Competições estudantis online como ferramenta de incentivo ao trabalho em grupo e ao aprendizado de Biologia: Reflexões sobre a participação no DNA (Desafio Nacional Acadêmico de 2015

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Publicado Na Revista Alagoana de Ensino de ciências, na edição de junho de 2016 (v. 5, n. 1, p. 25-29)

Competições estudantis online como ferramenta de incentivo ao trabalho em grupo e ao aprendizado de Biologia Reflexões sobre a participação no DNA (Desafio Nacional Acadêmico) de 2015 Jefferson Silva Costa Alydia Batista da Silva Fenando da Silva Firmino Jose Eraldo de Lima Macêdo Junior Lázaro Heleno Santos de Oliveira Wellington José Ávila Rocha Resumo: Há, na atualidade, uma popularização da internet com sua promessa de comunicação ilimitada entre os jovens, neste ambiente, as olimpíadas virtuais educacionais oferecem uma oportunidade ímpar de aprendizagem, dessa forma, a participação no DNA se destacou como um claro incentivo a aprendizagem dos alunos nas várias áreas do conhecimento, dentre elas a área ambiental da biologia, oportunizando aplicabilidade de conteúdos assim como momentos de debate sobre temáticas atuais. Palavras-chave: Desafio Nacional Acadêmico; Competições Virtuais no Ensino de Biologia; Internet na Sala de Aula. Abstract: There is today a popularization of the Internet with its promise of unlimited communication among young people, in this environment, educational virtual Olympics offer a unique learning opportunity, therefore, participation in DNA emerged as a clear incentive to student learning in various areas of knowledge, among them the environmental area of biology, providing opportunities applicability of content as well as current thematic debate moments. Keywords: Academic National Challenge; Virtual Competitions in Biology Teaching; Internet in the Classroom.

Introdução Atualmente, com o avanço científicotecnológico, é natural e até esperado uma popularização das Tecnologias da Informação e Comunicação, sendo considerado como antiquado aqueles que nãos as dominam e/ou utilizam-nas no seu cotidiano.

Neste interim, os jovens dessa nova era constituem um corpo diferenciado da sociedade, “sendo atribuída a internet a promessa de comunicação e informação ilimitada entre os adolescentes” (PRIOSTE, 2013, p. 50), uma vez que fazem uso dessa tecnologia desde a tenra idade (MORAES e ANDRADE, 2009) e arrastam consigo todos

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os envoltos em suas relações (pais, professores, tios, avós). Com um público diferenciado, a escola não deve manter-se alheia a essa realidade, e, sobretudo, tentar afastar seus alunos dela ao invés usa-la a seu favor, promovendo um diálogo mais estreito com o estudante, mostrando-o que seu uso pode ser efetivado para fins educacionais, conforme destacam alguns autores (BIZO, 2009; MARANDINO, SELLES e FERREIRA, 2009; MORAES e ANDRADE, 2009). Nesta perspectiva, o uso da internet no ambiente de ensino-aprendizagem torna-se quase uma obrigatoriedade, segundo os estudos de Oliveira e Lopes (2012), cabendo à escola e a todos que a constrói e constitui o incentivo e desenvolvimento de práticas educacionais que visem à integração do ambiente escolar com o virtual. Com base neste aspecto singular, as olimpíadas virtuais destacam-se como oportunidades únicas, sobretudo por estimular um espirito competitivo saudável e necessário. Dentre as olimpíadas virtuais, é necessário destacar o Desafio Nacional Acadêmico (DNA), que se trata de um desafio voltado aos estudantes de ensino fundamental e médio, mas aberto a quaisquer outros interessados [...]. Organizado desde 2006 pelo Projeto Nacional de Educação a Distância (ProNEAD), o DNA é uma competição de conhecimento, realizada em equipe e totalmente online. Possui duas fases: a primeira é formada de 110 desafios (em 11 áreas do conhecimento) e 4 tarefas extras; já a segunda é um enigma final. Dentre os objetivos da competição estão o desenvolvimento do trabalho em equipe, a criatividade, a noção de liderança e o espírito empreendedor. (OLIVEIRA e LOPES, 2012, p. 2).

. O DNA, por ser realizado em equipe, se estabelece como uma oportunidade ímpar para um grupo de estudantes, orientados por um professor, realizar uma troca de conhecimentos criando, inclusive, as chamadas Zonas de Desenvolvimento Proximais (ZDP), que são tidas por vários autores (ONRUBIA, 2006; POZO e CRESPO, 2009; COSTA, 2014; SANTOS,

2012) como essenciais para o processo de ensino-aprendizagem. Assim sendo, uma participação no Desafio merece ser discutida e enxergada como uma singular oportunidade de aprendizado de informações a respeito de várias áreas do conhecimento, a qual será ofertado um enfoque diferenciado ao campo relacionado a Biologia, o de Meio Ambiente.. Materiais e Método O presente trabalho é resultado da participação de cinco alunos da Escola Estadual Professor José Félix de Caralho Alves no DNA transcorrido de setembro a outubro de 2015. A escolha do grupo de alunos que formariam a equipe, denominada “Leitores”, foi realizada pelo professor organizador observando parâmetros singulares e necessários, tais como: participação nas aulas de biologia, interesse pela biologia, relação intrínseca com o ambiente virtual e grau de interesse demonstrado na competição. O sistema do DNA permitia a formação de uma ou mais equipes por escola, podendo haver um ou mais professores responsáveis pela organização local do projeto, entretanto, apenas um professor concretizou a inscrição de uma equipe com a posterior participação desta. Para concretizar a participação no desafio a escola disponibilizou aparato estrutural, tais como: computadores e livros para consulta, assim como materiais para realização das tarefas extras. O processo de construção desse trabalho ocorreu a partir de conversas com os alunos participantes a respeito de suas experiências e perspectiva durante o desafio, assim como a observação e acompanhamento in loco de seus desempenhos e comportamentos, a fim de compreender os ganhos que tais atividades podem angariar para os processos de ensino-aprendizagem das mais diversas áreas do conhecimento e, em especial, da biologia. Resultados e Discussão

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Foi observado que, muito embora os integrantes da equipe fossem de três turmas diferentes, ambos se relacionavam muito bem, principalmente durante a realização do jogo, demonstrando o poder do instinto de competição nos jovens, desde que seja canalizado para algo produtivo. De acordo com O processo de preparação para o DNA, por meio de reuniões frequentes e debates sobre os desafios lançados diariamente pelo site através do aplicativo de troca de mensagens “Wathsapp”, possibilitou, além do estreitamento de relações entre os alunos e professor, a discussão de temáticas bem variadas, tais como, livros e o impacto dos agrotóxicos no solo, ambos estimulados a partir da resolução dos desafios diários, sendo que o ultimo proporcionou uma troca de ideias da perspectiva biológico-ambiental da temática. Segundo Goulart (2011) e Costa (2014) o debate é um meio de possibilitar aos alunos não só a exposição de seus pontos de vista, mas também um processo denominado por Jean Piaget como “conflito cognitivo”, no qual o sujeito, mediante os questionamentos, promove alterações significativas em seus esquemas iniciais. Durante o processo de resolução das 10 perguntas da área relacionada a biologia (meio ambiente) foi observado que os questionamentos apresentaram um enfoque muito mais procedimental do que pura e simplesmente conceitual (conforme pode ser observado na fig. 1), sendo necessárias habilidades de associação e raciocínio para, primeiro se compreender a questão e, posteriormente, pensar a respeito da resposta, ou seja, de nada adiantava os recursos tecnológicos e a gama de livros a disposição se não houvesse uma clara compreensão da pergunta e da maneira de respondê-la, e nesse aspecto tornou-se crucial a orientação do professor, principalmente para otimizar o tempo de pesquisa. Além das perguntas destacadas na figura 1, houve um questionamento que forçou os alunos, conforme os mesmos afirmaram, a aplicarem os conhecimentos trabalhados nas aulas de biologia dizia respeito ao processo de classificação

filogenética de um animal mostrado num vídeo, para tanto os alunos tiveram eu recordar conteúdos de taxionomia e, principalmente, o uso de chaves de classificação para descartar alguns táxons a partir das características sobressaltadas. Esse processo de aplicabilidade de conteúdos é, de acordo com Goulart (2011) não só indicado como necessário ao processo de ensinoaprendizagem.

Figura 1: perguntas realizadas na área de meio ambiente no DNA de setembro-outubro de 2015.

Já na segunda etapa do DNA, compreendida por quatro tarefas extras, a saber: construção de uma réplica do cavalo de troia, construção de um castelo de cartas de cinco andares, texto relatando uma situação específica da equipe durante a primeira etapa e, por fim, um texto no qual os alunos deveriam presumir como estaria um mundo em 2030. Dessas quatro tarefas, a ultima se mostrou como uma oportunidade para a construção de um debate englobando vários aspectos, contudo, dado o objetivo desse trabalho, o enfoque será ofertado aos debates

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em torno de temas ligados a biologia, levantados pelos alunos e orientada pelo professor. Os estudantes propuseram ideias interessantes durante o debate mediado pelo docente (ver fragmentos 1, 2 e 3), houve uma preocupação do professor em não interferir na construção do texto, mas em apenas orientar e realizar correções de cunho científico, com a finalidade de tornar o documento o mais fidedigno possível, ou seja, dentro das possibilidades que se mostram como viáveis para o século XXI. Fragmento 1: No aspecto ambiental, em razão do avançar das pesquisas, acreditamos numa possível escolha de clima diário das cidades conforme os interesses humanos, por meio de projetos como o “HARP”[...] É provável que haja uma redução na emissão de gases do efeito estufa, por meio dos automóveis, em virtude da popularização dos carros elétricos [...] será necessária a construção e duplicação de rodovias e estradas para o desafogamento de trânsitos mais longos e cansativos, aumentando o número de áreas de desmatadas. Fragmento 2: há chances que o processo conhecido como dessalinização da água do mar seja popularizado, entretanto, devido ao seu alto custo, há a possibilidade de estar disponível somente para as elites

Fragmento 3: Com a escassez eminente do petróleo em vista, teremos que optar por outros meios de energia e combustível, provavelmente a energia nuclear será a primeira solução que buscaremos para abastecer nossas casas e indústrias, havendo a possibilidade de utilização de fontes de energias renováveis.

É possível visualizar que os alunos não se mostraram alheios as temáticas ambientais, sendo obrigados a ler sobre o assunto para poder escrever a seu respeito, demonstrando outra faceta deste desafio: forçar o aluno a buscar informação cientifica adequada. De acordo com Bizo (2009) e Pozo e Crespo (2009) o processo de construção textual deve ser uma ferramenta constante no ensino de biologia, não devendo ficar restrita a disciplina de língua portuguesa, uma vez que, ao construir um texto, o aluno não só disserta sobre seus ideais como coloca no

papel o que aprendeu, deixando evide3nte possíveis dificuldades no aprendizado. Após a finalização da segunda etapa, infelizmente, a equipe não conseguiu ser classificada para o enigma final, contudo, na fala dos participantes foi gratificante a participação, principalmente “por ter ajudado a adquirir conhecimentos, e ter mexido com todos os tipos de emoções, afinal o que começou com uma brincadeira se tornou algo cansativo e uma oportunidade de aprendizado” (part. 4).

Com base nas declarações é possível compreender o quão a sério o desafio foi levado por esses alunos, mostrando que, talvez, um dos problemas cruciais da educação não diz respeito ao desinteresse dos alunos pelos conteúdos, tratado como causa, mas sim a falta de abordagens diferenciadas que atraiam os alunos, e isso se evidencia quando há a alegação de “que deveria haver mais eventos escolares do tipo”, seguida da declaração de outro participante de que “foi uma ótima experiência, na qual cada integrante foi importante, pois mesmo que ninguém soubesse a resposta alguém dava uma opinião e o outro conseguia descobrir” (part. 3).

Com isso é observável a empolgação dos alunos em atividades de cunho diferenciados, em especial atividades que possibilitem aos alunos o diálogo e não apenas a reprodução de modelos sistêmicos inquestionáveis, o que pratica recorrente no ensino de biologia de acordo com Marandino, Selles e Ferreira (2009). Houve, inclusive, lamentação a respeito da participação de apenas um grupo na escola, pois “a competição se tornaria algo local, deixando a gente mais animado” (part. 3). As falas dos alunos confirmam a opinião de Oliveira e Lopes (2012) sobre a importância desses desafios para despertar o interesse dos alunos pela ciência, bem como pelo pensamento científico, proporcionandolhes, inclusive, um momento de descoberta a respeito da importância do trabalho em equipe.

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CONCLUSÃO Diante dos resultados obtidos concluise que a participação no DNA 2015 se constituiu como uma oportunidade ímpar para o debate e reflexão dos alunos de temáticas ambientais atuais, como escassez de água e o futuro da humanidade, colocando os discentes como agentes reflexivos do processo, ao invés de meros sujeitos passivos. Dessa forma, participações desse cunho, que proporcionem uma dinâmica diferenciada ao ensino de biologia devem ser incentivadas e repetidas em outras escolas estaduais de Alagoas.

GOULART, I. B. Piaget: experiências básicas para utilização pelo professor. 27ª. ed. Petrópolis: Vozes, 2011. MARANDINO, M.; SELLES, S. E.; FERREIRA, M. S. Ensino de biologia: histórias e práticas em diferentes espaços educativos. São Paulo: Cortez, 2009. MORAES, M. B.; ANDRADE, M. H. P. Ciências ensinar e aprender: aos iniciais do ensino fundamental. Belo Horizonte: Dimensão, 2009. OLIVEIRA, M. M., LOPES, M. Desafios em ciência e tecnologia e olimpíadas como meio de motivar o pensamento científico na educação. ComCiencia, v. 2, 2012.

REFERÊNCIAS

PRIOSTE, C. D. Adolescente e a internet: laços e embaraços do mundo virtual. 2013. Tese (Doutora em Educação) – Universidade de São Paulo. Faculdade de Educação. Programa de Pós -graduação em Educação, São Paulo, São Paulo, 2013.

BIZO, N. Mais ciência no ensino fundamental: metodologia do ensino em foco. São Paulo: Editora do Brasil, 2009.

POZO, J. I.; CRESPO, M. A. G. Aprendizagem e o ensino de ciências: do conhecimento cotidiano ao conhecimento científico. 5.ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.

COSTA, J. S. Interação social e construtivismo no ensino de ciências: um estudo de caso acerca da evolução dos conhecimentos prévios dos aluno s do ensino fundamental sobre o sistema circulatório humano. 2014. Monografia (Graduação em Ciências Biológicas – Licenciatura) – Universidade Federal de Alagoas. Câmpus de Arapiraca, Alagoas, Arapiraca, 2014.

ONRUBIA, J. Ensinar: criar zonas de desenvolvimento proximal e nelas intervir. In.: COLL, C et all. Construtivismo na sala de aula. 6ª. ed. São Paulo: Ática, 2006. p: 123– 152. SANTOS, E. I. Ciências nos anos finais do ensino fundamental: produção de atividades em uma perspectiva sócio-histórica. São Paulo: Anzol, 2012.

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