Como Melhorar a Qualidade das Inferências nos Estudos de Caso em Relações Internacionais

Share Embed


Descrição do Produto

26/07/2016 Como Melhorar a Qualidade das Inferências nos Estudos de Caso em Relações Internacionais? | VOX MAGISTER: as relações internacionais pel…

Como Melhorar a Qualidade das Inferências nos Estudos de Caso em Relações Internacionais? Publicado por marimenesesss14 de janeiro de 2016

Por Augusto Teixeira Jr.*

Seja pelo baixo apreço  por  métodos  quantitativos  em  Relações  Internacionais  no Brasil ou pela predileção por explorar  complexas  cadeias  causais,  os  Estudos  de  Caso  podem  ser  uma  poderosa  ferramenta  de  pesquisa[1]. Apesar  de  ser  um  desenho  de  pesquisa  cada  vez  mais  relevante,  dotado  de  uma  expressiva  literatura  que  o discute, tradicionalmente apresenta limites clássicos, em particular no que tange à qualidade ou força de suas inferências.  Dito  de  uma  forma  simples,  inferir  é  dizer  algo  sobre  o  que  não  se  conhece  a  partir  do  que  é conhecido.  Desta  forma,  toda  inferência  pressupõe  um  grau  de  incerteza  e  possibilidade  de  falseamento.  Na prática, o labor científico é feito da produção de inferências sobre a realidade, no nosso caso, internacional.  Possibilidades de Generalização com Estudos de Caso Quando falamos de Estudos de Caso, um desafio nos é posto: como produzir boas inferências com uma pequena quantidade  de  observações  típicas  de  Single  Case  Study?  Esta  questão  é  fundamental  no  que  diz  respeito  ao nível de generalização que o pesquisador busca alcançar em seu labor. Entre a descrição, classificação, análise e previsão, o nível de generalidade do conhecimento produzido oscila entre o nulo, o mínimo e o máximo. E nesse sentido,  vale  indagar  se  é  possível  inferir  e  generalizar  com  Estudos  de  Caso  ou  se  seria  essa  estratégia  de pesquisa apenas um guia para a descrição organizada e sistemática. Se é possível, então como inferir com apenas um  Caso?  Para  responder  a  esta  questão,  vale  a  pena  dispensar  algumas  linhas  sobre  quais  razões  levam pesquisadores a optar por este tipo de estratégia de investigação. Um motivo comum está relacionado ao tipo de pergunta de pesquisa em pauta. Muitas vezes o pesquisador esta preocupado  com  um  evento  em  particular.  “O  que  levou  a…”,  “por  que  este  resultado?”,  “o  que  explica determinada decisão”, etc. Este tipo de pergunta está preocupado com fatos, eventos e acontecimentos que, em virtude de uma boa problematização, merecem o escrutínio científico. Neste caso, a opção pela generalização é Home https://voxmagister.wordpress.com/2016/01/14/como­melhorar­a­qualidade­das­inferencias­nos­estudos­de­caso­em­relacoes­internacionais/ 1/3 acessória.  Mais  vale  uma  boa  resposta  ao  dilema  em  tela  do  que  a  formulação  de  elementos  generalizáveis.

26/07/2016 Como Melhorar a Qualidade das Inferências nos Estudos de Caso em Relações Internacionais? | VOX MAGISTER: as relações internacionais pel…

acessória.  Mais  vale  uma  boa  resposta  ao  dilema  em  tela  do  que  a  formulação  de  elementos  generalizáveis. Entretanto,  observe‑se  que  o  Caso  serve  não  apenas  para  descrever,  mas  para  explicar  algo  através  da  análise empírica. Outra razão consiste em usar um Caso para testar, confirmar ou problematizar uma determinada teoria. Nestas situações  é  fundamental  a  conexão  entre  evento  e  o  fenômeno.  Nesta  circunstância  o  Estudo  de  Caso  dialoga com a possibilidade de generalização no campo teórico. Não é que o estudo do caso em si possibilite generalizar uma  inferência,  mas  ele  traz  elementos  para  testar  ou  problematizar  uma  determinada  teoria.  Nesse  sentido, como  desenvolvido  por  George  e  Benne[2]  em  Case  Studies  and  Theory  Development  in  Social  Sciences,  o desenho de pesquisa em tela pode ser uma ferramenta útil tanto para o avanço teórico como para o conhecimento empírico. Pensar a Revisão Teórica e de Literatura como parte da Metodologia Dito  isto,  voltamos  à  questão  sobre  como  produzir  inferências  fortes  a  partir  do  emprego  de  Estudo  de  Caso. Tradicionalmente o percurso de investigação científica é o seguinte: o pesquisador seleciona um tema e, a partir deste, o objeto, do objeto deriva o problema e do problema, a melhor opção metodológica para resolver o puzzle estruturado  na  investigação[3].  Normalmente,  articula‑se  um  nexo  entre  problema  e  literatura  (teórica, empírica  ou  ambas).  Após  uma  criteriosa  revisão  de  literatura,  a  partir  da  escolha  da  linha  analítica  a  ser perseguida, o investigador apresenta a sua teoria, conjunto de autores e conceitos que utilizará para destrinchar o  problema  de  pesquisa.  Nesta  enquadratura,  realiza  a  pesquisa,  coleta  os  dados  apontados  pelo  framework teórico, analisa os dados e as variáveis, reflete sobre eles, sintetiza os resultados e produz conclusões. De uma forma  geral,  este  caminho  é  suficiente  para  a  produção  de  inferências.  Entretanto,  o  Estudo  de  Caso  pode  ser potencializado para a produção de inferências mais fortes, inclusive de cunho causal. Mas como? Voltemos para a revisão da literatura. Primeiramente,  independente  de  qual  seja  o  problema  de  pesquisa  empírico  que  o  referido  Estudo  de  Caso enfrente, ele se filia a um ou mais tipos de fenômeno[4]. Ao estabelecer a relação entre evento (Caso) e fenômeno (teoria),  o  pesquisador  coloca  a  sua  pergunta  empírica  em  contato  com  debates  num  campo  de  abstração superior, talvez útil para a investigação[5]. Na prática, ao conectar caso e teoria, o pesquisador poderá organizar na revisão da literatura distintos caminhos causais e estratégias explicativas para o problema em apreço. Cada teoria  distinta  pode  partir  de  bases  ontológicas,  epistemológicas  e/ou  metodológicas  distintas.  Com  isso,  o desenho de pesquisa amplia o conjunto de distintas respostas possíveis ao problema posto, reforçando assim a força  e  qualidade  de  suas  inferências  pelo  choque  com  explicações  rivais[6].  Em  segundo  lugar,  a  Revisão  da Literatura,  autores,  artigos  e  textos  de  expressiva  relevância  podem  ter  a  função  de  organizar,  através  da classificação  de  distintas  explicações,  variáveis  e  conceitos  aptos  a  produzir  respostas  ao  que  se  quer  saber (variável dependente). Conclusão: maximizando as observações a partir da inclusão de explicações concorrentes ao puzzle A esta altura, o leitor poderá se perguntar: por qual razão me daria ao trabalho de pensar a revisão da literatura teórica e empírica como parte da estratégia metodológica? A resposta é simples e pode ser dada em três pontos: 1. cada  linha  de  investigação  apresenta  uma  estratégia  de  pesquisa,  conceitos  e  variáveis  que  apontam  para distintas possibilidades explicativas do problema posto; 2. a  conexão  Caso  e  Teoria  facilita  a  produção  de  hipóteses  com  maior  capacidade  de  generalização  ou,  ao menos, promove o diálogo com debates no campo do fenômeno em apreço (teoria geral ou de médio alcance); 3. levar  em  consideração  distintas  teorias  ou  “abordagens”  que  competem  pela  explicação  do  problema  de pesquisa ajuda a aumentar a força das inferências produzidas na pesquisa. A incorporação destes aspectos no planejamento da pesquisa contribui para mitigar o clássico limite dos Estudos de Caso, o de possuir muitas variáveis e poucas observações. Cada caminho causal proposto por uma teoria ou abordagem sobre o mesmo evento em estudo aumenta a quantidade de observações intra‑caso, possibilitando o https://voxmagister.wordpress.com/2016/01/14/como­melhorar­a­qualidade­das­inferencias­nos­estudos­de­caso­em­relacoes­internacionais/ 2/3 pesquisador a pensar no Estudo de Caso como um desenho de pesquisa rigoroso e sensível à complexidade que os

26/07/2016 Como Melhorar a Qualidade das Inferências nos Estudos de Caso em Relações Internacionais? | VOX MAGISTER: as relações internacionais pel…

pesquisador a pensar no Estudo de Caso como um desenho de pesquisa rigoroso e sensível à complexidade que os métodos qualitativos privilegiam. ———‑ *  Doutor  em  Ciência  Política  pela  Universidade  Federal  de  Pernambuco  (UFPE).  Atualmente  é  professor Adjunto  do  Departamento  de  Relações  Internacionais  da  UFPB.  Líder  do  Grupo  de  Pesquisa  em  Estudos Estratégicos e Segurança Internacional (GEESI/UFPB /CNPq). Membro da Associação Brasileira de Estudos de Defesa. [1] Sobre a relevância crescente dos Estudos de Caso para a disciplina de Relações Internacionais, ver o artigo “Reavivando o método qualitativo: as contribuições do Estudo de Caso e do Process Tracing para o estudo das Relações Internacionais (hp://www.seer.ufrgs.br/index.php/debates/article/download/52333/33509)”. [2]  GEORGE,  Alexander  L;  BENNETT,  Andrew.  Case  studies  and  theory  development  in  Social Sciences. BCSIA Studies in International Security. Cambridge: MIT Press, 2005. [3]  Sobre  puzzle  em  questões  de  pesquisa,  ver  o  texto  “Montando  o  puzzle  para  a  pesquisa  em  Relações Internacionais  (hps://voxmagister.wordpress.com/2015/11/25/montando‑o‑puzzle‑para‑a‑pesquisa‑em‑ relacoes‑internacionais/)”. [4] Por exemplo: cooperação, conflito, Paz, Guerra. [5] Exemplo: Guerra da Síria (Caso) → Teoria da Guerra (fenômeno = Guerra). [6] Inclusive, surge com isto a possibilidade do emprego do pluralismo teórico e metodológico como estratégia de estudo.

———————————————————————————————————————————————— As  opiniões aqui expressas  são  de  responsabilidade  exclusiva  de  seu/sua  autor  e, portanto, não representam a opinião do Vox Magister nem de todos os seus colaboradores. Sobre estes anúncios (https://wordpress.com/about­these­ads/)

Voos para São Paulo

R$ 172

Ver agora

Voos para São Paulo

R$ 616

Ver agora

Voos para João Pessoa

R$ 616

Ver agora

Publicado em: Ensino e Pesquisa, Teoria e EpistemologiaLink permanenteDeixe um comentário Crie um website ou blog gratuito no WordPress.com.  Tema Columnist.

https://voxmagister.wordpress.com/2016/01/14/como­melhorar­a­qualidade­das­inferencias­nos­estudos­de­caso­em­relacoes­internacionais/

3/3

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.