Comparação entre três programas de pós-graduação na área florestal

May 28, 2017 | Autor: E. Bonfatti Júnior | Categoria: Forestry Science
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VIÇOSA/MG – 17 a 19 de setembro de 2012

Comparação entre três programas de pós-graduação na área florestal 1

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Pedro Augusto Costa Roriz ; Alexandre Assis Carvalho ; Eraldo Antônio Bonfatti Júnior 1 Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA ([email protected]); 2 3 Universidade de Brasília - UnB ([email protected]); Universidade de São Paulo - USP ([email protected]).

Resumo: Desde 1976 a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) realiza a avaliação dos programas/cursos de pós-graduação no Brasil. Essa avaliação, apesar de reconhecida internacionalmente como eficiente método balizador de qualidade, sofre diversas críticas quanto ao foco e objetivo. Nesse sentido, visando estabelecer uma comparação diferenciada dos programas de pós-graduação em Ciências Florestais da UnB, em Ciências de Florestas Tropicais do INPA e em Recursos Florestais da USP, foi realizado levantamento quantitativo das dissertações e teses defendidas no período de 2004 a 2011, por meio do currículo na Plataforma Lattes dos pesquisadores cadastrados nos programas, banco de teses e junto às secretarias das respectivas instituições. Comparou-se os dados graficamente e discutiu-se as características relacionadas às áreas de produção específicas de cada programa. Os resultados mostraram uma tendência de trabalhos variável conforme a instituição, sendo maior a quantidade na USP. As áreas de atuação refletiram as regionalidades e especificidades dos programas. Palavras-chave: Pós-graduação; Ciências Florestais; Avaliação Capes. 1. Introdução A definição de pós-graduação no Brasil veio por meio do parecer n° 977, ou parecer Sucupira, escrito pelo professor Newton Sucupira, da Câmara de Ensino Superior do Conselho Federal de Educação, no ano de 1965. O parecer caracteriza a pós-graduação em sensu stricto e sensu lato. A primeira trata a respeito dos níveis de mestrado e doutorado; e a segunda, dos cursos profissionalizantes e de aperfeiçoamento (BOMENY, 2001). A lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996) evidencia o discernimento entre os dois tipos de pós-graduação denominando “programas de pós-graduação”, os níveis de mestrado e doutorado, e “cursos de pós-graduação”, os graus de especialização e aperfeiçoamento. Nesse contexto, originaram-se os programas de pós-graduação em Ciências Florestais da Universidade de Brasília; em Ciências de Florestas Tropicais do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia; e em Recursos 1

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Florestais

da

Universidade

de

São

Paulo,

cada

qual

apresentando

particularidades referentes à região em que estão inseridos e aos temas de pesquisa. Apesar das diferenças, os três programas são submetidos à mesma avaliação trienal organizada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que atribui notas em escala de 1 a 7, visando estabelecer um parâmetro de qualidade para a pós-graduação. No intuito de contribuir com a discussão sobre a avaliação Capes, o trabalho tem por objetivo comparar os três programas supracitados, considerando a produção de dissertações e teses e as características regionais e específicas de cada um. 2. Metodologia Para comparação foi feito levantamento junto à secretaria dos programas, banco de teses e por meio do currículo dos pesquisadores na Plataforma Lattes, das dissertações e teses defendidas no período de 2004 a 2011. Fez-se a busca tanto no currículo dos pesquisadores cadastrados nos programas quanto no currículo daqueles que não compõem o quadro efetivo, mas tiveram orientações no período determinado. Estipulou-se 2004 como ano inicial da análise por ser a data coincidente com a inserção do nível de doutorado nos programas de pósgraduação da UnB e do INPA. As produções foram divididas segundo as grandes áreas de atuação de cada programa, conforme consta nas páginas eletrônicas e nos editais de ingresso. Para melhor apresentar as comparações, por meio do programa Microsoft Excel 2010, foram gerados gráficos do desempenho de cada curso, segundo as áreas de atuação. As informações sobre o desempenho, segundo os critérios da Capes, foram consultadas a partir dos resultados referentes às avaliações trienais (2004, 2007 e 2010) de cada programa, disponíveis no endereço eletrônico http://www.capes.gov.br/avaliacao/resultados-da-avaliacao-de-programas. 3. Resultados e Discussão A UnB iniciou seu programa de pós-graduação, em 1997, com nota Capes 3 e a partir de 2004 passou para nota 4. No INPA, em 1980, teve início a pós2

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graduação em ciências de florestas tropicais, chegando a nota 4 em 2004 e atingindo nota 5 em 2010. O programa da Universidade de São Paulo é o mais tradicional no Campus “Luiz de Queiróz” em Piracicaba – SP. Em 1976, iniciou o programa de Ciências Florestais e, em 1992, o programa Ciência e Tecnologia da Madeira. Em 2000, com a fusão desses dois programas, nasceu, com nota Capes 4, o então chamado programa de Pós-Graduação em Recursos Florestais, ao final de 2009 o programa foi avaliado recebendo nota Capes 5. A Capes avalia, entre outros aspectos, a quantidade de trabalhos apresentados ao final de cada programa, sendo mais bem pontuados aqueles que tiverem maior número e que não requisitaram prorrogação. Tal análise não atesta a qualidade dos trabalhos que são concluídos e, por isso, traz consigo uma subjetividade que mascara, em partes, a realidade. Por outro lado, a pressão para o volume de publicações pode fazer com que os cursos saiam inchados de trabalhos, muitas vezes, sem conteúdo, mas que preenchem requisitos. A qualidade de ensino como objetivo primeiro tem sido relegado a patamares menos elevados (SILVA, 1999; SPAGNOLO e SOUZA, 2004; SILVA, 2007). Não há de se questionar o nível do ensino oferecido pelos três programas em questão, sendo eles destaques em suas regiões, mas sabe-se que não podem ser tidos como exemplos para refletir a realidade do restante das instituições. No período determinado de oito anos, foram produzidos, nos programas das três instituições, 452 trabalhos, entre dissertações e teses, sendo 110 no INPA, 150 na UnB e 192 na USP havendo padrão oscilatório nas duas universidades e uma tendência crescente no instituo de pesquisas (Figura 1). Nas três instituições, de 2004 a 2011, a quantidade em média, aumentou mais que o dobro.

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Qtd. trabalhos

VIÇOSA/MG – 17 a 19 de setembro de 2012 40 35 30 25 20 15 10 5 0

INPA UnB USP

Ano

FIGURA 1: Quantidade de trabalhos da pós-graduação (mestrado e doutorado) produzidos por ano.

O ensino das Ciências Florestais, dividido em grandes áreas, revela especificidades locais, além de, entre outros, interesses estruturais e de cunho financeiro. A figura 2 apresenta a tendência de publicações de cada instituição, tendo como base as grandes áreas divididas pelos programas. 80.0

71.8

% Trabalhos

70.0 60.0 50.0 40.0 30.0

48.7 39.0 34.0 29.3

20.0

UnB 27.0 22.0

28.2

USP INPA

10.0 0.0 CN

MF

TUPF

ST

Áreas de concentração

FIGURA 2: Porcentagem de trabalhos publicados por área de concentração. Legenda: CN = Conservação da Natureza (apenas UnB e USP); MF = Manejo Florestal (todas); TUPF = Tecnologia e Utilização de Produtos Florestais (apenas UnB e USP); e ST = Silvicultura Tropical (apenas INPA).

A USP, visivelmente, foi a que apresentou um melhor aproveitamento das potencialidades do programa, não tendo uma concentração tão evidente em nenhuma área, como é o caso da UnB, com 49% em conservação e do INPA, com 72% em manejo florestal. No entanto, há de se ponderar que as tendências não seguem apenas uma referência quantitativa. Cada instituição tem maior incentivo econômico, social e cultural, para a produção em dadas áreas, levando ainda em consideração as questões regionais. Toma-se, como exemplo, o caso da UnB, onde, dos professores que orientaram os trabalhos apresentados (sendo 4

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eles tanto do quadro efetivo como não), 50% era da grande área “Conservação da Natureza”, ou seja, é natural que a concentração tenha sido maior nessa área. No entanto, houve ingresso de docentes (nos anos de 2006, 2009 e 2011) para a grande área “Manejo Florestal”, enquanto que a “Conservação da Natureza” teve egressos em 2009. Tal fato pode explicar a razão de a produção ter invertido a tendência no último ano. O programa de pós-graduação do INPA, por estar inserido no bioma amazônico, tem afinidade maior pelo manejo e silvicultura, voltando seu foco apenas para essas áreas. Apesar de gerar limitações, essa estratégia permite maior aprofundamento por temas ainda pouco estudados e altamente relevantes para a conservação do bioma. A divisão dos programas em grandes áreas é uma tentativa de direcionamento das pesquisas realizadas ao contexto regional de cada instituição, de acordo com as demandas existentes. 4. Conclusão Os cursos de pós-graduação na área florestal têm seus temas de pesquisa direcionados de acordo com as regionalidades, disponibilidade de pesquisadores e interesses financeiros. Portanto, a avaliação Capes deve desenvolver meios para captar as regionalidades e particularidades de cada instituição, tornando o processo mais representativo da realidade. Referências Bibliográficas BOMENY, H. Newton Sucupira e os rumos da educação superior. Brasília: Paralelo 15, CAPES, 2001.128p. BRASIL. Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil]. Brasília, DF, v. 134, n. 248, p. 27833-27841, 23 dez. 1996. SILVA, A. L. da. Avaliação da Capes. Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, v. 26, n. 4, p. 6-7, 1999. SILVA, A. L. da. Pós-graduação e Capes. Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, v. 34, n. 6, p. 360, 2007. SPAGNOLO, F.; SOUZA, V. C. O que mudar na avaliação Capes? Revista Brasileira de Pósgraduação, v. 1, n. 2, p. 8-34, 2004.

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