Comunicação e Expressões: educação artística a distância para alunos itinerantes

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Comunicação e Expressões: educação artística a distância para alunos itinerantes Marta Ornelas [email protected] / Ministério da Educação Teresa Marques [email protected] / Ministério da Educação PORTUGAL In Actas do Encontro “Ensino das Artes Visuais: Identidade e Cultura no Séc. XXI Bragança, 13 a 15 de Maio de 2011”. [DVD] Porto: APECV.

Resumo Num passado recente, meninos sem residência fixa, trabalhadores feirantes e circences, acostumados a mudar de escola vezes sem conta, viviam a discriminação dos colegas, a impossibilidade de criação de raízes e uma difícil progressão no acesso ao conhecimento. Em 2005, um projecto inovador viria alterar profundamente os seus percursos escolares, através da criação de uma escola só para eles. Na Escola Móvel, uma escola inclusiva de ensino a distância, estes meninos podem agora ter professores e colegas que sentem como realmente “seus” e que os acompanham durante, pelo menos, um ano lectivo inteiro. Sem discriminação. Com estabilidade. Com afectividade. Através de um currículo alternativo que se operacionaliza por meio de disciplinas e domínios de formação, Comunicação e Expressões é a base de educação artística que engloba as artes visuais e a música, numa perspectiva de aprendizagem através da realização de projectos, utilizando as Tecnologias de Informação e Comunicação como forma de expressão artística. A comunicação entre professores e alunos é conseguida através de uma plataforma que inclui chats e fóruns, entre outras funcionalidades. As criações artísticas destas crianças e jovens são concretizadas sobretudo por meio de software específico de desenho, de edição de imagem e de música. Beneficiando cerca de 100 alunos, qual será o futuro da Escola Móvel, num período, não só de crise económica, mas também em que se reivindica a inclusão como forma de desenvolvimento de sociedades integradas? Palavras-chave: B-learning, ensino a distância; itinerância; educação artística; inclusão.

Abstract Not long ago, children deprived of a permanent residence (merchants and circus performers) grew accustomed to change school countless times, lived with discrimination from colleagues, with the impossibility of setting up roots and with a difficult progression in the access to knowledge. In 2005, an innovative project would change their school paths radically, throughout the creation of a custom-designed curriculum and school to help meet their individual needs, the Mobile School. In this inclusive school of distance learning, these children may now have teachers and colleagues who they can relate to and really feel like "their own" and who may follow them during at least one full school year. Without discrimination. With stability. With care. In this context, Art Education is part of a set of subjects which comprehends Visual Arts and Music, with a perspective towards learning through the implementation

of

projects

using

the

Information

Technologies

and

Communication as a way of artistic expression. Communication between teachers and students is achieved through a platform which includes chat rooms and forums, amongst other tools. The artistic creations of these students are achieved mainly through specific software for drawing and image editing. Benefiting around 100 children, what will be the future of the Mobile School in a period not only of economic crisis but also claiming social inclusion as a way of developing integrated societies? Keywords: B-learning, distance learning, itinerancy, art education; inclusion.

Um modelo inclusivo de educação A sociedade contemporânea desenvolve-se em estreita ligação com as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), potenciando modelos de comunicação alternativos aos tradicionais. Estes modelos podem e devem servir a sociedade no sentido da inclusão dos cidadãos, nomeadamente no que concerne à sua educação, e eventuais necessidades educativas especiais. A escola, como instituição, deve acompanhar as mudanças da sociedade relativamente à utilização das TIC, exigindo novas competências profissionais aos professores e novas relações dos alunos com o saber.

Paralelamente, a escola deve também criar respostas de integração e respeito pela diversidade dos ambientes culturais em que vivem os alunos. Foram estes os princípios que em Portugal nortearam a criação de uma escola de ensino a distância para meninos itinerantes, oriundos de famílias circences e feirantes, impossibilitados de frequentar, com estabilidade, o ensino regular. A Escola Móvel veio oferecer um Percurso Curricular Alternativo que atende e valoriza as características e expectativas muito específicas, quer dos alunos, quer das suas famílias, numa perspectiva de sucesso. O Projecto Escola Móvel teve início no ano de 2005/2006 com alunos do 3º ciclo, filhos de trabalhadores itinerantes, e tinha como objectivo principal apoiá-los para que concluíssem a escolaridade obrigatória, proporcionandolhes aprendizagens essenciais, bem como os conhecimentos básicos que lhes

permitissem

também

o

prosseguimento

de

estudos,

caso

o

pretendessem. Dois anos depois, este Projecto alargou-se a outros públicos, caracterizados também por necessidades especiais que os impediam de frequentar o ensino regular. Tratava-se de mães adolescentes apoiadas por uma instituição de solidariedade social de nome “Ajuda de Mãe” e de alunos com mais de 15 anos que, por razões diversas, se viam impedidos de concluir a escolaridade obrigatória. No ano lectivo de 2009/2010 a Escola Móvel foi reconhecida legalmente através da Portaria nº 835/2009 de 31 de Julho, tornando-se Escola em vez de Projecto, o que permitiu alargar quer o número de professores de 23 para 34 – destacados e contratados – quer a oferta formativa que passou a dois Cursos Profissionais do ensino secundário. Abrangendo cerca de 100 alunos, cada um deles tem ao seu dispor um computador portátil com ligação à internet para assistir e participar nas actividades lectivas, de acordo com o horário da respectiva turma. As turmas são organizadas por público-alvo e ano de escolaridade. Para cada aluno é designado um professor tutor que tem a responsabilidade de estabelecer a comunicação entre a escola e a família.

As aulas decorrem numa plataforma de comunicação, o Moodle, composta por diversas salas de aula virtuais, uma para cada disciplina e turma. Em cada sala de aula virtual podem participar um ou vários professores, conforme as necessidades de cada projecto e as características dos alunos de cada turma, numa perspectiva de apoio individualizado. A utilização destas ferramentas e recursos potenciam o desenvolvimento de competências essenciais, através de um controlo directo dos percursos de aprendizagem dos alunos pelos professores. Quatro vezes por ano lectivo, a escola torna-se presencial durante uma semana. Os alunos frequentam, em regime de internato, um espaço institucional disponibilizado para o efeito, apetrechado com salas de aula, refeitório, auditório, campo de jogos e camaratas. Nestas semanas são dinamizadas visitas de estudo e práticas de expressão analógica, com vista a facilitar a construção de uma identidade de grupo. Presencial ou virtualmente, o ambiente de aprendizagem é concretizado de acordo com uma dinâmica de trabalho colaborativo, na qual os alunos podem desenvolver actividades em conjunto com os professores, dando lugar à entreajuda, quer com os professores, quer entre pares, para o cumprimento das metas de aprendizagem. De relevar que este sistema de ensino conta com a colaboração de diversos parceiros que apoiam as actividades desenvolvidas (Governo de Portugal, 2008).

Matriz Curricular da Escola Móvel Para dar resposta às necessidades dos alunos itinerantes em termos de educação básica, a Escola Móvel contempla um Percurso Curricular Alternativo,

previsto

na

legislação

portuguesa

(Despacho

Normativo

nº1/2006) por forma a responder a situações de igualdade de oportunidades no acesso e sucesso escolares. Tendo como base o programa curricular nacional, e tendo em conta as características muito específicas destes alunos, o Projecto Curricular da Escola Móvel para os alunos do 2º e 3º Ciclo parte das disciplinas do ensino regular, reestruturando-as noutra matriz curricular de acordo com a perspectiva de uma escola de sucesso. Assim, os

alunos da Escola Móvel têm disciplinas e Domínios de Formação, sendo a Educação Artística contemplada no Domínio de Comunicação e Expressões.

Carga horária semanal (x 90 min.)

COMPONENTES DO CURRÍCULO NACIONAL 2º CICLO

5º ano

6º ano

Total Ciclo

5

5,5

10,5

3,5

3,5

7

3

3

6

1,5

1,5

3

3

2,5

5,5

Educação Moral e Religiosa (facultativo)

0,5

0,5

1

A decidir pela escola

0,5

0,5

1

17

17

34

Língua Portuguesa Língua Estrangeira História e Geografia de Portugal Matemática Ciências da Natureza Educação Artística e Tecnológica Educação Visual e Tecnológica Educação Musical Educação Física Área de Projecto Formação Cívica Estudo Acompanhado

TOTAL

Tabela 1 – Matriz curricular do 2º ciclo do Ensino Básico, conforme o Decreto-Lei n.º 209/02, de 17 de Outubro, alterado pelo Decreto-Lei n.º 24/2006 de 6 de Janeiro.

COMPONENTES DO CURRÍCULO NACIONAL

Carga horária semanal (x 90 min.) 7º ano

8º ano

9º ano

Total Ciclo

2

2

2

6

3

2,5

2,5

8

2

2,5

2,5

7

2

2

2

6

2

2

2,5

6,5

Educação Visual

1

1

Outra disciplina de Educação Artística (Dança, Música, Teatro, ou outra)

1

1

1,5

5,5

1,5

1,5

1,5

4,5

3º CICLO Língua Portuguesa Língua Estrangeira 1 Língua Estrangeira 2 História Geografia Matemática Ciências Naturais Ciências Físico-Químicas

Educação Tecnológica Educação Física

Introdução às TIC

-

-

1

1

2,5

2,5

2

7

Educação Moral e Religiosa (facultativo)

0,5

0,5

0,5

1,5

A decidir pela escola

0,5

0,5

-

1

18

18

18

54

Área de Projecto Formação Cívica Estudo Acompanhado

TOTAL

Tabela 2 – Matriz curricular do 3º ciclo do Ensino Básico, conforme o Decreto-Lei n.º 209/02, de 17 de Outubro, alterado pelo Decreto-Lei n.º 24/2006 de 6 de Janeiro.

Carga horária semanal (x 60 min.)

COMPONENTES DO CURRÍCULO DA ESCOLA MÓVEL - 2º CICLO

5º ano

6º ano

Total Ciclo

Língua Portuguesa

3

3

6

Língua Estrangeira – Inglês

2

2

4

2

2

4

3

3

6

2

2

4

4

4

8

Educação Física

2

2

4

Área de Projecto

1

1

2

Formação Cívica

1

1

2

Tutoria

4

4

8

24

24

48

Passado e Mundo Actual: -

História

-

Geografia

Matemática O Universo e a Vida: -

Ciências Naturais

-

Ciências Físico-Químicas

Comunicação e Expressões: -

Educação Visual

-

Educação Tecnológica

-

Música

-

TIC

TOTAL

Tabela 3 – Matriz curricular do 2º ciclo do Ensino Básico da Escola Móvel.

Carga horária semanal (x 60 min.)

COMPONENTES DO CURRÍCULO DA ESCOLA MÓVEL - 3º CICLO

7º ano

8º ano

9º ano

Total Ciclo

Língua Portuguesa

3

3

3

9

Língua Estrangeira 1 – Inglês

2

2

2

6

Língua Estrangeira 2 - Espanhol

1

1

1

3

3

3

3

9

3

3

3

9

2

2

2

6

3

3

3

9

Educação Física

2

2

2

6

Área de Projecto

1

1

1

3

Formação Cívica

1

1

1

3

Tutoria

3

3

3

9

24

24

24

48

Passado e Mundo Actual: -

História

-

Geografia

Matemática O Universo e a Vida: -

Ciências Naturais

-

Ciências Físico-Químicas

Comunicação e Expressões: -

Educação Visual

-

Educação Tecnológica

-

Música

-

TIC

TOTAL

Tabela 4 – Matriz curricular do 3º ciclo do Ensino Básico da Escola Móvel.

Para o Ensino Secundário, a Escola Móvel oferece a possibilidade de os alunos frequentarem um dos dois cursos profissionais disponíveis: Técnico de Comunicação – Marketing, Relações Públicas e Publicidade e Técnico de Gestão. Neste caso, não se aplica o percurso curricular alternativo, uma vez que, de acordo com o Decreto-Lei n.º 74/2004 de 26 de Março, alterado pelo Decreto-Lei n.º 24/2006 de 6 de Fevereiro, não está prevista a adaptação curricular em percursos alternativos. Assim, a matriz curricular dos cursos profissionais do ensino secundário da Escola Móvel são iguais às do ensino regular. A componente de Educação Artística encontra aqui a sua expressão nas disciplinas de Comunicação Gráfica e Audiovisual e História da Cultura e das Artes.

Práticas Curriculares em Comunicação e Expressões O Domínio de Comunicação e Expressões congrega as áreas de Educação Visual, Educação Tecnológica, Educação Musical e Introdução às Tecnologias de Informação e Comunicação. Os projectos desenvolvidos pelos alunos no âmbito deste domínio têm sobretudo um carácter formativo,

vocacionado

para

a

responsabilização

colectiva

e

para

o

modelo

construtivista da aprendizagem. Cada aula de Comunicação e Expressões conta com dois professores que seguem com regularidade cada turma. Na plataforma de comunicação, para a qual cada aluno tem uma password específica para entrar, professores e alunos dispõem das seguintes ferramentas principais: guião da aula, chat, fórum e learning objects. O Guião da Aula é o que o aluno encontra ao entrar no espaço do domínio de formação, ou seja, é a listagem ordenada das tarefas a que vai ter que dar resposta durante o tempo da aula. O Chat é um espaço de conversação, de troca instantânea de mensagens (semelhante ao conhecido msn) que tem como objectivo um cumprimento inicial aos presentes, bem como a colocação de dúvidas relativas a algumas dificuldades que os alunos possam ter, não em relação aos conteúdos da aula, mas sim sobre a vertente prática da utilização das ferramentas tecnológicas (por exemplo, a dificuldade que em determinado local os alunos tenham em aceder à internet e que pode provocar um ritmo mais lento de resposta). É também no chat que se abre a possibilidade de criar uma relação mais próxima e menos formal com os alunos, onde eles colocam os seus problemas, esperando apoio do professor na sua resolução. O Fórum é o espaço destinado ao debate e à apresentação de respostas de acordo com cada desafio lançado pelo professor em cada aula. É também no fórum que os alunos devem colocar as suas dificuldades e dúvidas relativamente aos conteúdos da aula. No caso de um debate, por exemplo, os alunos vão apresentando as suas intervenções, podendo anexar imagens que complementem o que querem dizer. No caso de um trabalho prático, os alunos realizam-no individualmente no seu computador e depois apresentam-no no fórum, pelo que todos os trabalhos são vistos por todos os alunos da turma. O professor comenta tão rápido quanto possível cada trabalho, o que permite que o aluno tenha um feedback quase imediato da sua resposta ao desafio e possa proceder às alterações necessárias durante o tempo em que decorre a aula. Isto permite também que os colegas possam comentar os trabalhos uns dos outros, embora com regras previamente

estipuladas, possibilitando uma evolução conjunta nas aprendizagens, bem como a oportunidade de todos presenciarem a evolução dos colegas, aprendendo com as dificuldades dos outros, que muitas vezes são também as suas. Os fóruns encontram-se sempre disponíveis para consulta, mesmo após as aulas, o que permite o seu acompanhamento permanente pelos alunos, nomeadamente quando faltam a uma aula, acedendo ao seu conteúdo e discussão. Estas práticas de aprendizagem através dos fóruns acabam por implicar uma alternância cíclica entre acção e reflexão crítica, tal como a metodologia de investigação-acção propõe, tendo em conta que cada ciclo posterior é uma aprendizagem reflexiva que evolui com base na experiência concretizada no ciclo anterior (Coutinho et al., 2009). Os Learning Objects são elementos digitais cuja apresentação tem uma curta duração e que apoiam o ensino e podem ser utilizados no contexto de pequenas unidades de aprendizagem (Beck, 2010), têm o mesmo objectivo que os que são utilizados num regime presencial e regular de ensino, ou seja, complementam a explicação do professor ou pretendem fazer a introdução a um determinado conceito de aprendizagem. No caso dos Learning Objects do Domínio de Comunicação e Expressões da Escola Móvel, a esmagadora maioria é criada de raíz pelos professores, atendendo a uma preocupação de serem suficientemente apelativos para que não demovam o aluno de os visionar até ao fim. De entre os Learning Objects utilizados nas aulas de Comunicação e Expressões destacam-se as apresentações em powerpoint, sites de referência e vídeos no YouTube. Ocasionalmente também são preparados documentos em formato doc, pdf, wav e captivate. Para atender a determinadas especificidades características deste tipo de ensino, professores e alunos têm à sua disposição outras ferramentas, como testes, formulados de acordo com aquilo que a plataforma Moodle permite, por exemplo o estabelecimento de tempos limite, questões de resposta aberta e fechada, possibilidade de as respostas serem dadas sob a forma de texto escrito ou da anexação de imagens. O professor dispõe ainda de outras ferramentas, como é o caso da

aplicação Log Me In, que lhe permite entrar no computador de cada aluno, para um apoio mais individualizado e ajudá-lo com indicações precisas (por exemplo, indicar ao aluno onde se encontra uma ferramenta necessária ao desenvolvimento do trabalho em curso, ou indicar directamente ao aluno uma sequência de tarefas que ele parece não compreender). Outra ferramenta importante no decorrer das actividades são as mensagens privadas, utilizadas quando não se justifica a comunicação aberta a todo o grupo. Sem serem expostos à turma, os alunos podem, assim, dialogar com o professor ou com outros colegas sobre os seus problemas. Saliente-se a naturalidade com que estes jovens lidam com todas estas ferramentas. A facilidade com que incorporam nos seus hábitos estas metodologias de trabalho e a rapidez com que aprendem a lidar com todos estes campos de possibilidades tecnológicas é impressionante, até para os seus professores. Nascidos numa geração muito familiarizada com a tecnologia, é um facto que rapidamente todos aprendem que as dúvidas sobre os conteúdos leccionados têm que ser colocadas no Fórum, ou os formatos de documento que podem anexar. Até mesmo a resolução de alguns problemas técnicos que vão surgindo é muitas vezes feita pelos alunos, que, comunicando entre eles também sobre estes assuntos, se ajudam mutuamente. Durante as semanas presenciais priveligiam-se actividades de projecto em grupo, utilizando meios de expressão analógica, sobretudo materiais tradicionais de desenho e pintura. A avaliação dos alunos é apresentada em Fóruns. Um dos fóruns que existe em permanência é o dos Trabalhos em Atraso. Deste modo, os alunos verificam o resultado da sua participação e da dos seus colegas, de forma constante, funcionando como um aviso em caso de incumprimento. Periodicamente, é feita a auto e hetero-avaliação, também em fórum, onde as classificações são propostas e discutidas com os alunos. Respeitando a legislação em vigor, o Despacho Normativo nº1/2005, os níveis atribuídos são da responsabilidade do conselho de turma sob proposta dos professores de cada disciplina ou domínio de formação.

Algumas actividades desenvolvidas No contexto de aprendizagem do domínio de formação de Comunicação e Expressões, os alunos realizaram actividades práticas utilizando software de edição e tratamento de imagem (MsPaint, Paint.Net e Photoshop), de som (Audacity e Acid Music) e de animação multimédia (Movie Maker), o que lhes permitiu desenvolver competências específicas nas TIC. A aprendizagem deste software foi sempre realizada em contexto, isto é, na realização de cada actividade prática concreta, através de tutoriais que simulavam a aplicação das ferramentas a utilizar na resolução das tarefas pedidas. Dentro do possível, a planificação das actividades teve sempre em conta o calendário das semanas presenciais, de forma a conseguir-se uma complementaridade entre os dois ambientes, já que um dos principais objectivos era que cada projecto fosse desenvolvido inicialmente em ambiente virtual e finalizado presencialmente. Astronomia Artística (2009/2010) - através da construção de cenários e adereços, bi ou tridimensionais pintados, realizou-se a montagem de animações multimédia para participar no concurso dinamizado pela Sociedade Portuguesa de Astronomia, no âmbito do Ano Internacional da Astronomia. Esta actividade foi apresentada aos alunos, ainda antes da semana presencial, onde os alunos realizaram estudos de cenários, adereços, escreveram as peças, criaram as músicas, ensaiaram os textos, gravando a sua voz e submetendo as suas participações aos fóruns temáticos criados para o efeito. Este projecto mobilizou todos os alunos e professores da Escola Móvel, durante uma semana presencial. Logo da EM (2009/2010) – os professores do domínio de formação desenharam previamente um conjunto de painéis, em cartolina duplex, sem o conhecimento dos alunos. Estes, pintaram os desenhos, sem saberem o seu significado, construindo o produto final como um cadavre exquis, cuja montagem foi realizada, após todos os elementos do painel estarem concluídos. Cada grupo de alunos aplicou uma técnica à escolha, explorando os materiais disponíveis para o efeito. Esta actividade foi realizada pelos alunos do 3º ciclo, durante uma semana presencial.

Teatro de final de ano lectivo (2008/2009) – este projecto foi articulado com a disciplina de Língua Portuguesa e a Área Curricular não disciplinar de Área de Projecto, na qual os alunos escreveram textos para uma peça de teatro a realizar no encerramento de final de ano lectivo. Realizaram também diferentes peças de vestuário, recorrendo a sacos de papel (sacos de pão), pintando-os de acordo com a personagem que iriam desempenhar, adicionando pormenores/adereços. Executaram ainda o cenário a aplicar numa estrutura. A par desta actividade, aquando da realização de textos, os alunos ao longo do ano compuseram a melodia e letra para o Hino da Escola Móvel, que seria acompanhada por flauta. Este hino foi o culminar da festa de encerramento de ano lectivo. Livro/Painel Colectivo do Corpo Humano (2008/2009) – uma aluna serviu de modelo para que outros desenhassem o contorno da sua silhueta, dividida em três cartolinas duplex (1.cabeça, 2.tronco e 3.membros inferiores). Foram realizados diversos painéis, com técnicas diversas (colagem, pintura, textura, etc). Logo que montado, este livro/painel permite a quem o folheia uma imensidão de combinações possíveis. Esta actividade mobilizou todos os alunos da Escola, durante uma semana presencial. Face Parade (2007/2008) – este projecto surgiu inspirado no Tree Parade. De acordo com as características individuais de cada aluno, cada um decorou um busto de esferovite. No conjunto, o resultado final apelava à importância da diversidade, à tolerância e ao respeito pelas características individuais. O projecto foi realizado por alunos de 2º e 3º ciclos e foi exposto, na cerimónia de abertura do ano lectivo seguinte no Pavilhão do Conhecimento, no Parque das Nações. Da avaliação dos projectos realizados, salienta-se a motivação demonstrada pelos alunos com vista à concretização de trabalhos individual ou de grupo que permitiram desenvolver competências noutros contextos artísticos, assim como a partilha de conhecimentos e experiências. Dada a necessidade de desenvolver as competências enumeradas nos pressupostos que levaram à planificação das actividades presenciais, nomeadamente as artísticas e o impacto que obtiveram junto dos alunos,

privilegiou-se a dinamização de projectos, interdisciplinares, que mobilizaram os alunos por ciclo e por escola, por serem momentos importantes que permitem o fortalecimento da sua identidade pessoal e social.

O Futuro da Escola Móvel A Escola Móvel foi uma resposta essencial na criação de uma nova forma de aprender, com o apoio de ferramentas tecnológicas que ultrapassaram barreiras geográficas. A Escola Móvel foi uma escola inclusiva, dando oportunidade a meninos trabalhadores e mães adolescentes que estavam privados de uma escola estável, sólida, com uma identidade forte, com um sentido de união, características potenciadoras do sucesso escolar. No futuro, a Escola Móvel deveria ser capaz de continuar a ser uma resposta eficaz e de qualidade, continuando a evoluir no sentido de se adaptar contínuamente à especificidade de cada público, almejando novos alunos e novos parceiros sociais. No entanto, a Escola Móvel foi encerrada pelo Ministério da Educação em Agosto de 2010, em período de férias de alunos e professores, sem aviso prévio, por motivos de contenção orçamental (Wong, 2010). Para acompanhar os alunos que se encontravam a frequentar a Escola Móvel foi criado um novo projecto, Ensino a Distância para Itinerância (EDI), que, de acordo com a Portaria nº 812/2010 de 26 de Agosto, pretendia optimizar recursos humanos, mantendo a qualidade dos recursos pedagógicos. Contudo, todo o antigo corpo docente foi despedido e, de acordo com informação recolhida junto dos intervenientes, dos 28 recrutados no início deste ano lectivo, 24 nunca tinham trabalhado numa experiência semelhante, pelo que tiveram formação específica, a rápida velocidade, facto que prejudicou o início das aulas, adiado por vários dias (V. Palma, comunicação pessoal, Setembro 28, 2010). De acordo com a mesma Portaria de criação do EDI, o projecto passou a ser liderado por um professor universitário desconhecido da equipa anterior. Depois da incerteza, ansiedade e angústia vividas pelos alunos e pais, muitos deles informados sobre a situação através de email, as saudades da

Escola Móvel estão espalhadas na redes sociais. A redução de recursos humanos parece não ter surtido um efeito positivo, pois há pais que se queixam da falta de acompanhamento dos professores tutores, que antes estabeleciam contactos mais regulares com os encarregados de educação (C. Costa, comunicação pessoal, Março 1, 2011), mas que agora têm mais tutorandos e um novo sistema de ensino ao qual necessitam de adaptar-se. A adaptação dos alunos aos novos professores não foi fácil e há alunos que sentem a falta da amizade e proximidade dos professores que os acompanharam por alguns anos e com quem criaram laços afectivos importantes (L. Paiva, comunicação pessoal, Setembro 28, 2010; V. Palma, comunicação pessoal, Setembro 17, 2010). Pais e alunos indignam-se com o fim das semanas presenciais, que passaram a ser dias presenciais, nos quais só pode estar presente uma turma de cada vez. Perdeu-se, assim, a possibilidade de consolidação de uma identidade de escola que vinha sendo construída através destes momentos de partilha, colaboração e integração. Alunos ressentem-se também pelo facto de, ao contrário do que acontecia até ao ano anterior, mesmo fora do horário da aula era possível esclarecer dúvidas com o professor da disciplina, que se encontrava frequentemente online e disponível (Z. Pardal, comunicação pessoal, Dezembro 18, 2010). Tendo em conta as opiniões de pais e alunos, o resultado deste projecto apresenta um decréscimo na qualidade da resposta às características específicas destes alunos, contrariamente ao que previa a legislação que o criou. A optimização dos recursos humanos não passou de uma intenção da lei, pois de acordo com informação recolhida junto do corpo docente do EDI, foi aumentado o número de alunos por turma, bem como o número de tutorandos por professor tutor. Os professores dão aulas a mais do que uma turma ao mesmo tempo. A redução do número de professores neste projecto provocou uma inevitável sobrecarga nos seus horários de trabalho em detrimento da sua vida pessoal e sem qualquer remuneração extraordinária. Apesar do empenho do actual corpo docente, as consequências ao nível da diminuição da qualidade da resposta serão certamente evidentes e devem ser contabilizadas aquando da eventual avaliação do primeiro ano de

funcionamento do projecto. A Escola Móvel deverá ser recordada para sempre como um grande passo dado na educação em Portugal, como um sistema integrador e inclusivo no acesso à educação básica, permitindo a formação de futuros cidadãos interventivos na sociedade. Mas a Escola Móvel foi encerrada, e numa sociedade que se pretende inclusiva, onde as pessoas sejam detentoras de um desenvolvimento integrado, é importante que seja garantida uma resposta de qualidade no campo educativo. Caso contrário, estes meninos itinerantes, e outros, continuarão a sofrer da sua condição.

Questões em aberto: - Quais as vantagens e desvantagens do sistema de ensino a distância? - Como criam, professores e alunos a distância, laços afectivos tão importantes que potenciam a motivação para a aprendizagem? - Quais os verdadeiros custos na opção de contenção orçamental de encerramento da Escola Móvel?

Referências bibliográficas: Beck, R. J. (2010). "What Are Learning Objects?" in Learning Objects. Center for International Education, University of Wisconsin-Milwaukee, http://www4.uwm.edu/cie/learning_objects.cfm?gid=56 retrieved 2011-03-24. Coutinho et al. (2009). Investigação-Acção: metodologia preferencial nas práticas educativas. In “Revista Psicologia, Educação e Cultura." ISSN 0874-2391. 13:2 (Dez. 2009) 355-379. Colégio Internato dos Carvalhos. http://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/10148 retrieved 2011-03-27. Decreto-Lei n.º 24/2006 de 6 de Janeiro, “D.R. Série I-A” 26 (06-01-2006). 860 a 861. Decreto-Lei n.º 74/2004 de 26 de Março, “D.R. Série A” 73 (26-03-2004). 1931-1937. Decreto-Lei n.º 209/2002, de 17 de Outubro, “D.R. Série A” 240 (17-10-2002). 6807-6810. Despacho Normativo n.º 1/2005, de 5 de Janeiro, “Diário da República - Série I-B””. Nº3 (0501-2005). 71-76. Despacho Normativo nº1/2006, de 6 de Janeiro, “Diário da República - Série I-B”. Nº5 (06-012006). 156-160. Governo de Portugal. (2008). “Projecto Escola Móvel” in Arquivo Histórico – XVII Governo Constitucional,

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