Coleções Paleontológicas como proteção do Patrimônio Científico brasileiro

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III Seminário Internacional Cultura Material e Patrimônio de C&T

COLEÇÕES PALEONTOLÓGICAS COMO PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO CIENTÍFICO BRASILEIRO

Josiane Kunzlera Mariana Gonzalez Leandro Novaesa Deusana Maria da Costa Machadob Luiza Corral Martins de Oliveira Poncianoc

Resumo O patrimônio cultural de ciência e tecnologia no Brasil possivelmente apresenta como principal problema de seu desconhecimento a combinação entre dois fatores: a baixa atividade efetiva de preservação da memória científica e tecnológica brasileira, no âmbito das políticas públicas de Ciência, Tecnologia e Inovação, e a dificuldade da área de cultura de considerá-lo como produto cultural. Este último fato está presente mesmo entre os pesquisadores que utilizam os suportes de pesquisa cotidianamente, provocando uma perda imensurável de bens patrimoniais de ciência, devido ao descarte de instrumentos científicos e diversos tipos de documentos, além da constituição de coleções mal documentadas e precariamente conservadas. No campo da Geologia e Paleontologia esse cenário é semelhante, portanto este trabalho busca discutir a importância e a função das coleções paleontológicas no Brasil como fonte primária para a geração e preservação do conhecimento enquanto patrimônio. Na Paleontologia o fóssil é o principal objeto de estudo, sendo detentor de valor científico inquestionável e constituindo a representação material mais significativa do patrimônio dessa ciência. Ao ser inserido em coleções, ele passa pelo processo de musealização – processo este que implica na valorização simbólica do fóssil e dos registros relacionados à coleta, guarda e estudo a

Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (bolsista DS-CAPES); Av. Pasteur, 458, Urca, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected], [email protected], b Professora Associada - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro; Av. Pasteur, 458, sala 504, Urca, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected], c Professora Adjunta - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro; Av. Pasteur, 458, sala 504, Urca, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected]

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desse material. O fóssil passa então a ser acompanhado por documentação museológica referente aos dados de localização, contexto geológico, estado de preservação e identificação dos espécimes, permitindo uma contextualização mais detalhada dos exemplares. Dessa forma as coleções paleontológicas podem atuar conservando e tornando acessíveis tanto os fósseis quanto as informações associadas a esses registros da história da Terra. Estes dados são inseridos em pelo menos três esferas de atuação (descritiva, contextual e histórica) que equivalem ao “fazer paleontológico”, garantindo também a preservação da história dessa ciência e sua continuidade. No caso do Brasil, a pesquisa em Paleontologia, iniciada no século XIX (quando as referências bibliográficas eram escassas, os instrumentos rudimentares e os apoios institucionais muito precários), consolidou-se através do desenvolvimento de novas técnicas e modelos científicos ao longo das últimas décadas. Neste contexto, é necessário o desenvolvimento de estudos mais detalhados sobre a formação das coleções paleontológicas e as técnicas de conservação específicas para os fósseis, a fim de preservar o patrimônio mais inerente ao ser humano – sua produção intelectual. Palavras-chave: patrimônio científico, paleontologia, fósseis, preservação, documentação museológica. Abstract The lacking of Scientific Heritage’s knowledge in Brazil is probably caused by the arrangement between two facts: the low effective activity of memory’s preservation of the scientific and technology heritage, in the scope of C,T & I Public politics, and the difficulty the cultural area has to accept the Scientific and Technology heritage as cultural products. This last fact is evident even among researchers who use this media research in quotidian, provoking the immeasurable loss of assets of science, as discard of scientific instruments and documents and not well documented and preserved collections. In Geology and Paleontology, this scenario is similar. This paper aims to discuss the importance and the role of paleontological collections in Brazil as primary source for the generation and preservation of knowledge as heritage. In Paleontology, the fossil is the main object of study, holding unquestionable scientific value and constituting the most significant material, representing the heritage of this science. When the fossil is inserted into collections, it goes through the musealization process – this process involves the symbolic value of the fossil and its related storage and study records. The fossil becomes accompanied by museological documentation relating to location data, geologic context, kinds of preservation and identification of specimens collection, allowing a more detailed contextualization of the samples. Thus the paleontological collections can act both preserving and making accessible the fossils as the information associated with these records of Earth history. These data are entered in at least three spheres of action (descriptive, contextual and historical) that are equivalent to the "doing Paleontology", also ensuring the preservation of the history of science and its continuity. In Brazil, Paleontological research begun in the nineteenth century (when references were sparse, instruments rudimentary and very precarious institutional supports) and have been consolidated itself by the development of technical and scientific models over the decades. Its required detailed studies about paleontological collections, as well as conservation techniques in order to preserve the heritage more inherent to the human being - his intellectual production. Key-Words: scientific documentation

heritage,

Paleontology,

fossils,

preservation,

museological

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Introdução A cultura material é entendida por Funari e Carvalho (2009) como algo produzido ou modificado pelo Homem e interpretado pelas pessoas, mas, sobretudo, fruto de uma intencionalidade. A ciência, sendo uma construção humana, é feita a partir de suportes materiais que trabalhados pelo Homem com determinada finalidade, a qual se refere aos objetivos almejados de uma pesquisa, constitui em seu âmago uma cultura material própria. Estabelece-se assim um conjunto de objetos que representam a produção intelectual de determinado grupo, a qual ocorre no âmbito imaterial. Granato e Lourenço (2011) revelaram que, apesar de sua importância, o patrimônio cultural da ciência e tecnologia ainda é desconhecido no Brasil e também no exterior. Para Valente e Handfas (2012), o principal problema desse caso reside na combinação de dois fatores: (1) a baixa atividade efetiva de preservação da memória científica e tecnológica brasileira, no âmbito das políticas públicas de Ciência, Tecnologia e Inovação (C, T & I) e (2) a dificuldade da área de cultura de considerar o patrimônio científico e tecnológico como produto cultural do homem. Essa falta de reconhecimento é observada até mesmo entre os pesquisadores que utilizam os suportes de pesquisa cotidianamente, acarretando uma perda imensurável de bens patrimoniais. Instrumentos científicos e documentos primários são frequentemente descartados, uma vez que não é reconhecido seu valor de testemunho. Coleções científicas descontextualizadas são usualmente encontradas, por falta de documentação adequada e precário estado de preservação, o que pode resultar na perda do seu valor perante a Ciência. No presente trabalho são enfocadas as coleções científicas paleontológicas, que fazem parte do patrimônio científico e tecnológico brasileiro e apresentam uma importância ímpar para o desenvolvimento dessa área de conhecimento. Portanto, busca-se discutir a importância e a função das coleções paleontológicas no Brasil como fonte primária para a geração e preservação do conhecimento enquanto patrimônio. Para tal as coleções são apresentadas como elementos essenciais não somente para o “fazer científico”, mas também para a preservação do patrimônio da ciência. Além disso, enfatiza-se também a documentação museológica como prática indispensável para a promoção da preservação adequada deste patrimônio.

As Coleções e o Patrimônio Científico O conceito de patrimônio cultural de ciência e tecnologia (C&T) é de considerável

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complexidade, devido à própria dificuldade de definição dos termos ciência e tecnologia. O patrimônio cultural de C&T reúne desde o conhecimento científico e tecnológico produzido pelo homem até todos os objetos utilizados em laboratórios e as coleções, que são testemunhos desta produção (documentos em suporte papel, espécimes das coleções biológicas, geológicas, paleontológicas, arqueológicas e etnográficas), assim como as construções arquitetônicas criadas com a finalidade de atender as necessidades relacionadas com o desenvolvimento das pesquisas, como laboratórios, observatórios e diversos outros tipos de equipamentos (GRANATO E LOURENÇO, 2011, p. 90) As coleções científicas paleontológicas representam uma herança natural e cultural, testemunhando a história da formação e do desenvolvimento da sociedade brasileira e mundial. Elas adquirem importância científica e cultural após a finalização das pesquisas, quando o fóssil passa pelo processo de musealização. Estas coleções devem ser preservadas para que se mantenham como produtoras de informação, compartilhado o conhecimento gerado com a sociedade. Entretanto, cabe sublinhar, que essas coleções passam a ganhar importância científico-cultural, apenas após a condução de estudos que propiciem, às mesmas, acesso de valor. Isto significa dizer que, por maior valor intrínseco que possuam, os objetos de uma coleção só passam a adquirir status de expressão de herança natural ou cultural depois de estudados e tornados acessíveis à coletividade (RANGEL, 2009, p. 301).

Uma forma de compartilhar as coleções paleontológicas com a sociedade é através do processo de comunicação nos museus, que pode ocorrer por meio de exposições, publicações científicas e projetos de extensão. Mas essa relação vai além de apenas dialogar com os diversos grupos sociais e públicos variados. A importância das coleções à sociedade pode ser demonstrada de forma direta ou indireta, como relata Winston (2007) em seu trabalho sobre as coleções biológicas, que podem ser utilizadas como suporte de pesquisa para as várias áreas de conhecimento e como fontes únicas de espécimes (fontes não renováveis). Nas coleções paleontológicas este aspecto de espécimes únicos e não renováveis é ainda mais relevante, pois cada fóssil, além representar o registro de um organismo singular que de forma excepcional escapou de ao menos parte do ciclo natural de decomposição da matéria orgânica, ainda foi submetido a processos geológicos que também são individualizados para cada concentração fossilífera, ao longo de milhares ou milhões de anos.

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Além das relevâncias expostas acima, Suarez e Tsutsui (2004) também argumentam que os museus evitam que outras instituições gastem milhões de reais por ano à medida que centralizam e guardam informações, economizando tempo e dinheiro ao manter as suas coleções. Isso se deve a dois fatores. Primeiro, o museu seria um repositório de material de referência e local de acumulação de conhecimento e recursos, eliminando a necessidade de formação de novas coleções no início de cada pesquisa. Esta também seria uma forma de proteção ao patrimônio natural, pois uma grande quantidade de trabalhos de campo realizados num mesmo local pode levar à extração excessiva de material. Segundo, o museu libera os pesquisadores de procurar, coletar e preparar todo material que precisam para a pesquisa, como fazem as bibliotecas ao eximirem os leitores de comprar todos os livros que almejam ler. Há a possibilidade de empréstimo e de análises in loco, que poderão ser ainda mais viáveis com o advento dos bancos de dados online. A concentração de material para as pesquisas, que podem ser realizadas mais facilmente e em condições mais econômicas, é a principal contribuição das coleções científicas para a produção e difusão do conhecimento para a sociedade. No caso das coleções paleontológicas, a importância desta coleta prévia e concentração de material é ainda mais relevante, pois os custos dos trabalhos de campo e transporte dos objetos são elevados devido ao peso do material (fósseis), dificuldade de acesso à regiões muito remotas, necessidade de realizar escavações, entre outras características específicas desta área. As coleções fornecem aos pesquisadores os meios necessários para o crescimento e a legitimação do próprio campo de conhecimento, pois constituem fontes de informações que ao serem processadas geram novos dados (Pinto, 2009; Loureiro, 2007). Ou seja, a partir das coleções, as pesquisas podem revelar subsídios que podem contribuir para o progresso de um campo do conhecimento científico, cuja dinâmica orgânica é permanecer em revisão e atualização constantemente. Ponciano et al. (2011) destacam que as coleções paleontológicas auxiliam também na proteção dos objetos contra os riscos de degradação devido à exposição às intempéries naturais e à depredação antrópica. Outras ameaças, que usualmente justificam a retirada de material fossilífero para a formação de coleções paleontológicas, são: as coletas ilegais para fins não científicos; o aumento da demanda por recursos geológicos; as atividades turísticas e militares; a implantação de grandes obras e estruturas; a gestão de

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bacias hidrográficas; o desmatamento, a agricultura e a pecuária intensiva; o precário estado de conservação das coleções científicas históricas dos museus, universidades e outros institutos públicos de pesquisa e o crescimento demográfico e urbano observado recentemente em várias regiões do Brasil. Especialmente no Nordeste e Centro-oeste, diversos afloramentos fossilíferos já foram destruídos, tanto pela construção de casas diretamente sobre os sítios paleontológicos, como pela modificação das antigas estradas de terra, cujas margens e leito também eram fossilíferos. A apropriação indevida de terras públicas ao longo da margem das estradas também constitui ameaça em potencial aos afloramentos, pois os pesquisadores perdem o acesso aos sítios. Exemplo desse fato encontramos em Goiás, no município de Iporá, onde sítios paleontológicos conhecidos da década de 1980 não podem mais ser encontrados após a construção de rodovias. Além disso, devido ao seu valor de testemunho, as coleções também podem ser consideradas suportes de memória. Elas remetem a práticas, metodologias e conceitos científicos de nosso passado, seja este remoto ou recente. No Brasil, uma nova tendência vem se afirmando no meio acadêmico, no que se refere às pesquisas relacionadas à História da Paleontologia. Essas são realizadas a partir das coleções científicas (FERNANDES et al., 2013, 2014; FREITAS, 2001, 2002; KUNZLER et al., 2011; PEYERL et al., 2010) que,

acompanhadas de documentação diversa, como

cadernetas de campo, mapas, cartas, fotografias, fichas de identificação, publicações científicas

e

documentos

institucionais

(ofícios,

contratos

e correspondências),

desempenham papel fundamental para o entendimento de questões históricas, sociais e científicas relacionadas às coleções e, consequentemente, à Paleontologia como ciência.

A Paleontologia no Brasil A Paleontologia é uma ciência interdisciplinar que se consolidou no início do século XIX. Segundo Cassab (2004) foi nessa época que as primeiras sociedades científicas paleontológicas surgiram, como a Palaeontolographical Society of London (Londres, Inglaterra). Essa é a mais antiga sociedade dedicada especialmente ao desenvolvimento da Paleontologia. Instituída em 1847, esta sociedade publicou sua primeira monografia em 1848. Além das publicações, também colaborou para o avanço dessa ciência por meio de suporte financeiro para a realização de pesquisas paleontológicas no território britânico. No Brasil, as primeiras pesquisas paleontológicas foram patrocinadas não por sociedades

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deste tipo, mas pelo primeiro museu do País, o Museu Real, hoje Museu Nacional do Rio de Janeiro. Segundo Lopes (1988, p. 21), o Museu Nacional e outros museus criados também no século XIX no território latino-americano, foram concebidos como “instituições de pesquisa e recintos abertos à população culta da época”. Instituído em 1818, o Museu Nacional foi a primeira instituição oficial com caráter científico no Brasil, sendo a via dos financiamentos e apoio às pesquisas daquela época. Por seu intermédio, importantes expedições e comissões geológicas foram instituídas com o objetivo de explorar e realizar estudos acerca da composição do patrimônio natural brasileiro. Entre elas podemos citar as expedições Thayer (1865-1866) e Morgan (1870-1871) e as comissões Geológica do Império (1875-1878) e de Estudos de Minas e Carvão (1904-1906). Diante da necessidade de aquisição e formação das primeiras coleções científicas do Museu Nacional, era prática comum dos seus dirigentes a contratação de naturalistas estrangeiros para a realização das expedições citadas acima. O trabalho destes naturalistas resultou na constituição de boa parte das coleções do Museu Nacional, destacando-se a coleção de Paleontologia, hoje considerada a de maior importância histórica do País, ao lado da coleção do Museu de Ciências da Terra/CPRM (CASSAB, 2004; LOPES, 1988). Além de constituírem parte da coleção do Museu Nacional do Rio de Janeiro, os milhares de exemplares da fauna, flora, rochas, minerais e fósseis brasileiros coletados pelos naturalistas estrangeiros também fazem parte da coleção paleontológica de diversos museus da Europa e dos Estados Unidos da América, usualmente nas instituições onde trabalhavam os pesquisadores estrangeiros que participaram destas expedições no Brasil. Estes fósseis deveriam ter sido devolvidos ao Brasil após a realização dos estudos no exterior, mas infelizmente grande parte deste material está sem uso, pois os pesquisadores estrangeiros que coletaram o material não publicaram os seus estudos, e a repatriação destes fósseis para o Brasil é um processo muito burocrático e difícil de ser efetuado. Deste modo, além de desempenhar o papel de guardião dos fósseis que permaneceram em nosso território, o Museu Nacional também passou a concentrar os estudos deste material, que foi utilizado recentemente em pesquisas sobre revisão taxonômica em dissertações de mestrado e teses de doutorado, publicadas por Fonseca (2004), Fonseca e Ponciano (2011) e Kunzler et al. (2011), por exemplo. A evolução tecnológica e o significativo aumento da bibliografia, além das muitas mudanças sistemáticas e taxonômicas que vêm sendo realizadas desde os trabalhos pioneiros dos naturalistas dos

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séculos XIX e XX, apontam para a necessidade de constantes revisões do material e da produção científica oriunda dele, a fim de evitar a obsolescência de uma Ciência. Além do Museu Nacional, ainda no século XIX outros museus brasileiros fomentaram e abrigaram coleções de Paleontologia, como o Museu Paraense Emílio Goeldi (Belém, Pará) e o Museu Paranaense (Curitiba, Paraná). Outra instituição que teve importância na história da ciência paleontológica no Brasil foi o Serviço Geológico que, apesar de ter papel fundamental no desenvolvimento das Geociências como um todo, foi a fonte do primeiro núcleo de paleontólogos brasileiros que, com sua atuação, superou a necessidade de enviar os fósseis para estudos no exterior e os manteve sob o poder de posse material e intelectual do país. A partir de uma reorganização administrativa o Serviço Geológico foi transformado em Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), em 1934, resultado da relevante atuação apresentada e do progresso dessa ciência (CASSAB, 2004). Atualmente, suas coleções paleontológicas, cuja importância já foi ressaltada, estão abrigadas no Museu de Ciências da Terra (MCTer, atualmente sob a guarda da CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais), no Rio de Janeiro. Este breve histórico da consolidação da Paleontologia como Ciência no Brasil está registrado através de documentos primários que são salvaguardados em Arquivos, tal como o SEMEAR (Setor de Memória e Arquivo do Museu Nacional). A partir deles é possível perceber que a Paleontologia no Brasil acompanha o desenvolvimento científico do país, uma vez que está presente nas primeiras atividades científicas que se tem registro e vem recentemente recebendo foco com editais específicos, como o Edital MCT/CNPq nº 032/2010. No entanto, o desenvolvimento da Paleontologia no Brasil não ocorreu somente devido ao apoio financeiro ou à divulgação que instituições como o Museu Nacional e o DNPM vêm propiciando. A formação de coleções é um dos fatores essenciais para esse progresso. Novas técnicas e modelos científicos puderam ser desenvolvidos a partir dos fósseis, minerais, rochas e outros elementos do patrimônio natural, preservados principalmente em museus de história natural. Por isso, nas próximas seções apresentaremos alguns aspectos das coleções paleontológicas que contribuíram e contribuem para o desenvolvimento da Paleontologia e que justificam sua preservação.

O Patrimônio Científico da Paleontologia e seus Desdobramentos A Paleontologia é uma ciência que se relaciona principalmente com a Geologia e a

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Biologia, dando subsídios às pesquisas de ambas as áreas e emprestando delas e de outras ciências, como a Química e a Física, conhecimentos e técnicas que possam ajudá-la a estabelecer seus próprios paradigmas. Apesar disso, na maioria das vezes – e inclusive pelos próprios biólogos – é relacionada unicamente às Geociências devido à constituição mineralógica dos fósseis. Isso requer, portanto, que os pesquisadores tenham uma bagagem teórica geológica para compreensão do contexto em que o fóssil se insere. No entanto, é importante ressaltar que os fósseis são os principais portadores de informações biológicas do passado, aplicadas a estudos cujos resultados geram benefícios à sociedade atual. Entre eles podemos citar os estudos sobre mudanças climáticas, grandes extinções, evolução biológica, preservação da biodiversidade e influência da geodiversidade na composição da biodiversidade (CACHÃO e SILVA, 2004; HENRIQUES, 2010; SUAREZ e TSUTSUI, 2004). Devido a esta variedade de possibilidades de interpretações e de valorações, que ocorrem de acordo com o campo científico aplicado, a Paleontologia é detentora de um patrimônio com múltiplas vertentes, como destacam Cachão e Silva (2004, p.14-15): não obstante apresentar uma ligação imediata, genética, ao registro geológico, ultrapassa, na sua delimitação conceptual e nas suas implicações científicas, educacionais e culturais, os limites do patrimônio geológico. Ao integrar entidades geológicas com uma origem biológica remota, i.e. com uma história bio/geológica independente (os fósseis), o patrimônio paleontológico torna-se, também, patrimônio (paleo)biológico, representando a memória biológica do Planeta que pretendemos preservar.

É consenso entre os pesquisadores, no entanto, que o patrimônio paleontológico seja considerado como uma parte do patrimônio geológico. Este, por sua vez, é definido por Ponciano et al. (2011) como: conjunto de diversos elementos da geodiversidade (in situ e ex situ) e os registros associados que apresentem valor excepcional, selecionados com base em critérios objetivos (raridade, fragilidade, potencial científico/didático/turístico, entre outros) que devem respeitar as particularidades locais durante o processo de valoração (Ponciano et al., 2011, p. 854, grifo nosso).

É importante destacar que a definição acima contempla o que aqui consideramos como patrimônio cultural da ciência e tecnologia, ou seja, os elementos da geodiversidade ex situ (os fósseis retirados de seu sítio de origem para constituírem coleções paleontológicas de instituições científicas) e seus registros associados, sobre os quais trataremos mais a frente.

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Ainda nessa definição, podemos observar que para integrar esse conjunto patrimonial, os elementos devem apresentar valor excepcional. Excepcionalidade, no entanto, é uma atribuição de grande subjetividade e que exige a eleição de critérios para a seleção dos bens a serem preservados, nos quais se encontra o potencial científico. No caso das coleções paleontológicas, esse é, sem dúvida, o critério preponderante. Para Funari e Carvalho (2009, p.7) assim como a cultura material é produzida a partir de determinadas intencionalidades, a eleição de um patrimônio histórico-cultural ou natural é realizada a partir de escolhas políticas. Os patrimônios são importantes portadores de mensagem e, por sua própria natureza como cultura material, são usados pelos atores sociais para produzir significado (...).

Considerados como “entidades paleontológicas elementares” (CACHÃO e SILVA, 2004, p.14), os fósseis constituem a materialização mais significativa do patrimônio da Paleontologia. Além disso, todo fóssil é um registro único, pois cada elemento da biodiversidade, além de ter uma composição genética individual, também passa por diferentes tipos de processos físicos e químicos ao longo de milhares ou milhões de anos até completar a sua fossilização e ser coletado. Esta transformação de elementos da biodiversidade em fósseis é um processo muito longo e muito raro, por isso todos os fósseis são considerados Patrimônio Cultural da União (Brasil, 1942; Brasil, 1988). E, ao deixarem seu contexto de origem para integrarem a coleção de um museu ou de outra instituição de pesquisa, eles não deixam de ser representantes únicos da história da vida na Terra, mas assumem também novas significações contextuais. De acordo com Teixeira et al. (2011) eles passam a “construir no espaço musealizado, uma memória, que não foi criada pelo cientista, mas interpretada por ele, dentro de um contexto histórico-sociopolítico”. Para Funari e Carvalho (2009) a escolha de patrimônios científicos é uma situação delicada. Ela envolve três grandes dificuldades éticas que se centralizam num discurso construído pelos atores sociais responsáveis. Este pode resultar na atribuição de um peso de verdade absoluta da Ciência, ou a constatação definitiva de um conhecimento (apesar de ser fundamental à Ciência a transitoriedade), e ainda a apresentação ao público de uma Ciência que evolui em uma reta contínua, onde se segue do pior para o melhor. Musealização do fóssil Ao ser inserido no contexto de uma coleção museológica, os fósseis são submetidos ao

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processo de musealização que, segundo Cury (1999), significa a seleção e valorização de objetos sob o olhar museológico. Os próprios processos de preservação a que são submetidos revelam atribuição de valor perante os outros elementos que não foram selecionados. Segundo Ponciano et al. (2011, p. 857) Idealmente, diversos fatores como a umidade, temperatura, sujidades e acesso de pessoal teriam de ser constantemente monitorados. Este ambiente representa uma área de segurança, onde o acervo é registrado, documentado, sofre intervenções (quando necessário) e é acondicionado em mobiliário adequado.

Essa seleção, que implica valorização, ocorre desde a aquisição do objeto até sua comunicação, e por isso Cury (1999) apresenta o processo de musealização em quatro momentos: (1) seleção para integrar o acervo de um museu – em que há a preocupação com a seleção e a preservação; (2) inserção no contexto museológico – contexto que abrange a aquisição, pesquisa, conservação, documentação e comunicação do objeto; (3) seleção para integrar uma exposição – permitir que o objeto dê forma a um conceito e (4) comunicação museológica – que consiste na preocupação em intermediar objeto e sociedade, o qual se inicia com a concepção da exposição, montagem, abertura para o público e avaliação. Ao longo de todo o processo, são atribuídos ao fóssil diferentes valores, desde a seleção da área de pesquisa, do tipo de estudo a ser realizado, do tipo de fóssil a ser coletado e da coleção e contexto museológico a ser inserido. A seleção é implícita a todo o processo e dependerá da demanda científica em questão. Para que o fóssil seja coletado, uma área de interesse científico deve ter sido identificada e selecionada pelos pesquisadores. Infelizmente muitos fósseis são destruídos no Brasil durante a construção de rodovias, hidrelétricas e outras grandes obras, apesar de segundo a legislação ser obrigatório o salvamento dos fósseis durante quaisquer obras que sejam realizadas em regiões potencialmente fossilíferas. Após a coleta dos fósseis, o processo tem continuidade com a pesquisa, quando é atribuído valor a partir da comunicação acadêmica, por meio de apresentações em eventos científicos e através das publicações. Ainda nesta etapa, se o exemplar não apresentar características relevantes para o estudo, ou se estiver em precárias condições de preservação1, ele 1

Neste caso estamos nos referindo à preservação fossilífera, resultante do processo natural de formação do fóssil. Dependendo do tipo de fossilização e dos processos de erosão e outros tipos de desgastes (intemperismo), os fósseis podem apresentar falhas na preservação de algumas estruturas morfológicas que são essenciais para o seu estudo.

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pode ser citado somente para fins quantitativos, quando não é totalmente excluído da pesquisa. No entanto, o processo não finaliza com a publicação dos trabalhos acadêmicos. De acordo com Campos e Granato (2012) através da musealização devolve-se à população o resultado das pesquisas, de forma didática e compreensível, e permite-se a construção de uma identidade local e compreensão de pertencimento através do objeto musealizado. Entende-se que essa devolução é permitida principalmente através das exposições e das ações educativas, as quais, por sua vez, propiciam o contato entre a população e seu passado. Ao ser inserido no contexto de uma exposição, o fóssil passa novamente por seleções para ser observado então pelo olhar do público e a partir disso, integrar um novo universo. Segundo Teixeira et al. (2011, p.33) a partir desse processo de musealização os fósseis passam a “ter uma importância para a história da Terra, para a história da área de conhecimento e para a história da instituição”, sem perderem seus valores científicopaleontológicos. Por isso, várias informações devem ser registradas através da documentação museológica, que deve acompanhar o fóssil desde o início do processo. É a partir desta documentação que informações acerca desses objetos podem ser preservadas, dando a eles sentido de existência como objeto de museu e objeto de ciência, trabalhando para a construção de um discurso científico que contraponha as três grandes dificuldades éticas apontadas por Funari e Carvalho (2009).

Documentação museológica e o “fazer paleontológico” De acordo com Marandino (2001, p.265, grifo nosso) “objetos de museus são, por definição e obrigação, fonte de informação. Não se trata de meros objetos, mas sim de objetos extraídos de uma determinada realidade com o objetivo de documentá-la.” Dessa forma, os fósseis são fontes de informações variadas, as quais são inseridas em pelo menos três esferas de atuação, baseadas na matriz tridimensional proposta por MENSCH (1987, 1990 apud FERREZ, 1994): 1 - descritiva (p.ex.: forma, tamanho, espécie); 2 - contextual (p. ex.: localização, contexto geológico, ambiental, ecológico) 3 - histórica (p. ex.: dados sobre o coletor, data e circunstâncias da coleta). Conjuntamente, essas três dimensões equivalem ao “fazer paleontológico”. Elas representam o trabalho técnico, em busca de matéria prima para a realização do estudo,

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em seguida pela identificação e descrição dos exemplares, pela contextualização destes quanto às características geológicas e outros dados do local de onde eles foram extraídos. Permeiam todas essas etapas as condições científico-sócio-políticas de um tempo histórico, que interferiu na atuação dos pesquisadores e no desenvolvimento das pesquisas. Se pensarmos nessas esferas em relação à realidade do fóssil, elas poderão se enquadrar em duas – na realidade da qual o fóssil foi extraído: descrição e contextualização; e na realidade à qual o fóssil foi inserido: histórica. Para documentar essas realidades não é suficiente que a documentação museológica trabalhe apenas com os dados de descrição do material. Esses podem ser parcialmente recuperados a partir de uma revisão taxonômica, mesmo que seja dispendioso em termos de tempo. Mas caso não haja uma fidedignidade entre o documento e a realidade da qual o fóssil foi extraído, ou seja, realidade que é representada pela localidade de coleta e as informações que a partir disso podem ser inseridas, o fóssil perde seu valor intrínseco de testemunho da história da Terra. Sozinho, sem estar contextualizado adequadamente, ele perde seu valor científico quando preservado ex situ. E como objeto de museu, e não mais unicamente como testemunho bio/geológico, o contexto histórico faz parte agora da realidade do fóssil a ser documentada, dando-lhe significado e revelando seu valor extrínseco perante a Paleontologia e a instituição à qual ele foi inserido em coleção. Estas informações devem ser entendidas/trabalhadas no contexto das coleções e sua preservação, utilizando como base para esta análise a compreensão de documentação da Museologia, sendo uma importante contribuição desta área para a preservação não só das coleções, mas também do patrimônio paleontológico de um modo mais amplo. A documentação museológica, segundo Ferrez (1994), é o conjunto de informações sobre cada item de um acervo e como estes são representados através de palavras e fotografias. Consiste em um sistema de recuperação de informações que possibilita que as coleções museológicas sejam fontes de pesquisa científica e instrumentos de transmissão de conhecimentos. Tal sistema tem como principal função estabelecer um contato entre as fontes de informações (os objetos; no caso, os fósseis) e os usuários (pesquisadores), através de informações relevantes e precisas (FERREZ, 1994). Este sistema de recuperação de informações possui diversas etapas, divididas em três estágios: entrada (aquisição, seleção); organização e controle (registro, número de identificação / marcação, armazenagem / localização, classificação / catalogação,

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indexação); e saídas (recuperação e disseminação). Para se obter um sistema de documentação eficiente, é importante que se tenha uma equipe conhecedora dos problemas da informação, principalmente no que diz respeito a forma como elas são armazenadas e recuperadas em cada área (coleções paleontológicas, por exemplo, apresentam diversas peculiaridades). Além disso, é necessário que se tenha um sistema transparente, preciso e padronizado, para que qualquer usuário possa acessar as informações facilmente, pois a documentação é um instrumento essencial para qualquer coleção, seja em coleções pertencentes a museus e/ou coleções científicas de universidades e outras instituições de pesquisa (FERREZ, 1994). Tratando especificamente do trabalho de documentação de uma coleção de fósseis, o processo se inicia durante o trabalho de campo do paleontólogo. Durante o trabalho de campo, procura-se extrair o máximo de informações de cada afloramento visitado antes e durante a coleta do material. São efetuadas anotações na caderneta de campo, onde os afloramentos são descritos, em conjunto com informações tais como o nível estratigráfico; a litologia do local de ocorrência (descrição das rochas); a orientação/posicionamento do fóssil na rocha e outros elementos que possam estar associados a ele; o nome dos municípios, morros, fazendas, estradas, quilometragens, pontos de referência e coordenadas geográficas (GPS) a fim de se identificar o mais precisamente possível o local de onde o material fóssil foi extraído (PONCIANO et al., 2011; MANSUR et al., 2013). São realizados também registros fotográficos das localidades fossilíferas, filmes e entrevistas com pessoas locais. Tais informações se fazem essenciais para a compreensão da evolução geológica do local de estudo e para o entendimento da relação da sociedade que vive no entorno dos afloramentos, uma vez que o local de origem é também fonte de informação para compreendermos a realidade da qual o foi retirado. Após todo esse trabalho efetuado durante as atividades de campo, o material é coletado, identificado através de códigos para cada afloramento, empacotado e encaminhado à instituição responsável pela atividade de pesquisa, e posteriormente inicia-se o processo documentação. O que será apresentado a seguir é geralmente utilizado pelas instituições de pesquisa e se assemelha ao conjunto de recomendações do CIDOC (Comitê Internacional de Documentação do ICOM) para entrada de acervos em museus. O processo descrito foi formulado a partir da metodologia adotada pelo Museu de Ciências da Terra, sendo utilizado na coleção FÓSSEIS PALEOZOICOS DA UNIRIO, que está

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localizada no Instituto de Biociências da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO, sendo coordenada pelas professoras Deusana Machado e Luiza Ponciano (Laboratório de Estudos de Comunidades Paleozoicas – LECP e Laboratório de Tafonomia e Paleoecologia Aplicadas – LABTAPHO, respectivamente). Quando o material coletado no campo chega à instituição responsável, os fósseis recebem um registro preliminar a fim de realizar uma documentação prévia do material, para evitar possíveis perdas informacionais. Além da guarda das cadernetas de campo, as informações mais relevantes sobre a coleta do material devem ser registradas em fichas catalográficas, no período mais breve possível após o recebimento das amostras e de preferência com a participação dos próprios coletores. São registrados dados como: número de registro provisório; armário/prateleira onde o material está acondicionado; nome; procedência de coleta; litoestratigrafia; cronoestratigrafia; bacia sedimentar; coletor; data de coleta; data de entrada no Livro de Entrada; material; ambiente e observações. Grande parte destas informações pode ser obtida através da consulta dos dados anotados nas cadernetas de campo dos pesquisadores. Após esta etapa é iniciado o trabalho de preparação do material. Durante o processo de preparação é feita uma triagem dos fósseis, separando o que será descartado do que será definitivamente incluído na coleção da instituição de pesquisa. Os espécimes mais bem preservados e adequados aos interesses dos estudos dos pesquisadores são selecionados e recebem um número de registro definitivo e uma nova ficha catalográfica (Figura 1) onde são transcritas as informações documentadas anteriormente na sua ficha de entrada na instituição. Outras informações devem integrar a ficha catalográfica definitiva, além das classificações taxonômicas e litoestratigráficas usuais em acervos geopaleontológicos. Esses campos devem remeter (1) à forma de aquisição do acervo e nomes dos coletores; (2) à integridade do objeto (conservação), (3) ao número e se possível identificação dos espécimes da amostra; (4) às suas medidas e outras características, com descrição por escrito; (5) à instituição de guarda e informações dos curadores, entre muitos outros. Informações que registram a memória do acervo (como fotografias do objeto e do local de proveniência, mapas de localização e as cadernetas com as informações dos trabalhos de campo) também são muito importantes, sendo raras as instituições que efetuam tal registro. Também integram a memória do objeto os dados de empréstimo, participações em exposições, figuração em artigos, os números de tombo recebidos anteriormente

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(como os do livro de entrada ou de outras coleções), entre outras possibilidades (MANSUR et al., 2013).

Figura 1 - Modelo de ficha catalográfica utilizada na coleção Fósseis Paleozóicos da UNIRIO.

2

A atualização destas fichas é um item de extrema importância para a preservação do contexto

histórico

do

objeto,

e

consequentemente

para

a

compreensão

do

desenvolvimento da Paleontologia. Revisões taxonômicas são frequentes e muitas vezes findam por sugerir mudanças na identificação dos exemplares. Além da taxonomia, também é frequente a atualização de idades (cronoestratigrafia) à medida que novos dados são conhecidos, ocasionando modificações nas informações associadas ao fóssil. Nesses casos, ao invés de promover a troca das fichas sempre que houver alguma modificação, fazem-se manualmente as atualizações, indicando autoria e data. Assim, é possível acessar diretamente nas fichas das coleções informações referentes ao desenvolvimento do fazer paleontológico. 2

Observar a dimensão descritiva entre os itens: nome, material, fossilização, sistemática e caracteres preservados; a dimensão contextual: ambiente; procedência, lito e cronoestratigrafia; e a dimensão histórica: coletor, data de coleta, data de entrada, dados de publicações, observações.

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Essa preocupação com a documentação mais detalhada é relativamente recente. Podemos observar em documentos do século XIX da coleção de paleoinvertebrados do Museu Nacional (Figura 2), como eram simplificadas as informações que acompanhavam os exemplares (normalmente apenas o nome do fóssil, local de coleta, data e nome do coletor).

Figura 2 – Etiqueta de identificação de exemplar coletado pelo naturalista norte-americano Herbert Huntington Smith, em 1884. Os dados acerca destes fósseis foram revelados a partir de uma pesquisa de mestrado (KUNZLER et al., 2011).

Considerações sobre a documentação e outros elementos associados aos fósseis O processo de musealização citado acima, adotado para os fósseis, rochas e minerais também pode ser utilizado, com algumas adaptações, para a guarda de suas reproduções e informações relacionadas. Aconselha-se inclusive a inserção de réplicas, esculturas, desenhos, pinturas e instrumentos antigos nas coleções dos museus, universidades e outros institutos de pesquisa brasileiros, desde que (re)significados como patrimônio. A conservação das publicações científicas raras e /ou históricas e dos dados científicos não publicados possibilita a recuperação de valiosas informações sobre sítios que já foram destruídos pelo crescimento das cidades ou exploração comercial. A digitalização dos acervos pelas bibliotecas tem sido importante aliado nesta tarefa. Numa outra vertente, a conservação das cadernetas de campo, além do valor histórico, também auxilia na reconstituição do contexto geológico de amostras depositadas em museus e universidades, que, posteriormente, podem vir a ser estudadas por pesquisadores que não acompanharam o processo original de coleta e mapeamento. Um bom exemplo de patrimônio geológico ex situ são as cartas, mapas, cadernetas de

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campo e Fotografias do paleontólogo Kenneth Edward Caster, da Universidade de Cincinnati (Ohio, EUA), que realizou diversos trabalhos de campo no Brasil na década de 1940 (PONCIANO, 2013). Estes documentos representam um importante registro dos primórdios da paleontologia e geologia no Brasil. As cadernetas de campo de K.E. Caster já possibilitaram a descoberta de horizontes com concreções ferruginosas in situ da Formação Pimenteira na cidade de Picos. Infelizmente o principal ponto de coleta de concreções fossilíferas de K.E. Caster é um morro localizado no centro de Picos, hoje em dia completamente ocupado por construções. Como este afloramento não é mais acessível para coleta de material e novas pesquisas (Figura 03), as informações sobre esta localidade só podem ser recuperadas a partir destas antigas cadernetas de campo, o que destaca a importância da conservação dos elementos ex situ do patrimônio geológico associados às coleções de fósseis (PONCIANO, 2013).

Figura 03 - Afloramento fossilífero da Formação Pimenteira estudado em 1947 por K.E. Caster, em Picos (PI), atualmente inacessível para novas pesquisas in situ.

Considerações desfavoráveis à preservação dos fósseis em coleções Em contraposição ao que vem sendo aqui discutido, existem também pontos negativos na formação de coleções científicas que devem ser ressaltados; alguns deles têm relação direta com o desenvolvimento científico e com o processo político de seleção de um patrimônio. Apesar dos fósseis serem inseridos em ambientes controlados ao integrarem as reservas da instituição responsável, a principal desvantagem das coletas, apontada por Ponciano et al. (2011), se refere à perda de material durante o processo de coleta e transporte.

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Dependendo da quantidade de um determinado tipo de fóssil já inserido na coleção, alguns exemplares podem ser privilegiados em relação a outros que, naquele momento, são considerados menos relevantes por serem abundantes na coleção da instituição que está realizando a coleta. Quando o estudo é focado em somente alguns grupos, o descarte selecionado de fósseis que não sejam de imediato interesse da equipe de coleta também pode ocorrer. (...) A ausência de uma padronização mínima sobre a metodologia de coleta de fósseis no Brasil e de uma diretriz nacional sobre doações e descarte de material paleontológico torna-se evidente nos diferentes comportamentos dos grupos de geocientistas em trabalhos de campo. Muitos horizontes fossilíferos podem até chegar a desaparecer, devido a coletas exageradas ou displicentes. (PONCIANO et al., 2011, p.860, grifo nosso)

O trecho destacado traz a tona que, apesar de estar caminhando juntamente a outras ciências desde o século XIX no Brasil, a Paleontologia ainda falha quanto a uma política de trabalho de campo. Ainda que alguns procedimentos conscientes sejam tomados por determinados pesquisadores, não há uma padronização formal sobre a metodologia de coleta dos fósseis, que está sendo atualmente proposta por Ponciano et al (in press) através do “Código de conduta para trabalhos de campo de geologia e paleontologia no Brasil”. O mesmo pode ser dito para a documentação museológica, que é feita de acordo com a compreensão e tradição dos pesquisadores, sem que haja uma política geral no campo da Geologia e Paleontologia. No entanto, como visto no tópico anterior, o próprio fazer paleontológico vem exigindo novas atitudes dos pesquisadores em relação a uma documentação mais consistente, que permita a continuidade dos estudos ao longo do tempo. Do outro lado da moeda está a preservação in situ dos fósseis. Uma de suas principais vantagens, do ponto de vista científico, é a manutenção da integridade dos exemplares, uma vez que eles não são submetidos ao processo de coleta e transporte. Além disso, preservá-los no local de origem também permite a manutenção do seu contexto original (PONCIANO et al., 2011, p.856).

Estas considerações não resultam na invalidação da preservação dos fósseis em coleções, mas ressaltam a importância da preservação informacional intrínseca e extrínseca do fóssil, uma vez que se opte por retirar os fósseis de seu local de origem a fim de facilitar o processo científico.

Considerações Finais Em nosso país, a tendência geral desde o início das pesquisas paleontológicas, foi tentar

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retirar a maior quantidade possível de fósseis de seu lugar de origem, com o objetivo de salvá-los da destruição em lugares ermos e com uma população que desconhece a sua importância científica e patrimonial, especialmente no Norte e Nordeste do Brasil. Deste modo, a conservação do patrimônio paleontológico na forma de coleções científicas era encarada como o único modo viável de proteger os fósseis, depositando-os nas coleções dos museus e universidades das grandes metrópoles do Sul e Sudeste para o desenvolvimento das pesquisas. Justifica-se este costume pela imensidão de nosso território, pelas deficiências na legislação e fiscalização dos sítios paleontológicos e pelos raros institutos de pesquisa no interior do país. Foi neste contexto que as coleções paleontológicas brasileiras foram construídas. Os fósseis são um recurso natural, não renovável e de ocorrência restrita a localidades cujo acesso só se torna viável quando voltam a aflorar na superfície dos atuais continentes após permanecerem soterrados por milhares/milhões/bilhões de anos. Porém, apesar de constituírem Patrimônio Cultural da União (BRASIL, 1942; BRASIL, 1988) e serem tão raros, os depósitos fossilíferos, os sítios paleontológicos e os exemplares fósseis isolados depositados nas coleções paleontológicas estão sujeitos a diversos tipos de ameaças. As coletas ilegais para fins não científicos, como o comércio de fósseis e a constituição de coleções particulares, ocasionam a perda de várias espécies ainda desconhecidas. Neste contexto, é necessário o desenvolvimento de estudos mais detalhados sobre a formação das coleções paleontológicas e as técnicas de conservação específicas para os fósseis, a fim de preservar o patrimônio mais inerente ao ser humano – sua produção intelectual. O “fazer paleontológico” é uma construção humana intangível, cujo desenvolvimento intelectual se dá sobre o fóssil, suporte material primeiro. Ser fonte de informação é uma característica inerente aos fósseis. Mas ao fazerem parte de coleções científicas os fósseis passam a ser testemunhos de quatro histórias que se combinam. Além da história da vida da Terra, passam a testemunhar também a história da Paleontologia (ciência que dá sentido básico à sua existência), a história da instituição que os abrigam, a história dos responsáveis por sua coleta, guarda, documentação, pesquisa e divulgação. A partir do molde dessas narrativas, revela-se também uma história própria dos fósseis como objetos de coleção, os quais se destacam como bens em contextos singulares, distintos daqueles que os originaram, descobertos e compreendidos por um ser humano, transformados sob a significação de uma produção intelectual, devido a determinadas

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circunstâncias histórico-sociais-políticas. O valor científico é preponderante na seleção dos bens que deverão constituir o patrimônio paleontológico. E ainda que ele varie, de acordo com os interesses de uma pesquisa ou até de um período do desenvolvimento da Paleontologia, considerar as demais histórias que podem ser criadas a partir da inserção dos fósseis em coleções científicas paleontológicas é permitir que eles sejam reconhecidos como patrimônio pela Ciência brasileira. Portanto, conclui-se que mesmo levando em consideração os riscos que os procedimentos de coleta podem representar à integridade dos fósseis, a manutenção do contexto original dos fósseis é possível a partir do uso de fotografias, mapas e outros registros

como

a

caderneta

de

campo,

desde

que

estes

sejam

realizados

adequadamente. Entende-se assim que, ao preservar as coleções paleontológicas devidamente documentadas, os testemunhos de uma história científica brasileira também são preservados, resultando no destaque do valor histórico dos fósseis, associado ao seu valor científico e didático.

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