Comunicado a todos da UCSAL

May 23, 2017 | Autor: C. de Souza | Categoria: University, UCSAL
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Universidade, vocação e trabalho: uma breve conversa com a comunidade acadêmica da UCSAL

Meus queridos alunos, colegas e demais membros da comunidade acadêmica escrevo-lhes estas poucas palavras sem revisão como forma de agradecer o convívio nos últimos quatro anos, os quais me tornaram um ser humano e professor muito melhor do que quando entrei na UCSAL.

Universidade

Informo-lhes que desde fevereiro deste ano deixei de pertencer ao quadro de professores assistentes da Universidade. O motivo é nobre: fui convocado em um concurso público na área de teoria política no Instituto de Humanidades e Letras (IHL) da UNILAB (Universidade da Integração Internacional da Lusofonia AfroBrasileira), campus São Francisco do Conde (BA). Embora a Universidade tenha acabado por adiar a minha nomeação para o próximo semestre poucos dias depois da convocação no final de janeiro, me encontro à espera deste novo desafio na carreira que darei dedicação exclusiva enquanto uma exigência prevista no Edital. O meu ingresso em 2012 no quadro docente da UCSAL representou muito para o meu crescimento profissional e desde o início a Universidade deu todo o apoio para a nossa entrada em sala de aula. Eu tinha 27 anos e estava cheio de expectativa em de fato cumprir o meu primeiro grande desafio da carreira. Lembro-me como se fosse hoje o quanto fiquei admirado com a estrutura da Universidade e ao mesmo tempo surpreso com os desafios colocados para uma instituição que necessitava de muita força de gestão para recuperar espaço e protagonismo. Em termos gerais, foi o propósito de pôr a universidade nos trilhos que levou o Reitor Pe. Maurício Ferreira a consolidar um novo modelo de Universidade, que responda, inclusive, aos cenários externos da economia, bem como aos problemas gerados pelas gestões anteriores. O clima em que está imersa a comunidade acadêmica atualmente se mostra estimulado a fomentar um ciclo de retomada da tradição e do protagonismo da universidade no cenário regional e nacional, ancorando-se no cumprimento de metas da sala de aula à gestão financeira. Não há vida fácil nessa empreitada, contudo, a grandiosidade da UCSAL dentro e fora dos muros da instituição a credencia para esta retomada, que já está em curso. Esse “novo tempo” da Universidade a partir de 2014 me fez olhar o futuro profissional diante do desafio de crescer junto com a instituição. Tudo isso com o meu doutoramento em curso, o que tornou o caminho da docência às vezes tenso, inseguro e coberto de incertezas. Não sei se meus colegas docentes já se deram

conta, mas me parece que o trabalho docente requer alma. Espírito. O trabalho intelectual requer entrega de corpo e mente. Não há conhecimento isento desse processo e, nessa direção, a universidade se encontra empenhada em valorizar a docência como algo natural dentro da relação ensino-pesquisa. Quantas universidades expressam metas e comprometimento em buscar uma relação intrínseca entre graduação e pós-graduação lato e stricto sensu? Quantas faculdades e universidades privadas podemos nos sentir confiantes e valorizados profissionalmente? Apenas em caráter de sugestão, enxergo que o revigoramento do plano de carreira para professores e a retomada de seleções públicas para professores trarão ainda mais prestígio à universidade. Os seus professores são um dos seus maiores patrimônios. São questões, com certeza, previstas no novo estatuto da universidade. Da sala dos professores ao contato com os alunos é possível respirar conhecimento, pluralidade e ideias. Esta diversidade escapa às mãos da Instituição. Por ser Universidade é natural que atraia públicos diversos, com histórias diversas, religiões diversas inspirando um clima de debate saudável de posições sociais, filosóficas e em torno da política. Aprendi em cada aula a ouvir os (mais diferentes) alunos e a falar de política entre a ciência política e a política de fato. Não dá para separar fato e valor nas ciências humanas. Não somos um átomo de enxofre. Não há neutralidade entre os homens. Me refiro, em especial, ao chamamento dos alunos a interpretar os acontecimentos da conjuntura política, o que natural de se indagar a um cientista político, ainda mais diante da nebulosidade que paira sobre o momento político atual. Foi este “capital social e político” da UCSAL posto lado a lado da sua tradição que a colocou no lugar que ela ocupa hoje. A UCSAL tem um núcleo de pós-graduação de relevância nacional e internacional e cursos de graduação reconhecidos pela comunidade acadêmica. Há profissionais formados aqui nas últimas décadas que estão atuando profissionalmente em todos os segmentos sociais, o que revela o cumprimento exemplar da sua função social enquanto universidade no cenário regional e nacional. Durante todo este tempo a Universidade tem sido um polo de formação de lideranças públicas, dividindo esse papel com a UFBA.

Vocação

Diante da tradição e do papel grandioso da UCSAL em elevar o seu protagonismo na comunidade acadêmica, é possível afirmar que esta é uma tarefa em andamento tomada de decisões administrativas, mas também pedagógicas. Cada passo se inspira nas grandes universidades do mundo que conectam-se aos propósitos de congregar ensino, pesquisa e extensão. Apesar das adversidades, encontrei na instituição um ambiente propício à busca do conhecimento. Arrisco-me a dizer em

tom generalizante que não há na Bahia uma só universidade humanista e comunitária como a UCSAL, trazendo consigo um imenso e intenso enraizamento com a sociedade. O seu caráter confessional fornece pistas para a compreensão dessa sua vocação. Me refiro aqui aos termos colocados por Max Weber ao delinear a ciência como vocação, já que a paixão e o trabalho andam juntos. Sem a paixão pela ciência não se encontrará em lugar algum a vocação para ser cientista. Nas universidades públicas, assim como nas privadas, é possível perceber a armadilha em torno da precarização do trabalho docente como forma de se aniquilar a paixão a esta vocação pela ciência. Este é um perigo típico do capitalismo capaz de monetarizar as representações simbólicas e as mercadorias em uma só tacada. Há na teoria política contemporânea quem se arrisque a formular a incompatibilidade entre democracia e capitalismo. Somos jogados ao mundo como se a felicidade viesse do dinheiro em si. Mas também há em curso uma superexploração dos professores em diversos países que o colocam em uma carreira de grande status e responsabilidade, mas sem uma contrapartida salarial compatível com as necessidades destes trabalhadores do conhecimento. Além disso, o barateamento brutal do ensino se soma ao corte significativo de verbas para a pesquisa. Como ter docentes que ensinam se não pesquisam? Se não são remunerados para ler e gerar novos conhecimentos em suas áreas? Como ter ensino de excelência se o MEC libera um tipo de profissional horista que convive pouco com as IES? No Brasil, as injustiças tributárias são as principais responsáveis pela desigualdade no acesso ao ensino superior. Falta dinheiro para a classe trabalhadora por seus filhos nas universidades privadas e desde a década de 1990 que se vê poucos esforços para se expandir significativamente as vagas nas universidades públicas no país. Reitero que o boom de faculdades privadas criou um mercado no qual o MEC pouco foi eficaz em fiscalizar de fato a qualidade destas instituições, além do que há uma questão de maior complexidade para pensarmos. A chegada aos milhares dos “alunos-trabalhadores-noturnos” nas instituições do país pouco representou a reconfiguração de um modelo pedagógico elitista e racista criado para os filhos da classe média que viviam para estudar. Ou seja, pouco tem sido feito para pensar um modelo de universidade do século XXI. Também em caráter de sugestão, penso que a UCSAL pode se debruçar sobre tais questões nos próximos meses, sendo pioneira na apresentação de um novo modelo de universidade comunitária que inove nos moldes de quem são os seus alunos. Precisamos nos adequar as novas realidades colocadas fora dos muros da universidade. Em suma, não podemos ter medo do papel “burilador” das universidades em colocar na mesa o debate sobre os interesses da sociedade, suas culturas, suas representações, seus dogmas. A universidade tem este papel e deve conviver bem com a diversidade de ideias. A universidade é o divã epistemológico dos grupos societários. Ou seja, a universidade como instituição moderna é receptora dos

valores que povoam os grupos sociais. Dentro destas condições nasce a vocação científica e a paixão pelo conhecimento. Da sua fundação até aqui, em especial na Bahia, a UCSAL tem sido uma das principais responsáveis pela formação dos cientistas baianos. Este patrimônio é relevante e deve seguir adiante.

Trabalho

Mesmo com a minha quase certa nomeação na UNILAB em 2017 continuarei vinculado como professor colaborador da pós-graduação stricto sensu, o que me enche de orgulho em continuar a minha jornada na universidade com o desafio de contribuir com os programas de planejamento ambiental e de políticas sociais e cidadania. Fico desde já à disposição para contribuir com bancas, palestras, conferências, seminários, etc. E ainda continuarei à frente das atividades de um novo grupo de pesquisa intitulado “Democracia e Participação na contemporaneidade” fundado em 2016. Diante de dezenas de pessoas que me acompanharam todos estes anos, quero imensamente agradecer a algumas delas que fizeram o meu trabalho na universidade pleno de felicidade e realizações. Ao Prof. Raimundo Andrade que durante seu período na coordenação do curso de Direito me incentivou a contribuir em atividades de pesquisa e ao mesmo tempo no Núcleo Docente Estruturante (NDE). À Profa. Silvana Carvalho que me deu todas as condições necessárias para realizar um curso de extensão sobre democracia participativa, assim como participar da organização da SEMOC de 2016 e pelo meu ingresso como professor de mestrado nesse mesmo ano. Agradeço à Ananda, Luís Henrique e à Jade pela parceria nas pesquisas do PIBIC. As orientações até aqui me trouxeram ânimo para prosseguir com um projeto inovador para a Universidade e com grande relevância social. Estamos na fase exploratória mas vai dar tudo certo! Agradeço ao Prof. Deivid Lorenzo pela parceria e confiança durante este tempo em que ele se encontra na coordenação. Estive no curso até aqui pertencendo ao NDE e pude vivenciar mais de perto o curso de Direito e confio plenamente na capacidade da coordenação em seguir o seu projeto de conquistar um ensino de excelência com forte vocação á pesquisa e á extensão. Deivid possui uma serenidade e dedicação ao trabalho, que, com certeza, colherão um conjunto de conquistas memoráveis nos próximos períodos. São tempos exitosos para o nosso curso de direito! Quero, por fim, agradecer ao Prof. Moacir pelo convite aceito de pertencer ao quadro docente do Programa de Pós-Graduação em Planejamento Ambiental. Além do sucesso e da grande competência à frente da coordenação tive em Moacir um mestre que soube me ouvir e conduzir com louvor a minha transição para este novo

momento da carreira. O seu empenho ao trabalho é contagiante para todos que o conhecem, vivendo a universidade com paixão, competência e afinco. Todos os agradecimentos são minoritários diante do meu sentimento de gratidão a cada aluno e aluna que pude conviver nestes anos. Cada aula aos estudantes de direito nos últimos anos me encheram de certezas e dúvidas. Sem vocês eu jamais teria chegado até aqui, fazendo da docência uma paixão e da política uma forma de vida. Vocês fizeram da UCSAL o meu lugar de convívio, reflexão e paixão pelo conhecimento. Fizeram da sala de aula o meu bios. Que sigamos juntos conversando em torno do conhecimento! Que sigamos juntos com a UCSAL.

Um abraço carinhoso,

Cláudio André de Souza

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