Como assistir a um road movie em pé

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Como assistir a um road movie em pé

Alexandre Rodrigues da Costa

Como assistir a um road movie em pé

© 2016 Alexandre Rodrigues da Costa Este livro segue as normas do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, adotado no Brasil em 2009. Coordenação Editorial Isadora Travassos Produção Editorial Eduardo Süssekind Rodrigo Fontoura Victoria Rabello

cip-brasil. catalogação na publicação sindicato nacional dos editores de livros, rj c876c Costa, Alexandre Rodrigues da Como assistir a um road movie em pé / Alexandre Rodrigues da Costa. - 1. ed. - Rio de Janeiro : 7 Letras, 2016. isbn 978-85-421-0428-8 1. Poesia brasileira. I. Título. 16-30082 cdd: 869.91 cdu: 821.134.3(81)-1

2016 Viveiros de Castro Editora Ltda. Rua Visconde de Pirajá, 580, sl.320 – Ipanema Rio de Janeiro | rj | cep 22410-902 Tel. (21) 2540-0076 [email protected] | www.7letras.com.br

sumário

Ela entre os desaparecidos 11 A última chuva 12 Noturno13 Do que são feitas as meninas? 14 Elephant man16 A máquina 24 O corpo sem sílabas 25 A dissecação e reconstrução de Marilyn Monroe – parte 1 26 Nossa natureza quântica 27 Janelas sem vidros lançam um terrível reflexo 28 As falsas dicotomias 29 Domingo de manhã 30 Nada31 Como assistir a um road movie em pé 32 Armadilhas36 Cache-toi, objet!37 Weltinnenraum38 Acidentes de leitura 39 O tempo nu 40 Medo42 Sete notas em preto 44 Movimento em falso 45 A medida humana 47 A aventura 49 Os cães petrificados 52 Moldes internos 53

A ordem do dia 54 Código desconhecido 55 Istmo56 A grande arte 57 O destino dos animais 58 Premissas necessárias 59 O objeto descoberto 60 Atrás da porta verde 61 Medusa62 O ato de ver com os próprios olhos 63 Inalcançável64 “A tela cortada não significa nada” 65 Todas as cores da escuridão 67 Passagens68 Formas despedaçadas de um todo sem memórias 69 Souvenirs71 Persistência retiniana 72 O monstro 73 Aruspicação74 Improviso78 As linhas mutáveis 79 Jardins cinzentos 80 A pele da lâmina 82 Paisagem marinha 83 Cindy Sherman no país dos espelhos 84 A vida dos outros 87 Flores de carne 88 A arte do movimento perpétuo 89 Lugar comum 90

Lâmina e silêncio 91 Próximas atrações 92 O medo do minimalista 95 Trilha para cegos 96 Permian Strata98 A lógica das sensações 99 A dissecação e reconstrução de Marilyn Monroe – parte 2 101 Naufrágio com espectador 102 Boas maneiras 103 Lacerações104 A sobrevivência dos mortos 105 Não olhe agora 108 MacGuffin109 Em memória de meus sentimentos 110 Anedota tardia 111 Marés113 A razão dos dias 114 Continuação115 O olho 117 Tabula rasa118 6equj5119 Geografia do corpo 120 Einstein na praia 122 A dissecação e reconstrução de Marilyn Monroe – parte 3 127 Descoberta128 O corte preciso 129

A poesia em que se perderia mais sangue seria a mais forte. Georges Bataille

Estamos todos em nossas armadilhas – presos nelas. Norman Bates, em Psicose, de Alfred Hitchcock

ela entre os desaparecidos

Nada impede de se cortar com o que a forçaram a ser: perseguidora, vingadora, puta. Ó meu anjo cruel com um olho apenas.

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a última chuva

Sem rastros, a ponto de ser. O movimento que reivindica não é o do corpo em pé, do silêncio confinado nos pulmões, mas o da fome além das máquinas, da lâmina à extremidade da carne, como se nenhum nome bastasse, e fosse estranha a forma da sede, a geometria de cada gota de sangue. Diferente do que pensa, nenhuma chuva apaziguará a noite, domesticará seus animais. Move-se em volta da mesa, além da chuva, dos ossos cobertos de lama, para encontrar, no fim, fotos rasgadas, a imagem de um rosto cortado pela própria sombra.

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noturno

A paisagem se move sem pressa. No início, não. Mas, com calma, as mãos sangram e a noite pelo silêncio se completa. À margem de tudo isso, caminhávamos.

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do que são feitas as meninas?

Negativo de cinzas, o gesto prestes a despedaçar a câmera, o enquadramento, a gravidade que se ajusta à falta de sentido, de tempo para ver o que há atrás dela. Como sublimar o corpo, deixar que a luz o molde em sombras, se ela entrelaça com as mãos não apenas os cabelos, mas o espaço vazio, a nudez jamais alcançada? Não é possível, aqui, entrar em detalhes, tudo não passa de improviso, de nunca haver plano, de a fuga ser tão fracassada quanto antes.

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Ela permanece congelada, inerte em um tempo que não é mais o nosso, com os olhos ocultos, quem sabe cegos para as armadilhas colocadas à sua volta.

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elephant man

i Noite, como se a chuva estivesse caindo e estes retornos e faces não fossem coisas impossíveis. As marés não diriam o motivo nem as horas seriam melhores do que antes, (ali a noite) e seus olhos se machucam com o vento. Qual a idade do rosto,

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desse nariz que toca os pés sem saber por que se movem? Seus olhos machucam o vento e no tumulto se acalmam sem colocar ordem no mundo.

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ii São voltas as marcas que a pele deixa quando se aproximam. O laço no pescoço não diz qual a vontade, o espelho escapa à forma e todos os sentidos desabam frente à lua e ao crânio. Ele merece um castigo maior, talvez mesmo um espelho maior que o gesto inocente não quebre sem a medida de seus anéis.

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iii Sob o peso das orelhas, escondia-se a luz. Ali, onde todos os animais saíam à noite como se a noite fosse a única dor que seus pés ensaiavam, como se pequenos impulsos revelassem o rosto e as feridas que os caçavam.

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iv A boca, sem as extremidades dos lábios, levada até o chão com seu cheiro e fome, ao mesmo tempo morte e o que se deixa depois da morte, a boca sem a cumplicidade dos olhos, o sol marcado por cinzas, peles, nenhuma troca além.

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