Comentário do Salmmo 133

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SUMÁRIO Sumário ....................................................................................................................................................... 01 Introdução .................................................................................................................................................. 02 Método de interpretação utilizado: Método Gramático-histórico ..................................................... 02 Primeira Parte – Literatura Bíblica .................................................................................. 05 I. Classificação Literária do Antigo Testamento .................................................................................. 05 II. Os Mecanismos da Construção Poética da Bíblia Hebraica ......................................................... 06 Segunda Parte – O Livro dos Salmos ............................................................................... 10 I. Introdução ao Livro dos Salmos ......................................................................................................... 10 1. Autores .......................................................................................................................................... 11 2. Composição .................................................................................................................................. 11 3. Classificação ................................................................................................................................. 12 4. Uso litúrgico ................................................................................................................................. 12 5. Títulos ........................................................................................................................................... 13 II. Introdução aos Salmos de Degraus .................................................................................................. 13 Terceira Parte – Comentário do Salmo 133 ...................................................................... 15 I. Introdução ao Salmo 133 ..................................................................................................................... 15 II. Comentário do Salmo 133 .................................................................................................................. 16 Bibliografia ....................................................................................................................... 21 1. Softwares ....................................................................................................................................... 21 2. Edições da Bíblia em Português ................................................................................................ 21 3. Edição da Bíblia Hebraica .......................................................................................................... 21 4. Edições do Antigo Testamento em Grego .............................................................................. 21 5. Edições do Novo Testamento em Grego ............................................................................... 21 6. Dicionários de Línguas Bíblicas: Hebraico e Grego .............................................................. 22 7. Manual Bíblico, Enciclopédia Bíblica e Geografia Bíblica .................................................... 22 8. Dicionários Bíblicos e Teológicos ............................................................................................ 22 9. Comentários Bíblicos .................................................................................................................. 23 10. Metodologia .................................................................................................................................. 24 11. Outros ........................................................................................................................................... 24 12. Textos online ................................................................................................................................ 24

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INTRODUÇÃO

Divinamente inspirado pelo Espírito Santo (2Pe 1.20,21), o apóstolo Paulo escreveu em 1Co 1.10: “...sejais unidos em um mesmo pensamento e em um mesmo parecer.” O relacionamento interpessoal é de fundamental importância, e as Escrituras deixam isso bem claro no texto poético do Salmo 133. Neste salmo davídico vemos a importância de um bom relacionamento dentro da comunidade, entre aqueles que professam a mesma fé em Deus. Mesmo que o texto bíblico padrão do Seminário Teológico Euloguia é o da Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, Edição Corrigida Fiel ao Texto Original (ACF), optamos por usar a edição Revista e Corrigida, 4ª edição, da Sociedade Bíblica do Brasil, SBB. Este será o texto bíblico para o comentário. O texto bíblico hebraico padrão é o da BIBLIA HEBRAICA STUTTGARTENSIA, da Deutsche Bibelgesellschaft. Esta é a edição mais respeitada no mundo acadêmico do texto bíblico hebraico. Ela reproduz na íntegra o Códice de Leningrado B19a (L) datado de 1008-1009 d.C. Esse manuscrito medieval é o mais completo que temos. O intuito deste comentário é tratar o texto completo, frase por frase. Com isto em mente, tentaremos passar tanto uma vista panorâmica quanto uma discussão detalhada deste trecho das Escrituras.

MÉTODO DE INTERPRETAÇÃO UTILIZADO: MÉTODO GRAMÁTICO-HISTÓRICO. A Bíblia é um texto e como texto está sujeita a interpretação. Todo texto, quando lido, pressupõe um processo de interpretação mesmo que de forma inconsciente. Quando se lê um determinado texto, há um processo de interpretação acontecendo ainda que o leitor não esteja consciente disso. Partindo da mesma Bíblia – a Palavra de Deus, pessoas que igualmente acreditam que ela é autoritativa, inspirada e infalível chegam a conclusões diferentes. Portanto, a questão da interpretação é fundamental para que a Igreja tenha uma teologia saudável. Para que tenhamos consciência de que nossa teologia é bíblica, nós precisamos estar certos de que estamos interpretando a Bíblia da maneira correta. O nome Gramático-Histórico é aquele que foi dado ao método de interpretação da Reforma Protestante. Para alguns ele é mais antigo do que a Reforma, pois é possível encontrá-lo na escola de interpretação de Antioquia.1 No entanto, esse sistema ganha notoriedade e se firma na Igreja a partir da Reforma Protestante. Este método recebe o nome 1

Este é também o nosso ponto de vista a respeito do método gramático-histórico.

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Gramático-Histórico cerca de duzentos anos depois da Reforma, no período chamado Escolasticismo Protestante2 ou Pós-Reforma. Esse sistema continua sendo o método por excelência do Cristianismo Histórico por estar ligado ao conceito de uma Bíblia inerrante. Nem todo método de interpretação cabe numa Bíblia inerrante. Se você parte do pressuposto que ela é a Palavra de Deus e verdadeira em tudo o que afirma, isso acabará conduzindo a um determinado método de interpretação. O método gramático-histórico (G-H) é o que identifica, mais que qualquer outro, o evangelicalismo3 bíblico ao qual todos desejamos pertencer e do qual nos declaramos herdeiros em nossas diferentes tradições. Ele aproxima os evangélicos das mais diferentes tradições. A Confissão de Fé de Westminster4 começa com um capítulo sobre as Escrituras onde delineia o método correto de interpretação – o que mais tarde se chamaria método gramáticohistórico. A característica principal desse método é que ele assume que a Bíblia é infalível. Isso irá fazer toda a diferença na metodologia. Quando você encontrar uma contradição, a única opção que você terá é a harmonização, tendo em vista que você parte do pressuposto de que a Bíblia é infalível e inerrante. Você não colocará um texto contra o outro, mas tentará harmonizar com outro texto, possibilitando que uma interpretação aceite as duas declarações como sendo verdadeiras. Como consequência, esse método valorizará a letra (gr. Gramma). Isso tem a ver com a questão da estrutura do texto. Esse método, mesmo partindo do pressuposto de que a Bíblia é infalível e inspirada por Deus, assume que Deus usou homens que viviam numa determinada cultura, que falavam um determinado idioma, que tinham temperamentos diversos e conhecimentos diferentes. A partir disso, para que você entenda o que Deus está dizendo por meio desses homens, você deve entender o estilo e o gênero literário e conhecer o texto. É por essas questões que esse método é chamado de gramático. 2

Tipo escolástico de teologia praticado pelo protestantismo e particularmente pelo luteranismo no século XVII. Preocupava- se principalmente com a definição da doutrina correta através de uma série de argumentos sutis, como fizera o escolasticismo católico num período anterior. Também é conhecido como ortodoxia protestante (Erickson, 2011, p. 68) 3 Movimento do cristianismo moderno que enfatiza o evangelho do perdão e a regeneração por meio da fé pessoal em Jesus Cristo e que declara doutrinas ortodoxas (Ibidem, 2011, p. 74). 4 Declaração de fé completada em 1646 por um grupo de clérigos reunidos no deado de Westminster. Em função do propósito de trazer a Igreja Anglicana para mais perto da Igreja da Escócia e de outros grupos reformados, assumiu a posição calvinista clássica. Embora tenha governado a Igreja da Inglaterra apenas brevemente, a confissão há muito tem sido usada como padrão de crença por vários grupos presbiterianos e reformados. O autor deste comentário é adepto desta confissão de fé (Ibidem, p. 38,39).

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Ele é chamado Histórico porque admite que Deus se nos revelou em determinados momentos da história. Há certa progressão nessa história. Por isso é importante conhecer a cultura, o ambiente vivencial, os tempos e as épocas em que esse livro foi produzido, a fim de que se tenha uma visão correta do seu ensino. Portanto, o método G-H faz uma combinação. Primeiramente, ele assume que a Bíblia é um livro divino, e que, portanto, deve ser lido como nenhum outro. O método G-H admite que a Bíblia é o único livro nesta categoria. Em seguida, esse método admite também que a Bíblia é um livro humano, porque Deus usou pessoas e nesse sentido ela deve ser lida como se lê qualquer outro livro. A Bíblia está sujeita a análise gramatical, interpretação, tradução e sintaxe. Estes são os dois grandes pressupostos do método Gramático-Histórico que deu origem à pregação reformada, à teologia reformada, às confissões de fé, ao trabalho dos puritanos e influenciou os grandes pregadores. O método gramático-histórico adota o binômio orare et labutare – orar e labutar. Este era o dístico de Calvino. O intérprete precisa orar (orare) porque a Bíblia é divina e precisa labutar (labutare) porque ela é um livro humano. Esse método ensina que a verdade divina do texto bíblico corresponde ao sentido único, que é aquele pretendido pelo autor humano. Ele rejeita o conceito de que cada texto tem múltiplos e vários sentidos. A teologia que seja realmente bíblica deve partir da própria Bíblia. A Bíblia deve ser considerada como autoridade. E como nós a interpretaremos? Em seu sentido natural e simples, e para isso devemos estudar e nos preparar e pedir para Deus nos orientar. Portanto, essa combinação de oração e labuta irá nos guiar na correta interpretação da Palavra de Deus.

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PRIMEIRA PARTE – LITERATURA BÍBLICA I. CLASSIFICAÇÃO LITERÁRIA DO ANTIGO TESTAMENTO.5 Literatura é o conjunto de obras escritas, de valor artístico, de um determinado país ou período histórico. Ela compreende toda obra escrita, bem como os livros bíblicos. Os livros bíblicos que compõe o Antigo Testamento pertencem a diversas classes literárias: poesias, histórias, textos de sabedoria etc. A classificação literária não obedece a classificação que já conhecemos: Pentateuco ou lei (Gênesis a Deuteronômio), livros históricos (Josué a Ester), livros poéticos (Jó a Cântico dos cânticos) e livros proféticos (os Profetas Maiores: Isaías a Daniel; os Profetas Menores: Oseias a Malaquias). Essa divisão é proveniente da Septuaginta, antiga tradução grega do Antigo Testamento no período chamado de Interbíblico (entre o Antigo e o Novo Testamento). O Período Interbíblico (ou Intertestamentário) é o período existente entre o livro do profeta Malaquias e o Evangelho segundo Mateus. Esse período durou nada menos que quatrocentos anos. Os fatos históricos ocorridos nesse período contribuíram de maneira assaz significativa para o advento de Cristo. A Bíblia Hebraica divide o cânon sagrado em três blocos: Lei (- Tôrāh), Profetas (M; - nebî’îm) e Escritos (M; - Ketûbîm). Sua divisão é bastante diferente daquela que nos é apresentada no cânon protestante. As Escrituras Hebraicas são chamadas comumente de Bíblia Hebraica ou Antigo Testamento. O título Antigo Testamento foi aplicado às Escrituras Hebraicas por Tertuliano e Orígenes.6 O Antigo Testamento possui seis livros de literatura poética, a saber: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos cânticos e Lamentações de Jeremias. Este último, embora esteja entre os livros proféticos, possui linguagem e forma poética. No entanto, os livros poéticos do Antigo Testamento não se limitam aos que vimos acima. Por todo o Antigo Testamento temos textos poéticos. É de fundamental importância salientar que é errado referir-se aos livros poéticos como tendo versículos. O correto é dizer versos. Verso é cada um dos pequenos parágrafos que compõe um texto poético (a classe literária a qual pertence o Livro dos Salmos). Versículo por sua vez é cada um dos trechos que compõe um texto sagrado de modo geral, sem levar em consideração o gênero literário.

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Cf. Gomes, 2012, p. 1,2. Cf. Idem, 2013, p. 02.

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II. OS MECANISMOS DA CONSTRUÇÃO POÉTICA DA BÍBLIA HEBRAICA.7 As duas características da poesia bíblica são: o ritmo do pensamento e o ritmo do som. Quanto a este último, é o que normalmente se usa na nossa língua, e que aparece quase sempre na forma regular de sílabas acentuadas ou não, numa ou várias linhas, chamados versos, as mais das vezes rimadas. Na poesia bíblica, o ritmo do som depende quase exclusivamente da sequência regular de sílabas acentuadas. No que respeita às não acentuadas, é difícil pronunciarmo-nos, pois se desconhece que papel poderiam desempenhar essas sílabas. “A questão mais difícil da métrica hebraica”, escreve o douto A. Bentzen, “é o problema do número de sílabas não acentuadas permitidas num texto”. Aquilo a que chamamos rima é largamente compensado na poesia hebraica por outra espécie de ritmo - o ritmo de pensamento ou de sentido, que é o paralelismo, já utilizado pelos poetas do Egito, da Mesopotâmia e de Canaã. São clássicas duas obras de autores ingleses que, como ninguém, aprofundaram este assunto. Trata-se de leituras acadêmicas sobre a poesia sagrada dos hebreus, obra publicada em latim em 1753 por Robert Lowth, professor de poesia em Oxford e mais tarde bispo de Londres; e Formas da poesia hebraica, devida a Jorge Buchanan Gray, professor de hebraico no Colégio Mansfield, e que apareceu em 1905. O paralelismo hebraico toma várias formas, que só exemplos práticos poderão demonstrar. Seja o primeiro caso o do paralelismo perfeito, que se dá quando uma linha ou dístico se compõe de duas partes perfeitamente correspondentes. Repare-se em “Israel não tem conhecimento, O meu povo não entende” (Is 1.3), onde Israel corresponde a meu povo e não tem conhecimento a não entende. Como as duas partes são sinônimas, tem esta forma de paralelismo o nome de paralelismo idêntico. Outro caso é o paralelismo antitético, em que uma das partes é contrária à outra. Pv 15.20 apresentanos um exemplo concreto: “O filho sábio alegrará a seu pai, Mas o homem insensato despreza a sua mãe”. Outro caso de paralelismo é o chamado “simbólico”, porque uma das partes utiliza o sentido literal e a outra o figurado. Veja-se o Sl 103.13 (com três sílabas acentuadas em cada parte): “Como um pai se compadece de seus filhos, Assim o Senhor se compadece daqueles que O temem.” 7

Extraído de Davidson (org.), 1997, p. 64-68.

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Podemos ainda considerar um outro paralelismo, mais extenso, cruzado ou quiástico, como no Sl 30.8-10: “A Ti, Senhor clamei, e ao Senhor supliquei. Que proveito há no meu sangue quando desço à cova? Porventura Te louvará o pó? Anunciará ele a tua verdade? Ouve, Senhor, e tem piedade de mim, Senhor; sê o meu auxílio”. Aqui, a primeira parte corresponde à quarta, e a segunda à terceira. É o que mais ou menos se verifica nas palavras de Jesus, a que Mt 7.6 faz referência: “Não deis aos cães as coisas santas, Nem deiteis aos porcos as vossas pérolas, Não aconteça que eles (os porcos) as pisem com os seus pés, E, voltando-se, eles (cães) vos despedacem”. Citamos apenas casos de paralelismo perfeito, de versos com o mesmo número de sílabas acentuadas. Mas há que admitir ainda o paralelismo imperfeito, onde, por exemplo, uma das unidades de pensamento numa parte não tem correspondência na outra. Vejamos o caso do Sl 1.5, em que o verbo “não subsistirão” da primeira parte não tem correspondência na segunda: “Pelo que os ímpios não subsistirão no juízo, Nem os pecadores na congregação dos justos”. Conserva-se, todavia, o número de sílabas acentuadas, porquanto “juízo” tem uma sílaba nessas condições, e “congregação dos justos” duas. Do mesmo modo em Is 1.3: “O boi conhece o seu possuidor, E o jumento a manjedoura do seu dono”, onde, na segunda parte não há correspondência do verbo da primeira, mas dá-se a lei da compensação, pois, enquanto “manjedoura do seu dono” tem duas sílabas acentuadas, “o seu possuidor” não tem mais que uma. Este fenômeno, também chamado “paralelismo imperfeito com compensação”, é com frequência usado na poesia bíblica. Por vezes o paralelismo é tão imperfeito, que nos fica apenas a compensação, ou melhor, como lhe chama Lowth “o paralelismo sintético” ou, no dizer de Gray, “paralelismo formal”. Na realidade não se trata de qualquer paralelismo; há somente ritmo de som e não ritmo do pensamento. Sirva de exemplo o Sl 27.6: “Também a minha cabeça será exaltada. Sobre os meus inimigos que estão ao redor de mim”. Neste caso são três as sílabas acentuadas em cada parte, mas sem qualquer espécie de paralelismo de sentido. De outras vezes, com o paralelismo imperfeito e sem compensação, são de observar os versos de extensão desigual, seguindo, no entanto, determinadas regras, mais ou menos 7

equivalentes à nossa métrica e em que as sílabas acentuadas se alternam na razão de 4 por 3. É o que podemos constatar na descrição do caos em Jr 4.23-26: “Observei a terra, e eis que estava assolada e vazia; e os céus, e não tinham a sua luz. Observei os montes, e eis que estavam tremendo; e todos os outeiros estremeciam. Observei e vi que homem nenhum havia, e que todas as aves do céu tinham fugido. Vi também que a terra fértil era um deserto, e que todas as suas cidades estavam derribadas diante do Senhor”. Mas a forma mais corrente do “paralelismo imperfeito sem compensação” é a que alterna 3 por 2 versos, e toma o nome de qin’ah ou métrica “de endecha”, frequente no livro das Lamentações. Admire-se o seguinte caso em Lm 3.1: “Eu sou o homem que viu a aflição pela vara do seu furor”. Mas não se limita só a este tipo de poesia, pois pode servir para exprimir uma esperança confiante, como no Sl 27.1: “O Senhor é a minha luz e a minha salvação; A quem temerei? O Senhor é a força da minha vida; de quem me recearei?”. Nas palavras de Jesus não raro se encontram casos destes. Há ainda a considerar o “paralelismo gradativo”, quando um membro (ou parte dum membro) duma linha é repetido na outra, sendo este ponto de partida para um novo membro. Veja-se como se iniciam os primeiros versículos do Sl 29, com a repetição do “Dai ao Senhor”, ou ainda o Sl 92.9: “Pois eis que os teus inimigos, Senhor, eis que os tens inimigos perecerão; serão dispersos todos os que praticam a iniquidade”. Este caso não deixa de ter um interesse particular, pela semelhança que apresenta com o poema épico dedicado a Baal, descoberto entre as inscrições do Ras Shamra: “Eis que os teus inimigos, ó Baal, eis que os teus inimigos destruirás, eis que tu destruirás os teus inimigos”.

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O caso do Sl 92.9 é digno de registro, não só como exemplo de paralelismo gradativo, mas como modelo de trístico e não dístico. O esquema rimático é 3 por 3 por 3. É o que se dá no Sl 24.7-10: “Levantai, ó portas, as vossas cabeças; Levantai-vos, ó entradas eternas, E entrará o Rei da Glória...”. Se nos apresenta aqui uma série de quatro trísticos, formando duas curtas estrofes. A presença de estrofes na poesia bíblica tem sido muito discutida, pelo fato de se encontrarem aqui e ali vestígios duma disposição estrófica. É o caso dum estribilho repetido, como no Sl 42 e no Sl 43 (que em princípio formavam um só), mostrando que as estrofes terminam respectivamente nos versos 5 e 11 do primeiro e no 5 do segundo. Outro exemplo é a profecia de Is 9.8; Is 10.4 (com Is 5.25 e segs.), onde se destaca o estribilho: “Com tudo isto não se apartou a Sua ira, mas ainda está estendida a Sua mão”. Também nas palavras de Jesus poderíamos encontrar exemplos deste caso. A disposição estrófica é também frequente noutros esquemas acrósticos da poesia bíblica, como no Sl 119, que consta de vinte e duas estrofes, tendo cada uma oito “dísticos”.

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SEGUNDA PARTE - O LIVRO DOS SALMOS. I. INTRODUÇÃO AO LIVRO DOS SALMOS.8 Posso, com toda a sinceridade, chamar este livro de anatomia de todas as partes da alma, pois não há movimento do espirito que não se encontre refletido em seu espelho. Salmo registra de modo vivido todas as tristezas, dificuldades, medos, dúvidas, esperanças, dores, perplexidades e tempestades que agitam o coração dos homens. João Calvino.

Na Bíblia Hebraica este livro se chama M; (sēper tehillîm) – “livro dos louvores”. Na Septuaginta se utilizou o título ya,lmoi (psalmoi) ou yasalth,rion (psalthrion), títulos que sugerem canções acompanhadas por instrumentos de cordas. 9 Na vulgata o título é Liber Psalmorum.10 Os Salmos, metade dos quais é atribuído por suas inscrições a Davi, o suave cantor de Israel, em geral procedem da idade áurea de Israel, por volta do ano 1000 a.C. Sem a menor dúvida, alguns foram escritos mais tarde, na época do cativeiro (por exemplo, o Salmo 137). Os salmos expressam verdades profundas num estilo poético, com a intenção de penetrar os recônditos do coração. Devem ensinar-nos que o conhecimento intelectual não é suficiente; o coração deve ser alcançado pela graça redentora de Deus. A poesia hebraica não consiste no ritmo, mas principalmente na repetição de pensamentos apresentados em cláusulas paralelas, como, por exemplo: “Não nos tratou segundo os nossos pecados, nem nos retribuiu segundo as nossas iniquidades” (Sl 103:10). Se prestarmos atenção a este paralelismo, poderemos, às vezes, interpretar palavras obscuras mediante o paralelo mais claro. Outro recurso que se emprega com frequência no artifício poético é a dramatização. Davi não escreve para si próprio. Escreve para outros. O salmista escreve para todos nós, e podemos apropriar-nos de que aqui também Davi escreve às vezes na primeira pessoa do singular; não obstante isso proporciona-nos pormenores vividos das experiências do Messias. Cerca da metade dos salmos pode ser classificada como orações de fé proferidas em épocas de angústia. Salmos tão preciosos como os de número 23, 91, 121 e muitos outros, sustentam-nos nos momentos de necessidades mais urgentes. Seria bom que aprendêssemos de cor estes salmos e os repetíssemos com frequência, a fim de fortalecer-nos com a Palavra 8

Cf. Gomes, 2013, p. 1,2. Antiga versão grega das Escrituras Hebraicas produzida na cidade de Alexandria, Egito, entre os séculos III e I a.C. 10 A Vulgata foi produzida por São Jerônimo e concluída no ano 403 d.C. A Vulgata é basicamente uma revisão de uma tradução que já existia em Latim chamada Ítala ou Vetus Latina. 9

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quando a hora da provação nos apanha de surpresa. Mais ou menos 40 salmos são dedicados ao tema do louvor. A nota de louvor a Deus deve constituir-se em uma parte da respiração mesma do crente, e salmos tais como os de números 100 e 103 devem figurar com proeminência em nossas devoções. 1. Autores.11 O Livro dos Salmos é na verdade composto por vários hinos e orações escritas por diversas pessoas. Não há um autor absoluto do livro, mesmo Davi sendo considerado o autor de uma boa parte dele. Esta disposição segue o modo como nos é apresentada no Texto Massorético (TM). A Septuaginta nos apresenta algumas sugestões de autores que não são apresentados no TM. Apresentamos a seguir uma lista contendo os autores e os referidos salmos atribuídos a eles. AUTOR

NÚMERO DE SALMOS ATRIBUÍDOS

Davi

73

Salomão Asafe Filhos de Coré

02 12 10

Hemã

01

Etã Moisés

02 01

REFERÊNCIA 3-9; 11-32; 34-41; 51-65; 6870; 86; 101; 103; 108-110; 122; 124; 131; 133; 138; 145. O texto de At 4.25 atribui a autoria do Salmo 2 a Davi. Em Hb 4.7 o Salmo 95 também é atribuído a ele. 72; 127. 50; 73-83. 42; 44-45; 47-49; 84-85; 8788. 88 (também é um dos filhos de Coré). 89. 90.

2. Composição. Sabe-se que existiram hinos, usados no culto em Babilônia e no Egito, por muitos séculos antes de Abraão e José. Embora fosse um caso notável se a salmodia hebraica não se apresentasse sinais de ter crescido de tal solo, uma semelhança de estrutura literária, como por exemplo o uso extenso do paralelismo, não é índice de igual riqueza e vigor espirituais. Neste aspecto, os Salmos de Israel não têm rival. Além disso, o seu uso comum por parte de uma

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Esta seção foi extraída de Ellissen, 1993, p. 160-161, com adaptações.

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congregação de adoradores, bem como pelos sacerdotes oficiantes, era uma prática desconhecida em todos os lugares. Quando os filhos de Israel estabeleceram o culto de Jeová, na Palestina, fizeram-no no meio de um povo que possuía um considerável depósito de poesia religiosa. Isto é indicado pelas tábuas de Ras Shamra e está implícito nos cânticos de júbilo e de maldição entoados pelos Siquemitas no tempo de Abimeleque (Jz 9.27). É a este período que devemos atribuir a poesia israelita como o Cântico de Moisés (Êx 15) e o Cântico de Débora (Jz 5). Estas poesias constituíram precedentes e ofereceram incentivo para os salmos mais recentes. 3. Classificação. Estes 150 cânticos de adoração podem classificar-se de variadas maneiras. Há poemas acrósticos, Salmos de ação de graças e de lamentação (ambos de caráter individual e nacional), cânticos de confiança, cânticos para peregrinos, hinos de arrependimento, orações dos falsamente acusados, Salmos históricos, Salmos relativos ao Rei, Salmos proféticos; há hinos para festivais e cânticos relacionados com a ordem do culto no templo. A classificação tradicional judaica transparece na divisão do Saltério em cinco livros, cada um dos quais termina com uma doxologia (Sl 1-41, 42-72, 73-89, 90-106, 107-150). Este esboço, em cinco partes, era considerado como tendo correspondência com os cinco livros de Moisés e pode presumir-se que cada passagem do Pentateuco era lido em paralelo com o Salmo que lhe correspondia. Modernamente, tende-se para um esboço de classificação inteiramente diferente, que se baseia no argumento de que os Salmos devem as suas características principais ao uso que deles se fazia nos serviços do templo em Jerusalém. Que estes eram importantes e preparados com esmero, transparece de passagens como 2Cr 29.27-28; 2Cr 5.11-14; 1Cr 16.4-7,36-42. Os três grandes festivais do ano judaico duravam vários dias e exigiam um uso intenso de cânticos no santuário. Este era, de forma especial, o caso das festividades associadas com a festa dos tabernáculos (cfr. Nm 29) e alguns Salmos foram, certamente, compostos para tais ocasiões (por exemplo, 115; 118; 134). Além disso, muitos Salmos dão proeminência especial ao tema de eventos reais, parcial na celebração de entronizações e vitórias reais, mas, principalmente, para expressar a suprema soberania de Jeová. Este significado simbólico é bem evidente em Sl 2; 24; 95-100; 110. 4. Uso Litúrgico. A associação íntima do Saltério e do Pentateuco e a leitura contínua da Tora fizeram, com o tempo, que certos Salmos se tornassem ligados a dias e ocasiões particulares. O Sl 145 12

era usado em cada uma das três festividades anuais (é provável que seja o hino referido em Mc 14.26); o Sl 130, com a expectativa e o desejo intensos por perdão que o caracterizam, era usado no dia da expiação; o Sl 135 era um hino habitualmente pascal. Os velhos cânticos peregrinos (120-134) foram adotados para a festa dos tabernáculos e, no tempo do templo de Herodes, eram habitualmente entoados por um coro de levitas, de pé, nos quinze degraus que ligavam os dois pátios do templo. Alguns eram tradicionalmente considerados sabáticos (por exemplo: 92-100), e cada dia da semana tinha o seu Salmo habitual. 5. Títulos. Sabe-se que os títulos atribuídos a cerca de cem Salmos são de data anterior à Septuaginta e merecem ser tratados com respeito por causa da antiguidade da sua origem. O hebraico pode significar “de”, “para”, “pertencendo a”, isto é, “aparentado com”. Estes títulos são de cinco tipos: os que apontam para uma origem (por exemplo, 18; 51-60; 90); os que dão ênfase a um propósito especial (por exemplo, 38; 60; 92; 100; 102); títulos que indicam melodias especiais para o hino (por exemplo, 9; 22; 45; 56; 57; 60; 80); títulos que se referem ao tipo de acompanhamento musical (por exemplo, 4-6; 8; 45; 53; ver o Sl 150 em relação aos instrumentos musicais). Há, finalmente, títulos descritivos do tipo do Salmo, por exemplo, Maschil-um Salmo instrutivo ou de sabedoria; Michtam-para expiação (?). O significado de alguns termos, por exemplo, Shiggaion, é obscuro. A palavra “Selah” que aparece em muitos Salmos (a maior parte davídicos) indicava provavelmente uma mudança na melodia de acompanhamento, ou um intervalo musical; ou, se for tomada como assinalando uma pequena versão do Salmo, pode ser, em si mesma, uma exclamação abreviada de louvor (correspondendo ao uso moderno de “glória”). II. INTRODUÇÃO AOS SALMOS DE DEGRAUS.12 Cada um desses quinze salmos (Sl 120-134) é intitulado “Cântico dos Degraus”. A significação desse título é incerta. A expressão que aparece no Texto Hebraico é  (shir

ha-maaloth) e significa “Cântico das subidas”. 13 A palavra (ma‘aloth) é a forma

pluralizada da palavra ‫מעֲלָה‬ ַּ (ma‘alah) que significa subida, degrau, escada, uma jornada a um lugar alto. Segundo Strong (2002) esta palavra é procedente de ‫מַּעֲלֶה‬(ma‘aleh) e significa subida, inclinação. O título dado pela Septuaginta é: “Um cântico dos passos”. A septuaginta (conhecida pela abreviação LXX) traz a seguinte expressão: ‘’vWidh. Tw/n

12 13

Cf. Gomes, 2013, p.3,4. Cf. Elliger, Rudolph, 1997, p. 1214.

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avnabaqmw/n (wdh twn anabaqmwn). A palavra wvidh.(widh) significa canto. A palavra avnabaqmw/n(anabaqmwn) significa um lance de escadas, uma subida, degraus. Esses salmos eram cânticos frequentemente usados (depois do retorno do exílio) pelos adoradores que subiam a Sião para os três grandes festivais do ano judaico. Assim mesmo, alguns destes poemas dificilmente se adaptam ao espírito de tais peregrinações (exemplo, Sl 120, 130-131). A maioria dos poemas refletem os sentimentos e as condições dos primeiros anos depois da volta do exílio; mas alguns podem achar um apropriado motivo no cerco de Jerusalém por Senaqueribe e em sua retirada (Is 37-38; note-se Is 38.20).

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TERCEIRA PARTE – COMENTÁRIO DO SALMO 133 I. INTRODUÇÃO AO SALMO 133. Nos pequenos frascos, estão os melhores perfumes. Apesar de curto, esse salmo e uma joia literária e espiritual que compensa em qualidade a falta de quantidade. William MacDonald.

Este salmo davídico se volta para a importância da comunhão e do relacionamento adequado na comunidade. Este salmo também é muito cantado nos dias de hoje pelos judeus em Jerusalém. Com vimos acima, esse salmo é pós-exílico, ou seja, foi escrito depois do cativeiro babilônico, que durou de 586 a.C. até 539 a.C. Há uma combinação estranha nesse salmo, pois sabemos que óleo e orvalho não se misturam! Que relação esses elementos têm a ver com a união fraternal? O verso dois descreve que esse “viver em união” deve ser como o óleo precioso derramado desde a cabeça, e que desce sobre a barba de Arão até a gola de suas vestes. Isto se trata de uma referência à consagração do sacerdote. O óleo deveria descer sobre toda a sua veste sacerdotal. Portanto, entendemos que a consagração deve ser plena e absoluta. A ideia que o texto pretende transmitir é a seguinte: a união entre os irmãos deve ter relacionamento, santidade e santificação. Não pode haver uma verdadeira união sem santidade perante Deus. E essa santificação deve produzir um ambiente de confraternização entre os irmãos. O importante matemático e filósofo cristão francês Blaise Pascal disse que “o amor não tem idade: está sempre nascendo”. O Salmo 133 diz também que a união fraternal é como o orvalho do monte Hermom quando desce sobre os montes de Sião. O monte Hermom está situado numa região muito marcada pela humidade por ser cheia de água. Isso faz um contraste com as regiões desérticas do Sul da Palestina. Portanto, a região do Hermom é marcada pela prosperidade e por frutificação. Logo, a união que Deus deseja é acompanhada pela benção da santificação, da prosperidade e da frutificação que Deus concede a partir dos montes de Sião (ver. 3). O importante é que o Senhor é quem sustenta isso. É uma benção completa para todos nós. O Salmo 133 expressa os segredos do avivamento e da efusão do Espírito Santo, que é o resultado da união dos filhos de Deus. O óleo (verso 2) e o orvalho (versículo 3) referido no Salmo 133 representa a presença do Espírito Santo no meio de Sua Igreja. É a presença do Senhor no corpo de Cristo que traz a unidade no coração do homem. O fato de que o óleo

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escorre da cabeça para as vestes simboliza o fato de que, quando a liderança é ungida, é capaz de transmitir esta unção ao povo. II. COMENTÁRIO DO SALMO 133. Salmo 133.1: Oh! Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união! Este verso no original hebraico pode ser traduzido assim de forma literal: “Veja! Como é bom e amável que os irmãos sentem-se juntos”.14 A ideia do texto hebraico é de transmitir uma unidade concreta. Todos se sentam um do lado do outro ao mesmo tempo. Esta ideia torna-se clara com o uso da palavra (yāHad – junto, ao mesmo tempo). O verso 1 é um provérbio sapiencial e retrata a beleza e a unidade entre os irmãos. O salmista explica essa comunhão com os versos seguintes, usando dois elementos interessantes: o óleo da unção e o orvalho da região do monte Hermom.15 Salmo 133.2: É como o óleo precioso sobre a cabeçaa, que desce sobre a barbab, a barba de Arãog, e que desce à orla das suas vestesd. a. É como o óleo precioso. Este é o óleo ou azeite da santa unção, e era “um perfume composto segundo a arte do perfumista”, Êx 30.22-33. Era produzido dos seguintes produtos: 1. Mirra : Goma, resina odorífica, medicinal, produzida pelo balsamodendro (Bálsamo, líquido aromático); 2. Canela aromática: Árvore laurácea de casca odorífica, usada como especiaria; 3. Cálamo: Planta que exalava um doce cheiro (Ct 4.14), vinha de terras longínquas (Jr 6.20), da Arábia ou da Índia (Ez 27.19); 4. Cássia. Casca aromática semelhante à canela, empregada em medicina, vinha da Arábia ou da Índia (Ez 27.19); 5. Azeite de Oliva. Óleo extraído de azeitonas ou de outras frutas. b. Sobre a barba. Na cultura judaica, a barba era símbolo de beleza, dignidade e virilidade. g. Arão. ‫’( אַּהֲרוֹ ן‬ahărôn) – “aquele que traz luz”. Filho de Aarão e Joquebede (Êx 6.20), e irmão mais velho de Moisés e Miriã (Nm 26.59).16 Foi o primeiro sumo sacerdote da nação de Israel. Descendia da tribo de Levi (Êx 6.16-20). Nasceu três anos antes de Moisés, no Egito (Êx 7.7). Servia como boca de Moisés, por ter o dom da palavra, Êx 4.16,17. Arão morreu 14

Tradução feita pelo comentarista. Cf. Mitchel, Pinto, Metzger, 2002, p.55. 16 A Onomatologia (ou Onomástica) é a ciência que estuda os nomes com suas origens e significados. O antropônimo Miriã vem da língua hebraica (M;- mir/yām) e significa sua rebelião. Quando o Antigo Testamento foi traduzido para o grego, durante os séculos III e I a.C, o nome hebraico M;passou a ser escrito em grego dessas formas: Mari,am/Maríi,a – mariam/maria. Portanto, tanto o nome Miriã quanto o nome Maria têm a mesma origem linguística e significado etimológico (cf. Elliger, Rudolph, 1997, p. 264; Strong, 2002, 623). 15

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com cento e vinte e três anos de idade, no monte Hor (situado na região de Edom, Nm 20.22; 33.37), Nm 20.24-29; 33.38,39. 17 d. Orla das suas vestes. A respeito da vestimenta do sumo sacerdote, confira o texto de Êx 28.1-29. Salmo 133.3: Como o orvalhoa do Hermomb, que desce sobre os montes de Siãog; porque ali odSenhore ordena a benção e a vida para sempre-d. a. Orvalho. Em hebraico é (ṭal) e significa orvalho, chuva fina, névoa noturna, garoa. Orvalho é um tipo de depósito de gotas de águas resultantes de condensação de vapor, na superfície de objetos que permanecem ao ar livre durante a noite. O orvalho forma-se nas noites claras, porque nelas as superfícies descobertas irradiam calor para a atmosfera. A maior parte dos objetos, inclusive folhas de capim e pétalas de flores, irradiam calor melhor que o ar e, como resultado, ficam durante a noite, mais frios que este. A formação de orvalho é mantida pela difusão de vapor de água.18 b. Hermom. Em hebraico é N;(Hermôn) e significa sagrado, um santuário. É muito provável que o nome Hermom tenha se originado devido aos santuários consagrados a Baal, localizados ali desde os tempos anteriores ao Êxodo (Js 11.27). Baal-Hermom (Jz 3.3) e Baal-Gade (Js 13.5) eram lugares reputados como locais sagrados pelos habitantes originais de Canaã, e esses lugares ficavam próximos ao monte Hermom. O monte Hermom recebe outros nomes dentro do texto bíblico. Em Dt 4.48 é chamado de Siom (N- Si’ôn – elevado, imponente). Os amorreus o chamavam de Senir, Dt 3.8,9 (; - Senir – montaha de neve). Mas ao que nos parece, este nome se refere apenas a uma parte da montanha do Hermom como podemos analisar em Ct 4.8 (cf. 1Cr 5.23). Por fim, os sidônios o chamavam de Siriom, Dt 3.8,9 (N;- Sîryôn – peitoral). O Hermom formava a fronteira Norte de Israel até onde chegaram as conquistas dos hebreus sobre os amorreus, sob a direção de Moisés e Josué, Dt 3.8,9; Js 11.3,17, 12.15, 13.5,11; 1Cr 5.23. É também o extremo sul da região da Anti-Líbano. O Hermom está entre 2.800 a 3.000 metros acima do nível do mar, suas montanhas tem 32 Km de comprimentos e três picos , sendo que dois deles são os mais altos da Palestina ou em sua redondeza. Nele se encontram as nascentes do rio Jordão. A neve nunca desaparece do cume durante o ano todo, causando orvalhos abundantes em tremendo 17 18

Cf. Boyer, 1999, p. 68, 314; Elliger, Rudolph, 1997, p. 94, 1214. Cf. Mitchel, Pinto, Metzger, 2002, p. 81; Strong, 2002, p. 378; Kirst et alii, 2008, p. 82.

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contraste com a terra ressequida da região Sul. O seu degelo é uma das principais fontes alimentadoras do Jordão. Outro fato interessante a respeito do Hermom é que sua aproximidade de Cesareia de Filipe tem levado alguns estudiosos a sugerirem que o Hermom é o “alto monte” da Transfiguração (Mt 17.1,9; Mc 9.2,9; Lc 9.28). Cerca de uma semana antes da Transfiguração, o Senhor esteve na região de Cesareia de Filipe, ao sul do Hermom, e alguns estudiosos consideram que Ele se dirigiu para o Norte, para as colinas do Hermom, ao invés de ir para o Sudeste, para o monte Tabor, o local tradicionalmente aceito como o monte da Transfiguração.19 A palavra transfiguração, que aparece tanto Mt 17.2 bem como em Mc 17.2, no texto grego é o vocábulo metemorfw,qh (meterfwqh– transfigurou-se). Esta palavra é a forma flexionada do verbo metamorfo,w (metamorfow), de onde vem a nossa palavra metamorfose. Este verbo é polissemântico e pode significar mudado em forma, mudança de forma, ser transformado, alterar-se, ser transfigurado. Lucas, que escreveu sua narrativa do Santo Evangelho para os gregos, não empregou esse palavra. Ao invés de usar esse verbo, ele preferiu a seguinte expressão: to. ei=doj tou/ prosw,pou auvtou/ e[teron. Lucas preferiu usar essa expressão para não sugerir aos leitores gregos as metamorfoses de deuses do panteão helênico. Sendo assim, Lucas pretende mostrar mediante a inspiração divina do Espírito Santo (2Pe 1.20,21) que Jesus Cristo é diferente dos deuses adorados pelos gregos. Veja a tabela com a transliteração e tradução da expressão usada pelo médico amado (Cl 4.14):20 to. To A

to. ei=doj tou/ prosw,pou auvtou/ e[teron ei=doj tou´/ prosw,pou auvtou/ Eidos tou proswpou autou Aparência Do Rosto Dele

e[teron heteron [estava] diferente (de outro tipo)

g. Sião. Em língua hebraica o nome é N(ciôn) e significa “lugar escalvado”. No Sl 48.2 o monte Sião é identificado como “a alegria de toda a terra”. O monte Sião está localizado na região Oriental de Jerusalém, com aproximadamente 800 metros de altura em relação ao nível do Mediterrâneo. É muitas vezes identificado com a própria cidade de Jerusalém (Cf. 2Rs 19.21; Sl 126.1; Is 1.8, 10.24). Na antiguidade essa região era povoada pelos Jebuseus, mas 19

Cf. Pffeifer, Vos, Rea, 2007, p. 915-916; Douglas (org.), 2006, p. 585; Davis, [19-?], p. 296; Strong, 2002, p. 359, 1033, 1077, 1096; Kirst et alii, 2008, p. 7; Harris, Archer, Waltke, 1998, p. 535; Elliger, Rudolph, 1997, p. 289, 294. 20 Cf. Gingrish, Danker, 1993, p. 134; Robinson, Pierpont, 2005, p. 69, 123, 179; Rienecker, Rogers, 1995, p. 37, 84; Souter, 1917, p. 157; Vine, Unger, White (eds.), 2002, p. 1031; Strong, op. cit., p. 1509; Coenen, Brown (orgs.), 2000, p. 2548-2551.

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quando Davi assume o controle político-militar de Israel e resolveu expulsá-los. Com o passar do tempo, Davi ordenou que a arca fosse levada para Jerusalém, chamada de “cidade de Davi”, 2Sm 6, 1Cr 15. Por este motivo o monte Sião (monte onde a cidade de Jerusalém está edificada) passou a ser considerado santo pelos israelitas. Alguns anos depois (aproximadamente quarenta anos depois), quando Salomão havia assumido o trono de Israel, a arca foi levada para o Templo. Por isso a cidade de Jerusalém passou a ser chamada de Sião.21 d. Porque ali (...) ordena a benção e a vida para sempre. A palavra ali (M- šām) referese ao monte Sião. Esta benção (;: - Berākāh) e vida (M - Hayîm lit. vidas) é uma bênção complexa que inclui todas as bênçãos. É prerrogativa de Deus ordenar a bênção, o homem só pode orar por ela. A bênção ordenada por Deus sobre aqueles que vivem em amor é vida para sempre, essa é a bênção das bênçãos. Os que vivem em amor não só moram em Deus, mas também já moram no céu. Da mesma maneira que a perfeição de amor é bemaventurança do céu, também o amor sincero é a mais intensa das bênçãos. Os que vivem em amor e paz devem ter o Deus de amor e de paz com eles agora, e eles logo devem estar com Deus e para sempre no mundo de amor e paz sem fim. O quão bom isso é, e quão agradável! e. Senhor. No texto hebraico aparece a palavra  ;(yehwā). Na LXX consta a palavra ku,rioj (kurios - Senhor). A palavra hebraica  ;é o nome pessoal e sacrossanto de Deus. É constituído por quatro letras consoantes  (YHWH). Esse nome sagrado tem origem no verbo  (hāyā) e pode significar “alguém que existe por si mesmo”. Nos textos de Êx 20.7 e Dt 5.12 consta o mandamento de não pronunciar o nome sacrossanto de Deus em vão. Por se tratar de um nome impronunciável, os judeus adotaram epítetos para substituírem a pronúncia original do Tetragrama. Quando os judeus se deparam com o Tetragrama na leitura do texto hebraico sagrado eles leem ‫אֲדוֹ נ ָי‬(’ădônāy – Senhor) ou M(hašēm – lit. o Nome). Existe também a forma híbrida Mֲ‫א‬(’ădôšēm). O termo técnico usado nos círculos acadêmicos para se referir ao nome sagrado de Deus é Tetragrama: tetragrammaton (latim: composto de quatro letras), tetragra,mma

(tretagramma - quatro letras),

tetragra,mmatoj (tetragrammatos - quatro letras). Além dos termos técnicos em latim e em grego, há também termos técnicos em hebraico moderno e um eles é ;M(šhm ha

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Cf. Elliger, Rudolph, 1997, p. 1214; Boyer, 1999, p. 578; Strong, op. cit., p. 880, 881; Andrade, 1994, p. 60.

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mepôrāš – Nome inefável). A pronúncia Jeová apareceu no período entre a Renascença (séc. XV) e a Reforma Protestante (séc. XVI), quando os cristãos recomeçaram a estudar o hebraico bíblico. Esses estudiosos fizeram a leitura do Tetragrama como ;(lê-se ’ădônāy) com os

sinais vocálicos da palavra ‫ אֲדוֹ נ ָי‬e criaram a pronúncia yehôwā,

originando a leitura Yehowa (Jeová). No entanto, vários hebraístas posteriores contestaram essa pronúncia. Esta forma foi usada largamente nas traduções da Bíblia em línguas europeias que foram produzidas desde o século XVI em diante. A pronúncia mais aceitada pelos estudioso é Yahweh (Iaweh, Iavé ou Javé) - ;(yahweh). Esta leitura hipotética é registrada por alguns Pais da Igreja do oriente.22

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Cf. Gomes, 2013, p. 1; Francisco, 2014, p.4,5; Pfeiffer, Vos, Rea, 2007, p. 544-545; Douglas (org,), 2006, p. 335-336.

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9. Comentários Bíblicos. Os livros citados aqui não foram referenciados nas notas de rodapé. Sendo assim, os números das páginas compulsadas dos comentários consultados serão sinalizados aqui. BRUCE, F. F. (org.) (2009) Comentário Bíblico NVI. São Paulo: Editora Vida, p. 890-891. CARRO, Daniel; POE, José Tomás; ZORZOLI, Rubén O. (eds). (1997) Comentario Biblico Mundo Hispano – Tomo 08: Salmos. El Paso, Texas: Editorial Mundo Hispano, p. 408-410. CARSON, A. D. et. al. (2009) Comentário bíblico: Vida Nova. São Paulo: Vida Nova, p. 700. DAVIDSON, Francis. (org.) (1997) O novo comentário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, p. 750-755, 999-1001. EVERETT, Gary H. (2013) Study notes on the Holy Scriptures: The Book of Psalms. [S.l.] [s.n], p. 277280. GOMES, Samuel S. (2013) Comentário do Salmo 126. São Paulo: STE Publicações, p. 1-4, 15. HARRISON, Everret F; PFEIFFER, Charles F. (eds.) (1990) Comentário Bíblico Moody. Vol 2. São Paulo: Imprensa Batista Regular, p. 139. HENRY, Matthew. (2010) Comentário bíblico de Matthew Henry: Jó a Cântico dos Cânticos. Vol. 3 . Rio de Janeiro: CPAD, p. 676-677. MACDONALD, William (2011) Comentário bíblico popular – Antigo e Novo Testamento. São Paulo: Mundo Cristão, p. 369, 513-514. MEYER, F.B. (2002) Comentário Bíblico F.B. Meyer. Belo Horizonte: Editora Betânia, p. 325. RADMACHER, Earl D; ALLEN, Ronald B; HOUSE, H. Wayne. (eds.) (2010) O novo comentário bíblico AT, com recursos adicionais – A Palavra de Deus ao alcance de todos. Rio de Janeiro: Central Gospel, p. 933-934. WENHAM, Gordon J. et al (ed.) (2003) Nuevo Comentario Biblico Siglo Vientiuno: Antiguo Testamento. [S.l.] Editorial Mundo Hispano, p. 1285-1286. WIERSBE, Warren W. (2006) Comentário Bíblico Expositivo: Antigo Testamento: Poéticos: volume III. Santo André, SP: Geográfica Editora, p. 335-336. 23

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