See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/312500686
Colhendo ervas: Asa-branca (Patagioenas picazuro) consome tapete-verde (Callitriche deflexa) em áreas alagáveis Article · January 2017 CITATIONS
READS
0
53
2 authors: Juliana Vaz Hipolito
Ivan Sazima
University of Campinas
University of Campinas
2 PUBLICATIONS 0 CITATIONS
335 PUBLICATIONS 5,308 CITATIONS
SEE PROFILE
SEE PROFILE
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
Vitória-Trindade Chain View project
Natural History of Fish of the Bonito and Pantanal – Brazil View project
All content following this page was uploaded by Ivan Sazima on 18 January 2017.
The user has requested enhancement of the downloaded file.
NOTAS CURTAS Colhendo ervas: asa-branca (Patagioenas picazuro) consome tapete-verde (Callitriche deflexa) em áreas alagáveis Juliana Vaz Hipolito1 & Ivan Sazima2 Entre os columbídeos que ocorrem no Brasil, a asa-branca, Patagioenas picazuro (Temminck, 1813) (Columbiformes: Columbidae), apresenta ampla distribuição em áreas abertas, sendo beneficiada pelo desmatamento e expansão das culturas agrícolas1,2. Coloniza ambientes urbanizados, assim ampliando sua distribuição1,2. A dieta desta Columbidae é constituída por grãos e frutos, ocasionalmente complementada com brotos e folhas1,2,3. Não encontramos referências sobre consumo de ervas (planta inteira ou porções) por esta espécie de pomba. Observamos o consumo da erva tapete-verde, Callitriche deflexa (Plantaginaceae), por asa-branca no Parque Ecológico Professor Hermógenes de Freitas Leitão Filho (22º48’42”S, 47º04’21”W; 587 m a.n.m), município de Campinas, estado de São Paulo. Este parque recreacional tem uma área total de 13 ha, dos quais 75% são ocupados por uma lagoa. As observações foram feitas entre 3 de setembro de 2015 e 16 de outubro de 2016, nos meses de setembro e outubro, época em que a erva tapete-verde está disponível em alguns locais à margem da lagoa (antes ou depois deste período, os locais onde a erva cresce geralmente estão secos ou ficam submersos). Trata-se de erva prostrada, minúscula - cerca de 10 mm de altura, que ocorre em locais úmidos e sombreados4. Observamos as aves nos períodos da manhã e da tarde, em distâncias de 5 a 30 m, a olho desarmado e através de lente 70-300 mm em
máquina fotográfica digital. Ao longo das sessões de observações, usamos as amostragens “ad libitum” e “sequências”5. Ao se alimentar de Callitriche deflexa, a asa-branca percorre devagar o “tapete” de ervas (daí o nome tapete-verde) e periodicamente abaixa a cabeça (Figura 1), arrancando porções da planta que são ingeridas em seguida. Observamos que a ave pode se alimentar sobre o tapete de ervas por períodos que variam, aproximadamente, de 5 a 20 min. Forrageia solitária ou aos pares e, por vezes, forma grupos com cerca de 10 a 15 indivíduos, principalmente no período da tarde, quando também bebe água nas margens úmidas onde o tapete-verde ocorre. Considerando o tamanho minúsculo do fruto e da semente do tapete-verde (0,5-0,8 mm)4, é possível que a asa-branca seja um dispersor desta planta, o que também pode ocorrer por ocasião de ingestão de outros tipos de frutos2. Por exemplo, ao ingerir os frutos da canela-de-velho Miconia albicans (Melastomataceae)6, esta pomba possivelmente dispersa as minúsculas sementes que são próprias de diversas espécies desta família de plantas. Entretanto, ao ingerir sementes como as de sorgo, milho e soja, a asa-branca e outras pombas como a avoante (Zenaida auriculata) destroem o embrião e agem como pragas3,7. Acreditamos que a noção de que “...os columbídeos tornam-se importantes dispersores de plantas uma vez que não trituram as sementes no seu estômago muito pequeno”2 seja equivocada e que a dispersão de plantas por pombas somente seja aplicá-
vel às que possuem sementes minúsculas como as do tapete-verde ou da canela-de-velho, desde que não sejam trituradas na moela característica deste grupo de aves1. Agradecimentos Somos gratos aos funcionários do parque por facilitarem os nossos estudos de campo; a Bruno Fernandes e Brisa Marciniak de Souza pela leitura crítica do manuscrito; à Comissão Editorial de AO e aos revisores anônimos pelas correções e sugestões. JVH agradece a Bruno Fernandes pelo carinho e apoio constantes; IS é grato a Marlies Sazima pelo carinho e apoio ao longo dos anos. Referências bibliográficas (1) Baptista, L.F. et al. (1997) p. 60-243. In: Del-Hoyo, J. et al. (eds.). Handbook of the birds of the world: Sandgrouse to cuckoos; (2) Sick, H. (1997) Ornitologia Brasileira; (3) Dardanelli, S. et al. (2011) INTA EEA Paraná. Serie Extensión; (4) Bittrich, V. (2002) p. 65-66. In: Wanderley, M.G.L. et al. (eds.). Flora Fanerogâmica do Estado de São Paulo; (5) Altmann, J. (1974) Behaviour 49: 227-267; (6) Souza, N.A. (2009) Frugivoria por aves e fenologia [...]. Mestrado: UFSCar; (7) Codesido, M. et al. (2015) Emu 115: 80-84.
Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal, Universidade Estadual de Campinas, CEP 13083-970 Campinas, São Paulo, Brasil. 2 Museu de Zoologia, Caixa Postal 6109, Universidade Estadual de Campinas, CEP 13083-970 Campinas, São Paulo, Brasil. E-mail:
[email protected] 1
Figura 1. Asa-branca consome a erva tapete-verde em local alagável. A ave apanha porções da planta (a), vista em detalhe (b). Fotos: I. Sazima Atualidades Ornitológicas, 194, novembro e dezembro de 2016 View publication stats
25
