Comunicação: Benjamin Franklin e as sinuosas relações entre o público e o privado na América Britânica

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Benjamin Franklin e as sinuosas relações entre o público e o privado na América Britânica

Guilherme Tadeu de Paula Doutorando – PPH/UEM

Resumo: Este trabalho pretende discutir o caráter das relações políticas e econômicas estabelecidas por Benjamin Franklin - um dos personagens mais influentes do processo revolucionário que culminou na Independência das colônias britânicas na América especialmente no período que antecede a guerra revolucionária. Por meio da análise das relações que este estabeleceu entre seus empreendimentos comerciais e os negócios públicos das colônias, informada por fontes da historiografia estadunidense, apontaremos que o famoso “pai-fundador” conduziu seus negócios com perspicácia e oportunismo, se enriquecendo por intermédio de sinuosas tramas nas quais a linha entre os negócios públicos e privados se mostrou demasiado móvel. A ambição central deste texto é situar Benjamin Franklin para além da mitologia política construída ao redor da noção dos “pais-fundadores” dos Estados Unidos e apontá-lo como um habilidoso escritor e empresário que construiu uma relevante rede de influência, se tornando um dos homens mais importantes de seu tempo. Palavras-chave: “pais-fundadores”; Benjamin Franklin; Independência dos Estados Unidos

Esta comunicação tem a intenção de analisar Benjamin Franklin1 como um sujeito político que atuou com destreza no período de transição da América Britânica para os Estados Unidos. Ainda que de modo panorâmico, discutiremos a sua ascensão como empresário colonial e a sua habilidade em se aproximar dos negócios públicos e lucrar com este processo, problematizando a construção de sua imagem mitológica de pai-fundador símbolo de um modo de ser “americano”. Lançada no Brasil em 2015 pela Companhia das Letras, a sua biografia - escrita por Walter Isaacson em 2003 - é importante referência e expressão que sintetiza como a recuperação e a ressignificação da trajetória de Benjamin Franklin opera na construção de 1

Neste texto, não abordaremos uma série de questões que são fundamentais para a trajetória de Benjamin Franklin. Entre elas, talvez a ausência mais grave em relação à relevância de sua figura, que se tornou icônica enquanto ele ainda vivia por, entre outras coisas, ter uma série de revolucionárias descobertas nos ramos dos estudos da eletricidade. Comunicação/Anais da XXI Semana de História, VIII Fórum de Pós-Graduação em História e III Fórum de Licenciatura em História – Universidade Estadual de Maringá. SERAFIM, Vanda Fortuna; FERREIRA, Maria Helena Azevedo; CORDEIRO, André Rocha (orgs.). Maringá: UEM, 2016. ISSN: 2175-4446.

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uma imagem ideológica não simplesmente dele como político ou da mitologia fundadora que remete aos homens que escreveram a Declaração de Independência de 1776 ou a Constituição de 1787, mas de toda a experiência “americana” em sua ascensão como potência política, econômica e cultural modelar de nosso tempo. O Franklin de 2003 de Isaacson, que chega às prateleiras bem localizadas de livrarias e aeroportos brasileiros de 2015, é o “primeiro youppie” ou o “youppie fundador” (ISAACSON, p.489), uma expressão cunhada por David Brooks que o aparta da gravidade exprimida pela imagem do brilhante teórico político Thomas Jefferson e da grandeza moral e altivez militar de George Washington para criar um americano, digamos, “real”. Escorregadio - mas popular, acessível e pouco afeito às formalidades, o Franklin de Isaacson se sentiria à vontade por entre as “startup” de San Francisco, modelo empreendedor bem-sucedido na atual moral ideológica estadunidense que tenta se afastar do chamado parasitismo dos lobos de Wall Street, a “derrapagem” youppie, para brincar com a expressão revisionista francesa, ignorando a dependência das empresas de tecnologia do fluxo monumental de investimento dos empresários ligados ao capital financeiro, muitas vezes a fundo perdido. *** O mais velho entre os políticos envolvidos no processo de Independência dos Estados Unidos, Benjamin Franklin é, mais do que todos os outros nomes que se tornaram célebres e mais tarde receberam a alcunha de pais-fundadores da nova nação americana, a mais relevante expressão do pujante mercado editorial colonial que se estabelece com vigor desde o início do século XVIII. Educado de maneira autônoma, sem ter frequentado formalmente nenhum grau de escolarização para além de seus primeiros anos, Franklin cresceu em Boston onde, desde criança, participou das atividades laborais da família, trabalhando a partir dos dez anos ao lado do pai na produção de sabão e vela. Dos doze aos dezessete, porém, como aprendiz de um de seus irmãos mais velhos, que o futuro notável teria contato com o ofício que dali em diante mudaria sua vida (BEARD e BAGLEY, 1920, p.136-137): foi treinado a lidar com a impressão gráfica e editorial. James Franklin, seu irmão, fundou um dos primeiros jornais das colônias britânicas na América, o The New-England Courant, que vigorou de 1721 a 1726, mesclando as notícias de interesse público com crônicas, cartas literárias e humorísticas, uma novidade para a época. O jornal sustentava uma postura crítica, tendo sido inclusive

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perseguido pelo conselho britânico de Massachussetts e submetido até mesmo a um tipo de censura (LONG, 1918, p.238). A relação de Benjamin Franklin com o irmão, frequentemente caracterizado em suas memórias pela sua tirania no processo de ensino profissional, é comumente retomada por estudiosos que se dedicam a compreender a trajetória de vida deste tão peculiar personagem, ocupando por vezes espaço central na argumentação que tenta explicar a formação de uma personalidade que se forjou contra o autoritarismo. Esta operação nos parece mais uma ilusão biográfica, para emprestar a provocativa expressão de Bourdieu que problematiza as narrações de trajetórias pessoais que acabam por tornar-se ideologias de suas próprias vidas “selecionando, em função de uma intenção global, certos acontecimentos significativos e estabelecendo entre eles conexões para lhes dar coerência” (BOURDIEU, 1996, p.184-185). De qualquer maneira, sem entrar em discussões que são próprias daqueles que se dedicam ao ramo das suas inúmeras biografias, aceitamos que nesta problemática relação podem estar dois pontos fundamentais para entender ações de Benjamin Franklin: primeiro, a publicação de seus primeiros escritos, quando teve de recorrer a um pseudônimo feminino, Mrs. Silence Dogood, para não ser barrado pelo irmão – as cartas da “senhora” obtiveram certo sucesso no jornal; e, mais tarde, a mudança abrupta e prematura para a Filadélfia em 1723 – Goodrich, político e intelectual estadunidense do século XVIII, que escreveu pequenos perfis biográficos de todos os políticos envolvidos no Congresso Continental, lembra que a primeira opção de Franklin fora Nova Iorque, mas naquela cidade passou dias à procura de emprego sem sucesso. De lá decidiu partir para a colônia da Pensilvânia, onde chegaria “fadigado e sem nenhum apoio (...), aos dezessete anos, a quatrocentas milhas de casa, praticamente sem dinheiro, sem emprego, sem padrinho e sem estar familiarizado com uma única pessoa” (GOODRIDGE, 1839, p.263). Será, portanto, não em sua cidade de nascimento, Boston, mas na colônia de Pensilvânia, na sua capital, Filadélfia, que Franklin desenvolverá a trajetória profissional que o conduzirá ao posto de um dos homens mais influentes das colônias da América. Em 1730, com apenas 26 anos, já havia conseguido organizar uma estrutura de editoração e publicação que lhe deu prosperidade. Seu talento para aproximar os seus interesses comerciais aos negócios públicos e lucrar com isso, aliado ao seu interesse científico pela inovação e sua capacidade fora do comum de se expressar com as palavras o ajudaram a erguer uma fortuna que o tornou relativamente independente com muito pouca idade – algo que certamente

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colaborou para consolidar a postura excêntrica que sempre o marcou. Dono e editor de um dos mais relevantes jornais coloniais, a Pennsylvania Gazette e com uma capacidade operacional de levar adiante projetos gráficos pessoais, Ben Franklin “rapidamente se tornou o mais bem-sucedido editor de todas as colônias e, em vinte anos, já fora possível se aposentar dos negócios” (ELIOT, 1906, p.835). É importante situar essa ‘aposentadoria’ de Franklin do mercado editorial. Como aponta Randolph Goodman, em introdução a uma reedição de An apology for printers2, é verdade que em 1748 ele se aposenta com a justificativa de se dedicar exclusivamente aos negócios públicos e às suas atividades científicas, mas, não o faz sem antes estabelecer “parcerias com pelo menos uma dúzia de homens, os quais ele estruturou em várias partes do país, abastecendo-os de capital e de equipamento em troca de uma participação em seus lucros” (GOODMAN, 1955, p. xix). O mais famoso de seus projetos pessoais que lhe garantiram sucesso financeiro merece atenção especial: O Almanaque do Pobre Richard, uma espécie de guia anual com calendários e informações de natureza básica publicado por Franklin. Nos espaços em branco, entre uma informação e outra, surgiam, assinados com o pseudônimo de Richard Saunders, conselhos de modos de viver e conduzir a vida afim de obter sucesso contínuo nos negócios– uma operação que parte de um conjunto de condutas morais para, consequentemente, resultar em prosperidade econômica. Frases curtas com forte teor de clarividência seguidas de explicações em alguma medida com tom de moral bíblica, escrita com a linguagem simples para que pudesse ser amplamente compreendida, acabaram por sintetizar um conjunto de valores tão específicos que vai permitir que Max Weber busque justamente em suas falas o seu tipo ideal de espírito do capitalismo. O intelectual alemão vai considerar as falas de Richard um “exemplo de pureza quase clássica” (WEBER, 1999 [1905], p.29) da filosofia da avareza como ideal de “homem honesto, de crédito reconhecido e, acima de tudo, a ideia do dever de um indivíduo com relação ao aumento de seu capital, que é tomado como um fim em si mesmo” (IDEM, p.31). Importante pontuar, ele insiste, que o que lhe interessa não é propriamente o que é pregado, mas como esta pregação traz em si um conjunto de valores que incorpora uma ética: “O que é aqui preconizado não é mero bom senso comercial – o que não seria nada original – mas sim um ethos. Esta é a qualidade que nos interessa” (IDEM). Entre as máximas citadas por Weber – todas elas elencadas no início do capítulo II da Ética, 2

Este texto de Franklin, de 1731, se tornou um dos textos fundadores da defesa da livre expressão nos Estados Unidos, sendo, ainda em nosso tempo, peça bibliográfica em disciplinas de jornalismo e de história da imprensa. Comunicação/Anais da XXI Semana de História, VIII Fórum de Pós-Graduação em História e III Fórum de Licenciatura em História – Universidade Estadual de Maringá. SERAFIM, Vanda Fortuna; FERREIRA, Maria Helena Azevedo; CORDEIRO, André Rocha (orgs.). Maringá: UEM, 2016. ISSN: 2175-4446.

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chamado O Espírito do Capitalismo - estão as famosas frases ‘tempo é dinheiro’, ‘crédito é dinheiro’, ‘aquele que mata uma porca prenhe destrói toda uma prole até a milésima geração’, ‘o bom pagador é dono da bolsa alheia’ (IDEM), entre outras. ***

A liberdade religiosa e política proposta pelos quacres, os responsáveis pelo projeto de habitação da Pensilvânia, atraiu ingleses, escoceses, galeses, irlandeses, povos germânicos, franceses, suíços e escandinavos. A união de indivíduos de variadas nacionalidades deve ser pensada com um relevo especial se nos lembrarmos que se tratava da primeira metade do século XVIII. Estavam reunidos ali, naquela colônia no Novo Mundo, povos de tradições históricas muito diferentes – o que significa dizer, a partir daquele contexto, de experiências com modos de sociabilidade e governança muito distintos. Além disso, a complexa teia de religiões que um espaço que promulgava a liberdade de credo na América setecentista podia aglutinar acabava por reunir povos que, ainda que instigados pelo óbvio relativismo que uma experiência deste porte promulga, tinham de conviver com outros modos e ethos religiosos, que certamente influenciavam a relação deles uns com os outros e, também, a própria forma de como agir e como significar suas ações cotidianas. Outro elemento que não pode ser desprezado é que ao cruzar o Atlântico, os imigrantes, ainda que buscassem recomeçar suas vidas, não o faziam ambicionando partir do zero: eles sustentavam suas heranças políticas específicas, os preconceitos e as rivalidades nacionais. Por isso, criar um arcabouço institucional que pudesse abarcar tantas variedades se mostrou, desde o princípio, um desafio. Havia ainda um ponto que é particular ao tipo de colonização que se estabeleceu na Pensilvânia: a condução de seu proprietário, William Penn, não foi de controle e rigidez, mas, ao contrário, de certa flexibilidade na organização e exploração do território – o que deu aos colonos maior liberdade na relação entre a Assembleia que se instituiu e o dono daquele empreendimento. Importante ressaltar que a relação da Coroa com suas colônias só passou a ser de interesse e constante exploração quando estas começaram a florescer com certo vigor, o que acabou por criar alguma autonomia – ainda que relativa e limitada. É anacrônico pensar a Pensilvânia do início dos anos de 1700 já como a poderosa insurgente da década de 60-70 quando uma mudança significativa nas bases sociais se desenvolveria. Benjamin Franklin desembarcará na Philadelphia em 1723, somente quarenta e dois anos após Penn, ao receber as terras do rei como pagamento de uma dívida da Coroa com seu pai, fundar a colônia e trazer com ele

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cerca de cem famílias quacres. Neste período, ela era apenas um povoado modesto com nenhuma força política ou econômica se comparada às grandes cidades do mundo ou até mesmo da América daquele período (DE PAULA, 2015). Franklin será, em dupla direção, testemunha do florescimento e consolidação da Filadélfia como cidade mais importante do mundo colonial britânico, e também agente no processo de consolidação e estruturação de uma organização política da colônia. No entanto, importante realçar que se é verdade que William Penn não primou por uma governança marcadamente autoritária se comparado com outros proprietários das outras colônias, o grupo político-religioso que se ergue de seu interesse de fazer, em suas terras, um ‘Santo Experimento’, cuidou, desde os primeiros anos em que se passou a forjar um arranjo político na região, de não perder o controle do processo: “qualquer tentativa de mudança política era considerada ameaça à segurança da minoria quacre e, assim, aos melhores interesses da colônia” (HANNA, 1964, p.10). Deste contexto muito específico floresce uma relação conflituosa de interesses: se William Penn teve uma postura distante, seus descendentes foram mais interessados em fazer usufruto das benesses do potencial lucrativo da colônia – ou, ao menos, se esforçaram em atuar de maneira mais decisiva como proprietários, exigindo dos governadores que indicavam uma postura mais rígida para garantir seus privilégios. Do outro lado, os quacres, que na terceira década do século XVIII já tinham organização o suficiente para agir como um grupo político, insistiam em avançar em questões de autonomia, demandando desde taxações para os proprietários como direitos em agir na assembleia para propor transformações que ultrapassavam as noções de colonos e avançavam como percepções de pequenos proprietários. Benjamin Franklin vai situar suas demandas às bandeiras deste segundo grupo e a partir daí fará dos proprietários da colônia, os herdeiros de Penn, os seus primeiros adversários políticos. A primeira aparição política decisiva de Benjamin Franklin nos negócios políticos, ainda no final da década de 1720 e início da de 1730, se dá por interesses comerciais declarados. Como empresário, Franklin sabia que uma das principais fontes de renda no ramo gráfico estava em se associar às necessidades públicas. Uma das possibilidades de trazer rentabilidade ao seu negócio era garantir o contrato público de impressão do papel-moeda, ganância que mobilizou Franklin a escrever sua primeira análise de filosofia política: ‘Uma modesta investigação sobre a natureza e a necessidade do papel moeda’, obra considerada por

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Marx “um dos primeiros livros em que se reconhece a verdadeira natureza do valor” (MARX, 1996 [1867], p.93). O texto ganhou especial atenção do histórico intelectual alemão porque Franklin situa o trabalho como fundamento principal da produção de riqueza. Com sólidas interpretações em relação às relações econômicas de seu tempo, o autor é ainda hoje citado como referência nas primeiras interpretações da economia política capitalista. No ponto de vista de seu debate mais específico, seu projeto foi também bemsucedido. O ensaio teve significativa repercussão e ajudou também a compor o cenário favorável ao grupo da assembleia da Pensilvânia que defendia a impressão de mais dinheiro. “Embora Bradford [outro impressor gráfico do seu contexto] tenha recebido a primeira encomenda para imprimir uma parte do dinheiro, Franklin ganhou a rodada seguinte do trabalho” (ISAACSON, 2015, p.70). Sua dedicação como astuto defensor da ideia foi recompensada, como ele mesmo, orgulhoso, admitiu em sua autobiografia:

“Meus amigos lá [na Assembleia] que julgaram que eu havia sido útil, pensaram ser adequado recompensar-me empregando-me na impressão do dinheiro, um trabalho muito lucrativo e que me ajudou muito. Essa é outra vantagem de saber escrever” (FRANKLIN, 1997, [1791] p.765).

*** A história do papel-moeda não aparece isolada no modo de fazer política de Benjamin Franklin. Ela sintetiza o modo pelo qual ele se tornou um dos políticos mais habilidosos de todos os tempos. Está neles todos os elementos que compuseram seu modo de agir: o inegável talento para a redação de textos, a utilização de sua força de difusão de ideias com fins estratégicos, a associação de suas ideias e projetos ao de figuras influentes e com capacidade de deliberação de recursos e a proximidade com que se relacionava com os recursos financeiros públicos. A criação da imagem mitológica do “youppie fundador” passa por reorganizar essa volatilidade moral por novas chaves, próprias de nosso tempo. Em vez de operações reprováveis do ponto de vista moral - como os nepotismos já criticados à época, a circulação de boatos para destruição de adversários comerciais e políticos, a promoção de interesses pessoais por meio de seus veículos gráficos, as suas mudanças de posição ao sabor das conjunturas - Isaacson vê nos movimentos do político ações orientadas por um audaz e ágil

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senso de empreendedorismo e visão para os negócios. Em um recurso de pouca coerência, chega a recuperar o personagem célebre que ajudou enriquecer Benjamin Franklin para dizer que “no espírito do que o Pobre Ricardo chamaria de ‘se dar bem fazendo o bem’, Franklin não era avesso a misturar seus interesses particulares com os públicos” (ISAACSON, Op. cit, p.70). Segundo Foner (1976), apenas no final da década de 1760 com o crescimento dos modos radicais de organização da resistência contra a escalada de taxação britânica é que se produziu um realinhamento nas disputas políticas da Pensilvânia aproximando os homens ricos locais, quacres ou proprietários, que viram a diferença que por décadas os separaram diminuídas perante o surgimento de um novo grupo com nova aspiração social. Os artesãos e parte dos comerciantes, reunidos em comitês, ganharam força política e capacidade mobilizadora no processo de desenvolvimento da necessidade da representação política, reorganizando a correlação de força colonial. Como de costume, Franklin se aproximou da força ascendente e quando ela se tornou irresistível, se fez um apoiador – e exerceu fundamental influência nas ações que esta organizou, participando ativamente de todo o processo que culminou na independência.

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