CÓDIGO DE ÉTICA: uma análise para o futuro das organizações

May 27, 2017 | Autor: R. Periódico dos ... | Categoria: Recursos Humanos, Gestão de Pessoas, Administração, Comportamento, Relações Sociais, Código de Ética
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CÓDIGO DE ÉTICA: uma análise para o futuro das organizações Eder Gustavo de Oliveira1 Marcelo Vinicius Spuri2 Resumo Para entender o comportamento dos indivíduos inseridos socialmente e o funcionamento das relações sociais é preciso fazer uma análise do conceito de ética e dos fatores ligados intrinsecamente a sua concepção, como costumes, leis, regras sociais, além do que é considerado tradicional ou inadequado para um indivíduo e para um grupo de indivíduos. No presente artigo, abordaremos alguns conceitos relevantes e o modo como as relações sociais são importantes para uma melhor compreensão sobre o tema. Palavras-chave: Comportamento. Código de ética. Relações sociais. INTRODUÇÃO A complexidade das relações humanas produz a conduta ou comportamento de cada indivíduo, o que por sua vez implica e agrega a valores, normas e leis de uma coletividade/grupo social. A partir desse entendimento temos com questão principal desse estudo: Como o código de ética define o comportamento de cada indivíduo? E de que maneira cada indivíduo contribui para a formação de um padrão de pensamento e comportamento socialmente aceito em uma coletividade? O estudo irá explorar as instituições públicas e também grandes estruturas organizacionais, em que a necessidade de estabelecer um conjunto de normas internas relacionadas as atividades e processos que definem suas atividades-fim é de suma importância para a qualidade dos produtos e serviços. Deve-se levar em conta também, a quantidade de colaboradores presentes direta ou indiretamente nas empresas estudadas. Existe uma organização informal dentro da organização formal. As relações sociais formam o ambiente informal. A coletividade, as                                                                                                                         1 Graduando em Administração Pública pela Universidade Federal [email protected] 2 Graduando em engenharia civil no Cefet-MG. E-mail: [email protected]

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trocas e os contatos entre as pessoas interferem nos resultados planejados e esperados formalmente. Desconsiderar as relações sociais significa excluir a própria formação estrutural da organização, que é o Ser Humano e os fatores emocionais que o guia. A coleta e análise de dados objetivará as relações de distanciamento ou aproximação entre a prática organizacional de conduta no dia-a-dia do ambiente organizacional e os documentos que regem a própria conduta dos colaboradores. A interpretação dos dados irá definir como o ambiente informal organizacional, com relações pessoais, se interage com o ambiente formal de conduta e ideológico estabelecido pela cúpula administrativa. A clareza das disposições e objetivos presentes nos código e regimentos internos mostrará o grau de validação dos mesmos por parte dos colaboradores, o que, em consequência, concluirá sobre a necessidade de reformular os regimentos éticos ou se é pertinente mantê-los com o mesmo grau de validação e aceitação. Dessa forma os aspectos que levam à relevância do estudo são: A necessidade de compreender como a estrutura das relações sociais formula diferentes visões de mundo, que impactam a realidade social. Estabelecer uma construção conceitual das formas de agir e pensar, segundo a visão coletiva e a visão individual humana (racional e emotiva). Definir qual é o papel da ética nas organizações, dado a evolução jurídica constitucional e dos meios normativos para a sua validação. A condução do estudo parte, primeiramente, de uma revisão documental sobre como é uma sociedade justa, através de uma ideologia herdada da tradição filosófica, trazendo conceitos políticos e morais que contribuem para um entendimento de como uma sociedade deve ser organizada. Em seguida será exposta uma filosofia ética mais moderna com ideias empíricas sobre a sociedade, ou seja, através da observação definir conceitos que levam o ser humano a agir de tal maneira especifica e não de outra, consequentemente isto será feito através da exposição de específicos conceitos para compreender o que interfere na ação individual do ser humano, e posteriormente como uma determinada sociedade age. Em relação à ética contemporânea será feito um estudo referente ao código de ética e sua aplicação nas organizações. O código se baseia em um conjunto de normas, que devem ser respeitadas pelos profissionais, baseado em aspectos de ordem legal, disciplinar e punitiva para satisfazer as exigências do governo e população (consumidores). Outro ponto que merece ser destacado é que o código serve de critério para que haja soluções nos conflitos, sem que ninguém seja beneficiado ou prejudicado, sendo dessa maneira neutro nos processos de julgamentos. Portanto, o código de ética tem como princípio definir o que é apropriado ou 114  

inapropriado em situações que acontecem no ambiente da organização e apresentar a sua identidade ética. 1

A HISTÓRIA DA ÉTICA De início enfatizaremos dois filósofos que trataram da ética, o primeiro é Platão,

situado entre os filósofos da antiguidade, onde, através de seus pensamentos sobre ética, faz uma estreita relação com a política o que é de suma importância neste trabalho (PLATÃO,2001). O segundo autor tratado é o filosofo David Hume, que ao contrário de Platão que é idealista, assume uma postura empirista. Ou seja, realiza seu trabalho embasado na observação da sociedade (HUME, 1999,2001). O intuito de tratar deste segundo é o de entender como o ser humano age, particularmente, e posteriormente como é o comportamento em uma sociedade distinta de acordo com suas paixões e costumes. O estudo de Platão será baseado em cima da obra “A República” que constrói a ideia de um Estado ideal à semelhança da alma. Para isso Platão assume primeiramente a ideia de justiça, ou seja, o que vem a ser um estado justo em sua concepção, essa obra mostra as ideias que são usadas até hoje e que são referências éticas para a política (PLATÃO,2001). Para (PLATÃO, 2001), a sociedade deveria ser dividida em três classes, a ideia de Platão é construir um Estado ideal. Todas essas três classes deveriam ser guiadas segundo suas virtudes principais, e cada uma tem a sua característica e virtude que lhe cabe, portanto, “justiça” é a ordenação de todas as virtudes e classes e é o elemento principal para a harmonia da cidade, formaria assim então segundo ele uma cidade justa. Primeiramente a classe dos governantes, que segundo ele deveria ser composta pelos filósofos, pois, por sua vez já adquiriram ao longo do tempo de estudos sabedoria para dirigir a polis da época, e consequentemente a virtude que deve guiar a classe dos governantes é a sabedoria. A segunda classe é composta pelos guardiões da cidade, ou seja, pelos soldados que fazem a defesa da cidade e que por sua vez devem ser bem treinados desde jovens com muitos treinamentos físicos e esportes, para quando assumirem o cargo de guardiões defenderem a cidade a qualquer custo. “Será por natureza filósofo, fogoso, rápido e forte quem quiser ser um perfeito guardião da nossa cidade”. (PLATÃO, 2001, p.64) Porém, essa não é a única atribuição do guardião, eles também devem ter também certa autoridade para não só defender a cidade, mas também repreender os cidadãos caso

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necessário, enfim o guardião deve sempre seguir a reta razão e não se deixar corromper e sua principal virtude devem ser a coragem Devem se preocupar os guardiões mais estrênuos da doutrina que vigora entre eles, de que é seu dever fazer aquilo que em cada ocasião pensarem que é melhor fazerem no interesse da cidade. Devem, pois, vigiar-se logo desde a infância, propondo-lhes empreendimentos em que mais facilmente poderiam esquecer-se de tal doutrina e deixar-se iludir, de tal maneira a poder-se escolher quem se lembra e quem é difícil de se ludibriar (PLATÃO, 2001, p.107).

A terceira e última classe é a classe é a classe civil da cidade, ou seja, os comerciantes, agricultores, artesãos e etc. essa classe segundo (PLATÃO, 2001) é a classe mais irascível dentre as três, pois muitos são levados pelas paixões e apetites da alma, essa classe deve ter controle sobre seus apetites e tendo assim um controle sobre suas paixões, agindo na mediunidade, ou seja, agindo controlados no justo meio nas coisas, e consequentemente a virtude principal desta classe é a temperança. O que (PLATÃO, 2001) propõe é que cada uma destas três classes faça o que sabe fazer de melhor e faz bem feito, o filosofo com sua sabedoria governar, o guardião com sua coragem e força defender a cidade, e por fim os artesãos, comerciantes e agricultores também fazer o que eles mais sabem fazer de acordo com sua função, consequentemente “justiça” é cada um fazer o que sabe fazer de melhor e assumir seu papel no Estado, pois se acontecer o contrário, ou seja, o filosofo sendo artesão, ou o agricultor fazendo o papel de guardião e viceversa só levará a ruína do estado. Se fosse preciso julgar qual destas qualidades, pela sua presença, faz com que nossa cidade seja boa, seria difícil de distinguir se era de concordância de opiniões dos governantes e governados, se a preservação, mantida entre os guerreiros, da opinião legitima acerca do que se deve ou não recear, ou a sabedoria e vigilância existentes nos chefes, ou se o que o torna mais perfeita é a presença, na criança, na mulher, no escravo, no homem livre, no artífice, no governante no governado, da noção de que cada um faz o que lhe pertence, e não se mete no que é dos outros (PLATÃO, 2001, p.128).

O segundo autor tratado é David Hume que tem uma concepção ética empírica sobre como o ser humano, segundo ele o ser humano age de acordo com suas vontades e paixões. Segundo (David Hume, 1999, 2001) a definição de vontade é possível dividí-la em dois tipos, vontade consciente e vontade inconsciente. Por vontade consciente entende-se que ela é pensada antes de se ter qualquer impressão interna, e logo após de se ter essa impressão é efetuada a ação segundo esta mesma vontade, e, por conseguinte, entende-se por vontade inconsciente as impressões que o corpo produz sem pensar e consequentemente age em função destas, ou seja, a mente produz uma impressão involuntariamente sem o indivíduo deliberar se é realmente necessário agir em função dessa vontade.

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Desejo observar que entendo por vontade simplesmente a impressão interna que sentimos e de que temos consciência quando deliberadamente geramos um novo movimento em nosso corpo ou uma nova percepção em nossa mente. (David Hume, 2001, p.435)

Por paixões Hume entende que são as impressões que resultam imediatamente da dor ou do prazer, e desse tipo são elas: desejo e aversão, tristeza e alegria, esperança e medo, ambição, avareza, vaidade e a amizade. As paixões diretas, ou seja, impressões que resultam imediatamente do bem ou do mal, da dor ou do prazer. Desse tipo são as paixões de desejo, aversão, tristeza e alegria, esperança e medo (David Hume, 2001, p.435).

Ninguém é capaz de conseguir associar o efeito de causa e efeito e tornar um infalível do outro. Segundo sua teoria ética, se é considerado uma necessidade nas coisas da natureza, por que não considerar a necessidade da causalidade nas ações humanas. O intuito de Hume é demonstrar que assim como na natureza é considerado que existe uma necessidade nos fenômenos naturais, nas ações humanas também existe, afirmando que há um curso geral da atividade humana, assim como nas operações do sol e do clima. Porém adverte que para isso é necessário levar em considerações vários fatores como, o país que se vive, cultura distinta de cada povo, educação recebida e o gênero do indivíduo. (David Hume,1999, 2001). Existe um curso geral da natureza nas ações humanas, assim como nas operações do sol e do clima. Existem também caracteres peculiares a diferentes nações e a diferentes pessoas, e outros que são comuns a toda comunidade (David Hume, 2001, p. 439).

Segundo Hume (2001) as paixões são a causa de todas as ações dos seres humanos e isso tem se observado desde os primórdios da história da humanidade, e com isso é de se admitir com firmeza uma uniformidade e necessidade nos motivos e nas ações humanas, porém, mais uma vez deve ser advertido que não se deve usar esta doutrina de necessidade nas ações humanas indiscriminadamente sem restrições e ponderações, pois, deve se considerar a cultura, educação, idade, caráter e o sexo dos indivíduos. Como o homem é um ser racional e está continuamente à procura da felicidade, que espera alcançar para a satisfação de alguma paixão ou afeição, raramente age, pensa ou fala sem propósito ou intenção. Sempre tem algum objeto em vista; embora às vezes sejam inadequados os meios que escolhe para alcançar seu fim, jamais o perde de vista e nem desperdiça seus pensamentos ou reflexões quando não espera obter nenhuma satisfação deles (Hume, 2001, p.497).

Hume (2001) através da observação da sociedade de sua época e pesquisas na história, ressalta que as ações humanas e seus respectivos efeitos foram na maioria das vezes

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uniformes e regulares, gerando deste modo uma união constante entre estas ações e a inferência que a mente faz. O que gera, consequentemente uma crença ou hábito de que os humanos sempre agiram e sempre vão agir de uma determinada maneira, pois, os atos da vontade decorrem da necessidade, e com isso deve se admitir uma necessidade nas ações humanas. O fato de que as pessoas sempre agem segundo suas vontades e paixões, gera um grande problema, pois, se é considerado que toda e qualquer ação e sem exceção que o indivíduo exerce é movida por qualquer paixão que seja, admite dizer que consequentemente ninguém é livre para agir como bem entender, ou seja, todas as paixões que os seres humanos praticam são derivadas de agentes externos, e independentes se são ações boas ou más o indivíduo sempre age em vista de obter algo, trocando as ações para satisfazer as paixões. Como a moral, portanto, tem uma influência sobre as ações e os afetos, segue-se que não pode ser derivada da razão, porque a razão sozinha, como já provamos, nunca poderia ter tal influência. A moral desperta paixões, e produz ou impede ações. A razão por si só, é inteiramente impotente quanto a esse aspecto. As regras da moral, portanto, não são conclusões de nossa razão (Hume, 2001, p.497).

De acordo com Hume (2001) as ações praticadas pelos seres humanos são temporais e perecíveis, e por sua vez, podem ser boas ou más: e consequentemente, elas podem ser condenáveis e contrárias as regras da lei moral ou da religião, porém segundo o autor as pessoas não podem ser responsabilizadas por suas ações, pois, se elas são perecíveis e temporais o indivíduo não pode ser alvo de castigo ou vingança, porque agiu casualmente ou até mesmo sem querer, movido por momentâneas paixões e impulsos, consequentemente sem premeditar nada. A ação em si mesma pode ser condenável, pode ser contraria a todas as regras da moral e da religião, mas a pessoa não pode ser responsável por ela. E, e como a ação não resultou de nada duradouro ou constante na pessoa, nem deixou atrás de si nada dessa natureza, é impossível que, por causa da ação, a pessoa possa se tornar objeto de punição ou vingança. Segundo a doutrina da liberdade, portanto, um homem continua tão puro e imaculado após ter cometido o mais terrível dos crimes, como no momento e seu nascimento; suas ações não atingem em nada seu caráter, pois não derivam dele; de modo que a perversidade das ações não pode ser usada como prova da depravação do caráter. Somente segundo os princípios da necessidade alguém pode adquirir mérito ou demérito por suas ações, por mais que a opinião comum se incline para a afirmação contrária (David Hume, 2001, p.447).

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CONCEPÇÕES DE ÉTICA

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A história da ética tem sua fundamentação na filosofia e política. Para desenvolver seu conceito chave é preciso comparar sua história com as diferentes concepções modernas. (Campos et al, 2002). A ética, segundo Campos et al (2002), é definida como um conjunto de regras, princípios ou maneiras de pensar que guiam as ações de um grupo em particular, o que por sua vez apresenta uma relação direta com a moral. Segundo Tomanik (2013), as decisões éticas não são um julgamento, mas o desenvolvimento de uma reflexão, que parte de princípios amplos e gerais, coletivamente desenvolvidos e compartilhados. Assim, as deliberações éticas não devem constituir um julgamento, mas o desenvolvimento de uma reflexão. Isto implica que não devem nem podem constituir-se na mera aplicação automática e repetitiva de regras fixas, imutáveis e provenientes de quaisquer instâncias alheias aos sujeitos que deliberam. Assim não há por que ou como pensarmos em valores superiores, quaisquer que sejam eles. Os princípios norteadores das reflexões devem ser pactuados e estão igualmente sujeitos a questionamentos e mudanças. Por último, se as deliberações éticas envolvem necessariamente a adesão e a concordância dos responsáveis pela execução das ações, não podem ser realizadas sem a participação destes (TOMANIK, 2013, p.177).

O valor ético deve se basear na própria coletividade, ou seja, a decisão ética e lógica se insere na relação social. Relações sociais são analisadas como contatos públicos ou privados, de aproximação ou distanciamento (Mills citado por Braga de Oliveira, 2012), e a ligação fundamental entre as mesmas são as experiências pessoais, realidades de vida e as visões de mundo (Correa Jacques et al, 2008), partindo do princípio de que o ser humano é um animal político. Um homem incapaz de integrar-se numa comunidade, ou que seja autossuficiente a ponto de não ter necessidades de fazê-lo, não é parte de uma cidade, por ser um animal selvagem ou um deus” (Aristóteles citado por Correa Jacques et al, 2008).

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CÓDIGOS DE ÉTICA Para Zylbersztajn (2002), o código de ética especifica obrigações morais conscientes

na conduta organizacional, sendo um importante instrumento para que os conflitos sejam resolvidos de forma transparente. A efetiva adoção do código pode ser analisada a partir de uma perspectiva contratual, ou seja, auxilia na identificação dos incentivos existentes na organização.

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Revista FOCO. ISSN: 1981-223X   [...] a importância de que os aspectos éticos, vistos como obediência às normas socialmente aceitas, sejam tratados com a criação e o desenho de estruturas organizacionais adequadas, que incentivem e monitorem as atitudes dos indivíduos[...] as organizações criam mecanismos de controle, que vão dos conselhos de administração até os códigos de ética nas empresas (ZYLBERSZTAJN, 2002, p.136).

Whitaker (2007) explica que os líderes das grandes instituições perceberam que o código de ética é de grande importância não só pelo fato de ser um mecanismo de julgamentos nos problemas do dia-a-dia, mas também pela valorização e credibilidade que a empresa adquire no mercado. A formulação do código implica em mudanças significativas para a compreensão dos objetivos organizacionais. De acordo com Weaver (1993), Cherman; Tomei (2005), “código de ética é definido como documento formal distinto, que especifica obrigações éticas conscientes para a conduta organizacional, só existindo se for formulado com o propósito único de ser guiado por padrões morais para condutas éticas”. Para Arruda, Whitaker e Ramos (2001) as empresas precisam de um comitê de ética para estar sempre discutindo, revisando e reformulando o código de acordo com as novas necessidades da empresa. As organizações devem estabelecer um canal de denúncias que sejam feitas de maneira secreta para que os colaboradores não sejam prejudicados. O comitê é criado para estabelecer uma ligação entre as atividades práticas do funcionário e a preservação dos valores individuais e coletivos, respectivamente do colaborador e da organização. A teoria, sobre código de ética, precisa estar em constante debate no ambiente empresarial, temas culturais e morais influenciam nas atividades da organização (Almeida, 2007). Os responsáveis organizacionais, especialmente aqueles que ocupam lugares de intervenção estratégica, estão frequentemente expostos a pressões éticas consideráveis decorrentes dos impactos que as suas decisões podem ter nos trabalhadores, nos clientes, no mercado, na comunidade em geral ou no meio ambiente. Ao estabelecer uma relação entre o contexto cultural, o desenvolvimento moral e o desempenho social da empresa, pretendeu-se destacar o papel do dirigente nas políticas sociais das empresas, reconhecendo o caráter situacional dos valores morais e sociais. A prática empresarial deve ser interpretada no seu contexto, constituindo o comportamento ético um reflexo do mesmo. Por outro lado, o modelo integrado de determinantes do desempenho social destaca a importância dos fatores não estratégicos que habitualmente presidem a uma parte significativa das decisões perante questões de natureza ética ou de intervenção social (ALMEIDA,2007, p.119).

De acordo com Farah (2004) as pessoas responsáveis pela manipulação do código precisam receber treinamentos práticos e teóricos para que se tenha uma noção clara de valores morais, valores não morais e valores organizacionais. Os objetivos e metas da 120  

organização formulam uma relação direta com o conteúdo do código. A compreensão dos objetivos organizacionais por parte dos autores do código influencia o seu grau de validação ou aceitação. Os códigos de ética são bem claros e por isso eles devem ser respeitados de maneira consciente por todos dentro da organização, e quando há um desrespeito desse documento pode haver várias penalidades e até mesmo a demissão por justa causa (ARRUDA, 2001). A responsabilidade da transmissão de suas ideias principais é da gerência, com sua cúpula administrativa. A cúpula é a maior autoridade, e também a criadora da organização e de seus objetivos propostos. A coerência da administração em relação aos seus objetivos e os meios para alcança-los reproduz o seu sucesso em relação as metas. O código acompanha os meios para se alcançar as metas. O seu grau de validação é definido em relação ao alcance e à compreensão dos funcionários sobre como agir nas atividades práticas para que as metas sejam atingidas, mas ao mesmo tempo a conduta interna seja respeitada. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir do momento em que conseguimos identificar as definições e os conceitos da Ética ao longo da nossa história podemos relacionar de uma maneira mais profunda as relações de distanciamento ou aproximação entre a prática organizacional de conduta no diaa-dia do ambiente organizacional e os documentos que regem a própria conduta dos colaboradores. A interpretação dos dados ajuda a definir como o ambiente informal organizacional, com relações pessoais, interage com o ambiente formal de conduta e ideológico estabelecido pela cúpula administrativa. A clareza das disposições e objetivos presentes nos códigos e regimentos internos mostram o grau de validação dos mesmos por parte dos colaboradores, dessa forma conclui sobre se há necessidade de reformular os regimentos éticos ou se é pertinente mantê-los com o mesmo grau de validação e aceitação. A discussão a cerca da manutenção do código de ética está pautada na resposta dos colaboradores sobre o seu entendimento. Transmite as necessidades de mudança sobre o conteúdo ou a própria linguagem definida no documento. As relações informais presentes nos ambientes de trabalho não podem superar a importância do ambiente funcional estruturado formalmente, e que está diretamente ligado às disposições programáticas daquele contrato interno que rege todas as formas de contato no trabalho, o que por sua vez define a constância da produtividade, uma vez que as atividades práticas e fins da organização passam por uma

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série de relações em equipe e formam a realização do conjunto final dos resultados da empresa. A evolução do termo Ética produz uma série de estudos de profunda importância para o entendimento do seu conceito no mundo globalizado tecnológico e informacional. A organização social de Platão define de maneira elementar a estrutura social capaz de atingir o bem estar comum de tal maneira que cada função de cada indivíduo se complemente, o que faz criar tal entendimento sobre como a coletividade é influenciada pela ordem ética e moral mesmo que esses conceitos não estejam claros a fim de se criar um conjunto científico que os defina. Wright Mills relaciona as relações sociais como principal ligação entre a ética e sua prática. Demonstra que os contatos de aproximação ou distanciamento influenciam os resultados das ações humanas, sobretudo no entendimento de leis que regem o comportamento social e coletivo. Nesse ponto é necessário destacar que todas as formas de condutas humanas enfatizam o caráter externo de uma determinada situação. Todos os movimentos humanos formais são regidos pelo regulamento externo, aquilo que não é a sua própria vontade, mas sim o que foi estabelecido por um conjunto superior e que deve ser respeitado. As consequências do desrespeito ao contrato causam o temor de consequências desagradáveis. O paralelo que se pode criar com o que foi exposto é a formação de uma consciência coletiva movida pelo temor. Na sociedade tecnológica informacional globalizada, o temor é justificado pela instabilidade financeira e pelas punições internas as quais o Código pode se referir, no caso de violação daquilo que foi estipulado. David Hume explica o movimento humano pelas paixões, vontades e necessidades próprias, mas não considera que há um agente externo que é capaz de anular tal movimento e que um temor maior define as ações e relações humanas. Hume não presenciou a Revolução Industrial e, portanto não se pode atribuir a sua obra uma complexidade atingida somente depois daquela Revolução. Tendo como base a relação burguesia x proletariado, a estrutura social ganhou notoriamente uma luta de classes baseada nos meios de produção e nos lucros advindos daquelas formas de produção. Organizar as atividades dos colaboradores para que aquele grupo possa ser produtivo e sentir-se pertencente à organização foi necessário. O Código de Ética atua de maneira a definir a proposta social daquela organização baseada em seu desenvolvimento produtivo e organizacional. As relações são a base para o trabalho em equipe que está diretamente ligada aos resultados finais daquilo que foi planejado e é o seu fim. Portanto esse documento revela as bases de uma estrutura social profissional e que rege os princípios coletivos para que a atividade organizacional seja realizada com sucesso e 122  

que ao mesmo tempo respeite as qualidades individuais e as relações informais de cada colaborador. A punição, como a demissão por justa causa, reflete a definição do papel do Código como mantenedor da ordem organizacional. Para estudos futuros fica como sugestão de análise de dados a introdução de um número maior de organizações, visto que a discussão é de grande importância para o futuro das organizações. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Filipe Jorge Ribeiro de. Ética e desempenho social das organizações: um modelo teórico de análise dos fatores culturais e contextuais. Rev. adm. contemp. [online]. 2007, vol.11, n.3, pp. 105-125. ARRUDA, Maria Cecília Coutinho de. Código de Ética: Um instrumento que agrega valor. São Paulo: Negócio Editora, 2001. 260 p. ARRUDA, Maria Cecília Coutinho de; WHITAKER, Maria do Carmo; RAMOS, José Maria Rodrigues. Fundamentos de Ética Empresarial e Econômica. São Paulo: Atlas, 2001. 240p. BRAGA DE OLIVEIRA, N. A imaginação Sociológica em Sala de Aula. Revista Sociologia, n.49, Dez. 2013. CAMPOS, Michele; GREIK, Michl; DO VALE, Tacyanne. História da ética. Cientifico, v. 2, p. 1-11, 2002. CHERMAN, Andréa and TOMEI, Patrícia Amélia. Códigos de ética corporativa e a tomada de decisão ética: instrumentos de gestão e orientação de valores organizacionais? Rev. adm. contemp. [online]. 2005, vol.9, n.3, pp. 99-120. FARAH, F. Ética na Gestão de Pessoas: uma visão prática. Edições Inteligente, 2004. 240p. HUME, D. Tratado da Natureza Humana. 2. Ed. São Paulo: UNESP, 2001. 759p. _________. Investigação Acerca de Entendimento Humano. São Paulo: Abril Cultural, 1999. 325p. JACQUES, MGC., et al. Relações sociais e ética. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, 2008. 210 p. MARTINS, J. As mudanças nas relações entre a sociedade e o Estado e a tendência á anomia nos movimentos sociais e nas organizações populares. Estudos Avançados, São Paulo, v.14, n.38, p. 268-278, Jan/Abr. 2000. PLATÃO. A República. São Paulo: Martin Claret, 2001. 320p. TOMANIK, E. Debatendo os comitês de ética: controle burocrático ou laissez-faire? Psicologia em Estudo, Maringá, v.18, n.1, p.175-180, Jan./Mar. 2013.

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