Como apresentar o trabalho de um artista que faz da própria exposição o significado de sua expressão?

Ensaio visual

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COMO APRESENTAR O TRABALHO DE UM ARTISTA QUE FAZ DA PRÓPRIA EXPOSIÇÃO O SIGNIFICADO DE SUA EXPRESSÃO? Daniele Marx

“Eu, também me perguntei, se eu não poderia vender alguma coisa e ter sucesso na vida. Por um bom tempo eu não fui bom em nada. Eu tenho quarenta anos … Finalmente a ideia de inventar algo fictício passou pela minha cabeça e eu desenvolvi o trabalho prontamente”.

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A citação que

introduz esse ensaio é de Marcel Broodthaers, e foi reproduzida no convite

Detalhe sinalização utilizada por Marcel Broothaers para os objetos dispostos no Musée d'Art Moderne Département des Aigles.

de sua exposição para a Galeria Saint Laurent em Bruxelas, no ano de 1

Traduzido pela autora. Texto brochura em inglês da exposição Marcel Broodthaers - Musée d'Art Moderne Département des Aigles, Monnaie de Paris, 2015 : “I, too, wondered whether I could not sell something and succeed in life. For some time I had been no good at anything. I am forty years old … Finally the idea of inventing something insincere finally crossed my mind and I set to work straightaway”. 1

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1964. Essa exposição foi referência para o início da carreira de Broodthaers como artista plástico, onde mostra pela primeira vez o trabalho PenseBête, um bloco de gesso, contendo as quarenta e quatro cópias de seus últimos livros de poesia.

Como um rito de passagem, Marcel Broodthaers faz uso do próprio ambiente da exposição para pontuar a transformação do seu processo de trabalho; manifestando um talento de tática refinada, para operar em diferentes papéis sociais do trabalho, que vão desde o crítico ao poeta, do poeta ao artista plástico e do artista plástico ao curador ou diretor de museu, etc. Broodthaers constantemente joga com o humor e as relações entre o trabalho de arte e suas representações: original, cópia, ficção e realidade. Em 1968 Marcel Broodthaers desenvolveu uma de suas obras mais representativas nessa relação entre a arte e a vida, intitulando-se curador e diretor do Musée

Musée d'Art Moderne Département des Aigles, Monnaie de Paris (2015).

d'Art Moderne Département des Aigles (Museu de Arte Moderna - Departamento Dies ist kein kunstwerk,

das Águias). A primeira secção do museu foi inaugurada em sua

Ceci n’est pas un objet d’art,

própria casa em Bruxelas (30, Rue de la Pépinière). A abertura da

This is not a work of art

primeira secção do museu foi anunciada a partir de uma série de

- Marcel Broodthaers

cartas, consistindo na mostra de cartões postais, projeção e caixas vazias para o futuro envio das obras. Cada nova secção do Musée d'Art Moderne Département des Aigles era inaugurada em uma

cidade diferente, com aberturas oficiais. Durante os anos de 1968 a 1972 o Musée d'Art Moderne Département des Aigles questionou o valor da arte, o contexto expositivo, a realidade e a ficção. O que é um museu? O que é um trabalho de arte? Essas eram questões comumente provocadas por Broodthaers ao seu público sobre as regras e convenções adotadas pelos museus. Todavia quando Marcel Broodthaers cria seu museu e posiciona-se como diretor e curador, em uma atmosfera de 2

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ficção, ele expande seu campo de atuação, aproximando-se ao que hoje tentamos classificar como práticas conceituais, relacionais, entre outras. Neste sentido, poderíamos dizer que o trabalho desse artista retroalimenta-se em um terreno para dúvidas. Um dos exemplos são as diferentes placas e etiquetas de sinalização, presentes na recente versão do Musée d'Art Moderne Département des Aigles em exposição na Monnaie de Paris em 2015.

Ao percorrer as salas do clássico edifício da Monnaie de Paris, que resguarda o fictício museu-exposição de Broodthaers, diferentes sinalizações são incorporadas ao ambiente expositivo e podem ser identificadas como um jogo da existência ou não existência da obra de arte: Dies ist kein kunstwerk, Ceci n’est pas un objet d’art, This is not a work of art (Isso não é uma obra de arte).

A dúvida, a ironia e o duplo sentido é uma prática recorrente do artista. Ao sinalizar

Museum - Enfants non admis (Museu - não admite-se a entrada de crianças), Broodthaers aponta à frase, não propriamente às crianças, mas sim, aos seus amigos, também artistas e intelectuais (quem sabe pelo ponto de vista espontâneo ou até mesmo infantil), ao qual não são admitidos de entrar nos museus e com isso eles poderão jogar (quem sabe praticar arte livremente) juntos, fora do museu, todo o dia até o fim do mundo. Para Marcel Broodthaers, o Musée d'Art Moderne Département des Aigles é simplesmente um jogo, uma ficção em paradigma ao autêntico museu.

Mesmo, hoje, sem a presença do artista, a recente exposição realizada pela Monnaie de Paris, Marcel Broodthaers - Musée d'Art Moderne Département des Aigles, fez questão de manter uma abordagem intuitiva dos trabalhos e de sua cativante relação com sua esposa, Maria Gilissen. Para montar o Musée d'Art Moderne Département des Aigles, foram necessários três anos anos de pesquisa. Ao percorrer a exposição, faz-se reconhecível o esforço ético institucional para manter esse complexo trabalho vivo e arejado, possível de ser revisitado diante de tanta complexidade. MARCEL BROODTHAERS - Nasceu em Bruxelas em 28 de Janeiro de 1924 e faleceu aos 52 anos em Colônia, na Alemanha. Marcel Broodthaers pode ser considerado atualmente um precursor da Arte Conceitual 2. Broodthaers apontou para o fim do uso de suportes tradicionais da arte em prol da ideia e do uso dos meios reprodutíveis a partir de sua expressão artística em meios como a publicações, múltiplos, fotografia, cinema e uma forte afinidade com a arte vida. Marcel Broodthaers abandonou seus estudos em química em 1942 e passou a produzir poesia e artigos como crítico de arte em jornais e cinemas na Bélgica. Foi influenciado principalmente por artistas como Magritte e Mallarmé, além de Courbet, David, Ingres e 2 http://www.moma.org/interactives/exhibitions/2012/new_to_the_print_collection/category_works/marcel-broodthaers/

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Carot. Em 1962, Broodthaers foi declarado e assinado como “obra de arte autêntica e legítima” a partir do trabalho de Piero Manzoni ao qual lhe forneceu um certificado de autenticidade. DANIELE MARX - Artista visual, arquiteta e pesquisadora. Mestre em Poéticas Visuais (Autonome Kunst Beeldende), AKV St Joost, Den Bosch, Holanda (2010), Bacharel em Artes Visuais pelo Instituto de Artes UFRGS (2004), Arquitetura e Urbanismo UniRitter (2000), Porto Alegre, Brasil. Participou do grupo de estudos e orientação artística com Maria Helena Bernardes (2000-2002, Porto Alegre, Brasil). Desenvolve desde 2003 o Projeto Meio, em co-autoria com o artista Marcos Sari e colabora com o projeto de extensão Formas de Pensar a Escultura, coordenado pela artista e doutora Maria Ivone dos Santos, Instituto de Artes da UFRGS, Porto Alegre, Brasil. Possui experiência na área de Artes Visuais com ênfase na escultura e práticas do tempo, principalmente nos seguintes temas: arte conceitual, imaterialidade, arte-vida e práticas socialmente engajadas. Trabalha com mídias variadas. Além de exposições e projetos, atua na área da educação. Trabalhou como professora convidada no curso Mestrado em Artes AKV St Joost, Den Bosch, Holanda (2011) para ministrar o curso Brazilian Encounter: An Overview of Conceptual Art as an Unfinished Program. Em 2012 realizou o projeto de residência no Capacete, Rio de Janeiro, Brasil. Recentemente participou do Encontro com Artista, curso de Artes Visuais Licenciatura UERGS, 2015, com a palestra Por que não mostrar e dizer? Blog da artista MAKING DO WAYS TO OPERATE AND DO THINGS

Referência para o texto: brochura da exposição Marcel Broodthaers Musée d'Art Moderne Département des Aigles, que ocorreu de 18 de abril de 2015 a 5 de julho de 2015, Monnaie de Paris http://art.monnaiedeparis.fr/en/exhibitions/musee-dart-moderne-departement-des-aigles. (Fotografias: Daniele Marx)

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