Comentarios acerca do capitulo II, Dois dedos de historia, da obra Iniciacao a sintaxe do portugues de Azeredo

July 22, 2017 | Autor: Adilio Souza | Categoria: Lingüística, Gramática
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SOUZA, Adilio Junior de. Comentários acerca do capítulo II, “Dois dedos de história”, da obra Iniciação à sintaxe do português de Azeredo. Resenhas críticas. João Pessoa: Edição do autor, 2015. COMENTÁRIOS ACERCA DO CAPÍTULO II, “DOIS DEDOS DE HISTÓRIA”, DA OBRA INICIAÇÃO À SINTAXE DO PORTUGUÊS DE AZEREDO Adilio Junior de Souza (UFPB) 1 [email protected] Neste capítulo, Azeredo (2007) discute sobre o surgimento dos estudos gramaticais no Ocidente, fala do desenvolvimento da morfologia enquanto disciplina que investiga a forma, composição e classificação dos vocábulos de uma língua. Apresenta a noção de gramática. Compreensão esta que envolve dois níveis estruturais: a morfologia e a sintaxe. Aponta as mudanças na investigação linguística: o objeto passa a ser o morfema e não mais o vocábulo. O autor faz uma síntese da história da tradição gramatical, iniciando com a Gramática Tradicional e finalizando com a Gramática Histórico-comparativa, dividindo essa exposição em pontos: (a) “As raízes filosóficas”, (b) “A gramática como disciplina do entendimento e da expressão”, (c) “O renascimento: o desafio das línguas vernáculas”, (d) “O neo-racionalismo” e (e) “A gramática histórico-comparativa”. Conclui o texto com uma seção sobre a abordagem estrutural dos estudos da sintaxe realizada pelo Gerativismo. Azeredo (2007, p. 15) mostra que nos estudos que antecedem o século XX, as análises tidas como “gramaticais” restringiam-se ao estudo do vocábulo (visto como unidade fundamental da gramática), pois é no vocábulo no qual terminam as relações morfológicas e se iniciam as relações sintagmáticas. Todavia, com o advento dos estudos da linguística estruturalista já no século XX, as análises linguísticas realizadas deixam de se ater a língua escrita e passam a se voltar para as línguas ágrafas, ou seja, línguas exclusivamente orais. Com isso, o morfema se torna a unidade de interesse. Os intelectuais gregos, na sua maioria, acreditavam que a preservação das tradições era algo necessário, assim, produções que continham o saber, a história, a cultura, por exemplo, deviam a todo custo serem protegidas do desgaste ou qualquer tipo de destruição. As obras homéricas, a Ilíada (que narra a queda de Tróia durante a guerra contra os gregos) e a Odisseia (que narra a volto do sobrevivente da guerra de Tróia, o Odisseu, para Ítaca),

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Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Linguística (PROLING) da UFPB.

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deviam ser conservadas. Segundo aponta Azeredo (2007, p. 16), a primeira gramática grega, a tekhné grammatiké de Dionísio da Trácia, tinha como meta exatamente a exposição de estudos sobre o texto homérico, permitindo, assim, sua leitura, investigação e interpretação, além de permitir a explicação da língua ali contida, propicia sua conservação. Este caráter de conservação de língua (“pura”) tem relação direta com o objetivo das gramáticas normativas, visto que isso tem sido uma prática constante desde o início (como uma herança da tradição grega). Todavia, uma das críticas que se faz a essas gramáticas tradicionais é o fato de mostrarem uma língua imota, que tenta refletir uma língua escrita, artificial. A gramática especulativa, conforme aponta Azeredo (2007, p. 18), se refere à nova característica da gramática surgida da releitura das obras gregas, em especial as aristotélicas, releitura essa feita eruditos medievais do período próximo ao Iluminismo. A gramática passa a ser especulativa quando se retorna a antiga premissa de que a língua é a expressão da mente, ou seja, no entendimento de uma concepção de língua como “espelho” da organização mental. O paradigma formal que aceita a tese de que a língua é um conjunto de orações e sua função primordial é a expressão dos pensamentos é uma prova da influência da gramática especulativa. Esta influência será mais forte no desenvolvimento das pesquisas de cunho formalista feitas pelo Gerativismo, aliás, estas noções formam parte da base das ideias chomskyanas. Com o aparecimento de gramáticas que analisam as línguas ditas “vulgares” em detrimento do estudo da língua latina, além da absorção das ideias fundamentadas na lógica e na filosofia, inicia-se um período no qual se dá mais importância a essas línguas vulgares do que a latinidade. Obras como a de Nebrija, Oliveira, Barros e especialmente a de Francisco Sánchez (Que nada se sabe, em latim: Quod nihil scitur), os estudos gramaticais se ampliam significativamente. Essas gramáticas, exceto a de Sánchez, tinham forte influência do ensino gramatical postulado pelos romanos. A tese apresentada anteriormente, de que a língua reflete a expressão da mente, continua. Os estudos latinos (ou clássicos) intensificaram-se na medida em que se buscavam, no latim, os moldes para as línguas vernáculas (línguas essas, na maioria, herdadas do latim como línguas neolatinas ou românicas). A obra de Sánchez, que tentava a todo custo valorizar a língua vernácula, mesmo tendo sido escrita em língua latina, é uma boa demonstração desse novo “espírito” de que trata Azeredo (2007, p. 18-19). O autor também reforça a tese de que a concepção racionalista desse período propicia um olhar que tanto valoriza as línguas românicas quanto a língua latina, sendo que a uniformização dessas línguas novilatinas teria o latim como fonte primária.

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De acordo com as palavras de Azeredo (2007, p. 21-26), podemos fazer essas distinções entre as duas abordagens nos paradigmas das análises linguísticas: Abordagem histórico-comparativa

Abordagem estrutural

Analisa exclusivamente a análise

Analisa a estrutura do sistema.

comparativa entre línguas aparentadas. Objeto: o vocábulo e em outros casos, o fone.

Objeto: o morfema e em certos casos, o fonema, fone, lexema ou sintagma.

Prioriza-se a língua escrita das línguas

Prioriza-se a língua ágrafa ou oral, assim

românica, tendo em vista a latina ou grega.

como a escrita.

A língua hipotética, o “indo-europeu” e em

As línguas neolatinas ou românicas e

menor escala, a latina como referência.

qualquer outra como referência.

Comparação de línguas “mortas” ou “vivas”

Análise da estrutura de línguas “vivas”, sem

tendo em vista a língua-mãe.

a necessidade de comparação entre elas.

Reconstrução de língua

Estudo de seu funcionamento e constituição.

Proximidade com a filologia românica e

Distanciamento da filologia, com

clássica, além da linguística românica.

refinamento de metodologia própria.

A crítica textual tem dava suporte aos

As pesquisas dialetais se intensificam.

estudos. Prioriza-se o estudo diacrônico, ou seja,

Prioriza-se o estudo sincrônico, ou seja, de

evolutivo da língua.

estados da língua.

O método elementar é o histórico-

O método central é a descrição das estruturas

comparativo.

do sistema. 05/05/2015

Referência AZEREDO, José Carlos de. Dois dedos de história (cap. II). In: _________. Iniciação à sintaxe do português. 9ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007, p. 15-26. SANCHES, Francisco (1551-1623). Franciscus Sanchez Philosophus et Medicus Doctor. Quod Nihil Scitur. - Lugduni: apud Ant[onium] Gryphium, 1581. – [8], 100 p.; 4° (23 cm). Disponível em: «http://purl.pt/929». Acesso em 01 de ago. de 2014.

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