Comunicação Autônoma e Reinvenção da Democracia

July 18, 2017 | Autor: M. Aquino Bittenc... | Categoria: Sociology, Communication, Comunicação, Manuel Castells, Sociología, Democracia
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MANUEL CASTELLS LIBRETO SALVADOR

COMO VIVER JUNTOS

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MANUEL CASTELLS (Espanha, 1942) Sociólogo espanhol. Um dos pensadores mais influentes do mundo, sua obra é referência na discussão das transformações sociais do final do século XX.

Expediente Fronteiras do Pensamento© Curadoria Fernando Schüler Concepção e Coordenação Editorial Luciana Thomé Michele Mastalir

“Não podemos pensar em nossas vidas fora da rede. A comunicação é o centro da vida.”

Pesquisa Francisco Azeredo Juliana Szabluk Editoração e Design Lume Ideias Revisão Ortográfica Renato Deitos

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VIDA E OBRA Nascido em Héllin, na Espanha, Castells é um dos pensadores mais influentes do mundo e o maior analista da contemporaneidade quando se trata de movimentos sociais e do ativismo na era das novas tecnologias. Ele estava no Brasil, em junho de 2013, quando eclodiram no País as primeiras ondas de manifestações nas ruas, que inicialmente reivindicavam a redução nas tarifas de transporte público. Com doutorado em sociologia pela Universidade de Paris, suas pesquisas abrangem diferentes campos – da política econômica às sociologias urbana e cultural. Professor nas áreas de sociologia, comunicação e planejamento urbano e regional, investiga os efeitos da informação sobre a economia, a cultura e a sociedade em geral, e é o principal teórico da era da informação e das sociedades conectadas em rede. Sua obra virou referência obrigatória na discussão das transformações sociais do final do século XX. É autor de dezenas de livros traduzidos para diversos idiomas, com destaque para a trilogia A era da informação, composta por A sociedade em rede, O poder da identidade e Fim de milênio. Em A sociedade em rede, analisa a dinâmica social e econômica na era da informação, buscando compreender as transformações que as novas tecnologias estão produzindo em nossas vidas.

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Atualmente, leciona na Universidade Aberta da Catalunha, onde dirige o Internet Interdisciplinary Institute, é professor emérito na Universidade de Berkeley e professor ilustre no MIT. Seu mais recente livro, Redes de indignação e esperança, relaciona as novas formas de comunicação da sociedade em rede, apontando caminhos para que a autonomia comunicacional das telas se expanda à realidade social como um todo. Na edição brasileira desse livro, o autor incluiu um posfácio sobre o Brasil e suas impressões das manifestações que presenciou. De acordo com ele, “o que é irreversível no Brasil e no mundo é o empoderamento dos cidadãos, sua autonomia comunicativa e a consciência dos jovens de que tudo o que sabemos do futuro é que eles o farão. Mobilizados”. Em seus estudos, encontrou o poder destas redes na construção da sociedade contemporânea, uma sociedade horizontalizada, que progride com base na interação. A informação e a comunicação são vetores de poderes dominantes, de resistência e de mudanças sociais. Ao mesmo tempo em que a internet garante a comunicação livre, os conteúdos dessa liberdade dependem dos atores sociais. Manuel Castells afirma que a sociedade é movida por um capitalismo informacional de caráter competitivo, produtivo e tecnológico, capaz de funcionar interconectado em escala planetária.

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Membro da Academia Real Espanhola de Economia e Finanças, da Academia Europeia e da Academia Britânica, foi agraciado, em 2012, com o Prêmio Holberg, concedido pelo governo da Noruega. Também recebeu a Medalha Erasmos, outorgada pela Academia Europeia, e o Prêmio Kevin Lynch de Design Urbano, pelo MIT.

IDEIAS “A maior parte dos cidadãos do mundo não se sente representada por seu governo e parlamento. Partidos são universalmente desprezados pela maioria das pessoas. A culpa é dos políticos. Eles acreditam que seus cargos lhes pertencem, esquecendo que são pagos pelo povo. Boa parte, ainda que não a maioria, é corrupta, e as campanhas costumam ser financiadas ilegalmente no mundo inteiro. Democracia não é só votar de quatro em quatro anos nas bases de uma lei eleitoral trapaceira. As eleições viraram um mercado político, e o espaço público só é usado para debate nelas. O desejo de participação não é bem-vindo, e as redes sociais são vistas com desconfiança pelo establishment político.” “O fenômeno mais importante na sociedade atual é a autonomia, a capacidade de a pessoa decidir a sua própria vida, para todo mundo. O que mais nos importa é decidir nossa vida – com nossas limitações. A internet é uma tecnologia velha – foi criada em 1969 –, mas o mais importante é que ela é também um produto cultural. Foi organizada a partir de valores como liberdade e autonomia. Portanto, o tipo de tecnologia em rede e o tipo de padrão cultural baseado na autonomia coincidem.” “A vida na rede não é uma vida separada da interação física. Não vivemos mais em um mundo físico ou virtual, mas num mundo híbrido. Todos estamos na rede, mas todos não estamos só na rede.”

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ESTANTE “O fundamental na sociedade de informação é a capacidade instalada de passar da informação ao conhecimento – e o conhecimento, à aplicação dos conhecimentos, aos projetos pessoais ou profissionais que tenhamos. O caos se produz quando você não sabe o que procura. Quando você sabe, basta organizar o caos.” “A sociedade em rede é global, mas com características específicas para cada país, de acordo com sua história, sua cultura e suas instituições. Trata-se de uma estrutura em rede como forma predominante de organização de qualquer atividade. Ela não surge por causa da tecnologia, mas devido a imperativos de flexibilidade de negócios e de práticas sociais, mas sem as tecnologias informáticas de redes de comunicação ela não poderia existir. Nos últimos 20 anos, o conceito passou a caracterizar quase todas as práticas sociais, incluindo a sociabilidade, a mobilização sociopolítica, baseando-se na internet em plataformas móveis.”

REDES DE INDIGNAÇÃO E ESPERANÇA – MOVIMENTOS SOCIAIS NA ERA DA INTERNET Networks of outrage and hope – Social movements in the internet age 1ª edição – 2012 / Edição em português – Zahar, 2013

Neste livro, Castells examina os diferentes movimentos em massa que aconteceram no início da segunda década do século 21, como a Primavera Árabe, os Indignados na Espanha e os movimentos Occupy nos Estados Unidos, Islândia, Tunísia e Egito. O autor oferece uma análise pioneira das características sociais dos movimentos, especialmente aquelas propiciadas pela internet.

“Hoje qualquer mensagem que se quer livre e autônoma não passa por um partido ou por um jornal. Se há uma mensagem que se conecta com outras mentes conectadas na rede, então essa aceitação dá início a um movimento. Os atores são coletivos, sem burocracia, sem hierarquia, sem líderes.”

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A SOCIEDADE EM REDE / A ERA DA INFORMAÇÃO: ECONOMIA, SOCIEDADE E CULTURA – VOLUME 1 The rise of the network society / The Information Age: Economy, Society and Culture – Vol. I. 1ª edição – 1996 / Edição em português – Paz e Terra, 2009

Baseado em pesquisas feitas nos Estados Unidos, Ásia, América Latina e Europa, o autor busca formular uma teoria que dê conta dos efeitos fundamentais da tecnologia da informação no mundo contemporâneo. Neste livro, Castells esclarece a dinâmica econômica e social da nova era da informação.

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A GALÁXIA DA INTERNET The internet galaxy – Reflections on the internet, business and society 1ª edição – 2001 / Edição em português – Zahar, 2003

O livro analisa a internet como espinha dorsal das sociedades contemporâneas e da nova economia mundial, desvendando sua lógica, suas imposições e a liberdade que ela oferece. Apresentando muitos dados e pesquisa, Castells se afasta das prescrições e previsões para ajudar a compreender como a internet é o meio pelo qual nos tornamos habitantes de uma rede global.

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NA WEB O PODER DA IDENTIDADE / A ERA DA INFORMAÇÃO: ECONOMIA, SOCIEDADE E CULTURA – VOLUME 2 The power of identity / The Information Age: Economy, Society and Culture – Vol. II. 1ª edição – 1997 / Edição em português – Paz e Terra, 2008

O conflito entre as forças tecnoeconômicas e os movimentos sociais são discutidos do ponto de vista da construção da identidade na base do autoconhecimento e reconhecimento como fontes de significado. O autor aborda o processo de individuação, com linguagem clara e direta, estimulando a reflexão sobre as condições de vida do ser humano no mundo atual.

SITE OFICIAL http://www.manuelcastells.info/en/

WIKIPEDIA http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Castells

ENTREVISTAS “A mudança está na cabeça das pessoas” Entrevista concedida para a revista Época sobre os protestos no Brasil e no mundo, publicada em outubro de 2013 http://is.gd/castells1 (http://epoca.globo.com/ideias/noticia/2013/10/bmanuel-castellsb-mudanca-esta-nacabeca-das-pessoas.html)

“A rede torna mais difícil a opressão”, diz Manuel Castells Entrevista para o jornal sobre a nova sociedade global, publicada em junho de 2013 http://is.gd/castells2 (http://zh.clicrbs.com.br/rs/entretenimento/noticia/2013/06/a-rede-torna-mais-dificil-aopressao-diz-manuel-castells-4164803.html)

“O povo não vai se cansar de protestar” Entrevista para o jornal O Globo, publicada em junho de 2013 http://is.gd/castells3 (http://oglobo.globo.com/brasil/manuel-castells-povo-nao-vai-se-cansar-deprotestar-8860333)

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“Dilma é a primeira líder mundial a ouvir as ruas” Entrevista para a revista Isto É sobre a crise no Brasil em 2013, publicada em junho de 2013 http://is.gd/castells4 (http://www.istoe.com.br/assuntos/entrevista/detalhe/311021_ DILMA+E+A+PRIMEIRA+LIDER+MUNDIAL+A+OUVIR+AS+RUAS+)

Se um país não quer mudar, não é a rede que irá mudá-lo Entrevista para o jornal Folha de S.Paulo sobre a internet e o processo eleitoral brasileiro, publicada em setembro de 2010 http://is.gd/castells5 (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po2109201022.htm)

Redes de indignação e esperança Castells divulga seus estudos e conclusões sobre os conflitos civis mundiais em conferência no Fronteiras do Pensamento em junho de 2013 http://is.gd/castells8 (http://www.fronteiras.com/videos/redes-de-indignacao-e-esperanca)

Por um Brasil que desconhecemos Vídeo do Fronteiras do Pensamento, publicado em junho de 2013, no qual Castells explica a dinâmica dos movimentos sociais e analisa, de forma comparativa, as manifestações no Brasil. http://is.gd/castells9 (http://www.fronteiras.com/videos/por-um-brasil-que-desconhecemos)

A máquina humana Entrevista para a revista Isto É sobre a trilogia A era da informação, publicada em junho de 1999 http://is.gd/castells6 (http://www.istoe.com.br/assuntos/entrevista/detalhe/31800_ A+MAQUINA+HUMANA)

Escola e internet: o mundo da aprendizagem dos jovens Vídeo especial com depoimento de Castells produzido pelo Fronteiras do Pensamento em 2013 http://is.gd/castells10 (http://www.fronteiras.com/videos/escola-e-internet-o-mundo-da-aprendizagem-dos-jovens)

VÍDEOS E LINKS

Roda Viva

Manuel Castells: temos que criar seres humanos capazes de assumir o risco da liberdade

Entrevista concedida para o programa Roda Viva da TV Cultura em julho de 1999 http://is.gd/castells11

Artigo publicado no jornal espanhol La Vanguardia em abril de 2015 e reproduzido no site do Fronteiras do Pensamento http://is.gd/castells7

(http://www.rodaviva.fapesp.br/materia/141/entrevistados/manuel_castells_1999.htm)

(http://www.fronteiras.com/artigos/manuel-castells-temos-que-criar-seres-humanoscapazes-de-assumir-o-risco-da-liberdade)

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ARTIGO COMUNICAÇÃO AUTÔNOMA E REINVENÇÃO DA DEMOCRACIA POR MARIA CLARA AQUINO BITTENCOURT Doutora e mestre em Comunicação e Informação pela UFRGS. Pós-doutora em Ciências da Comunicação pela Unisinos. Professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos. É membro dos Grupos de Pesquisa Estudos em Jornalismo (GPJor) e Laboratório de Investigação do Ciberacontecimento (LIC), na mesma instituição.

O surgimento da sociologia como disciplina ocorre em meio a transformações econômicas, políticas e culturais, como as revoluções Industrial e Francesa, que acarretam uma série de mudanças na vida em sociedade. Os fenômenos sociais tornam-se objeto de uma ciência agora parte das ciências humanas, e são investigados através do foco em processos, relações e conexões entre indivíduos que se agrupam sob diferentes formas. Desde então, o conhecimento produzido pela sociologia avança os limites da própria área, interessando outros setores do convívio humano.

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Nesse sentido, o sociólogo espanhol Manuel Castells vem construindo uma obra que pensa as relações de questões sociais da contemporaneidade com a tecnologia da informação, entrelaçando apontamentos sobre economia, política e cultura. A abrangência de suas colocações é tão significativa para entender o contexto social deste século, que Castells foi apontado pelo Social Sciences Citation Index como o quinto estudioso das ciências sociais mais citado no mundo e o mais importante estudioso citado no campo da comunicação, na primeira década do século XXI. Nascido em 1942, foi criado por uma família conservadora, em meio à Espanha fascista. Diante das dificuldades da geração jovem espanhola, reconhecia, na época, a necessidade de resistir ao ambiente na tentativa de manter sua própria identidade, o que o levou a se politizar por volta dos 15 anos de idade. Iniciou seus estudos em Direito e Economia em Barcelona, mas só conseguiu finalizá-los em Paris. Foi lá que realizou doutorado em Sociologia, na Sorbonne, atraído pela possibilidade de estudar as mudanças sociais. Em 1966, foi nomeado professor-assistente da Universidade de Paris, com apenas 24 anos, trabalhando ao lado de professores como Alain Touraine, Henri Lefebvre e Fernando Henrique Cardoso. Foi no departamento onde trabalhava que explodiu o movimento que ficou conhecido como Maio de 68. Castells

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era então professor de Daniel Cohn-Bendit, protagonista daquela geração francesa de manifestantes. Dessa época Castells traz seu interesse pelos movimentos sociais e pelo poder de transformação das massas através da articulação com a força da apropriação tecnológica, o que o leva a inicialmente olhar para a sociologia urbana, no início dos anos 1970. Enxerga em Touraine a figura de mentor, e assim colabora para o desenvolvimento da sociologia urbana marxista, na qual os movimentos sociais são pensados como elemento central na modificação da cidade. Acaba, no entanto, transcendendo as estruturas marxistas nos anos 1980 e colocando a informação e as tecnologias de comunicação como os eixos centrais de seus estudos. A trilogia The Information Age: Economy, Society and Culture (1996, 1997, 1998) dá início a uma trajetória de publicações que torna Castells uma das principais referências na pesquisa social. Os três volumes revelam o caráter visionário de suas pesquisas, mas, ao mesmo tempo em que o sociólogo não inibe seus textos sobre cenários possíveis, escapa com elegância da pretensão de determinar o futuro a partir dos dados. A ocorrência de uma revolução e a formação de um novo paradigma da tecnologia da informação são os fios condutores que alinhavam temas como as convergências tecnológica e midiática. Ambas tão debatidas hoje através de autores como Henry Jenkins,

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já eram tensionadas por Castells a partir da constituição de sistemas altamente integrados, reunindo microeletrônica, telecomunicações e computadores associados a sistemas de informação. O espaço de fluxos é outro conceito fruto de The Information Age, elaborado para pensar sobre as reconfigurações do tempo e do espaço transformados pelo paradigma informacional. É até hoje utilizado com frequência por diversos estudiosos de diferentes áreas. A construção identitária no mundo globalizado e a interferência das relações de poder nessa construção ganham espaço no segundo volume da série, enquanto o terceiro dá conta de tratar sobre pobreza e exclusão social, globalização, identidade e Estado em Rede, União Soviética, a região do Pacífico Asiático e a Europa. Uma trilogia longa, densa em dados numéricos, que situa o impacto da tecnologia na vida social, reunindo apontamentos fundamentais para compreender mudanças que definirão boa parte do desenvolvimento humano ao longo do século XXI. No decorrer dos anos, Castells navega pela história de diversas nações, confrontando presente e passado em estudos que avaliam e interpretam dados de desenvolvimento sob a ótica da tecnologia. Não se trata apenas de um montante de números e tabelas. Há densidade analítica e crítica em seus escritos, que moldam qualitativamente o superabundante quantitativo de suas investigações, elu-

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cidando cenários políticos, econômicos, culturais e sociais pelo mundo. Focado na dinâmica social regida hoje pela força das redes de conexão através da internet, Castells não compartilha da visão que separa o espaço virtual do espaço físico. Em referência a The Gutenberg Galaxy (1962), obra em que Marshall McLuhan já refletia sobre como a tecnologia da informação impactava a cognição humana e a organização social, Castells publica The Internet Galaxy, Reflections on the Internet, Business and Society (2001). No conjunto de capítulos que inicia com um resgate da história da internet, percebe-se com nitidez seu posicionamento sobre a impossibilidade de dissociar-se a internet da vida real. Nessas páginas, Castells mostra a formação de uma cultura específica do meio, a cultura da rede, destacando como os sistemas tecnológicos são socialmente produzidos. Essa interdependência entre a ação social e a tecnologia é recuperada em Communication Power (2009), em que Castells concentra seus esforços em identificar por que, como e por quem as relações de poder são construídas e exercidas através do gerenciamento de processos de comunicação, e como essas relações podem ser alteradas por atores que buscam mudança social através da influência sobre a mente pública – ou dos públicos. Sua hipótese é a de que a forma mais fundamental de poder se en-

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contra na habilidade de moldar a mente humana. Como é através da comunicação que a mente interage com o ambiente natural e social, Castells aponta como a comunicação medeia a maneira como as relações de poder são construídas e modificadas em todos os domínios da prática social, incluindo a prática política. Neste livro, Castells define o conceito de comunicação autônoma, com base na possibilidade que a internet oferece de os indivíduos produzirem, acessarem e compartilharem conteúdos sem mediação. Esse conceito é chave para entender sua obra mais recente, que ajuda a pensar a constituição dos movimentos sociais cada vez mais em rede, em função de múltiplas apropriações tecnológicas.

era palco de protestos articulados em rede contra o aumento da tarifa de ônibus.

No Brasil, os protestos de junho de 2013 aconteceram pouco depois de uma visita de Castells ao País. Na época, a edição em português de Networks of outrage and hope: Social Movements in the Internet Age (2012) ainda não havia chegado no País, mas o texto já era comentado no meio acadêmico das pesquisas sobre movimentos sociais. Em sua participação no Fronteiras do Pensamento em 2013, Castells destacou a necessidade, cada vez mais urgente, de refundação da democracia. “Há lugares em que nascem utopias que tentam se transformar em práticas sociais”, disse em sua conferência no Salão de Atos da UFRGS, sobre o caso de Porto Alegre – que em março daquele ano

Por fim, não há como dissociar o pensamento de Castells do conceito de midiatização. Como ressalta o dinamarquês Stig Hjarvard (2012), há hoje uma permeabilidade entre mídia e sociedade que não mais permite pensar a mídia como algo separado das instituições sociais e culturais. José Luiz Braga (2012), um dos maiores nomes dos estudos sobre midiatização no Brasil, entende que uma das consequências mais significativas da midiatização na sociedade é o atravessamento dos campos sociais (BOURDIEU, 1983). Vive-se um contexto em que o campo midiático é legitimado por outros campos para por eles se expressar. O que vivenciamos diariamente através de usos e experimenta-

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Networks of outrage and hope é resultado de um trabalho sobre movimentos que iniciam em meados de 2009, cada um oriundo de conjunturas política e econômica particulares, mas todos com um padrão comum que, para ele, tem nos ensinado o perfil da mudança política e social de nossas sociedades. A ação comunicativa é a base dessas ações coletivas que figuram neste livro, de forma que a internet, seus usos e desvios, são mais uma vez os elementos centrais da argumentação sobre como a estrutura em rede das sociedades interfere em suas configurações políticas.

ções da tecnologia informacional são eventos que determinam ações sociais e políticas que estimulam a tentativa de subversão de uma lógica midiática instaurada pelos meios de massa e baseada na distribuição unilateral de informação. Ainda que essa subversão não ocorra, em alguns casos, pelo menos esse modelo de comunicação já desgastado é colocado em discussão. A atuação dos movimentos sociais em redes e as inúmeras formas através das quais aproveitam a tecnologia da informação para a produção e circulação de informação são para Castells, além de objetos de estudo, as possibilidades mais próximas de reinvenção da democracia através da comunicação autônoma.

______. The Internet Galaxy, Reflections on the Internet, Business and Society. Oxford, Oxford University Press, 2001. ______. Communication power. Oxford/New York, Oxford University Press, 2009. ______. Networks of Outrage and Hope. Social Movements in the Internet Age. Cambridge, MA, Polity Press, 2012. HJARVARD, Stig. Midiatização: teorizando a mídia como agente de mudança social e cultural. In: Revista Matrizes, ano 5. n. 2, jan/jun/2012, São Paulo. MCLUHAN, Marshall. The Gutenberg Galaxy: The Making of Typographic Man. 1st Ed.: University of Toronto Press; reissued by Routledge & Kegan Paul. 1962.

REFERÊNCIAS BOURDIEU, P. Questões de sociologia: algumas propriedades dos campos. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983. BRAGA, J. L. Circuitos versus campos sociais. In: MATTOS, M. A.; JANOTI JUNIOR, J.; JACKS, N. Mediação e Midiatização. Livro Compós 2012. Salvador, Brasília. EDUFBA, Compós, 2012. CASTELLS, Manuel. The Rise of the Network Society, The Information Age: Economy, Society and Culture Vol. I. Malden, MA; Oxford, UK: Blackwell, 1996. ______. The Power of Identity, The Information Age: Economy, Society and Culture Vol. II. Malden, MA; Oxford, UK: Blackwell, 1997. ______. End of Millennium, The Information Age: Economy, Society and Culture Vol. III. Malden, MA; Oxford, UK: Blackwell, 1998.

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