Comparação de Impactos Ambientais Relacionados à Construção de Dois Modelos de Aviários Usados no Brasil

June 19, 2017 | Autor: Vamilson Da Silva | Categoria: Life Cycle Assessment, Análise do Ciclo de Vida
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III Congresso Brasileiro em Gestão do Ciclo de Vida de Produtos e Serviços “Novos desafios para um planeta sustentável” 03 a 06 de setembro de 2012 Maringá – PR - Brasil

Comparação de impactos ambientais relacionados à construção de dois modelos de aviários usados no Brasil E. CHERUBINI1, G. M. ZANGHELINI1, S. R. SOARES1, B. M. GALINDRO1, V. P. DA SILVA JR2 e M. A. SANTOS3 1

Grupo de Pesquisa em Avaliação de Ciclo de Vida (CICLOG), Pós-Graduação em Engenharia Ambiental, Universidade Federal de Santa Catarina Centro Tecnológico, Campus Universitário, Trindade, Caixa Postal 476, 88040-970. Florianópolis, SC, Brasil. [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected] 2

Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina Rodovia Admar Gonzaga, 1.347, Itacorubi, Caixa Postal 502, 88034-901, Florianópolis, SC, Brasil [email protected] 3

Eng. Agrônomo - Especialista em Gestão Ambiental Agroindustrial. [email protected]

A metodologia de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) permite aos gestores obter informações de opções que visem um melhor desempenho ambiental de seu produto/serviço. Este trabalho teve como objetivo avaliar sob o ponto de vista ambiental dois cenários de construção de aviários: 1) Baixo investimento, com pouca automação, com dimensão menor, piso de chão batido, estruturas de sustentação oriundas de madeira de reflorestamento, com as extremidades composta por pilares de concreto pré-moldado, tijolos e reboco e cobertura com telhas de amianto; 2) Alto investimento, completamente automatizado, com sapatas armadas em toda a extensão dos pilares, piso e estrutura de sustentação de concreto e com cobertura de telhas de barro. Os cenários foram analisados em função da capacidade de alojamento de aves, de modo que a unidade funcional para a ACV foi alojar 1000 frangos de corte em sistema confinado. A ferramenta de auxílio para a análise do inventário foi o software SimaPro® e banco de dados Ecoinvent®, o método utilizado para avaliação de impacto ambiental foi o ReCiPe 2008 endpoint e os resultados foram avaliados primeiramente por meio de categorias de danos (danos à saúde humana, danos ao ecossistema, danos à disponibilidade de recursos) e posteriormente por pontuação única. Como resultado geral obteve-se que o cenário de alto investimento apresentou melhor desempenho ambiental por 1000 frangos alojados.

1. Introdução Em um tempo em que a inovação se torna o grande passo a ser dado para ganho de competitividade, questões como responsabilidade social e ambiental devem estar bem difundidas dentro de qualquer negócio. No entanto, se por um lado os avanços em tecnologias e

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no cumprimento das legislações ambientais dentro das indústrias têm contribuído para a diminuição significativa dos impactos ambientais, aparentemente não existindo mais oportunidade para grandes melhorias, por outro, quando analisada toda uma cadeia produtiva, percebe-se que as etapas que outrora não seriam nem contabilizadas, podem ser causadoras de grande parte dos impactos ambientais de um sistema de produto. E são esses processos intermediários (construção civil, aquisição de matérias-primas, cultivo, etc.) que normalmente oferecem maiores possibilidades de melhorias, buscando diminuir os passivos ambientais, almejando a sustentabilidade. O Brasil como grande exportador de produtos de origem agropecuária deve estar atento a novas oportunidades de aperfeiçoamento de seus processos produtivos. A metodologia de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) regulamentada pelas normas NBR ISO 14040 e 14044 / 2009 possibilita a compilação de fluxos de entrada e saída de todos os processos de uma cadeia produtiva dentro de uma abordagem chamada de berço ao túmulo (cradle-to-grave) (ABNT, 2009). Desta maneira, permite aos tomadores de decisões ter o domínio de informações de toda a cadeia do produto ou serviço analisado, fornecendo embasamento para melhores escolhas do ponto de vista ambiental. Visando identificar melhores oportunidades ambientais e maior conhecimento do impacto relacionado à construção de um aviário, este artigo teve como objetivo avaliar sob o ponto de vista ambiental dois cenários de construção de aviários: 1) Baixo investimento e 2) Alto investimento.

2. Metodologia A metodologia utilizada neste estudo foi a de Avaliação de Ciclo de Vida proposta pelas normas NBR ISO 14040 e 14044. O sistema de produto desta ACV é o aviário, construção física para a criação de aves de corte, como o frango por exemplo. O escopo moldou-se na comparação entre dois cenários possíveis, e largamente utilizados atualmente na avicultura brasileira. Os cenários de construção de aviários avaliados neste estudo estão detalhadamente descritos nos itens 2.1 e 2.2 deste artigo. A função escolhida para este sistema de produto foi a capacidade de alojar frangos de corte, buscando-se uma comparação justa entre os cenários. Definiu-se a unidade funcional como quantidade de área construída para alojar 1000 frangos de corte em sistema de confinamento. A fronteira de sistema compreende desde a aquisição das matérias-primas e a fabricação do material utilizado na construção dos aviários. Neste estudo não foram considerados os transportes dos materiais até a propriedade e os impactos da produção e uso dos maquinários e equipamentos utilizados na construção do aviário. Entretanto foram considerados a energia e material usados na operação/manutenção, baseando-se em uma vida útil de 30 anos. Os dados de aquisição de matérias-primas e fabricação dos materiais são oriundos da base de dados Ecoinvent®, enquanto que os dados relacionados a medidas e características dos galpões foram obtidos por meio de pesquisa bibliográfica, sendo que as quantidades de material para construção de cada modelo de aviário foram obtidos de uma empresa multinacional do ramo de criação de aves de corte atuante no Brasil.

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A Análise de Inventário de Ciclo de Vida foi realizada com o auxilio do software SimaPro®, e os impactos avaliados por meio do método ReCiPe 2008 endpoint. Optou-se por interpretar os resultados através das categorias: danos à saúde humana, danos ao ecossistema e danos à disponibilidade de recursos. 2.1 Aviário de Baixo Investimento O cenário do aviário de baixo investimento representa uma estrutura atualmente utilizada em propriedades baseadas em agricultura familiar com pouca automação, realidade em parte do estado de Santa Catarina, com medidas de 12 X 50 m conforme descritas por Heizen (2006). A altura do pé direito é de 3,50 m como definido por Souza (2010) para a região sul do Brasil. Admitiu-se que os materiais e práticas de construção civil são mais simples e menos onerosos. A fundação do galpão é a de concreto ciclópico (concreto e matacões) com profundidade de 0,8 m sobre leito bem compactado, típico de galpões menores (SOUZA, 2010), com piso de chão batido, na qual a cama para as aves é disposta, sendo que as muretas laterais em todo perímetro do galpão são de concreto pré-moldado. A mureta serve como retenção da cama de aviário e proteção contra correntes de ar e a entrada de animais (EMBRAPA, 2009). Para a estrutura de sustentação (pilares, vigas e treliças) adotou-se a madeira de reflorestamento como material, com as extremidades do aviário composta por pilares de concreto pré-moldado, tijolos e reboco. O telhado é de amianto (preço mais acessível), com pintura característica para reflexão solar. As aberturas laterais possuem telas de arame, para evitar a entrada de pássaros (EMBRAPA, 2009). Assumiu-se que o aviário e seus equipamentos possuem uma vida útil de 30 anos, enquanto as estruturas de madeira, cobertura de amianto e tela de proteção lateral, de 10 anos. É possível visualizar a concepção construtiva do aviário de baixo investimento na Figura 1. A densidade de animais considerados será a utilizada por Silva Jr (2011) para a região sul brasileira de 11,7 animais/m². Logo para alojar 1000 frangos de corte são necessários 85,47 m² deste aviário, que possui área de 600 m². 2.2 Aviário de Alto Investimento Este cenário pretende representar a estrutura de aviários destinados especificamente para a produção de frangos de corte em um sistema integrado de produção vertical. É completamente automatizado com medidas superiores às do aviário de baixo investimento, sendo adotadas as propostas por Tinôco (2001) com 12 m de largura por 125 m de comprimento com o pé direito de 3,50 metros conforme definido por Souza (2010). A fundação deste galpão é a descrita por Souza (2010), para o caso de galpões maiores, construídos sobre sapatas armadas em toda a extensão dos pilares, com piso de concreto com espessura de 6 a 8 cm de concreto no traço 1:4:8 (cimento, areia e brita) ou 1:10 (cimento e cascalho), revestido com 2 cm de espessura de argamassa 1:4 (cimento e areia) (EMBRAPA, 2003). A estrutura de sustentação é de concreto armado, com as paredes na extremidade construídas até o teto, compostas por tijolos possuindo acabamento em reboco. Em todo o perímetro do aviário, uma pequena mureta de 0,4 metros de altura é construída (em concreto pré-moldado), com o objetivo de manter a cama para as aves dentro do edifício e proteger os animais de ações de correntes de ar e da entrada de animais (EMBRAPA, 2009).

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Para a cobertura do galpão considerou-se a colocação de telhas de barro, que, conforme Tinôco (2001) são melhores termicamente que o amianto comum e que a de alumínio quando esses oxidam. Entre a mureta e o telhado, deve ser colocada tela, que tem a finalidade de proteger e limitar a circulação das aves. Conforme a EMBRAPA (2003), a malha da tela deve ser de 2,5 cm, fio 16. Para este estudo adotou-se a tela de PVC que tem a característica de não enferrujar, não provocar rasgos nas cortinas, ter maior durabilidade e possibilidade de reaproveitamento. É possível visualizar a concepção construtiva do aviário de alto investimento na Figura 1. Para a cobertura e equipamentos assumiu-se 30 anos de vida útil, enquanto que para as estruturas de madeira 10 anos. A tela de proteção lateral (PVC) têm uma vida útil de 15 anos. A densidade de animais considerados foi de 15 animais/m², conforme Silva Jr (2011) para a região centro oeste brasileira, considerada como uma região de produção industrial de alta intensidade. Logo para alojar 1000 frangos de corte são necessários 66,67 m² de um aviário de alto investimento, com área de 1500 m².

Figura 1. Aspectos construtivos dos aviários. (A) Aviário de baixo investimento; (B) Aviário de alto investimento.

3. Resultados A análise dos resultados demonstrou que para as categorias saúde humana e danos à disponibilidade de recursos o aviário de baixo investimento demonstrou melhor desempenho ambiental, enquanto que para a categoria danos ao ecossistema o aviário de alto investimento apresentou um desempenho ambiental bastante superior ao de baixo investimento, como pode ser observado na Figura 2.

Avaliação de Danos Alto invest. X Baixo invest. 100 80

%

60 40 20 0

Saúde Humana

Ecossistema

Recursos

Aviário de Alto Investimento (30 anos) Aviário de Baixo Investimento (30 anos)

Figura 2. Avaliação de Aviário de Alto X Baixo investimento por categoria de danos.

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No entanto, o resultado comparativo dos cenários por meio da avaliação por categoria de danos não evidencia o cenário de pior desempenho ambiental. Para tanto, foi elaborado um gráfico com o sistema de pontuação única, que confere pesos às categorias de danos realizando uma soma ponderada dos resultados. Para esta avaliação os pesos assumidos foram os sugeridos no próprio método ReCiPe que atribui peso 0,4 para as categorias saúde humana e danos ao ecossistema, 0,2 para a categoria de danos à disponibilidade de recursos. Na Figura 3 podem ser visualizados os resultados ponderados.

Avaliação de danos Alto invest X Baixo invest 100

%

80 60 40 20 0

Aviário de Alto Investimento Aviário de Baixo Investimento (30 anos) (30 anos)

Saúde Humana

Ecossistema

Recursos

Figura 3. Avaliação de Aviário de Alto X Baixo investimento por pontuação única. 4. Discussão Na Figura 2 o maior impacto para a categoria “danos à saúde humana” do aviário de alto investimento está associada ao maior consumo de cimento para a construção do piso do aviário, responsável pela emissão de grandes quantidades de gases de efeito estufa, enquanto o aviário de baixo investimento usa piso de chão batido. Para a categoria danos ao ecossistema o maior consumo de madeiras e a maior necessidade de área para a unidade funcional contribuem para um maior dano causado pelo uso do aviário de baixo investimento. Na categoria disponibilidade de recursos o maior impacto do aviário de alto investimento está associado ao consumo de recursos fósseis para a fabricação das telhas e do cimento, enquanto o aviário de baixo investimento consome mais metais devido ao uso de telas de arame. Quando analisados os resultados por meio da pontuação única (Figura 3) percebe-se que devido aos pesos atribuídos pelo método ReCiPe, embora o aviário de baixo investimento apresente desempenhos ambientais superiores ao de alto investimento para duas das três categorias de danos avaliadas, este se torna o cenário mais indicado quando pretende-se diminuir os impactos ambientais totais.

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5. Conclusões Com relação ao objetivo principal, concluiu-se que o aviário de alto investimento é a melhor opção ambiental por 1000 frangos alojados em sistema de confinamento. Percebe-se que no caso de decisões tomadas simplesmente com base nos melhores desempenhos das categorias de danos, a escolha pode não ser a mais viável ambientalmente quando adicionados pesos para as categorias. Por outro lado, o uso da pontuação única acrescenta subjetividade à decisão, de modo que isso só deve ser adotado mediante uma análise crítica nos valores de ponderação utilizados pelo método. Outro aspecto observado é que métodos de avaliação de danos finais (endpoint) dificultam o rastreamento da origem dos impactos de um produto. A título de continuidade deste trabalho, sugere-se a realização de uma análise com categorias midpoint, de modo a identificar a origem dos impactos e complementar as conclusões quanto aos cenários.

Referências ABNT NBR ISO 14040: Gestão ambiental – Avaliação do ciclo de vida – Princípios e estrutura. Rio de Janeiro, 2009. 21 p. EMBRAPA, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Sistema de Produção de Frangos de Corte. Versão Eletrônica, Jan/2003. Disponível em http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/. Acesso em 27/10/2010. ______. Construção de aviários para produção de frangos de corte em sistemas alternativos em pequena escala / autores, ALBINO, Jacir Albino; BASSI, Levino José; SAATKAMP, Márcio Gilberto; LORENZET, Alexandre Luiz. Versão eletrônica. Embrapa Suínos e Aves, 22 p., ConcórdiaSC, 2009. HEIZEN, Leonardo Ferreira. A Realidade de uma Pequena Empresa da Avicultura Catarinense. Relatório de Estágio de Conclusão de Curso – Centro de Ciências Agrárias – Departamento de Zootecnia e Desenvolvimento Rural – UFSC. Florianópolis: 2006. 44 p. SILVA JR, Vamilson Prudêncio da. Effects of intensity and scale of production on environmental impacts of poultry meat production chains: Life cycle assessment of French and Brazilian poultry production scenarios. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós Graduação em Engenharia Ambiental, Florianópolis, 2011. SOUZA, Cecília de F. Instalações para Frango de Corte e Poedeiras. Cadernos Didáticos e Apostilas. Núcleo de Pesquisa em Ambiência e Engenharia de Sistemas Agroindustriais. Universidade Federal de Viçosa, 2010. 17 p. Disponível em http://www.ufv.br/dea/ambiagro/gallery/publicacoes.html. Acesso em 27/10/2010. TINÔCO, I. F. F. Avicultura industrial: novos conceitos de materiais, concepções e técnicas construtivas disponíveis para galpões avícolas brasileiros. Revista Brasileira de Ciência Avícola, Campinas, v.3, n.1, p.1-26, 2001. Disponível em http://www.scielo.br/. Acesso em 27/10/2010.

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