Colecção Portuguesa I e II: Livros Maçónicos

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Manuel J. Gandra

COLECÇÃO PORTUGUESA I e II da BIBLIOTECA DO CONGRESSO Livros Maçónicos

Manuel J. Gandra

COLECÇÃO PORTUGUESA I e II da BIBLIOTECA DO CONGRESSO Livros Maçónicos

Centro ERNESTO SOARES de Iconografia e Simbólica

Desta 1ª edição fizeram-se duas tiragens: uma normal de 102 exemplares e outra, especialíssima, de XVII exemplares, dedicados ad personam, todos assinados pelo autor.

Manuel J. Gandra © Mafra, Abril de 2012

O conteúdo do presente roteiro, do qual se tiraram 102 exemplares, não pode ser transcrito ou reproduzido, sem a prévia autorização por escrito do autor.

www.cesdies.net E-mail: [email protected] Tel.: 963075514

ANTELÓQUIO Desde sempre a Franco-Maçonaria se tem autoproclamado como uma sociedade fraternal, filantrópica, ecuménica e transnacional, promotora de um elevado padrão moral entre os seus membros, da caridade, da tolerância e do respeito pela generalidade dos cultos e das crenças religiosas. De facto, a Franco-Maçonaria encarna todos esses valores, mas, decerto, não se esgota neles. É indiscutível que a demanda da palavra perdida, que constitui o cerne da actividade maçónica, é uma preocupação partilhada quer por outras sociedades com motivações metafísicas, quer até por escolas de pendor racionalista. A resposta às perguntas radicais, - Quem Sou? - De onde venho? Para onde vou?, que todas, de um modo ou de outro, procuram, estão na origem de uma vasta panóplia de disciplinas, as quais, alegadamente, hão-de dotar os respectivos adeptos de uma capacidade acrescida para penetrar mais intimamente no imo da natureza humana. O que então, supostamente, tornará sui generis a Franco-Maçonaria relativamente às suas émulas? Consabidamente não serão os antecedentes que ela própria para si ou terceiros a seu favor têm reivindicado. Com efeito, para a legitimar têm sido invocadas as mais díspares origens. Sempre houve maçons, e também antimaçons, dispostos a arvorar teses a tal propósito. Seja como for, os primórdios da Franco-Maçonaria continuam obscuros, porventura intencionalmente obscuros. É que, apesar dos esforços da generalidade dos intervenientes nessa interminável discussão, nunca foi possível encontrar um único elo credível capaz de fundamentar seriamente qualquer das filiações propostas.

Uma das mais glosadas sustenta a ascendência nas guildas mecânicas dos construtores medievais, alegando a similitude das práticas consagradas por ambas as sociedades e a aparente correspondência do sentido metafísico delas, ainda assim descontada a circunstância de numa, a Franco-maçonaria tradicional, profissional e operativa, a progressão de aprendiz a mestre se realizar mediante efectivas provas prestadas de competência profissional, enquanto na outra, a moderna, composta por livre-pensadores e especulativa, se preferir a mera cooptação para angariar novos prosélitos. Porém, também esta filiação enferma das dificuldades fundamentais sentidas pelas outras. Existe, no entanto, uma hipótese pouco divulgada, trazida à ribalta e explorada por Frances Yates em várias das suas obras, que creio merecer alguma atenção, porquanto é, até à data, a única instância interpretativa que, consistente e concomitantemente, oferece resposta para duas questões cruciais, a saber: de quem, efectivamente, terá herdado a Franco-Maçonaria, o sistema filosófico-metafísico que adoptou e por que razão foi a Inglaterra o seu berço institucional, em 1717? De acordo com a supracitada investigadora britânica, o contexto ideológico no seio do qual a Franco-Maçonaria se originou enxerta no neoplatonismo humanista do Renascimento e na consequente valorização da tradição hermético-cabalística que em nenhuma outra parte da Europa se mantivera tão viva e actuante, quanto em Inglaterra, durante a segunda metade de quinhentos (Giordano Bruno visita Oxford, em 1583) e toda a centúria de seiscentos, bastando citar, a título de exemplo, como seus expoentes destacados John Dee, Francis Bacon e Robert Fludd. Na perspectiva do Hermetismo, o cosmos, para além do limiar dos fenómenos físicos e do mundo material, comporta outras esferas não acessíveis à percepção ordinária, mas igualmente parte integrante do mesmo cosmos.

Ora, tais pensadores, preocupando-se mais com o quid sit Deus (a essência do Divino) do que com o an sit Deus (a existência de Deus), participavam do corpo doutrinário hermético-cabalístico, o qual, tendo subjacente uma cosmogonia, uma cosmologia e uma escatologia, pretenderam elucidar, tanto por via da sua própria reflexão, quanto por intermédio de uma iluminação interior, inevitável fonte de regeneração individual. Justifica-se-à, nesta conformidade, a ênfase posta pela Franco-Maçonaria na iniciação, na busca da Verdade para além dos dogmas oficiais e na insistência no tema do Reino vindouro da Igreja invisível, suplantando a material (por razões óbvias tão comprometida na condenação do maçonismo). Na senda dessa visão, e à imagem das escolas mistéricas tradicionais, a Franco-Maçonaria providencia a instrução sobre as aludidas esferas, bem como acerca das leis pelas quais se regem, mediante a participação do candidato em dramas rituais, escalonados em sucessivos graus de aprofundamento. Um tal método de transmissão do conhecimento, envolve, necessariamente, uma forte componente simbólica, estruturada e codificada de molde a preparar os praticantes para a consonância com princípios metafísicos de índole universal, permitindo-lhes, pelo menos em teoria, vivenciar globalmente o cosmos. Para alcançar um tal desiderato, e não obstante a Franco-Maçonaria constituir hoje uma fonte de curiosidade desmedida por parte dos profanos (mercê, designadamente, dos escândalos e atitudes censuráveis não apenas do ponto de vista maçónico, por parte de alguns dos seus membros destacados ou não), só lhe granjeará vantagens a circunstância de as suas actividades continuarem a ser conduzidas de forma discreta. O texto supra foi transcrito de A Maçonaria exposta, introdução ao catálogo Colecção Maçónica Pisani Burnay 1, cuja elaboração me foi cometida por Eduardo Geada, na sua 1

Sintra, 2000.

qualidade de Administrador Delegado da Quinta da Regaleira (Fundação CulturSintra). A realização concomitante de uma Exposição de grande número de artefactos e bibliografia maçónicos e antimaçónicos, reunidos por Pisani Burnay, distinto maçon e colecionador, deu aso a que o argumento de que a Regaleira era uma Mansão Maçónica, mais se divulgasse, adquirindo foros de dogma. Convém salientar, no entanto, que tal dogma não se impôs tacitamente, na sequência da (para alguns) providencial aquisição da propriedade pelo município sintrense. Na realidade, esse dogma emergiu de uma campanha de marketing, gizada magistralmente e orquestrada, dentro e fora das fronteiras nacionais, por um lobby maçónico em ascensão 2, não dispondo de uma sede condigna, mas perseguindo activamente esse desiderato. É evidente que a impreparação da autarquia no que concerne ao enquadramento histórico e iconológico da Regaleira, bem como a atitude de desdém, seria mais adequado chamar-lhe menosprezo, por parte da historiografia de arte, ambas não garantindo, atempadamente, um discurso consentâneo com a índole não convencional do conjunto, fez o resto. E, não obstante, a Quinta da Regaleira, hoje tão celebrada enquanto alegada Mansão Maçónica, não contempla no seu programa iconográfico um só que seja dos símbolos consabidamente creditáveis à maçonaria. São distintas as suas fontes de inspiração, de facto 3, porém, o grau de intoxicação atingiu tais proporções que não é Dando de barato os reiterados anacronismos produzidos pelos proponentes da tese maçónica, nenhuma das fontes alegadamente apontadas como determinantes na concepção e desenho da propriedade constou da tão bem apetrechada biblioteca de António Augusto Carvalho Monteiro, o que não deixa de ser, concomitantemente, paradoxal e sintomático. 3 Cf. Manuel J. Gandra, A Quinta da Regaleira, legado Sebástico-Templarista de António Augusto Carvalho Monteiro, Mafra, 2012; Cebes de Tebas, Tábua ou Quadro 2

frequente encontrar-se alguém com capacidade para discernir entre o que é catequese e o que releva do bom senso. No caso vertente, o bom senso mandaria que se escrutinassem minuciosamente as opções ideológicas do proprietário e do arquitecto que aquele elegeu para seu cúmplice. Que se revolvessem até à exaustão todas as fontes de informação credíveis, incluindo as bibliotecas e objectos pessoais dos protagonistas deste intrigante, mas igualmente fascinante, caso de estudo. E o que se tem feito, salvo em circunstâncias excepcionais? Uma vez preparado o argumento à exacta medida das paralaxes propagandísticas, tem-se conservado em lume brando, adicionando, de quando em vez, algum condimento susceptível de prolongar o mais possível a cozedura, sem a preocupação de averiguar previamente se a receita final é digerível ou intragável. E tudo isso à custa da curiosidade e da boa-fé de uma multidão de famintos, carentes de alimento espiritual, os quais, sentindo-se órfãos de um Evangelho caduco, creem ter descoberto outro, contraponto daquele incapaz de responder aos seus anseios mais profundos e desígnios mais nobres. Convém recordar que António Augusto Carvalho Monteiro, católico confesso, professou um cristianismo gnóstico, nos antípodas dos ideais maçónicos, sendo de descartar, liminarmente, qualquer hipótese de uma filiação na Franco-Maçonaria 4. da Vida Humana (tradução de António Teixeira de Magalhães, Introdução e notas de Manuel J. Gandra), Mafra, 2012. 4 O nome de António Augusto Carvalho Monteiro não consta (nem tão pouco o de Giuseppe Manini) de nenhum dos ficheiros de qualquer das obediências maçónicas portuguesas ou brasileiras activas durante o período correspondente ao da sua vida (1848-1920). Cf. M. Borges Grainha, História da Franco-Maçonaria em Portugal (1733-1912), Lisboa, 1913; Oliveira Marques, Dicionário de Maçonaria Portuguesa, Lisboa, 1986, 2 vols.; Joaquim Gervásio de Figueiredo, Dicionário de Maçonaria, S. Paulo, 1978.

A sua biblioteca pessoal é um testemunho insofismável do desinteresse que votava ao tema. O catálogo que apresento, relativo ao insignificante núcleo bibliográfico (13 obras), saído de um acervo que ultrapassava os 33 mil títulos, exige duas clarificações: Não poderá dar-se o caso de existirem mais obras de índole maçónica, ainda não referenciadas, no acervo de Carvalho Monteiro adquirido pela Biblioteca do Congresso, uma vez que se desconhece o teor de uma parte significativa da segunda aquisição (1929)? 5 A resposta é negativa, porquanto os livros sobre Maçonaria e afins (bem assim como outros temas não relevantes neste momento) têm, consoante as normas biblioteconómicas vigentes na Biblioteca do Congresso, tratamento privilegiado e prioritário, não aguardando catalogação durante muito tempo. Ora desde a aquisição, em 1929, decorreram 83 anos... A colecção em apreço inclui uma obra impressa em 1924, a qual só poderia ter sido ali inserida por Pedro Carvalho Monteiro, uma vez que seu pai falecera em 1920. Poderá inferirse daí que todos os demais títulos (à excepção dos dois antimaçónicos, transitados da biblioteca O.P.L.) 6 procedem da mesma origem?

Cf. Manuel J. Gandra, Colecção Portuguesa I e II da Biblioteca do Congresso: subsídios para a sua história, Mafra, 2012. 6 Cf. Ob. cit. e Manuel J. Gandra, Colecção Portuguesa I da Biblioteca do Congresso: subsídios para a sua história e catalogação, Mafra 2011. Trata-se do Relatório realizado para a Fundação CulturSintra. Consigna, além de umas quantas rectificações, o cotejo das espécies bibliográficas elencadas na Lista dactilografada por Miss Campbell com o respectivo estado e classificação actuais (incluindo cotas / call numbers). Aguarda publicação. 5

Acerca do presente Catálogo e das normas adoptadas para a sua organização O presente catálogo não visa a descrição biblioteconómica e codicológica das espécies elencadas, mas tão-somente referenciar a sua existência, registando todos os detalhes considerados relevantes no que lhes concerne.

Legenda DCL: Biblioteca do Congresso OPL: Biblioteca Olivais Penha Longa (Portuguese Collection (Provisional list of the titles acquired from the *** Collection through Maggs Bros. 1928), Washington, 1929 [DCL: Z2739.U58]) Panfleto: Panfletos Portugueses (The Portuguese Pamphlets – Microfilm 82/5800 MicRR: introduction and comprehensive guide to Contents, Library of Congress, 1983 [DCL: DP517.P67 1610])

Catálogo dos Panfletos Portugueses da DCL: os nº 1669 a 1673 são brochuras de índole maçónica.

Boletim Official do Grande Oriente Lusitano Unido, s. 3, n. 4 (Jul. 1880) [DCL: Panfleto 1672]

BOTTO-MACHADO, Fernão A Maçonaria e a Sociedade das Nações (Tese apresentada ao Congresso Maçónico de 1924), Lisboa, Tipografia do Grémio Lusitano, 1924 [DCL: Panfleto 1673]

Constituição e regulamentos geraes da Ord. Mac. No Brasil. Promulgados pelo Gr. O. Do Brasil, Rio de Janeiro, Tipografia Austral, 1842 [DCL: 4HS 162 FT MEADE]

[COUTO, António Maria do] Palmatoria contra Pedreiros-Livres, refutação á Herética Pravidade de seus Modernos escriptos e á Introducção do Manifesto do Grande Oriente Lusitano por o Censor Profano, Lisboa, Impressão de Alcobia, 1821 [O.P.L. / DCL: HS639.A5 C6]

[DIAS, Miguel António] Historia da Franc-Maçonaria ou dos Pedreiros Livres pelo author da Bibliotheca Maçónica […], Lisboa, Tipografia de F. A. da Rocha, 1843 [O.P.L. / DCL: HS403.D5]

GAYOZO, Ignacio Xavier Divertimento em forma de Analysi, sobre a Analysi dos Cathecismos dos Pedreiros Livres […], Lisboa, J. B. Morando, 1823 [O.P.L. / DCL: BX1751.G35]

G. O. de France – Solstice d’hiver 5839 – Procès Verbal de la Fête de l’Ordre, célébrée par le G. O. De France le 22 Jº du 10e mois lunaire (Thebet), l’an de la V. L. 5839 (27 Decembre 1839, ère vulg[ai]re), O. De Paris, Veuve Dondey-Duprè, 1840 [DCL: Panfleto 1670]

Guide des maçons ecossais, ou Cahiers des trois grades symboliques du rit ancien et accepté, Edimburgo, [s. d.] [DCL: 4HS 111 FT MEADE]

Mitglieder-Verzeichniss der unter Constitution der Hochwürdigsten Grossen Landes-Loge der Freimaurer von Deutchland in Berlin arbeitenden ger. verb. und vollk St, Joahnnes-Loge gennant Glück zur Brudetreuer zu Waldenburg gestiftet den 31. Mai 1847, [s. l.], 5850 [1847] [DCL: Panfleto 1671]

Regulador Maçónico do Rito Moderno, contendo os rituaes segundo o Regímen do G. O. De França, bem como formalidades e disposições diversas, concernentes á Ordem, Offerecido, para uso das officinas deste Rito, ao G. O. Do Brasil – Primeiro Grão Aprendiz, Rio de Janeiro, Tipografia Austral, Ano da V. L. 5837 [1837] [DCL: HS455.B6F74.1837 (encadernado com os dois seguintes)]

Regulador Maçónico do Rito Moderno, contendo os rituaes segundo o Regímen do G. O. De França, bem como formalidades e disposições diversas, concernentes á Ordem, Offerecido, para uso das officinas deste Rito, ao G. O. Do Brasil – Segundo Grão Companheiro, Rio de Janeiro, Tipografia Austral, Ano da V. L. 5837 [1837] [DCL: HS455.B6F74.1837 (encadernado com o anterior e com o seguinte)]

Regulador Maçónico do Rito Moderno, contendo os rituaes segundo o Regímen do G. O. De França, bem como formalidades e disposições diversas, concernentes á Ordem, Offerecido, para uso das officinas deste Rito, ao G. O. Do Brasil – Terceiro Grão Mestre, Rio de Janeiro, Tipografia Austral, Ano da V. L. 5837 [1837] [DCL: HS455.B6 F74.1837 (encadernado com os anteriores)]

ROSÁRIO, J. M. do Instrucções para os Sublimes Capítulos dos Sublimes Principes de Heredom e de Kilwinning, Cavalleiros da Águia e Perfeitos Maçons Livres com o titulo de Rosa-Cruz do Rito Escocez Antigo e Acceito para o Império do Brazil, recopiladas dos melhores Authores e offerecidas ao I. Cav. R+, F. de Paula Brito, pelo seu amigo […], Grau 30, Rio de Janeiro, Tipografia Imparcial do Ir. F. de P. Brito, 1838 [DCL: Panfleto 1669]

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