Color ou splendor, sem alegoria – aguarelas e desenhos de Francisco Laranjo

June 8, 2017 | Autor: M. Lambert | Categoria: Museum Studies, Artes, Historia del Arte, Pintura, Desenho
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Color ou splendor, sem alegoria – aguarelas e desenhos de Francisco Laranjo

“Le dragon qui surveillait la toison d’or ne fut pas plus inquiet que moi. Le souci m’enveloppe. »1 (Diderot, Regrets sur ma vieille robe de chambre ou Avis à ceux qui ont plus de goût que de fortune.)

2. “A demora saboreia-se em ilhas flutuantes” Biombo Namban da direita: amanhã. Sim, amanhã. Biombo Namban da esquerda: amanhã. Talvez, amanhã. Sim. Color (em latim traduzido para português): Não me interessa. Viu aquela pétala de camélia na sala das naturezas-mortas? Biombo Namban da direita: nostalgia de casa. Splendor (em francês): « Et dans l’unité d’un temps partagé… » escreveu Paul Éluard. Biombo Namban da direita: sabia que se expressava em latim…mas por conta de que libélula de Hokusai…a citar um poeta surrealista? Porquê? Splendor: sou versátil. Nunca visitou os seus parentes no Museu de Arte Antiga? Biombo Namban da direita: Por certo, já os visitei; estivemos contemplando o Tejo alheado, além, por detrás, das estátuas barrocas. E você, sabia que tenho primos direitos - e esquerdos no Museu de Belas Artes de Nagasaki, sabe direitinho a nossa genealogia? Splendor: …ah… você não acusou a minha insinuação surrealista…deveria saber que Jeronimus Bosch se deleitava em efabulações oníricas, híbridos seres pintados antes do Surrealismo [pausa] Biombo Namban da direita e Biombo Namban da esquerda entrecruzam olhares dubitativos. Splendor: …porque não ler o inestimável Éluard…afinal…ele deu a ver (Donner à voir)…quem queira enxergar… Biombo Namban da esquerda: quando chegareis ao cais pleno de libélulas e camélias…(sight)…quando me ensono de melancolia, arrasto-me sem cuidado da alma e espreito as japoneiras no jardim da fonte do museu. Biombo Namban da direita: …esquento-me na alma a ler uma “Tisana”. Biombo Namban da esquerda: “o poeta é um pintor do mundo invisível”, escreveu Ana Hatherly. Você aí que tem nome latino…sim, o da esquerda, descolorido que pensa ter densidade e é tão pálido (estou a falar consigo] Você nunca leu as 463 Tisanas? Color: Parece que não tomou chá. Comecei a ler, ainda elas eram somente 63 tisanas. 1

https://fr.wikisource.org/wiki/Regrets_sur_ma_vieille_robe_de_chambre

Splendor: …escurece-me a alma. Biombo Namban da esquerda: Não o entendo. Splendor: Não quero mais viajar. Cansei-me de carregar fardos de penas de grou. Prefiro olhar as gaivotas enfurecidas sem o mar, surripiando em terra alta as vísceras de algum legume – quero acreditar que são vegetarianas, não se alimentando de viande... Color: Quis-me aquietado; como se pairasse numa ilha flutuante. Pois que as ilhas não flutuam todas, daquele flutuar que desliza sobre a terra? Splendor: Ainda não achei nenhuma ilha pintada neste Museu. Biombo Namban da esquerda: E onde acha que Pousão se retirou para alimentar-se de sol? Splendor: Ah, esse. Pois, estudante laureado com Roma de destino e que se finou em Capri. É uma ilha – também em ideia – que não se vê do ar. Tem matérias de água e terra. E moçoilas de lenço à cabeça…a contemplar o belo autorretrato do pintor em olhar melancólico Biombo Namban da esquerda: Ele vive numa ala exclusiva, aqui no Museu. Já fomos visitá-lo, o Henrique, nascido em Vila Viçosa. Seguimos-lhe o rasto no escuro, ouvia-se o som da sua tosse; olhámo-lo no esplendor de suas pequenas telas protegidas da humidade. Biombo Namban da direita: Apreciei muito em especial as suas Flores [óleo sobre tela, 1877]. Vislumbrei entre elas uma camélia a desfalecer. Biombo Namban da esquerda: Muitos nos pintaram a alma de camélias, estes portugueses. Haveis visitado as Rosas do Japão aqui mesmo e neste ano de ainda? Splendor e Color [em uníssono]: Não, por então, estávamos em devir. Breve, iríamos para Nagasaki em busca de vossos ancestrais. [Pausa dramática, intensíssima mesmo] Splendor e Color [em uníssono]: Eis porquê. [ouve-se o pensamento de Splendor, Color, Biombo Namban da esquerda e Biombo Namban da direita: “A demora saboreia-se em ilhas flutuantes.”]

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