Comentário sobre Pensamento, linguagem e mundo.

July 24, 2017 | Autor: Vinicius Ferreira | Categoria: Lógica, Linguagem, Vinicius Pimentel Ferreira
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Comentário sobre Pensamento, Linguagem e Mundo

Vinicius Pimentel Ferreira. Feira de Santana. 2015

 Este texto é por mim escrito dentro de uma esfera conceitual que não se preocupa com sua originalidade, tenho aqui o interesse de dialogar com os autores escolhidos em minha bibliografia de forma direta ou indireta para fim de tratar à lógica como uma ferramenta essencial para a investigação das leis gerais do pensamento e de suas manifestações para o desvelamento e construção do mundo. Deste modo, me dedicarei exclusivamente em meus primeiros parágrafos a tratar do pensamento e sua manifestação a qual chamarei de linguagem.
O Pensamento não deve ser compreendido nesta empreitada como uma manifestação psicológica do sujeito, mas como tudo aquilo que pode ser dito com sentido. O pensamento é então, não uma criação humana que é posta em movimento por meio da linguagem, é anterior a isso, o pensamento é tratado aqui como tudo aquilo que pode ser figurado dentro das leis gerais da linguagem(4). Mas o que pode ser dito por nossa linguagem com sentido?
Dentro de uma perspectiva do Wittgenstein do Tractatus, a linguagem só é capaz de figurar aquilo que se relaciona com o mundo(2.12, 3, 3.02), ou seja, a linguagem não pode dizer com sentido nada além de enunciados descritivos, e sendo a linguagem a totalidade das proposições(4.001), o campo limite do pensamento figurável é, por sua vez, o campo limite do mundo. Wittgenstein chama de proposição a figuração da realidade¹(4.01), cabe à proposição a descrição do estado de coisas através de uma estrutura lógica, a proposição trata de tudo aquilo que é possível e por sua vez, de tudo aquilo que é o caso.
É muito comum, quando nos comunicamos, utilizarmos uma linguagem vulgar, corrente, ou melhor, uma linguagem ordinária. A linguagem ordinária, comum, não se preocupa com questões acerca de sua constituição ou de seu sentido, não se atenta a seus enunciados ou se determinados princípios de validade são ou não respeitados, tudo que importa é que o enunciado seja capaz de comunicar algo ao ouvinte, ou melhor, que o enunciado aparente comunicar algo. Um exemplo comum na linguagem ordinária sobre enunciados sem sentido se dá em conversações cujo centro de discussão é a ética, palavras como "bom", "certo" ou "errado" são constantemente utilizadas, e no final do diálogo, os debatedores sentem-se satisfeitos com a discussão, porém não será surpresa se, na análise dos enunciados, notar-se que muito do que foi dito não possuir qualquer sentido passivo de ser extraído. Outro dado comum, na linguagem corrente, é utilizar a mesma palavra designando coisas diferentes, ou, usar palavras diferentes que designam a mesma coisa(3.323).Não é meu interesse nesse texto, discursar sobre a linguagem ordinária, de modo que este parágrafo inicia e encerra essa temática.
A manifestação que nos interessa da linguagem, é aquilo que chamo aqui de linguagem formal. A linguagem formal tende a ser mais empobrecida que a linguagem ordinária, enquanto a linguagem ordinária possui uma série de termos qualitativos que não possuem qualquer perspectiva de tornar mais claro e válido o enunciado, a linguagem formal se limpa de tudo aquilo que não é necessário à sua comunicação, ela evita o uso de qualquer tipo objeto arbitrário. Vejamos o exemplo de dois enunciados que visam figurar a mesma coisa:
Linguagem ordinária; "Esta bela árvore, de maravilhosa formosura, encontra-se no pico desta imperiosa colina e a todos que dela se aproxima doa sua sombra"

 Linguagem Formal; " No topo da colina há uma árvore cujo tamanho permite que sua sombra cubra todos aqueles que dela se aproximarem a determinada distância"

Ambos os enunciados, descrevem um fenômeno, a saber, que no topo da colina uma árvore produz sombra capaz de cobrir pessoas a certa distância, entretanto, no primeiro exemplo, há uma série de adjetivos que nada acrescentam ao sentido do enunciado enquanto no segundo enunciado apenas o necessário para o sentido é comunicado. A linguagem formal possui a ainda, diversas preocupações estruturais para atender, deve atentar para garantir o sentido de sua proposição e o respeito a uma série de princípios (basta que um desses princípios seja ferido para que o sentido da preposição se perca). Entre esses princípios, temos o princípio de não contradição, princípio de identidade e do terceiro excluído. Não tratarei deles neste texto.
Outra característica da linguagem formal é sua passividade à representação por meio de um modelo matemático, onde a validade do enunciado pode ser dada por meio do cálculo, sem a necessidade de que aquilo que o enunciado diz seja conhecido, a validade é encontrada em sua própria estrutura.
Tendo em vista, que a linguagem é apenas capaz de figurar com sentido o mundo, e que a linguagem com sentido pode ser representada matematicamente, de modo que, sua validade pode ser atestada independente do seu conteúdo, podemos por meio da análise da linguagem dizer tudo aquilo que pode ser verdadeiro, no caso, é possível de ser verdadeiro tudo aquilo que pode ser dito com sentido(3.02). Mas como podemos apontar não apenas o que é possível, mas diretamente o que é de fato? Para Wittgenstein os enunciados devem ser colocados a prova, ou seja, uma vez que se atesta a possibilidade daquilo que se enuncia por meio da validade, o conteúdo do enunciado deve ser comparado com o mundo, para que então na constatação entre o que é dito e aquilo que ocorre, possamos dizer se o enunciado é ou não verdadeiro. Embora tal parágrafo aparente possuir um conteúdo óbvio, ele ajuda àqueles que desejam descobrir novos pensamentos a não divagar acerca daquilo que não pode ser dito, e consequentemente, não pode ser pensado, assim nos livramos de caminhar pelo deserto das questões metafísicas para que possamos lançar nossos esforços à tudo aquilo que é passivo de ser investigado, dito e respondido.
Segundo Wittgenstein, tanto no Tractatus quanto na Conferência, as questões tidas como profundas, colocadas como alta filosofia, tomados como grandes problemas não resolvidos da humanidade, tal como o além mundo, a vida depois deste mundo e etc, não são de fato problemas, mas contrassensos, não são passíveis de serem respondidas(4.003), ou como diria Carnap "Nem mesmo Deus poderia responder", por serem não questões de fato, mas pseudo-questões. Por contrassenso o Wittgenstein compreende a expressão cujo sentido não pode ser compreendido, aquilo que é uma mera distribuição de palavras em uma determinada ordem que nada comunica. As preposições podem apenas comunicar coisas do mundo, nada fora dele, desse modo dos assuntos da ética ou da estética nada pode ser comunicado, assim como também, sobre o que há além da morte nada pode ser dito, pois o além morte já não pertence ao mundo, em resumo, às "proposições não podem exprimir nada de mais alto"(6.42).
Compreendendo que a linguagem é constituída por um conjunto de leis e que o enunciado por sua vez é constituído por um conjunto de objetos que, a depender da forma como se organizam e configuram, podem desenvolver N enunciados com sentido, compreender então as leis lógicas e saber bem empreende-las pode permitir ao investigador ter acesso à totalidade do Pensamento. Seria como dizer que, compreendendo as leis gerais da música, posso compreender todas as possibilidades musicais, posso não só encontrar novas harmonias, mas saber a possibilidade total da harmonia. De tal modo, compreendendo que o pensamento é um reflexo do mundo e portanto, sujeito aos seus limites, compreender as possibilidades do pensamento, através da linguagem, nos daria também a chave para toda a possibilidade do mundo?

"Se uma questão(com sentido) se pode em geral levantar, a ela também se pode responder"
(6.5)


Notas:
1- Realidade: A existência e a inexistência do estado de coisas.


Referência bibliográficas:


Wittgenstein. Tractatus Logico-Philosoficus.Edusp. 3° Edição.
Wittgenstein. Conferência sobre ética. s/e.s/d.
Frege. O Pensamento, uma investigação lógica. PUCRGS.2002.
Sombra, Laurênio. Nas Fronteiras de Wittgenstein.UNB.2012.
Simões, Eduardo. Wittgenstein e o Problema da Verdade. ARGVMENTVM.2008.
Boole. Mathematical Analysis of Logic. s/e.s/d.
Carnap. A superação da metafísica pela análise lógica da linguagem.s/e.s/d.


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