) F7 1,5 cm 55º t8 2) F1 a4 1,5 cm 45º t6

37-75:

B2 L11 C4 Z9 X2 X9 X11 R11 Gume F2 1,5 cm 90º t28

37-76:

B1 L4 C4 Z9 Z10 X1 X2 V23 V24 V26 Q6

37-77:

B2 B13 L6 A14 Z1 Z9 Z11 aB 120º V1 V12 J1 Gume F2 4,0 cm 65º t19 (Figura 32)

37-78:

B1 L11 C4 Z9 X11X12 J1 Gume F7 2,0 cm 40º t4

37-79:

pedra, L13, bolinha esférica

37-84:

B1 L11 C4 Z1 X3 X9 aB 120º R11 Gumee F2 1,5 cm 85º t24

37-89:

B2 L11 C4 X2 Z9 J8 Gume F3 a10 3,0 cm 50º t13

37-91:

B2 B13 Z9 Z11 X2 T3 (Figura 31)

37-93:

B4 L12 C3 Z9 X1 V20

37-98:

B4 L5 C2 C4 Z10 X2 X3 R8

37-111: B1 L5 C2 C4 Z10 X1 D5 Q6 R1 R8 37-120: B2 L11 C4 Z9 X1 V1 V7 T3 J9 Gume F3 a10 2,0 cm 50º t13 (Figura 34) 37-122: B1 L5 C2 C4 Z1 Z3 Z10 X12 aB 120º R4 37-126: B1 L4 Z1 Z4 Z9 aB 135º V23 Q6 Q7 R4 37-128: B2 L4 Z9 X2 X3 V8 Gume F3 a6 2,5 cm 50º t13 37-133: B1 L3 C1 Z1 Z9 Z11 X1 X2 X3 D2 V12 Q6 M6 37-137: B1 L5 C2 C4 Z1 Z3 Z10 D5 V8 V22 R8 Gume F3 a4 2,0 cm 20º t7 37-145: B1 L11 C2 C3 Z9 X1 T3 R8 37-148: B2 A2 L3 C1 Z1 Z3 Z10 aB 105º Q9 (Figura 34) 37-153: B4 L12 C3 Z9 Z11 X1 V11 Q1 M1 37-196: B2 L4 Z9 X1 X2 X11 V7 316

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

2) Descrição dos artefatos do componente inferior 67-1:

B1 B12 L3 C1 Z9 X1 X9 Q11 V9

67-2:

B1 B12 L1 L4 A4 Z9 X1 X5 X8 D5 Q1 Q2 Q11 M8 V23

67-3:

B1 B12 L1 L3 C1 Z9 Z11 X1 X5 X9 Q11 M7 V22 V24

67-4:

B1 B12 L1 L3 C1 Z9 X1 X9 D5 Q2 Q11 M4 V24

67-5:

B1 B12 B13 L3 C1 Z9 Z11 X1 X9 Gume F1 a18 4,0 cm 70º t19

67-6:

B1 B12 B13 L3 A1 C1 C4 Z1 X9 X10 R7

67-7:

B1 B12 B13 L3 C1 Z9 Z11 X1 Q11 M7 V23

67-8:

B1 B12 L8 X7 V22 R11 Gume F2 2,0 cm 90º t28

67-9:

B1 B12 B13 L11 Z9 X1 X9 Gume F1 a4 2,0 cm 80º t26

67-10:

B1 B12 L4 Z9 X9 Q2 M1 V29

67-11:

B1 B12 B13 L8 A11 Z9 X1 X9 V22 Gume F1 a2 1,5 cm 90º t26

67-12:

B1 B12 L1 L4 C4 Z10 X1 X2 D1 V12 V23 Gume F3 a4 2,0 cm 70º t21

67-13:

B1 B12 L4 A4 Z9 Z10 X1 X2 X8 D1 V1 V22 V23 Gume F3 a8 4,0 cm 60º t19

67-14:

B1 B12 B13 L3 C1 Z1 Z10 R7

67-15:

B1 B12 L11 A14 Z9 X1 X2 X9 T1 T3

67-16:

B1 B12 B13 L8 Z9 X1 X5 X9 V22 R8

67-17:

B1 B12 B13 L8 Z1 X1 X9 Q11 M4 V14

67-18:

B1 B12 L3 C1 Z1 Z9 X1 X2 Q11 M4

67-19:

B1 B12 Z9 X1 V3 V20 V22

67-20:

B1 B12 L11 Z1 X1 X2 X9 Gume F3 a18 2,5 cm 65º t19

67-21:

B1 B12 L11 C1 Z9 X1 X9 D1 Q11 M4 V22 Gume F8 4,0 cm 85º

67-22:

B1 B12 L8 Z9 X1 D5

67-23:

B1 B12 L11 Z9 X1 D5 V13

67-24:

B1 B12 L11 Z9 X1 V6 V13 V21 Gume F2 2,5 cm 75º t19

67-25:

B1 B12 L8 Z7 Z9 X1 V24 R11 Gume F2 1,5 cm 90º t28

67-26:

B1 B12 L11 Z1 X1 X9 V23 317

Tom Oliver Miller Junior

67-27:

B1 B12 L3 C1 Z9 X1 X9 Q2 V7 V14

67-28:

B1 B12 L11 Z9 X1 X9 V19

67-29:

B1 B12 L11 A11 C1 Z9 X1 X9 Q11 M6 Gume F8 4,5 cm 90º

67-30:

B1 B12 B13 L11 C1 Z9 Q1 Q2 Q11 M4

67-31:

B1 B12 L3 C1 Z1 Z7 X9 Q2

67-32:

B1 B12 L7 Z9 Q7 M5

67-33:

B1 B12 B13 L11 C1 Z9 X1 X9 D5 Q1

67-34:

B1 B12 B13 L4 A5 A14 Z1 Z9 X1 X8 Q1 Gumes 1) F2 3,0 cm 85º t25 2) F2 2,0 cm 80º t24 3) F2 2,0 cm 75º t21

67-35:

B1 B12 L3 C1 Z9 X1 X9 Q2 Q11 M8

67-36:

B1 B12 L8 Z9 X1 Q6 M7

67-37:

B1 B12 B13 L11 Z9 Z11 X1 X9 D5 V22

67-38:

B1 B12 B13 L8 Z9 X1 X9 Q11 M4 V25 Gume F8 2,0 cm 80º

67-39:

B1 B12 L11 C1 Z9 X1 D1 V4 V6 Gume F2 1,5 cm 70º t18

67-40:

B1 B12 B13 L11 Z9 Z11 X1 X9 Q1 M3

67-41:

B1 B12 L8 Z9 Z11 X1 X9 X11 D5 Q1 Q2 V26 Gume F2 2,0 cm 90º t28 R11

67-42:

B1 B12 L11 C1 Z9 Z11 X1 X9 D5

67-43:

B1 B12 L4 A4 Z4 X1 X2 X5 X10 V4 V13 V22 V24

67-44:

B1 B12 L3 C1 Z9 X1 V2 V22 V23 Gume F2 1,5 cm 80º t24

67-45:

B1 B12 B13 L3 C1 Z9 X1 X9 V31 Gume F2 1,5 cm 80º t24

67-46:

B1 B12 L11 C1 Z9 X1 X9 D5 V23

67-47:

B1 B12 B13 L8 Z9 X1 X9 D5 V9 V7

67-48:

B1 B12 Z9 X1 X9 D5

67-49:

B1 B12 L4 C4 Z1 Z9 V1 V25

67-50:

B1 B12 B13 L12 C4 Z9 X1 X9 V12 V22 R11 Gume F2 1,0 cm 90º t28

67-51:

B1 B12 L8 C4 Z1 X1 X2 X8 X11 Q11 M7 V23 V25 V27

67-52:

B1 B12 L11 A14 C4 Z1 X1 X2 T4 318

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

67-53:

B1 B12 L11 Z9 X1 V4 Gume F2 1,5 cm 90º t28 2) idem; R11

67-54:

B1 B12 Z1 Z9 X1 X9 D5 Q6 Q11 Gume F8 2,0 cm 90º

67-55:

B1 B12 L11 C2 Z9 X1 D5 V13 V25

67-56:

B1 B12 L11 C2 Z9 Z11 X1 X8 D5 V13 V24 Gume F1 a4 2,0 cm 80º t26

67-57:

B1 B12 L8 C2 Z9 Z11 X1 V8 Gume F2 1,5 cm 75º t18

67-58:

B1 B12 L11 A14 Z9 X1 D5 Q1 Q11 M3

67-59:

B1 B12 L11 Z9 X1 X2 X9 D4 V19

67-60:

B1 B12 B13 L8 C4 Z9 X1 D5 R8

67-61:

B1 B12 L8 Z9 X1 Q11 M5 V23

67-62:

B1 B12 L8 A11 Z9 Z11 X1 Q7 M4 R11 Gume F2 1,5 cm 85º t24

67-63:

B1 B12 L11 Z9 X1 Q11 M6 V3 V13

67-64:

B1 B12 L11 Z9 Z11 X1 D1 V22

67-65:

B1 B12 L11 Z9 Z11 X1 X2 V3 V24

67-66:

B1 B12 L11 Z9 X1 D5 Q1 V3 V22 Gume F2 2,0 cm 90º t28 R11

67-67:

B1 B12 L11 C4 Z9 X1 X9 V4 V8 V21

67-68:

B1 B12 L11 Z9 Z11 X1 Q2 V7 V25 Gume F1 a8 2,0 cm 90º t26

67-69:

B1 B12 B13 L8 C4 Z1 X1 X9 D1 V9 Gume F2 a18 1,5 cm 70º t18

67-70:

B1 B12 L11 A4 C4 Z9 Z11 X1 X11 D5 Gume F8 1,5 cm 40º

67-71:

B1 B12 L11 C4 Z9 Z11 Q2 M3 V4 V12

67-72:

B1 B12 L8 C2 C3 Z9 X1 X11 V4

67-73:

B1 B12 L11 Z9 Z11 X1 X9 V22

67-74:

B1 B12 L3 C1 Z9 Z11 X1 X9 Gume F8 4,0 cm 90º

67-75:

B1 B12 L8 Z9 X1 X9 D5 Q2 V13

67-76:

B1 B12 L11 Z9 Z11 X1 X9 V4

67-77:

B1 B12 L4 X1 X9 X11 D5 V7

67-78:

B1 B12 L11 C4 Z9 X1 X9 D5 V2

67-79:

B1 B12 B13 L8 C4 Z9 X1 X11 V22 319

Tom Oliver Miller Junior

67-80:

B1 B12 L11 C4 Z9 X1 X11 V4 V12 R11 Gume F2 1,5 cm 90º t28

67-81:

B1 B12 L8 C4 Z9 Z11 X1 X9 X11 V21

67-82:

B1 B12 L8 C2 C3 Z9 X1 X2 X11 V14 V2 V21 Gume F3 a2 1,0 cm 40º t7

67-83:

B1 B12 L8 C2 C3 Z9 X1 X9 X11 D1 V6 V29

67-84:

B1 B12 L4 A14 C2 C3 Z9 X1 X9 X10 X11 Q11 M6 R8

67-85:

B3 L9 C2 C3 Z1 Z10 X2 X3 X11 X12 aB 95º R8

67-86:

B1 B12 L4 C4 Z9 X1 X9 X11 Q1 M2 V20 R11 Gume F2 1,0 cm 90º t28

67-87:

B1 B12 L11 C1 C4 Z9 X1 Q2 M2 V2 R11 Gume F2 2,0 cm 85º t24

67-88:

B1 B12 L11 C2 Z5 Z9 Z11 X1 D1 V12 V24

67-89:

B1 B12 L11 Z9 Z11 X1 X9 V21

67-90:

B1 B12 L11 C4 Z9 X1 X9 X11 V3 V21 R11 Gume F2 1,5 cm 90º t28

67-91:

B1 B12 L11 C4 Z9 X1 V2 V22

67-92:

B1 B12 L6 A10 C2 C3 Z10 Z11 X1 X11 T3 T5

67-93:

B1 B12 L4 C2 C3 Z1 Z9 X1 X2 X11 T1 V6 V12 R8

67-94:

B1 B12 L11 C4 Z9 X1 X2 X11 V29 V25

67-95:

B1 B12 L11 C4 Z9 X2 X9 V6

67-96:

B1 B12 L8 C4 Z9 X1 X2 X11 V1 V12 V25 V29 Gume F2 1,5 cm 50º t10

67-97:

B1 B12 C4 L11 Z9 Z11 D5 Q11 M4 V14

67-98:

B1 B12 L11 C4 Z9 X1 X9 X11 D5 Q1 M4 V24

67-99:

B1 B12 L11 C4 X1 X2 X11 V6 V21

67-100: B1 B12 L12 Z9 Z11 D5 Gume F3 a4 2,0 cm 75º t21 67-101: B1 B12 L4 C2 C3 Z1 Z10 Z11 aB 95º V13 V18 V25 67-102: B1 B12 L11 C4 Z1 X1 V22 67-103: B1 B12 L8 C4 Z9 X2 X11 V4 V25 67-104: B1 B12 L11 C4 Z9 X1 X2 X11 Q1 M2 M3 V20 V23 V24 320

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

67-105: B1 B12 L11 C4 Z9 X1 X11 V19 R11 Gume F2 1,5 cm 90º t28 67-106: B1 B12 L12 C4 Z9 Z11 X1 X11 D1 V26 67-107: B1 B12 L11 C4 Z9 Z11 X1 X11 D2 V24 Gume F3 a2 2,0 cm 70º t21 67-108: B1 B12 L8 Z9 Z11 D5 V22 67-109: B1 B12 L8 Z9 Z11 X1 X9 D5 67-110: B1 B12 L11 C4 Z9 X1 X2 X11 Q6 M2 V21 67-111: B1 B12 L11 Z9 Z11 X1 X9 X11 D4 D5 V4 67-112: B1 B12 L4 C4 Z9 Z10 Z11 X1 X2 X11 D1 V13 V16 V18 V21 67-113: B1 B12 L11 C4 Z9 X1 X9 D5 V27 67-114: B8 L8 C4 Z9 X11 D5 67-115: B1 B12 L8 C4 Z9 X1 X9 D5 V22 Gume F3 a10 1,5 cm 55º t13 67-116: B1 B12 L11 Z9 Z11 X2 X11 D2 V8 Gume F3 a8 1,0 cm 50º t13 67-117: B1 B12 L8 A1 C4 Z9 Z11 X1 X2 X9 X11 D2 D5 V22 67-118: B1 B12 L11 C4 Z9 Z11 X1 X2 X9 X11 V2 V6 V7 V25 67-119: B1 B12 L4 C4 Z9 Z11 X2 X11 Gumes 1) F1 a18 1,5 cm 60º t18 2) F2 1,0 cm 75º t18 67-120: B1 B12 L8 C4 Z9 X1 X2 X8 X11 D1 V2 V13 V21 V25 Gumes 1) F1 a4 1,5 cm 90º t26 2) F3 a12 1,5 cm 85º t24 67-121: B1 B12 L4 A2 C4 Z9 Z10 X1 X2 X8 X11 D1 J7 V3 Gume F3 a2 1,5 cm 50º t13 67-122: B1 B12 L4 C2 C3 Z9 Z11 X1 X2 V29 V25 67-123: B1 B12 L11 C4 Z9 Z11 X1 D5 Gume F8 1,5 cm 70º 67-124: B1 B12 L11 C4 Z9 X1 X11 T1 V2 V12 67-125: B1 B12 L12 C4 Z9 Z11 X1 D5 Gume F1 a10 2,5 cm 85º t26 67-126: B1 B12 L4 Z9 X1 X9 Q1 Q11 M2 M4 V21 V22 Gume F2 2,0 cm 85º t24 67-127: B1 B12 L11 Z9 X1 X2 X11 D1 Q1 Q11 M4 V13 V22 Gume F3 a8 1,5 cm 85º t27 67-128: B1 B12 L11 Z9 Z10 X9 X11 D2 J8 V25 Gumes 1) F3 a2 1,0 cm 321

Tom Oliver Miller Junior

65º t21 2) F1 a2 1,0 cm 90º t26 67-129: B1 B12 L11 Z9 X1 X2 X11 Q11 M4 V4 V13 67-130: B1 B12 L11 Z9 X1 X2 X11 Q11 M4 C4 Z11 X9 T3 V13 V17 Gume F3 a6 1,5 cm 80º t27 67-131: B1 B12 L11 C4 Z9 X1 V20 67-132: B1 B12 L11 C3 Z9 Z11 X1 X11 T3 V6 67-133: B1 B12 L12 C4 Z9 X1 V5 67-134: B1 B12 L11 Z9 X1 Q11 M4 Gume F1 a6 2,0 cm 90º t26 67-135: B1 B12 L8 C2 C4 Z9 X1 X2 T1 V12 V21 V26 67-136: B1 B12 L11 C4 Z9 Z11 X1 X11 R11 Gume F3 a18 2,0 cm 85º t24 67-137: B1 B12 L4 C4 Z9 Z10 X1 X2 D1 Q1 Q11 M2 M3 V9 V12 V20 67-138: B1 B12 L11 C4 Z9 Z11 X2 Q11 M3 67-139: B1 B12 B13 L8 C2 C4 Z9 Z11 X2 X11 D5 J8 Gume F3 a10 1,5 cm 60º t21 67-140: B1 B12 L11 Z9 Z11 X1 Q1 M3 Gume F3 a4 2,0 cm 80º t27 67-141:B1 B12 L8 Z9 Z11 X1 X2 X9 X11 Q11 M3 Gume F1 a4 1,5 cm 70º t20 67-142: B1 B12 L8 C4 Z9 Z11 X1 Q1 Q11 M2 M5 V20 Gume F1 a6 2,0 cm 85º t26 67-143: B1 B12 B13 L8 C4 Z9 Z11 X1 X9 X11 D5 V3 V24 67-144: B1 B12 L11 C4 Z9 Z11 X1 X10 Q1 Q11 M7 V13 V21 Gumes 1) F1 a2 1,5 cm 80º t26 2) F3 a12 2,0 cm 80º t25 67-145: B1 B12 L11 Z9 X1 X9 D5 Q11 M1 M3 67-146: B1 B12 L8 Z9 Z11 X1 D5 67-147: B1 B12 L8 Z9 X1 X2 X8 X11 Q1 Q11 M6 V9 V25 67-148: B1 B12 B13 L11 C1 C4 Z9 Z11 X1 X11 D5 V2 R11 Gume F2 1,5 cm 90º t28 67-149: B1 B12 L11 Z9 X1 D5 V2 Gume F1 a2 1,0 cm 90º t26 67-150: B1 B12 L11 C4 Z9 X1 X9 X11 D2 Q11 M3 V24 R11 Gume F3 a18 2,0 cm 90º t28 322

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

67-151: B1 B12 L8 C2 C4 Z9 Z11 X1 X8 X11 D5 V13 V22 V25 67-152: B1 B12 L11 C4 Z9 X1 X8 X9 D5 Q11 M2 V2 V6 V20 R11 Gume F2 1,0 cm 90º t28 67-153: B1 B12 L8 C4 Z9 Z11 X1 X11 V1 R11 Gume F2 1,0 cm 90º t28 67-154: B1 B12 L8 C4 Z9 Z11 X1 X11 D5 V7 R11 Gume F2 1,0 cm 90º t28 67-155: B1 B12 L8 C3 Z9 Z11 X1 X9 X11 R11 Gume F2 1,0 cm 90º t28 67-156: B1 B12 L8 C4 Z9 X1 X2 X11 J8 V12 Gume F4 a6 1,5 cm 55º 67-157: B1 B12 L4 C2 C4 Z9 X1 X2 X8 X11 D5 V12 V18 67-158: B1 B12 L11 C3 Z9 X1 D5 V2 67-159: B1 B12 L11 C4 Z9 X1 X11 V1 V2 V6 R11 Gume F2 1,0 cm 90º t28 67-160: B1 B12 L8 C3 Z9 X1 X11 V18 V19 67-161: B1 B12 L8 C2 C3 Z9 Z11 X1 X2 X11 D5 J1 V21 67-162: B1 B12 L8 C2 C4 Z9 X1 X11 D5 V13 67-163: B1 B12 L8 C2 C3 Z9 Z11 X1 X8 X11 R8 67-164: B1 B12 L8 C2 C3 Z9 Z11 X1 X9 X11 D5 R8 67-165: B1 B12 L11 C2 C3 Z9 Z11 X1 D5 R8

323

324

ANEXO IV Pós-Fácio, Retrospecto de 2008.

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Pós-Fácio: Retrospecto de 2008 A iniciativa de republicar “Duas Fases Paleoindígenas”, quarenta anos depois, me pegou de surpresa, mas louvo a iniciativa, pois a primeira edição (mimeografada) teve circulação muito restrita. Também faz repensar muitas coisas, após tantos anos e tantas experiências, e reconhecendo que não consegui explicar satisfatoriamente algumas coisas. Por isso, vou embarcar numa “Repensando ...”. Primeiro, Astôlfo Araujo (2001) chamou atenção ao fato que usei um embasamento teórico e metodológico que, apesar das minhas explicações, foi pouco entendido e, menos ainda usado, durante muitos anos. Citou também o meu empenho em registrar os dados de modo que podiam ser utilizados, ou ainda testados, por outros estudiosos. Não fui suficientemente consistente nisso. Na obra em questão, quantifiquei os modos, mas não apresentei os dados codificados, artefato por artefato, como fiz em 1969 nos trabalhos sobre Poço Fundo e São Lourenço. Por esta razão, estes trabalhos, também pouco divulgados, são incluídos neste volume. Espero que, assim, o material recuperado e estudado de 1966-1969 pode ser usado por todos que trabalham na região, por tempo indefinido. Mas, eu me preocupo mais com certos aspectos da mudança de interpretação entre 1968 e 1970, e daí para a publicação que leva a data de 1972 (era, realmente, 1976). Os problemas fundamentais são: (1) mudanças nas interpretações dos depósitos de cascalheiras, (2) mudanças nas datações, (3) questões “tipológicas” derivadas de perspectivas diferentes sobre a produção e uso de artefatos – e, até, a questão de “quando é um artefato?”. Primeiro, vamos abordar a questão dos depósitos rudáceos.

327

Tom Oliver Miller Junior

As Formações Geomorfológicas Normalmente, pensamos no que as outras ciências possam contribuir à nossa, e a Geomorfologia contribui muito com processos de formação dos depósitos, as suas implicações climáticas e ambientais, e, onde possível, uma cronologia. Mas, quais são as contribuições da Arqueologia para a Geomorfologia, neste caso? São duas: o esclarecimento de que temos que tratar a formação chamado “paleopavimento” ou linhas de pedra no plural, e o desdobramento dos baixos terraços fluviais também em dois. Nos dois casos, a indicação arqueológica para a mudança foi a diferença cultural das inclusões de artefatos nos depósitos em questão.

Figura 35: Evolução do Pavimento Desértico para o Paleopavimento. 328

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Paleopavimentos Um paleopavimento é uma antiga superfície que sofreu deflação eólica e / ou pluvial durante períodos secos de erosão agressiva, e posteriormente soterrada numa época mais recente, esse com predomínio de processos de agradação (Figura 35). Normalmente, não há estratigrafia interna em tais formações, porque são o resultado de deflação do solo, com transporte a pouca distância do material graúdo, por causa dos processos erosivos faltarem energia suficiente para o seu transporte a distâncias maiores. Por serem assim, depósitos secundários, apresentam as mesmas inconveniências de qualquer material superficial, pois alguma vez também eram. Mas, nessa região, cujo passado foi caracterizado por muitos e longos períodos de erosão agressiva, devem ser utilizados, como também o material superficial, até que temos amostras melhores, de verdadeiros assoalhos culturais soterrados. Entre as características destes pavimentos detríticos soterrados, destacam as de que são (1) irregulares e (2) descontínuas,. A irregularidade deve-se ao fato de que o pedregulho se encontra distribuído sobre uma velha superfície erosiva, seguindo todas as desigualdades daquela superfície ... A natureza descontínua das ‘stone lines’ deve-se ao fato de serem as forças erosivas diferenciais tanto quanto seletivas, em certos casos removendo até as pedras (Miller 1972: 20).

A geomorfóloga Margarida Penteado admite já ter visto sinais de mais de um paleopavimento superpostos num mesmo barranco, separadas por camadas de paleossolos. Inicialmente, os achava imprecisas, assim dificultando a identificação. Achou prudente adiar referência às mesmas até ter melhores evidências e maiores informações. “E essas informações nos vieram através dos estudos arqueológicos sendo realizados na região por Tom O. Miller, ... com quem temos trabalhado em levantamentos de campo para identificação morfológica de sítios arqueológicos” (Penteado, 1969: 16). O sítio arqueológico que apresentou as provas que Penteado procurava foi Tira Chapéu. Inicialmente, aventamos a possibilidade 329

Tom Oliver Miller Junior

de uma linha de cascalho vertente abaixo ser uma redeposição de material da mesma, descendo a vertente durante um período erosivo posterior. Mas, depois da análise do conteúdo cultural, chegamos à conclusão de que se trata de duas manifestações culturais distintas. Voltando a examinar de novo os depósitos, notamos que a formação inferior era uma camada mais fina de cascalho miúdo, a superior sendo uma camada espessa de cascalho graúdo e miúdo. O que observamos em Tira Chapéu, diz Penteado, “não deixa dúvidas quanto à existência de duas linhas de pedras, de sílex, separadas entre si por solos coluviais. Estas duas linhas de pedra entremeadas de colúvios e solos estão localizados acima de uma cascalheira basal já identificada por nós (Penteado, 1968a) como pedimento detrítico inferior, correlativo aos baixos terraços regionais, situados 3-4 metros acima das várzeas” (Penteado 1969: 21). “Pela sua natureza, tais linhas de cascalhos são indicativas de duas fases climáticas mais secas que mediaram entre a última fase seca que conformou os baixos terraços e pedimentos detríticos e a época atual”, portanto podemos “considerá-las como dois pavimentos detríticos superpostos ... enterrados abaixo dos solos das vertentes dos morros”, concluindo que “tais vertentes podem apresentar mais de um paleopavimento.” (Penteado 1969: 16).

Estas descobertas em nada mudam a interpretação genética dada aos paleopavimentos, mas trazem uma contribuição no que diz respeito às oscilações climáticas que medem entre o limite Pleistoceno-Holoceno e o atual, com possibilidade de datações, se bem que ainda não absolutas, pelo menos bastante convincentes pelas correlações com as interpretações morfológicas já existentes (Penteado 1969: 17).

Diferença entre terraços e paleopavimentos O que distingue os depósitos detríticos dos pedimentos e paleopavimentos dos terraços aluviais é a composição litológica. Os terraços aluviais compõem-se essencialmente de seixos bem rolados (retrabalhados de cascalheiras anteriores) onde o elemento essencial é o quartzo ou o quartzito, sem relações com formações geológicas circundantes, enquanto os pedimentos detríticos 330

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

caracterizam-se por uma composição litológica semelhante a das rochas adjacentes, os elementos sendo mal rolados e de transporte curto, principalmente sobre a vertente e num meio denso. Ambos estariam ligados a mesma fase climática, a diferença estaria nos processos de transporte e deposição: os primeiros relacionam-se a lençóis aluviais e os segundos a movimentos sobre a vertente (Miller 1972: 25). As linhas de pedra, como a cascalheira basal, pela composição litológica (predominância de sílex) e pela angulosidade dos elementos também é explicada por transporte sobre as encostas. Apenas o pequeno tamanho dos seixinhos e a fraca espessura do pavimento lembram duração menor das fases secas e menor capacidade de transporte. Tais características das linhas de pedra mais a sua posição topográfica mostram que as diferenças entre elas e o pedimento detrítico grosseiro estão na escala de tempo geológico e na intensidade e duração dos processos de morfogênese mecânica (ibid.: 25).

Terraços Os terraços são depósitos fluviais, portanto “não deve haver nenhuma razão para confundir a idade do depósito do terraço (fill terrace) com a da acumulação coluvial sobreposta. O fill terrace foi depositado quando o nível do curso da água constava naquele nível, antes da escavação da nova várzea, mas o solo foi depositado em qualquer época posterior” (Miller, 1972: 23). Os depósitos fluviais mostram a ação das águas em termos dos objetos terem sido rolados pelas suas águas e polidas pelas suas areias. As arestas mais cortantes se encontram mais suavizadas, em contrastes com as dos objetos não rolados pelas águas. Na sua Tese de Doutoramento (1968), Margarida Penteado comenta a formação dos baixos terraços, dizendo que “Esse nível rudáceo está cortado pela drenagem atual e ... constituem níveis de terraços de 4 a 5 m ... Esses terraços e pedimentos foram entalhados por uma fase subatual, mais úmido que a atual, que escavou também o assoalho das várzeas.” (Penteado, 1968: 86-87). A sua publicação de 1976, pelo Instituto de Geografia da USP, é a reprodução da tese de 1968. Portanto, não muda nada. 331

Tom Oliver Miller Junior

Mas, após re-estudar Tira Chapéu conosco, ela publicou um trabalho fornecendo “Novas informações a respeito dos pavimentos detríticos” onde, além de documentar a pluralidade dos paleopavimentos, chamou atenção ao fato de que o baixo terraço de Santa Rosa se dispõe do nível do talvegue até 2 metros acima e que o baixo terraço Tira-Chapéu (pedimento detrítico) está 4 metros acima do nível da água. Se comprovarmos a suposição de que t1 poderá ser desdobrado em dois níveis regionais, correspondentes a duas fases secas intercaladas por uma pluvial, então talvez se pudesse dar para o baixo terraço de Santa Rosa uma idade menor que a do baixo “terraço” de Tira Chapéu e nesse caso, com base na cronologia de Link, Bernard e Tricart já citados, Santa Rosa poderia corresponder à oscilação displuvial colocada entre o Holoceno e o Pleistoceno e Tira Chapéu ao Pleistoceno Superior (Penteado 1969: 25).

Numa nota de rodapé (p. 34-35), ela reafirma que “as observações de campo têm demonstrado a possibilidade de uma subdivisão desse nível (P1 – T1). O mais alto situado a 3-4 m acima dos talvegues e o inferior começando do nível da água até 1-2 m acima, o mesmo se dando com os baixos terraços aluviais”. J.J. Bigarella (comunicação pessoal) tem uma data radiocarbônica para um Terraço de Várzea perto de Curitiba, no Estado do Paraná, com aproximadamente 2.500 anos a. C., na rampa de colúvio superposto. Portanto, a camada detrítica do tv é anterior àquela data. Em resumo, “As deposições são por via fluvial, e freqüentemente cimentados com calcreta ou ferricreta. Tais deposições são o resultado de um clima de temperatura alta (com conseqüência de altas taxas de evaporação), e distribuição da pluviosidade entre estações de temporais e de estiagem. Nós, atualmente, tendemos a imputar idade altitérmica (Bryam 1965: 35-37; Bryan e Gruhn 1964) ... para os depósitos do último terraço (tv)” (Miller 1970: 36). Araujo comenta que “não existe uma correspondência direta entre as linhas de seixos e fases climáticas mais secas. Sabe-se hoje que processos distintos podem levar à formação de tais linhas” (Araujo 2001). 332

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Mudanças Necessárias mas pouco Percebidas A colocação de Santa Rosa II e Serra d’Água I (terraço fluvial) anterior aos paleopavimentos (Monjolo Velho, Tira Chapéu II) criou um problema muito sério de interpretação: o que é mais surpreendente, neste quadro, é a grande semelhança entre Santa Rosa (antes de Monjolo Velho) e a Fase Santo Antônio, fase posterior a Monjolo Velho, em outra formação geomorfológica. A continuidade entre a Fase Santo Antônio e os componentes em solo recente também é óbvia (Tamandupá, o último componente da Fase” e em paleopavimento de cascalho graúdo, “é muito semelhante a São Lourenço II”, em solo recente) (ibidem: 29).

Era necessário ver um hiato entre o “Horizonte Santa Rosa” e a Fase Santo Antônio, preenchido por uma tradição cultural com ênfase no aproveitamento, um empobrecimento cultural tentando se adaptar a novas condições, talvez de mata fechada sem muito acesso à caça, eventualmente substituído por descendentes da tradição anterior de volta à região depois de um melhoramento das condições climáticas para caçadores. Mas, mesmo assim, posterior a tempos de Monjolo Velho, reaparece uma tradição pouco modificada desde tempos de Santa Rosa, na forma da Fase Santo Antônio, e os desenvolvimentos a este continuam na mesma tradição – e a Tradição Ipeúna nunca mais aparece (idem).

Figura 36: Modelo de uma Interpretação Errônea 333

Tom Oliver Miller Junior

Esta hipótese, publicado em 1969 (ver Figura 36) parecia a explanação mais simples na época, mas não era. Uma explanação mais simples seria, e de fato acabou sendo, uma interpretação inadequada da seqüência de camadas detríticas. No momento em que Santa Rosa e Serra d’Água foram desvinculados do t1 e colocados num Terraço de Várzea, posterior ao Primeiro Terraço e ao paleopavimento inferior, parcialmente contemporâneo ao paleopavimento superior, o hiato desapareceu, e também a necessidade por uma explanação tão pouco parcimoniosa. Agora Santa Rosa II e Serra d’Água I faziam parte de uma progressão gradativa, sem interrupções. Mas, isto ainda deixa o problema de Tira Chapéu I. Portanto, depois de mudar a interpretação dos baixos terraços, pudemos retificar o erro de interpretação, mas, infelizmente, não a tempo de evitar que o mesmo entrasse no monumental compêndio sobre a Arqueologia do América do Sul, feito por Gordon Willey (1971: 37, 62-4, 401).

Os Sítios - Tira Chapéu Tira Chapéu (ver Figura 1) era, provavelmente, o sítio arqueológico mais importante da região. Infelizmente, não existe mais: a sua posição em cima de uma formação de calcário o condenou a ser mais uma vítima do capitalismo selvagem. O dono da empresa assinou a ordem de destruição sem sequer se informar se tinha alguma importância como patrimônio público ou não, e ainda não tinha sido tombado. Portanto, justifica-se debruçar sobre o pouco que sabemos dele. “A cascalheira (basal) tem espessura variável de 20 cm a 1 metro e se assenta sobre uma nítida superfície (plana) de discordância erosiva, cortada sub-horizontalmente em siltitos intemperizados ... A análise petrográfica (permitiu-nos) caracterizar estes depósitos como pedimento detrítico inferior da região ... (a) composição litológica e o fraco arredondamento sugerem transporte curto, em meio muito denso como pedimentos detríticos (e foram) elaborados numa das últimas fases secas, correlativos aos baixos terraços aluviais do mesmo período (Pleistoceo Superior)” (Penteado, 1969: 22). 334

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Portanto, a pesquisadora continuou a caracterizar a cascalheira como terraço fluvial – t1. No entanto, o assunto merece uma nova verificação, forçosamente com outro t1 com artefatos (por causa da destruição do Sítio Tira Chapéu), pois o geólogo Paulo Landim a identificou como colúvio e, a geóloga Ruth Grün Bryan a caracterizou de “rampa de colúvio” (comunicação verbal). No nível do Baixo Terraço (Tira Chapéu I), na cascalheira, predomina o sílex preto não siltado, freqüentemente seixinhos (bonecos), pedrinhas e lascas rolados e não pelo Córrego da Barreira, e uma grande quantidade de chapas (“plaquetas”) de sílex tabular, com retoques marginais em volta. No lasqueamento das peças maiores, lascas grandes, grossas e discoidais foram tiradas da face [ver Figura 4] (Miller, 1969: 28).

Tira Chapéu é incomum num outro sentido também: “os paleopavimentos inferiores normalmente constituem, nesta região, linhas ou camadas de cascalho miúdo (seixinhos de quartzo), às vezes com quartzito e arenito, menos freqüentemente, com fragmentos de “plaquetas” ou chapas de chert tabular, desagregadas dos depósitos folhados de calcáreo e chert (localmente chamado de ‘sílex’ ou ‘pedra de fogo’)”. Em Tira Chapéu II (ver Figuras 2 e 3) , as pedrinhas são fragmentos angulosos de calcáreo (ou siltito) silicificado. “Há condicionamento cultural no fato de que quase todos os artefatos partem de fragmentos pequenos, e mesmo em caso contrário, apresentam retoques somente sobre pequenas margens ou arestas”, sugerindo que os artesãos já estavam acostumados a lidar com suportes miúdos para a fabricação dos seus instrumentos. “Com isto estamos explicando que o paleopavimento superior representa não apenas um ciclo mais recente dos mesmos processos gerais que produziram o inferior, mas também que era um ciclo de menor duração e agressividade ...” (Miller 1972: 21-22).

335

Tom Oliver Miller Junior

Idade Hipotética Em Anos -12.000 a -11.000 -10.000 a -8.000

Condições Climáticas Displuvial Seco, erosão Suavização Climática (represamento)

Camada 2 (t1) 3e4

-8.000 a -6.500

Seco, Quente

5 (pp Inf.)

-6.500 a -4.500

Suavização

6

-4.500 a -2.500

-2000 a atual

7 (pp sup.)

Erosão

Horizonte

tv

Suavização

8 – Solo

Climática

Recente

Monjolo Velho Tira Chapéu I Redeposição dos Anteriores Tira Chapéu II Santa Rosa II Serra d’Água I Redeposição dos Anteriores; Santo Antônio Tamandupá Marchiori Pitanga, Itirapina Ceramistas

Tabela 1: Cronologia Tentativa.

Cálculos baseados nas tradições tecnológicas contidas colocam o componente Tira Chapéu I no mesmo período de São Lourenço I, dentro da Fase Monjolo Velho, posterior ao sítio deste nome e logo anterior a Tira Chapéu II. Mas inclui também bifaces ovóides, cuja tecnologia de lasqueamento lembra as peças bifaces de Santa Rosa II e Serra d’Água I. Em 1968, sugerimos uma cronologia de acordo com as informações disponíveis na época. Atualmente, podemos sugerir algumas modificações (Tabela 1). Não que se veste da importância que tinha em 1968, quando houve poucas datas radiocarbônicas, mas apenas para aperfeiçoar a técnica nos seus próprios termos daquela época, tirados os erros de interpretação de camadas detríticas, e coloca336

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

das as culturas nos seus tempos de origem em vez das épocas de redeposição.

O Homem do Pleistoceno em Rio Claro? Se podemos todos concordar na novidade relativa dos paleopavimentos (Pleistoceno terminal, a data mais antiga possível, o Máximo Térmico, a mais provável), os três ou quatro terraços fluviais envolvem problemas muito sérios para datação, e considerável divergência de opinião entre nós e os nossos colegas geólogos e geomorfólogos (Miller, 1972: 22).

Encontramos o que consideramos de serem lascas e fragmentos com evidências de alteração e uso pelo homem, como inclusões em fill terraces, e até alguns seixos grandes de diabásio também lascadas para formar bicos e reentrâncias. Estas formações, segundo os geólogos e geomorfólogos, devem datar do Pleistoceno Médio e Inferior. O geomorfólogo, J. J. Bigarella testemunhou a remoção de algumas lascas e seixos retocados do t3 de Nauti Clube, perto de Piracicaba, e os fotografou. A datação atribuída a essas formações, na presença de evidências de atividades humanas, nos deixa profundamente intranqüilos. Efetivamente, os argumentos baseados nos dados arqueológicos (presença de artefatos) nos argúem a favor de uma data mais recente, e a dos geomorfólogos (quantidade de escavação dos rios) argúi a favor de datas mais antigas. Este embate pode fortalecer o argumento de Cardarelli, de que todos os meus “artefatos” que não sejam nem lascas nem núcleos não são, afinal, artefatos. Vamos examinar este aspecto na discussão de Tecnologia, mais adiante. Em relação à presença de artefatos em depósitos anteriores à presença do homem, Araujo (2001) chama atenção à “inserção de peças mais recentes em níveis mais antigos é assunto pouco desenvolvido e pouco reconhecido de um modo geral ... Este ... pode inclusive invalidar algumas interpretações relativas à existência de peças arqueológicas em extratos geológicos considerados muito antigos”. Isto é assunto novo e não posso comentar, pois não entendo a mecânica de como uma lasca, por exemplo, pode descer verticalmente através de camadas de solo argiloso endurecido e outras 337

Tom Oliver Miller Junior

de cascalheira para aparecer num estrato inferior, mas reconheço a importância de maior consideração pelo assunto. Por isso, pedi maiores informações ao pesquisador em questão, e ele explicou que Lascas podem descer por meio de solos argilosos, desde que tais solos formem gretas; são os chamados vertissolos; quanto a atravessar cascalheiras, aí acho difícil. Mas de uma maneira geral, a bioturbação pode operar “milagres”. Buracos de tatu e “panelas” de saúva podem fazer com que peças arqueológicas subam ou deçam várias dezenas de centímetros. Ainda assim, essas peças vão ser exceções, vão estar isoladas e não formariam “níveis arqueológicos” densos (comunicação pessoal).

A importância das implicações para a pré-história da região é grande demais para simplesmente rejeitar tudo que não estiver de acordo com o que convenhamos até agora e simplesmente esquecer o assunto. Se eu tivesse feito isso em relação da datação dos terraços, provavelmente teria demorado mais para especificar o Terraço de Várzea e a sua contemporaneidade, não com o Primeiro Terraço dos escalonados, mas com o paleopavimento superior. Assim, não poderia ter corrigido o erro de interpretação na seqüência de culturas decorrente da atribuição ao Terraço de Várzea uma data mais antiga de que a dos paleopavimentos. Um sítio que entrou na literatura arqueológico, com uma importância superada apenas pela confusão que o envolve, é a Santa Rosa. Convém, aqui, abordar este tópico.

Santa Rosa Santa Rosa é um sítio com três componentes em três formações geomorfológicas distintas, apenas num único caso em seqüência estratigráfica direta. Eu tenho usado o termo “Horizonte” para o que agora chamamos do componente Santa Rosa II, o que se encontra na formação que passamos a chamar de “Terraço de Várzea” (ver Figura 37), mas nunca usei o termo “Fase” para esta ou qualquer outra manifestação cultural na Fazenda do mesmo nome. Santa Rosa I é um paleopavimento de seixos miúdos que em determinado local limitado fica estrategraficamente inferior à manifestação em solo recente que passamos a chamar de Santa Rosa III. 338

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Figura 37: Perfis de Barranco (Tv) de Santa Rosa. Em Santa Rosa, Feature 2. Acima do córrego, nota-se 1) A cascalheira de formação do Baixo Terraço (tv1), cimentado em calcreta; 2) Solo arenoso de formação recente, e 3) Zona A do solo, com raízes. Na Feature 1, acima do córrego, temos 1) Barrancos 1 e 2, cascalheira cimentada por ferricreta, e de formação de baixo terraço (tv1), separados por 2) um nível de argila arenosa compacta, 3) solo de formação recente, com ocasionais peças do componente Santa Rosa III, cor marrom alaranjado até marrom cinzenta e 4) a zona A do solo, arenoso, com raízes. 339

Tom Oliver Miller Junior

Cinqüenta metros rio abaixo deste afloramento da formação do baixo terraço, há outro (“Feature 1”). Neste caso, a cascalheira encontra-se cimentada em ferricreta em vez de calcreta. A deposição argilosa entremeada implica num movimento lento das águas. Represamento das águas podia produzir este fenômeno, por qualquer motivo, ou então condições mais ou menos estáveis de nível do Rio Corumbataí bem mais alto (e correndo menos rápido) do que agora. No córrego de Santa Rosa, a montante da sede da Fazenda do mesmo nome, uma pequena ponte atravessa o córrego onde ele divide as propriedades do Sr. Marchiori, de Tanquinho, das da Usina Boa Vista. Cinco metros rio abaixo a partir da ponte há um afloramento da formação do baixo terraço (Feature 2, ver Figura 37), onde a cascalheira encontra-se cimentada numa espécie de calcreta. Tais deposições são o resultado de um clima de temperatura alta (com, conseqüentemente, alta taxa de evaporação), e distribuição da pluviosidade entre estações de temporais e de estiagem. A diferença morfogenética dos dois features, à pouca distância um do outro, banhados pelas águas do mesmo córrego, pode implicar numa diferença de tempo, e, então, uma de cultura, mas as amostras tiradas no primeiro teste não apoiaram tal conclusão. O inventário da tecnicultura dos acervos culturais redepositados no Terraço Fluvial do córrego de Santa Rosa (ver Figuras 38-44) consiste em artefatos feitos na base de lascas espessas e grandes de sílex preto e marrom não siltado, quase todas trabalhadas unifacialmente. As lascas tiradas da face externa da peça são, em geral, grandes, largas, espessas e discoidais. Outras lascas e chapas de sílex tabular são trabalhadas por retoques marginais (Figs. 38 b, 43 H) ocasionais e irregulares. Uma quantidade das peças, trabalhadas toscamente, tem as margens irregulares (Fig. 46 H-K), sem com que as serrações naturais do lasqueamento tenham sido removidas.

340

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Figura 38: Artefatos de Santa Rosa II: A) Canivete, B) Enxertadeira, C) “Ponta” unifacial, D) Furador com Bico D, e b) Chapa rolada pelo córrego, com retoques marginais posteriores

341

Tom Oliver Miller Junior

Figura 39: Artefatos de Santa Rosa II: A) Biface em forma de folha de louro; Feature 1, Barranco 2; B) Lasca (ponta) com retoques irregulares: esquerda, gume irregular 4 cm.,ângulo 30 graus; direita, gume convexo arco 8, 4 cm., ângulo 40 graus; Feature 1, Barranco 2 342

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Figura 40: Artefatos de Santa Rosa II: A) Faca ou raspador de lasca preparada, com bicos de formão. Abaixo, Bico C entre reentrâncias rasas; direito, bico C entre reentrâncias; Feature 1, Barranco 1. B) Raspador plano-convexo (plaina); Feature 2.

343

Tom Oliver Miller Junior

Figura 41: Artefatos de Santa Rosa II: A) Raspador terminal com 2 pés. Esquerda: Bico C; direita: Bico C. Feature 1, Barranco 2; B) Raspador lateral; Feature 1, Barranco 2. 344

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Figura 42: Artefatos de Santa Rosa II: A) Faca de mão (atípica). Acima: reentrância com ângulo; Feature 2; B) Raspador terminal com bico de pato e gume lateral; Feature 2; C) Raspador vertical com bicos. Plataforma e bulbo cônico embaixo, gume irregular 4 cm. Ângulo 50 graus acima; Feature 1, Barranco 2; D) Raspador terminal com bico de pato (largo). À direita bico cinzel e gume irregular 3 cm. angulo 45 º; Feature 2; 345

Tom Oliver Miller Junior

Figura 43: Artefatos de Santa Rosa II: A) Peça com gume côncavo arco 4, 3 cm., ângulo 60º; Feature 1, Barranco 1. B) Goiva-furão feita na base de uma chapa; abaixo, um entalhe à direita um Bico B. Feature 1, Barranco 2; C) Formão feito na base de uma chapa; acima, Bico F entre reentrâncias; direito, Bico E entre reentrâncias; abaixo a direito bico bifurcado entre reentrâncias, Feature 1, Barranco 2; D) Canivete pequeno, gume à esquerda; na ponta um Bico A. Feature 1, Barranco 2. E) Lasca retocada (ponta unifacial). Feature 1, Barranco 2. F) Furador com Bico D; nota seção transversal semelhante a Agulha. Feature 1, Barranco 1.G) Furador com Bico D; Feature 2. H) Plaina pequena com bico de formão (direita, Bico C entre entalhes), e reentrância rasa (esquerda). Gume da peça, abaixo, é reto, 4 cm., ângulo 90 º; feito na base de uma chapa. Feature 2. K) Bola (núcleo poliédrico). Nota-se bulbos cônicos. Feature 1, Barranco 1.L) Peça com gume côncavo 2 cm., arco 4, ângulo 65º (abaixo), e gume reto 2 cm. ângulo 55º (acima) e Bico E (acima). Feature 2. 346

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Figura 44: Artefatos de Santa Rosa II: a – Faca foleácea unifacial (Leito do Passa Cinco, Poço Fundo; b - c – Canivetes; d – Raspador Plano-Convexo (Plaina); e – “Lesma”. Reproduzido por Willey. 347

Tom Oliver Miller Junior

Facas incluem as de Lascas Preparadas (Fig. 40 A, 45 K), Canivetes (gume de um lado e bordo de preensão no outro, Figs. 38 A, 44 b, 45 L), Enxertadeiras (gume côncavo de um lado e outro convexo do outro Fig. 38 B), e “pontas” triangulóides e unifaciais (Figs. 38 C, 43 E), as quais poderiam ter servidas de ponto de projétil ou, mais provavelmente, de facas. Lâminas, inclusive prismáticas, serviram de facas (Fig. 46 G). Também temos facas de mão (Fig. 42 A), as quais apresentam um gume convexo de um lado e bordo de preensão do outro, como o “ulo” do ártico e o “tchi-tho” da Sibéria e Rússia. (Caldarelli [1983] as chama de “raspador lateral convexo”). Raspadores incluem formas planoconvexos (Plaina, Figs. 40 B, 44 d) e as com bico de pato (Fig. 42 B, D), Lesmas (Fig. 44 e) e Raspadores Verticais (raras mas presentes, Fig, 42 C)), bem como os de Pés (também não comuns, Fig. 41 A). Furadores têm Bicos D (agudo pequeno, Figs. 38 D, 43 G, 46 F), quase que sempre com pescoço, como também os com Bicos A (arredondado, pequeno, Fig. 46 D) e de cinzel (quadrangular pequeno, semelhante a buril). Agulhas (Fig. 46 A-C) e buris são raros mas presentes, como também “bolas” ou núcleos arredondados poliédricos (Fig. 43 K, 46 L). Plainas Pequenas (gume reto vertical de ângulo reto ou quase reto, geralmente 1,5 a 2,5 cm de largura, Fig. 43 H) são presentes mas raras. Observe a diferença de desnível entre o Terraço de Várzea e o nível atual do leito do córrego, um metro ou dois (Figs. 27 e 37), em contraste com o desnível do t1 em Tira Chapéu (Figura 1). É interessante que este horizonte produz a maior proporção de peças de trabalho bifacial, destacando-se peças grandes (de 10 a 16 cm) em forma de folha de louro (Figs. 39 A, 45 E), e peças grandes e médias em forma discoidal ou ovóide. Choppers ou talhadeiras (trabalho unifacial) e chopping tools (trabalhados nas duas faces do gume) também estão presentes. Willey (1971: 37) achou a lesma (Fig. 44 e) semelhante a instrumentos do “Altoparanaênse”, também vistos em José Vieira. Na época, inventário nos sugeriu um “clímax” cultural de uma tradição de caçadores adaptados à caça de animais de grande ou médio porte, 348

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

sugerindo, por sua vez, condições geográficas de estepe ou savana, com a gramada indicado por Butzer. “Altoparanaense” sugere afiliação à tradição Humaitá, com uma indústria pesada de núcleos, ao contrário do palpite de Prous (1992), que quer colocar a Tradição Rio Claro (não usa o nome) na Tradição Umbu, o que se caracteriza por uma indústria de lascas com muitos pontas de projétil. Não me sinto confortável nem com uma classificação nem com a outra. Serra d’Água

Figura 45: Artefatos de Serra d’Água I: E) Biface em forma de folha de louro; F) Faca de lasca preparada com Bico E (esquerda), Bico C entre reentrâncias e Bico quadrangular (direita); G) Chapa com retoques marginais; K) “Ponta” unifacial (lasca retocada); L) Canivete

349

Tom Oliver Miller Junior

Figura 46: Artefatos de Serra d’Água II: A – B - Agulhas; C – Agulha de cristal natural de quartzo; D – E - Furador com Bico A com pescoço; F – Furador com Bico D com pescoço; G – Lâmina prismática; H – K – Lasca com retoques irregulares; L – Bola.

Na confluência dos rios Passa Cinco e Cabeça, na Fazenda Serra d’Água, propriedade do Sr. F. Altarugio, há material arqueológico em três componentes na vertente íngreme do Cabeça. O mais 350

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

baixo, no baixo terraço, tem pedrinhas de quartzo e seixos e lascas de sílex preto não siltado, rolados e não. A cascalheira encontrase cimentada por calcreta, como no caso de Feature 2 de Santa Rosa. O inventário (ver Figuras 45-46) é muito semelhante ao de Santa Rosa, com a diferença que quartzo também figura, embora raramente, como matéria prima, e as agulhas são mais freqüentes. Com esta exceção, as observações feitas para Santa Rosa valem também aqui (ver Miller, 1969: 27) São Lourenço

O componente inferior apresenta um inventário de artefatos muito menores de que é comum na região, como em Monjolo Velho, numa cascalheira acima dos siltitos do Grupo Passa Dois e do Córrego de Covitinga, e cimentados com calcreta, como nos casos de Santa Rosa e Serra d’Água. Os artefatos são feitos na base de pedrinhas de sílex marrom ou preto não siltado, com ocasionais de sílex siltado ou de outras materiais. No inventário, notamos uma tendência de usar as pedrinhas em forma natural ou fendidas, acrescentando modificações na margem, ou então o uso de pedaços de chapas de sílex tabular. Implementos incluem furadores, “agulhas” ou brocas, bolas, raspadores laterais e terminais (pequenos), e raras facas (ver Figuras 28-29). Notamos uma grande ênfase em goivas, formões e Plainas Pequenas, o que para nós sugere uma tecnologia de manufatura e manutenção orientada mais para trabalho em madeira do que seriam o caso Santa Rosa e Serra d’Água. O inventário cultural da Fase Monjolo Velho é quase que totalmente extremamente miniaturizado, e ainda muito pobre em variedades em comparação com São Lourenço I, e muito mais ainda em comparação com outros componentes do mesmo horizonte (t1). Artefatos são feitos na base de pedrinhas, e chapas de sílex cinzento siltado, ágata e quartzo. O inventário consiste em Plainas Pequenas, ”agulhas” ou brocas , furadores, buris, goivas, cinzéis, formões, com raras raspadores e facas miniaturizadas (Miller 1969: 28-29). 351

Tom Oliver Miller Junior

O perfil estratigráfico de Poço Fundo mostra um paleopavimento a beira-rio, pois a sua deposição irregular segue os contornos da paisagem anterior, em vez de ficar perfeitamente nivelado como o t1 de Tira Chapéu I. “Exemplos deste inventário são Poço Fundo I e Tira Chapéu II (ver Figuras 2, 18-19), os quais, com os demais componentes da Fase Monjolo Velho, foram previamente consideradas uma fase intrusiva na região, por causa da sua distinção acentuada dos horizontes anteriores (baixos terraços) e posteriores (Paleopavimento superior e solo recente). Comparando a Fase Monjolo Velho e São Lourenço I, então nos vemos uma mudança gradativa ... que já tem o aspecto de uma tradição, embora uma em mudança.”

São Lourenço I é uma manifestação antiga da Fase Monjolo Velho redepositado num terraço de várzea, o material tendo sido transpordado de um sítio a montante, provavelmente do Riacho Covitinga. Poço Fundo I é um paleopavimento a beira-rio.

Tecnologia Devo mencionar ainda mais uma coisa que a maioria dos colegas passaram por cima: as culturas às quais chamei de “Tradição Ipeúna, Fase Monjolo Velho”. Ninguém mais tem se reportado a manifestações culturais semelhantes, embora eu as visse nas regiões de Conchas-Tietê, Parapuã-Ocauçu e Marília-Tupã. É como falou Alan Bryan, quando viu o depósito de Tira Chapéu I: “Onde estão as lascas?” De fato, as lascas são poucas (ele eventualmente as encontrou), pois a ênfase está em outras tecnologias, notadamente no aproveitamento de formas naturais, mas com retoques, lasqueamento bipolar para fender seixos e espatifamento para produzir estilhaços. Solange Caldarelli, na sua tese de Doutoramento “Lições da Pedra: aspectos da ocupação pré-histórica do vale médio do Rio Tietê” do Departamento de História da USP, em 1983, fala da minha tipologia lítica, dizendo que, pelas minhas definições, é fácil identificar os meus tipos e os comparar aos de outros estudiosos. Isto sempre foi um dos nossos objetivos, a intersubjetividade das 352

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

reportagens de informações que permite, dessa maneira, a comparação de dados e a verificação de conclusões. Também procurei promover a idéia da publicação dos dados primários, para alcançar os mesmos fins. Por exemplo: para tentar encorajar o colega Igor Chmyz a publicar os seus dados para que se possa usá-los (como os meus) nos sítios analisados na minha tese e em outras publicações, sugeri que as suas duas tradições cerâmicas (“Itararé” e “Casa de Pedra”) viessem a ser uma tradição só, na base de características da tecnologia e disponibilidade local de matérias-primas. Para justificar tal posição, citei o fato de que a distribuição das duas “Tradições” em conjunto coincide com o território ocupado pelos Caingáng, embora, separadamente, apresentem um “mosaico”, sem, entretanto, covariar com nenhum outro critério visível. Além do mais, em Parapuã, encontrei a metade de um vasilhame que apresentava uma superfície interna tipo “Casa de Pedra”, enquanto a externa era do tipo “Itararé”. Considerando que Igor afirmou também ter dúvidas com relação à sua classificação, tudo passou a ser chamado “Itararé”, embora ele não tenha publicado os seus dados como eu queria.

“Aproveitamento” e a Tradição Ipeúna Voltando para a Tecnologia Lítica, Caldarelli não considera de serem artefatos os materiais da “Tradição Ipeúna”. Parece-me que muita gente não está reconhecendo esse material como sendo artefatual, passando, inclusive, por cima, no campo. O melhor lugar para procurar estes fenômenos está nos paleopavimentos de cascalho miúdo. Mas, vamos examinar mais de perto os argumentos da nossa colega. Quero deixar claro que não estou querendo menosprezar o trabalho da Dra. Solange Caldarelli, só porque estamos em desacordo sobre certos pontos. A construção de uma Ciência saudável e sólida começa com a dúvida, e exige a discussão aberta e pública. 353

Tom Oliver Miller Junior

Caldarelli é quase a única a fazer isto em relação a algum aspecto do meu trabalho (Astôlfo Araujo também expressou algumas restrições dignas de consideração), e quero saudar a sua iniciativa, à qual eu devo ter respondido há muito tempo; só fiquei adiando porque eu estava longe de Rio Claro e do material em questão, além de entrosado em outros tipos de problemas, de modo que não me senti tanto à vontade para discutir um assunto com o qual eu não estava mais trabalhando correntemente e nem um acervo a consultar. Mas, desde que a Ciência progride pela dúvida e a discussão, melhor tarde do que nunca. A retomada de interesse no meu trabalho exige que não adio mais. Caldarelli se refere à Tradição Ipeúna como tendo uma base tecnológica calcada na técnica que chamo de “Aproveitamento”, a qual ela explica me citando. Entretanto, ela não percebe que alguns componentes da citada tradição, tais como Tira Chapéu II e São Lourenço I, apresentam mais “Espativamento” de que “Aproveitamento”. Ela chama atenção às minhas fotos de artefatos na base de “Aproveitamento” e comenta que, “A meu ver, elas podem perfeitamente ser produtos de ação natural, não havendo nada que permita caracterizá-las como produto de ação intencional. No caso dos utensílios a posteriori, baseei-me em peças provenientes de sítios arqueológicos em que as evidências de lascamento intencional eram concretas. Ora, muitos dos sítios arqueológicos descritos pelo autor (Areião I, São Lourenço I, Paraíso I e II, João Pinto I, Laboratório I, Tira Chapéu I e II, Monjolo Velho, Bairro do Cabeça I, Tamandupá I, Nauti Clube I e II, Tietê, Santa Rosa I, Poço Fundo I, Pau d’Alho I, e Horto do Paulista) foram definidos em função exclusiva dessa pseudo-indústria Caldarelli 1983: 306-7). Em seguida, a autora comenta que toda a minha seqüência teria que ser rejeitada ou, no mínimo, “encarada com muitas reservas.” Numa nota de rodapé, ela, juntamente com Tixier, declara que teriam “reanalisados em conjunto” estes dados, publicados em 1972, chegando à mesma conclusão. Duvido que Caldarelli teria levado material de Monjolo Velho, Tira Chapéu II (neste, predominando o espatifamento) etc. para Paris. Se for na base das fotos, confesso que fui omisso em não 354

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

desenhar os artefatos, pois a fotografia é inadequada para mostrar os detalhes da tiragem de lascas para produzir bicos, goivas e retificar gumes. Existem lascas nestes ajuntamentos, mesmo se poucos proporcionalmente aos produtos das outras técnicas, e foram esses, por serem menos conhecidas, que eu queria enfatizar nas fotos. Realmente, eu devia ter usado desenhos em vez de fotos, o que passei a fazer depois. As reportagens de Poço Fundo I e São Lourenço I são acompanhados de desenhos, e os tenho colocado neste volume para Tira Chapéu II também. Resumindo, estes componentes apresentam um quadro tecnológico variável, no qual figura um conjunto chamado de “Aproveitamento” que envolve a utilização expediente de formas naturais oferecidas pela natureza, técnicas bipolares para fender seixos de quartzo para obter gumes cortantes abertos na margem de superfícies planas, além dos “gomos” considerados típicos da técnica, “Espatifamento” ou técnicas de lasqueamento que visam o colapse intencional da estrutura interna da pedra para produzir lascas, fragmentos e estilhaços cortantes, normalmente com gumes cortantes abertos, a quantidades estatisticamente pouco expressivas de lascas de percussão direta controlada. Veja bem, encaro os implementos individuais do ponto de vista do artesão, procurando um gume cortante e uma maneira de assentar o instrumento na mão (ou encabado) para se usar. Olho para o gume para evidências não aleatórias de modificação, seja intencional ou pelo uso, e olho o ajuntamento em termos de probabilidades da natureza fazer igual ao conjunto num só lugar. Não estou olhando para a forma do instrumento para inseri-lo numa tipologia formal já convencionada na Europa, África ou qualquer lugar. Estou olhando para a sua utilidade prática, como também fizeram os meus informantes xêta. Estou admirado que a Dra. Caldarelli e, ainda mais, o Prof. Tixier fariam declarações tão categóricas sobre um assunto que eles não estudaram a fundo. Observe-se, por exemplo, os artefatos das Figuras 2 K e L, e Figura 29 D e E, que não podem ser artefatos porque a sua base (“suporte” na terminologia da nossa autora) não é nem lasca nem núcleo, são bonecos e chapas de sílex. Isto é o 355

Tom Oliver Miller Junior

que eu chamo de aproveitamento de formas naturais. Por extensão, então, as outras peças nas Figuras 2, 19, 20 e 29 também não podem ser artefatos porque estavam no mesmo ajuntamento com peças feitas na base de “Aproveitamento”. Assim, descartam-se dezenas de componentes porque, por definição, não podem conter artefatos. Em relação aos artefatos na base de seixinhos fendidos da Tradição Ipeúna, uma vez M. Penteado e J.J. Bigarella me levaram para a Serra dos Padres, onde me mostraram uma cascalheira desse material num depósito datando do Pliocênio. Os seixinhos eram iguaizinhos aos aflorando na velha superfície interplanáltica de Rio Claro, como os redepositados em paleopavimentos, já com muitos já modificados pelo homem, como os de Monjolo Velho e outros. Tirei muitos exemplos, procurando ver se tinha alguns parecidos com artefatos, mas não houve um sequer com retoques, e raríssimos exemplos fendidos naturalmente, em contraste aos muitos fendidos e retocados em sítios como Monjolo Velho. Se fossem iguais aos dos componentes por nós estudados, seria a prova de que não eram modificados pelo homem. Mas não era o caso. Realmente, há uma diferença muito grande no conjunto.

“Espatifamento” e Experimentação A segunda técnica descrita é a de “espatifamento” que, a seu ver, teria surgido após a técnica de “aproveitamento” (ibidem). Para ilustrar, cita a minha descrição de “bloco-sobre-bloco” por arremesso, comentando que não discute o fato que tais ações podem produzir as lascas que descrevo, mas protesta que “afirmar ... que essa técnica foi empregado pelos homens pré-históricos e que as características acima permitem identificá-la é algo com que absolutamente não posso concordar (ibidem: 307). Ela afirma que as lascas que eu descrevo como “Lascas de Percussão Espatifada” podem ser obtidas por percussão direto com percutor duro e pesado. Além do mais, Caldarelli cita Tixier ao chamar atenção ao perigo de “se fazer inferências a partir de um número reduzido de experiências”. 356

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Concordo. O que é que ela não pode concordar? Eu descrevo esse método como sendo uma das maneiras de se obter lascas e fragmentos de espatifamento, pois ela compromete a estrutura interna da pedra ao produzir planos de fraturas em direções diversas. No laboratório, várias “gerações” dos meus alunos produziram e utilizaram de lascas e fragmentos assim, além de os desenharam e, portanto, aprenderam a reconhecê-las no registro arqueológico. Tecnologia Lítica (principalmente as diversas formas de Lasqueamento) faz parte do roteiro da matéria de Arqueologia Experimental, no qual, em cada ano em que foi dado o Curso de Laboratório, na Arqueologia, cada aluno faz um número programado de experiências com diversas técnicas, percutores, etc., com as condições prévias e os resultados registrados em fichas, com desenhos, num mínimo de dois ensaios de cada experiência. Os resultados depois são quantificados e comparados. Eu fiz isto sozinho em Rio Claro, depois com alunos; depois observei os Xêta, e continuei as experiências durante anos de aulas, experiências e orientação de bolsistas no Museu “Câmara Cascudo”. Pessoas do Sul também vinham para Natal para participarem desses cursos, para aprenderem a reconhecer os produtos das diversas técnicas de lasqueamento no registro arqueológico. Ainda não devemos esquecer que foi publicado o resultado de um desses cursos, em Florianópolis (Miller, 1975), o que Caldarelli nem mencionou nem citou na sua bibliografia. Na obra em pauta, programava-se uma série de experiências, as quais foram feitas pelos alunos do curso citado, com o registro dos resultados esperados e observados, com desenhos dos resultados. Não acredito que tudo isto pode constituir um “número reduzido de experiências”.

Atividade Indústrial e Parcimônia A continuação, a nossa autora declara que, “da minha parte, considero bastante improvável que um artesão pré-histórico tenha recorrido a um método tão pouco eficaz quanto ao controle dos resultados de seu emprego para produzir instrumentos brutos utilizáveis ou suportes para confecção dos seus artefatos” (op. cit.: 309). 357

Tom Oliver Miller Junior

Os meus informantes xêta, Kwem e Nheengo não são pré-históricos mas acho significante o fato de que favoreceram a Percussão Espatifada para produzir fragmentos e lascas com ângulos de corte de 85º a 95º. Isto porque são comprovadamente melhores para o trabalho de madeira e chifre, o que é muito mais difícil fazer com os produtos de lasqueamento por percussão direta controlada, porque estes ficam com gumes bem mais cortantes, mas, em troca, mais quebradiços. Mais ainda, usaram também da técnica bloco-sobrebloco, cuja descrição técnica foi feito originalmente, se a memória não me falha, por F. Bordes, mas também descrito por Don Crabtree. Os citados xêtas não tinham nenhum conceito de núcleo ou lasca ou do seu contraste. Não procuraram nada mais e nada menos de que objetos cortantes eficientes para os seus fins do momento, e, satisfeita esta necessidade, perderam interesse no objeto e o descartaram. Nem têm termo para lascar, falaram apenas em “quebrar pedra”. Não acredito que o Homem Pré-Histórico estava procurando fazer instrumentos cada vez mais formalizados, elegantes e bonitos para impressionar arqueólogos do seu futuro. Acredito que estavam procurando meios efetivos e parcimoniosos de produzir bordos cortantes mais efetivos para os seus fins, para trabalhar com o máximo de eficiência e mínimo de desperdício energético. Para quem precisa de bordos cortantes abertos e resistentes, encontraram a solução efetiva no espatifamento. Assim, isto não é uma técnica “primitiva” em relação à Percussão Direta Controlada, e sim uma técnica eficaz para solucionar certo tipo de problema. O problema está no olho do observador científico moderno. Se você começa com a tradição arqueológica evolucionista da Europa, que olha em primeiro plano para a forma global do instrumento, isto funciona para a Europa, mas nem sempre aqui. De fato, a maior parte dos “artefatos” em ajuntamentos arqueológicos aqui se consiste em instrumentos “expedientes”, facilmente feitos e facilmente descartados. Isto resolve o problema energético com o mínimo de entropia, mas a maioria dos arqueólogos presta pouco ou nenhuma atenção ao que consideram de ser “lascas retocadas” ou “lascas utilizadas”, muito menos se sequer são lascas. 358

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

E, o que significa aquela minoria das peças arqueológicas, as “Curacionadas” (Binford), com muito maior investimento de tempo e energia? Depois, vão ter que ser carregados de um lugar para outro pelos seus fabricantes, porque não vão querer jogar fora tanto investimento de trabalho nas mudanças. Vão ter que, literalmente, “carregar pedra”. Isto é irracional. No entanto, certo número de tais instrumentos realmente foram produzidos, e são o objeto de discussão da maior parte das reportagens arqueológicas. Do ponto de vista energético, insisto que tal comportamento irracional para trabalhos de dia-a-dia ou subsistência só se torna racional para razões sociais (marca de prestígio para um mestre artesão ou mestre caçador) ou religiosos (enterrados com pessoas de prestígios por serem eles mestres). Em certos casos, pode até ser privilégio apenas dos mestres de terem tais instrumentos elegantes, como no caso da cultura “Old Copper” da pré-história do Centro-Oeste americano, onde instrumentos de cobre foram marca social privilegiado apenas para os mestres, numa sociedade não estratificada, mas hierarquizada. Eu sei. Isto é especulação, mas tem que ter alguma razão racional para comportamento estatisticamente excepcional e energeticamente irracional.

Lasqueamento Bipolar Em seguida, Caldarelli passa a comentar a técnica bipolar. De fato, fui omisso em descrever a mecânica envolvida em fender seixinhos de quartzo. O assunto me parece mais complicado de que lascar blocos de sílex, mas eu experimentei, inicialmente, objetivando aprender o assunto em geral e, portanto, usei o sílex e o jaspe por causa do melhor visibilidade das ondas e raios de força dentro da pedra, de que mostrado pelo quartzo. A intenção era de voltar para o quartzo depois, mas não chegamos até aí, e eu saí da região não tendo mais esse material à minha disposição. Outros aspectos do bipolar ficaram mais claros, os bulbos em pontos opostos, a produção dos gomos, etc.

359

Tom Oliver Miller Junior

Figura 47: Lascas Côncavas Experimentais.

O outro aspecto do bipolar foi o caso das tantas lascas côncavas e bolas poliédricas que encontrei em ajuntamentos arqueológicos. Por causa de lascas tiradas por um jovem xêta, entendi que a produção desses objetos era através de um golpe tangencial num núcleo com apóio mole envolvente. J.J. Flenniken demonstrou para mim, num campo perto de Angicos, RN, ao anoitecer, que repentinas diferenças térmicas na pedra podem causar lascas do tipo “pot lid” a se desprenderem da mesma. Tudo bem, mas ninguém ainda me explicou a mecânica da ação e resultado do jovem xêta. Não considero o assunto fechado sem maiores experiências. Algumas semelhanças aparecem nas nossas experiências, tais como lascas côncavas, e os bulbos de encontro de força e contra-força no meio da face interna da lasca. Caldarelli admite nunca ter tido a oportunidade de ver uma lasca assim, portanto, reproduzo aqui exemplos experimentais produzidos no Curso de Tecnologia Lítica Arqueológica, no Museu de Antropologia da UFSC (Figura 47, ver também Miller 1975: Figura 23).

360

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Lasqueamento Controlado; Observações nem Sempre Na continuação, a nossa autora me cita sobre o lasqueamento por Percussão Direta com percutor duro. As minhas advertências sobre o que pode acontecer se bater longe da margem da plataforma decorre de evidências experimentais. Claro é que há um jogo complexo de peso e dureza do percutor, força e ângulo do golpe, ângulo da face externa da plataforma, presença ou não de aresta guia, etc. Eu tenho um conjunto de percutores de dureza e pesos distintos e, nas experiências, estes fatores entram nas fichas para servir de controles. Mas continuo a insistir que, com o mesmo percutor, um golpe leve no meio do núcleo dificilmente vai produzir uma lasca de forma previsível, e um golpe forte pode prejudicar a estrutura da pedra. Isto é o que chamo de Lasqueamento Espatifado. As técnicas de percussão direta com percutor mole e com percussão indireta produzem lascas fáceis de identificar (falando estatisticamente, sempre há um ou outro caso excepcional), pois os bulbos são largos e rasos e, freqüentemente, uma lasca desprende da face externa frente ao ponto de impacto, deixando a plataforma em forma de “U” com uma ou duas asas. Lascas tiradas pela técnica indireta são quase que idênticas, mas, normalmente, o artesão esfrega a margem da plataforma com o percutor ou outra pedra para produzir uma área onde a fricção das escamas negativas diminui a probabilidade da punção escorregar durante a operação. Esta “plataforma facetada” pode ser reconhecida e, pelo que saiba, não tem outra utilidade. Portanto, não vejo porque a nossa colega acha tão arriscado tentar identificar a origem de tais lascas. Melhor identificar 85 ou 90% do que nenhuma, só por medo de errar em uma ou outra instância. O fato experimental, citado por Caldarelli, de que se pode replicar uma ponta Folsom por mais de uma técnica não implica, a meu ver, que devemos parar de tentar fazer experiências e interpretar artefatos pré-históricos só porque algum artesão experimental muito habilidoso possa aprender a dominar diversas técnicas. Eu não domino a técnica de lasqueamento por pressão, e fiquei muito admirado 361

Tom Oliver Miller Junior

de ver as coisas belas feitas por Crabtree e por Flenniken. Mas, não desisti de experimentar e tentar interpretar só por causa disso. A fila de escamas da qual falei, no bordo com retoques por pressão, é coisa que eu vi comentado nos resultados do Seminário da Ilha das Rosas, no Paraná (Laming 1967). Portanto, me criticar por dizer isso é escolher o alvo errado, pois quem discutiu isto foi Mme. Anette Laming-Empereire e Igor Chmyz, trabalho este não citado por ela. Posteriormente, em 1972, Crabtree (1982: 50) também mencionou “scalar flaking”, o que seria “uma técnica que produz cicatrizes de lascas irregulares, sobrepostas e em expansão, as quais se assemelham com escamas, podendo ser resultado de pressão ou de percussão” ou uma combinação das duas técnicas. Como Caldarelli já tinha dito a meu respeito, não procuro “destruir o trabalho feito por” ela, mas não considero que ela conseguiu juntar evidências convincentes para “eliminar ou depurar” nem a Tradição Ipeúna, nem as Técnicas de Aproveitamento nem de Espatifamento. Esta última foi objeto de muitas experiências de laboratório, inclusive, juntamente com Jeff Flenniken, que antes desconhecia a mesma, embora Crabtree a cita. Concordo plenamente com a sua conclusão de que o seu material do Médio Tietê mostra fortes semelhanças ao que eu descrevo como a Tradição Rio Claro, pois eu já tinha comentado que encontrei material inteiramente semelhante, mais ou menos em 1971, dentro da região por ela pesquisada na década de 1980 (ver Miller 1971). Aqui não estou querendo diminuir a obra da Dra. Solange Caldarelli. Eu sempre disse que a Ciência só progride com a discussão, pois todos aprendemos com isso – tanto quem duvida (como ela) quanto quem deve repensar certas coisas (como eu). Caldarelli e Araujo são raros entre os arqueólogos brasileiros, ao entender e aplicar este princípio e, portanto, “a meu ver”, estão de parabéns.

Métodos Quantitativos Outra coisa que os colegas não deram a importância que eu considero que mereça foi o meu uso da estatística, se bem que o 362

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

PRONAPA tenha usado um método com fundamento quantitativo na técnica conhecida como o “Método Ford”, de seriação cronológica na base de mudanças quantitativas na popularidade de “tipos” de cerâmica (ver James A. FORD: Método cuantitativo para establecer cronologías culturales, publicado em Washington em 1961, pela Unión Panamericana, “Manuales Técnicos nº 3”). Embora os “tipos” nomeados por estes pesquisadores não sejam definidos de maneira mutuamente exclusiva, a técnica é uma boa “primeira aproximação” para estabelecer uma cronologia relativa; parece, porém, não se adequar a objetivos semelhantes baseados em material lítico. Eu já tinha experimentado com métodos quantitativos para determinar os graus de confiança e significado de atributos diagnósticos para artefatos líticos (Razão Crítica e Chi-Quadrado). Em Rio Claro, ataquei o problema como sendo o de medir as mudanças evolutivas de atos tecnológicos quantificados em ajuntamentos arqueológicos líticos completos.

Regressão Encontrei o que queria na estatística de Regressão, onde as somas de atributos quantificados de cada componente são subtraídas da média total para aquele atributo, e depois os resultados de cada atributo são somados para o componente em questão. Escolham-se, assim, dois componentes “pivôs” - o máximo positivo e o máximo negativo – os quais serão os pontos final e inicial da seqüência. A seqüência original de componentes, que se me apresentou, está a mostra no Gráfico 11 de 1968, onde o componente mais antigo fica à esquerda, acima, e o mais recente, abaixo, à direita. Com o tempo e mais componentes, e ainda uma data radiocarbônica, foi possível aprimorar mais ainda a nossa cronologia de componentes. Cada componente expressa, no total, um valor na seqüência, formando uma aproximação a uma linha cujo modelo ideal é a fórmula x = -y 363

Tom Oliver Miller Junior

o que representa o tempo. Só que não se sabe qual dos pivôs é o mais antigo e qual o mais recente, mas a seqüência de formações geomorfológicas nas quais os componentes estão inseridos resolve isto. Embora exista uma fórmula para minimizar distorções devidas a erros de amostragem, a minha linha foi tão incrivelmente apertada que nem precisei usá-la, uma vez que a diferença mal seria notada.

Gráfico 13: A Mais Nova e Completa Linha de Regressão.

No nosso gráfico mais recente (Gráfico 13), temos o quadro mais completo até agora, em cujo cálculo o componente mais antigo fica à direita, embaixo, e o mais recente, acima, à esquerda. Limitei os critérios testados a apenas dois parâmetros: Tecnologia Lítica e Forma de Gumes, pois a forma global dos instrumentos são variáveis dependentes de outros fatores e não só evolutivos, e se mostram menos sensíveis a mudanças direcionais. Veja que, no novo cálculo, Santa Rosa III (em solo recente) cai na Fase Marchiori, não numa fase anterior como no gráfico apresentado no artigo em DÉDALO. 364

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Isto também deve fazer mais críveis as datas radiocarbônicas mais recentes para Santa Rosa III, embora a dinâmica da formação do sítio exija cautela, por causa da possibilidade de contaminação pelas atividades agrícolas. Assim, a cronologia foi feita a partir de dois procedimentos, uma seriação estatística e uma seqüência de depósitos geomorfológicos, usados simultâneamente como controle e corretivo um para o outro. Albert Spaulding já comentou que a Linha de Regressão não seria muito popular por causa do número de operações necessárias na sua confecção. No entanto, esse número não é maior do que no uso de chi-quadrado (X2) para determinar os níveis de significado e confiança de uma diferença na distribuição quantificada de atributos, que eu usei para elaborar tipologias confiáveis de cacos de cerâmica ou carimbos postais. A minha cronologia de seriação controlada pela estratigrafia não pretende ser a “última palavra” em nada. Muitas incertezas estão envolvidas, mas tal ordenação era muito útil na época, e nem todos os sítios têm datas radiocarbônicas ainda hoje. A técnica até chama a atenção para algumas incertezas, indicando tópicos ou áreas que precisam maior atenção nas pesquisas. Por exemplo, estou intrigado com o fato de que a seriação coloca Tira Chapéu I (Terraço t1) na mesma época que São Lourenço I (Terraço de Várzea, formação muito mais recente) e, ainda Tira Chapéu I tem bifaces que, tecnologicamente, iam se perder num ajuntamento de artefatos de Santa Rosa II (Terraço tv). Em determinado momento, me perguntei se Tira Chapéu I não seria mais um paleopavimento mas, ao reler os argumentos de Penteado, realmente a deposição foi fluvial, ao menos em parte e, a 4 m acima da várzea atual. Talvez seja uma redeposição em tv de uma cascalheira de um t1. Pena que o sítio foi destruído. Quem vai retomar a Arqueologia da região deve procurar mais terraços t1, pois este problema é muito perturbador. 365

Tom Oliver Miller Junior

Retrospecto Enfim, ao contemplar em retrospecto os 40 anos desde a minha tese, o sabor é agridoce. Doce por causa do fato de que os colegas ainda se interessem pelo meu trabalho daqueles tempos, e querem que tenha maior divulgação para que seja mais aproveitado, e porque os assuntos aos quais me enderecei ainda são atuais. Ao mesmo tempo amargo, porque a Arqueologia da região em questão praticamente fica no mesmo ponto em que deixei, 40 anos atrás. Espero que o meu legado arqueológico sirva para as novas gerações que vão atacar os mesmos problemas que ataquei tantos anos atrás, e que consigam mais de que eu. Vou terminar refletindo nas ponderações de Astôlfo Araujo, quando diz que A preocupação de Miller J. com a documentação de suas pesquisas é o que nos dá alguma esperança de resgate da arqueologia da região ... Suas outras publicações apresentam tabelas de classificação do material lítico, indo além da tradicional listagem de tipos e freqüências. É possível que esta documentação cuidadosa tenha sido tudo o que restou do patrimônio arqueológico recuperado ao longo de quase uma década de trabalhos na região de Rio Claro ... Este (des)caso poderia servir como ponto de partida para uma reflexão a respeito da efemeridade do que julgamos eterno (as coleções arqueológicas ... compondo um conjunto), de necessidade de publicar algo além de notas prévias e descrições sucintas, e da nossa própria impermanência como guardiões de um patrimônio ...(Araújo, op. cit.).

Era esta a minha mensagem. Graças a Deus, alguém finalmente entendeu. Graças também ao amigo Astôlfo, que foi o primeiro contemporâneo a chamar atenção à minha metodologia e os meus resultados. Graças também ao amigo A.C. Sarti, que organizou uma exposição sobre a minha vida e obra em Piracicaba (pertinho de Rio Claro) como pioneiro da Arqueologia brasileira. E, graças à Sociedade de Arqueologia Brasileira, do qual sou um dos fundadores, e que, com o seu Presidente, Rossano Lopes Bastos, resolveram republicar a minha obra, tão pouco divulgada 40 anos atrás. 366

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

Abreviações: AA - American Anthropologust AAn - Americam Atiquity AEHE - African Ecology and Human Evolution, Ed. F.C. Howel e F. Burlière. Viking Fund Publications in Anthropology N0 36 AMNH-AP - American Museum of Natural History, Anthropological papers. AMP-A - Arquivos do Museu Paranaense, Nova Série, Arqueologia BAE-B - Bureau of American Ethnology Bulletin BPG - Boletim Paranaense de Geografia CA - Current Anthropology FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo HSAI - Handbook of South American Indians, Ed. Julian H. Steward Bureau of American Ethnology Bulletin 143 IAP - Instituto Amchietano de Pesquisas, São Leopoldo MH - McGraw-Hill, New York MPEG-PA - Museu Paraense Emilio Goeldi, Publicações Avulsas PHB - Pré-História Brasileira, Ed. Paulo Duarte. Instituto de Pré-História da Universidade de São Paulo. PM-P – Peabody Museum of American Archaeology and Ethnology Harvard University, Papers PMNW – Prehistoric Man in the New World, Ed. J. Jenninga e E. Norbeck. University of Chicago Press. RMP – Revista do Museu Paulista, n. s. SWJA – Southwestern Journal of Anthropology UCal – University of Califórnia Press UChi – University of Chicago Press UP-A – Conselho de Pesquisas da Universidade Federal do Paraná, Antropologia VFPA – Viking Fund Publication in Anthropology

367

Tom Oliver Miller Junior

Bibliografia ANDREATTA, M.D. Notas parciais sobre pesquisas realizadas no litoral e Planalto do Paraná. Mimeografado, IAP, 1968 ARAUJO, A. G. M. --- “A Arqueologia da Região de Rio Claro: Uma Síntese.” Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, vol. 11, pgs. 125-140. 2001 ASCHER, Marcia. A Mathematical rationale for graphical seriation. AAn, v. 25, n. 2, p. 212-4, 1959. ASCHER, Robert. Analogy in Archaeological interpretation. SWJA, n. 17, p. 317-25, 1961.. ASCHER, Robert; Ascher, Marcia. Chronological ordering by computer. AAn, v. 65, n. 5, p. 1045-52, 1963. BARNETT, H.G. Innovation the basis of cultural change. MH. T, 1953. BELOUS, Russel E. The Central California chronological sequence reexamined. AAn, v. 18, n. 4, p. 341-55, 1953. BENNYHOFF, J.A. The Viru Valley sequence: a critical review. AAn, n. 16, p. 231-49, 1952. BERNARD, E. A. Théorie astromique dês pluviaux et interpluviaux du Quaternaire africain. Actes. 4e. Pan. Afr. Cong. Pré-hist. Leopoldville: 1959, p. 67-95, 1959. Citado em deHeinzelin. BIGARELA, J.J.; MOUSINHO, M.R. Significado paleográfico e paleo climático dos depósitos rudáceos. BPG, n. 16-17, p. 7-16, 1965. BINFORD, Lewis R. Archaeology as Anthropology. AAn, v. 28, n. 2, p. 217-25, 1962. ______. Red ocher cachês from the Michigan área: a possible case of cultural drift. SWJA, v. 19, n. 1, p. 89-108, 1963. ______. A consideration of archaeological research design. AAn, v. 29, n. 4, p. 425-41, 1964. ______. Archaeological systematics and the study of cultural process. AAn, v. 31, n. 2, p. 203-10, 1965. ______. Comments (on Chang). CA, v. 8, n. 3, p. 234-5, 1967. BINFORD, L. R.; BINFORD, S. R. A preliminary analysis of functional 368

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

variability in the Mousterian of Levallois fácies. In: Recent Studies in Paleoanthropology, Ed. J. D. Clark e F. C. Howell. AAn, v. 68, n. 2, pt. 2, 1966. BINFORD, S. R. e L. R. BINFORD. Stone Tools and Human Behavior. Scientific American, Vol. 220, Nº 4, p. 70-84. BJORNBERG, A. J. S.; LANDIM, P. M. B. Contribuição no estudo da formação Rio Claro (neocenozóico). Boletim da Sociedade Brasileira de Geologia XV (4), 1966. BLACK, G. A.; WEER, P. A proposed terminology for shape classification of artifacts. AAn, v. 1, n. 4, p. 280-94, 1936. BLASI, Oldemar. Algumas notas sobre a jazida arqueológica de Três Morrinhos, Querência do Norte, Rio Paraná. BPG, n. 2-3, p. 49-78, 1961. ______. Os indícios arqueológicos do Barracão e Dionísio Cerqueira, Paraná – Santa Catarina. AMP-A, n. 2, p. 1-26, 1965. BLASI, Oldemar; SILVA, F. A. Escavações preliminares no Estirão Comprido. In: Congresso Internacional de Americanistas, 31, 1955. Anais ... p. 829-45. BORDES, François. Étude comparative des différents techniques de taille du sílex et dês roches dures. L’Anthropoligie, T. 51, Nº 5/6, p. 394-420. 1947. ______ Typologie du Paléolithique Ancien et Moyen. Publications de l’Institut d l’Université de Bordeaux, Mémoir Nº 1. 2 vols. ______ Essai de préhistoire expérimentale: fabrication d’un épieu de bois. Bulletin de la Societé Préhistoirique Francaise, p. 69-73. Separata s.d. BRAINERD, George W. The place of chronological ordering in archaeological analysis. AAn, v. 16, n. 4, p. 301-13, 1951. BRANDÃO DO PRADO, Maria Eugênia --- Escavações da jazida arqueológica lítica São Lourenço (SP.CQ.1), Município de Charqueada, Estado de São Paulo. Manuscrito apresentado à FAPESP. 1969. BREW, John Otis. The use and abuse of taxonomy. In: Archaeology of Alkali Ridge, Southeastern Utah. PM-P, n. 21, p. 44-66, 1946. BRYAN, Alan L. Paleo-American Prehistory Idaho State University Museum, Occasional Papers, n. 16. Pocatello, 1964. BUNDI, Hans-Georg. “The Burins in the Eskimo Area” . Univ. of Alaska Anthropological Papers, v. 10, n. 2, p. 19-28, 1963. 369

Tom Oliver Miller Junior

BUTLER, B. R. The Old Cordilleran Culture in the Pacific Nortwest. Idaho State University Museum, Occasional Papers, n. 6, 1961. BUTZER, Karl W. Climatic-geomorphologic interpretations of Pleistocene sediments in the Eurafrican subtropics. AEHU, p. 1-27, 1963. ______. Environment and Archaeology, an introduction to Pleistocene geography. Aldine: Chicago, 1964 BYERS, Douglas S.; JOHNSON, Frederick. Two sites on Martha´s Vineyard. Papers, Robert S. Peabody Fundation for Archaeology, n.1, p. 1. 1940. CALDARELLI, Solange B. -- Lições da pedra: aspectos da ocupação pré-histórica do vale m~edio do Rio Tietê. São Paulo: Deptº de História da USP. Tése de Doutoramento. 1983. CHANG, Kwang-Chih. Major aspects of the interrelationship of archaeology and ethnology. CA, v. 8, n. 3, p. 227-243, 1967. CHMYZ, Igor. Nota prévia sobre a jazida PR.UV. A-1 (63) Kavales. RMP, n. 14, p. 493-512, 1963. ______. Nota prévia sobre a jazida PR.UV A-1 (62) Passo do Iguaçu. BPG, n. 10-15, p. 281-96, 1964. ______. O sítio arqueológico PR.UV 1 (Abrigo sob rocha Casa de Pedra) UP-A n. 3, 1967a. ______. Dados parciais sobre a arqueologia do Vale do Rio Paranapanema. MPEG-PA, n. 6, p. 59-78, 1967b. CLARKE, D. L. Matrix analysis and archaeology. Nature, v. 99, n. 4895, p. 790-792, 1963. COLE, Fay-Cooper; Thorne Deuel. Rediscovering Illinois. Uchi, 1937. COMAS, Juan. Origem do Homem Americano. São Paulo: Encontros Intelectuais, 1961. COWGILL, George L. Comments (on Chang). CA, v. 8, n. 3, p. 236-7, 1967. CRABTREE, Don E. Experimental manufacture of wooden implements with stone tools. Science, Vol. 159, p. 426-28. 1968. ______ An Introduction to Flintworking. Pocatello: Occasional Pepers of the Idaho State University Museum, nº 28. Segunda edição, 1982 370

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

CRANE, H. R. University of Michugan Radiocarbon dates I. Science, v. 124, p. 3224, 1956. CRUXENT, J. M. Boletin del Museo de Ciencias Naturales, tomos 4 y 5, n. 1 y 4, Caracas, 1959. (Citado em Guidon.) CRUXENT, J. M.; ROUSE, Irving. Arqueologia cronológica de Venezuela. Unión Panamericana, Estudos Monográficos VI, 1961. v. 1 y 2. DEETZ, James F. The dynamics of Stylistics change in Arikara ceramics. Illinois Studies in Anthropology, n. 4, 1965. DEMPSEY, Paul; BAUMNHOFF, Martin. The statistical use of artifact distribuitions to establish cronological sequence. AAn, v. 24, n. 4, p. 496-509, 1963. DIAS JUNIOR, Ondemar F. Notas prévias sobre pesquisas arqueológicas nos Estados de Guanabara e Rio de Janeiro. MPEG-PA, n. 6, p. 89-106, 1967. DUARTE, Paulo. Preâmbulo. PHD: 1968. EDWARDS, Allen L. Statistical Analysis New York: Rinehart, 1958. EHRICH, R. W. Some reflections on archaeological interpretations. AAn, v. 52, n. 4, p. 468-82, 1950. ______. Further reflections on archaeological interpretation. AAn, v. 65, n. 1, p. 16-31, 1963. EVANS JR., Clifford. Preliminary results of archaeological investigations in the Lagoa Santa of Minas Gerais, Brazil. AAn, v. 15, n. 4, p. 341-3, 1950. ______. Lowland South America. PMNW, p. 419-50, 1964. ______. Introdução. Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas, MPEG-PA, v. 6, p. 7-31, 1967. FERNANDES, José Loureiro; BLASI, Oldemar. As jazidas arqueológicas do Planalto Paranaense : nota prévia sobre a jazida Estirão Comprido. Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Paranaense. Boletim, n. 6, p. 1-16, 1956. FINKELSTEIN, J. J. A suggested projectile point classification. AAn, n. 2, p. 197-203, 1937. FORD, James A. Cultural dating of prehistoric sites in the Virú Valley, Peru. AMNH-AP, v. 43, n. 1, p. 28-89, 1949. 371

Tom Oliver Miller Junior

______. Reply to The Virú valley sequence, a critical review. AAn, n. 17, p. 250, 1952. ______. Comment on A. C. Spaulding´s “Statisdtical Techniques for the Discovery of artifacts types”. AAn, n. 19, p. 390-1, 1954a. ______. On the Concept of types: the type concept revisited. AAn, n. 56, p. 42-54, 1954b. ______. Método cuantitativo para estabelecer cronologias culturales. Unión Panamericana, Manuales Técnicos III, 1962. FORD, James A.; WILLEY, Gordon R. Surface survey of the Virú Valey, Peru. AMNH-AP, v. 43, n. 1, 1949. FRISON, George C. A functional analysis of certain Stones tools. AAn, v. 33, n. 2, p. 149-55, 1968. GARDIN, Jean-Claude. Four codes for the description of artifacts, an essay in archaeological technique and theory. AAn, v. 60, n. 2, p. 335-57, 1958. GEARING, Fred. The structural poses of 18th century Cherokee villages. AAn, v. 60, n. 6, p. 1148-57, 1958. GIFFORD, James C. The type-variety method of ceramic classification as na indicator of cultural phenomena. AAn, v. 25, n. 3, p. 341-47, 1960. GJESSING, Gutorm. Comments (on Chang). CA, v. 8, n. 3, p. 237-8, 1967. GOODWIN, A. J. H. Chemical alteration (patination) of Stone. In, The application of quantitative methods in archaeology, VFPA, n. 28, p. 300-24, 1960. GUERRA, Antônio Teixeira --- Dicionário Geológico-Geomorfológico. 3ª edição. Rio de Janeiro: Biblioteca Geográfica Brasileira, série A, pub. Nº 21, 1969. GUIDON, Niéde. A indústria lítica de Jataí, Estado de São Paulo. RMP, n. 15, p. 381-403, 1964. HAURY, Emil W. et al. An archeological approach to the study of cultural stability. In: Seminars in Archeology, R. Wauchope, n. 11, p. 32-57, 1956. HAWKES, Christopher. Archaeological theory and methods: some suggestions from the Old World. AA, v. 56, n. 2, p. 155-67, 1954. HEINZELIN, J. Observations of the absolute chronology of the Upper Pleistocene. AEHE, p. 285-303, 1963. 372

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

HESTER, James J. Late Pleistocene Environments and Early Man in South-America. The American Naturalist, v. 100, n. 914, p. 377-388, 1966. HEUSSER, C. J. Late Pleistocene pollen diagrams from Southern Chile. INQUA, VII International Congress, (Boulder, Colorado): Abstracts, 1965. HRDLICKA, Ales. Early man in South America. BAE-B, n. 52, 1912. HURT JR., Wesley R. The cultural complexes from the Lagoa Santa region, Brazil. AAn n. 62, p. 569-85, 1960. ______. New and revised radiocarbon dates from Brazil. Museum News, n. 23, p. 11-12, 1962. ______. Recent radiocarbon dates from Central and Southern Brazil. AAn, v. 30, n. 1, p. 25-33, 1964. IBARRA-GRASSO, Dick Edgar. El paleolítico inferior en La América indígena anterior al último glacial. Revista de Cultura, Universidad Mayor de San Simon, Cochabamba, Bolívia, v. 4, n. 4, p. 5-65, 1964. KLUCKHOHN, Clyde M. The use of typology um anthropological theory. Men and Culture, p. 134-40, 1960. KRIEGER, Alex D. The typological concept. AAn, v. 9, n. 3, p. 271-88, 1944 ______. Early man in the New World. PMNW, p. 23-84, 1964. KROEBER, Alfred L. Zuni potsherds. AMNH-AP, v. 18, n. 1, p. 1-37, 1916. ______. Statistical Classification. AAn, n. 6, p. 29-44, 1940. KROEBER, A. L.; KLUCKHON, Clyde. Culture: a critical review of concepts and definitions. PMP-P, v. 47, n. 1, 1952. LAMING, Annette. Novas perspectivas sobre a prá-história do sul do Brasil. Anhembi, v. 113, n. 38, 1960. ______. L´Archeologie Prehistorique. Le Rayon de la Science, n. 18, 1963. ______ Guia para o Estudo das Indústrias Líticas da América do Sul. Centro de Ensino e Pesquisas Arqueológicas, Manuais de Arqueologia, Nº 2, Curitiba. 1967. LAMING, A., e EMPERAIRE, José. Bilan de trois campagnes de fouilles archéologiques au Brésil meridional. Jornal da Societé dês Amèricanistes, n. 47, p. 199-212, 1958. 373

Tom Oliver Miller Junior

______. A jazida José Vieira: um sítio Guarani e pré cerâmico do interior do Paraná. UP-A, n. 1, 1959. LATHRAP, D. W. Preceramic South America. Mimeografado. s. d. LEHMER, D. J. Robinson´s coefficient of agreement: a critique. AAn, v. 17, n. 2, p. 151, 1951. LOTHROP, Samuel K. Indians of the Paraná Delta, Argentina. New York Academy of Sciences, Annais, n. 33, p. 77-232, 1932. ______. Review of “Prehistory in Haiti – a study in method, de Irving Rouse. AAn, v. 6, n. 4, p. 364-5, 1941. LUBBOCK, Sir John (Lord Avebury). Prehistoric Times. London: 1965. LUND, Peter Wilhelm. Memórias sobre a paleontologia brasileira. Trad. Instituto Nacional do Livro. Rio de Janeiro: 1950. MacDONALD, George F., e David SANGER. Some aspects of microscopic analysis and photomicrography of lithic artefacts. AAn, Vol. 33, Nº 2, p. 23740.1968. MACGOWAN, Kenneth; HESTER, J. A. Early Man in the New World. Doubleday-Anchor, Garden Anchor, Garden City, New York. 1962. MACNEISH, R. S. Investigation in Southwest Yukon: archaeological excavation, comparisons and speculations. PM-P, v. 6, n. 2, 1964. MAC WHITE, Eóin. On the interpretation of archaeological evidences in Historical and sociological terms. AA, v. 58, no. 1, p. 3-25, 1956. MATHEWS, J. application of matrix analysis to archaeological problems. Nature, v. 198, n. 4889, p. 930-934, 1963. MATTOS, Anibal. Lagoa Santa Man. HSAI, p. 399-340, 1946. ______.. Provas da contemporaneidade da raça de Lagoa Santa com as espécies da fauna extinta do Pleistoceno da antiga região de Lagoa Santa. Kriterion, Belo Horizonte, v. 8, n. 33-34, p. 275-291, 1950. MCKERN, William C. the Midwestern taxonomic method as na AID to archaeological study. AAn, n.4, p. 301-313, 1939. MEIGHAN, Clement W. Ecological interpretations in archaeology. AAn, v. 24, n. 1, p. 1-23; v. 24, n. 2, p. 131-150, 1958. ______. A new method for the seriation of archaeological collections. AAn, v. 25, n. 2, p. 203-211, 1959. 374

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

MENGHIN, O. F. El poblamiento prehistorico de Missiones. In: Anales de Arqueologia y Etnologia, v. 7, Mendoza, 1957. MILLER, Eurico Th. Pesquisas arqueológicas efetuadas no nordeste do Rio Grande do Sul. MPEG-PA, n. 6, p. 15-38, 1967. MILLER JR., Tom O. Levantamento arqueológico do Estado de São Paulo. Manuscrito apresentado à FAPESP. 1964. ______. Algumas técnicas estatísticas na pesquisa arqueológica. Sociologia, v. 27, n. 2, p. 105-120, 1965a. ______. Relatório de pesquisa: levantamento arqueológico de São Paulo. Manuscrito apresentado à FAPESP. 1965b. ______. Projeto para levantamento arqueológico do Estado de São Paulo: 1966. Manuscrito apresentado à FAPESP. 1966. ______. Duas Fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, Tese de doutoramento, mimeografado, Rio Claro. 1968 ______. Pré-História da Região de Rio Claro, SP. Cadernos Rioclarenses de Ciências Humanas, 1: 22-62. 1969a. ______. “Prospecções no Sítio Arqueológico Lítico de Poço Fundo, Estado de S. Paulo” in, Cadernos Rioclarenses de Ciências Humanas nº 1, p. 1-21. Rio Claro. 1969b. ______. “Sugestões para uma tipologia lítica para o interior do Sul do Brasil.” Pesquisas, Antropologia nº 21. Instituto Anchietano de Pesquisas, UNISINOS, São Leopoldo. 1969c. ______. “Sítios Arqueológicos da Região de Rio Claro, Estado de São Paulo.” Rio Claro: Mimeografado, circulado para bibliotecas de Instituições Científicas do País. 1970a ______. “Considerações sobre a Pesquisa Arqueológica” in, Cadernos Rioclarenses de Ciências Humanas nº 2, Rio Claro. 1970b. ______. “Tecnologia lítica arqueológica: Arqueologia experimental no Brasil”. Anais do Museu de Antropologia da UFSC, nº 8, 1975, p. 7-124. 1975. ______. “Arqueologia da Região Central do Estado de São Paulo” in, Dédalo: Revista de Arqueologia e Etnologia. Nº 16, p. 13-118. (Leva data de 1972 na página título mas saiu em 1976). São Paulo. 1972. ______. “Tecnologia Cerâmica dos Caingáng Paulistas” in, Arquivos do Museu Paranaense, n.s., Etnologia nº 2. Curitiba. 1978. 375

Tom Oliver Miller Junior

______. “Stonework of the Xetá Indians of Brazil” in, Bryan Hayden, org., Lithic Use-Wear Analysis, p. 401-407. New York: Academic Press. 1979. ______. O Arcaico do Interior Brasileiro. Goiânia: Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia, PUC-GO, Anuário de Divulgação Científica nº 6, 1980 MILLER, T.O., M. E. BRANDÃO DO PRADO, e L. VIVAN --- O sítio arqueológico lítico de São Lourenço, Estado de São Paulo. Cadernos Rioclarenses de Ciências Humanas 1: 52-82. 1969. MONOD, Theodore. The late tertiary and pleistocene in the Sahara. AEHE, p. 117-229, 1963. MULLER-BECK, Hansjurgen. Paleohunters in America: origins and diffusion. Science, v. 152, n. 3726, p. 1191-1210, 1966. NELSON, Nels C. Chronology of the Tano Ruins, New Mexico. AAn, v. 18, n. 2, p. 159-180, 1916. OKLADNIKOV, A. P. Antiguas culturas de Sibéria y El problema de lãs relaciones originárias de Viejo Mundo com El Nuevo. Revista de Cultura, Cochabamba, n. 3, 1958. OSGOOD, Cornelius. Culture: its empirical and non empirical character. SWJA, v. 7, n. 2, p. 202-214, 1951. PAULA COUTO, Carlos de. Peter Wilhelm Lund, Memórias sobre a Paleontologia Brasileira. Rio de Janeiro: 1950. ______. O pleistoceno sul-americano e as migrações humanas préhistóricas. PHB: 1968. PENTEADO, Margarida. Geomorfologia do setor centro-ocidental da Depressão Periférica Paulista. Rio Claro: 1968. ______. Novas informações a respeito dos pavimentos detríticos (“stone lines”). Rio Claro: Cadernos Rioclarenses de Geografia, nº 2, 1969. ---- Geomorfologia do Setor Centro-Ocidental da Depressão Periférica Paulista. São Paulo: Instituto de Geografia, 1976. PEREIRA DE GODOI, Manuel. Los extinguidos painguá de La cascada de Emas (Estado de São Paulo), Brazil. Inst. Dr. Pablo Carrera, n. 14, Cordoba, 1946. (Citado em Guidon). PHILLIPS, Philip. Application of the Wheat-Gifford-Wesley taxonomy to Eastern Ceramics. AAn, v. 24, n. 2, p. 117-125, 1958. 376

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

PHILLIPS, P. J. A. Ford; GRIFFIN, J. B. Archaeological survey in the lower Mississippi alluvial valley, 1940-47. PM-P, n. 25, 1951. PHILLIPS, P.; WILLEY, G. R. Method and theory in American archaeology: na operational basis for culture-historical integration. AAn, n. 55, p. 615-633, 1953. PIAZZA, Walter F. Nota preliminar sobre o programa nacional de pesquisas arqueológicas no Estado de Santa Catarina. MPEG-PA, n. 6, p. 39-46, 1967. PRESTON, Richard J. Edward Sapir’s anthropology: style, structure and method. AA, v. 68, n. 5, p. 1105-28, 1966. PROUS, André -- Arqueologia Brasileira. Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 1992. RANZONI, Guido. Pequeno guia para levantamento de solos. Piracicaba, 1963. REX GONZALES, Alberto. La estratigrafia de La gruta de Intihuasi (Prov. de San Luis, R.A.) y SUS relaciones com otros sitios preceramicos de sudamérica. Revista del Instituto de Antropologia, Universidad Nacional de Cordoba, t. 1, 1960. RIZZO, Antonia. Hallazgos arqueológicos efectuados en un yacimiento en gruta en Tres de Mayo, Provincia de Misiones, República Argentina. Mimeografado. IAP. 1968. ROBINSON, W. S. A method for chronologically ordering archaeological deposits. AAn, v. 16, n. 4, p. 293-300, 1951. ROHR, Alfredo. Pesquisas paleo-etnográficas na Ilha de Santa Catarina. Pesquisas, n. 3, p. 199-266, 1959. ______. Escavações de cultura “Altoparanaense” em Itapiranga. Mimeografado, IAP, 1968. ROUSE, Irving. Prehistory in Haiti: a study in method. Yale Univ. publications in Anthropology, 21, 1939. ______. On the typological method. AAn, n. 10, p. 202-204, 1944. ______. The strategy of culture history. Anthropology Today, p. 57-75, 1953. ______. On the correlation of phases of culture. AA, v. 57, n. 4, p. 71323, 1955. 377

Tom Oliver Miller Junior

______ The classification of artifacts in archaelogy. AAn 25(3): 31323.1960. ______. The place of “peoples” in prehistoric research. Journal of the Royal Anthropological Institute, n. 95, p. 1-15, 1965. ROWE, John H. Archaeological dating and cultural process. SWJA, v. 15, n. 4, p. 317-24, 1959. RUDENKO, S. I. The Ust’ Kanskaya paleolithic cave site, Siberia. AAn, v. 27, n. 2, p. 203-15, 1961. SAPIR, Edward. Psychiatric and cultural pitfalls in the business of getting a living. In: Culture, Language and Personality, Selected Essays, UCal, 1964. SCHLESIER, K. H. Sedna Creek Report on na archaeological survey on the Aretic slope of the Brooks Range. AAn, v. 32, n. 2, p. 21-22, 1967. SCHMITZ, P. I. Um paradeiro Guarani no Alto Uruguai. Pesquisas, n. 1, 1957. ______. Paradeiros Guaranis em Osório – Rio Grande do Sul. Pesquisas, n. 2, 1958. ______. A cerâmica guarani da Ilha de Santa Catarina. Pesquisas, n. 3, 1959. ______. Trabalhos e comunicações apresentadas. Mimeografado, IAP, 1968. SCHMITZ, P. I.; BECKER, I. B. Uma cerâmica de tipo eldoradense: fase Itapirange. Mimeografado, IAP, 1968. SCHMITZ, P. I. et al. Prospecções arqueológicas na campanha riograndense. PHB, p. 173-86, 1968. SEARS, William H. Ceramic systems and Eastern archaeology. AAn, v. 25, n. 3, p. 324-329, 1960. SEMENOV, S. A. Prehistoric Technology. Trad. M. W. Thompson. New York, Barnes & Noble, 1964. SERRANO, A. Los sambaquis: La cultura lítica del sur brasileiro. In: Congresso sul-riograndense de História e Geografia, 3, Porto Alegre, 1940. Los Sambaquis y otros ensayos de arqueologia brasileira .. Porto Alegre: 1940. p. 5-101. ______. The Sambaquis of the Brazilian coast. HSAI I, p. 401-7, 1946. 378

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

SILVA, Fernando Altenfelder. Considerações sobre a jazida de Estirão Comprido. In: Reunião Brasileira de Antropologia, 3, Recife. Anais ... Recife: 1958. ______. Considerações sobre alguns sítios tupi-guaranis no sul do Brasil. RMP, n. 13, p. 377-97, 1962. ______. Culturas pré-históricas no Brasil. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, n. 2, p. 17-20, 1967a. ______. Informes preliminares sobre a arqueologia de Rio Claro. MPEGPA, n. 6, p. 78-88, 1967b. ______. Arqueologia pré-histórica da Região de Rio Claro. PHB, 1968. SILVA, F. A.; MEGGERS, B. J. Cultural development in Brazil. Aboriginal Cultural development in Latin America: an interpretative review. Smithsonian Miscellaneous Collections, v. 146, n. 1, p. 119-29, 1963. SONNENFELD, J. Interpreting the Function of Primitive Implements. American Antiquity, Vol. 28, pg. 56-65. 1962. SPAULDING, Albert C. Statistical techniques for the Discovery of artifact types. AAn, n. 18, p. 305-13, 1953. ______. Reply to Ford. AAn, n. 19, p. 391-3, 1954. ______. Statistical description and comparison of artifact assemblages. The application of quantitative methods in archaeology. VFPA, n. 28, p. 60-83, 1960. STEWARD, Julian H. The direct historical approach to archaeology. AAn, n. 7, p. 337-43, 1942. ______. Types of types. AA, v. 56, n. 1, p. 54-7, 1954. ______. Theory of culture change. U. of Illinois Press, Urbana, 1955. ______. Comments (on Chang). CA, v. 8, n. 3, p. 239-40, 1967. SWARTZ Jr., Ben K. A logical sequence of archaeological objectives. AAn, v. 32, n. 4, p. 487-97, 1967. TAYLOR, Walter W. A study of archaeology. American Anthropological Associanton, n. 69, 1948. THOMPSON, Raymond H. Modern Yucatecan Maya pottery making. Society for American Archaeology, n. 15, 1958. TIBURTIUS, G; BIGARELLA, I. K.; BIGARELLA, J. J. Nota prévia sobre a jazida paleo-etnográfica de Itacoara (Joinville, Estado de Santa Catarina). Arquiv. Biol. e Tecnol., v. 5-6, n. 19, 1951. 379

Tom Oliver Miller Junior

TUGBY, Donald J. A typological analysis of axes and choppers from southeast Australia. AAn, v. 24, n. 1, p. 24-33, 1958. ______. Archaeological objectives and statistical methods: a frontier in archaeology. AAn, v. 31, n. 1, p. 1-16, 1965. VIVAN, Leonida --- Escavações na jazida arqueológica lítica São Lourenço, SP.CQ.1. Relatório apresentado à FAPESP. 1969. VIVAN, L. LEME, M. J. Relatório parcial de escavações em SP.CQ.1, São Lourenço, município de Charqueada, Estado de São Paulo. Manuscrito apresentado à FAPESP, 1968. WALTER, H. V. The pré-history of the Lagoa Santa region (Minas Gerais). Belo Horizonte: s.d. ______. Archaeology of the Lagoa Santa region, Minas Gerais. Rio de Janeiro: 1958. WALTER, W. H.; CATHOUD, A.; MATTOS, A. The Confins Man, a contribution to the study of early man in South America. Early Man, Philadelphia, 1937. WATSON, Virginia. Ciudad Real: a Guarani-Spanish site on the Alto Paraná River. AAn, v. 13, n. 2, p. 163-73, 1947. ______. Review of “the pré-history” of the Lagoa Santa region (Minas Gerais) by H. V. Walter. AAn, n. 15, p. 167-8, 1949. WHEAT, J. B.; GIFFORD, J. C.; WESLEY, W. W. Ceramic variety, type eluster, and ceramic system in Southwester pottery analysis. AAn, v. 24, n. 1, p. 34-47, 1958. WHITE, Leslie A. The evolution of culture. MH: 1959. WHITEFIRD, A. H. Description for artifact analysis. AAn, v. 12, n. 4, p. 226-37, 1947. WILLEY, Gordon R. Comments. An appraisal of Anthropology today, 1953. ______. An introduction to American Archaeology ,Vol. 1, North and Middle America.. Englewood Cliffs, New Jersey: Prentice-Hall, 1966. ______An Introduction to American Archaeology. Vol. II: South America. Englewood Cliffs: Prentice-Hall, 1971. WILLEY, Gordon R.; PHILLIPS, Philip. Method and Theory in American Archaeology. EChi: 1962. 380

Duas fases Paleoindígenas da Bacia de Rio Claro, E. S. Paulo: Um Estudo em Metodologia

WILMSEN, Edwin N. Flake tools in the American Arctic: some speculations. AAn, v. 29, n. 3, p. 338-44, 1964. ______. Functional analysis of flaked stone artifacts. AAn, v. 33, n. 2, p. 156-61, 1968. WILSON, Thomas. Arrowpoints, spearheads, and knives of prehistoric times. United States National Museum Report for 1897, n. 1, p. 747-958, 1898. ZEUNER, F. E. Geomorfologia, La datación del pasado tradução por J. M. Gómez-Tabanera. Barcelona: Omega, 1956.

381

ISBN 978-85-60967-39-1

9 788560 96 7391

O Arqueólogo e Antropólogo brasileiro Tom O. Miller, Jr. (TOM), nasceu na área florestal da fronteira internacional do norte das Montanhas Rochosas da America do Norte em 1931. Bacharelou-se na Universidade de Washington (Seattle), fez o curso de mestrado na Universidade de Califórnia (Berkeley) e passou o curso de doutoramento na Universidade de Arizona (Tucson). As suas áreas de interesse, desde início, eram Arqueologia, Etnografia Indígena, Teoria e Método, e a região geográfica de América Latina, e já com uma orientação sistêmica e transdisciplinar. Em 1961 se mudou para Curitiba, e em 1964 para Rio Claro, onde desenvolveu um Levantamento Arqueológico, inicialmente na Depressão Periférica paulista, com a intenção de se expandir para outras partes do interior do Estado. Engajou os seus alunos em pesquisas de campo e laboratório, com bolsas de pesquisa da FAPESP para alguns. A sua tese de doutoramento foi feita na base dos trabalhos de Levantamento realizados em Rio Claro. Possui uma vasta produção científica publicada em periódicos nacionais e internacionais. Entre 1990 e 1993, publicou diversos trabalhos didáticos em Teoria e em Metodologia nas Ciências Antropológicas, pela UFRN e a Cooperativa Cultural da mesma Universidade. Em 1995 se aposentou. Mesmo não podendo andar (artrose nos joelhos), continua os seus trabalhos didáticos e de pesquisas na área de Memória Patrimonial (Arqueologia).

Este livro reproduz o trabalho produzido por Tom Oliver Miller Junior em 1968, para sua tese de doutorado, apresentada à Cadeira de Antropologia, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro.

I

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.