Comentário Crítico: Acordo Nuclear do Irão

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“Nuclear deal with Iran gets closer as Netanyahu comes to Washington” Carol Morello

Fonte: Allen West Republic

Fonte: International Association for Political Science Students

Sofia Dias Ramos, Nº 212430 Unidade Curricular: Seminário de Novas Ameaças Estratégicas Docente: Professora Doutora Teresa de Almeida e Silva

Lisboa 8 de Junho de 2015

No século XXI o mundo enfrenta o desafio da complexificação de uma série de ameaças estratégicas colocadas à segurança dos Estados e das suas populações, às várias ordens regionais existentes e ao conjunto da ordem internacional. Essas ameaças anteriormente já existentes surgem agora com uma nova roupagem, uma maior amplitude e abrangência dos seus potenciais impactos e objectivos reforçados e reconfigurados. Um destes fenómenos é o poder nuclear: “à medida que os armamentos nucleares alastram a mais mãos, os cálculos da dissuasão tornam-se cada vez mais efémeros e a dissuasão cada vez menos fiável” (Kissinger, 2014, p. 187). Hoje, o mundo assiste então à possibilidade de proliferação do poder e armamento nucleares. Esta era nuclear “baseia-se numa arma cuja utilização acarretaria custos desproporcionados em relação a qualquer benefício imaginável” (Kissinger, 2014, p. 381). Em 1979 ocorreu no Irão a revolução que depôs o Xá Reza Pahlavi e a Monarquia autocrática pró-Ocidente e trouxe, “em nome de um assalto contra toda a ordem regional e, aliás, contra todas as disposições institucionais de modernidade” (Kissinger, 2014, p. 179), uma República Islâmica teocrática sob o comando do Ayatollah Ruhollah Khomeini, considerado uma autoridade global e o líder supremo da revolução islâmica. Foi proclamado o combate ao sistema de Estados em vigor e aos valores internacionais instituídos pelo mesmo e “a ordem regional no Médio Oriente ficou virada do avesso” (Kissinger, 2014, p. 176). O Irão é hoje um poder regional incontestável do Médio Oriente. A deposição do Xá e a chegada dos Ayatollahs ao poder causou um deterioramento na relação do Irão com os Estados Unidos da América (EUA). Actualmente, sob um clima de tensão e mútua desconfiança, os dois países não têm relações diplomáticas formais: a Embaixada da Suiça no Irão representa os interesses norte-americanos e a Embaixada do Paquistão nos EUA representa os interesses do Irão (Bureau of Near Eastern Affairs, 2015). Marginalizado pela actual única superpotência mundial, por muitos dos seus vizinhos regionais e por outros Estados do resto do mundo, o regime pós-revolução sentiu a necessidade de obter meios de segurança e defesa adequados à natureza da sua inserção geopolítica e às circunstâncias internacionais. Um desses meios corresponde precisamente à posse de poder (energia e armamento) nuclear. Após o fim da Guerra Fria “praticamente desapareceu o risco de uma guerra nuclear entre as duas superpotências” (Kissinger, 2014, p. 386) de então. No entanto, o aprofundamento das clivagens ideológicas, os conflitos regionais persistentes, a

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multipolarização emergente e a “propagação da tecnologia – em particular da tecnologia de fabrico de energia nuclear para fins pacíficos – tornou muito mais fácil adquirir arsenais nucleares” (Kissinger, 2014, p. 386) dados os múltiplos incentivos. A proliferação nuclear “tornou-se um problema estratégico abrangente para a ordem internacional contemporânea” (Kissinger, 2014, p. 386) e a estabilidade estratégica mundial “passou a ser definida como o equilíbrio em que nenhuma das partes utilizaria as suas armas de destruição maciça porque a retaliação do adversário teria sempre capacidade de provocar um número inaceitável de baixas” (Kissinger, 2014, p. 382) – o conceito de destruição mútua garantida como, segundo Kissinger (2014), mecanismo da paz nuclear. Perante isto, os EUA, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), hoje Rússia, e o Reino Unido assinaram em 1968 um Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), aberto desde aí a subscrição, que instituiu um regime de não proliferação que pretendia ser, a prazo, global. Recentemente, a atenção da comunidade internacional está direccionada para a controversa questão da evolução do programa nuclear iraniano, no âmbito do qual o Ocidente, liderado pelos EUA, “acuse Iran of seeking to build nuclear weapons and Tehran categorically denies these accusations and asserts that the program is solely for civilian purposes” (Bahgat, 2013, p. 67). As finalidades do desenvolvimento do programa nuclear iraniano podem então ser beligerantes, para efeitos de segurança e defesa, ou pacíficas, para consumo energético nacional. Neste contexto, o objectivo é a concretização de um acordo que satisfaça ambas as partes, que atenue ou evite a intensificação da instabilidade no Médio Oriente, região cuja evolução é fundamental para os EUA e para a ordem internacional, e que acomode os desígnios estratégicos do Irão, dos EUA, de Israel e dos restantes implicados. Acordo este a ser realizado mediante uma série de dificuldades inerentes: a implicação de outros Estados regionais e extra-regionais, o processo de tomada de decisão na política iraniana e o desconhecimento das infraestruturas e do grau de desenvolvimento do programa nuclear do país. Ora, tudo isto resulta numa complexa teia negocial, a essência da dificuldade de conclusão de um acordo de resolução desta questão. Em primeiro lugar, os EUA têm que, internamente, gerir as pressões do Congresso, onde actualmente os republicanos têm maioria, e da opinião pública. Além disso, estão implicados os desígnios do Estado de Israel, um aliado tradicional dos EUA, hostilizado pelos Estados árabes do Médio Oriente e opositor à aquisição de

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poder nuclear por parte do Irão. As conversações contam ainda com os parceiros de negociação dos EUA: o Reino Unido, a França, a Alemanha, a Rússia – com estreitas relações comerciais com Israel, e a China – com uma parceria estratégica com a Rússia, formando o P5+1, um polo diplomático constituído pelos 5 membros permanentes do Conselho de Segurança (CdS) das Nações Unidas (NU) e pela Alemanha. Importa referir ainda o papel da União Europeia (UE), o maior parceiro comercial do Irão, com uma abordagem menos confrontacional que a dos EUA, a fim de “influence Iran’s domestic and foreign policy by engaging the country in commercial and diplomatic relations” (Bahgat, 2013, p. 72), mas cuja postura, desde o início do século XXI, tem vindo a convergir cada vez mais com a postura norte-americana. Em segundo lugar, o processo de tomada de decisão e de formulação de políticas no Irão é muito distinto. O actual presidente iraniano, Hassan Rohani, o parlamento nacional enquanto órgão legislativo e as instituições judiciais têm um papel activo mas é o Ayatollah Ali Khamenei quem tem a última palavra e quem toma as decisões finais. Deste modo, o processo negocial em torno da questão nuclear torna-se mais complexo, dada a necessidade de concertação e adaptação das culturas negociais das partes. Em terceiro lugar, é notório o desconhecimento relativamente ao volume e à dimensão das infraestruturas nucleares em solo iraniano bem como ao estádio de desenvolvimento em que se encontra actualmente o programa nuclear do país. Durante vários anos o Irão permitiu inspecções regulares ao seu programa nuclear por parte da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA). Depois da revolução nacional e da ruptura com os EUA e com o Ocidente isso deixou de acontecer. Em 2003 o Irão admitiu que desenvolvia secretamente um processo de enriquecimento de urânio, o processo necessário para criar poder e armamento nucleares, mas face às condenações internacionais suspendeu voluntariamente o mesmo. Entre 2005 e 2006, quando um acordo com a comunidade internacional não foi alcançado, o país recomeçou o enriquecimento de urânio. Deste cenário resulta a desconfiança em torno das actuais efectivas capacidades nucleares iranianas e em torno das finalidades para as quais o Irão tem vindo a desenvolver o seu poder nuclear. Além disso, a pressão para a conclusão de um acordo também está relacionada com os prazos estabelecidos, concretamente 24 de Março do presente ano para a conclusão de um acordo geral de enquadramento, data que foi alargada até ao fim da primeira semana do mês de Abril, e 30 de Junho para o fim das negociações sobre

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detalhes técnicos. Os prazos estão então prestes a terminar e o breakout time – o tempo considerado suficiente para a construção de armamento nuclear – é relativamente curto. No início de Abril, o P5+1 chegou então a um acordo preliminar com o Irão, que alegadamente abre caminho a um compromisso final a ser firmado definitivamente no fim de Junho, no qual “um dos pontos principais é o levantamento das sanções económicas actualmente aplicadas ao regime de Teerão e que serão gradualmente suspensas à medida que as inspecções às instalações nucleares iranianas determinarem se o acordo está a ser cumprido” (Ribeiro, 2015). Ora, esta questão nuclear encontra-se hoje num momento histórico e desafiante, assim como, por consequência, as relações EUA-Irão. A notícia do jornal Washington Post do passado dia 27 de Fevereiro, da autoria de Carol Morello, intitulada “Nuclear deal with Iran gets closer as Netanyahu comes to Washington” ilustra precisamente a emergência de um momento crítico no que diz respeito ao alcance de um acordo entre o Irão e os EUA. Porém, há factores que parecem contrariar e dificultar a concretização estável e bem-sucedida desse cenário. A notícia anunciou a ida do primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu a Washington, no dia 3 de Março, para discursar no Congresso dos EUA “to cut short what he considers a feeble and dangerous deal in the Works over Iran’s nuclear program” (Morello, 2015, para. 1). Ao mesmo tempo, John Kerry, o Secretário de Estado norte-americano, deslocou-se a Montreaux, na Suiça, “to nail down a historic accord that could give the world a year to react if Iran were to stockpile nuclear materials for a bomb” (Morello, 2015, para. 2). A tensão entre duas concorrentes visões desta questão tem-se mantido: “one judging the risks too great to take and the other finding a greater risk in walking away from a deal” (Morello, 2015, para. 3). Mas o Irão, os EUA e os seus cinco parceiros de negociação parecem estar próximos de um acordo sem precedentes em décadas de conversações, no sentido em que “the parties have given themselves until the end of March to agree on a framework” (Morello, 2015, para. 12) e até ao final de Junho do presente ano para trabalhar em detalhes técnicos. Ainda assim, Netanyahu alerta para o facto de que o Irão continua a representar um perigo para a segurança nacional, existência e sobrevivência do Estado israelita, para o Médio Oriente e para a ordem internacional no geral. No seu discurso (New York Times, 2015), afirma que o acordo prestes a ser firmado deixa o programa nuclear

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iraniano muito intacto, permite que o Irão mantenha as suas vastas infraestruturas nucleares e que continue a construção de armamento nuclear. As restrições colocadas têm a duração de 10 anos e após esse período regressará, diz, a incerteza quanto ao poder nuclear do Irão, que ficará livre de aprofundar as capacidades de aquisição desse poder e de obtenção da bomba nuclear. O primeiro-ministro israelita argumenta que não é possível confiar poder nuclear a um país que apoia o terrorismo global, que ataca Estados do Médio Oriente e Estados aliados dos EUA e que recusa colocar o seu programa nuclear na mesa das negociações. Caso isto não seja impedido Israel ver-se-á obrigado a atacar militarmente o Irão, arrastando os EUA para um conflito militar numa das regiões mais sensíveis do mundo e mais importantes para os norte-americanos. Netanyahu afirma que um Irão nuclear representaria um perigo ainda maior e defende o não levantamento das restrições enquanto o Irão continuar o comportamento agressivo, a manutenção da pressão e a insistência num acordo que deixe o Irão sem infra-estruturas e sem um breakout time tão curto. Tudo para evitar um Médio Oriente nuclear e um mundo nuclear. Ora, para além das pressões internas os EUA enfrentam também pressões israelitas para o acordo ser reformulado. Se este for efectivado, os EUA enfrentarão um clima de suspeição com Israel, cujas sugestões não consideram alternativas credíveis (Wilner & Keinon, 2015), e suscitarão a opção militar, que consideram indesejável. De facto, os EUA acusaram recentemente Israel de espionagem em torno das negociações nucleares com o Irão (Borger, 2015), acusações essas que Israel negou desde logo (BBC News, 2015), e Netanyahu referiu no Congresso a vontade e a prontidão, caso seja necessário, para avançar para um confronto militar com o Irão. Se o acordo não for efectivado, os riscos de agravamento da situação são igualmente elevados, pois o “Congress would all but certainly impose more sanctions on an Iranian economy that has already been buffeted by harsh financial measures” (Morello, 2015, para. 6) e isto poderá levar a que as outras potências não reajam ao apelo de continuar a isolar o Irão em termos económicos, “unraveling a united diplomatic front that the Obama administration has worked strenuously to maintain” (Morello, 2015, para. 6). Assim, os EUA mantêm a intenção de continuar a actual linha de negociação para a conclusão de um acordo definitivo. Desde que o Irão começou a desenvolver o seu programa nuclear têm sido tomadas várias medidas sobretudo pelos EUA: “assassination of the country’s nuclear

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scientists, cyberattacks, severe economic sanctions, and threats of militar strikes” (Bahgat, 2013, p. 67). E se por um lado o Irão está a pagar um pesado preço em termos de capital humano e de progresso económico, por outro continua a fazer progressos nucleares, ainda que lentos e com mais custos, pois que a erosão do impacto de sanções impostas acaba, ao longo do tempo, por acontecer. Assim, para além das dificuldades impostas pelos vértices americano e israelita, o triângulo estratégico inclui um Irão que aprendeu a mitigar o impacto das sanções impostas e a persistir na concretização dos seus desígnios estratégicos e que defende a legitimidade do seu programa nuclear. Segundo Bahgat (2013) o Irão acusa os Estados nucleares de não cumprirem o TNP e o Ocidente de duplicidade de padrões quando pressionam o Irão a suprimir os seus direitos nucleares e apoiam Israel, o país nuclearmente mais avançado do Médio Oriente; afirma que a produção e uso de Armas de Destruição Massiva (ADM) é incompatível com o Islão, de acordo com um alegado fatwa, um documento legal de carácter religioso considerado vinculativo pelo Irão, do Ayatollah Khamenei que “considered all weapons of mass destruction as a great and unforgivable sin and declared them forbidden” (p. 69); insiste no direito de enriquecimento de urânio, pois os avanços científicos no âmbito do programa nuclear são catalisadores do orgulho nacional e representam uma potencial alternativa à dependência externa; e encara esta disputa “as part of a broader ideological and strategic conflict with Western powers led by the United States” (p. 69), cujo grande objectivo é a mudança de regime no país. De um lado está o P5+1, com a necessidade de gestão das relações de força e de poder, da escalada de conflito e da corrida ao armamento nuclear no Médio Oriente, uma zona fundamental para a estabilidade mundial, e um conjunto de parceiros de negociação dos EUA que podem deixar de o ser. Do outro está o Irão, com um nacionalismo acirrado pelas sanções, unido pela percepção da ameaça externa vinda do Ocidente, a lutar pelo fim das sanções e determinado a manter a posse de poder nuclear, que permitiria uma eventual postura internacional mais assertiva. De um outro ainda está Israel, que defende a manutenção das sanções impostas e a monitorização do poder nuclear iraniano para limitar a acção externa do Irão na região e no resto do mundo. Outros players regionais poderão sentir necessidade de obter armas nucleares se for permitido ao Irão ter capacidades para fazer o mesmo. Individualmente, “in reaction to a final deal that allows Iran to keep much of its nuclear infrastructure in place, Saudi

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Arabia, and possibly Turkey and Egypt as well, would consider starting their own nuclear programs” (Goldberg, 2015, para. 15). Importa ainda considerar as preocupações dos aliados árabes dos EUA no Médio Oriente, na medida em que estes encaram um Irão xiita nuclear como um perigo. Apesar da aproximação dos EUA ao Irão para a negociação de um acordo final, os EUA afirmaram, no passado dia 14 de Maio, no âmbito de uma reunião do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) – que inclui a Arábia Saudita, o Barém, os Emirados Árabes Unidos, o Koweit, a Omã e o Qatar – em Camp David, Washington, um compromisso de segurança para com a região através do reforço da cooperação militar na luta contra o terrorismo, na segurança marítima, na segurança cibernética e na defesa contra mísseis balísticos (RTP, 2015). O objectivo é, face à influência crescente do Irão, impedir e enfrentar ameaças externas direccionadas aos Estados do CCG. A emergência de um mundo nuclear multipolar “colocou o dilema de como estabelecer uma relação ética ou política entre o poder destrutivo das armas modernas e os objectivos que se prosseguem” (Kissinger, 2014, pp. 381-382). Com isto, o regime de não proliferação global tem tido, desde o início, dificuldades em impor-se como uma norma jurídica internacional vinculativa e em “detectar ou impedir programas ilegítimos de armamento nuclear, pois os passos iniciais são idênticos aos do desenvolvimento da energia nuclear para fins pacíficos, que o TNP autoriza expressamente” (Kissinger, 2014, p. 387). Nomeadamente, o tratado não evitou que o Irão continuasse a desenvolver o seu programa nuclear, encarado como clandestino. O clube nuclear é extenso (Anexo Nº 1) e inclui Estados inimigos do Irão, como os EUA e Israel. Então, por que razão não pode o Irão desenvolver o seu poder nuclear, que diversificaria o sector energético nacional tanto quanto fortaleceria as capacidades iranianas de segurança e defesa na região na qual o país se insere e é hostilizado? Que alternativas existem ao status quo com um regime de não proliferação restrito e sem um mecanismo específico de sanção da sua aplicação? Devem os EUA continuar a pressionar o Irão para um acordo final ou esperar pelas circunstâncias para alcançá-lo? A melhor e talvez única forma de “evitar a emergência de um arsenal nuclear é impedir o desenvolvimento do processo de enriquecimento de urânio” (Kissinger, 2014, p. 188), pelo que a tónica das negociações tem sido maioritariamente colocada na questão das percentagens permitidas na realização do processo. Resoluções do CdS exigem a suspensão do programa iraniano (U.S. Department of The Treasury, 2015) e

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relatórios da AIEA exigem a paragem imediata do enriquecimento nuclear. O certo é que ao longo do tempo a capacidade nuclear iraniana tem progredido consideravelmente (United States Institute of Peace, 2015), enquanto a posição do Ocidente se tem tornado progressivamente mais branda, com sucessivas concessões técnicas e políticas. Segundo Kissinger (2014) o que tem acontecido é a aceitação de facto do programa iraniano. A complexidade crescente do equilíbrio nuclear mundial decorrente da proliferação de armas nucleares “tenderá a afectar drasticamente os equilíbrios regionais (e a ordem internacional) e a suscitar uma escalada de contramedidas” (Kissinger, 2014, p. 187). Para o Ocidente, há que encontrar um equilíbrio entre uma solução diplomática e o uso de meios militares. Para o Irão, há que preservar uma boa parte da infraestrutura nuclear e da liberdade de acção e margem de manobra estratégica para potenciais acções futuras. Neste âmbito, parece pouco provável, dado o grau de interdependência das relações americano-iranianas e americano-israelitas e a própria profundidade da interacção entre a estabilidade dos EUA e a estabilidade do Médio Oriente e vice-versa, que se verifique o desengagement dos EUA da região. Os EUA têm feito uma aproximação ao Irão e está eminente um acordo definitivo. O futuro da relação bilateral depende, portanto, da resolução da questão nuclear. Esta, por sua vez, tem essencialmente a ver com o futuro da ordem internacional: “com a capacidade de a comunidade internacional fazer aplicar as suas exigências ao arrepio de formas sofisticadas de rejeição, com a permeabilidade do regime global de não proliferação, e com a perspectiva de uma corrida ao armamento nuclear na região mais volátil do mundo” (Kissinger, 2014, pp. 186-187). Este é um momento crucial e politicamente sensível entre os EUA e o Irão, pois que “if political pressure in both capitals causes the interim agreement to colapse, the consequences could rapidly worsen” (Morello, 2015, para. 25) e em simultâneo há o risco de essas se estenderem a outros polos de poder directa e indirectamente interessados e implicados na questão nuclear em causa. Devem então ser encetadas confidence-building measures mais firmes e ser consideradas as preocupações técnicas, políticas e estratégicas de todas partes, em especial a preocupação iraniana com a sobrevivência e manutenção do regime. Deve haver investimento nas áreas susceptíveis de cooperação, em que as partes têm interesses comuns. E por parte dos EUA deve sobretudo ser injectado equilíbrio entre a pressão israelita para o isolamento do Irão e a legitimidade de posse de poder nuclear assumida por parte deste último.

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Referências Bibliográficas



Livros

Kissinger, Henry (2014) – A Ordem Mundial: Reflexões sobre o Carácter das Nações e o Curso da História. Alfragide: Dom Quixote.



Artigos em publicações periódicas

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Anexos



Anexo Nº 1:

Aljazeera (2015), The world's nuclear club. Data de Acesso: 3 de Abril de 2015. Retirado de http://www.aljazeera.com/indepth/interactive/2015/04/world-nuclear-clubiran-150401084241771.html

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Fonte: Aljazeera

Países possuidores de armas nucleares: Israel, Coreia do Norte, Itália, Turquia; Países possuidores de energia nuclear: Arménia, Argentina, Bulgária, Brasil, Canadá, República Checa, Finlândia, Hungria, Irão, Japão, México, Roménia, Eslováquia, Eslovénia, África do Sul, Coreia do Sul, Espanha, Suécia, Suiça, Ucrânia; Países possuidores de armas nucleares e energia nuclear: China, França, Índia, Paquistão, Rússia, Reino Unido, EUA, Bélgica, Alemanha, Holanda.

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