Componentes da Narrativa

June 22, 2017 | Autor: Eduardo Amaro | Categoria: Narratology, Lingüística, Narratología, Teoria da literatura, Estruturalismo
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Componentes da Narrativa Prof. Eduardo Amaro Língua e Literatura Latinas Língua e Literatura Portuguesas

Distinções preliminares - Plano do conteúdo: história, aquilo que é representado numa narrativa, o concatenar-se de acontecimentos (ações, fatos) e o que se pode chamar de seres personagens, elementos do ambiente). - Plano de expressão: discurso, o modo como a história é representada, meios através dos quais o conteúdo é comunicado. - Narrativa: ou discurso narrativo, “designa o enunciado narrativo, o discurso oral ou escrito que assume a realização de um acontecimento ou uma série de acontecimentos” (Genette) (plano da expressão) - História (diegese): sucessão de acontecimentos reais ou fictícios, que formam o objeto desse discurso e as suas várias relações de concatenação, oposição e repetição”. (Genette) (plano de conteúdo) - Narração: “o ato de narrar em si mesmo” (Genette) I – Enredo (também chamado, às vezes, de Trama, Intriga, Entrecho) - Conjunto dos elementos da história na ordem em que foram dispostos pelo autor no texto (com todas as possíveis inversões temporais e lógicas). O “modo pelo qual a coisas que acontecem se organizam na narrativa” (Tomachevski) Segundo os formalistas russos, o enredo se opõe a fábula, que designa o conjunto dos elementos da história na ordem lógico-cronológica como resultado da reconstrução abstraída dos acontecimentos pelo leitor. - Soma das ações (ou motivos) estruturadas pelo autor. Ações que podem ser fundamentais para a história (motivos associados ou dinâmicos) ou secundárias para a composição (motivos livres ou estáticos). - A impressão ou aparência de verdade que a ficção consegue provocar tanto pelo respeito às normas do gênero, quanto pela coerência interna da obra ou lógica interna do enredo, recebe o nome de verossimilhança. Boa parte desse “efeito de real” é também conseguido por referências explícitas ou implícitas a sistemas extratextuais e códigos ideológicos comuns ao emissor e ao receptor. Partes do enredo (divisão tradicional) Apresentação: (exposição, introdução) – fatos iniciais, ações ou motivos introdutórios que apresentam os primeiros elementos da história (podem estar no começo ou no desenrolar da história); b) Complicação: ações ou motivos suplementares responsáveis pelo desenvolvimento. O corre basicamente pelo choque ou desenvolvimento do conflito entre quaisquer componentes da história (personagens, fatos, ambiente, ideias, emoções), causador de tensão (pode haver diversos conflitos em uma obra); c) Clímax: é o ponto alto da complicação, momento máximo da tensão e do suspense, após o qual deve vir necessariamente a solução; d) Desfecho (solução, desenlace, conclusão): momento em que os conflitos são resolvidos. a)

II- Narrador – Voz Narradora/Ponto de vista - Narrador é a voz que narra os acontecimentos na ficção. Trata-se de uma entidade fictícia, um sujeito com existência textual, um “ser de papel” (Barthes) Distinções importantes - Autor real: a pessoa histórica do escritor; - Autor implícito: a ideia do autor que o leitor deduz pelas informações presentes no texto; - Narratário: personagem que eventualmente aparece no texto como destinatário do narrador; - Leitor implícito: ideia de público que as escolhas linguísticas, estilísticas e conteduísticas implicam. - Leitor real: todos os leitores efetivos da obra, independentemente de tempo e lugar. Se, de um lado o problema da VOZ diz respeito à pessoa a quem são atribuídos os enunciados (quem fala), por outro lado, o problema do PONTO DE VISTA refere-se à pessoa que, no interior da história, efetua a ação de ver, de pensar e de julgar. Exemplos: a) O lago tocava a beira do bosque. (voz e ponto de vista coincidem); b) Jorge viu que o lago tocava a beira do bosque (a voz é do narrador e o ponto de vista é da personagem Jorge). - O ponto de vista frequentemente muda mais do que a voz: “Jorge pensava que Paulo era um misantropo; Roberto, ao contrário, julgava que fosse somente tímido; mas ambos se enganavam. Paulo fingia”. Tipos de Narrador - Narrador intradiegético (interno à história) é o personagem que, dentro do texto, assume o papel de narrador. Também conhecido como narrador-personagem. a) enunciado produzido em Primeira Pessoa – conta a própria história como protagonista, é chamado narrador autodiegético; b) enunciado produzido em Primeira Pessoa – conta uma história da qual participou, ao menos, como testemunha (personagem secundário), é chamado narrador homodiegético (podem aparecer enunciados em terceira pessoa, quando o narrador apresenta ações realizadas por outros). - Narrador extradiegético (externo à história): a narração não é exercida por nenhuma personagem. O enunciador do discurso está pressuposto, o enunciado é produzido em Terceira Pessoa. a) Narrador observador: não conta a própria história, nem outra da qual participou diretamente, é estranho a ela. b) Narrador Heterodiegético: pode ser ainda onisciente – sabe tudo sobre a história – e onipresente – está em todos os lugares. III – Personagem (dramatis personae, agente, sujeito actante, sujeito do enunciado)

- Ser ficcional que conduz a ação, pessoas que aparecem numa história, ou que participam da ação de uma peça de teatro, de um romance, de um filme. De acordo com sua função, pode ser: a) Protagonista: personagem principal, herói ou heroína (ou anti-herói), a figura central, aquela que ganha o primeiro plano da narrativa; b) Antagonista: é o que responde ou contesta o protagonista, isto é, desafia-o, opõe-se a ele e a seu destino. É o vilão da história. c) Secundários: aqueles que, participando dos acontecimentos, não apresentam importância decisiva na ação, têm participação menor e menos frequente no enredo. De acordo com a sua caracterização, podem ser (E. M. Foster): a) Personagens Planas: são estáticas, delineadas com poucos atributos, não evoluem. Podem ser tipos – apresentam características invariáveis (o professor, o estudante, a dona-de-casa etc) e caricaturas, apresentando características altamente fixas e depreciativas ou cômicas (o pão-duro, o sedutor, o palhaço etc); b) Personagens Redondas: evoluem e apresentam várias qualidades ou características (físicas, psicológicas, sociais, ideológicas, morais etc). São complexas, multiformes e dinâmicas. IV – Tempo a) Tempo da narração: momento em que o texto foi escrito e as implicações da época na sua estrutura (histórico-literárias, estéticas, sociais etc); b) Tempo da leitura: momento da recepção e as alterações que ela pode provocar em função das experiências do leitor e do momento histórico-cultural em que ele está inserido; c) Tempo da narrativa: tempo interno ao texto, sua percepção depende da marcha dos fatos no interior do enredo. Encontra-se entranhado no enredo e a sua percepção reforça os aspectos de verossimilhança. O tempo da narrativa pode ter as seguintes características: a) Objetivo: Tempo Cronológico. Tempo que se desenvolve na ordem natural dos fatos do enredo – sucessivo, causalístico, mensurável em horas, dias, meses etc. a.1) Época da história: trata-se de um pano de fundo para o enredo. Não coincide necessariamente com o tempo da narração. Publicado no século XX, o livro O nome da Rosa, de Umberto Eco, ambienta-se na Idade Mèdia; a.2) Duração da história: algumas histórias desenvolvem-se em pequeno período de tempo e outras alongam-se por anos. Trata-se de uma questão do efeito que o autor deseja causar no leitor. b) Subjetivo: não segue a lógica do tempo cronológico, mas obedece aos impulsos do narrador ou das personagens. Tempo psicológico, emocional, mágico: relaciona-se com o monólogo interior e o fluxo da consciência, com o flashback ou analepse e o flash-forward ou prolepse. PRESENTE HISTÓRICO: o presente histórico acontece quando um fato do passado é atualizado na narração ou é apresentado como se estivesse acontecendo naquele momento, mas é passado em relação à história. V – Espaço - Espaço é conjunto de elementos materiais ou espirituais que formam o local onde se situam as ações dos personagens, local onde os acontecimentos ocorrem. a) Objetivo: local físico, a terra, o oceano, as montas, as cidades, as fábricas, as casas e os seus interiores etc; b) Subjetivo: psicológico ou mental, envolvendo também dimensões oníricas, mágicas e maravilhosas, tradições, costumes, crenças, hábitos de pensamento, convenções, instituições, climas sociais, econômicos, morais, religiosos.

REFERÊNCIAS BARTHES, Roland. O rumor da língua. Lisboa: Edições 70, 1984. D’ONOFRIO, Salvatore. Dicionário de Cultura Básica (o saber indispensável, os mitos eternos). Rio de Janeiro: Publit, 2010. FOSTER, E. M. Aspectos do Romance. Rio de Janeiro: Editora Globo, 2005. GENETTE, Gérard. Discurso da narrativa. 3 ed. Lisboa: Veja, 1995. TODOROV, Tzvetan. As estruturas narrativas. 5 ed. São Paulo: Perspectiva, 2011. TOMACHEVSKI, Boris. Teoria de la literatura. Madri: Akai, 1982. Copyright: Creative Commons

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