Comunicação e Experiência Estética (PPGCOM/UFF, 2015.2)

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
INSTITUO DE ARTES E COMUNICAÇÃO SOCIAL
DEPARTAMENTO DE ESTUDOS CULTURAIS E MÍDIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO

Disciplina: Comunicação e Experiência Estética (EGA 10087)
Prof: Benjamim Picado
Horário: 6as feiras, das 14 às 18:00
Local: Sala 1 – IACS/PóS

Ementa: Abordagens históricas e sistemáticas da interseção entre as teorias
estéticas e a experiência da comunicação na cultura contemporânea:
perspectivas teóricas e analíticas da crítica do universo de expressões
estéticas no campo da comunicação. A dimensão estética dos processos
comunicacionais na cultura mediática.

Apresentação: O campo de estudos da Comunicação sempre teve uma
considerável circulação de uma discursividade teórica de presumida extração
estética, reclamada sobretudo em seus inícios a partir da constatação da
predominância dos padrões massivos da mediatização, não apenas da
circulação de bens culturais e simbólicos na contemporaneidade, mas
sobretudo dos próprios regimes da sociabilidade preferencial de nossos
dias: um aspecto saliente desta tópica faz subentender que os meios de
comunicação constituiriam um fator de tal ordem adventício para a história
humana que, em última análise, a discussão sobre seus aspectos discursivos,
valores plásticos e eficácia simbólica suscitaria que nosso campo de
estudos devesse construir para tais fenômenos uma abordagem teórica de novo
tipo.

Não raro, associamos uma cifra privilegiada da crítica cultural dos meios
de comunicação com as dúvidas manifestas no vocabulário de certa filosofia
social, dirigida sobretudo contra as implicações entre o reino da arte e de
sua experiência histórica, de um lado, e a racionalidade instrumental
exacerbada que caracteriza o predomínio das técnicas de reprodução
industrial que dominam o campo da cultura, de outro: a disputa sobre o real
valor desta ordem de coisas oscila entre a consolidação da "indústria
cultural" e da "dialética do Esclarecimento" que a preside (em Adorno e
Horkheimer) e em um anúncio discretamente adventício das modalidades
experienciais que se descortinariam, a partir de um enfrentamento não-
traumático desta mesma predominância das engenharias técnicas na
contemporaneidade, como traços de uma experiência histórica da última etapa
da modernidade cultural (em Benjamin).

Poderíamos dizer que o acento "estetizante" das teorias da comunicação
nasce, em seus termos mais gerais, da oscilação entre tais posições
exemplificadas no percurso frankfurtiano: de certo modo, a consolidação
deste sotaque teórico resultaria, pode-se dizer, de uma valorização da
segunda posição argumentiva, que parece tentar recolocar melhor as relações
entre a centralidade das modernas tecnologias da comunicação e seus
aspectos mais adventícios. Nos escritos de McLuhan, por exemplo, anuncia-se
o cenário de uma interrogação sobre a comunicação mediática que aposta na
idéia de que ela constituiu-se na base das radicais transformações dos
modos de significação e sobretudo dos modos de perceber e sentir, próprios
às civilizações crescidas à sombra do alfabeto, da imprensa, do cinema e da
televisão.
Tal elogio implícito da técnica pode contudo nos encaminhar a certos
equívocos de apreensão quanto ao real lugar de uma interrogação estética no
interior das teorias da comunicação: o fato de que a pertinência dos mass
media na contemporaneidade se restitua a uma linhagem das "extensões
tecnológicas" da sensibilidade não significa que a interrogação estética
sobre questões de nosso campo de estudos devesse por isto mesmo se deter
numa mera contemplação do funcionamento de tais "dispositivos sociais de
mediatização", como se apenas aí (ou em razão dos mesmos) se pudesse
exaurir a compreensão do modo como a comunicação pode ser pensada, a partir
de sua relação com estruturas da percepção e da sensibilidade (além do
mais, podemos admitir que, se tais relações entre a comunicação e a
mediatização existem, de fato certamente não é o caso de pensarmos que
sejam assunto estrito de uma teorização estética, ao menos no sentido
filosófico do termo).

Devemos considerar no fundo destas relações, a necessidade de uma
interrogação mais longitudinal sobre o estabelecimento dos padrões básicos
da partilha do sentido semântico e da sensibilidade estesiológica e
afetiva, assim como sobre o papel exercido por um "horizonte de
expectativas" distribuído socialmente, como necessariamente prévio (e até
mesmo, ousamos dizer, transcendental) às realizações propriamente técnicas
dos meios de comunicação. Em última análise, o elogio da técnica implicado
nos sinais desse gaio profetismo de McLuhan e de tantas outras teorias que
nos visitam mais recentemente (como a das "materialidades da comunicação")
somente deve ser admitido, se vier precedido de uma investigação rigorosa
sobre as estruturas prévias da recepção, da interpretação e da
sensibilidade, na medida mesma em que estas é que podem fornecer um
genuíno horizonte estético da experiência em geral (e não somente a
contemporânea).

Conteúdo Programático:

Unidade I: Uma história arcana da Estética da Comunicação

a. A Questão da Técnica e o falso início de uma "estética da Comunicação":
da critica da modernidade cultural ao "princípio poético" (Adorno,
Horkheimer e Heidegger); Intervalos frankfurtianos: os "modos de sentir e
perceber" e a "expressão cinemática" do movimento na arte do filme
(Benjamin e Adorno).
b. A natureza técnica da sensibilidade: mass media enquanto "extensões" dos
sentidos e a "transformação mediática dos modos de significação" (McLuhan);
A falsa superação de uma "hermenêutica da sensibilidade": uma contra-
crítica das "materialidades da comunicação" (Gumbrecht).

Unidade II: Estética e os "sentidos do fazer"

a. Técnica, Poética, Formatividade: o sentido "produzido" como assunto
predominante nas teorias da arte (Valéry); Os limites entre a explicação
poética da obra de arte e a estética da formatividade: a invenção artística
e o horizonte inclusivo da interpretação (Pareyson); Teoria estética como
crítica da ontologia do artístico e dos "regimes de imanência" da obra de
arte (Genette, Weitz, Wollheim).

b. A Obra de Arte: Modos de Fazer/Modos de Ser: a dialética entre concepção
e execução, inspiração e trabalho, descoberta e invenção: a tensão entre a
ação, os limites do suporte e as características do meio (Dewey). Perfeição
e consistência; beleza e êxito; repetição e completude da formatividade
artística (Pareyson); dois regimes da existência da obra de arte: unicidade
e execução (Gennete e Goodman); as "estruturas de apelo" do texto
ficcional, como problema de estética (Iser).

Unidade III: Comunicação e Experiência Estética

a. A receptividade como problema estético: Uma outra concepção de
"presença": a "estética do aparecer" como intensificação da percepção comum
(Seel). A "relação estética": atenção, apreciação e juízo como fundamentos
estéticos da experiência da arte (Genette); Poiésis, Aisthésis e
Katharsis: um esboço da experiência estética como prazer da comunicação
(Jauss)

b. Estética da Comunicação como Pragmática da Sensibilidade: O "quê" e o
"quando": crítica pragmática da ontologia da obra de arte (Goodman). A
"conduta estética": a atenção perceptiva enquanto regime estético
(Schaeffer); um retorno "pós-moderno" à Kant: a razoabilidade "tautegórica"
dos afetos e o fundamento "patêmico" da sociabilidade e do sensus communis
(Lyotard e Parret); a teoria da experiência estética enquanto semiótica
custosa (Schaeffer).

Procedimentos Didáticos e Critérios de Avaliação:

1. Aulas expositivas sobre o enfeixamento conceitual das tradições
discursivas tratadas em cada tópico e unidade, tendo como guias principais
seus respectivos textos (sejam estes ensaios isolados ou livros-texto). As
notas referentes aos tópicos de cada exposição estarão disponíveis para
consulta no blog da disciplina, em

2. Ao final da disciplina, o aluno deve entregar um ensaio em forma
escrita, versando sobre o universo bibliográfico de base da disciplina: os
detalhes relativos a formatação textual do trabalho e prazos de entrega do
mesmo deverão ser objetos de deliberação na primeira sessão do curso.

Bibliografia Básica:

Unidade I:
ADORNO, T.W. "Transparencies on film" (trad.ing. Thomas Y. Levin). In: New
German Critique. 24/25 (1982): pp. 199,205;
BENJAMIN, Walter. "A obra de arte na época de sua reprodutibilidade
técnica" (trad. Carlos Nelson Coutinho). In: Teoria da Cultura de
Massa (Luiz Costa Lima, org.). São Paulo: Paz&Terra (1982): pp. 209, 240;
De DUVE, Thierry. "Resisting Adorno, revamping Kant". In, et al: Art and
Aesthetics After Adorno (The Townsend Papers in Humanities, no 3).
Berkeley: University of California Press, 2010: pp. 249,299.
GUMBRECHT, Hans Ülrich. "Materialidade/o não-hermenêutico/presença:
relatório anedótico de mudanças epistemológicas". In: Produção de Presença
(trad. Ana Isabel Soares). Rio: Contraponto/PUC (2010): pp. 21,42;
HEIDEGGER, Martin. "A questão da técnica". In: Ensaios e Conferências
(trad. Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel e Maria Sá Cavalcante
Schuback). Petrópolis: Vozes (2002): pp. 11,38;
HORKHEIMER, M. e ADORNO, T.W. "The concept of enlightenment". In:
Dialectics of Enlightment. (trad. ing. Edmund Jephcott. Stanford: Stanford
University Press (2002): pp. 1, 34;
JAUSS, Hans Robert. "A critique of Adorno's aesthetic of negativity". In:
Aesthetic Experience and Literary Hermeneutics. Minneapolis: University of
Minnesota Press (1982): pp. 13,21;
McLUHAN, Marshall. "O Cinema: o Mundo Real do Rolo". In: Os Meios de
Comunicação Como Extensões do Homem (trad. Décio Pignatari). São Paulo:
Cultrix (1979): pp. 319,333;
McLUHAN, Marshall. "Visão, som e fúria". In: Teoria da Cultura de Massa
(Luiz Costa Lima, org.). Rio: Paz&Terra (1982): pp. 143, 152;
VALVERDE, Monclar. "A transformação mediática dos modos de significação:
anotações para uma leitura de McLuhan". In: Textos de Cultura e
Comunicação. 28 (1992): pp. 45,57.

Unidade II:
DEWEY, John. "Tendo uma Experiência". In: Arte e Experiência (trad. Murilo
Otávio Rodrigues Paes Leme). São Paulo: Abril (col. Os Pensadores) (1985):
pp. 89,105;
ECO, Umberto. "A estética da formatividade e o conceito de interpretação".
In: A Definição da Arte (trad. ). Lisboa: edições 70 (2011): pp. ;
GENETTE, Gérard. "Introduction". In: L'Oeuvre d'Art. Paris: Seuil (2010):
pp. 9,45;
GENETTE, Gérard. "Immanence et manifestations". In: L'Oeuvre d'Art. Paris:
Seuil (2010): pp. 143, 208;
GOODMAN, Nelson. "Art and authenticity". In: Languages of Art.: Hackett
(1968): pp. 99, 126;
GOMES, Wilson. "Estratégias de Produção de Encanto: o Alcance Contemporâneo
da Poética de Aristóteles". In: Textos de Cultura e Comunicação. 35 (1996):
pp. 99,124;
ISER, Wolfgang. "Indeterminacy and the reader's response in prose fiction".
In: Aspects of Narrative (J.Hillis Miller, Ed.). New York: Columbia
University Press (1972): pp. 1,46;
PAREYSON, Luigi. "O Processo Artístico". In: Problemas da Estética (trad.
Maria Helena Nery Garcez). São Paulo: Martins Fontes (1997): pp. 181,200;
VALÉRY, Paul. "Primeira aula do curso de Poética". In: Variedades (trad.
Maiza Martins de Siqueira). São Paulo: Iluminuras (1999): pp. 179,192;
WEITZ, Morritz. "The role of theory in aesthetics". In: Journal of
Aesthetics and Art Criticism. 15 (1956): pp. 27,35.
WOLLHEIM, Richard. A Arte e seus Objetos (trad. Marcelo Brandão Cipolla).
São Paulo: Martins Fontes (1994).

Unidade III:
GENETTE, Gérard. "L'attention esthétique". In: L'Oeuvre d'Art. Paris: Seuil
(2010): pp. 407, 486;
GOODMAN, Nelson. "Quando é Arte". In: Modos de Fazer Mundos (trad. Antônio
Duarte). Porto: Asa (1995): pp. 103, 118;
GOODMAN, Nelson. "Art and the understanding". In: Languages of Art.
Indianápolis: Hackett (1968): pp. 225,266;
JAUSS, Hans Robert. "Poiesis: the productive side of aesthetic experience",
"Aesthesis: the receptive side os aesthetic experience", "Catharsis: the
communicative efficacy of aesthetic experience". In: Aesthetic Experience
and Literary Hermeneutics. Minneapolis: University of Minnesota Press
(1982): pp. 46,110;
LYOTARD, Jean-François. "Aesthetic reflection". In: Lessons on the Analytic
of the Sublime (trad. ing. Elizabeth Rottemberg). Stanford: Stanford
University Press (1994): pp. 1, 49;
LYOTARD, Jean-François. "The communication of taste". In: Lessons on the
Analytic of the Sublime (trad. ing. Elizabeth Rottemberg). Stanford:
Stanford University Press (1994): pp. 191, 223;
PAREYSON, Luigi. "Leitura da obra de arte". In: Problemas da
Estética (trad. Maria Helena Nery Garcez). São Paulo: Martins Fontes
(1997): pp. 181,200;
PARRET, Herman. "Comunicar por aisthesis". In: A Estética da
Comunicação (trad. Roberta Pires de Oliveira). Campinas: Unicamp (1997):
pp. 107,134;
SCHAEFFER, Jean-Marie. "L'attention esthétique". In: L'Éxperience
Esthétique. Gallimard (2015): pp. 47,112;
SCHAEFFER, Jean-Marie. "Généalogie et fonctions de l'expérience
esthétique".. In: L'Éxperience Esthétique. Gallimard (2015): pp. 151, 314;
SEEL, Martin. "Aesthetics of appearing". In: Aesthetics of Appearing.
Stanford: Stanford University Press (2005): pp. 19, 139.

Cronograma de Aulas (sujeito a alterações de percurso):

1. 14/08: apresentação do programa;
2. 21/08: Da modernidade cultural ao "princípio poético" (Adorno,
Horkheimer, Heidegger);
3. 28/08: Intervalos Frankfurtianos: os modos de sentir e perceber (Adorno
e Benjamin);
4. 04/09: A transformação mediática da sensibilidade (Benjamin, Innis e
McLuhan);
5. 11/09: "Materialidades da comunicação" contra "hermenêutica da
sensibilidade" (Gumbrecht);
6. 18/09: Predominância da Poética nas teorias estéticas da arte (Valéry,
Pareyson e Weitz);
7. 25/09: Estética como critica dos "regimes de imanência" da arte
(Wollheim, Genette e Weitz);
8. 02/10: Os modos de fazer como "regimes estéticos" da experiência (Dewey
e Pareyson);
9. 09/10: Regimes de existência e estruturas de apelo da obra de arte
(Goodman, Gennete e Iser);
10. 23/10: Da "produção de presença" a uma "Estética do aparecer" (Seel);
11. 30/10: A "relação estética": atenção, apreciação, juízo da obra de arte
(Genette);
13. 06/11: A experiência enquanto prazer da comunicação (Jauss);
14. 13/11: Receptividade e compreensão estéticas: os "sintomas do estético"
(Goodman);
15. 27/11: A atenção perceptiva como regime estético (Schaeffer)
16. 04/12: Retorno pós-moderno a Kant (1): a "tautegoria" da vida estética
(Lyotard)
17. 11/12: Retorno pós-moderno a Kant (2): o fundamento "patêmico" da
sociabilidade (Parret);
18. 18/12: última sessão do curso: discussão da prévia dos trabalhos
finais.
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