COMPOSIÇÃO DO HABITAT E USO DO ESPAÇO POR LIOLAEMUS LUTZAE (SAURIA: TROPIDURIDAE) EM UMA ÁREA DE RESTINGA

June 8, 2017 | Autor: C. Duarte Rocha | Categoria: Lizard, Distribution, Restinga
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COMPOSIÇÃO DO HABITAT E USO DO ESPAÇO POR UOLAEMUS LUTZAE (SAURIA: TROpmURIDAE) EM UMA ÁREA DE RESTINGA * CARLOS FREDERICO DUARTE DA ROCHA Setor de Ecologia -Instituto de Biologia UlÚversidadedo Estadodo Rio deJaneiro-UERJ RuaSão Francisco Xavier 524, Maracanã,20550, Rio de Janeiro (Com 4 figuras)

RESUMO Neste estudo a distribuição de uma população de Liolaemus lutzae foi estudada e relacionada com a distribuição de vegetação e detritos, indicando considerável associação espacial. Essa associação parece ser devido a vegetação constituir abrigo e alimentação e os detritos, abrigo e sítios de forrageio e termorregulação.

Palavras-clwve:

Habitat,

Distribuição,

Lagartos,

Vegetação de Restinga,

Liolaemus lutzae .

ABSTRACT Habitat Composition and Use of Space for Liolaemus lutzae (Sauria: Tropiduridae) in a Restinga Area Habitat resources strongly influence the distribution patterns of lizard populations. In this study one of the Liolaemus lutzae population's distribution was studied and related with the distribution of vegetation and detritus, Índicating considerable spatial association. This association is probably due to the significance of vegetation in providing food and shelter and the detritus as shelter and foragÍng and thermorregulatÍng sites. Key words: Habitat, Distribution, Lizard, RestÍnga Vegetation, Liolaemus lutzae. INTRODUÇÃO A heterogeneidade espacial tem sido demonstrada como importante fafor influenciando a diversidade de espécies de lagartos (Pianka, 1966, 1977) e aves (Pianka e Huey, Recebido em 9 de dezembro de 1986 Aceito em 7 de junho de 1991 Distribuído em 30 de novembro de 1991 *Subsidiado com verba de auxllio CNPq N2 402266/84

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1971) entre outros organismos. Áreas com maior diversidade por volume de plantas em geral possuem maior riqueza de espécies, enquanto áreas com reduzida cobertura e diversidade vegetal são relativamente pobres em espécies desses organismos (Pianka, 1966, 1977; Pianka e Huey, 1971). As razões para essa redução no número de espécies deve-se entre outras a que áreascom reduzida cobertura vegetal constituem áreas abertas nas quais a

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pressão de predação torna-sc um importante qiientemente encontrado sob detritos trazidos fator (Greene, 1982), além da baixa diversidapelas marés ou sob a ,regetação,onde também de de microhabitats que reduz a oferta de reescava suastocas. cursos para um maior número de espécies. Neste trabalho estudou-se a composição do habitat de L. lutzae na Restinga de Barra Na restinga da Barra de Maricá ocorrem de Maricá e sua influência na determinação da oito espécies de lagartos (Araújo, 1984). Desdistribuição da população na área. sas, apenas uma (Liolaemus lutzae), ocupa a área de dunas e praia de restinga (Rocha, 1988). A área de praia da restinga de Barra de MA TERIAL E MÉTODOS Maricá é uma área aberta com baixa riqueza e Área de Estudo diversidade de vegetação herbácea (Silva e Somner, 1984; Rocha, 1985a) sujeita a elevaO estudo foi desenvolvido na área de da insolação e temperatura ao longo do dia praia da Rest.Ínga de Barra de Maricá, (Rocha, 1988). Nas áreas mais interiores da 22 °57'50"S e 43 °50'4Q"W, que se localiza a restinga tanto a riqueza quando a diversidade aproximadamente 38 Krn a leste da cidade do vegetal aumentam consideravelmente (Silva e Rio de Janeiro. Segundo o sistema de Kõppen, Somner, 1984) e outras sete espécies de lao clima da região é classificado como do tipo gartos são encontradas (Araújo, 1984). Aw, com verão quente e chuvoso e inverno L. lutzae é uma espécie críptica sobre a seco (Franco et al., 1984), com a temperatura areia da praia e que enterra-se rapidamente média anual variando entre 22 e 24 °C e a precipitação média anual entre 1.000 e 1.35Ornm quando perseguido (Rocha, 1985b). Rocha (1988) mostrou como L. lutzae regula sua ati(Nimer, 1972). O solo da área de praia é composto de vidade horária, a utilização de detritos por es99% de areia Ínconsolidada sendo o conteúdo sa espécie como abrigos diurnos e a importânde nutrientes muito baixo (Henriques et cia de ajustes comportamentais que provavelal., 1984). A vegetação nessa área é do tipo mente permitem a espécie viver em um amherbáceo, resistente à salinidade e sujeita à biente com temperaturas críticas nas horas constante ação das marés, constituindo uma mais quentes do dia. Em outro estudo (Rocha, comunidade de hal6fitas, na qual predominam 1989), o autor mostrou que essaespécie, indeas famílias Amaranthaceae, Convolvulaceae, pendente do pequeno tamanho corporal, inclui Gramineae e Leguminosae. Sobre a areia é na dieta algumas das espécies vegetais da comum encontrar-se grande quantidade de deárea, provavelmente como forma de compensar a baixa oferta de artr6podos nesse amtritos depositados pela ação das marés ou por biente. Para sobreviver em uma área aberta, ação antr6pica. com baixa oferta de microhabitats e abrigos como a área de praia da restinga da Barra de Metodologia Maricá, provavelmente L. lutzae deve se assoO projeto foi desenvolvido em uma área ciar a fatores que diminuam o risco de predade 500 metros de extensão de praia. por 60 ção e a menor heterogeneidadeambiental. Este metros da linha da praia (linha inicial de coloestudo foi conduzido para avaliar a composinização vegetal) para o interior. totalizando ção do habitat de L. lutzae e como a espécie uma área de aproximadamente 30.000m2. A faz uso do espaço, reduzindo os problemas asfim de se facilitar a localização dentro da sociados a viver neste tipo de ambiente. mesma. foram colocados marcos. com metraUolaemus lutzae é um lagarto aren(cola, gem a intervalos regulares de 50 metros. O endêmico das áreas de praia das restingas do estudo de campo foi executado durante os meRio de Janeiro localizadas entre a Restinga da ses de fevereiro. março e abril de 1985. no peMarambaia ao sul (23°05'S, 44°00'W) Cabo ríodo de chuvas. Frio (22 °53'S, 42 °00'W) ao norte do Estado Durante cada excursão de campo. a área (Vanzolini e Ab' Saber, 1968). Nessasáreaso foi intensivamente vasculhada entre 5:00 e habitat de L. lutzae em geral restringe-se às 17:00h à procura dos lagartos. Quando um lapraias arenosas colonizadas por vegetação garto era avistado. era efetuada a sua captura herbácea até o limite com a zona arbustiva com a mão. e medido o comprimento rostro(Rocha, 1985). Esse lagarto pode ser freanal. A posição inicial do lagarto (primeiro

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ponto de avistaJnento) era registrada utilizm1do-se o sistema de eixos cartesianos no qu31o eixo "x" correspondia a distânci3 do ponto de avistamento do lagarto à linh3 de praia, e o eixo "y" desseponto ao metro zero. O COlJ1primento rostro-anal dos lagartos foi correlacio-" n3do com a dist[mcia entre o ponto ,dc avistamento e a linha de praia. O habitat de Liolaemus iutzae foi estudado em dois aspectos: a) Vegetação da prai3; e b) Material resultado de deposição (detritos). O Estudo da vegetação da praia abrangeu aspectos qualitativos e quantitativos. A nível qualitativo, realizou-se um levantamento das espéciesvegetais ocorrentes na área. Foram feitas excicatas, posteriormente identificadas no Museu Nacional do Rio de Janeiro. A nível quantitativo, estudou-se a cobertura vegetal e a freqiiência de ocorrência por cada espécie. No sentido oceano-lagoa, partindo-se da faixa inicial de ocorrência de vegetação (linha de praia) e até o limite de 60 metros, foram realizados três transectos de banda, com banda de 1 metro. Dentro de cada transecto, a cada 2 metros (parcela) era assinalada a ocorrência de cada espécie e estimada percentagem de cobertura sobre o solo. Dessa forma, cada transecto possuía30 parcelas de 2x2 de lado. A partir dos dados obtidos nos 3 transectoS(transformados para raiz do arco-seno) calculou-se a média de cobertura por cada espécie a cada 2 metros no sentido oceano-lagoa até o limite de 60 metros. Foi calculada também a porcentagem média vegetal total a cada 2 metros. A freqiiência de ocorrência por cada espécie foi estimada a partir da razão entre o número de parcelas em que ocorreu, sobre o .total de parcelas amostradas (90). Na análise do material resultado de deposição (detritos), aproveitando-se os 3 transectos de banda utilizados no estudo fitossociol6gico, em cada parcela 2x2 no sentido oceano-Iagoafoi também estimada a cuberiura do solo por detritos (em cm2). Os resultados obtidos nos 3 transectos fôram expressos de acordo com a média de cobertura por detritos a cada intervalo de 2 metros. Ao se percorrer a área de Estudo, quando um lagarto era encontrado sob detrito, as dimensões deste último eram medidas e calculada a sua área em cm2. 'o comprimento róstro-anal dos lagartos foi correlacionado com a área do detrito. Foi feita análise de re~ressãoentre a média de cobertu-

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ra vegetal e o número de lagal1os t; entre. ~ média de cobertura por detritos e o número dc lagartos a cada 2 metros desde a lilrlla de praia até o limitc intcrior onde capturoU-!;cJ;lgartos. Adicionalmente foi feita correlação entre o comprimento rostro-anal dos lagartos e a distrmcla cl11 mct.ros da sua posição original à linh:1 clc nraia.

RESULTADOS Na área de praia da Restinga de narra de Maricá foi assinaladaa ocorrência de 15 espécies vegetais, pertencentes a 11 famílias. A Tabela I mostra as espécies e respectivas freqiiências de ocorrência na área estudada, e a TABELAI Espécies vegetais e respectivas freqfiências de ocorrência na área de praia da Restin!!a de Barra de Maricá -RJ Espécie Céreus pernambucencis lpomoea /jttoralis lpomoea pes-caprae (* ) PhyOoxerus portulacoides A/temantllera maritima Sporobolus virginicus Panicwn race1noslUn Re1nirea maritima Stachtarpheta sp. Monugo verticilata Borreria capitata Mjtracarpus erchlemii Canavalia obtusifolia

Famffia

Freqiiência

Cactacea::

3.3 40.7

Convolvulaceae Convol

vulace:le

Amaranthace:le A maranthace:le Gramine:le Gramineae Cypcraceae Verbenace:le Molluginaceae Rubiaccac Rubiace:le Leguminoseae

6.8 39.0 94.9 33.9 81.4 45.8 73.3 15.3 47.5 5.1 25.4

Euphorbiaceac EupllOrbia hyssopifolia I"auraceae CassvtlIQ filirormis (*) -(*) Embora não tenha ocorrido em nenhuma das parcelas dos transectos. Ipomoea pes-caprae e CassytlIG filiformis foram coletadas na área de praia da Restinga.

Fig. IA, G) as porcentagens médias de cobertura sobre o solo por cada espécie, a cada 2 metros entre a linha de praia e o limite interior estudado (60 metros). Phylloxerus portulacoides e Canavalia obtusifolia foram as menos frequentes(6.8 e 5.1% respectivamente), ocorrendo apenas nos 6 primeiros metros junto a linha de praia (Fig. lE, G), mas em geral ofereceram maior cobertura ao solo que qualquer das outras espécies(Fig. IA, G). Alternanthera maritima e Ipomoea litorallis tiveram frequências similares (39.0 e 40.7% respectivamente -Tabela I), tendo tido ambas em geral baixo percentual médio de cobertura sobre o solo ( 1.0 a 2.0%, Fig. lB, A). I. litorallis occrreu do décimo metro a partir da linhas de

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