Colônias de vespas sociais no campus da UFJF: diversidade, hábitos de nidificação e variação sazonal

June 14, 2017 | Autor: B. Corrêa Barbosa | Categoria: Ecology, Wasps, Vespidae, Social Wasps
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COLÔNIAS DE VESPAS SOCIAIS NO CAMPUS DA UFJF: DIVERSIDADE, HÁBITOS DE NIDIFICAÇÃO E VARIAÇÃO SAZONAL SAMUEL LIMA¹, MATEUS DETONI¹, BRUNO CORRÊA BARBOSA¹, TATIANE TAGLIATTI MACIEL¹, FÁBIO PREZOTO¹ (1) Laboratório de Ecologia Comportamental e Bioacústica (LABEC), Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil Palavras-chave: Comportamento, Diversidade, Sinantropismo, Vespidae. Introdução As vespas sociais apresentam ampla diversidade no território brasileiro (CARPENTER & MARQUES, 2001), possuindo alto grau de associação com a sociedade e as construções humanas (TORRES et al., 2014). Esses organismos possuem importância no ambiente como predadores, coletores de recursos, polinizadores e bioindicadores, o que justifica seu estudo (ELISEI et al., 2010; SOUZA et al., 2010; CLEMENTE et al., 2012; BARBOSA et al., 2014). Construções humanas oferecem proteção para as vespas sociais contra as intempéries e contra seus predadores, o que explica o sinantropismo observado em várias espécies do grupo (JEANNE, 1975; BARBOSA, 2015). O hábito de nidificação das vespas sociais em construções humanas varia conforme a espécie ou de acordo com a influência antrópica no ambiente (LIMA et al., 2000; TORRES et al., 2014; MACIEL & BARBOSA, 2015). Dado o sinantropismo das vespas sociais, é importante destacar o risco de acidentes com esses insetos. Em ambientes de fluxo intenso de pessoas, como praças, parques e plantações, esses acidentes podem ser frequentes devido principalmente a falta de atenção dos transeuntes que esbarram nas colônias e provocam o ataque acidental (PREZOTO et al., 2007). O objetivo deste estudo foi avaliar a diversidade de colônias de vespas sociais no campus da Universidade Federal de Juiz de Fora em Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil, assim como avaliar sua variação entre as estações do ano e seu hábito de nidificação, de forma a melhor compreender a biologia e ecologia do grupo além de conhecer o panorama desses insetos no campus. Material e Métodos O estudo foi realizado no campus da Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil (21º46’02.72’’S-43º22’34.9’’W, 678 m asl). O clima da região é caracterizado como CWA pela classificação de Köppen-Geiger como seca e chuvosa (SÁ-JÚNIOR et al., 2012). A área é considerada um ecossistema emergente, com predominância de Pinus eliotii Engelm (Pinaceae) e baixa diversidade vegetal (CARVALHO et al., 2014). O registro das colônias foi feito entre dezembro de 2014 e fevereiro de 2015 referente ao período quente/úmido, e depois novamente entre junho e julho de 2015 amostrando período frio/seco. As colônias foram amostradas por busca ativa, através da inspeção de construções humanas, afloramentos rochosos, cavidades em troncos e o dossel de árvores. Para o grafo entre as construções humanas e as vespas sociais no campus da UFJF, foram usadas 283 colônias para construir uma matriz de adjacência por estação: "matriz quantitativa" considerando a frequência das interações de cada espécie de vespa sobre cada espécie de substrato foi utilizado o software R (freeware). Para saber se houve diferença significativa entre as estações foi utilizado o teste de Teste G no software Bioestat 5.0.

Resultado e Discussão Foi amostrado um total de 13 espécies de vespas sociais pertencentes à família Vespidae e compreendendo cinco gêneros: Mischocyttarus Saussure, 1853, Polistes Latreille, 1802, Polybia Lepeletier, 1836, Protopolybia Ducke, 1905 e Synoeca Saussure, 1852. Todas as 13 espécies foram amostradas durante o período quente/úmido, enquanto apenas oito foram encontradas na época fria/seca (Figura 1). Em relação à abundância, um total de 283 colônias foram amostradas: 197 durante a estação chuvosa e 86 na estação seca. Houve diferença significativa na abundância entre as estações (G = 44.0681; p < 0.0001), isso é explicado devido à baixa oferta de alimento no ambiente nas épocas secas do ano. Apesar do número inferior de espécies encontradas comparado a fragmentos florestais (e. g. SOUZA & PREZOTO, 2006, SOUZA et al., 2008), áreas antropizadas ou monoculturas são similares em número de espécies de vespas sociais (e. g. RIBEIRO, 2010; AUAD et al., 2010; SILVA et al., 2013), isso corrobora a ideia que ambientes mais complexos abrigam maior número de espécies (RICKLEFS, 2000). Quanto aos substratos de nidificação, o metal foi o substrato com maior registro, com 115 ninhos, representando 40% do total de colônias registradas, seguido por cimento, com 102 ninhos (36%) e os outros substratos (24%). As espécies Mischocyttarus cassununga (von Ihering, 1903) e Polistes versicolor (Olivier, 1791) foram as mais abundantes no estudo e se mostraram bastante flexíveis quanto ao tipo de substrato utilizado, pois dos oito tipos de substratos adotados para o estudo, as espécies apresentaram colônias fundadas em seis e cinco deles, respectivamente. Castro et al. (2014) também encontraram tal flexibilidade para M. cassununga. Em especial Protopolybia exigua (Saussure, 1854), Protopolybia sedula (Saussure, 1854) e Synoeca cyanea (Saussure, 1854) somente foram registradas utilizando vegetação para a nidificação (Figura 1). A proporção de colônias de espécies de fundação independente apresentou uma maior predominância de escolha por construções humanas, o que pode estar relacionado ao fato de que esses substratos fornecem melhores condições para colônia, não fornecidas pelas plantas como já relatado por Lima et al. (2000) e Alvarenga et al. (2010). Assim, as vespas tendem a construir suas colônias em edificações, onde encontram maior segurança contra intemperes, aumentado as chances de sucesso reprodutivo, uma vez que suas colônias possuem menor população e menor proteção estrutural pela ausência do envelope protetor (OLIVEIRA et al., 2010; CASTRO et al., 2014).Também deve-se considerar a área escolhida para fixação do ninho ao substrato, onde ninhos de vespas de fundação independente precisam somente de um único pedúnculo, ao contrário dos ninhos de vespas enxameantes que, devido aos seus maiores tamanhos, precisam de uma maior área de fixação no substrato, para manter o peso do ninho, área encontrada em galhos e ramos de folhas, como de palmeiras que possuem folhas sanfonadas. O espaço físico do campus se modificou apresentando aumento das edificações e diminuição das áreas de vegetação desde o primeiro estudo com vespas sociais no campus por Lima et al. (2000) que registrou ainda menor riqueza de gêneros do que o presente estudo. Essa relação, entre o aumento da riqueza e de edificações, explicita a grande plasticidade e adaptabilidade das vespas sociais frente às condições do meio em que estão inseridas, seja de mata ou urbano, ficando clara a importância ecológica que esses insetos apresentam, seja como controladores de pragas, polinizadores e bioindicadores de qualidade ambiental (PREZOTO & SOUZA, 2015).

Figura 1: Relação entre vespas e construções humanas composta por 13 espécies de vespas sociais e oito substratos estudadas no campus da Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Minas Gerais. A – Estação chuvosa (quente/úmida) e em B – Estação seca (fria/seca).

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