Comparando a metodologia de três indicadores urbanos: o que eles dizem (e não dizem) sobre as cidades

May 31, 2017 | Autor: Brenda Espindula | Categoria: Indicadores Urbanos, Gestão Urbana
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Trabalho publicado nos Anais do IV Encontro Internacional de Ciências Sociais: espaços públicos, identidades e diferenças, Pelotas/RS, 2014. Artigo completo Comparando a metodologia de três indicadores urbanos: o que eles dizem (e não dizem) sobre as cidades

ESPINDULA, Brenda1

Palavras-chave: Indicadores urbanos; prosperidade urbana; condições coletivas de vida; qualidade de vida urbana; gestão urbana. Resumo: O artigo propõe analisar a metodologia de três indicadores sintéticos urbanos, a fim de comparar as dimensões consideradas na construção de cada instrumento, identificando, assim, os limites e as potencialidades de cada um para explicar a realidade dos espaços urbanos aos quais se destinam. O primeiro a ser estudado será o “City Prosperity IndexCPI”, desenvolvido pela UN-HABITAT (Programa das Nações Unidades para os Assentamentos Humanos), que pretende mensurar a performance das cidades do globo terrestre em termos de prosperidade. O segundo indicador analisado será O Índice de Bem-Estar Urbano (IBEU), produzido pelo INCT Observatório das Metrópoles, voltado para as cidades e regiões metropolitanas brasileiras. Por fim, será avaliado o “Índice de Calidad de Vida Urbana Cidades Chilenas – ICUV”, elaborado pelo Núcleo de Estudos Metropolitanos do Instituto de Estudos Urbanos e Territoriais da Pontifícia Universidade Católica de Chile e a Câmara Chilena da Construção. A avaliação dos aspectos conceituais e metodológicos na construção de indicadores sintéticos urbanos, mais ainda quando comparados índices desenvolvidos para diferentes cenários nacionais, pode contribuir para a problematização desses instrumentos enquanto balizadores das políticas públicas no processo da gestão urbana.

1 Estudante do Programa de Mestrado em Sociologia – IFCH/UFRGS. Email: [email protected].

1. “Problemática” da cidade e instrumentos de gestão urbana Como ponto de partida para sustentar uma possível definição à categoria cidade, a ser tratada neste artigo, dialoga-se com a preocupação de Lefebvre (2001, p. 45) pela qual pondera que a cidade, mais do que um organismo ou sistema fechado e uno, é uma mediação. O autor lembra-nos que a cidade já era uma realidade complexa quando a industrialização se desenvolve com a emergência do “capitalismo concorrencial com a burguesia especificamente industrial” (ibidem, p. 4), sendo centro da vida social e política que acumulavam riquezas, conhecimentos e técnicas. Por essa questão, Lefebvre (2001, p. 9) apresenta que, ao engendrar instituições como o dinheiro, o comércio, a mercadoria, a produção capitalista - e a estratégia de classe que deu sustentação a ela - configurou um duplo processo, constituído de uma tensão entre dois aspectos conflitantes: a cidade enquanto obra, valor de uso, não poderia ser reduzida a produto, valor de troca. Assim, o autor sustenta que “A cidade e a realidade urbana dependem do valor de uso. O valor de troca e a generalização da mercadoria pela industrialização tendem a destruir, ao subordiná-las a si, a cidade e a realidade urbana, refúgios do valor de uso, embriões de uma virtual predominância e de uma revalorização do uso” (LEFEBVRE, 2001, p. 6). Nesse sentido, considerando a cidade como forma urbana, pode-se entendê-la como um encontro da obra e do produto, como uma mediação que, ao mesmo tempo, intensifica as potencialidades do encontro e da reunião e cria as condições para a dispersão e a segregação dos grupos sociais. É com essa “problemática” da cidade que os diferentes especialistas, gestores e pesquisadores se deparam para pensar a gestão das cidades. Lefebvre pode contribuir, assim, para situar o debate sobre o papel dos indicadores sintéticos urbanos na gestão urbana, esses justificados como instrumentos para o planejamento da intervenção pública e para a expansão e descentralização da execução de políticas sociais. Pode-se associar a prática da construção de indicadores e índices urbanos, seja no âmbito governamental, quanto de instituições de pesquisa, à ideia de que os especialistas da realidade urbana trabalham com uma representação global, partindo de

extrapolações em nome de uma disciplina ou atitude interdisciplinar. As ciências parcelares da realidade social fragmentam a realidade a fim de analisá-la, trazendo “iluminações distintas sobre uma realidade unitária” (LEFEBVRE, 2001, p. 37). Sugere-se aqui que toda construção de índices tem essa orientação, pois pretendem falar de uma globalidade concebida enquanto cidade, partindo de um olhar especializado. O autor sugere que a representação global pode ser doutrina ou ideologia, como é o caso do urbanismo ao se tornar prática social, que se constitui como uma coleção de técnicas e aplicações (“regulamentação e administração do espaço construído”) que se quer afirmar como de interesse do conjunto da sociedade (LEFEBVRE, 2001, p. 39). Toda a ciência parcelar sobre a cidade têm a tendência de ser reducionista, implicação semelhante para a construção de indicadores urbanos, podendo assumir viés racionalista e tecnocrata. Ao pensar sobre os mitos da tecnocracia, Lefebvre (1972) problematiza que “o que se chama urbanismo não é outra coisa que um conjunto demasiado coerente – um sistema – de estipulações e limitações que mantém essa atividade essencial ao um nível estrito de um minimum técnico” (LEFEBVRE, 1972, p. 18, tradução nossa) e que, mais importante, reduz uma situação ou atividade, o habitar, a uma “realidade brutalmente material, a uma função: o habitat” (ibidem, p. 19). Cabe perguntar, assim, em que medida os indicadores ou índices urbanos estão mais próximos ou mais distantes da descrição da “problemática” urbana como função, o quanto procuram descrever e conceber mais o habitar e menos o habitat, ou ainda, o quanto se preocupam com o reducionismo que é inerente à própria prática analítica. 2. Índice ou indicador? Numa primeira aproximação, pode-se tomar a noção de indicador e índice como sinônimos, mas é necessário tentar esclarecer as suas definições a fim de perceber suas diferenças. Alguns estudiosos sustentam que “um índice é o valor agregado final de todo um procedimento de cálculo onde se utilizam, inclusive, indicadores como variáveis que o compõem” (SICHE et al, 2007, p. 139). Nesse caso, definem índice como um valor numérico que representa uma interpretação da realidade, sendo um jogo articulado de indicadores ou variáveis com vistas à tomada de decisão e previsão. Já indicador é, para os autores acima, um parâmetro considerado isoladamente ou em conjunto para apresentar determinada

condição de um sistema em análise. Essa ideia de índice aproxima-se da proposta de indicadores sintéticos e de sistema de indicadores como proposto por Neto et al (2008). No estudo, os autores propõem que os indicadores sintéticos enquanto “sistemas de indicadores podem contemplar em sua estrutura medidas-síntese de dimensões mais complexas, investigadas por meio de vários indicadores primários ou analíticos mais específicos” (ibidem, p. 13). Indicadores analíticos também sintetizam um conjunto mais amplo de informações, entretanto, os indicadores sintéticos são estabelecidos a partir de um “marco conceitual ou ordenador legitimado política e cientificamente”, operacionalizado por alternativas técnicas e metodológicas. Críticas contra a utilização de indicadores sintéticos, bem como argumentos favoráveis, são observados. Os argumentos contrários apontam que esse tipo de indicador reúne fenômenos muito diferentes e que a “grande representação” tomada como resultado pode convidar os gestores e políticos a análises, logo, decisões simplistas. Ainda, existem posições a afirmar que muitas vezes as agências oficiais de estatísticas auferem um “selo de legitimidade” para números que precisam de base teórica sólida (NETO et al, 2008, p. 4). Por outro lado, os autores apontam que essas medidas-síntese podem sim auxiliar o gestor público a manipular e analisar uma grande quantidade de indicadores, ajudando na tomada de decisão para determinadas escalas selecionadas de diagnóstico. Neto et al (2008) indicam que a construção de indicador sintético é uma operação metodológica que envolve etapas sucessivas, que precisam ser transparentes e rigorosas, e decisões complexas e, às vezes, não consensuais. É um exercício de síntese, sustentado por movimentos de ampliação e redução, na medida em que se parte de um conjunto abrangente de indicadores, articulados em um sistema, para a construção de uma medidaresumo. Assim, os autores propõem as etapas da construção de indicador sintético, sendo elas: 1. adoção de um marco conceitual ou ordenador na temática de interesse; 2. seleção dos indicadores primários na medida da disponibilidade e dos atributos; 3. operação de aglutinação com a transformação matemática dos indicadores primários em uma escala de comensurabilidade; e 4. avaliação da validade do constructo pelos resultados atingidos. Segue-se as pistas de Neto et al (2008), em especial, a discussão sobre a construção metodológica de indicadores sintéticos, para então analisar a metodologia de três indicadores sintéticos urbanos, a fim de comparar as dimensões consideradas na construção de cada instrumento, identificando, assim, os limites e as potencialidades de cada um para

explicar a realidade dos espaços urbanos aos quais se destinam. O foco da análise centra-se no marco conceitual que cada indicador sustenta e na apresentação dos indicadores primários que compõem as dimensões analíticas. Não pretende-se fazer uma apresentação mais detalhada dos procedimentos de aglutinação de cada indicador sintético. O primeiro indicador sintético a ser estudado será o “City Prosperity Index (CPI)”, desenvolvido pela UN-HABITAT (Programa das Nações Unidades para os Assentamentos Humanos), que pretende mensurar a performance das cidades do globo terrestre em termos de prosperidade. O segundo indicador analisado será o “Índice de Calidad de Vida Urbana Cidades Chilenas (ICUV)”, elaborado pelo Núcleo de Estudos Metropolitanos do Instituto de Estudos Urbanos e Territoriais da Pontifícia Universidade Católica de Chile e a Câmara Chilena da Construção. Já o terceiro analisado será o Índice de Bem-Estar Urbano (IBEU), produzido pelo INCT Observatório das Metrópoles, voltado para as cidades e regiões metropolitanas brasileiras. 3. Marco conceitual e dimensões dos indicadores sintéticos urbanos analisados

É necessário, antes de tudo, pôr em evidência resumidamente os conceitos e o quadro que cada indicador sintético se orienta no recorte das dimensões e das variáveis selecionadas. Sugere aqui que o marco conceitual, ao sustentar a “grande representação” dos resultados obtidos com a operacionalização de índices, está associado a estratégia programática, como acentuou Neto et al (2008). Três conceitos são evocados para delinear as estratégias, propostas pelos indicadores analisados, a saber: prosperidade urbana, qualidade de vida urbana e bem-estar urbano. O CPI propõe que a prosperidade urbana assume diferentes formas e características, já que cada cidade pode ter uma interpretação única sobre prosperidade e como ela pode ser compartilhada, de acordo com seu desenvolvimento histórico, econômico e cultural. Mas afirma ser possível encontrar um conjunto comum de condições que garantem o desenvolvimento às populações urbanas, que façam-nas sentir felizes e saudáveis, e com isso os negócios poderem também prosperar e os espaços físicos tornarem-se mais integrados e diversos. A cidade entendida como “a casa da prosperidade” é apresentada no relatório sobre o índice, sugerindo que nela os humanos devem satisfazer as suas necessidades

básicas, acessar serviços públicos e privados essenciais e, ainda, é o lugar onde as mercadorias podem ser encontradas e usufruídas de forma suficiente. Conforme a proposta do índice, as cidades são os lugares onde os aspectos materiais e imateriais de vida se realizam, provendo satisfação e felicidade e ampliando as perspectivas de bem-estar individual e coletivo. O marco conceitual do indicador sintético também associa as cidades como “remédios” da crise global, observada a partir de 2008. Na concepção apresentada, elas podem desenvolver plataformas criativas e flexíveis para mitigar os efeitos das crises regionais e global de uma forma pragmática e eficiente, agindo de forma local como resposta à crise. Nesse sentido, a tomada de decisão é facilitada no domínio das cidades, pois a relação e a negociação de acordos com os atores locais é mais efetiva, evitando a paralisação das decisões por questões político-partidárias ou ideologias, como acontece muitas vezes nas agendas nacionais (UN-HABITAT, 2013, p.8). Já em relação ao ICVU, dois pressupostos sustentam a sua construção. Mesmo avaliando que a qualidade de vida têm condições objetivas e subjetivas, o enfoque dado é para as condições objetivas de vida da população, optando por variáveis objetivas, procurando-se representar de maneira mais geral as necessidades de toda a população em conjunto, ao invés de ater-se na percepção de determinados grupos sociais. O segundo é a afirmação de que a qualidade de vida não está circunscrita às ações do poder público, mas também envolvem as atuações do setor privado e da sociedade civil (ORELLANA, 2011, p. 7). O IBEU pretende avaliar a dimensão urbana do bem-estar, promovido pelo mercado, via consumo mercantil, e pelos serviços sociais ofertados pelo Estado. A concepção de bemestar urbano trazida no marco conceitual do indicador faz uma crítica à concepção utilitarista de bem-estar, a qual centra “a busca da realização do auto-interesse” no plano dos indivíduos e a realização da satisfação das necessidades no plano privado. Assim, a proposta do índice entende que “apesar de o bem-estar ser experimentado individualmente, procuramos considerar nessa concepção o bem-estar que se constitui e se realiza no plano coletivo, daí o sentido do urbano na determinação do bem-estar” (RIBEIRO, 2013, p.9). Nesse sentido, com a construção do índice, pretende explicar como a cidade, ao garantir, de forma coletiva, condições materiais de vida, ela proporciona bem-estar. Ao se centrar nas condições materiais, o índice não integra a dimensão social do bem-estar urbano. Passa-se agora à descrição dos indicadores analisados. A proposta do “City Prosperity

Index CPI”, contida no relatório State of the World's Cities 2012/2013, sistematizada e desenvolvida pela UN-HABITAT (Programa das Nações Unidades para os Assentamentos Humanos), foi apresentada no Fórum Urbano Mundial, em Nápoles, Itália, em 2012. Com a proposta, a UN-HABITAT sugeriu uma nova abordagem para a prosperidade, pela qual se pudesse extrapolar a visão restritiva da dimensão econômica para outras dimensões que dessem conta do bem-estar e do desenvolvimento individual e coletivo. Para isso, apresentou um novo instrumento estatístico, o City Prosperity Index, que mensura os fatores de prosperidade numa determinada cidade, concebida numa matriz mais ampla, nomeada a Roda da Prosperidade Urbana. O índice é composto pela síntese de cinco dimensões: produtividade, infraestrutura, qualidade de vida, equidade e sustentabilidade ambiental, composto por indicadores a exemplo da Tabela 1. Em particular, duas dessas dimensões, produtividade e qualidade de vida, correspondem aos componentes do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e que já haviam sido utilizados na mensuração do Índice de Desenvolvimento das Cidades (apresentado na Conferência Habitat II em 1996). A partir delas, as cidades analisadas são classificadas em seis grupos, de acordo com uma classificação de 0 a 1, referentes a presença de fatores de prosperidade sólidos ou de fatores fracos. Chega-se à constatação de que as cidades em países desenvolvidos são as que apresentam os fatores de prosperidade muito sólidos (0.900 ou acima, a exemplo de Toronto, Nova Iorque e Tóquio). Já algumas cidades africanas aparecem com os fatores fracos ou muito fracos (a exemplo de Dakar, Lagos, Bamako), sendo que as cidades latinoamericanas e asiáticas concentram-se nos níveis intermediários, com fatores sólidos (a exemplo de São Paulo, Moscou, Cairo e Jacarta) a moderados (como Nova Déli e Nairóbi).

Tabela 1. Composição básica do City Prosperity Index Dimensões Índice de Produtividade

Descrição das variáveis Crescimento econômico (Produto Interno da Cidade) e Emprego (Emprego formal e Desemprego)

Índice de Qualidade de Vida

Má-nutrição (baixo peso de crianças, desnutrição das mulheres); Saúde (Expectativa de Vida, Mortalidade abaixo de cinco anos, mortalidade infantil) e Educação (taxa de leitura entre adultos, matrículas no Ensino

Fundamental e no Ensino Médio) Índice

de

Desenvolvimento

Infraestrutura

da Infraestrutura urbana (abastecimento de água, saneamento, eletricidade, celular e telefone fixo) e Habitação (casa própria e déficit habitacional)

Índice

de

Ambiental

Sustentabilidade Qualidade

do

ar

(Concentração/Suspensão

de

partículas, Resíduos Sólidos) e Energia (Energia para cozimento dos alimentos e energia elétrica)

Índice de Equidade e Inclusão Social Desigualdade de renda/consumo (Coeficiente de Gini) e outros indicadores de inclusão social Já o indicador de “Calidad de Vida Ciudades Chilenas (ICVU)” foi desenvolvido pelo Núcleo de Estudos Metropolitanos do Instituto de Estudos Urbanos e Territoriais (IEUT), situado na Pontifícia Universidade do Chile, no esforço de elaborar ferramentas que permitam entender as dinâmicas metropolitanas e orientar o processo de tomada de decisão de atores públicos e privados que incidam sobre o desenvolvimento urbano e territorial. O objetivo do indicador sintético é ser um instrumento com vistas à construção de cidades e metrópoles mais coesas, sustentáveis e competitivas. A partir do interesse e o apoio da Câmara Chilena de Construção, uma associação civil e empresarial, foi desenhado um indicador que mede a qualidade de vida urbana para as cidades do Chile. A cobertura do ICVU atinge 93 cidades, essas com mais de 50 mil habitantes, envolvendo todas as capitais regionais e cidades intermediárias, nas quais habitam 85% da população total do país. O ICVU entende a definição de qualidade de vida urbana como “as condições de vida objetivas da população geradas a partir das atuações e dinâmicas de transformação do espaço urbano, induzidas por atores públicos, privados e pela sociedade civil” (ORELLANA, 2011, p. 4, tradução nossa). A partir da seleção de 33 variáveis objetivas, levando em conta a pertinência, representatividade, cobertura e nível de atualização desses indicadores primários, o indicador sintético agrega-os em seis dimensões com percentual de agregação diferenciado (a saber, habitação e entorno, saúde e meio ambiente, condições sócioculturais, ambiente de negócios, condições de trabalho e conectividade e mobilidade), o que permite estabelecer um ranking metropolitano e regional das cidades avaliadas. Na escala de 0 a 100, a média nacional encontrada no ICVU em 2013 para as cidades chilenas foi de 46,08. Tabela 2. Componentes do “Índice de Calidade de Vida Urbana” - ICVU

Dimensões Habitação e entorno

Descrição das variáveis

Peso

Variáveis relacionadas a qualidade da habitação e 29,1% níveis de densidade populacional e investimento no espaço público no entorno da moradia.

Saúde e meio ambiente

Mede as condições de saúde da população em relação 18,6% a doenças que se referem a uma maior incidência pelas condições ambientais e meio antrópico.

Condições sócio-culturais Variáveis relativas ao nível de participação da 17,4% população em organizações sociais, bem como os níveis de segurança e educação que afetam o capital social. Ambiente de negócios

Variáveis econômicas que permitem perceber o quanto 16,5% a cidade é favorável a investimentos e novos empreendimentos.

Condições de trabalho

Variáveis que medem a facilidade de acesso ao

9,4%

mercado de trabalho, ingressos, proteção social, entre outras. Conectividade mobilidade

e Variáveis

relacionadas

infraestrutura

de

com

as

conectividade,

condições

de

mobilidade

e

9,1%

segurança no trânsito da população residente. Em relação ao Índice de Bem-Estar Urbano (IBEU), desenvolvido pela rede de instituições ligadas ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) Observatório das Metrópoles, o objetivo principal é “avaliar as condições urbanas das regiões metropolitanas brasileiras, procurando aferir múltiplas dimensões da vida urbana capazes de propiciar qualidade de vida a seus habitantes” ou “dimensão urbana do bem-estar” (RIBEIRO, 2013, p.7). A proposta conceituou essas dimensões como as relacionadas com “as condições coletivas de vida promovidas pelo ambiente construído da cidade, nas escalas da habitação e da sua vizinhança próxima, e pelos equipamentos e serviços urbanos” (ibidem). O índice foi construído em dois tipos, o IBEU Global e Local. O primeiro, IBEU Global, permite comparar as condições de vida urbana em três escalas: entre as metrópoles, os municípios metropolitanos e entre bairros que integram o conjunto das 15 metrópoles do

país. Já o IBEU Local é calculado particularmente para cada metrópole, avaliando as condições de vida urbana interna a cada uma delas. O índice é composto por cinco dimensões, de pesos iguais: mobilidade urbana; condições ambientais urbanas; condições habitacionais urbanas; atendimento de serviços coletivos urbanos; infraestrutura urbana, conforme Tabela 3. E cada uma dessas dimensões é constituída por um conjunto de indicadores, construídos a partir das variáveis disponíveis no Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010. O indicador estabelece uma escala entre zero e um, sendo que mais próximo de um, é indicativo de melhor bem-estar urbano; e quanto mais próximo de zero, pior é o bem-estar urbano. A média encontrada para o conjunto das regiões metropolitanas brasileiras foi de 0,605. Tabela 3. Composição do Índice de Bem-estar Urbano (IBEU) Dimensões

Descrição das variáveis

Peso da variável

Mobilidade urbana

Composta por uma única variável – indicador

1/5

primário de deslocamento casa-trabalho Condições

ambientais Três indicadores caracterizam a dimensão:

urbanas

arborização do entorno dos domicílios, esgoto

1/15 para cada variável

a céu aberto no entorno dos domicílios e lixo acumulado no entorno dos domicílios. Condições

Quatro indicadores fazem parte: aglomerado

1/25 para cada

habitacionais urbanas

subnormal, densidade domiciliar, densidade

variável

morador/banheiro e material das paredes dos domicílios. Atendimento

de Composta de quatro indicadores: atendimento

1/25 para cada

serviços

coletivos adequado de água, atendimento adequado de

variável, com

urbanos

esgoto, atendimento adequado de energia e

exceção para

coleta adequada de lixo. Infraestrutura urbana

Sete

indicadores

definem

esgoto com 2/25 a

dimensão:

Iluminação pública, pavimentação, calçada,

1/35 para cada variável

meio-fio/guia, bueiro ou boca de lobo, rampa para cadeirantes e logradouros.

Descritos sucintamente o marco ordenador e a composição dos indicadores primários

dos índices analisados, faz-se necessário comparar em busca da convergência e da divergência dos temas tratados pelo conjunto das dimensões. Para isso, avaliou-se que o City Prosperity Index tem em sua composição o maior números de dimensões frente aos outros dois indicadores. Assim, propõe-se aqui o quadro analítico abaixo para identificar as presenças e as ausências temáticas entre os indicadores: Unidade temática/ Indicadores

City Prosperity Index (CPI)

Índice de Calidad de Vida Urbana (ICVU)

Índice de Bem-Estar Urbano (IBEU)

Emprego investimentos

Produtividade

Condições de trabalho e Ambiente de Negócios

(ausente)

e

Direitos sociais – Qualidade de vida Saúde, saneamento, segurança e educação Desenvolvimento da infraestrutura urbana

Energia condições ambientais Desigualdade

e

Saúde e Meio Ambiente Condições ambientais Condições Sócio-culturais urbanas Atendimento de Serviços Urbanos

Infraestrutura

Habitação e Entorno Conectividade e Mobilidade

Infraestrutura urbana Condições habitacionais urbanas Mobilidade urbana Atendimento de serviços urbanos

Sustentabilidade ambiental

Saúde e Meio Ambiente

Condições ambientais urbanas

Equidade e Inclusão Social

(ausente)

(ausente)

Pode-se perceber que todos os três indicadores sintéticos analisados contém referência comum a três temas em suas dimensões, a saber: 1. garantia de direitos sociais, em especial ao acesso a serviços como saúde, saneamento, educação, segurança, entre outros; 2. desenvolvimento da infraestrutura urbana, envolvendo mobilidade urbana, sendo o IBEU índice com maior quantidade de variáveis analisadas nessa temática; 3. condições ambientais, incluindo a questão da energia, bem como outras questões como arborização, resíduo sólido, vetores de doenças, etc. É ausente, tanto no IBEU, quanto no ICVU, o tema da desigualdade que o City Prosperity Index aborda, levando em conta indicadores de equidade e inclusão social. Eles utilizam o Coeficiente de Gini como indicador primário.

Ainda, o tema do desenvolvimento econômico, criação de empregos e promoção de investimentos são considerados no CPI e no ICVU, estando ausentes na composição do IBEU variáveis dessa ordem.

4. Considerações finais A cidade enquanto encontro da obra e do produto, como nos apontou Lefebvre (2001), coloca desafios para os especialistas que põe a prova formulações não consistentes para a análise desse duplo processo. A prática analítica da cidade e do urbano pressupõe esse olhar para além do produto e de sua função. A análise ganha maior relevo quando se percebe o produto ressignificado enquanto obra no processo de reprodução do espaço. Entender a cidade para além do habitat, pensando o habitar: essa é a proposta de Lefebvre para pensar a “problemática” da cidade. Nesse caminho, o perigo da prática analítica das ciências parcelares da sociedade é tornar-se uma ideologia, por desencadear uma prática social e servir a determinada estratégia, como o urbanismo racionalista e tecnocrata se constituiu.

Da mesma forma, o esforço da construção de indicadores sintéticos corre esse

mesmo perigo, pois a definição de certos temas a serem valorizados para pensar a cidade sustenta tomada de decisões de intervenções públicas e ações privadas. Como bem apontado anteriormente, a legitimidade ou não de determinados índices em detrimento de outros e o marco conceitual que define as dimensões e suas relações podem ser entendidos como relacionados a uma estratégia que representa uma globalidade. Tentar deixar clara a descrição dessa “representação global” ou essa “grande representação” que orienta a construção dos indicadores sintéticos urbanos pode ser um caminho para a superação desse impasse. Referências bibliográficas LEFEBVRE, Henri. Contra los tecnocratas. Buenos Aires: Granica Editor, 1972. ____________. O direito à cidade. São Paulo: Centauro, 2001. NETO et al. Sistemas de Indicadores ou Indicadores Sintéticos: do que precisam os gestores

de programas sociais? In: ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS POPULACIONAIS, XVI, 2008, Caxambu-

MG.

Disponível

em:

http://www.abep.nepo.unicamp.br/encontro2008/docsPDF/ABEP2008_1511.pdf. Acesso em 29 de setembro de 2014. ORELLANA, Arturo (coord.). Informe Final Indicador Calidad de Vida Urbana (ICVU), 2011. Disponível

em

http://www.estudiosurbanos.uc.cl/respaldo/wp-

content/uploads/2011/05/Informe-Final-ICVU1.pdf. Acesso em 29 de setembro de 2014. RIBEIRO, Luiz César de Queiroz (org.). IBEU – Índice de Bem-estar Urbano. Rio de Janeiro: Letra Capital, 2013. SICHE et al. Índices versus indicadores: precisões conceituais na discussão da sustentabilidade de países. Ambiente & Sociedade, Campinas, v. X, n. 2, p. 137-148, jul.-dez. 2007. UNITED NATIONS HUMAN SETTLEMENTS PROGRAMME (UN-HABITAT). State of World's Cities 2012/2013: Prosperity of Cities. Nairobi, Quênia, 2013. Disponível em http://mirror.unhabitat.org/pmss/listItemDetails.aspx?publicationID=3387. Acesso em 29 de setembro de 2014.

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