Compreensões de Pesquisadores Químicos sobre Sustentabilidade Ambiental: possíveis influências na formação de professores de Química
Descrição do Produto
Química Verde 01 | Volume 09 | Número 02 | Jul./Dez. 2014
p. 79-92
Compreensões de Pesquisadores Químicos sobre Sustentabilidade Ambiental: possíveis influências na formação de professores de Química Comprehensions of Chemists Researchers on Environmental Sustainability: possible influences on Chemistry teacher formation Carlos Alberto Marques1, Franciani Becker Roloff2, Leonardo Victor Marcelino2, Leila Cristina Aoyama Barbosa2 e Aniara Ribeiro Machado2 3 RESumo Este artigo analisa possíveis influências na formação de professores de química e suas compreensões acerca da relação entre química e sustentabilidade ambiental, considerando suas respostas a um questionário investigativo e suas produções científicas. A aplicação da técnica de Cluster indicou a formação de subgrupos de acordo com a semelhança das respostas nas quais os fatores de separação auto-organizada entre os grupos convergiram, tanto na consideração da limitação entrópica ao desenvolvimento sustentável, quanto na conservação das massas e uso de fontes renováveis. Apesar de todos justificarem motivações ambientais em suas produções acadêmicas, suas respostas apontam: que tais relações de significado são pouco claras para uma crença na ciência e na tecnologia como resolução aos problemas ambientais; e, ainda, a “ausência” de olhar crítico sobre os limites termodinâmicos ao alcance da Sustentabilidade Ambiental. Palavras-chave: Termodinâmica; Sustentabilidade ambiental; Formação de professores de química. 1. Departamento de Metodologia de Ensino, Universidade Federal de Santa Catarina. 2. Programa de Pós-graduação em Educação Científica e Tecnológica, Universidade Federal de Santa Catarina. 3. Agradecemos ao CNPq – Projeto Universal 47346/2010-2; à CAPES por meio do Acordo Internacional CAPES-FCT (Projeto 289/11) e aos pesquisadores que participaram da pesquisa.
Compreensões de Pesquisadores Químicos sobre Sustentabilidade Ambiental
Abstract This paper analyzes possible influences of Chemistry researcher’s comprehensions about the relation between their scientific area and environmental sustainability upon Chemistry teachers’ formation, based on a survey and on their scientific production. The Cluster technique was applied and indicated the formation of groups and subgroups by resemblance of answers and differences concerning both to the entropic limitations to sustainable development, to the mass conservation and to the use of renewable resources. Despite all the selected Chemistry researchers approach environmental concerns in their papers, their answers point out: that these relations are not made clear to a belief in the ability of science and technology to solve environmental problems; and yet to the “absence” of a critical view on the thermodynamic limits to the reach of environmental sustainability. Key-words: Thermodynamic; Environmental sustainability; Chemistry teacher formation.
1
causar danos ao ambiente. Visando responder parte
Introdução
dos problemas ambientais gerados pela própria
A busca pela sustentabilidade na dimensão
química, emerge, nos anos 90, a chamada Química
ambiental compreende, entre outras medidas, o
Verde (QV), que pode ser definida como a utiliza-
uso racional dos recursos naturais e a melhoria na
ção de técnicas químicas e de metodologias que
eficiência técnica quanto às transformações mate-
reduzem a geração de produtos nocivos à saúde
riais e ao uso da energia. Todavia, por mais jus-
humana ou ao ambiente (Anastas; Warner, 1998).
tas que sejam as medidas para a manutenção das
Marques et al. (2013) comentam que a QV vem
condições de vida e para a diminuição da degrada-
contribuindo para o desenvolvimento científico e na ino-
ção do meio ambiente, isso não fornece garantias
vação tecnológica associada à sustentabilidade (p. 914),
quanto ao futuro do planeta e da vida. Portanto,
ainda que um dos autores tivesse, em artigo poste-
é preciso alterar o atual ritmo e forma de desen-
rior (Marques; Machado, 2014), salientado sobre
volvimento devido aos limites impostos pelas leis
os limites que os postulados termodinâmicos têm
da termodinâmica, especialmente, da Segunda Lei
imposto à própria ideia-força da sustentabilidade
(Georgescu-Roegen, 2012; Nascimento, 2012).
ambiental (SA) e do desenvolvimento sustentá-
Aliada à problemática da sustentabilidade, a
vel (DS). Além disso, ressaltam que, embora em
complexidade de fatores envolvidos nas trans-
menor grau, existe a necessidade das práticas da
formações e degradação do ambiente, o enfren-
QV orientarem o ensino da química e a formação
tamento da crise ambiental e a minimização dos
dos químicos (incluindo seus professores) nas
impactos sobre o meio biofísico requerem o com-
questões relacionadas ao ambiente (Marques et
promisso das diversas áreas do saber (Roloff;
al., 2013). Do mesmo modo, Karpudewan, Ismail
Marques, 2014). Neste contexto, a Química repre-
e Roth (2012) consideram que os futuros profes-
senta um papel importante, pois algumas de suas
sores da área tenham uma base sólida de conhe-
atividades geram produtos e resíduos que podem
cimentos químicos capazes de articular e discu-
80
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 09 | Número 02 | Jul./Dez. 2014
Compreensões de Pesquisadores Químicos sobre Sustentabilidade Ambiental
tir questões ambientais em sala de aula. Geiger
quências dos problemas ambientais, ou pelas con-
e Donohoe (2012), por sua vez, acreditam que a
cepções sobre a influência que recebem do atual
busca por processos químicos mais limpos, e sem
modelo de desenvolvimento: I) a produção de
efeitos nocivos ao ambiente – cuja redução se dará
mais mercadorias, utilizando-se de menos recursos
mediante o uso de solventes orgânicos ou rea-
naturais e energia (Solow, 2000) e argumentando-
gentes tóxicos, conforme propõe a QV –, seja um
-se em favor da maior eficiência tecnológica; II) a
excelente modo de abordar questões ambientais no
definição-conceito de DS, formulada no Relatório
curso de Química.
Brundtland (WCED, 1987), em que o uso racional
Devido à importância das relações entre essas
e parcimonioso dos recursos naturais garantiria o
dimensões para a formação de professores, julga-
desenvolvimento sem comprometer as necessidades
mos necessária a investigação de possíveis inter-
das gerações futuras (na busca por uma economia
ligações entre a sustentabilidade e aspectos eco-
socioambiental mais eficiente que poupe energia e
nômicos, sociais e ambientais, buscando mostrar
recursos naturais) (Nascimento, 2012); e III) a que
em que medida as ciências da natureza, incluindo
considera que o atual modelo de desenvolvimento
a Química (Verde), podem atuar nesse importante
nos levará à autodestruição, sendo necessário um
e urgente tema. Para tal propósito, no presente tra-
decrescimento econômico (Latouche, 2012). Essa
balho, apresentamos resultados complementares
corrente se fundamenta, dentre outras linhas, na tese
de uma pesquisa anterior (Marques et al., 2013),
de Georgescu-Roegen (2012), cujo autor afirma que
por meio de análise qualitativa das respostas de
o processo econômico, do ponto de vista puramente
pesquisadores químicos a um questionário, com o
físico, não faz mais do que transformar recursos natu-
objetivo de caracterizar suas compreensões sobre
rais de valor (baixa entropia) em resíduos (alta entropia)
o significado e o alcance dos termos SA e DS no
(p. 62). Portanto, a produção econômica é, no fundo,
âmbito da Química, apontando para possíveis des-
uma transformação entrópica.4
dobramentos na formação de professores da área.
Ao se considerar as hipóteses sobre os efeitos do desenvolvimento (econômico) ancoradas por tais
2
Limites termodinâmicos à sustentabilidade ambiental
vertentes, é preciso levar em consideração que a física e a química, em particular, podem contribuir para um melhor entendimento acerca dessas “ameaças”. Isso
Parece consenso que o futuro da humanidade
seria possível a partir de alguns de seus princípios e
esteja ameaçado (IPCC, 2000) e que as causas disso
de conhecimentos científicos já estabelecidos, espe-
residiriam, principalmente, no aquecimento global.
cialmente os postulados da termodinâmica, como
Tal constatação resulta no enunciado de quatro ver-
também no desenvolvimento de alternativas tecno-
sões dessas ameaças: I) comprometimento da manu-
lógicas. Nesse sentido, é necessário que a Química
tenção do planeta Terra; II) obstáculo à existência
reveja como tem encarado esse desafio societário da
da vida em geral; III) extinção do gênero humano;
busca pela SA, o que implicaria no reconhecimento,
e IV) degradação das condições de vida humana
dentre outras coisas, da ineficácia de seus paradigmas
– vertente que incorpora as variáveis socioeconô-
clássicos da diluição e do risco (Thornton, 2000).
micas e ambientais em sua análise (Nascimento, 2012). Como consequência disso, três proposições são sugeridas para o seu enfrentamento, as quais se distinguem, ou pelo modo como avaliam as conse-
4. Maiores caracterizações sobre os fundamentos defendidos por Georgescu-Roegen que relacionam os postulados termodinâmicos e a SA são encontrados no trabalho de Barbosa e Marques (2013).
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 09 | Número 02 | Jul./Dez. 2014
81
Compreensões de Pesquisadores Químicos sobre Sustentabilidade Ambiental
3
vendo a QV no Brasil, que mostrou que ainda há
Sustentabilidade ambiental no contexto de formação de professores de Química
pouca disponibilidade de propostas de atividades e materiais para serem incluídos em conteúdos pro-
Uma das principais características dos cursos
gramáticos de ensino, apesar do crescente aumento
para a formação de professores é a inserção de dis-
de exemplos de utilidade da QV no enfrentamento
ciplinas pedagógicas no currículo dos bacharela-
dos problemas de prevenção ambiental.
dos (Gauche et al., 2008), cujo modelo, segundo
Considerando-se a importância do tema da SA,
Gatti (Gatti, 2010, p. 1357), foi consagrado no iní-
busca-se problematizá-lo e analisá-lo do ponto de
cio do século XX para as licenciaturas. Esse modelo,
vista do reconhecimento da ideia-conceito nele
por sua vez, desfavoreceu orientações mais inte-
contida, de suas formas históricas de apropria-
gradoras, como a formação disciplinar/formação
ção, uso e discussão. É nesse âmbito que se julga
para a docência, favorecendo abordagens mais
importante analisar se os pesquisadores químicos
disciplinares e conteudistas. No entanto, através
veem esse tema enquanto um “desafio” e como
desses aspectos, é possível entrever que, tanto a
isso os orienta na atuação profissional, pois, em
formação inicial quanto a continuada, incluindo a
suma, são formadores de professores de Química.
de professores, é relevante e demanda pesquisas
As ideias por eles expressas, ao interpretarem e
(Gonçalves, 2009). Do mesmo modo, é igual-
responderem às perguntas do questionário de pes-
mente importante o desenvolvimento de estudos
quisa – assim como a análise de vários de seus arti-
que envolvam a inserção de temas ambientais e de
gos publicados – podem possibilitar uma melhor
aspectos interdisciplinares ao ensino de química,
compreensão acerca de como percebem a relação
como os que tratam da questão da SA e do DS.
da Química com a SA e o DS, além de indicar pos-
Sendo assim, as Diretrizes Curriculares
síveis compartilhamentos de suas ideias e práticas
Nacionais para os Cursos de Química expres-
com a comunidade científica da área.
sam uma preocupação com uma formação mais geral dos estudantes, reforçando que o ensino de Química deve compreender e avaliar criticamente os
4
Procedimentos metodológicos
aspectos sociais, tecnológicos, ambientais, políticos e
A análise apresenta uma abordagem qualita-
éticos relacionados às aplicações da Química na socie-
tiva ao englobar a obtenção de dados descritivos,
dade (Brasil, 2001, p. 7, grifo nosso).
referindo-se e dialogando com os resultados da
Nesse sentido, Maximiano et al. (2009) des-
pesquisa de Marques et al. (2013), cujo universo
tacam que a existência dos problemas ambientais
amostral incluiu 456 pesquisadores nível 1 (A, B,
e suas consequentes implicações econômicas exi-
C, D) do Conselho Nacional de Desenvolvimento
gem novos desafios aos profissionais de química,
Científico e Tecnológico (CNPq) – Área da
ao ressaltarem a necessidade da abordagem de tais
Química. Por meio de uma carta-convite e de um
aspectos no ensino dessa ciência, haja vista que a
link de acesso, obteve-se a resposta de 82 pes-
necessária consciência para a sustentabilidade, deverá
quisadores ao questionário de pesquisa.5 Este era
orientar a atuação do profissional de química seja no
formado por Nove questões de múltipla escolha
sistema produtivo, seja como educador em quaisquer níveis de ensino (p. 399). Algo também salientado
por Zuin e Marques (2014a, 2014b) ao analisarem ideias e práticas expressas em produções envol-
82
5. O questionário utilizado se encontra no material suplementar do artigo de Marques et al. Sustentabilidade ambiental: um estudo com pesquisadores Químicos no Brasil. Química Nova, v. 36, n. 6, p. 914-920, 2013.
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 09 | Número 02 | Jul./Dez. 2014
Compreensões de Pesquisadores Químicos sobre Sustentabilidade Ambiental
(em grau de concordância) que, por sua vez, se
suas produções acadêmicas, constituem-se como
dividiam em quatro blocos: 1) definição concei-
um conjunto de especialistas que dissemina ideias
tual de desenvolvimento sustentável (conforme
buscando relacionar química e meio ambiente.
o Relatório Brundtland) (WCED, 1987); 2) defi-
A fim de avaliar esses indícios, comparou-se o
nição conceitual de SA quanto à sua amplitude;
conjunto de escolhas (respostas) de cada pesqui-
3) relação entre os fenômenos químicos e a SA;
sador com as de outros pesquisadores dentro de
e 4) compreensões sobre os paradigmas clássicos
F1, por meio da técnica de Análise Multivariada
da Química (risco e diluição) e a sinalização de
de Agrupamento Hierárquico – Técnica de Cluster
um “paradigma ecológico” (Thornton, 2000). O
(Scatena, 2005; Cohen et al., 2003). O uso dessa
foco desta análise corresponde às primeiras cinco
técnica permitiu levantar e discutir aproximações
questões do questionário (blocos 1, 2 e 3), por se
e/ou distanciamentos entre as respostas acerca dos
referirem mais diretamente às compreensões de
entendimentos compartilhados relacionados aos
SA e DS. As demais questões não foram analisa-
conceitos e às situações apresentadas nas pergun-
das devido ao escopo alargado, o que expandiria
tas do referido questionário, cujo tema focava os
consideravelmente este trabalho.
limites à SA.
Na pesquisa atual, buscamos traçar o perfil acadêmico de cada um dos 82 pesquisadores que responderam ao questionário por meio do currículo na Plataforma Lattes do CNPq, seguido
5
Análise de cluster: algumas explicações metodológicas
de um levantamento e análise de artigos por eles
A Análise Multivariada de Agrupamento
publicados, a fim de verificar quais abordavam
Hierárquico (conglomerados ou Cluster) permite
questões ambientais. Para o acesso às publicações,
classificar sujeitos entre si, o mais próximo pos-
utilizamos as plataformas de pesquisa Scifinder
sível, dentro de um grupo, e este, o mais distante
e Google Acadêmico, com as seguintes palavras-
possível, de outros grupos, sendo útil para detectar
-chaves: green chemistry, environment, environ-
a percepção do coletivo sobre temáticas educativas
mental sustentability e sustainable development.
(Cohen et al., 2003) e da área ambiental (Scatena,
Dessa busca, resultaram 565 artigos, os quais
2005). Usamos o programa Statistical Pack for
foram analisados através de uma leitura crítica do
Social Science (SPSS, 21ª versão), da IBM, para
resumo, palavras-chaves, introdução, justificati-
a análise de agrupamentos hierárquicos, a progra-
vas e das referências bibliográficas. Observou-se,
mação de aglomeração e o método de Ward, em
principalmente, se estas serviam de referência e
conjunto com a distância euclidiana quadrada.
sustentação às ideias gerais de seus autores às res-
Buscando validar os resultados iniciais obtidos,
postas que haviam dado ao questionário, sobretudo
repetimos a análise dos dados com outro programa
aquelas relacionadas à QV, à SA e ao DS. Após
(Action, versão 2.4.163.322), obtendo os mesmos
esse momento, encontramos 15 pesquisadores
resultados.
que utilizaram, em seus trabalhos, um conjunto de
Por outro lado, para uma adequação das res-
referências internacionais e/ou nacionais de auto-
postas do questionário à escala Likert (Carifio;
res considerados precursores da QV e que, ao dis-
Rocco, 2007), fizeram-se as seguintes relações:
cuti-la, estabeleciam alguma relação com a SA e o
1 = muito em desacordo; 2 = em desacordo; 3 =
DS. Esse grupo, chamado de F1, foi o objeto desta
indiferente; 4 = de acordo; e 5 = muito de acordo.
investigação, pois compreendemos que, devido às
Entretanto, para as questões 5A e 5B, assim se
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 09 | Número 02 | Jul./Dez. 2014
83
Compreensões de Pesquisadores Químicos sobre Sustentabilidade Ambiental
relacionou: 5 = muito; 4 = pouco; 3 = indiferente;
25
2 = nenhuma; e 1 = não se relaciona (sobre isso, conferir os Resultados).
Corte 1
20
Esse tipo de análise gera um gráfico chamado dendrograma, ao plotar os casos (pesquisados) Distância relativa
versus a distância euclidiana relativa entre suas respostas. Quanto mais próximo do zero, menor a distância entre os casos e, portanto, maior a similaridade entre suas compreensões. Quanto maior
15
10
Corte 2
a distância, maior o afastamento entre os grupos.
GC
GB GD
GA
5
Convenciona-se dizer que a mudança abrupta de distâncias é um fator decisivo para a separação de agrupamento, com o auxílio de teorias que possam recomende um número mínimo de 25 casos para
P03
P37
P74
P56
P33
P78
P75
P44
P24
P59
P22
P17
P48
P54
P15
0
auxiliar na divisão. Embora a técnica de Cluster
Pesquisadores
se considerar uma análise mais segura, operou-se
Figura 1. Agrupamento de pesquisadores do grupo F1 a partir de suas respostas às questões sobre o conceito de desenvolvimento sustentável, sua extensão e limitações.
com 15 deles, o que não diminui a confiabilidade dos agrupamentos, uma vez que foi comparada com as análises das respostas dos questionários e com a produção científica dos pesquisados. Ou
Paralelamente à análise de Cluster, com o intuito
seja, apoiou-se numa teoria que embasasse os
de atestar a consistência dos subgrupos formados,
agrupamentos formados, conforme recomenda
aplicamos, ainda, o método da matriz de correlação
essa metodologia analítica (Cohen et al., 2003).
(Cohen et al., 2003), o qual demonstrou aproximação e precisão com os grupos gerados na análise de
6
Cluster. Realizamos também uma pesquisa de agru-
Resultados
pamentos com os demais pesquisadores químicos investigados, além de F1, com 67 sujeitos.
No dendrograma (Figura 1) que representa as
Um esquema geral dos posicionamentos de F1
respostas fornecidas pelos pesquisadores constituin-
é visto no Quadro 1.
tes do grupo F1, observa-se que o primeiro aumento abrupto de distância está entre os pontos 5 e 10 do eixo vertical da figura, ponto em que se fez o “corte 1” para a delimitação dos subgrupos. Temos, assim,
7
Análise das respostas dos subgrupos
quatro subgrupos, compostos e denominados: GA:
É interessante notar que GA, ao reconhecer
P75, P78, P33, P56, P74, P76, P37, P03; subgrupo
suas diversas dimensões, assume concordar com
GB: P24; subgrupo GC: P15, P17, P22, P59, P48,
a definição-conceito de Brundtland, mas também
P54; e por fim, subgrupo GD: P44.
com a limitação do uso sustentável de materiais
6
renováveis e com a necessidade de uso condicional. O grupo igualmente acredita que existe a pos6. Aqui, a letra “G” representa os grupos formados, enquanto a letra “P” foi utilizada para codificar cada um dos pesquisadores-respondentes do questionário.
84
sibilidade de transformar os problemas em riquezas. Dessa aparente contradição, contudo, pode resultar a indiferença quanto ao papel da inovação
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 09 | Número 02 | Jul./Dez. 2014
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 09 | Número 02 | Jul./Dez. 2014 MdA MdA
NsR NsR
ind dA
Pca Pca
4C - O princípio de Lavoisier sobre a conservação da matéria é fundamental para a sustentabilidade, uma vez que propicia que se trabalhe para a eliminação de problemas ambientais por meio de reações e processos químicos, o que permitirá transformar as causas de tais problemas em riqueza e bem-estar das pessoas.
Apesar do princípio da conservação da energia, os fenômenos 5A - A relação entre Sustentabilidade Ambiental e Degradação da Energia é direta. químicos envolvem degradação de energia. Isso permite concluir que: 5B - Que extensão essa degradação afeta a sustentabilidade ambiental é:
À primeira vista, o argumento de que existe uma contradição insuperável entre um mundo com recursos finitos e um crescimento ilimitado da produção é convincente, reforçando a idéia de que a sociedade humana se defronta, em sua evolução, com limites físicos. Segundo esta compreensão:
3C - O uso condicional deverá ser determinado local e temporalmente de forma que seu consumo não ultrapasse a formação de novos estoques.
Manter um Estado de Equilíbrio (EEq) é uma das definições de 3A - Um EEq é dinâmico e as mudanças no meio ambiente se cancelam. Desenvolvimento Sustentável. Isto significa que: 3B - Manter este EEq pode implicar no uso condicional dos recursos renováveis.
4B - O desenvolvimento da tecnologia permitirá superar as limitações dos recursos ao crescimento da produção.
2F - Ética Ambiental
dA
eD
dA
2E - Social
dA
eD
dA
2D - Planejamento
4A - O uso sustentável e o regime de utilização de materiais renováveis (ex. biomassa) têm uma limitação dinâmica, que depende do nível da retroalimentação.
eD
dA
2C - Sociológica
MeD
eD
dA
2B - Econômica
dA
eD
dA
2 - Biológica
dA
eD
dA
1C - Vaga e contraditória
MeD
dA MeD
dA eD
1B - Eficiente
dA
dA
dA
1A - Suficiente
ind
O DS envolve as dimensões:
A definição-conceito de DS proposta por Brundtland é:
inp
inp
eD
ind
dA
dA
dA
eD
dA
ind
ind
dA
dA
dA
eD
dA
dA
GC
Respostas GB
GA
Questões
NsR
NsR
MeD
eD
MdA
MdA
eD
MdA
MdA
dA
eD
MdA
MeD
MdA
MdA
MeD
MeD
GD
Quadro 1. Respostas compartilhadas pelos pesquisadores químicos nos grupos formados pelo dendrograma (dA: de acordo; MdA: muito de acordo; ind: indiferente; eD: em desacordo; MeD: muito em desacordo; Pca: pouca; NsR: não se relaciona; inp: independe).
Compreensões de Pesquisadores Químicos sobre Sustentabilidade Ambiental
85
Compreensões de Pesquisadores Químicos sobre Sustentabilidade Ambiental
tecnológica para superar problemas ambientais.
mento de processos mais limpos nas atividades
Eles são os únicos que veem alguma relação entre
químicas. No entanto, na análise de suas produ-
DS e entropia, ainda que pouca.
ções científicas, não foi possível apreender even-
Do levantamento relativo à trajetória acadê-
tuais ideias e afirmações, explícitas ou implícitas,
mica e produções científicas, foi possível identi-
sobre a relação que estabelecem entre os limites
ficar certo grau de compartilhamento dentro do
termodinâmicos e o alcance da SA, talvez porque
grupo GA acerca de referenciais teóricos que dis-
esse aspecto não tenha sido o foco de seus artigos,
cutem a QV, ao justificar preocupações ambientais
como observado em nosso levantamento.
envolvendo a química, no âmbito ou não da SA
O grupo GB apresenta compreensões mais
e do DS. O destaque foi quanto ao uso frequente
coerentes. É adepto da definição-conceito de
dos trabalhos de Dupont (1998) e Paul Anastas et
Brundtland, pois discorda da necessidade de uso
al. (1998, 1996). Os pesquisadores que se funda-
condicional e acredita que a inovação tecnológica
mentaram em Dupont apresentaram um olhar mais
e a conservação das massas possibilitam superar
técnico e aplicado da QV, enquanto os que cita-
problemas e transformá-los em riquezas. Para
ram Anastas, um discurso mais argumentativo, em
o grupo, DS e entropia não se relacionam. Suas
favor de uma química sustentável, ao explicitarem
produções estão mais relacionadas aos princípios
a preocupação com a SA das atividades químicas.
5 e 9 da QV, embora isso não seja explicitamente
Além disso, alguns participaram ou têm trabalhos
enfatizado nas publicações. Nos artigos analisa-
como membros de outros círculos de pesquisado-
dos, este membro compartilha autoria com colegas
res pertencentes à Química como, por exemplo,
pesquisadores de instituições do sudeste brasileiro
um coletivo que discute Economia Verde (P74).
e da Ásia, mas não aparece como primeiro autor
Três desses pesquisadores comentaram em seus
em nenhum deles, o que pode indicar um menor
artigos sobre mudanças de atitudes em relação ao
grau de envolvimento com as ideias veiculadas.
ambiente e sobre a necessidade de rever os para-
Do mesmo modo, nesses estudos, o pesquisador
digmas da Química, inclusive o ambiental (P78);
não trata diretamente sobre SA ou DS, e tam-
já outros dois, citando o Relatório Brundtland,
pouco aborda questões termodinâmicas. E, ainda
comentaram a respeito do desenvolvimento de
que trate superficialmente sobre a QV, usa-a para
uma “química sustentável” (P75 e P03):
justificar processos mais amigáveis ao ambiente,
“O grande desafio atual da Química Verde é reduzir os danos causados ao meio ambiente. Isto requer uma nova conduta química para o aprimoramento dos processos, com o objetivo de gerar cada vez menos resíduos, efluentes tóxicos e gases indesejáveis ao ambiente. Este novo caminho é chamado de química sustentável” (P03). Algo comum entre os sete pesquisadores
citando autores de referência da área, como Sheldon (2007). A eventual desconexão entre a sua área de formação e as respostas dadas ao questionário, desconsiderando os limitantes termodinâmicos ao DS e à SA, pode decorrer da aproximação de outros círculos de pensamento (pesquisadores de outras três instituições universitárias), que abordam o tema sob outro viés ou por falta de consciência acerca dessa relação limitante.
que formam o subgrupo GA, atuantes na área da
Próximo de GA, o grupo GC está de acordo com
Química Orgânica, é que seus estudos indicam
Brundtland, mas reconhece a importância do uso
uma preocupação ambiental via o desenvolvi-
condicional e da limitação dinâmica para a reno-
86
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 09 | Número 02 | Jul./Dez. 2014
Compreensões de Pesquisadores Químicos sobre Sustentabilidade Ambiental
vabilidade. É indiferente à resolução de problemas
tizam a Química dos Produtos Naturais. Apesar
por novas tecnologias e discorda da possibilidade
de ser o mais cético quanto à ideia de DS e SA,
de transformar causas de problemas ambientais em
em seus artigos, ele se aproxima da definição-
riquezas. Argumenta que DS e entropia são con-
-conceito expressa no Relatório Brundtland, ao
ceitos que independem um do outro.
se concentrar na análise sobre problemas ener-
Do levantamento relativo à trajetória acadê-
géticos (exaurimento das fontes não renováveis),
mica e às produções científicas de GC, os seis
propondo os derivados de biomassa e da energia
pesquisadores são formados em Química, com
solar como respostas e desafios à produção, esto-
publicações recentes: de 2004 em diante. P17 se
cagem e transporte de combustíveis, pelo qual se
diferencia dos demais pesquisadores de GC por-
pode inferir atenção aos princípios da economia
que publicou um trabalho teórico sobre a forma-
atômica (princípio 2) e da eficiência energética
ção do químico em revista internacional da área
(princípio 6), conforme apregoado na QV. Sua
do ensino/educação, sendo o único que trata (por
linha de pesquisa em fontes renováveis pode tê-lo
meio da educação) da QV aliada à sustentabili-
levado a promover o tema, pensando que seu uso
dade, ainda que não referencie o termo na litera-
só colabora para manter o estado de equilíbrio, não
tura. Entretanto, percebe-se que ele se aproxima da
podendo, por isso, ser limitado.
definição de DS dada por Brundtland em seu tra-
GD, portanto, ao acreditar na criação do “com-
balho, embora esta pareça ter sido usada sem uma
portamento verde”, preocupa-se com a formação
reflexão mais crítica ou expresso um pensamento
do químico e defende a interdisciplinaridade e sus-
consolidado. Os trabalhos dos demais pesquisado-
tentabilidade para promover a QV. Para ele:
res se resumem a realizações experimentais com
“A Química Verde deve deixar de ser apenas um conceito, para ser uma atitude responsável, em que a atividade química não agrida o meio ambiente, eliminando-se ou minimizando-se, ao máximo, a produção de rejeitos e de solventes agressivos ao ambiente. Para tanto, precisamos ‘inocular’ nos estudantes e profissionais o ‘comportamento verde’. Nesse novo cenário, a inovação emerge como o principal combustível para a longevidade das corporações [...]. Os termos invenção e inovação são termos-chave na era industrial moderna e, ao mesmo tempo, inerentes à própria natureza da Química. Inventar e inovar são, pois, dois verbos que devem ser incorporados à cultura dos cursos técnicos e superiores de Química” (P44).
fundamentos na QV, com dimensões mais práticas, dos quais citamos Sheldon (2007), Anastas e Warner (1998), enquanto P17, em um trabalho mais geral, de revisão da área, cita Anastas e Kirchhoff (2002). Salienta-se, então, que P59 e P15 compartilham o mesmo grupo de pesquisa e a mesma referência que P17. GD apresenta comportamento solitário. Ele discorda da definição-conceito de Brundtland, embora concorde que um equilíbrio dinâmico é necessário ao DS. Contudo, discorda da necessidade do uso condicional de recursos para manter esse equilíbrio, mas concorda com a limitação da renovabilidade. Discorda também tanto da inovação tecnológica como solução aos problemas ambientais quanto da conservação de massas como meio de transformar causas de problemas ambientais em riquezas. Para ele, DS e entropia não se relacionam. Esse pesquisador possui douto-
Por esse trecho, parece que o autor defende a
rado em Química Orgânica e seus trabalhos enfa-
inovação (tecnológica, científica) como elemento
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 09 | Número 02 | Jul./Dez. 2014
87
Compreensões de Pesquisadores Químicos sobre Sustentabilidade Ambiental
fundamental nesse processo de mudança da menta-
bilidade de transformá-los em riqueza devido à
lidade química, o que parece contrariar sua opinião
conservação das massas (9 respostas conformes).
no questionário. Em seus trabalhos, cita o livro
Em seus trabalhos, esses pesquisadores tendem a
Sustainability in the Chemical Industry: Grand
investigar soluções tecnocientíficas para os proble-
Challenges and Research Needs – A Workshop
mas atuais (troca de solvente, catalisadores etc.).
Report (workshop que contou com a participa-
Isso tem sua carga de importância, mas trabalhos
ção de Paul T. Anastas, Amy S. Cannon, Mary
recentes, usando métricas verdes – de avaliação da
M. Kirchhoff, entre outros), baseado no conceito
benignidade ambiental dos processos – (Machado,
de Sustentabilidade, conforme o relatório “Nosso
2014), indicam que nem sempre essas mudanças
Futuro Comum” (WCED, 1987). Com isso, justi-
são ambientalmente amigáveis. A ideia fundamen-
fica a abordagem desse conceito em suas publica-
tal parece ser resolver os problemas tecnológicos
ções, como a “aceitação” do alcance da sustenta-
com mais tecnologia.
bilidade pelo uso dos recursos renováveis, sem se referir às limitações termodinâmicas.
Em via contrária, ao estudar historicamente as visões de mundo com relação à ação humana sobre
Percebe-se que, entre os pesquisadores analisa-
a natureza e seus impactos, Rifkin (1980) propõe
dos, não há uma compreensão definida da relação
o conceito de entropia como a grande chave para
entre termodinâmica e SA. Jeremy Rifkin (1980),
uma possível mudança que possibilitará abordar os
por sua vez, aponta que a educação atual é base-
grandes problemas atuais: a degradação ambien-
ada na visão de mundo moderna, newtoniana,
tal, a falta de recursos materiais, o esgotamento
que se preocupa em promover a apropriação de
energético e as condições necessárias para a vida
“fatos” desconexos e gerar rankings por meio de
humana. Promover a entropia, portanto, como
avaliações. A era moderna, e sua visão, é a era da
elemento de visão de mundo, significa aceitar a
máquina: época da precisão, da velocidade e da
finitude das reservas materiais e a degradação de
exatidão. Nessa lógica, o mundo é analisado como
energia como linha de horizonte, guiando nossa
uma série de relações causais, desconsiderando-se
ação de transformação da matéria, de consumo e
suas interações contextuais.
de desenvolvimento econômico. Uma educação
Nesse sentido, parece ser justificável que a maio-
que propicie essa visão entrópica deve superar a
ria dos pesquisados não tenha considerado a relação
noção newtoniana de exploração de blocos isola-
entre DS e entropia, por se tratarem de temas que
dos de fatos e começar a examinar o fluxo interco-
pertencem a especialidades diferentes e que, ape-
nexo dos fenômenos. Nessa abordagem entrópica
nas recentemente, começaram a se entrelaçar nas
da educação, o mundo externo será examinado não
pesquisas. Mesmo que uma parcela significativa
como uma série de relações causais isoladas, mas como
dos pesquisadores tenha reconhecido as múltiplas
uma rede de fenômenos inter-relacionados expres-
dimensões da sustentabilidade, nenhum deles acres-
sando múltiplos cenários possíveis para movimento e
centou à lista a dimensão física (termodinâmica), na
mudança (Rifkin, 1980, p. 231). O objetivo da edu-
questão aberta que lhes havia sido oportunizada.
cação e da pesquisa vai além do entender como as
Outro reflexo da educação, contudo, de acordo
coisas acontecem, para se perguntar por que elas
com a visão newtoniana, na compreensão dos pes-
ocorrem; não apenas a transformação do mundo
quisados, é sua indiferença quanto à possibilidade
como pressuposto universal, mas a busca por pro-
da tecnologia vir a superar os problemas e à via-
longar a vida na Terra.
88
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 09 | Número 02 | Jul./Dez. 2014
Compreensões de Pesquisadores Químicos sobre Sustentabilidade Ambiental
8
Conclusões
As respostas dadas ao questionário da pesquisa expressaram uma visão individual e provavel-
Nossas análises sugerem que as compreensões
mente instantânea. Já as publicações analisadas e
de um pequeno número de professores formadores
utilizadas por nós, no confronto com as respostas
superam a crença ou certo senso comum quanto
dos pesquisadores, geralmente possuem caráter
ao conceito de DS à observância dos limites ter-
coletivo, sendo mais elaboradas, em que os pon-
modinâmicos ao alcance da SA. Com exceção do
tos de vista apresentados partem de uma negocia-
subgrupo GD, todos os demais pesquisados (14)
ção entre seus autores, que são assimetricamente
são favoráveis, em alguma extensão, à definição-
representados. Tais contradições entre as respostas
-conceito de DS em Brundtland, aspecto relatado
ao questionário e as ideias veiculadas em artigos se
por Marques et al. (2013) sobre os 82 pesquisado-
tornam mais compreensíveis.
res, existindo, no geral, uma concordância quanto
Como discutido, estas se fundamentam em
à eficiência e suficiência dessa definição-conceito.
uma visão de mundo mais geral e ampla, basea-
Entretanto, no que se refere aos condicionantes
das na dominação e exploração da natureza (por-
impostos pela Segunda Lei da Termodinâmica, os
tanto, também do homem) por meio de processos
quatro subgrupos formados se aglutinam em dois
fragmentados e disjuntos. Caso essas relações não
agrupamentos mais abrangentes. O primeiro, for-
sejam desveladas, problematizadas e superadas –
mado pelos subgrupos GB, GC e GD, apresentou
e, para isso, a educação química tem um grande
pouca clareza sobre a SA, além de contradições nas
papel –, podem servir à manutenção e ao reforço
respostas dadas ao questionário. Caracteriza-se,
da visão de mundo newtoniana, acelerando, cada
assim, por discordar que haja relação direta entre
vez mais, o esgotamento dos recursos naturais
degradação da energia útil (exergia) nas transfor-
(enquanto meios de subsistência humana), refor-
mações materiais e o alcance e manutenção da
çando as desigualdades sociais e precipitando o
SA. Já o segundo agrupamento (subgrupo GA)
fim da vida.
demonstrou sensibilidade e interesse pelos aspec-
Para superar essa visão, cremos que discussões
tos ambientais ao considerar a existência de limi-
que envolvam SA, DS e QV poderiam ser mais
tações físicas impostas pela termodinâmica, na
exploradas de forma multidimensional e inter-
medida em que vê pouca relação entre a SA e a
disciplinar em disciplinas do currículo de cursos
degradação de energia – ainda assim a vê.
de Química.. Tal abordagem não deve ser apenas
Por outro lado, quando a análise das respostas foi
conceitual, mas reflexiva, de modo a incitar ques-
confrontada com as produções acadêmicas dos pes-
tionamentos sobre os problemas que envolvem a
quisadores, as relações entre os aspectos termodinâ-
crise ambiental no planeta por conta das atividades
micos e a SA ainda permaneceram pouco evidentes,
antrópicas (Zuin; Marques, 2014a; Zuin; Marques,
até mesmo no subgrupo GA. Logo, tais constatações
2014b). Nesse sentido, os alunos de graduação –
sobre a “ausência” de um olhar mais crítico sobre
futuros químicos e futuros professores – podem
os limites (físicos ou termodinâmicos) ao alcance
tornar-se mais críticos em relação ao tema e, por
da SA é algo que não surpreende, como evidenciam
conseguinte, educar novos cidadãos com atitu-
Marques e Machado (2014), ao analisar as produ-
des/reflexões mais elaboradas sobre os assuntos
ções científicas dos chamados precursores da QV.
discutidos.
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 09 | Número 02 | Jul./Dez. 2014
89
Compreensões de Pesquisadores Químicos sobre Sustentabilidade Ambiental
9
Referências ANASTAS, P. T.; KIRCHHOFF, M. M. Origins, Current Status, and Future Challenges of Green Chemistry. Accounts of Chemical Research, v. 35, n. 9, p. 686694, 2002.
INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE – IPCC. Emissions Scenarios: a special report of IPCC Working Group III (SRES). Cambridge: Cambridge University Press, 2000.
ANASTAS, P. T.; WARNER, J. Green Chemistry: theory and practice. Oxford University Press: Oxford, 1998.
KARPUDEWAN, M.; ISMAIL, Z.; ROTH, W. M. Fostering pre-service teachers’ self-determined environmental motivation through green chemistry experiments. J Sci Teacher Educ, v. 23, p. 673-696. 2012.
ANASTAS, P. T.; WILLIAMSON, T. C. In: ANASTAS, P. T.; WILLIAMSON, T. C. (Eds.). Green chemistry: designing chemistry for the environment. American Chemical Society: Washington, DC, 1996, cap. 1.
LATOUCHE, S. In: LÉNA, P.; NASCIMENTO, E. P. (Orgs.). Enfrentando os limites do crescimento: sustentabilidade, decrescimento e prosperidade. Rio de Janeiro: Garamond, 2012.
BARBOSA, L. C. A.; MARQUES, C. A. Sustentabilidade ambiental e princípios da Termodinâmica: uma reflexão à luz da obra de Nicholas Georgescu-Roegen. In: V Encontro e Diálogos com a Educação Ambiental, 2014, Rio Grande, RS. Anais... Rio Grande, RS: EDIGRAF/FURG, 2013. v. 1. p. 105-113.
MACHADO, A. A. S. C. Introdução às Métricas da Química Verde: uma visão sistêmica. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2014.
BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Superior. Parecer n. 1.303 de 10 de novembro de 2001.
MARQUES, C. A.; MACHADO, A. A. S. C. Environmental sustainability: implications and limitations to green chemistry. Foundations of Chemistry, v. 16, n. 2, p. 125-147, 2014.
CARIFIO, J.; ROCCO J. P. Ten common misunderstandings, misconceptions, persistent myths and urban legends about Likert scales and Likert response formats and their antidotes. Journal of Social Sciences, v. 3, n. 3, p. 106-116, 2007. COHEN, J. et al. Applied Multiple Regression/ Correlation Analysis for the Behavioural Sciences, 3. ed. Mahwah, NJ: Lawrence Erlbaum Associates, 2003. GATTI, B. A. Formação de professores no Brasil: características e problemas. Educ. Soc., v. 31, n. 113, p. 1355-1379, 2010. GAUCHE, R. et al. Formação de professores de Química: concepções e proposições. Química Nova na Escola, n. 27, 2008. GEIGER, H. C.; DONOHOE, J. S. Green oxidation of menthol enantiomers and analysis by circular dichroism spectroscopy: an advanced organic chemistry laboratory. J. Chem. Educ, v. 89, p. 15721574, 2012. GEORGESCU-ROEGEN, N. O decrescimento: entropia, ecologia e economia. São Paulo: Ed. Senac/ Edusp, 2012. GONÇALVES, F. P. A problematização das atividades experimentais no desenvolvimento profissional e na docência dos formadores de professores de Química. Tese de Doutorado. Florianópolis: UFSC, 2009.
90
MARQUES, C. A. et al. Sustentabilidade Ambiental: um estudo com pesquisadores Químicos no Brasil. Química Nova, v. 36, n. 6, p. 914-920, 2013.
MAXIMIANO, F. A. et al. Química Ambiental e Química Verde no conjunto do conhecimento químico: concepções de alunos de graduação em Química da Universidade de São Paulo. Educación Química, p. 398-404, 2009. NASCIMENTO, E. P. In: LÉNA, P.; NASCIMENTO, E. P. (Orgs.). Enfrentando os limites do crescimento: sustentabilidade, decrescimento e prosperidade. Rio de Janeiro: Garamond, 2012, cap. 24. RIFKIN, J. Entropy: a new world view. New York: The Viking Press, 1980. ROLOFF, F. B.; MARQUES, C. A. Questões Ambientais na Voz dos Formadores de Professores de Química em Disciplinas de Cunho Ambiental. Química Nova, v. 27, n. 3, p. 549-555, 2014. SCATENA, L. M. Ações em Educação Ambiental; Análise Multivariada da Percepção Ambiental de diferentes grupos sociais como Instrumentos de Apoio à Gestão de Pequenas Bacias - Estudo de Caso da Microbacia do Córrego da Capituva. Tese (Doutorado) – São Paulo, USP, 2005. SHELDON, R. A.; ARENDS, I.; HENEFELD, U. Green Chemistry and Catalysis, WileyVCH: Weinheim, 2007. SOLOW, R. Growth theory: an exposition. Oxford: Oxford University Press, 2000.
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 09 | Número 02 | Jul./Dez. 2014
Compreensões de Pesquisadores Químicos sobre Sustentabilidade Ambiental
THORNTON, J. Beyond Risk: an ecological paradigm to prevent global chemical pollution. Int. J. Occup. Environ. Health, v. 6, n. 3, p. 318, 2000.
L. MAMMINO (Orgs.). Worldwide Trends in Green Chemistry Education. Cambridge: Royal Society of Chemistry, 2014a, in press.
WCED (World Commission on Environmental and Development): Our common future. Oxford: Oxford University Press, 1987.
ZUIN, V. G.; MARQUES, C. A. Sustainable Development, Green Chemistry and Environmental Education in Brazil. In: EILKS, S.; MARKIC; B. RALLE (Orgs.). Science education research and education for sustainable developmenti. Sharker: Aachen, 2014b, in press.
ZUIN, V. G.; MARQUES, C. A. Green Chemistry Educationin Brazil: contemporary tendencies and reflections at Secondary school level. In: V. ZUIN;
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 09 | Número 02 | Jul./Dez. 2014
91
Lihat lebih banyak...
Comentários