Códigos comunicativos, línguas, e a gestão crítica da diferença

August 30, 2017 | Autor: C. Alvarez Cáccamo | Categoria: Code-Switching, Codeswitching, Code Switching, Codes
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Códigos comunicativos, línguas e a gestão crítica da diferença Celso Alvarez Cáccamo Área de Linguística, Universidade da Corunha Trabalho enviado ao seminário “Comunicação em contexto pedagógico” APECDA, Porto, 29-30 Janeiro 1999

Introdução Desde o trabalho de Roman Jakobson nos anos 50 e 60 sobre as línguas como sistemas para a comunicação, está amplamente generalizada na linguística a identificação das línguas como “códigos” (v. p. ex. Jakobson 1959, 1961; Jakobson et al. 1952). Ninguém questiona que as línguas, orais ou gestuais, são sistemas de sinais, mais ou menos coerentemente organizados. Estes sistemas são chamados “códigos”, numa adaptação da mesma noção da teoria da comunicação. O famoso esquema da comunicação de Jakobson, que contém o “emissor”, o “receptor”, o “referente”, o “canal”, o “código” e a “mensagem”, e que veio amplificar o “circuito da comunicação” de Saussure, é ainda para muitos ponto obrigado de referência. Mas o que se esquece frequentemente é que as línguas, orais ou gestuais, não são os únicos sistemas de que dispomos. Eu quisera expor brevemente por que, se queremos compreender a comunicação, me parece necessário deslocar o centro de atenção desde as línguas para os mecanismos comunicativos prévios ao uso destas línguas. Poderemos assim dar conta não só do que acontece quando duas pessoas utilizam a mesma língua, mas também do que acontece quando utilizam duas ou mais; poderemos dar conta de quando as gentes se entendem, e de quando não se entendem. Neste sentido, há duas questões básicas, também formuladas por Jakobson, que precisamos considerar. A primeira é que, para Jakobson, o estudo do discurso deveria operar, como ele diz, “from the top down”, “de acima para abaixo”, quer dizer, da semântica até à forma das mensagens. Portanto, devemos começar polos conteúdos, polos significados (Jakobson 1984b:88-89). 1

A

segunda questão, relacionada, é o que Jakobson chama o problema da “comunidade do código entre emissor e receptor” (Jakobson 1984a:20). Isto é, até que ponto partilhamos um código comum, ou até que ponto os códigos são diferentes, inclusive quando utilizamos a mesma língua e o mesmo dialecto. 1Neste sentido, Jakobson parece distanciar-se do empirismo positivista de Bloomfield (1933), que negava, precisamente, a possibilidade de acedermos directamente à semântica, e privilegiava por contra, em primeira instância, o estudo do mais perceptível das línguas orais: os sons.

Eu acho que na actualidade, depois de mais de três décadas de estudo sistemático da interacção humana por linguistas, sociolinguistas, antropólogos e comunicólogos, estamos em condições de conectar as três questões levantadas previamente (v. p. ex. Atkinson e Heritage 1984; Boden e Zimmerman 1991; Drew e Heritage 1992; Duranti e Goodwin 1992; Gumperz 1982). Estas questões são: (1) a relação entre “códigos” e “línguas”, (2) o papel e a ubiquação do “significado”, e (3) a comunidade ou diferença dos “códigos” entre as pessoas. Abordarmos estas questões requer, em certa medida, ré-pensarmos a própria noção de “código”. Mas o assunto, como veremos, não é puramente terminológico. No meu entender, há três tipos de evidências que sugerem que devemos ré-pensar esta noção. Multimodalidade A primeira evidência é a da multimodalidade da comunicação humana. Os seres humanos somos inerentemente multimídia. Comunicamo-nos simultaneamente polos canais oral-auditivo e visual, e, dentro de cada um destes canais, com tipos de sinal radicalmente distintos. No caso dos falantes de línguas orais, produzimos, consoante as nossas capacidades, não só sons verbais (palavras e frases), mas vocalizações não-verbais, como risos ou suspiros. Além, simultaneamente produzimos melodias, entoações superpostas à voz e que, amiúde, indicam muito mais do que as palavras. Também simultaneamente, produzimos sinais visuais: sinais quinésicos referidos ao movimento do corpo, gestuais referidos ao movimento de mãos e partes do rosto, proxémicos referidos à orientação corporal. Sinais visuais e auditivos estão intimamente interconectados na construção da acção comunicativa. As palavras substituem gestos, os gestos substituem palavras, e tanto palavras quanto gestos às vezes são insubstituíveis. No caso dos utentes de línguas signadas ou gestuais, o canal principal visual se pode complementar também com vocalizações, que naturalmente são interpretadas como sinais visuais polos não-ouvintes, mas que para o emissor têm um carácter comunicativo.

A proxémica,

logicamente, cobra outro sentido do que na conversa oral, visto que a orientação do corpo assinala mais claramente o que se chama escolha de destinatário, mas de igual maneira encontramos na comunicação entre surdos sinais mais significativos apoiados por outros conotativos. E o uso de signos dactilográficos, a soletração no alfabeto Gallaudet, mostra a transferibilidade de meio das línguas, a tradução e empréstimo de elementos fonémicos duma língua oral em sequências de sinais visuais que formam já um novo sinal global na língua de signos. Deslocamento O segundo tipo de evidências refere-se ao que poderíamos chamar deslocamentos nas

funções identitárias das línguas e outros sistemas. Às vezes assinalamos quem somos, ou quem queremos pretender que somos socialmente, não por meio da língua que supostamente representaria a nossa identidade, mas por meio duma língua ou variedade que representaria uma identidade oposta, mesmo incompatível. O jogo de papeis, o role playing entre identidades, efectiva-se a diário, não apenas conscientemente, mas através de subtis mecanismos pré-conscientes. Isto indicanos que os valores indéxicos dos recursos comunicativos, longe de inerir nas línguas e noutros sistemas, são resultado da sua activa manipulação diária polas pessoas: no assinalamento de sentidos as línguas são maleáveis, amolecíveis aos nossos objectivos comunicativos. Mal-entendidos Por fim, o terceiro tipo de evidências concerne o grau inerentemente variável de entendimento entre as pessoas. Quero dizer com isto o seguinte: por meio de sistemas de sinais como línguas, sistemas paralinguísticos, quinésicos, etc., os seres humanos entendemo-nos e não nos entendemos simultaneamente. Na interacção humana, há um grau inerente de incomunicação, de incerteza, do qual os mal-entendidos patentes não são mais do que a amostra mais extrema. E este grau de incerteza faz pensar então no poder efectivo das línguas para a comunicação, e na sua própria natureza como supostos “códigos” não-ambíguos. Porque, estritamente falando, a noção de “código” implicaria a impossibilidade do equívoco e a inevitabilidade da comunicação perfeita. E o que acontece não é assim. Grandíssima parte da comunicação diária, excepto talvez fórmulas ritualizadas como as saudações ou os agradecimentos, é intrinsecamente interpretativa, inferencial. Isto é: sempre reconstruímos o sentido do que a outra pessoa quer comunicar.

Mais

especificamente: construímos um sentido para aquilo que interpretamos que a outra pessoa quer comunicar. . Códigos e línguas E é aqui que entra na cena a focagem semântica da comunicação: a necessidade de trabalhar “from the top down”, da semântica para abaixo, dos conteúdos até às formas. Quero precisar que por “semântica” não estou a referir-me à semântica das línguas, mas ao âmbito mais geral de todos os conteúdos potencialmente exprimíveis, no seu sentido mais amplo possível: quer dizer, ao âmbito do mental. Voltando à formulação de Jakobson, eu entendo que para Jakobson a “semântica” inclui não apenas o significado referencial (como são as cousas das que falamos), mas também os muitos outros sentidos: o sentido poético (como é a própria mensagem que emitimos), o sentido chamado fático (como é que assinalamos a nossa relação comunicativa com os outros) e outras dimensões além do puramente referencial. De maneira que aqui estaríamos a incluir também o lúdico, o interpessoal, o incerto na comunicação. Estaríamos a falar das nossas representações do que é, por

exemplo, uma situação social dada, ou uma relação interpessoal dada, ou uma forma de identidade determinada. Em definitivo, o semântico é o plano de todos conteúdos ou noções que temos sobre o mundo. Mas, onde reside esta semântica? Onde residem os códigos que a transmitem? Mente, cérebro e códigos comunicativos O estado biológico do cérebro produz mente, e esta mente contém conteúdos, representações, mapas cognitivos da realidade. Em certo sentido, a realidade está contida no cérebro na forma de mapas ou duma espécie de paisagem cognitiva. Aqui a comparação com uma paisagem real pode ser útil. Uma paisagem real é indefinida: pode conter objectos finitos e limitados, definíveis, que começam em algures e acabam em algures, como uma árvore ou uma rocha dada. Pode conter também objectos que começam mas não sabemos onde acabam exactamente, como um rio a entrar no mar. Ou então pode conter objectos finitos mas perfeitamente ilimitáveis, como uma montanha, ou um prado, ou um vale: sabemos que estão aí, que são distintos dos outros objectos, mas não sabemos exactamente onde começam nem acabam. Dum modo semelhante, as nossas paisagens mentais, de conteúdos e representações do mundo, são também indefinidas. As paisagens cognitivas contêm conteúdos proposicionais e referenciais, mas também crenças e valores culturais, conhecimentos de fundo, impressões, etc. Uns poucos conteúdos são definidos, como talvez os de “Bom dia”, ou “Chamo-me Ana”, ou “Esta mesa”. Mas numerosos conteúdos ou representações são essencialmente difusos, finitos mas ilimitados, como a própria forma do universo: por exemplo, a nossa representação duma sensação, a nossa ideia duma situação social, um conceito abstracto, um valor cultural. Mas, se se permitir a metáfora, esta sorte de caldo cognitivo é inexprimível directamente. Precisamos de mecanismos de transdução dos conteúdos. E estes mecanismos são os códigos comunicativos que, num sentido muito geral, medeiam entre a mente e a realidade, entre o cérebro e a sociedade. Os códigos comunicativos, portanto, pertencem a um nível superior, prévio e relativamente independente das línguas e dos outros sistemas com que assinalamos as nossas representações do mundo. Os códigos são mecanismos e princípios básicos que transduzem as nossas intenções em sinais comunicativos reconhecíveis. Que fazem, como funcionam estes códigos?

Obviamente, não o sabemos, e apenas

podemos imaginá-lo. Em contraste com as línguas, que podem ser observadas, os códigos são procedimentos abstractos que relacionam conteúdos e sinais.

Portanto, como noutras tantas

questões linguísticas, os modelos intuídos devem suprir o nosso acesso directo aos dados. Porque neste caso os “dados”, os pontos terminais do processo comunicativo, são os estados biológicos da

mente/cérebro dos interlocutores, mas no actual estado da pesquisa linguística e neurolinguística ainda não podemos relacionar as particularidades dum estado biológico do cérebro com as particularidades dum processo de comunicação. Quero propor que os códigos comunicativos, portanto, são os que organizam essas representações nocionais, esses conteúdos, atribuindo-lhes conjuntos de sinais que provêm simultaneamente de línguas, de registos prosódicos, de repertórios gestuais ou de outros sistemas. Os códigos convertem as paisagens cognitivas em paisagens de gestos e palavras. Desta maneira, os códigos trabalham com quaisquer recursos os seres humanos temos para a comunicação. Em virtude destes códigos, produzimos sinais, usamos “línguas”. Mas quero precisar que nem as línguas nem os repertórios gestuais, prosódicos ou quinésicos são, estritamente, estes códigos. Por último, parece lógico pensar que os códigos estão directamente conectados com a experiência. Embora tenham provavelmente uma base universal fincada na especificidade biológica humana, os códigos são aprendidos socialmente. Na comunicação, aprendem-se simultaneamente a palavra, a entoação, os gestos significativos, os gestos e movimentos acessórios, etc. O privilégio da palavra Por tudo isto, seria arrogante, por parte dos que utilizamos línguas orais, pensarmos que esta capacidade cognitiva humana que consiste na reconstrução da realidade dentro do cérebro está indissoluvelmente associada à nossa capacidade de ré-produzi-la com sinais auditivos, sons linguísticos. Mais arrogante ainda seria pensarmos que o poder de comunicar reside em utilizarmos uma língua determinada. É evidente que as línguas medeiam no assinalamento das nossas representações mentais, e neste sentido cada língua tem um certo “carácter” humboldtiano (Humboldt 1991), ou, como dizia Sapir (1949), um “génio” distinto. Mas lembremos que para Sapir este “génio” consistiria apenas numa espécie de precipitado de possibilidades combinatórias. Quer dizer: o “génio” é basicamente a distinta e peculiar estrutura de cada língua. Em resumo: as línguas diferem estruturalmente, o qual é algo interessante em si para a pesquisa. Mas é duvidoso que esta diferença esteja conectada com diferenças comunicativas básicas. Neste sentido, eu prefiro pensar, com Fishman, que o verdadeiro “princípio de relatividade linguístico” polo qual construímos a realidade radica no próprio poder da linguagem humana como capacidade para mediar entre a percepção da realidade e a sua representação (Fishman 1960). A gestão crítica da diferença Até aqui quis dizer, portanto, que compartilhamos princípios comunicativos básicos, que fazemos uso de quaisquer recursos de assinalamento estiverem à nossa disposição, e que os grupos sociais e os indivíduos diferem, em graus variáveis, na utilização destes recursos. Resta-nos ver

qual é a implicação do dito para o que dei em chamar a “gestão crítica da diferença”. A questão central concerne a distribuição social destes recursos de assinalamento de intenções comunicativas: as línguas, as variedades, as tácticas comunicativas, as convenções retóricas. A comunicação por signos, por exemplo, é um fenómeno intrinsecamente social, não biológico. E isto é assim porque a própria surdez e “os surdos” são categorias históricas e sociais, não biológicas. É relativamente circunstancial que a maior parte da humanidade se comunique com línguas orais. Une-nos um cérebro essencialmente comum a todos os humanos, e umas capacidades comunicativas comuns.2 Porém, na actualidade tanto as concepções diárias sobre a comunicação, quanto a pesquisa técnica ou as políticas dos estados, viram em torno da centralidade da Palavra, com maiúsculos, da palavra oral e escrita. A “palavra” subsume e resume a unidade básica de conceptualização. O logocentrismo caracteriza o pensamento e a pesquisa sobre a comunicação, e este paradigma logocrático fundamenta-se na existência e estabilidade dos grupos que controlam a palavra. A palavra escrita e oral é a possessão e o trabalho dos linguistas, educadores, políticos e legisladores. Não é uma pura coincidência, portanto, que a palavra esteja privilegiada na pesquisa, e que represente o ponto de referência para a interpretação de tudo aquilo que, ao parecer, não é “linguístico”, ou não é “sistemático”, ou não é “ordem”... ou que ameaçaria com impor uma ordem distinta, o qual seria pior. Algumas assunções finais Portanto, como gerirmos criticamente esta diferença que é no fundo fruto do social? Nada mais longe da minha intenção que propor fáceis receitas.

As minhas reflexões surgem

simplesmente dum convencimento cada vez maior da essência comum do humano, e da marginalidade das “línguas” específicas no relativo ao processo geral da comunicação. Devemos partir da evidência da distribuição social diferencial tanto dos recursos comunicativos quanto das convenções de interpretação dos seus significados. A produção e a circulação dos recursos comunicativos estão sujeitas a leis no fundo económicas que operam para o mantimento da desigualdade. Visto que a própria natureza da comunicação nos nega o acesso aos estados cognitivos dos nossos interlocutores, julgamos que os outros “pensam” de maneira “diferente” (ou que as suas capacidades cognitivas são diferentes) porque utilizam as línguas (orais 2 Sabemos que as capacidades cognitivas são atributo da espécie, e que a especialização cerebral para a produção de sons articulados esteve na sua altura conectada com necessidades e circunstâncias materiais, polas quais a postura bípede e uma alimentação mais rica e espaçada facilitaram a libertação dos órgãos da deglutição para a fonação. Mas não devemos esquecer que este mesmo processo facilitou simultaneamente a libertação das mãos, e que o desenvolvimento da linguagem oral provavelmente esteve intimamente relacionado com a sofisticação das funções das mãos, do exame do entorno, da percepção das propriedades físicas dos objectos.

ou signadas) e outros recursos de maneiras diferentes. Este protocolo de tipificação e estigmatização mantém-se nas sociedades de classes porque trabalha em favor do papel estrutural dos privilegiados socialmente (quer dizer, daqueles que possuem a Língua: educadores, pesquisadores, políticos, intelectuais, etc.), e trabalha em detrimento dos indivíduos e grupos que são objecto de sujeição ou estudo. Uma implicação prática desta visão das cousas é que a gestão crítica do papel social da comunicação –tanto no nosso papel de interlocutores na comunicação diária quanto no nosso papel de profissionais, linguistas, ou educadores– deveria basear-se nas seguintes assunções: (1) Uma assunção de igualdade intrínseca quanto aos princípios comunicativos gerais que nos regem, os códigos comunicativos, atributos da espécie como tal. Esta assunção da comunidade não deveria obviar o reconhecimento destes códigos como mecanismos inerentemente difusos, sujeitos à incerteza que caracteriza a comunicação. (2) Uma assunção da diferença no uso dos recursos de assinalamento (línguas, recursos prosódicos, recursos quinésicos, etc.). Isto supõe arrumarmos temporariamente o poder central da Língua e das Línguas como sistemas tangíveis, e tentarmos o difícil exercício de aceder directamente aos conteúdos donde emergem as línguas. A continuar com a metáfora da paisagem, assumirmos a diferença supõe interpretarmos as palavras, signos ou gestos dos outros não como fotografias icónicas da sua paisagem cognitiva, mas como pinturas indéxicas, quadros que meramente apontam para as representações cognitivas originais. A própria experiência social de um, o próprio reconhecimento do(s) outro(s) como humano(s), deveria ser o melhor instrumento para a construção do sentido a partir de sinais inerentemente ambíguos e instáveis. (3) Uma assunção crítica dos padrões de desigualdade social que o uso dos recursos comunicativos reflecte e contribui para manter, e do próprio papel estrutural dos expertos na reprodução desses padrões de desigualdade. As identidades sociais e o seu assinalamento medeiam constantemente na comunicação diária, até ao ponto de que amiúde o que está em jogo não é uma suposta e mecânica “transmissão de informação” entre indivíduos, mas a construção e mantimento da visibilidade, o domínio ou a hegemonia.

O poder, no seu sentido mais geral de força

transformadora do entorno, converte-se com frequência em instrumento de domínio. Especificamente, os “expertos em língua” (linguistas, sociolinguistas, educadores, planificadores, etc.) estão estruturalmente investidos com a capacidade de definirem o objecto de estudo (a “língua”, a “comunicação”), e, portanto, de definirem que é que estão a usar os seus interlocutores, e como o estão a usar, em referência a padrões de “normalidade”, “eficácia” ou “correcção” com base fundamentalmente económica. E por último, (4) uma assunção metodológica de análise empírica das instâncias de comunicação entre indivíduos diversos.

Como acontece com a assunção da diferença nas

interacções de um, por meio desta observação da comunicação dos outros, tratar-se-ia de suspender o privilégio comunicativo das “línguas” e de tentar aproximar-se das intenções comunicativas originárias das pessoas. A sociologia etnometodológica (Atkinson e Heritage 1984; Boden e Zimmerman 1991; Drew e Heritage 1992) oferece aqui uma útil perspectiva de análise: a de um tentar inserir-se na interacção registada como um possível membro mais dentro dela, e a de um reconstruir os processos locais de formação de sentido sem o pré-juízo da centralidade das “línguas” ou de outros sistemas. Esta análise detalhada pode portanto contribuir para relativizar a importância das diferenças comunicativas, e, consequentemente, para destacar os padrões comunicativos gerais, baseados na herança biológica da espécie humana mais do que nas contingências linguísticas ou culturais.

Referências bibliográficas Atkinson, J.Maxwell e John Heritage (eds.). 1984. Structures of social action. Studies in conversation analysis . Cambridge: Cambridge University Press. Bloomfield, Leonard. 1933. Language. London: George Allen and Unwin. Boden, Deirdre e Donald H. Zimmerman (eds.). 1991. Talk and social structure. Studies in ethnomethodology and conversation analysis. Berkeley / Los Angeles: University of California Press. Drew, Paul e John Heritage (eds.) 1992. Talk at work. Interaction in institutional settings. Cambridge: Cambridge University Press. Duranti, Alessandro and Charles Goodwin (eds.). 1992. Rethinking context. Language as an interactive phenomenon. Cambridge: Cambridge University Press. Fishman, Joshua A. 1960. “A systematization of the Whorfian hypothesis”. Behavioral Science 5(4), 323-339. Gumperz, John J. 1982. Discourse Strategies. Cambridge: Cambridge University Press. Humboldt, Wilhelm von. 1991. Escritos sobre el lenguaje. Barcelona: Ediciones Península. [Recolheita de trabalhos e conferências 1820-1827]. Jakobson, Roman. 1959. “Overlapping of code and message in language”. American Anthropologist LXI(5), 139-145. Jakobson, Roman. 1961. “Linguistics and communication theory”. Em Jakobson, Roman (ed.), On the structure of language and its mathematical aspects. Providence (R.I.): American Mathematical Society, 245-252. Jakobson, Roman. 1984a. “El lenguaje común de antropólogos y lingüistas”. Em Ensayos de lingüística general. Barcelona: Ariel, 13-33. Jakobson, Roman. 1984b. “La lingüística y la teoría de la comunicación. Em Ensayos de lingüística general. Barcelona: Ariel, 79-94. Jakobson, Roman, C.Gunnar M. Fant e Morris Halle. 1952. Preliminaries to speech analysis: The distinctive features and their correlates. Cambridge (Mass.): The M.I.T. Press. Sapir, Edward. 1949. Selected writings on language, culture, and personality. Berkeley: University of California Press.

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