“Compleição do patriotismo português\", um diálogo com o Brasil

June 6, 2017 | Autor: Débora Dias | Categoria: Relações luso-brasileiras, Joaquim de Carvalho
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“COMPLEIÇÃO DO PATRIOTISMO PORTUGUÊS", UM DIÁLOGO COM O BRASIL É uma satisfação estar nesta mesa que tem o sugestivo título “De Camões à CPLP” e penso que essa busca por compreender matrizes do mundo que fala e sente em português é o que nos une nessa tarde, como ao longo deste Colóquio. É também um privilégio estar nesta casa, edifício que comporta fortes significados: históricos, intelectuais, artísticos, arquitetônicos, culturais, afetivos. E sobre outro momento de pensar percursos entre Brasil e Portugal, ocorrido neste mesmo Gabinete de Leitura, mas há 61 anos, gostaria de iniciar a apresentação. No Dia de Camões, 10 de junho, de 1953, o Gabinete Português de Leitura convidou o professor catedrático da Universidade de Coimbra, Joaquim de Carvalho (1892-1958), a fazer a conferência em homenagem ao Poeta dos Lusíadas, ao lado do brasileiro Gustavo Barroso1, da Academia Brasileira de Letras. Desde 1932, a efeméride fazia parte do calendário oficial da casa, quando nomes de brasileiros e portugueses considerados “ilustres” pelo Gabinete eram convidados como oradores da saudação cívica anual. Os conferencistas poderiam ser escritores, intelectuais universitários ou homens de letras, como Carlos Malheiro Dias (1932), Afrânio Peixoto (1933), Ricardo Severo (1934), Alceu Amoroso Lima (1937), Jaime Cortesão (1941), Américo Jacobina Lacombe (1952). Ao longo dos anos, foram convidados também políticos e autoridades oficiais dos dois países, como os presidentes Getúlio Vargas (1939), Juscelino Kubitschek e Craveiro Lopes, estes em 1957; ministros como Oswaldo Aranha (1940), Simões Filho (1952), Juvenal Greenhalgs (1950); ou ainda nomes de destaque em diferentes áreas como o

1Natural de Fortaleza (Ceará), Gustavo Barroso (1888-1959) foi professor, ensaísta, romancista, além de jornalista, advogado e político brasileiro de destacada militância integralista. Estreou na literatura aos 23 anos com o ensaio Terra do Sol: Natureza e Costumes do Norte, bacharelando-se, em 1911, pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro. Eleito deputado federal pelo Ceará (1915-1918), ocupou cargos públicos na capital federal. A partir de 1922, foi fundador e diretor do Museu Histórico Nacional. No ano seguinte, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, da qual foi presidente nos anos de 1932, 1933, 1949 e 1950. Em 1933, aderiu à Ação Integralista Brasileira (AIB), organização inspirada no fascismo italiano e dirigida por Plínio Salgado. Foi representante brasileiro em diversas missões diplomáticas, como a Exposição Comemorativa dos Centenários de Portugal (1940-1941). Era membro, entre outras entidades, da Academia Portuguesa da História; da Academia das Ciências de Lisboa; da Academia de Belas Artes de Portugal; da Sociedade dos Arqueólogos de Lisboa; do Instituto de Coimbra; do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro; e das Sociedades de Geografia de Lisboa, do Rio de Janeiro e de Lima. A vasta obra de Gustavo Barroso, de 128 livros, abrange história, folclore, ficção, biografias, memórias, política, arqueologia, museologia, economia, crítica e ensaio, além de dicionário e poesia. C.f. Academia Brasileira de Letras/Acadêmicos (www.academia.org.br).

Almirante Gago Coutinho, pioneiro da aviação portuguesa, e o general Valentim Denício da Silva, ambos em 19452. Embora estudioso da obra camoniana, o professor Joaquim de Carvalho pediu licença ao público no Dia de Camões para não falar diretamente do poeta “símbolo da nossa consciência patriótica”, segundo suas palavras. Fora do seu ambiente de trabalho formado ao longo de quarenta anos, “sem o auxílio das minhas notas e sem o socorro dos meus livros”3, ou seja, distante da sua biblioteca e gabinete, preferia não se limitar a repetir o que já tinha dito sobre o tema Camões. Na justificativa, invoca a leitura de dois autores brasileiros que, para ele, implantaram com “maestria e solidez” os estudos camonianos no Brasil: Joaquim Nabuco e Afrânio Peixoto. Nabuco, escritor pernambucano, foi orador daquela mesma efeméride, no lançamento da pedra fundamental deste edifício, no ano de 18804. O escritor baiano Afrânio Peixoto5, 2A lista completa dos oradores do Dia de Portugal, instituído em 7 de maio de 1932 pela Federação das Associações Portuguesas e Luso-Brasileiras, pode ser vista em: COSTA, António Gomes da. Catedral da Cultura Portuguesa. In Camões. Revista de Letras e Culturas Lusófonas. Número 11, Outubro-dezembro, 2000. Lisboa: Instituto Camões, p.p.52-63. Disponível online: http://cvc.institutocamoes.pt/conhecer/biblioteca-digital-camoes/revistas-e-periodicos/revista-camoes/revista-no11-ponteslusofonas-iii.html (último acesso em 30/8/2014). 3CARVALHO, Joaquim. Compleição do Patriotismo português. Coimbra: Atlântida, 1953, p.8. O texto completo também foi publicado em: CARVALHO, Joaquim de. Obras Completas, vol. V. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1987, p.123-137. 4 Nascido em Recife (Pernambuco), Joaquim Nabuco (1849-1910) ganhou notoriedade como liderança da campanha abolicionista que pôs fim, com a Lei Áurea, à política de emancipação paulatina dos escravos. Bacharel em Direito pela Faculdade do Recife (1870), foi político, jurista, historiador, jornalista e um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras (ABL). Com a proclamação da República, afasta-se temporariamente da vida pública, e em seguida passa a exercer cargos diplomáticos. É autor do discurso “Camões”, pronunciado em 10 de junho de 1880 no lançamento da pedra fundamental do atual edifício do Gabinete Português de Leitura. Ainda jovem, escreve Camões e os Lusíadas. Rio de Janeiro: Typ. do Imperial Instituto Artístico, 1872. C.f. CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO DO PENSAMENTO BRASILEIRO (org.). Dicionário Biobibliográfico de Autores Brasileiros. Salvador: Senado Federal 1999. 5Júlio Afrânio Peixoto (1924-1930) nasceu em Lençóis (Bahia), realizando sua formação escolar em Salvador, onde concluiu a Faculdade de Medicina (1897) com a laureada tese inaugural “Epilepsia e crime”. Após mudar-se para o Rio de Janeiro (1902), ocupou cargos públicos, como a direção do Hospital Nacional de Alienados (1904) e, por concurso, tornou-se professor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (1907). Médico legista, político, professor, crítico, ensaísta, romancista, historiador literário, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 1910, tornando-se presidente da entidade em 1923. Membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, da Academia das Ciências de Lisboa, entre outras instituições, é autor dos estudos camonianos: Camões e o Brasil. Paris/Lisboa: Aillaud/Bertrand, s/a; Medicina d´Os Lusíadas. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves/Casa de Paulo de Azevedo & Cia: 1924. A Camonologia ou os estudos camonianos: iniciativa da creação de uma cadeira de Camões na Universidade de Lisboa. Rio de Janeiro: Livraria F. Alves, 1924. Idem; PINTO, Pedro A. Dicionário d'Os

Lusiadas de Luis de Camões. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves/Casa de Paulo de Azevedo & Cia, 1924. C.f. MENEZES, Raimundo de. “Afrânio Peixoto”. In: Dicionário Literário Brasileiro Ilustrado. São Paulo: Ed.Saraiva, 1959; Academia Brasileira de Letras/Acadêmicos (www.academia.org.br).

convidado do Gabinete no Dia de Camões por duas ocasiões, em 1933 e 1936, manteve correspondência com Joaquim de Carvalho entre as décadas de 20 e 30, quando este era diretor da Imprensa da Universidade de Coimbra6. Por essa casa editora centenária, Joaquim de Carvalho editou os textos de Afrânio Peixoto: Camões humorista, em 1928; e Ensaios camonianos, em 19327. O diálogo entre os dois, revelado em parte por cartas de Afrânio Peixoto ao diretor da Imprensa, numa correspondência ainda inédita8, demonstra uma relação de respeito e admiração em torno da publicação de textos brasileiros em Portugal e da circulação de livros portugueses no Brasil. A atuação do professor-editor de Coimbra com a publicação de textos, mas também na tarefa de difusão e promoção dos títulos, faz com que Afrânio Peixoto, em tom de gracejo, em uma da carta do ano de 1932, chame Joaquim de Carvalho de “padrinho e parteira do livro”9. Para além de editor e leitor de temas camonianos, Joaquim de Carvalho é também autor. Já havia publicado estudos sobre as leituras filosóficas de Camões, além de comentários e notas10. Mas aqui, neste Gabinete Português de Leitura, em vez de abordar a obra

6 Com pouco mais de 29 anos, Joaquim de Carvalho foi nomeado administrador da Imprensa da Universidade de Coimbra1, cargo que ocupa entre julho de 1921 a junho de 1934, quando a casa editora foi fechada por decreto-lei salazarista. Uma das mais antigas oficinas gráficas de Portugal, escola de tipógrafos e espaço de solidariedade entre os trabalhadores, a Imprensa da Universidade foi fundada no reinado de D. José I, em 1772, e é tida como uma notável expressão da Reforma do Marquês de Pombal. Sobre a história da fundação da Imprensa, C.f. ANTUNES, José. “A Imprensa da Universidade na Reforma Pombalina”. In Imprensa da Universidade de Coimbra. Uma história dentro da História. Coimbra: Imprensa da Universidade, 2001, p.p.53-66. 7 PEIXOTO, Afrânio. Camões Humorista. Sep. da revista de “O Instituto”. Coimbra: Imp. Universidade, 1928. Idem, Ensaios camonianos. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1932. 8 Foram localizadas cópias de 10 cartas de Afrânio Peixoto a Joaquim de Carvalho, entre 1924 e 1934, no Arquivo Municipal da Figueira da Foz. Fundo de Arquivos Pessoais, Joaquim de Carvalho, caixa nº31.2. 9 Carta de Afrânio Peixoto a Joaquim de Carvalho, 21/12/1932, Rio de Janeiro. Arquivo Municipal da Figueira da Foz. Fundo de Arquivos Pessoais, Joaquim de Carvalho, caixa nº31.2, s/i. Na carta, Afrânio Peixoto agradece a Joaquim de Carvalho pela edição de “Ensaios Camonianos”, bem como solicita, se não mandou livros para distribuição na livraria Aillaud, de Lisboa, que envie 100 exemplares “e mais se o pedirem”, pois são “bons clientes” dos editores dele no Rio de Janeiro, Paulo de Azevedo & Cia da Livraria Alves. Peixoto indaga a Carvalho sobre o pedido que lhe fez de uma distribuição profusa do livro a sua lista de “críticos, escritores e sábios lusitanos”, ou seja, nomes que eram do seu interesse que repercutissem seu texto em Portugal. Para o Brasil, diz que só indicou dois nomes, sem revelar quais. Ao que acrescenta Peixoto: "Aos indicados por mim, poderá você juntar os seus, como padrinho, que é, do livro. Padrinho e... parteira... Meu caro Amigo, blague á parte, não sei como lhe dizer meu agradecimento”. 10 C.f. CARVALHO, Joaquim de. "Estudos sôbre as leituras filosoficas de Camões". In Lusitana. Revista de Estudos Portugueses, Lisboa, vol.2, fasc. 5-6, p.215-253, 1925. Também são do autor, as notas, resumos e registros que se seguem: Idem, “Celebrações camonianas. Camões na Alemanha”. In Lusitânia, Lisboa, 2, 1925, p.361-362. Idem, “Celebrações camonianas. Camões na América do Norte”. In Lusitânia, Lisboa, 2, 1925, p.357-259. Idem, “Para uma interpretação do “Coração Mendes”. Nota bibliográfica”. In Lusitânia, Lisboa, Vol. 2, Fascículo 5-6, p.215-253, 1925. Idem, “Camões e a consciência nacional”. In Biblos. Coimbra, vol. 15, tomo 2, p.618, 1939.

camoniana, ou sua significação nacional e universal, anunciou outro tema, sem se afastar do espírito da data, pois falaria “d´aquilo que nutre e deu vibração coletiva à inspiração dos Lusíadas” e “sem o qual não se compreende cabalmente”, segundo ele, “a épica camoniana”11. A “Compleição do patriotismo português” foi o tema da conferência realizada pelo professor, que pela primeira vez realizava uma viagem de Portugal ao Brasil. É o próprio Joaquim de Carvalho quem explicita a que se vincula a escolha do tema. Logo no início da conferência, afirma que o assunto da Compleição do Patriotismo Português foi sugerido por sua “actual experiência”, não de visitante, nem de estrangeiro no Brasil, mas de “transterrado12”. A palavra, que deve ter passada desapercebida para muitos da audiência, tem significado preciso e não foi escolha aleatória. O professor de Coimbra utilizou um termo cuja história remonta a chegada de exilados espanhóis ao México em 1939 após a derrota da república em Espanha. Cunhado pelo filósofo espanhol José Gaos (1900-1969)13, o neologismo sugere a continuidade linguística e em grande parte cultural encontrada no México, o que permitiu aos intelectuais recémchegados prosseguir e ampliar suas obras realizadas em Espanha. O México, ao contrário de pátria estrangeira, seria então extensão e destino da pátria mesma para aqueles republicanos14. Sem explicar as origens da expressão utilizada, Joaquim de Carvalho se conecta a essa semântica e oferece pistas sobre semelhanças e diferenças no trânsito entre os dois países, Brasil e Portugal, confirmadamente tão próximos e distanciados a um só tempo. E se as 11CARVALHO, Joaquim. Compleição do Patriotismo português. Coimbra: Atlântida, 1953, p.9. 12CARVALHO, Joaquim. Compleição do Patriotismo português. Op. Cit., p.9. 13Discípulo do filósofo Ortega y Gasset, José Gaos y González Pola foi professor catedrático e reitor da Universidade de Madri (1936-1938). Membro do Partido Socialista Obrero Espanhol, é depurado da Universidade pelo governo franquista, sem direito a processo e defesa, com outros catedráticos da instituição. Em 1938, deixa a Espanha, tornando-se professor na Universidad Nacional Autónoma de México (1939–1969). Além de autor, foi também tradutor interessado na difusão do pensamento de Kant, Fichte, Hegel, Husserl, Heidegger, entre outros filósofos. C.f. CARVAJAL, Luis Enrique Otero (dir.). La destrucción de la ciencia en España: depuración universitaria en el franquismo. Madrid: Universidad Complutense de Madrid/ Editorial Complutense, 2006. 14C.f. GAOS, José. “Los transterrados espanõles de la filosofia de México". In Filosofia y Letras, México, tomo 18, nº36, oct.-dic., 1949, p.207-231. ZEA, Leopoldo. José Gaos: El Transterrado. Universidad Nacional Autonoma de México, 2010. O termo “Transterrados (empatriados)” está presente no Diccionario de Filosofía Latinoamericana desenvolvido pelo Centro de Investigaciones sobre América Latina y el Caribe, da Universidad Nacional Autónoma de México, disponível em: http://www.cialc.unam.mx/pensamientoycultura/biblioteca%20virtual/diccionario/transterrados.htm (último acesso em 14 de outubro de 2014).

compleições são distintas, as fronteiras são fluidas o bastante para que o de fora não seja um estranho:

Encontro-me fora de Portugal, mas falo a língua que lá falaria, levo a vida que lá levaria, continuando o mesmo labor, com a mesma aplicação e o mesmo ideal de exatidão e clareza. A terra que piso é outra e outra é a compleição do comum das gentes que a habitam, as quais me sugerem que, sendo forasteiro, não sou estranho, porque se me tornou afectivamente fluida a fronteira do portuguesismo e da brasilidade15. É preciso destacar que, naquela ocasião, o catedrático da Faculdade de Letras de Coimbra estava no Brasil como professor visitante da Universidade de São Paulo (USP). Havia atravessado o Atlântico acompanhado da filha Dulce, no navio Serpa Pinto, onde ambos testemunharam e conviveram com um vigoroso fluxo de emigrantes rumo ao Brasil 16. Partiram de Lisboa em 31 de março, com paragens pela Madeira, Recife, Salvador, até o desembarque em Santos, no dia 18 de abril daquele ano de 1953. No Brasil, Joaquim de Carvalho era aguardado com expectativa por um mosaico de diferentes grupos, desde intelectuais universitários de esquerda e de direita, integrantes de instituições culturais brasileiras, nomes da oposição salazarista no país, por portugueses da ala mais conservadora da comunidade. As conexões antecediam a viagem, bem como o conhecimento e interesse do intelectual sobre o Brasil. As origens dessa relação remontam aos anos em que foi diretor da Imprensa da Universidade de Coimbra, desde 1921 ao ano de 1934, quando a casa editora foi fechada por decreto-lei salazarista17. A questão não poderá aqui ser desenvolvida. Por agora, interessa destacar a participação de intelectuais brasileiros em outro projeto de Joaquim de Carvalho, lançado em março de 1951, com estratégia também transatlântica: a Revista Filosófica. 15Idem, ibidem. 16Na memória da filha Dulce, havia uma terceira classe numerosa, formada pelos muitos portugueses pobres que iam tentar a sorte no além-mar. Multidão que, na lembrança de Dulce, seguia “na maior das misérias porque iam à deriva para ver o que arranjavam no Brasil”. Entrevista concedida por Dulce Montezuma Diniz de Carvalho à pesquisadora no dia 5 de dezembro de 2012 na cidade de Figueira da Foz. 17Sob a direção de Joaquim de Carvalho desde 1921, a Imprensa da Universidade de Coimbra foi extinta pelo Decreto-Lei nº24.124, de 30 de junho de 1934. C.f TORGAL, Luís Reis. “O contexto político da extinção da Imprensa da Universidade pelo Estado Novo”. In FONSECA, Fernando Taveira da. et al. A Imprensa da Universidade de Coimbra. Uma história dentro da História. Coimbra: Imprensa da Universidade, 2001, p.p.93-124.

Num breve comentário sobre os seis anos da publicação, o aspecto que aqui destaco é o que se refere às afinidades com o Brasil e à consequente constituição de uma rede de colaboradores brasileiros da Revista. O próprio Joaquim de Carvalho (que à data do lançamento ainda não conhecia o Brasil) apresentou seu plano já com os “olhos fitos no mundo da fala portuguesa e nos temas que mais importam à nossa situação cultural e à peculiaridade da nossa índole”. Na relação de colaboradores dos sete anos seguintes, esse propósito se realiza com a participação de estudiosos de Portugal 18, em maior número com 29 nomes19, seguidos de 12 correspondentes do Brasil, como João Cruz Costa, Florestan Fernandes, Fernando Azevedo, Evaristo de Morais, Cyro dos Anjos, Pedro Calmon20. Também incluía artigos com assuntos de interesse vindos de outros países, como México, Itália, Espanha, Peru e França21, que formavam também o grupo de contatos do diretor da Revista. 18Entre os colaboradores portugueses, contam-se amigos de Joaquim de Carvalho não restritos ao campo filosófico acadêmico, mas com contribuições de outras áreas do conhecimento. Estão entre os colaboradores, o médico Barahona Fernandes, o escritor Cruz Malpique, o jovem assistente de filosofia Eduardo Lourenço de Faria, o psiquiatra Egas Moniz, Padre Ilídio de Sousa Ribeiro, o bibliotecário arquivista Sérgio da Silva Pinto, o médico João de Oliveira e Silva, o historiador Joaquim Veríssimo Serrão, o psicanalista Seabra Diniz, o professor Sílvio Lima, o crítico literário Jacinto do Prado Coelho, o historiador da ciência e da educação Rómulo de Carvalho, o professor republicano Vieira de Almeida, o musicista, escritor e divulgador do método Braille em Portugal, José de Albuquerque e Castro. Somente duas mulheres constam nessa relação, Maria Elvira de Morais Correia, então licenciada em Ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra; e Mariana Amélia Machado Santos, também licenciada em Ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. 19Listagem relativa aos 21 números em que Joaquim de Carvalho esteve à frente, de 1951 a 1957. No ano de 1959, o filho Joaquim Montezuma de Carvalho organiza um número póstumo da revista, dedicado ao pai, com a colaboração de Américo de Castro (Universidade de Houston, Estados Unidos), Mário Bunge (Universidade de Buenos Aires), José Pecegueiro (pesquisador português), Miguel Reale (Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo). 20Do Brasil, a revista publica contribuições de Alexandre Correia (Universidade de São Paulo), Cyro dos Anjos (Faculdade de Filosofia da Universidade Federal de Minas Gerais), Eduardo Prado de Mendonça (Faculdade Nacional de Filosofia, Rio de Janeiro), Euryalo Canabrava (Universidade do Brasil, Rio de Janeiro), Evaristo de Morais Filho, (Universidade do Brasil, Rio de Janeiro), Fernando de Azevedo (Universidade de São Paulo), Florestan Fernandes (Universidade de São Paulo), Ivan Lins (Faculdade Nacional de Direito, Rio de Janeiro), João Cruz Costa (Universidade de São Paulo), Linneu Camargo Schutzer (Universidade de São Paulo), Lourival Gomes Machado (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo), Luiz Luisi (Faculdade de Direito da Universidade do Rio Grande do Sul, Porto Alegre). 21 Do Peru, Francisco Miró Quesada escreve sobre “A crise da Ciência e teoria da razão” (RF, nº21) e Honório Delgado sobre “A medicina e a psicologia” (RF nº11), “Nicolai Hartmann e o reino do espírito” (RF, nº18); o mexicano Leopoldo Zea sobre “Fenomenologia e dialética de esquerda e direita” (RF, nº21). Enviam artigos, o argentino Risieri Frondizi (Valor e Situação, RF nº21), os italianos Lourenzo Giusso (“Acerca de Campanella”, RF, nº13), Giorgio Del Vecchio (“Sobre a politicidade do direito”, RF, nº15) e Michele Frederico Sciacca (RF, nº6, nº10, nº13) sobre existencialismo e outros temas filosóficos; os espanhóis Ramon Piñeiro (Siñificado metafísico da saudade, RF, nº2); Da Argentina, o alemão Werner

Comparado com outros temas da sua vasta obra, Joaquim de Carvalho tem poucos escritos que versam diretamente sobre o Brasil. Mas os indícios dessa atração e o desenho de um projeto a ser continuado se revelam por diferentes modos, sobretudo a partir dos inícios da década de 1950, até sua morte precoce em 1958. De forma muito breve, interessa apenas citar três elementos que evidenciam essa afirmação: 1)o intercâmbio mantido com intelectuais brasileiros; 2)a realização e gestação de projetos editoriais em comum com o Brasil; 3)e a constituição de uma significativa biblioteca “Brasiliana”, de temas e autores brasileiros ou que versam sobre o Brasil, em Coimbra. Portanto, como ex-diretor da Imprensa da Universidade, e depois editor e organizador de coleções, como os livros da Biblioteca Filosófica (iniciada em 1947) e a Revista Filosófica (1951-1957), Joaquim de Carvalho já havia estabelecido contatos com intelectuais da filosofia, da história e da sociologia no Brasil. A reputação de mestre da História Cultural portuguesa também estreitava os laços com os imigrados à frente de associações e entidades, a exemplo do próprio Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro. Havia ainda ex-alunos e amigos, que difundiam interesses na visita do professor. Demo-liberal, de formação republicana, Joaquim de Carvalho defendia os princípios democráticos e a liberdade de pensamento. Mantinha laços com setores da oposição política a Salazar, especialmente entre os republicanos liberais, muitos dos quais haviam emigrado ou se exilado no Brasil. Não se alinhava às ideias do regime, mas se resguardava no respeito intelectual que nomes da situação lhe tinham, alguns dos quais com quem tinha interlocução, mesmo mantidas as posições divergentes. O conhecimento prévio que possuía do Brasil e a estratégia que aciona para apreender a compleição brasileira estão inscritos nos próprios temas que Joaquim de Carvalho trouxe ao país, e na sua combinação com os lugares onde os apresentou. Comece-se pela sua primeira intervenção, realizada na cátedra de História da Filosofia na USP, universidade de onde partiu o convite oficial para sua viagem. O professor português dava continuidade a um painel de grandes especialistas de renome internacional, especialmente Goldschmidt envia “A culpabilidadee o inconciente”, nº17; Da França, Joseph Moreau (Spinoza et La philosophie de l´existence, RF, nº4), Georges Bastide (Le temps, Le durée et l´éternité dans La philosophie de Spinoza, RF, nº8), León Bourdon (Avis des Astronomes Portugais sur Le Projet Grégorien de Réforme Du Calendrier, RF, nº7), Alain Guy (L´Axiologie perssonaliste de Georges Bastide, RF, nº14).

franceses que, temporariamente, ministravam cursos naquela Universidade em busca de consolidação e reconhecimento nacional e internacional. Em sintonia com esse painel, e tendo interlocução com seu amigo o professor João Cruz Costa, Joaquim de Carvalho ministrou um curso sobre a cultura filosófica e a filosofia de Espinosa. Ainda na capital paulista, o professor português foi coerente com a sua profissão de fé na liberdade de pensar e aceitou o convite do grupo, à época, divergente de Cruz Costa, realizando uma conferência no Instituto Brasileiro de Filosofia (IBF), presidido pelo jurista Miguel Reale, professor da Faculdade de Direito da USP. Ali tratou do tema “Fenomenologia da Saudade”. Cito esses casos para fundamentar a afirmação que, no Brasil, Joaquim de Carvalho encontrava, convivia e conhecia pessoas de diferentes e até opostas posições. Percorria cidades brasileiras com culturas diversas e experienciava o novo. Assim também confirma a correspondência afetiva enviada quase diariamente para sua esposa, Irene, que ficou em Portugal. Também pela primeira vez, Joaquim de Carvalho viajou de avião quando foi de São Paulo ao Rio de Janeiro para apresentar duas lições na Universidade do Brasil. No postal enviado para Coimbra, as emoções se evidenciam mesmo em linguagem quase telegráfica, reforçando que a experiência intelectual não é indiferente às operações realizadas pelos sentidos:

Rio, 7-IV-953, às 16,30, Hotel Hok. Chegamos bem. Voamos a 2.000 ms e a 350 klos a hora. O Rio, de avião é maravilhoso, e o vôo sobre as nuvens, uma cousa q se não esquece. Não quero outro meio de viagem! É um encanto. Logo saberei quando vamos pa. Minas. Saudades do teu do coração. Seu22.

Pelas afinidades implícitas, aceitou o convite da comunidade portuguesa carioca, seguindo viagem a Minas Gerais. Entre o público luso-brasileiro, no Dia de Camões de 1953, são citados membros da Academia Brasileira de Letras, do corpo diplomático, políticos e professores universitários23. Uma curiosidade: ao se referir a este Gabinete, o 22Postal enviado por Joaquim de Carvalho a Irene Montezuma de Carvalho, em Coimbra. Rio de Janeiro, 7/6/53. No verso, imagem do Aeroporto de Congonhas, em SP. Arquivo Municipal da Figueira da Foz. Fundo de Arquivos Pessoais, Joaquim de Carvalho, caixa nº31.2 23Estiveram presente à conferência de Joaquim de Carvalho, o historiador e reitor da Universidade do Brasil, Pedro Calmon, o político Negrão de Lima, ministro da Justiça do segundo governo de Getúlio Vargas; o ministro das Relações Exteriores, João Neves da Fontoura, ex-embaixador brasileiro em Portugal, entre outros. ANTUNES, Joaquim d´Oliveira. “Mestre e Amigo”. In CARVALHO, Joaquim Montezuma

republicano Joaquim de Carvalho omitia a palavra Real da sua fala e das publicações, preferindo dizer Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro. No Dia de Camões, o testemunho do professor sobre o Brasil é de quem revê posições ao comparar a realidade apreendida com um conhecimento prévio, encontrando “coisas análogas, diferenciadas ou radicamente diferentes das que constituíram e constituem” o mundo que lhe era habitual. É a afirmação de uma experiência que mobiliza os sentidos, “vendo e ouvindo, aprendendo e ensinando”, onde confirmou “algo do que sabia”, entre aquilo que procurou saber. Mas o confronto com a experiência operou também transformações nesse saber: “retifiquei juízos que tinha por exactos e sobretudo alarguei o campo da sensibilidade e da reflexão”, revela Joaquim de Carvalho24. Apesar de não indicar de forma explícita ao que se refere, oferece pistas sobre aquilo que encontrou e os juízos que então formulava sobre as realizações materiais, a atividade científica e o ideal cultural, enquanto estava no Brasil. Se, no que toca às realizações materiais, vê “coisas pensadas em originalidade e em grande, levadas a cabo com tal dinamismo e sentido da modernidade que assombram”, no campo científico há o confronto com a sua realidade acadêmica: “a par de assuntos que desabrocham, assisto a plena maturação de outros que em Portugal mal frutificam25”. O intenso intercâmbio intelectual, o acesso direto a autores e obras que depois da viagem viriam a ampliar sua biblioteca de Brasil, também participa dessa reflexão. Por isso, na abertura da sua conferência, não calou esse fato ao afirmar: “Fico devendo aos mestres brasileiros da sociologia e da antropologia cultural a iluminação de alguns problemas que nos tocam pela raiz, e principalmente a incitação ao estudo de alguns sentimentos e de algumas estruturas da compleição portuguesa26”. A argumentação de Carvalho reforça o cariz não aleatório do assunto da conferência. Compleição do patriotismo é tema aparentemente contraditório, falado por alguém que se fincava na tradição republicana, demo-liberal e com caráter universalista. No entanto, é indicador de que ele estava mais uma vez a ilustrar a tese segundo a qual o universalismo também exige o concreto, procurando uma valorização positiva, e não nacionalista e de (org.). Joaquim de Carvalho no Brasil. Coimbra: Atlântida Editora, 1958, p.p.66-68, p.67. No mesmo livro, há depoimentos de acadêmicos da ABL, como Gustavo Barroso, orador brasileiro na solenidade. 24 CARVALHO, Joaquim. “Compleição do Patriotismo português”. In Obras Completas, Op. Cit., p.125. 25Idem, ibidem. 26 Idem, ibidem.

ensimesmada, da ideia e do ideal de patriotismo27. Dessa forma, o professor destaca-o por ser uma componente cultural com tendências próprias. E se estas estão – abre aspas “fortemente impregnadas de espírito nacionalizante”, no entanto, elas não excluíam “de maneira alguma a não menos viva ambição de universalidade, sem a qual as criações do pensamento jamais perdem o acanhamento provinciano28”. Carvalho ressaltou que não se tratava ali de elaborar um conceito que englobe a totalidade da existência nacional portuguesa, o que seria falível frente a uma realidade múltipla na sucessão de gerações, e diversa na pluralidade e no matiz das suas manifestações. O critério seria então o da história e da reflexão crítica em busca de conhecer a índole dos povos pelas manifestações da sua atividade e do seu comportamento no decurso do tempo, seguindo com referência na fenomenologia do comportamento. O discurso oferece diversas entradas de leitura. Como as questões levantadas pelo autor ao desenvolver os componentes fundamentais que aparecem na estrutura da compleição do patriotismo português, a saber: a constância multissecular, o substrato afetivo e a tendência saudosista. “Não há tema mais cativante e sugestivo do que falar da saudade a portugueses em terras do Brasil, onde aliás a sentimentalidade saudosa parece ter adquirido cambiantes peculiares”, diz Joaquim de Carvalho. Outra questão a ser apontada é o alerta crítico de Joaquim de Carvalho a uma concepção de Pátria que tenha por núcleo aglutinante a noção de imperium, ou mais propriamente de exaltação heroica, inculcada pelos descobrimentos e conquistas portuguesas. No que diz Carvalho:

(...)a reflexão em terra brasileira, robustecendo, aliás, antigos pensamentos, levou-me à convicção de que esta conceção não pode nem deve ser o nosso ideal do Portugal de amanhã, que é sempre o ideal que mais importa. Não pode, porque o Mundo já está descoberto e o que aconteceu nos séculos XV e XVI é irrepetível sob todos e quaisquer pontos de vista; e não deve, porque este ideal fomenta um complexo ambicioso e como que de superioridade, cujas crises e vicissitudes geram inexoravelmente, por contraste, o sentimento da decadência, quando não o da inutilidade de qualquer esforço coletivo. Repare-se um 27Sobre o universal e particular na história da ideia de Respublica, ver: CATROGA, Fernando. Ensaio Respublicano. Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2011, p.105-110. 28CARVALHO, Joaquim. “Compleição do Patriotismo português”. Op. Cit., p.124.

instante na nossa variada literatura sobre a decadência de Portugal, e logo se notará que esta literatura teve por nervo um ideal demasiado alto e exageradamente ampliado. Sei que o abandono deste ideal pode suscitar a opinião desalentadora dos portugueses de hoje se não reputarem à altura dos seus antepassados, em cuja ação a morte não teve poder. Sei isto e sei outras coisas mais ou menos relacionáveis; volto, no entanto, a insistir na realidade óbvia e insofismável de que o Mundo já está descoberto.

Mas chegamos a um ponto em que é preciso dizer que essa apresentação faz parte de um projeto maior de pesquisa, em curso há três anos. Para finalizar e seguirmos ao debate, gostaria de sublinhar um aspecto-chave: a abordagem de Joaquim de Carvalho da compleição do patriotismo português foi exposta numa explícita conexão com os ensinamentos que estava a colher no Brasil, experiência que o obrigava a alargar a sua problemática e rever certas ideias até então só teoreticamente adquiridas. Anos depois, ele escreveria: “Sem a realidade histórica portuguesa não é compreensível, nem explicável a realidade histórica brasileira”. Mas tomando suas palavras e ação, o oposto também poderia ser dito: conhecer o Brasil como via de compreensão de Portugal, por semelhanças e diferenças, mesmo que passando por idealizações mútuas.

RESUMO Para celebrar Camões, no dia em comemoração ao poeta dos Lusíadas, 10 de junho, o Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro convidou Joaquim de Carvalho (18921958) como orador principal no ano de 1953. Embora estudioso da obra camoniana, o historiador da Filosofia e da Cultura, catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra pediu licença para não falar diretamente do poeta “símbolo da consciência patriótica” portuguesa, mas sim daquilo que nutre sua obra e “sem o qual não se compreende cabalmente a épica camoniana”. “A compleição do patriotismo português” foi o tema da conferência realizada pelo professor, que pela primeira vez realizava uma viagem de Portugal ao Brasil. Esta comunicação se propõe a indiciar como a abordagem de Joaquim de Carvalho da compleição do patriotismo português foi exposta numa explícita conexão com os ensinamentos que estava a colher no Brasil, experiência que o obrigava a alargar a sua problemática e rever certas ideias até então só teoreticamente adquiridas. Nesse percurso, Joaquim de Carvalho revela aspectos da própria experiência, mas principalmente, dá pistas sobre semelhanças e diferenças no trânsito entre os dois países, confirmadamente tão próximos e distanciados a um só tempo. PALAVRAS-CHAVE: Intelectuais; Luso-brasileiro; Joaquim de Carvalho; História das Ideias. ABSTRACT

To celebrate Camões, on June 10, the day commemorating the poet of the Lusiads, the Portuguese Reading Cabinet of Rio de Janeiro invited Joaquim de Carvalho (1892-1958) as its keynote speaker in 1953. Although a scholar dedicated to the work of Camões, this historian of Philosophy and Culture, Professor of the Faculty of Letters of the University of Coimbra, asked permission not to speak directly of the poet “symbol of patriotic conscience” of Portugal, but of what nourishes his work, something “without which no one could understands fully the epic Camões”. “The constitution of Portuguese patriotism” was the theme of the conference given by the professor who, for the first time, made a voyage from Portugal to Brazil. This notice proposes to indicate how the approach by Joaquim de Carvalho concerning “the constitution of the Portuguese patriotism” was explained, establishing an explicit connection with the knowledge he was gathering in Brazil, an experience that forced him to enlarge his problematics and to review certain issues hitherto only theoretically acquired. With that determination, Joaquim de Carvalho reveals aspects of his own experience, but mainly, he offers us clues about the similarities and differences in the exchange of ideas between the two countries that are, reportedly, so close and so distant at the same time. KEYWORDS: Intellectuals; Luso-Brazilian; Joaquim de Carvalho; History of Ideas.

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