Composição Musical como uma Analogia a Estruturas Caóticas
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GomposiçãoMusicalcomo uma Analogia a EstruturasCaóticas por VanessaFernandaRodrigues (Mestreem Composição- Unicamp)
Teoriado Caos. música,composição, Palavras-chave: Resumo: Este trabalhótem como objetivodiscutiruma possívelrelaçãoentre musicae a teoria do caos, baseando-senesta modelizaçãocomo conceito gerador de ideias composicionais. Abstract: This paper aims at discussinga possiblerelationbetween music and chaos ideas. theory,based this modelling,as a generatingconceptof compositional chaostheory. Key words: music,composition, A Teoriado Caos como se conhecee
Pode-sepensar este um exemplode
discute-seatualmente,teve origem na
figura caótica, considerando que sua
década de 70, quando foram detectados
origem é
variações não previstas em cálculos
determinada,e
iteradosde sistemasdeterminísticos.A
apresentauma formadiferenteda original,
grossomodo,isso significavaque mesmo
A mas que preserva autossemelhança.
em sistemasmodelaresfechadose com
essasfigurasdenominam-se o nome de
mesmasvariáveis,era possívelse obter
fractal.
traços
representações finitas
de
reorganização de
algo
aparentementejâ estabelecido. Esta experiênciafoi possívelpelo adventoda
de
um
triangulo, figura
que quando iterada,
Os fractais são espécies de de
uma
possibilidade infinita. O caos representa no pensamento
tecnologia,mas é possívelperceberem
moderno a afirmação de um modelo
iteraçõesmenoscomplexasesteconceito.
vinculado a
A figuraabaixomostraa iteraçãofeíta
mudança constante, ao
processoe ao acaso. A mesmo tempo
p.or Koch que deu origem a curva,
que
formadapor triângulos:
imprevisibilidade, no sentido que nos
dá
uma
suposta resposta a
possibilitaresvalarno vir à ser. Então,o caos
significa
o
paradoxo,
a
reorganização,o 'lidar com o acaso', o 'gerenciaro futuro'. Mesmoque tudo isso conceitual seja apenasuma possibilidade baseadaem uma modelização.Para nos, como compositores,nos interessacomo principalaspectodo que se pode chamar da moderna teoria do caos é " que sistemas
descritos
por
equações
determinísticaspodern apresentar u!'n
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comportamento ao
acaso"
38. É
exatamenteno conceitode acaso que se resvala em
experimentos,sensações
Observe a
figuraa seguir:
uma analogia com a
composição e escutamusical. As teorias científicasem sua maioria são modelizações.Por isso seja possível pensá-lascomo conceitosgeradoresde ideias que em algum momento se relacionaramcom o ambienteou com o comportamento dos (físicos)
universo,
movimentos do caso
estas
modalizaçõessejam comprovadamente verdadeiras.
Existem ínúmeras
para a Teoriado Caos,por aplicabilidades parecerser esta uma maneirageral que permite a
observação de processos
complexos e a interação com eles. Pretende-se tomar o modelo de funcionamento da Teoriado Caos como forma de um conceito. De outra maneira não seria possível uma relação bem sucedidano que se referea composição musical. É importantesalientarque não existe uma equação matemática não-
O Fractal acima é resultadode uma função algorítmicareiteradacentena de vezes por um computadorcapazde fazêlo e aindade mostrara imagemespacial referentea este algorítmico. por meio destecalculo,foi possívelperceberque os padrões sistêmicos da natureza são caóticos.
lsso não significa necessariamente que não existaordeme
linear que descreva o processocriativo
estabilidade. Comparandoisso com o modelode um sistemacaótico,leva-sea
envolvidona composiçãoou na escuta musical. Por outro lado existem
crer que exista sim um processo de reorganização continuaque interagecom
característicasdo modelo de sistemas caóticosque são análogosaos sistemas
os eventosaleatóriosque participamdo processo.Em outraspalavras,o caosé ,,a
da natureza.Sabe-sehoje que a natureza
generalização
é essencialmentenão-linear3ee essa
universal da
de
comportamento
característica é que impulsionaas bases
complexidade"ao. Ao contráriodo que pensa o senso comum,
para as analogiasentre os processosde
comportamento ao acaso ocorretantoem
organizaçãoobserváveis - fenômenos,
sistemasde naturezadeterminada, quanto os de natureza indeterminada.Neste
"HUSSEIN,2002. Mahir S. 100anosde FísicaQuântica.p. I 88. 3eSAVÌ, Macelo Amorim, 2006. Dinamicas não-lineaïese Caos. p. 19 M ú s i c a e Ciê n cia Ciclo d e Pa le str a s
40RHODE, GeraldoMario.1997. Simetria:RiaorE lmaginação.p.141 NECIMC
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momento,
enquanto
artistas,
e
Caos e ComposiçãoMusical
interessante uma abordagemque entenda a Teoria do Caos de maneira mais
O contatocom os movimentosrápidos
qualitativa,pretendendocompreendero
da ciência,de toda tecnologiae o avanço
processode formamaisglobal.
bem como a rápido aos conhecimentos,
Em suma, a questão do caos em
reproduçãodestescomo bens e produtos
música se relacionaem como perceber
mudou radicalmente a maneirade ouvir,
este movimentoque denomina-se caótico
criar e pensarmusica. Assim como em
e transformá-loem forma expressiva.
algum momento da históriaas teorias
perceber estas flutuações e captá-las
filosoficasservirarncomo inspiraçãopara
como geradoras de
a busca empíricado conhecimento, de
composicionais.
novos padrões
Desta
forma
o
outro modo, as teorias científicastem
compositorseria não uma pessoa que
inspiradonovasmaneirasde pensartanto
busca
a filosofia quanto arte.
incansavelmente dentro
recorrente, uma
do
nova maneira de
organizaçãoque leve uma escutainedita. Sabe-seque a autoriada obra e o limiar
E é neste
encontro,nesta possíveldualidade- ou seria multiplicidade? - que a música, enquantopensamentocriativoe artístico,
entre compore deixarque o performera "recomponha" no momentoda execução.
encontroupossibilidades de interaçãocom
Sendo assim, ser compositor ou se relacionacom o ato de determinarou de
Dentreestes conceitos,destaca-seneste
criar possibilidades para que o acaso se torneexpressivo.Até o pontoque o acaso possa ser expressivo em uma obra musical.Enquantocompositores isso nos interessano que se refere aos eventos que ocorremao acaso. lsto é : comocada evento pode criar uma nova rede percepçõese de ideias relacionadosao
conceitosantes não relacionados a ela. ensaiosua relaçãocom a teoriado caos Observou-seque eventos e ações aparentementeisoladospodiam inter-ferir nos resultados finais e gerais de processosclimáticospor exemplo. Mais tarde esta teoria se estendeu para processosde qualquernatureza. Com a possibilidadede iterar algoritmos, foi então possível encontrar através de
mesmo, como estes eventospodem ser
padrõesmatemáticosirregularidades que
atreladosde maneiraa fluir como matéria
podiamcriar outrospadrões,mesmo que
expressivae ainda revelar mudançasde padrôes.
nenhuma das variáveis da equação tivessemudado. Outropontointeressante dentrodo estudodo eaos,é que com a iteração de
equações algorítmicas
compiexas, foram descoLrertasformas
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los
semelhantesas encontradasna natureza,
mais proximasdo compositor.A primeira,
sinalizando que o universoé organizado por padrõesque se auto-estruturam, e que
mais atreladaa relaçãodo compositore
existe uma força - ou movimento- que faz com que estes padrões mudem
ìço )a
gradativamente
tos
mas
mantendo
seu momento de relacionado ao
criação e
outro,
compositor e
a
possibilidadeque ele proporcionaao performerno momentoda execuçãoda
vir,
similaridade com o oríginal. Então, ao
peça. Sobre o momentode criaçãoentre
em ias
contrario do que Platão pensava, as formas do universo não são copias do
o compositore sua obra, o ato de compor participa ao compositor o trabalhode criar
era
ideal. São originaisde um processo
agenciamentos,
de
contínuo de produçãoautossemelhante
desenvolverpor meio de hábitos - e sobretudopensamento- , maneirasde
no tempo.
em
Relacionando este pensamentocom a
nto
teoria da relatividadegeral de Einstein, temosentãoo tempocomo mais um vetor
ste ou
que direcionao espaço em expansão. Neste lugar é que os eventos caóticos
C â, CO,
acontecem,dando origem a constantes processos organizações. Agora imaginem, eventos de naturezas
cm rl a . ste
diferentes t.
com
padrões
de
obrigando-o
a
interação com o mundoenquantolugarde atualizaçãode virtuais. O compositor interagee reage com o materialmusical que ele mesmoconstrói. O caos aparece aqui como uma espécie de paradoxo, onde agem forças que relacionam o compositor como pessoa suas experiências,conhecimentosdo material musical e aspirações- e o mundo em
)rir
comportamento parecidos,mas ao mesmo tempo aleatorio ocorrendo ao mesmo
que vive. O resultadodestafusãoseriaa composição musical. A obra como
de
tempo. Como esses eventos todos se
resoluçãode um paradoxo,ou aindamais
organizam?
)ra
Que força os mantém conectados?Estas perguntasnão podem
um evento aleatóriojogado ao caos.que criaráuma perturbaçãoe/ou uma geração
Ìa
ser respondidas ainda. Mas sabemosque
foi
os estes eventos, estes processossão sistematizados e que se auto-organizam
de novos eventos. Assim, um outro compositor,escultor, ou qualquer outro
ies
ais
de
por força de atratores estranhos. Na música, compositoresreagiram a tudo
lue lue rão
isso com a necessidade da vanguardaem abraçara pós-modernidade, no sentidode
rte
que o
acaso tornou-se gerador de conceitosque movimentaa composição.
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: .: .:.':.: .; N.;.4
artistatambém poderá se apropriarde "idéias musicais"ou de qualqueroutro agenciamentoem curso para compor muitas vezes por divergência,disjunção ou aleatoriedade. O Caos, que se apresentacomo uma força paradoxalem
Pode-sepensara influenciada Teoria
composiçãose caracterizaentâopor esse processoinicialde jogo de forças.onde o
do Caosna composÍção de duas maneiras
sentidodetermináveldo "bom senso,,se
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76 contrapõea "afirmaçãode dois sentidos a1 ao rnesmotempo" sendo esse jogo a gênese da criação. De maneira que o caos, em uma metáfora simPlista,é o lugar das intuições, asPirações e do criador,do compositor' inspirações De outro modo, o comPositorPode ao acaso ainda engendrarpossibilidades composição matores na escuta,atravésda conseqüentemente ou aleatoriedade' Se o indeterminação caos é o momento de reorganizaçáo,o sistema Procura se em músicae em composiçãoé estabilizar; ponto onde o
que nele que emerge as variabilidades podem dar um caráter exPressivo a composição.
Vale esclarecer que
aleatorioe acaso são palavrasunívocas e/ou correlatasquando relacionam-sea caos, mas em música,isso'nãoé literal' Sendo assim, atribuímosentão à acaso, os
processos mais
indeterminados
possíveis,onde o compositor"abre" a obra para eventos não previstos que podem ocorrer no desenvolvimentodo processode execuçãoe/ou performance da obra. Ao aleatório,podemosnos referir a duas possibilidades: alternativas fechadas propostas pelo compositor' deixandoa escolhaem abertoa cargodo intérpreteno momentode realizaçãoda obra - performance.Quanto mais longe da escrita tradicionalfor a partiturada obra, maior será seu grau de Çonexão com o acaso. Quanto maior for a gama
pelo de materiais sonoros propostos compositor,mais riqueza em textura a peça ganhará. E flnalmente, quanto melhorfor o conhecimentodo intérprete sobre a obra e sobre a manipulaçãodos materiaispropostos,maior será a gama de variaçõespara essa de possibilidades obra.
ConsideraçõesFinais O modelo da Teoria do Caos está relacionado com música no sentido conceitual.
comPositor Pode se
O
relacionarcom este paradigmapara criar possibilidadesde desenvolvimentoem sua obra. Ele ainda,pode partilharisso com o interprete. Esses pensamentos sobreo caos em música não são novos' Jonh Cage, já exPlorouo acaso em sua últimainstânciacom a obra4'33". lannis Xenakis, trabalhou e exPerimentou exaustivamentea questão da musica estocásticaem seu FormalazesMusic' E ainda hoje, existem Pessoas que se ocupam em fazer uma música que se relacionacom as funçõesque dão origem aos fractais. Sendo assim,o que importa como comPositora neste trabalho é primeiramente lazer
um
Pequeno das ideiaspensadassobrea mapeamento música' relação entre caos e desenvolvendoo desejo de entender quais as intuições que nos levam a compor.
Ou
ainda, como
nos
relacionarnoscomo criadorese artistas alDe leu ze ,19 92 Músicae CiênciaCiclode Palestras
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r
7l com as
informações que nos são chegadas,traduzindo-as em arte - em nossocaso,composição.
p.141
ReferênciasBi bliográficas
TERRA,Vera.2000,Ácaso e Aleatoriona
SAVI,MaceloAmorim, 2006. DÌnâmicas não-linearese Caos.EditoraE-papers,p.
Música,2000, E d it o ra E DUC/F a p e s p p ,. DELEUZE,Gilles e GUATTARt,Fétix. 1992. O que e Fitosofia,4a. Ëdição,
29- 38.
Editora34, Riode Janeiro. DELEUZE, Gilles. 2004. A togica cto SenÍrdo,4a. Edição, Editora perspectiva São Paulo. H U SS E IN,2002. MahirS . 70 0 a n o sd e FísicaQuântica.EditoraLivrariada Fisica, p.18 8. RHODE, Geraldo Mario. 1997. Simetria: Rigor E ImagÌnação.EditoraEDIPUCRS,
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