Conceptualização do modelo de jogo – Operacionalização de um modelo de treino de acordo com o modelo de jogo adoptado

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RUI ALEXANDRE HORTA VIEIRA

Relatório Final de Estágio na Equipa do Clube Atlético Riachense na Época 2014-2015 Conceptualização do modelo de jogo – Operacionalização de um modelo de treino de acordo com o modelo de jogo adoptado Orientador: Professor Doutor Jorge Castelo

Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias Faculdade de Educação Física e Desporto

Lisboa 2015

Rui Alexandre Horta Viera - Conceptualização do modelo de jogo

RUI ALEXANDRE HORTA VIEIRA

Relatório Final de Estágio na Equipa do Clube Atlético Riachense na Época 2014-2015 Conceptualização do modelo de jogo – Operacionalização de um modelo de treino de acordo com o modelo de jogo adoptado Orientador: Professor Doutor Jorge Castelo

Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias Faculdade de Educação Física e Desporto

Lisboa 2015 Relatório final do ramo profissionalizante especialmente elaborado para a obtenção do grau de mestre em treino desportivo com especialização na área do futebol conferido pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

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Agradecimentos Para a elaboração deste trabalho, tornou-se imprescindível a colaboração e o apoio de algumas pessoas, sem as quais não seria possível concretiza-lo e às quais não podia deixar de agradecer.

À Faculdade de Educação Física e Desporto, por proporcionar neste mestrado aos seus discentes a oportunidade de aumentar o seu conhecimento geral e específico relacionado com o treino desportivo de futebol.

Ao Professor Doutor Jorge Proença, diretor do Curso de Mestrado em Treino Desportivo, que mostrou sempre grande disponibilidade e sabedoria, mas também pela transmissão das mais variadas experiencias que viveu na área do treino desportivo que são muito importantes para quem está no início do seu percurso.

Ao Professor Doutor Jorge Castelo pela orientação deste trabalho, apoio, disponibilidade e ensinamentos transmitidos no decorrer do Mestrado, que me permitiram alargar os meus horizontes neste fenómeno que que é o futebol.

Ao Clube Atlético Riachense pela oportunidade que me deu para realizar o estágio no seu plantel sénior e por ter acreditado em mim mesmo na fase mais complicada da sua história.

A todos os treinadores e colegas de licenciatura e mestrado com quem já tive o privilégio e o prazer de trabalhar e estudar, pela troca de saberes, amizade e companheirismo demonstradas, que têm tornado esta experiência tão enriquecedora e especial.

Aos colegas da equipa técnica que serviu o Clube Atlético Riachense nesta época desportiva, por acreditarem no meu valor, e por diariamente contribuírem para a minha evolução pessoal e profissional.

Um agradecimento a todos os jogadores que tive e que tenho. Foi com eles que pude experienciar muitas coisas. Errar e acertar e, consequentemente, solidificar ideias. Agradeço também as amizades que ficaram e que guardo comigo sempre nesta caminhada.

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Ao Filipe Campos e ao Rúben Silva pelo companheirismo, amizade, partilha, sorrisos mas também dor partilhados desde o início desta caminhada. A vossa amizade é um pilar muito importante neste caminho.

À minha família, com referência especial os meus Pais, os meus irmãos e os meus sobrinhos, pelo carinho, apoio e incentivo e a quem tudo devo.

Aquela pessoa que me conhece como ninguém. Sabe o que preciso e o que penso. Conhece as angústias e convive com a paixão imensa pelo futebol. Pela sua compreensão, presença e apoio constante ao longo de toda esta etapa. Esteve sempre do meu lado, mesmo não estando muitas vezes. Obrigado Mónica.

A todos estes e mais alguns que contribuíram e participaram direta ou indirectamente neste processo… os meus mais sinceros agradecimentos!

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Resumo O presente relatório foi efectuado na equipa do Clube Atlético Riachense (seguidamente descrita pela sigla CAR), ao longo da época desportiva 2014/2015, dentro de um contexto de futebol amador que tinha por competições o Campeonato Nacional de Seniores – Série F e a Taça de Portugal.

O relatório tem como objectivo principal a concretização de uma rigorosa e profunda análise ao processo de treino da equipa, discriminando os métodos de treino utilizados numa relação de proximidade constante com o modelo de jogo adoptado pela equipa, bem como a periodização para a época desportiva em causa e a análise do processo competitivo. Neste sentido para além da apresentação quantitativa dos resultados obtidos, sob a forma de percentagens relativas, existirá também uma preocupação em fundamentar o trabalho realizado, em função dos períodos de trabalho planeados, reflectindo sobre os conteúdos abordados na revisão da literatura efectuada assim com o seu enquadramento no contexto de actuação específico que caracterizou este grupo de trabalho ao longo da época desportiva. Deste modo, pretende-se perceber quais os métodos de treino predominantes, quais os principais factores que contribuem para essa predominância relativa, que elementos inerentes ao funcionamento normal de uma equipa de futebol são mais influentes numa possível alteração circunstancial da metodologia de treino adoptada e de que forma se pode contrariar possíveis problemas, utilizando e explorando as vastas virtudes conceptuais que os métodos de treino nos oferecem. Na análise da dimensão horizontal os Métodos Específicos de Preparação são os métodos com mais percentagem de utilização com 50%, seguido dos Métodos de Preparação Geral com 31% e por último os Métodos Específicos de Preparação Geral com 19%. No que diz respeito à dimensão vertical os Métodos de Preparação Geral são os métodos mais utilizados apresentando uma percentagem de 31%, de seguida temos os exercícios Competitivos com 29% e por fim os exercícios de manutenção da posse de bola com 13%.

Palavras-chave: Futebol, planeamento, métodos de treino, modelo de jogo, planificação conceptual, estratégica e tática

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Abstract This report was made in the team Club Atlético Riachense (hereinafter described by CAR acronym), along the sports season 2014/2015, within a context that amateur football, which had the competitions the National Senior Championship - F and the Portuguese Cup.

The report aims to implement a rigorous and thorough analysis to the team's training process, detailing the training methods used in a constant close relationship with the game model adopted by the team as well as the timeline for the sports season in cause and the analysis of the competitive process. In this sense beyond the quantitative presentation of results as relative percentages, there will also be a concern to support the work done on the basis of planned work periods, reflecting on the content covered in the literature review performed well with your framework in the context of specific policy that characterized the working group along of the season. Thus, we intend to understand what the predominant training methods, which are the main factors contributing to this relative predominance which elements inherent in the normal operation of a football team are more influential in a possible change in the circumstances of the training methodology adopted and how can counteract potential problems, using and exploring the vast conceptual virtues that training methods offer us. In the analysis of the horizontal dimension the preparation of Specific methods are methods with more percentage of use with 50%, followed by General Preparation Methods with 31% and finally the Specific Methods of Preparation General with 19%. With respect to the vertical dimension of General methods of preparation are the methods most commonly used having a proportion of 31%, then we have Competitive exercises with 29% and finally the ball possession exercises of 13%.

Keywords: Football, planning, training methods, game model, conceptual planning, strategic and tactical

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Résumé Ce rapport a été rendu dans l'équipe du Club Atlético Riachense (ci-après décrit par la RCA acronyme), le long de la saison sportive 2014/2015, dans un contexte de football amateur, qui avait les compétitions du Championnat national senior - F et de la série de la Coupe De Portugal. Le rapport vise à mettre en œuvre une analyse rigoureuse et approfondie au processus de formation de l'équipe, détaillant les méthodes de formation utilisées dans une relation étroite et permanente avec le modèle de jeu adoptée par l'équipe ainsi que le calendrier de la saison sportive en cause et l'analyse du processus concurrentiel. En ce sens, au-delà de la présentation quantitative des résultats en pourcentages relatifs, il y aura aussi une préoccupation pour soutenir le travail effectué sur la base des périodes de travail prévues, réfléchir sur le contenu couvert dans la revue de la littérature réalisée bien avec votre cadre dans le contexte d'une politique spécifique qui caractérise le groupe de travail le long de la saison. Ainsi, nous avons l'intention de comprendre ce que les méthodes de formation prédominants, qui sont les principaux facteurs contribuant à cette prédominance relative quels éléments inhérents à l'exploitation normale d'une équipe de football sont plus influente dans un éventuel changement dans les circonstances de la méthodologie de formation adopté et Comment peut contrecarrer les problèmes potentiels, en utilisant et en explorant les vastes vertus conceptuels que les méthodes de formation nous offrent. Dans l'analyse de la dimension horizontale de la préparation des méthodes spécifiques sont des méthodes de plus le pourcentage d'utilisation de 50%, suivie par des méthodes générales de préparation avec 31% et enfin les méthodes spécifiques de préparation générale avec 19%. En ce qui concerne la dimension verticale de méthodes générales de préparation sont les méthodes les plus couramment utilisés ayant une proportion de 31%, alors que nous avons des exercices compétitifs avec 29% et enfin la balle exercices de manutention de 13%.

Mots-clés: Football, la planification, les méthodes de formation, modèle de jeu, la planification conceptuelle, stratégiques et tactiques

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Lista de Abreviaturas e Símbolos GR – Guarda-redes DL – Defesa lateral DE – Defesa esquerdo DD – Defesa direito DC- Defesa central MC – Médio centro MD – Médio defensivo MO – Médio Ofensivo PL - Ponta-de-lança AV – Avançados LE – Lateral esquerdo LD – Lateral direito CAR – Clube Atlético Riachense MPG – Métodos de preparação geral MEPG – Métodos específicos de preparação geral MEP – Métodos específicos de preparação

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Índice Geral Agradecimentos .......................................................................................................................... 3 Resumo ....................................................................................................................................... 5 Abstract ....................................................................................................................................... 6 Résumé ....................................................................................................................................... 7 Lista de Abreviaturas e Símbolos ............................................................................................... 8 Índice de Tabelas ...................................................................................................................... 12 Índice de Figuras ...................................................................................................................... 13 1 - Introdução............................................................................................................................ 15 Capitulo I – Análise do Contexto da Época Desportiva 2014-2015......................................... 19 2 - Caracterização Geral do Clube ............................................................................................ 20 2.1 - Caracterização da Equipa/Jogadores ................................................................................ 21 2.2 - Caracterização da Equipa Técnica ................................................................................... 22 2.3 - Caracterização do Contexto Competitivo ........................................................................ 23 2.4 - Objectivos Competitivos .................................................................................................. 27 2.5 - Caracterização das condições estruturais ......................................................................... 27 Capitulo II – Modelo de Jogo ................................................................................................... 28 3 – Planificação Conceptual ..................................................................................................... 29 3.1 – Modelo de jogo Clube Atlético Riachense: Princípios e rotinas fundamentais .............. 34 3.1.1 - Sistemas de jogo ........................................................................................................ 34 3.1.2 - Organização dinâmica ............................................................................................... 34 3.1.3 - Organização fixa ........................................................................................................ 50 3.2 - Planificação Estratégica ................................................................................................... 54 3.3 - Planificação tática ............................................................................................................ 57 Capitulo III – Modelo de Preparação ....................................................................................... 60 4 – Modelo de treino ................................................................................................................. 61 4.1 - Condicionantes/ Constrangimentos dos exercícios específicos.................................... 66

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5 - Classificação dos métodos de treino para o futebol ............................................................ 83 5.1 - Métodos de preparação geral (MPG) ........................................................................ 86 5.2. Métodos específicos de preparação geral (MEPG) ........................................................ 87 5.2.1. Aperfeiçoamento das ações específicas do jogo (Descontextualizados) ................ 87 5.2.2. Manutenção da posse de bola .................................................................................. 88 5.2.3. Organizados em circuito.......................................................................................... 88 5.2.4. Lúdicos/Recreativos ................................................................................................ 89 5.3. Métodos específicos de preparação (MEP).................................................................... 89 5.3.1 Finalização (Concretização do objetivo do jogo) ..................................................... 90 6.3.2. Potenciação das missões táticas dos jogadores no quadro de organização da equipa (Metaespecializados) ......................................................................................................... 91 6.3.3. Desenvolvimento de padrões ou rotinas de jogo (Padronizados) ........................... 91 6.3.4. Sincronização das ações dos jogadores pertencentes a um mesmo sector, bem como a sua interação com os demais sectores da equipa (Setoriais e intersetoriais) .................. 91 6.3.5. Desenvolvimento de esquemas táticos .................................................................... 92 6.3.6. Competitivos com diferentes escalas de aproximação à realidade ......................... 93 Capitulo IV – Apresentação e discussão dos resultados........................................................... 96 1 - Análise Global – Análise global aos métodos de treino utilizados ao longo da época desportiva ................................................................................................................................. 97 1.1. Dimensão horizontal ...................................................................................................... 97 1.2. Dimensão vertical ........................................................................................................ 100 Resistência Específica ......................................................................................................... 106 2 - Análise Macro – Comparação dos métodos de treino utilizados entre o período pré competitivo e período competitivo ......................................................................................... 118 3 - Análise Micro - Número e Tipo de Microciclos e Sessões de Treino............................... 122 4 - Análise Micro – Definição de um microciclo tipo, representativo dos métodos de treino mais utilizados para cada dia semanal .................................................................................... 123 4.1 - Microciclos representativos dos métodos de treino mais utilizados .......................... 129

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4.1.1 - Microciclo tipo com 2 momentos de competição ................................................ 129 5 - Conclusões ........................................................................................................................ 130 Bibliografia ............................................................................................................................. 135

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Índice de Tabelas Tabela 1 - Caracterização dos jogadores que representaram a equipa do CAR ao longo da época desportiva 2014-2015 ..................................................................................................... 21 Tabela 2 - Plantel da equipa do CAR na época desportiva 2014-2015 .................................... 22 Tabela 3 - Equipas Participantes no Campeonato Nacional de Seniores – Série F .................. 25 Tabela 4 - Classificação da primeira fase do Campeonato Nacional de Seniores – Série F .... 25 Tabela 5 - Calendarização do campeonato nacional de seniores – série F com a definição dos graus de dificuldade de cada jogo (F - Fácil; D – Difícil; MD – Muito difícil) de modo a definir o planeamento semanal. ................................................................................................ 26 Tabela 6 - Calendarização da Taça de Portugal ....................................................................... 26 Tabela 7 - Relações numéricas, espaços de atividade, áreas de atividade e valores médios de espaço de atividade por jogador (Adaptado de Castelo, 2010 cit. por Correia, 2013) ............. 76 Tabela 8 - Taxonomias classificativas de exercícios de treino de futebol (adaptado de Faria, 2010) ......................................................................................................................................... 84 Tabela 9 - Subdivisões dos métodos de treino manutenção posse de bola (Adaptado Castelo, 2009) ......................................................................................................................................... 88 Tabela 10 - Subdivisões dos métodos de treino de finalização (concretização do objetivo do jogo) (adaptado de Castelo, 2009) ............................................................................................ 90 Tabela 11 - Subdivisões dos métodos de treino sectoriais (adaptado de Castelo, 2009) ......... 92 Tabela 12 - Subdivisões dos métodos de treino competitivos (adaptado de Castelo, 2009) .... 93 Tabela 13 - Organização dos métodos de treino e as suas Dimensões (adaptado de Almeida, 2014) ......................................................................................................................................... 95 Tabela 14 - Análise global: Resultados da dimensão horizontal .............................................. 99 Tabela 15 - Análise global: Resultados da dimensão vertical ................................................ 101 Tabela 16 - Comparação geral período pré competitivo com período competitivo ............... 118 Tabela 17 - Resumo dos diferentes exercícios analisados e os momentos mais apropriados para a sua aplicação relativamente aos dias que compõem o microciclo de preparação da equipa. Adaptado de Castelo (2009) ...................................................................................... 127

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Índice de Figuras Figura 1 – Nº de competições oficiais realizadas na época 2014-2015 -------------------------- 24 Figura 2 – Modelo de jogo CAR: Sistema de jogo principal ------------------------------------- 34 Figura 3 – Modelo de jogo CAR: Construção das ações ofensivas ------------------------------ 36 Figura 4 – Modelo de jogo CAR: Construção das ações ofensivas (b) -------------------------- 37 Figura 5 – Modelo de jogo CAR: Construção das ações ofensivas (c) -------------------------- 38 Figura 6 – Modelo de jogo CAR: Criação de situações de finalização (a) ---------------------- 39 Figura 7 – Modelo de jogo CAR: Criação de situações de finalização (b) --------------------- 40 Figura 8 – Modelo de jogo CAR: Criação de situações de finalização (c) ---------------------- 41 Figura 9 – Modelo de jogo CAR: Finalização (a) ------------------------------------------------- 42 Figura 10 – Modelo de jogo CAR: Transição defensiva ------------------------------------------ 44 Figura 11 – Modelo de jogo CAR: Organização defensiva (a) ----------------------------------- 45 Figura 12 – Modelo de jogo CAR: Organização defensiva (b) ----------------------------------- 46 Figura 13 – Modelo de jogo CAR: Organização defensiva (c) ----------------------------------- 46 Figura 14 – Modelo de jogo CAR: Organização defensiva (d) ----------------------------------- 47 Figura 15 – Modelo de jogo CAR: Transição Ofensiva ------------------------------------------- 49 Figura 16 – Modelo de jogo CAR: Cantos ofensivos --------------------------------------------- 50 Figura 17 – Modelo de jogo CAR: Livres laterais ofensivos ------------------------------------- 51 Figura 18 – Modelo de jogo CAR: Cantos defensivos -------------------------------------------- 52 Figura 19 – Modelo de jogo CAR: Livres Laterais Defensivos ---------------------------------- 53 Figura 20 – Modelo de jogo CAR: Sistema de Jogo Alternativo -------------------------------- 54 Figura 21 - Como emerge a coordenação e controlo do acoplamento percepção-ação a partir da interacção dos constrangimentos (tarefa-envolvimento-praticante) (adaptado de Araújo, 2005) --------------------------------------------------------------------------------------------------- 82 Figura 22 - Organograma da taxonomia classificativa de exercícios de treino para o futebol (adaptado Castelo, 2009) ----------------------------------------------------------------------------- 99 Figura 23 – Análise global: Percentagens relativas dimensão horizontal ----------------------- 99 Figura 24 – Análise global: Percentagens relativas dimensão vertical ------------------------- 101 Figura 25 – Análise global: Percentagens relativas subdivisões dos métodos de preparação geral -------------------------------------------------------------------------------------------------- 104 Figura 26 – Análise global: Distribuição das capacidades motoras pelos dias do microciclo semanal ----------------------------------------------------------------------------------------------- 108 Figura 27 – Análise global: percentagens relativas subdivisões dos métodos competitivos - 110

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Figura 28 – Análise global: percentagens relativas subdivisões dos métodos competitivos - 113 Figura 29 – Métodos para manutenção da posse de bola (espaços reduzidos – objetivos táticos) ----------------------------------------------------------------------------------------------- 114 Figura 30 – Análise global: Percentagens relativas das subdivisões dos métodos setoriais- 116 Figura 31 - Métodos de treino setoriais: Exemplo exercício sobre dois ou três setores de jogo ----------------------------------------------------------------------------------------------------------116 Figura 32 – Análise global: Percentagens relativas das subdivisões dos métodos de finalização --------------------------------------------------------------------------------------------------------- 117 Figura 33 - Métodos de treino de finalização: Exemplo - exercício em espaço reduzido com número reduzido de jogadores ---------------------------------------------------------------------- 117 Figura 34 – Comparação entre período pré competitivo e competitivo ------------------------ 119 Figura 35 – Análise macro: Percentagens relativas dimensão horizontal --------------------- 120 Figura 36 – Análise Macro: Percentagens relativas subdivisões métodos específicos de preparação -------------------------------------------------------------------------------------------- 121 Figura 37 – Número de treinos efetuados por microciclo --------------------------------------- 122 Figura 38 – Volume total de dias de treino discriminados pela distância à competição ----- 123 Figura

39



Caraterização

geral

tipologia

microciclo

competitivo

(distribuição

treino/competição/folgas) -------------------------------------------------------------------------- 124 Figura 40 – Caraterização geral tipologia microciclo pré competitivo (distribuição treino/competição/folgas) -------------------------------------------------------------------------- 124 Figura 41 – Percentagens relativas métodos de treino num microciclo tipo (Dimensão vertical) --------------------------------------------------------------------------------------------------------- 125

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1 - Introdução Os jogos desportivos colectivos caracterizam-se, entre outros factores, pela predominância da aciclicidade técnica, por solicitações e efeitos acumulativos, morfológicosfuncionais e motores e por uma intensa participação psíquica (Teodorescu, 2003). O futebol é provavelmente o desporto mais popular do mundo. Apesar da sua natureza universal e a sua história se estender à mais de cem anos, ainda existem muitas incertezas quanto às suas exigências multidimensionais (fisiológicas, psicológicas, biomecânicas) e, portanto, quanto ao planeamento do treino ideal. Na verdade, este jogo é muito complexo, porque o terreno de jogo é substancialmente grande (cerca de 100 x 60 m), a bola é controlada com os pés e com a cabeça e podem haver interacções com os onze companheiros de equipa e entre os onze adversários, quase todos com diferentes papéis no jogo (Aguiar, Botelho, Lago, Maças & Sampaio, 2012). O futebol é um jogo desportivo colectivo, no qual os jogadores estão agrupados numa relação de adversidade – rivalidade desportiva, numa luta incessante pela conquistada posse da bola com o objectivo de a introduzir o maior número de vezes na baliza adversária e evitálos na sua própria baliza, com vista à obtenção da vitória (Castelo, 2009). O mesmo autor, refere que no decurso da sua existência, esta modalidade tem sido ensinada, treinada e investigada, à luz de diferentes perspectivas, as quais deixam perceber concepções diversas a propósito do conteúdo do jogo e das características que o ensino e o treino devem assumir, na procura da eficácia. O desenrolar do jogo de Futebol encerra um conjunto diversificado de situações momentâneas do jogo que por si só, representam uma sucessão de acontecimentos imprevisíveis. Os jogadores perante as situações – problema que lhes sucedem no decorrer do jogo, têm de tomar decisões certas no meio uma grande imprevisibilidade. Perante isto, é necessário que o processo de intervenção (Treino) decorra cada vez mais da reflexão metódica e organizada da análise competitiva do conteúdo do jogo, ajustando-se e adaptando-se a essa realidade. Este contexto orienta irremediavelmente a forma de encarar a prática, não sendo esta reduzida à “simples” alternância entre a carga (esforço) e descanso (regeneração). Daí a necessidade desta assentar numa base teórica – prática formulada e fundamentada a partir da análise do seu conteúdo, pois só assim, podemos intervir eficientemente nessa realidade competitiva. De forma a elaborar uma actividade metodológica – sistemática e diferenciada, e definir igualmente os fundamentos pedagógicos do seu ensino (Castelo, 2009). Além da relação de oposição entre as equipas em confronto, existe uma relação de cooperação entre os

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elementos da mesma equipa, cooperação essa que ocorre num contexto aleatório e volátil que traduz a essência do jogo (Garganta & Pinto, 1994). Apesar do jogo de futebol ter uma aparente simplicidade na sua finalidade, marcar golo e evitar golo, este contém em si uma ampla e complexa variedade de variáveis quer do domínio técnico, táctico, físico, psicológico e social que se condicionam mutuamente, complica-se ainda mais pela variedade de estratégias pré-estabelecidas e através da aplicação de medidas tácticas, consequentes das alterações previstas ou não, que ocorrem durante um jogo (Castelo, 2009). O termo “Treino” na concepção de Weineck (1999) ,é utilizado em diferentes contextos com o significado de “exercício”, cuja finalidade é o aperfeiçoamento em determinada área. O Treino Desportivo é “um processo organizado e conduzido com base, em princípios científicos que visa estimular modificações funcionais e morfológicas no organismo para elevar a capacidade de rendimento do desportista.” (Barbanti, 1997). A preparação física, técnico-táctica, intelectual, psíquica e moral do desportista, através de exercícios físicos, é definida como "Treino Desportivo", que constitui a forma principal da preparação do atleta, mas não os esgota (Matvéiev, 1990). No treino de futebol "parece de toda a conveniência que, os planos de treino sejam traçados de acordo com princípios científicos" (Barbanti, 2001). O treino tem uma natureza planeada e sistemática. O que nos permite considerar importante o estudo do planeamento do treino desportivo (Harre, 1975). O planeamento do treino não é inovação, nem descoberta russa como proclamam alguns entusiastas. Este existe, para preparação dos atletas, desde os Jogos Olímpicos da Antiguidade (Bompa, 2002). O termo planeamento corresponde à arte de empregar a ciência na estruturação de programas de treino (Bompa, 2002). É a acção de prever, através de planos, os possíveis acontecimentos, perspectivando determinados objectivos, sendo utilizado normalmente para descrever antecipadamente (gráfica e mentalmente) o conteúdo, a progressão, as variações e demais condições do treino (Silva, 1998). Do ponto de vista da metodologia do treino, parece ser fundamental planear e organizar racionalmente o processo de preparação desportiva para um atleta/equipa alcançar resultados de elevado nível. Nesta perspectiva, o planeamento do treino é nuclear para o treinador (Bompa, 2002), na medida em que, contribui para um maior controlo do processo e para a rentabilização do tempo, do espaço e das condições materiais (Garganta, 1993). Na planificação devemos ordenar os objectivos e respectivas tarefas para os conseguir. Dentro dos objectivos de Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 16

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rendimento máximo existem os imediatos (a curto prazo) para cumprir e, igualmente, os de longo prazo. O processo de organização e planeamento do treino, contemplado em estreita relação com a performance em competição parece ser um dos procedimentos operacionais da função do treinador, mais determinantes na tentativa de alcançar o sucesso desportivo. De acordo com Proença (1986), ao organizarmos o processo estamos a retirar-lhe o carácter casuístico, substituindo-o por uma sistematização e ordenamento prévio; ao planearmos estamos a definir objetivos, programar a intervenção provável, inventariar e mobilizar os meios necessários e estabelecer formas de regulação ou mecanismos de controlo, dando forma e transmitindo conteúdo à organização. Carraveta (2001) refere que são determinantes em equipas de Futebol de alto rendimento a planificação rigorosa e detalhada das actividades, a aplicação racional dos procedimentos de treino, o controlo e também a análise das realizações e execuções. A ordem e a interacção dos factores de natureza táctica, técnica, física e psicológica determinam o sucesso competitivo das equipas. Rowbottom (2003) afirma que o Plano de Treino é a chave do desempenho atlético óptimo. Um Plano de Treino bem elaborado, visando a evolução metodológica, deve ser flexível e poderá sofrer ajustes ao longo da época desportiva (Caballero & José, 1999) em função das necessidades e imponderáveis que vão surgindo, embora mantendo a sua essência fundamental em busca dos objectivos (Garganta, 1991). A abordagem aleatória e sem objectivo deve ser eliminada e nada deve acontecer por acidente, mas com um propósito (Bompa, 2002). Contudo, o percurso adaptativo que o atleta/equipa seguem, pode ser corrigido caso necessário, para que se alcance os objectivos previstos (Silva, 1998). Conhecer as dificuldades que existem para atingir altos rendimentos desportivos, também nos torna mais preparados e permite uma abordagem de melhor qualidade, diante da complexidade que é a elaboração de um planeamento bem concebido (Barbanti, 1997). Segundo (Garganta, 1991) o acto de previamente descrever e minuciosamente organizar as condições de treino, os objectivos a atingir, os meios e métodos a aplicar, significa planear ou planificar. Deste modo, torna-se possível assegurar o mais elevado rendimento desportivo na competição (João Garganta, 1993). O processo de planeamento possui uma pauta de procedimentos que pode variar em função do nível da equipa/atleta, das características da modalidade, dos objectivos previstos e do perfil de quem o realiza (Silva, 1998). O mesmo autor considera, ainda, que alguns pontos comuns a todas as orientações podem ser formulados: estudo prévio; definição de objectivos; calendário de competições e programação, sendo a última possível de subdivisão em três fases: delimitação das estruturas Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 17

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intermédias (periodização); determinação dos meios de treino; determinação e distribuição das cargas de treino. O treinador deve evidenciar a “competência do tempo” permitindo o seu uso através de uma gestão eficiente. Neste sentido importa portanto escolher e adotar os meios e métodos mais eficazes e mais estimulantes que correspondam às necessidade específicas da equipa e dos seus praticantes dentro do seu contexto de atuação, sabendo-se que são diversos e diversificados os fatores que determinam o sucesso desportivo (Meinberg, 2002). É objetivo deste trabalho reflectir sobre a temática relacionada com a utilização e distribuição dos métodos e meios de treino em futebol ao longo da época desportiva. Para isso, será feita uma análise rigorosa ao processo de planeamento de treino da equipa sénior do Clube Atlético Riachense na época desportiva 2014-2015, recorrendo ao auxilio da taxonomia de classificação de exercícios de treino para o futebol criada por Castelo (2009).

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Capitulo I – Análise do Contexto da Época Desportiva 2014-2015

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2 - Caracterização Geral do Clube

O Clube Atlético Riachense é um clube multidesportivo fundado no dia 1 de Janeiro de 1932, apesar de existirem registos que apontem para que em 1927 já existisse um movimento de alguns jovens que se organizavam para a prática desportiva da modalidade de futebol e que demonstraram desde ai vontade de criar um clube formalmente. Nos primeiros anos de existência o clube passou por algumas dificuldades directivas, estando mesmo num período de hibernação entre 1937 e 1942 devido à falta de interessados em assumir o comando directivo do clube, que tinha o atletismo como principal modalidade na altura devido à inexistência de um campo de futebol, o que obrigava o clube a andar sempre a realizar deslocações para jogar. A 7 de Maio de 1944 foi inaugurado o Campo de Jogos Coronel Mário Cunha do Atlético Club Riachense que só em 1945 mudou o nome para o actual, Clube Atlético Riachense. O Campo de Jogo Coronel Mário Cunha é utilizado pela equipa sénior em treinos e jogos, sendo que as equipas de formação treinam e competem no Parque Desportivo de Casais Castelos cedido em 2008 por um prazo de dez anos pelo Clube Desportivo Cultural e Recreativo de Casais Castelos. A primeira competição da Associação de Futebol de Santarém em que o Atlético participou foi o campeonato distrital de juniores da época de 1948/1949. O primeiro título surge na época de 1980/1981 com a equipa de juniores a ser campeã distrital e a permitir ao clube participar pela terceira vez no campeonato nacional de juniores. Aproveitando o entusiasmo da boa carreira de juniores nas época anteriores, o Atlético forma uma equipa sénior para participar na Segunda Divisão Distrital de Santarém na época de 1958/1959. Na época de 1994/1995 o C.A. Riachense sobe pela primeira vez à Terceira Divisão Nacional. O clube conta com tês conquistas do principal escalão do futebol distrital Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 20

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da Associação de Futebol de Santarém, três Taças do Ribatejo e duas Supertaças Dr. António Alves Vieira, três participações na Terceira Divisão Nacional e duas participações no Campeonato Nacional de Seniores. Na Taça de Portugal o Atlético chegou três vezes à Quarta Eliminatória, sendo eliminados em 1988/1989 pelo Sport Lisboa e Benfica, em 1996/1997 pelo FC Tirsense e em 2014/2015 pelo FC Paços de Ferreira. Ao longo da sua história o Clube Atlético Riachense contou também com uma equipa de Futebol Feminino, Futsal Feminino, Futsal Masculino, Andebol, Atletismo, Ténis de mesa, Hóquei em patins, Ginástica, Ciclismo, Patinagem artística, Pesca desportiva, Lutas amadoras, Judo e Xadrez. Na actualidade o Atlético tem em actividade no Futebol quatro equipas (Benjamins Sub-10, Benjamins Sub-11, Infantis e Juvenis), uma equipa sénior de Futsal masculino e, conta com cerca de 60 atletas na modalidade de atletismo divididos por todos os escalões de formação.

2.1 - Caracterização da Equipa/Jogadores O número de jogadores do plantel do CAR foi variando ao longo da época, sendo que no Campeonato Nacional de Seniores podem existir transferências até ao inicio das fases de manutenção ou subida. Tabela 1 - Caracterização dos jogadores que representaram a equipa do CAR ao longo da época desportiva 2014-2015

Número de jogadores utilizados em 26 jogos oficiais durante a época desportiva Guarda-redes - 4 Defesas - 8 Médios - 9 Nacionalidades: Portuguesa Média Idades – 25,27 Escalões jovens: 4 Proveniência dos jogadores Outros Clubes: 7 Sem clube: 3 CA Riachense: 12

Avançados - 5

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Rui Alexandre Horta Viera - Conceptualização do modelo de jogo Tabela 2 - Plantel da equipa do CAR na época desportiva 2014-2015

Nome Jogador A Jogador B Jogador C Jogador D Jogador E Jogador F Jogador G Jogador H Jogador I Jogador J Jogador L Jogador M Jogador N Jogador O Jogador P Jogador Q Jogador R Jogador S Jogador T Jogador U Jogador V Jogador X Jogador Z Jogador AA Jogador AB Jogador AC

Proveniência Riachense Riachense (Jr) Fazendense Riachense Riachense (Jr) Riachense Riachense Riachense Fontainhas Riachense Riachense Torres Novas Riachense Fazendense U. Leiria (Jr) Riachense Fátima Odivelas Riachense Riachense U. Leiria (Jr) Mação Riachense Sem clube Sem clube Sem clube

Pos. GR GR GR DD DD DE DC DC DC DC MCD MCD MC MC MC MC MO MO PL PL PL PL PL DC MC GR

2.2 - Caracterização da Equipa Técnica A equipa técnica era constituída por quatro treinadores; Um treinador principal, dois treinadores adjuntos (sendo eu um deles) e um treinador responsável pelo treino dos guardaredes. As funções de observação e análise do jogo eram realizadas por mim também. No dia 28 de Novembro assumi as funções de Treinador Principal da equipa um dia após a demissão dos restantes elementos da equipa técnica, ficando durante 7 semanas a equipa técnica constituída por um Treinador Principal (eu) e um treinador de guarda-redes. No dia 12 de Janeiro a equipa técnica passou a ser constituída por um Treinador Principal (eu), dois treinadores adjuntos e um treinador de guarda redes, sendo que as funções de observação e análise do jogo passaram a ser desempenhadas por um dos treinadores adjuntos.

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A dinâmica de funcionamento da operacionalização e reflexão sobre os treinos era feita através da colaboração de todos os elementos do plantel, mas relativamente ao planeamento era realizado na íntegra pelo Treinador Principal. A reflexão sobre a competição era realizada antes do primeiro treino da semana através de uma conversa informal no balneário pertencente aos elementos da equipa técnica. Para além da equipa técnica referida em cima, o plantel dispunha de um departamento logístico composto por duas pessoas cujas responsabilidades eram: organização de todo o tipo de documentos, gerir os meios de transporte e também os locais onde se realizavam as refeições antes dos jogos tal como eram a ligação entre a equipa técnica e a direção do clube. O departamento de equipamentos era composto por uma pessoa que tinha como função a manutenção dos balneários e limpeza e organização dos equipamentos. O departamento médico era composto por dois massagistas, que iam intercalando a sua presença nos treinos e na competição de acordo com a sua disponibilidade.

2.3 - Caracterização do Contexto Competitivo A equipa do CAR disputou na época 2014/2015 duas competições: Campeonato Nacional de Seniores (Série F) e a Taça de Portugal. Foram realizados 22 jogos oficiais, distribuídos pelas duas competições anteriormente referidas. O Campeonato Nacional de Seniores é o 3º escalão do sistema de ligas de futebol de Portugal e entrou em vigor na época de 2013/2014 para substituir as II e III Divisões. Esta competição é disputada por 80 equipas. Participaram na edição inaugural, os três clubes despromovidos da Segunda Liga, 39 clubes que transitaram da II Divisão, clubes que transitaram da III Divisão e 19 clubes promovidos dos Campeonatos Distritais. Este campeonato é dividido em oito séries de dez equipas distribuídas por ordenação latitudinal, à exceção das equipas da Madeira (colocadas alternadamente nas séries mais a Norte) e dos Açores (colocadas alternadamente nas séries mais a Sul). Os clubes são distribuídos numa 1ª fase por oito grupos de dez equipas, disputando duas voltas, em que os dois primeiros classificados de cada série ganham lugar numa 2ª fase para decidir quem ascende à Segunda Liga. Essa 2ª fase tem dois grupos de oito equipas. Os vencedores ascendem diretamente, juntamente com um dos 2 classificados, a apurar numa eliminatória a duas mãos. Os restantes oito de cada série agrupam-se em oito séries de oito equipas cada, também a duas voltas. Os dois últimos de cada série descem aos Campeonatos Distritais. Os

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clubes classificados em sexto lugar realizam uma eliminatória a duas mãos, que decide os restantes quatro clubes despromovidos.

Número de competições oficiais realizados 20

18

15 10

Número de jogo oficiais realizados 4

5 0 CNS - Série F

Taça de Portugal

Figura 1 – Nº de competições oficiais realizadas na época 2014-2015

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Tabela 3 - Equipas Participantes no Campeonato Nacional de Seniores – Série F

Equipas Participantes no Campeonato Nacional de Seniores - Série F Clube Altético Riachense Clube Atlético Ouriense Atlético Clube Alcanenense Caldas Sport Clube Centro Desportivo de Fátima Clube Desportivo de Mafra Eléctrico Futebol Clube União Desportiva de Leiria Sertanense Futebol Clube Sport Clube União Torreense

Tabela 4 - Classificação da primeira fase do Campeonato Nacional de Seniores – Série F

Posição 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Equipa Caldas Mafra U. Leiria Sertanense Eléctrico Torreense Alcanenense Fátima Atl. Riachense Atl. Ouriense

Pontos 36 36 33 31 29 28 23 17 7 5

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Tabela 5 - Calendarização do campeonato nacional de seniores – série F com a definição dos graus de dificuldade de cada jogo (F - Fácil; D – Difícil; MD – Muito difícil) de modo a definir o planeamento semanal.

Adversári o

Local

Tipo

Resultado

Alcançado

Data

Adversári o

Local

Tipo

Resultado

Alcançado

2ª Volta

Data

1ª Volta

24/ago

Mafra

C

MD

D

D

16/nov

Mafra

F

MD

D

D

31/ago

Eléctrico

F

D

D

D

30/nov

Eléctrico

C

D

D

E

14/set

Alcanenense

C

D

V

D

07/dez

Alcanenense

F

MD

E

D

21/set

Sertanense

F

D

D

D

14/dez

Sertanense

C

D

D

E

05/out

Torreense

C

MD

E

D

21/dez

Torreense

F

MD

D

D

12/out

Fátima

F

D

V

E

28/dez

Fátima

C

F

V

D

26/out

Ouriense

C

F

V

E

04/jan

Ouriense

F

F

V

V

02/nov

Caldas

F

MD

E

D

11/jan

Caldas

C

D

E

D

09/nov

U. Leiria

C

D D MD Pontos Esperados 11

18/jan

U. Leiria

F

Pontos alcançados 2

D D MD Pontos Esperados 8 Pontos Alcançados 5

Tabela 6 - Calendarização da Taça de Portugal

Data

Adversário

Local

Resultado

06/set

São João de Ver

C

4-3

28/set

Praiense

C

3-2 (a.p.)

19/out

SB Castelo Branco

C

2-1

23/nov

Paços de Ferreira

F

9-0

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2.4 - Objectivos Competitivos Para a época desportiva de 2014/2015 os objetivos do Clube Atlético Riachense foram definidos como: assegurar a manutenção no Campeonato Nacional de Seniores e, na Taça de Portugal a direção impôs como objetivo chegar à terceira eliminatória, mas a equipa técnica definiu como objetivo para esta competição alcançar a 2ª eliminatória.

2.5 - Caracterização das condições estruturais Como referido na caracterização do clube, o Clube Atlético Riachense dispões de um campo de jogos de relvado natural onde a equipa sénior realiza toda a preparação ao longo da época e também onde disputa os jogos. O Campo Coronel Mário Cunha tem a lotação máxima definida em 6000 pessoas, sendo que não existem cadeiras na bancada. Durante a presente época desportiva foi instalada uma cobertura na bancada central. O fato de o plantel sénior treinar e jogar sempre no mesmo local levou durante a época a alguns constrangimentos relacionados com o espaço disponível para treinar devido ao estado da relva, que por vezes não se encontrava apta para ser utilizada nas sessões de treino. O estádio dispõe de três balneários, um para a equipa da casa que é dividido em três partes: vestiário, zona de duches e jacúzi e gabinete médico; o balneário da equipa visitante que é composto por duas partes: vestiário e zona de duche; e o balneário referente à equipa de arbitragem.

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Capitulo II – Modelo de Jogo

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3 – Planificação Conceptual A planificação conceptual é definida pelo estabelecimento de um conjunto de linhas gerais e especificas que, procuram direcionar e orientar a trajetória da organização da equipa no futuro próximo. Nesta dimensão, a planificação conceptual exprime-se no modelo de jogo da equipa, o qual é consubstanciado: (i) a partir da análise organizacional da equipa no presente, (ii) pela concepção de jogo por parte do treinador, na qual se incluem as tendências evolutivas do próprio jogo e, (iii) pela definição das orientações do trabalho da equipa e, as vias para atingir os efeitos pretendidos. Em ultima análise, a planificação conceptual pressupõe o estabelecimento das concepções mais eficientes do jogo, capazes de valorizar e potenciar os níveis de prontidão dos jogadores. Concluindo, estas concepções derivam das tendências evolutivas do jogo ao nível Mundial, do nível de prestação desportiva dos jogadores que fazem parte da equipa e da capacidade intelectual, da predição e criatividade do treinador (Castelo, 2009). A planificação conceptual, consubstancia-se essencialmente no conhecimento do trajeto e, da forma de organização da equipa que, se pretende implementar num futuro próximo, isto é, como se pretende que esta jogue. Este fato traduz os seguintes quatro aspetos fundamentais: (i) potenciar uma forma específica de expressão tática, (ii) facilitar uma forma específica de interpretação do jogo, (iii) elevar os níveis de responsabilidade dos jogadores e, (iv) melhorar a comunicação entre o treinador e os jogadores (Castelo, 2009). O modelo de jogo pode ser entendido como a acção elaborada e construída intencionalmente de modo a tornar inteligível um fenómeno complexo, isto é, o uso de modelo como meios para ajudarem a perceber a realidade e a descodifica-la (Le Moigne, 1994 cit. por Castelo, 2015a). Com efeito, a forma de compreendermos inteligentemente um sistema complexo é tentar modelá-lo na medida em que nos encontramos na presença de um processo: (i) interactivo, visto que os jogadores que o constituem atuam numa relação de reciprocidade, (ii) global, porque o valor da equipa pode ser maior ou menor do que a soma dos valores individuais dos jogadores que a constituem, (iii) complexo, já que existe uma abundância de relações entre os elementos em jogo, (iv) antecipativo, porque cria a ideia de uma realidade inexistente a partir de uma existente, bem como os pressupostos para a atingir e (v) organizado, porque a sua estrutura e funcionalidade se configuram tendo em conta as relações de cooperação e de oposição, estabelecidas no respeito por princípios e regras em função de finalidades e objetivos (Garganta e Gréhaigne, 1999 cit. por Castelo, 2015a). O

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modelo é definido por uma construção teórica que reproduz todo um sistema de relações consubstanciado pelos elementos constituintes de uma realidade. Partindo desta definição o modelo será sempre uma criação teórica personalizada daquilo que cada um de nós percepciona pela observação e análise do jogo, transformando-o em conhecimento. Os conhecimentos e as experiências adquiridas ao longo do tempo, corporalizadas pela imaginação, criatividade e intuição, originam uma referência ideológica essencial na concepção de modos simplificados e sintetizados da realidade complexa do jogo de futebol (Castelo, 2015a). A importância da criação de um modelo de jogo reside no fato de, ao reunir-se os seus elementos específicos, estabelecemos um triplo objetivo: (i) compreendê-los melhor, quando estes são analisados isoladamente uns dos outros (visão analítica do problema), (ii) estabelecer hipóteses sobre o comportamento de conjunto, isto é, as interdependências dos seus elementos (visão estrutural do problema) e, (iii) tentar prever as suas modificações (reacções) em função da variabilidade das conjecturas que promovem a emergência de novas inter-relações, permitindo avaliar processos e respectivos resultados (visão prospectiva do problema) (Castelo, 2015a). Para todos os efeitos, a partir de um modelo, tenta-se definir e reproduzir todo o conjunto de relações que se estabelecem entre os elementos de uma determinada realidade, ou seja, procura-se criar uma rede de inter-relações entre os elementos de um conjunto, com o objetivo de compreender as diversas relações que são estabelecidas. Contudo, o modelo de jogo é uma criação antecipativa baseada numa interpretação de significados e valores por parte do treinador relativamente à realidade, tenha esta uma elevada ou reduzida semelhança ou exactidão. Esta criação de um futuro estará constantemente a ser visualizada e monitorizada, estabelecendo as coordenadas de onde estamos, onde pretendemos chegar e o mapa que traça o caminho para lá chegar. Numa procura constante de uma melhor qualidade de jogo da equipa, agindo de modo eficaz às condições de variabilidade e incerteza derivadas da luta competitiva. Apesar das linhas mestras, o modelo de jogo sendo um conjectura, está sistematicamente aberto a novas ideias, a novos acrescentos fomentando constantes patamares de desenvolvimento e aperfeiçoamento (Castelo, 2015a). O modelo de jogo parte de uma ideia ou concepção de jogo que se baseia em construções simbólicas, através das quais e, simultaneamente se: (a) define um projecto de acção individual (missões táticas especificas) e coletivas (projecto coletivo de jogo), (b) promove ferramentas operacionais especificas que direcionam os efeitos do processo de treino numa direção e, (c) avalia a interacção treino/competição em função da sua eficácia, através da análise diagnóstica e prognóstica dos jogos efectuados (Castelo, 2015a). O modelo de jogo Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 30

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não pára na contemplação e organização das ideias de jogo, este continua na operacionalização dessa concepção. Logo, quanto maior for o grau de correspondência entre os modelos utilizados e a forma específica de jogar da equipa, melhores e mais eficazes são os seus efeitos (Queiroz, 1986 cit. por Castelo, 2015a). A construção de um modelo de jogo deve suportar-se: (i) nos conhecimentos evoluídos e exequíveis, bem como, da experiência acumulada por parte do treinador, (ii) na análise cultural relativamente ao passado histórico do clube, bem como dos seus recursos humanos e económicos, (iii) no recrutamento e da avaliação do desempenho desportivo dos jogadores, bem como das suas margens de progressão e, por último, (iv) na optimização do processo de treino, escolhendo-se criteriosamente os meios operacionais para a sua efectivação. Logo, uma das competências e perícias técnico/profissionais do treinador é criar modelos criativos e adaptados à realidade que o envolve (Castelo, 2015a). Uma equipa de futebol tem de estar dotada de uma vontade focada numa finalidade específica. Assim, cada jogador necessita de ter uma ideia e uma percepção global de como funciona o conjunto, sendo esta proporcionada pelo treinador. Deste modo o jogador saberá onde se encaixa, que missão tática irá desempenhar no quadro da organização dinâmica da equipa, bem como o seu contributo a favor do colectivo e com quem deverá interactuar de modo preferencial. Todo o comportamento humano baseia-se no facto de ter um propósito na realização das suas decisões/ações na direção de uma finalidade suportada numa consciência de si mesmo (Castelo, 2015a). O modelo de jogo proporciona a cada jogador e à equipa na sua globalidade, a possibilidade de recorrera um código específico de leitura de cada realidade situacional que se desenvolve perante os seus olhos. Este código perceptual identifica e engloba os múltiplos e diversos fatores pertinentes que constituem a realidade competitiva, conjugando-os e relacionando-os uns com os outros. Nesta perspectiva, uma forma específica de interpretação do jogo referencia um sentido e uma partilha de intenções e significados (Castelo, 2015a). O modelo consubstancia-se numa conjuntura de jogo, fundada em regras de decisão e ação através das quais, pontifica o modo particular de jogar de uma equipa, isto é, uma identidade tática própria e comum a todos os jogadores. A intervenção do treinador na construção de um modelo de jogo para a equipa regula e potencia, no mesmo momento, uma forma específica de jogo (Castelo, 2015a). A dimensão estrutural do modelo de jogo é definida pelo enquadramento posicional dos jogadores no terreno de jogo e paralelamente, pelas funções táticas gerais e especificas distribuídas a esses mesmos jogadores. Com efeito, a estrutura de uma equipa exprime-se por Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 31

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um dispositivo tático que determina o arranjo posicional dos jogadores racionalizando o espaço de jogo. Ajudando-os a compreenderem e a operacionalizarem as suas funções táticas, bem como as suas responsabilidades no plano individual e coletivo. Partindo de um conceito de interdependência comportamental agindo como membros solidários dentro de uma equipa. Esta solidariedade e interdependência comportamental significa que todos os jogadores se ajustam de forma a constituírem um todo (equipa), com um sentido e identidade própria (estabelecido pelo modelo de jogo). Quando se verifica a alteração de um dos seus elementos, observa-se inevitavelmente um reajustamento dinâmico de todos os outros (Castelo, 2015a). A dimensão funcional do modelo de jogo é representada pela coordenação (sincronização) comportamental dos jogadores e pelo ritmo de execução das suas ações tático/técnicas. Racionalizando-as e sequenciando-as através do estudo e do treino enquadrados num dispositivo estrutural de base, denominado sistema de jogo. Todo o trabalho coletivo desenvolvido pela equipa deve obedecer a uma lógica, a qual estabelece o modo e o grau de colaboração (cooperação) e coordenação entre as diferentes missões táticas atribuídas a cada jogador. Com efeito, a articulação das tarefas individuais dentro de um grupo sectorial restrito e a articulação dos diferentes setores da equipa visam possibilitar, em função do modelo de jogo, dos objetivos estratégicos de jogo e dos contextos situacionais momentâneos, desde que os jogadores possam assumir comportamentos de segurança, de equilíbrio entre risco e a segurança ou de risco (Castelo, 2015a). A dimensão relacional do modelo de jogo é definida pela criação de uma linguagem comum no seio da equipa, a qual é suportada pela implementação de um conjunto de linhas orientadoras do pensamento tático dos jogadores (também denominadas de regras de decisão) as quais, visam a resolução operativa, isto é, tático/técnica dos diferentes contextos situacionais que o jogo exige. O princípio do jogo marca o sentido tático fundamental da ação dos jogadores perante a situação de jogo, atendendo à estrutura e funcionalidade da equipa. Em função do conceito formulado, evidenciam-se duas questões recorrentes e fulcrais: (i) a primeira refere-se à importância do estabelecimento de uma linguagem comum seio da organização dinâmica da equipa, de modo que todos os seus elementos utilizem o mesmo “dialecto” podendo, no entanto, exprimirem-se num estilo diferente e (ii) a segunda (decorrente da primeira) exprime a essencialidade de se construírem regras racionais de decisão (heurísticas), que suportam o pensamento tático dos jogadores na resolução das diferentes situações de jogo. Estas regras são consideradas como referências, nas quais se apoiam as ligações comuns de todos os espíritos, da compreensão e da eficácia das ações

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tático/técnicas, sendo potencializadas pela criatividade e improvisação que determinam em ultima análise, a elevação do nível de jogo da equipa (Castelo, 2015a). O modelo de jogo deve ser sempre perspectivado como uma viagem e nunca uma paragem. Assim, se por qualquer razão uma determinada equipa pensa ter atingido o seu modelo de jogo, então poderemos dizer que esta está irremediavelmente ultrapassada. No futebol, como em muitas situações da vida quotidiana, querer ser do seu tempo é, estar desactualizado perante os factos da realidade presente (Castelo,2015a)

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3.1 – Modelo de jogo Clube Atlético Riachense: Princípios e rotinas fundamentais 3.1.1 - Sistemas de jogo Sistema de jogo principal: 1-4-4-2 Sistema de jogo alternativo: 1-5-3-2

Figura 2 – Modelo de jogo CAR: Sistema de jogo principal

3.1.2 - Organização dinâmica Organização ofensiva Princípios gerais: - Procurar situações de ataque rápido ou contra ataque. Explorar a desorganização da linha defensiva após a recuperação da posse de bola. Explorar as costas da linha defensiva através de passes longos. - Em ataque organizado dar preferência ao futebol em largura. - Movimento de apoio e de ruptura dos avançados. Um dos avançados deve realizar um movimento de aproximação ao portador da bola e o outro um movimento de ruptura para os corredores laterais. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 34

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- Losango como referência para os posicionamentos ofensivos dos médios na sua relação com os avançados. Os jogadores devem sair das suas linhas normais de funcionamento, mas mantendo os mesmos vértices do losango em que o “6” corresponde ao vértice mais recuado, o “7” e o “8” aos vértices da segunda linha e o “10” ao vértice mais avançado. Caso o “7” realize um movimento exterior para o corredor lateral, o “8” deve realizar um movimento interior na direcção do “7”, e o “6” e o “10” devem ajustar os posicionamentos mantendo a estrutura do losango. O “6” não deve ultrapassar a linha do “7” e do “8” mantendo sempre um posicionamento recuado na estrutura do losango.

Construção das acções ofensivas

- 1ª Fase construção: 2 defesas centrais abertos pelas linhas laterais da grande área, defesas laterais profundos (muito perto da linha média da equipa), um médio (“6”) entre os defesas centrais para construção, os outros 3 médios a ocuparem o espaço central (“10” recua formando uma linha de três com o “7” e o “8”), na procura de linhas de passe. Os 2 avançados, procuram dar o máximo de profundidade possível junto da linha defensiva do adversário e, posteriormente realizam movimentos alternados de apoio e de ruptura (corredor lateral) procurando aproveitar o espaço nas costas dos defesas laterais contrários.

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Figura 3 – Modelo de jogo CAR: Construção das ações ofensivas

- Circulação segura da bola procurando jogo exterior numa 1ª fase, procurando movimentações sem bola que libertem espaço nos corredores laterais da defesa adversária; - Quando a bola entra no corredor lateral (Defesa lateral) este deve receber orientado para a baliza adversária, e realizam movimentos os dois avançados da equipa e o “10” procurando o espaço nas costas da defesa para a realização de um passe longo do defesa lateral adversário;

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Figura 4 – Modelo de jogo CAR: Construção das ações ofensivas (b)

-Trocas de posição entre o PL do lado da bola e “10”: movimento de apoio do avançado na procura de recepção da bola em zona difícil de controlar e movimento de ruptura do “10” no espaço deixado livre ou apoio para combinação com movimento em profundidade do defesa lateral;

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Figura 5 – Modelo de jogo CAR: Construção das ações ofensivas (c)

- Em caso de existir espaço de progressão para o Defesa Lateral, este deve procurar avançar no terreno pelo corredor lateral.

Criação de situações de finalização Princípios gerais: - Procurar vantagens numéricas, espaciais e temporais que permitam à equipa penetrar em condições vantajosas na zona defensiva do adversário; - Aumento da velocidade e mobilidade ofensiva no momento de criação do desequilíbrio e maior liberdade para situações de 1x1; - A maior mobilidade ofensiva deve procurar destabilizar a organização contrária. O atleta poderá criar espaços que podem ser utilizados por ele próprio (habilidade individual) ou criar espaços para os seus colegas de equipa utilizarem aproveitando os aclaramentos gerados; - Relações predominantes: (1) PL – PL realiza uma desmarcação de apoio para receber e jogar entre linhas e aclarar espaço exterior para entrada de DL, com o médio centro do lado onde se encontra a bola como apoio frontal ao PL e é este que decide se existem condições para passar no corredor lateral para o movimento do defesa lateral que recebe em largura para explorar Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 38

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situações de 1x1; (2) Em caso de não existir uma desmarcação de apoio do PL, o DL deve temporizar através de uma condução de bola ou protecção da mesma, esperando a sobreposição do MC para o corredor lateral que recebe em largura para explorar situações de 1x1; (3) Movimento do PL no corredor lateral para receber passe longo em largura do DL com desmarcação de apoio do MC do lado onde se encontra a bola.

Figura 6 – Modelo de jogo CAR: Criação de situações de finalização (a)

- Esta fase do processo ofensivo desenrola-se preferencialmente pelos corredores laterais. Sempre que o DL tem espaço para progredir deve faze-lo sendo que o PL do lado onde se encontra a bola deve realizar uma desmarcação de apoio para poder receber a bola quando a equipa adversária pressionar o DL. Após o PL receber a bola um dos MC deve realizar uma desmarcação de apoio e após receber a bola deve fazer um passe longo para as costas da defesa no corredor lateral para a subida do DL.

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Figura 7 – Modelo de jogo CAR: Criação de situações de finalização (b)

- Caso o PL não realize uma desmarcação de apoio, o DL deve temporizar a jogada conduzindo a bola ou protegendo a mesma do adversário e é o MC do lado da bola que é responsável por realizar uma sobreposição ao DL para o corredor lateral e receber a bola no espaço.

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Figura 8 – Modelo de jogo CAR: Criação de situações de finalização (c)

- A terceira opção é realizada através de uma desmarcação do PL para o corredor lateral, para as costas do DL adversário e o DL através de um passe longo tenta colocar a bola no espaço para o PL; - A equipa evolui no terreno de forma compacta e apoiada; os DCs e MD têm um papel importante nas acções de variação do centro de jogo através preferencialmente de passes curtos e médios (frontais quando possível).

Finalização Princípios gerais: -Procurar vantagens numéricas, espaciais e temporais que permitam à equipa penetrar em condições vantajosas na zona defensiva do adversário; - Aumento da velocidade e mobilidade ofensiva no momento de criação do desequilíbrio e maior liberdade para situações de 1x1; - Explorar a qualidade, criatividade e velocidade dos jogadores, potenciando a sua capacidade, quer em acções individuais (1x1 interior para remate ou 1x1 Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 41

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exterior para cruzamento) quer em combinações a 2 ou 3 jogadores (triângulo DL-MC/MO-PL); - Procurar cruzamentos para a grande área, alternando entre bolas aéreas procurando os PL ou então através de cruzamento rasteiro efectuado perto da linha de fundo para a entrada da grande área; - Ocupação racional dos espaços de finalização de modo a cobrir os três espaços de baliza (1º poste, 2º poste e zona central da baliza). Esta ocupação deve ser realizada em linhas diferentes, de modo a que o cruzamento tenha sempre um destino possível. Os PL devem realizar um movimento em cruz, sendo que o PL do lado da bola deve fazer um movimento para o segundo poste e o PL do lado contrário à bola deve realizar um movimento para o primeiro poste. O MO ou um MC no caso de o MO estar no corredor lateral deve ocupar a zona da grande penalidade. Não existe muita liberdade para os jogadores permutarem de posições.

Figura 9 – Modelo de jogo CAR: Finalização (a)

A segunda vaga do ataque que suporta a primeira linha, é constituída pelos dois médios que devem aproximar-se da grande área, permitindo soluções para variar o centro de jogo, soluções para um cruzamento rasteiro e procurar ganhar a 2ª bola. Os DC e o MD não participam nesta acção sendo que o DL do lado contrário à bola deve progredir de modo a ser opção em caso de variação do centro de jogo. O DL do lado da bola relaciona-se com o PL e MC/MO na procura de desequilíbrios na estrutura adversária; Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 42

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- O GR, DCs e MD devem procurar encurtar os espaços entre os sectores, compactando a equipa na sua fase ofensiva.

Transição defensiva

Princípios gerais: - A equipa deve ter a capacidade de interpretar, compreender e de tomar a decisão em função de cada situação no menor espaço temporal possível; - É necessária uma rápida mudança de comportamentos e de mentalidade; - Os DCs e o MD devem estar em todos os momentos do jogo bem posicionados. Os dois DCs e o MD ocupam uma posição no meio campo ou mais à frente em caso de não haver jogadores adversários; - Deve existir uma reacção rápida sobre o portador da bola e as linhas de passe próximas, principalmente as que possam possibilitar uma progressão no terreno de jogo. Esta reacção deve ser feita pelos jogadores mais próximos da bola de modo a poder recuperar a mesma rapidamente, provocar um erro no adversário ou obrigar o adversário a jogar para uma linha mais recuada evitando a progressão; - Os DLs devem procurar recuar rapidamente para as suas posições tal como o MC mais longe do centro de jogo deve realizar um movimento diagonal interior fechando o corredor central reduzindo a profundidade do seu posicionamento; - Caso a equipa adversária consiga sair da pressão ou a nossa equipa cometa um erro, em igualdade ou inferioridade numérica e não havendo possibilidade de recuperação da posse de bola ou pressão ao portador, a equipa deve tentar temporizar para que se proceda uma reorganização da organização defensiva (recorrer a uma falta com interrupção de jogo caso necessário).

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Figura 10 – Modelo de jogo CAR: Transição defensiva

Organização defensiva Uma ideia de base do nosso modelo, respeitante ao processo defensivo, prende-se no facto de a equipa dar a iniciativa do jogo ao adversário, recuando as suas linhas e jogando com um bloco baixo, de modo a obrigar o adversário a subir no terreno e criar espaço nas costas da sua linha defensiva Princípios gerais: - Estrategicamente e de uma forma geral, defendemos sempre no sentido de conduzir os jogadores da equipa adversária a subir no terreno e conceder-nos espaço para tirar vantagem nas transições defesa-ataque.

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Figura 11 – Modelo de jogo CAR: Organização defensiva (a)

- Toda a equipa deve recuar as suas linhas sendo que a primeira linha de pressão é realizada pelos dois PLs na zona do meio campo, usando a linha do meio campo como referência par ao início da pressão (em todo o meio campo defensivo é realizada uma pressão agressiva ao portador da bola). O PL mais próximo da bola realiza uma pressão no sentido de recuperar a bola e o outro PL faz uma cobertura defensiva ao mesmo. Quando um PL se desloca ao corredor lateral para pressionar o portador da bola, o outro deve fechar o corredor central e, caso a defesa contrária varie o centro de jogo, estes devem trocar de funções, saindo na pressão o PL que estava a fechar o corredor central e o PL que estava a pressionar passa a fechar o corredor central.

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Figura 12 – Modelo de jogo CAR: Organização defensiva (b)

- O quarteto do meio campo deve procurar fechar o corredor central em coberturas constantes. O MO deve realizar uma cobertura defensiva interior ao PL que realiza a pressão sobre o portador da bola, o MC do lado da bola deve procurar fechar o corredor lateral e o MC do lado contrário à bola deve realizar uma cobertura ao MO, quanto ao MD este deve procurar manter um posicionamento mais fixo no corredor central à frente da linha defensiva.

Figura 13 – Modelo de jogo CAR: Organização defensiva (c)

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- A defesa deve assumir uma única linha que bascula conforme o centro de jogo, aproximando de um corredor lateral e abrindo o corredor lateral oposto, seja qual for o corredor lateral onde se encontra a bola e, em caso de a o centro de jogo se encontrar no corredor central a linha defensiva fecha o corredor central com os quatro defesas bem próximos, reduzindo o espaço intra-sectorial. - É o DC do lado da bola o responsável por realizar a cobertura defensiva ao DL do seu lado, sendo que o MD deve ocupar o espaço deixado pelo DC quando este realizar o movimento de cobertura do DL no corredor lateral;

Figura 14 – Modelo de jogo CAR: Organização defensiva (d)

- Criação e manutenção de triângulos defensivos como uma referência que deve orientar os ajustes posicionais defensivos, assegurando constantemente as coberturas defensivas; - O método defensivo escolhido é a zona. Cada jogador deve constantemente realizar boas coberturas defensivas e equilíbrios, marcar o espaço e não o adversário e assumir uma constante responsabilidade de manter um bom posicionamento individual. As referências zonais utilizadas são a bola, o colega, o espaço de jogo e o adversário. - Em processo defensivo e com o bloco baixo, a equipa procura recuperar a bola no meio campo defensivo sem definição de uma micro zona, considerando todo o meio campo defensivo como a zona onde a equipa deve ter uma atitude mais pressionante sobre o portador da bola. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 47

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- Só deverá ser realizada uma subida do bloco defensivo no terreno de jogo quando acontecer um dos estímulos identificados pelo grupo (passe aéreo para um defesa ou um adversário a receber a bola de costas para o jogo). A equipa deve retirar quase toda a profundidade do jogo quando a bola se encontra sem pressão para evitar a utilização da equipa adversária dos espaços nas costas da linha defensiva. - Por norma apenas o número “6” defende dentro da grande área quando ocupa a posição do DC que saiu em cobertura num dos corredores laterais. Os outros três médios defendem fora da grande área, sendo responsáveis pela segunda bola e por também procurar as transições ofensivas. Os médios só devem entrar na grande área quando é necessário um acompanhamento de um adversário da sua zona que realiza uma desmarcação de ruptura, sendo que neste momento a marcação passa a ser individual e o jogador deve acompanhar o movimento do adversário até ao fim. Nestes momentos os outros dois médios efectuam os ajustes necessários para manter o equilíbrio. A resposta colectiva e individual a outros movimentos dos adversários que não de ruptura deverá ser de manutenção posicional, acompanhando os adversários na sua zona de acção até ele entrar na zona de acção de outro colega; - Quando o guarda-redes adversário tem a posse de bola, a equipa deve aproveitar esse momento para recuar no terreno e organizar-se no seu meio campo defensivo. Caso o GR se preparar para construir de forma longa, a equipa deve retirar profundidade e compactar as suas linhas em largura e profundidade de modo a poder de forma agressiva e competitiva poder disputar a primeira e a segunda bola; - Se a posse de bola estiver nos DCs a equipa deverá manter o bloco baixo, fechando o corredor central, orientando o jogo para os corredores laterais. Quando a bola se encontra num DL a equipa deve procurar evitar a sua progressão, obrigando a equipa a variar o centro de jogo ou a realizar um passe longo. Quando a bola sai da pressão (bola aberta) e o DL se prepara para realizar um passe longo a equipa deve retirar profundidade e compactar as suas linhas em largura e profundidade de modo a poder de forma agressiva e competitiva poder disputar a primeira e a segunda bola. Os médios são responsáveis por evitar o jogo entre linhas da equipa adversária.

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Transição ofensiva Princípios gerais: - Explorar sempre a oportunidade de atacar uma possível desorganização defensiva momentânea da equipa adversária através de situações de ataque rápido ou contra-ataque; Para isso será necessária uma rápida mudança de atitude e mentalidade da fase defensiva para a ofensiva; - O aspecto mais importante deste momento do jogo, é a diminuição do tempo de transição. Ao recuperar a bola o atleta deve tomar a decisão entre realizar um ataque rápido ou ataque posicional, sendo que a prioridade será sempre procurar uma situação de ataque rápido ou contra ataque. Após a recuperação da bola o jogador deve decidir rápido em ir para a frente. - As referências para realizar a transição rápida são os dois PLs. - No momento em que a equipa recupera a bola o avançado do corredor onde a bola foi recuperada deve procurar uma desmarcação de ruptura para o corredor lateral para que a bola seja passada através de um passe longo para as costas da defesa contrária. Se a bola for recebida de costas através de um passe rasteiro, o PL deve procurar temporizar esperando uma desmarcação de ruptura de um colega no corredor lateral.

Figura 15 – Modelo de jogo CAR: Transição Ofensiva

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- Não foram definidos mais movimentos ofensivos para reagir à recuperação da bola, sendo que a preocupação dos jogadores deve ser a de colocar a bola no corredor lateral na zona nas costas da defesa contrária, sem diferenciar a recuperação de bola por pressão ou por intercepção. - Em caso de defesa, o GR deve procurar rapidamente realizar um passe longo procurando o espaço nas costas da defesa contrária.

3.1.3 - Organização fixa A equipa não tem movimento pré-definidos nos esquemas tácticos ofensivos e assume um comportamento de marcação homem a homem nos esquemas tácticos defensivos. Esquemas tácticos: Cantos ofensivos Sem posicionamentos básicos pré-estabelecidos nos cantos ofensivos: 4 jogadores na área, 2 a bater, 2 fora da área e 2 atrás. Os dois jogadores decidem se realizam um canto curto ou canto directo para a grande área. Em caso de canto curto os jogadores devem procurar uma sobreposição antes de efectuar o cruzamento.

Figura 16 – Modelo de jogo CAR: Cantos ofensivos

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Esquemas tácticos: Livres laterais ofensivos Sem posicionamentos básicos pré-estabelecidos nos livres laterais ofensivos: 4/5 jogadores na área, 1 a bater com apoio do DL para combinação, 1 fora da área e 2/3 atrás. A equipa deve procurar efectuar sempre cruzamento utilizando o DL apenas para retirar um defesa da grande área.

Figura 17 – Modelo de jogo CAR: Livres laterais ofensivos

Esquemas tácticos: Cantos defensivos Sem posicionamentos básicos pré-estabelecidos nos cantos defensivos pois a marcação é realizada homem a homem, apenas um homem defende à zona (primeiro poste): 7 homens na grande área e 2 à entrada da grande área. Um jogador fica na linha do meio campo de modo a servir como referência para uma transição ofensiva. Em caso de canto curto do adversário, um dos homens que está à entrada da grande área é o responsável por realizar a pressão ao portador da bola.

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Figura 18 – Modelo de jogo CAR: Cantos defensivos

Esquemas tácticos: Livres laterais defensivos Sem posicionamentos básicos pré-estabelecidos nos livres laterais defensivos pois a marcação é realizada homem a homem. Os jogadores devem procurar montar uma linha defensiva utilizando a linha da grande área como referência e em caso de a barreira estar recuada em relação à linha da grande área, a linha defensiva deve recuar até à linha da barreira. A barreira é formada por 2 jogadores e todos os restantes elementos realizam marcação individual aos jogadores adversários. A equipa não deixa nenhuma referência ofensiva para a transição ofensiva.

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Figura 19 – Modelo de jogo CAR: Livres Laterais Defensivos

Sistema de Jogo Alternativo Em contextos esporádicos, dependendo da análise do binómio situacional – (resultado momentâneo do jogo/ tempo disponível para jogar), ou dependendo do tipo de adversário (primeiros classificados) a equipa numa tentativa de proporcionar uma maior segurança defensiva, optou por uma vertente táctico-estratégica que assumia uma postura comportamental de maior segurança. A mudança para um sistema de jogo de GR + 3 defesas + 5 médios + 2 avançados, tinha como principal objectivo dotar a equipa de uma maior capacidade defensiva retirando profundidade.

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Figura 20 – Modelo de jogo CAR: Sistema de Jogo Alternativo

3.2 - Planificação Estratégica A planificação estratégica é consubstanciada pela elaboração de planos plausíveis de intervenção que, se traduzem em modificações pontuais e temporárias da expressão tática de base da equipa, isto é, da sua funcionalidade geral. Estas alterações são realizadas em função dos conhecimentos e do estudo das condições objetivas, sobre as quais, se realizará a futura confrontação desportiva. Toda a planificação estratégica pressupõe um conjunto de operações lógicas integradas que, permitem dar à organização dinâmica do jogo, as melhores condições, para atingir os objetivos competitivos (Castelo, 2009). A natureza da planificação estratégica radica-se nos seguintes fatos na: (i) conceptualização de cenários de jogo e, (ii) criação de condições favoráveis à resolução das situações de jogo (Castelo, 2009).

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Conceptualizar cenários de jogo

A natureza da planificação estratégica, passa pela análise de hipóteses alternativas acerca de cenários que, poderão suceder durante a competição. Desta forma, é possível preparar a equipa para intervir adequadamente a cada um desses cenários. Todavia importa reforçar que, temos de aceitar a incerteza e a aleatoriedade, tentar compreende-las e integralas no raciocínio que formula uma estratégia. Assim, todo o treinador deve preparar todo o treinador deve preparar a sua equipa para a competição estabelecendo cenários possíveis de acontecerem. Um exemplo bem ilustrativo do que foi referido, deriva da composição do banco de suplentes, para a qual se estabelece uma composição básica constituída por um guarda-redes, um defesa, um médio e um avançado, com o intuito de cobrir todas as necessidades fundamentais da equipa. Os restantes elementos são escolhidos em função das opções táticas determinadas pelo plano de jogo, que pode ter um caráter eminentemente ofensivo ou defensivo, isto é, no caso do resultado momentâneo do jogo for negativo quando se esperava positivo, ser positivo e ter-se de suportar o ímpeto da equipa adversária, ser positivo mas tem-se de marcar mais golos e outros (Castelo, 2009).

Criar condições favoráveis à resolução das situações de jogo

Quando os jogadores são alertados para as condições objectivas da futura competição e, especialmente, para as particularidades deste ou daquele adversário, a sua perceção e análise da situação encontra-se favoravelmente influenciada, facilitando e acelerando a uma intervenção adequada. No entanto há que ter presente, a possibilidade de variação sistemática de resolução tático/técnica das situações de jogo realizada pela equipa adversária. Estas variações reduzem consideravelmente a coerência dos acontecimentos devido, logicamente, ao aumento do número de elementos possíveis de serem manipulados pelos seus jogadores. Logo, quanto maior for a variabilidade de resolução tático/técnica por parte da equipa adversária, mais difíceis e complexas serão os mecanismos de deteção e identificação reveladores dos índices pertinentes da situação (Castelo, 2009).

O treinador deve ter atenção a três aspetos na conceptualização de uma planificação estratégica: (i) conhecimento da equipa adversária, (ii) terreno de jogo e , (iii) circunstâncias em que a competição irá desenrolar.

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Ter um conhecimento correto das potencialidades (pontos fortes), tentando minimizálos e das vulnerabilidades (pontos fracos) para tirar partido destes. No fundo, o que se pretende com a observação/análise da equipa adversária, é identificar e simplificar a sua organização de jogo. Desmontando o seu modelo de jogo, eliminando os aspetos de ordem casuística e, analisando os fatores que derivam claramente de uma ordem organizacional que, estabelece as bases fundamentais do jogo dessa equipa. Neste domínio, o conhecimento relativo à equipa adversária incidirá essencialmente entre outros aspetos: (i) à colocação de base dos jogadores no terreno de jogo, (ii) às normas gerais de organização tanto do ataque como da defesa, (iii) às diferentes ações tático/técnicas individuais e coletivas, e a sua utilização durante o jogo, (iv) à “filosofia” de jogo da equipa, (v) aos coordenadores de jogo, (vi) às soluções das situações de bola parada, (vii) às atitudes e comportamentos sóciopsicológicos dos jogadores e da equipa no seu conjunto em situações de adversidade e, (viii) ao tipo de relação com o árbitro e os árbitros assistentes (Castelo, 2009). No que se refere há análise do terreno de jogo, importa atender aos seguintes aspetos: (i) jogar em casa ou fora, (ii) às dimensões do campo, em termos de largura e profundidade, (iii) às suas condições: relvado, pelado, seco, molhado, encharcado, etc., (iv) às condições climatéricas especificas (posição do sol e vento por exemplo), (v) à luz artificial caso, o jogo se dispute à noite e (vi) ao tipo de bolas normalmente utilizadas pelo adversário (Castelo, 2009). Importa analisar as circunstâncias da competição, compilando os seguintes aspetos: (i) à classificação das duas equipas em confronto, (ii) à necessidade de ganhar o jogo, (iii) às entrevistas (diretores, treinadores, jogadores, etc.), (iv) às condições climatéricas (chuva, vento, calor), (v) ao árbitro – critérios subjacentes ao seu trabalho, (vi) ao público - apoiantes ou não e, (vii) ao nível de rivalidade entre as equipas (Castelo, 2009). A planificação estratégica pode ser dividida pelas seguintes oito etapas: (1) a recolha de dados), (2) a comparação das equipas, (3) elaboração do plano estratégico/tático, (4) a reunião de reconhecimento da equipa adversária, (5) a elaboração do programa de preparação para o ciclo de treino, (6) a experimentação do plano estratégico/tático, (7) a preparação da equipa nas horas que antecedem o jogo e, (8) a reunião de análise do jogo (Castelo, 2009).

Em relação à planificação estratégica da nossa equipa, é possível apontar algumas divergências com o modelo proposto em cima. A recolha de dados foi realizada por um treinador adjunto, no caso era eu. Foi feita uma observação/análise de cada adversário e através dessa mesma observação foi realizado um relatório sobre a equipa adversária e Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 56

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entregue ao treinador principal no dia da primeira sessão de treino (terça-feira), sempre antes da mesma se realizar. Apesar de existir um relatório da equipa adversária, por opção da equipa técnica este era usado apenas na construção da palestra que antecedia a competição. O programa de preparação para o ciclo de treino era definido pelo treinador principal e não sofria alterações de acordo com os aspetos salientados no relatório. Em relação à preparação da equipa nas horas que antecedem o jogo, a concentração da equipa era marcada para os jogos em casa uma hora e quarenta e cinco minutos antes da competição e para os jogos fora, procurava-se marcar uma hora que permitisse estar no local do jogo uma hora e quarenta e cinco minutos antes da competição também. A reunião de preparação para o jogo era realizada no balneário, começando com uma palestra dirigida pelo treinador principal. Nesta intervenção o treinador procurava salientar a importância do jogo, definir a estratégia para este jogo, expor as informações sobre o adversário e por fim motivar a equipa para o jogo. O aquecimento era realizado pelos treinadores adjuntos sendo que os guarda-redes aqueciam sem a presença de um treinador adjunto por opção da equipa técnica. As últimas palavras antes do jogo eram dadas no balneário, onde o grupo se unia num circulo com as mãos dadas e o treinador principal procurava transmitir palavras de incentivo, passando depois a palavra ao capitão de equipa que dirigia ao grupo uma última mensagem. Não era realizado nenhum programa de regresso à calma no final do jogo.

3.3 - Planificação tática As equipas em confronto direto, formam duas entidades coletivas que, congeminam, planificam e coordenam as suas ações para agir uma contra a outra, cujos comportamentos são influenciados pelas relações antagónicas de ataque/defesa. Para isso, cooperam entre si em condições de oposição, visando a desorganização da cooperação da equipa adversária. O jogo desenvolve-se através de situações, cuja natureza é de carácter problemática e contextual, em que o desempenho dos jogadores, está estritamente relacionado com a capacidade destes: (i) responderem de forma eficaz às constantes modificações resultantes da regularidade e da aleatoriedade situacional que, se desenvolvem à sua volta e, em se, (ii) organizarem, com vista a atingirem os objetivos, que de outra forma seriam impossíveis. Uma eficiente organização, tem um potencial de realização infinitamente maior, do que teria um jogador agindo, de forma isolada. Para a sua eficaz concretização, utilizam-se duas dimensões: uma de carácter estratégico e, outra de carácter tático, as quais, são dirigidas para o mesmo fim: a vitória Castelo (2009).

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A planificação tática é definida pela prática, isto é, pelo carácter aplicativo e operativo da planificação conceptual e da planificação estratégica, procurando utilizar de forma racional e oportuna durante o jogo, as qualidades físicas, tático/técnicas e psicológicas, individuais e coletivas, dos jogadores que constituem a equipa. Selecionando-os, organizando-os e coordenando-os unitariamente com vista à concretização dos objetivos pré-estabelecidos Castelo (2009). Cabe ao treinador analisar os diferentes aspetos, os quais se desenvolvem durante a luta competitiva e, encontrar as soluções mais eficientes ou aquelas que, ele pensa serem as mais eficientes para a concretização dos objetivos pré-determinados pela equipa (Castelo, 2009). A sistematização e caracterização das diferentes etapas que constituem a planificação tática, são tarefas de grande complexidade devidas, em parte, à sua casualidade, imprevibilidade e aleatoriedade. Por outras palavras, o contexto da realidade competitiva evolui numa dinâmica de diversidade, promovendo diferentes problemas que determinam diferentes intervenções para a sua resolução. Todavia, mesmo a dificuldade de sistematizar de forma pormenorizada estes condicionalismos, podemos estabelecer três etapas fundamentais dentro da planificação tática que, derivam do desenvolvimento objetivo da partida: (1) a direção do jogo da equipa durante a competição, (2) a direção da equipa durante o intervalo do jogo e, (3) as ações a ter em conta, logo após o termo do jogo.

Em relação à nossa equipa podemos identificar alguns comportamentos do treinador relativos a estas três etapas. Na etapa de direção da equipa durante a competição, o treinador procurava observar os erros da nossa equipa de modo a poder corrigi-los de imediato e procurava observar alterações momentâneas ou fixas na estrutura da equipa adversária. Em relação ao feedback que utilizava, era predominantemente um feedback informativo, não utilizando muito um feedback motivacional e também positivo. No que diz respeito à gestão das emoções, o treinador demonstrava muito aquilo que estava a sentir (tanto alegria como tristeza) e facilmente entrava em conflito com a equipa de arbitragem. Em relação às substituições, demonstrou ser um treinador conservador que, procurava realizar apenas substituições após o resultado se tornar negativo para a equipa ou em caso de um jogador atingir um nível de fadiga muito elevado e também em caso de lesão de um jogador. No intervalo do jogo o treinador concedia os primeiros 2/3 minutos aos jogadores onde não falava e um dos treinadores adjuntos tinha como função entregar a cada jogador um copo com uma bebida energética para melhorar a sua recuperação no período de intervalo. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 58

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Após os dois ou três minutos de relaxamento o treinador inicia a sua preleção tentando preparar a equipa para a segunda parte no contexto tático/técnico. Neste período o treinador procurava transmitir informações relativas ao seu adversário e aproveitava para corrigir comportamentos (individuais ou colectivos) que a equipa realizou durante a primeira parte. Por fim, transmitia alguns ajustamentos (se achasse necessário) e transmitia uma mensagem de motivação ao plantel. Neste período apenas os onze jogadores vão para o balneário, ficando os suplentes no terreno de jogo. No momento imediato após o termo do jogo o treinador deslocava-se à equipa de arbitragem, cumprimentando-os e também ao treinador adversário repetindo o comportamento em todos os jogos. No balneário o treinador não emitia qualquer feedback à equipa após o jogo, mantendo-se no balneário e observando os comportamentos dos jogadores. Apenas após os jogos contra os adversários de nível superior ou após uma derrota com um resultado avolumado o treinador transmitia uma mensagem de apoio e motivacional ao grupo.

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Capitulo III – Modelo de Preparação

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4 – Modelo de treino O respeito pela interacção e ligação umbilical, tem efeito direto e significante sobre o rendimento desportivo do atleta e da equipa. Nesta direcção, surge a necessidade da especialização dos exercícios de aperfeiçoamento das capacidades de desempenho, apontando para uma relação da realidade competitiva e as características do processo de treino (Matveev, 2001; Thiess; Tschiene; Neckel, 2004; Platanov, 2008; Castelo, 2009 cit. por Braz, Spigolon, & Borin, 2012). O treino apresenta-se como a forma básica de preparação do atleta, ou seja, como sendo um processo pedagógico e estruturado de condução do desenvolvimento do atleta que visa a preparação sistemática e organizada do mesmo, por meio de exercícios (Matvéiev, 1991). As sessões de treino são constituídas por um conjunto de exercícios, devidamente sistematizados e coordenados, de forma a constituírem um processo metodológico global e unitário (Castelo, 2009).

Um aspecto fundamental e característico da elaboração dos programas de acção (leiase treino), é a reprodução sistemática do modelo de jogo a atingir pela equipa no futuro que, por sua vez deve reproduzir a atividade competitiva na qual a equipa está inserida. Desta forma seleccionam-se meios, métodos e, condições de treino que exercem sobre o organismo dos jogadores, um estímulo eficaz, dando resposta aos problemas ligados à melhoria funcional, técnica, táctica e psicológica, quer no plano individual, quer no plano da equipa no seu conjunto. As concepções e características do modelo de jogo adoptado, devem condicionar o processo de treino para que este seja congruente com os objetivos estruturais e funcionais pretendidos. A construção de um modelo de jogo irá tornar inteligível um fenómeno complexo, assegurando as referências que orientam a conceptualização dos exercícios, bem como, a potenciação de determinadas decisões e intervenções motoras em detrimento de outras. Partindo desta perspectiva, uma metodologia específica de treino deverá elaborar ferramentas operacionais que, forneçam e desenvolvam representações contextuais e conjunturais, direccionadas para o modelo de jogo que se pretende adotar (Castelo, 2009). Quanto maior o grau de congruência do modelo de treino, por intermédio da opção por metodologias específicas entre as que estão à disposição do treinador, e o modelo de jogo,

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conceptualizado por este, maiores serão as possibilidades para uma superação constante dos jogadores e da equipa (Castelo, 2015a).

O design dos exercícios de treino não servem para todo e qualquer modelo, nem se suportam num qualquer tipo de situações de jogo. Mas sim, situações/problemas que se referenciam a um modelo de jogo estudado, refletido, operacionalizado e mais tarde testado, de forma a aquilatar das suas aptidões e insuficiências. Importa na verdade sublinhar que, os jogadores quando em situação de treino ou competição, recorrem a referências baseadas em memórias e experiências motoras passadas que, lhes permitem resolver ou ajudar a resolver com eficiência as situações contextualmente não definidas “à priori”. Sem estas referências, os jogadores não só demorariam mais tempo a percecionar e a decidir sobre a situação, bem como, as ações motoras traduziam-se numa inadequação constante à pertinência que, cada situação exige. É através do modelo de jogo que, se pode construir especificamente uma metodologia de treino, a qual estimule o desenvolvimento de forma planeada e sistemática, as atitudes e os comportamentos individuais e coletivos, modelando o pensamento e a ação tática do jogador. As conceções e características do modelo de jogo, asseguram as referências que orientam a conceptualização dos exercícios: (i) no respeito da integridade do modelo, (ii) na criação de contextualidades que induzam a decisões e ações específicas, (iii) na preparação da equipa num sentido, (iv) no enquadramento dos diferentes fatores de preparação e, (v) na aproximação dos processos de treino e competição.

(1) Respeita a integridade do modelo. O correto contributo de uma metodologia do treino no desenvolvimento da organização dinâmica de uma equipa, passa pela focalização das reais necessidades dessa equipa e, só nesse sentido, é que esta se denomina específica. Desta forma, ao aplicar-se exercícios apropriados aos problemas identificados, optimiza-se o processo de treino dando-lhe uma direção precisa, racionalizando o tempo e o esforço necessário, para se obter o maior efeito positivo possível. (2) Cria contextualidades de jogo que induzem a tomar decisões e ações específicas. Uma metodologia específica de treino é suportada por exercícios construídos a partir de ambientes contextualizados de jogo. Desta forma é possível, não só resolver cada situação de jogo, como também analisá-la em função da sua eficácia, permitindo ou não que, o jogador a interiorize na sua memória, tornando a experiência significativa.

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Logo, facilitadora na resolução de outras situações idênticas ou, servindo de base para a resolução de uma nova situação de jogo. (3) Direciona a preparação da equipa num sentido. O modelo de jogo assume-se como um roteiro para o treino específico da equipa, potenciando o desenvolvimento de atitudes e traços comportamentais que induzem os jogadores à forma de jogar pretendida. Para que a estrutura e a organização de uma equipa não seja constantemente alterada (de exercício para exercício, de sessão para sessão ou de microciclo para microciclo de treino) as condições e prescrições de suporte à metodologia do treino devem ser sempre respeitadas. Se tal não acontecer, os jogadores e a equipa saem das fronteiras demarcadas pelo modelo de jogo adotado, “preparando-se” para uma outra forma de jogar. (4) Enquadra os diferentes fatores de preparação. Uma metodologia de treino específica, desenvolvida a partir de uma perspectiva de modelação do exercício de treino, deverá ser construída pelo contínuo desenvolvimento da dimensão decisão/ação, a qual é suportada pelo melhoramento integrado das capacidades físicas condicionantes. Toda a ação em jogo por mais básica que seja, baseia-se numa intencionalidade suportada por imperativos informacionais. Logo, a eficácia dos comportamentos dos jogadores estão em estreita relação com as informações e, as previsões pertinentes retiradas do contexto situacional. Toda a ação motora em jogo deriva das informações retiradas do meio envolvente e, da energia para o cumprimento da sua resolução. (5) Aproxima os processos de treino e competição. A evolução e o aperfeiçoamento dos jogadores e da equipa passam por uma relação de interdependência e reciprocidade dos processos de treino e competitivo. É no treino que os jogadores adquirem as adaptações, de vária ordem, que se exprimem em termos de decisão e ação motora, intervindo nas situações competitivas. É através do processo competitivo que. Se extrai as informações pertinentes, com o intuito de se incrementar os conhecimentos acerca do jogo desenvolvido na competição. Através destas informações, congeminam-se e conceptualizam-se meios de treino para orientar e direcionar os processo de adaptação dos jogadores ao modelo de jogo (Castelo, 2009).

Castelo (2015a) refere que não se deve inferir a absoluta opção por metodologias de treino específicas, mesmo que estes proporcionem uma maior adaptação e consequentes desempenhos superiores em competição, isto porque momentos haverão em que os métodos de treino poderão ser optados com vista ao aperfeiçoamento de um determinado gesto técnico, Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 63

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por exemplo o passe, ou a execução de um esquema tático, como um pontapé-de-canto ofensivo, ou o desenvolvimento de uma capacidade condicional, como por exemplo a resistência.

O modelo de jogo conceptualizado necessita de um modelo de treino congruente e específico que o operacionalize. Para tal, há necessidade de se treinar como se estivesse em competição, ou seja de selecionar e recriar cenários similares aos que ocorrem na competição ao nível das componentes estruturais – volume, intensidade, densidade e frequência – e das condicionantes estruturais – regulamento, espaço, tático-técnica, tempo, número e instrumentos – assim como estimular o desenvolvimento de atitudes e aperfeiçoamento de comportamentos promovidos pela utilização dos diferentes métodos de treino (Castelo, 2015a).

É importante verificar como se constata então a maior ou menor especificidade de um método de treino.

Cada exercício de treino aplicado será considerado especifico ou não especifico, em função do grau de semelhança ou não semelhável com o modelo de jogo que se pretende implantar. Com efeito, não basta que cada exercício de treino contenha em si próprio elementos, tais como: a bola, o espaço, as balizas, os adversários, os colegas, etc. É fundamental que todos estes elementos se inter-relacionem e organizem, de forma que parametrizem atitudes, decisões e ações na direção de um padrão individual e coletivo consentâneo com a forma de jogar (identidade) potenciando-se assim, o fenómeno de transfere entre o que se faz em treino (modelo de preparação) e, o que se pretende fazer em competição (modelo de jogo). Assim se reforça que, os padrões de jogo realizados na competição, tenham uma relação causal com os processos e exercícios de treino realizados. É esta relação inteligível e coerente, entre o modelo de jogo da equipa e a conceção de exercícios de treino que. É determinante para que haja uma adaptação consentânea com os objetivos a atingir (Castelo, 2009). Ainda para Castelo (2009) a especificidade não é mais que uma qualidade complexa e constitutiva, de uma subdivisão pormenorizada a partir da globalidade dos exercícios de treino, que se distinguem uns dos outros, por uma caraterística e por exercerem uma determinada função específica, que só a estes é comum.

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Segundo (Teodorescu, 2003; Gréhaigne, 1991; Faria & Tavares, 1992; Pinto & Garganta, 1996; Garganta 1997 cit. por Almeida, 2014) é importante que os jogadores sejam confrontados com situações o mais próximas possível da realidade do jogo. Sustentam que é conveniente colocar os jogadores em situações/exercícios que solicitem a resolução de problemas tático-técnicos semelhantes aos que o jogo coloca, para que as ações executadas se aproximem cada vez mais do padrão a desenvolver. Este entendimento do «jogar» pressupõe a clarificação de uma conceção por parte de quem tem a responsabilidade máxima de conduzir a equipa – o treinador. Esta conceção de jogo, e consequentemente de treino, pressupõe um encadeamento lógico da evolução de todo o processo em que o conceito de especificidade terá que estar presente.

Quanto maior for o grau de correspondência entre os modelos utilizados (exercícios de treino) e a competição, ou o modelo de jogo que se procura implementar na equipa, melhores e mais eficazes serão os seus efeitos (Castelo, 2009). Em conclusão, na seleção dos exercícios só se poderá dizer que existe especificidade se houver uma permanente e constante adequabilidade/adaptabilidade de um exercício em função do modelo de jogo pretendido, articulando/modelando todas as componentes do rendimento desportivo (Oliveira, 2005)

Sendo o modelo de jogo o referencial do modelo de treino, o treinador deve procurar promover em treino as metodologias mais específicas que levem ao desenvolvimento da forma de jogar, das missões e funções específicas dos diferentes jogadores em diferentes fases, etapas ou momentos do jogo (Castelo, 2015a). Tal como referimos para a conceção de um modelo de jogo, derivará a necessidade de conceptualização e operacionalização de um modelo de treino que força o treinador a priorizar de forma eloquente o que deve treinar, quando e através de que cenários, e com que nível de complexidade (Castelo, 2015a). O modelo de treino, até mesmo o que apresenta uma maior representatividade, ou seja, uma maior semelhança com a competição e o modelo de jogo conceptualizado, ficará sempre aquém da competição (Castelo, 2015a).

A concepção de um qualquer método de treino suporta-se por uma elevada congruência entre a sua dinâmica prática e evolutiva com a lógica interna do jogo ou do modelo que se procura implementar. Isto significa tão só que a cada modelo de jogo corresponderá necessariamente um modelo específico de preparação dos jogadores e da equipa, contextualizando situações de jogo com diferentes níveis de complexidade e Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 65

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dificuldade, traduzidos por fluxos informacionais pertinentes e disponíveis, a partir dos quais se induzem atitudes, tomam-se decisões e se executam comportamentos substanciais e significativos na direção de uma forma específica de jogar. Este é um pressuposto que o treinador deverá continuamente recentrar o seu dia a dia, evitando gastos de tempo e energia naquilo que não é essencial para o desenvolvimento da equipa. Tendo que equacionar de modo constante e persistente a relação custo/benefício de cada unidade de programação que operacionaliza, não sendo este entregue ao acaso (Castelo, 2015b).

Segundo Castelo (2015b), todos os métodos de treino configuram um maior ou menor leque de possibilidade de resolução por parte dos jogadores e da equipa, inibindo ou amplificando partes de um todo que se pretende desenvolver e aperfeiçoar, sendo que somente algumas decisões/ações que emergem dos diferentes contextos situacionais propostos são possíveis e viáveis de emergir. Isto é feito com o objetivo de especificar e privilegiar certas relações entre jogadores intra ou inter setorialmente com vista ao desenvolvimento de rotinas e padrões de jogo, devendo ser uma opção ponderada e assumida pelo treinador que, mesmo alterando e agindo por intermédio de cenários mais ou menos próximos do que é a competição mas nunca idênticos, procurará um afastamento de maior ou menor grau dessa realidade competitiva consoante o que considerar mais eficaz no sentido de potenciar e operacionalizar o modelo de jogo que quer ver implementado na competição (Castelo, 2015b).

Neste ponto, é necessário elucidar que tipo de ferramentas operacionais, isto é, que exercícios ou métodos de treino tem o treinador à disposição para poder operacionalizar o seu modelo de treino.

4.1 - Condicionantes/ Constrangimentos dos exercícios específicos

De seguida irão ser apresentadas duas abordagens que nos permitem manipular o exercício específico de futebol. A Abordagem baseada nos constrangimentos (ABC) e as Condicionantes estruturais dos exercícios específicos.

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Condicionantes estruturais dos exercícios específicos

Para obtermos uma optimização do exercício de treino na rentabilização máxima das suas virtudes, torna-se indispensável ter sempre em linha de conta o respeito pela identidade única e singular não desvirtuando o jogo de futebol. A conceptualização de uma forma de jogar, expressa no modelo de jogo adotado pela equipa e a sua interação com a natureza única e singular que caracteriza cada momento de competição (Estratégia), desencadeiam um agravamento desses constrangimentos, aumentando a quantidade de variáveis a ter em consideração na hora de planear a sessão de treino. Deste modo, a forma como condicionamos os exercícios de treino, será uma arma metodológica fundamental no garantir do cumprimento do princípio da especificidade para os momentos de preparação. Assim sendo, as condicionantes estruturais são definidas pelos constrangimentos que influenciam e especificam a dinâmica do sistema decisão / interação no quadro das tarefas específicas dos métodos de treino do jogo de futebol (Castelo, 2010 cit. por Correia, 2013). Devido a especificidade da modalidade de futebol, todos os meios de treino com carácter específico do jogo têm acoplado por inerência, na sua interioridade, um conjunto de elementos estruturais com carácter diferenciado. Estas diferenças estabelecem-se num quadro de origem: regulamentar, temporal, espacial, comportamental, numérica e instrumental (Castelo, 2009).

Importância das Condicionantes estruturais De modo a existir uma abordagem dinâmica e coerente no ensino / treino do jogo de futebol, existe a necessidade de uma relação direta entre os objetivos traçados para determinados exercícios específicos e as condicionantes estruturais que compõem os diferentes cenários ou enredos estratégico/táticos (Castelo, 2010 cit. por Correia, 2013).

A interação do praticante com o contexto de jogo pretendido, recreado num exercício de treino através do seu condicionamento estrutural, potencializa o aparecimento de determinados comportamentos e posturas em detrimento de outras. O comportamento decisional dos jogadores parece resultar de um processo exploratório do contexto, em que estes agem de forma a detetar a informação que lhes permita mudar o seu curso de ação, ou seja, decidir (Araújo, 2009). A repetição sistemática dessa dinâmica operacional irá ajudar o praticante a criar hábitos de execução /decisão que se expressem em rendimentos desportivos

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superiores. Sem repetição não há melhoria, não há aprendizagem, não há consolidação, uma vez que a repetição nunca é exatamente igual (Proença, 2010 cit. por Barros, 2013).

Castelo (2010 cit. por Correia, 2013) refere que são as próprias dinâmicas das situações desenvolvidas de acordo com uma determinada realidade metodológica de treino que levam à criação de princípios de autorregulação individual (sistema de ação) e da equipa (modelo de jogo), suportados em última análise, de conexões dos sistemas de decisão e de ação. Nesta perspetiva, Castelo (2010 cit. por Correia, 2013) descreve ainda a importância das condicionantes estruturais como estando diretamente relacionada coma possibilidade de uma ampla variedade de contextos de jogo, que poderão ser recriados, conceptualizados e operacionalizados no decorrer do processo de treino.

No entanto, ganha relevância a necessidade desta via metodológica ser planeada e operacionaliza de forma ponderada e criteriosa, sob pena de o seu uso despropositado ou obsessivo ter consequências negativas sobre a arbitrariedade e aleatoriedade que são inerentes ao jogo de futebol. Quanto mais condicionado for o exercício, mais fechada é a tomada de decisão dos atletas, menor será o espaço dado à criatividade e liberdade de decisão/ação. Ao invés, quanto menos condicionado for o exercício de treino, maiores serão os graus de liberdade concedidos, sobressaindo a criatividade individual e coletiva no momento de decidir/executar. O fomento do uso desta dinâmica de complexidades colocadas no processo de treino, em total respeito pelas necessidades individuais e coletivas circunstanciais dos jogadores e equipas, é determinante no elevar da transferibilidade e adaptabilidade das condições de treino às condições da competição. Por último, a importância das condicionantes estruturais deriva de uma pressão específica que estas incidem sobre os diferentes mecanismos de adaptação, podendo estes serem de ordem individual ou coletiva. De carácter individual, já que no decorrer dos exercícios de treino poder-se-á mobilizar determinados fatores fisiológicos, psicológicos e motores. No ponto de vista coletivo, já que estão envolvidos neste processo, fatores estruturais, funcionais e relacionais (modelo de jogo) (Correia, 2013).

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Objetivos das Condicionantes estruturais

Ao abordar o tema dos objetivos das condicionantes estruturais dos exercícios específicos de treino, terá que se referir primeiramente que estes influenciam as ações dos jogadores no decorrer dos exercícios, mas não causam os respetivos comportamentos (Castelo, 2010). Deste modo, a orientação fornecida para um determinado enredo / cenário fomenta decisões e ações específicas nos jogadores. Posto isto, os objetivos básicos das condicionantes estruturais poderão ser: (i) Compatibilizar diferentes graus de complexidade, tendo em atenção o desempenho futebolístico dos jogadores em questão, das margens de progressão de prestação desportiva dos jogadores e equipa (Castelo, 2009) e por último, às necessidades individuais e coletivas observadas durante a competição, modelando-as em função de uma identidade própria de jogar (Castelo, 2009); (ii) Especificar diferentes fatores de treino para que se possa atingir determinados objetivos propostos. Neste aspeto, Castelo (2009) identifica quatro fatores que se deverá ter conta na construção dos exercícios de treino, onde é preponderante especificar uma determinada ação técnica, um princípio tático a cumprir, uma dimensão estratégica concreta e uma capacidade física a atingir.

Regras Básicas das Condicionantes estruturais

Para que se utilize de uma forma correta e coerente as condicionantes estruturais dos métodos específicos de treino, existe a necessidade de saber direcionar num determinado sentido a organização da equipa. A concepção de cenários nos exercícios de treino deverá obedecer a duas regras básicas essenciais: - Ser realista, havendo uma relação próxima com o modelo de jogo a implementar e tornando-o a linha orientadora do trabalho do treinador; - Adequar as capacidades momentâneas dos jogadores, para fomentar, acelerar e assimilar efeitos de carácter positivo nos comportamentos dos jogadores e também, na forma de organização estrutural, funcional e relacional da equipa (Castelo & Matos, 2009).

Efeitos das Condicionantes estruturais

Ao proporcionar condições para que os jogadores executem práticas repetitivas, sem as repetir e realistas para que resolvam situações contextuais do jogo de futebol, o treinador, ao manipular as opções de carácter técnico (solução motora), tático (decisões mentais) e Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 69

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estratégico (fontes para se atingir os objetivos intermédios ou finais) (Castelo, 2010), irá potenciar efeitos dos métodos de treino que se fazem sentir: - Na concretização de decisões / ações específicas de solução das situações de jogo num sentido particular, constrangendo tempos de decisão / acção relativamente ao aumento e diminuição dos mesmos, ou direcionar num determinado sentido, com base no modelo de jogo; - Na graduação de ritmos de solicitação individual e coletiva, fazendo com que cada jogador exprima as suas capacidades individuais e de compreensão coletiva de jogo, aproximando o mais possível as condições reais de jogo e ao modelo conceptual de jogo; - Na afinação das relações espaço / ação e espaço / número. Relativamente à relação espaço / ação pretende-se melhorar a capacidade dos jogadores decidirem e atuarem em certos espaços do jogo ou em espaços que estrategicamente lhe sejam mais favoráveis; - Na relação espaço / número procura-se valorizar o espaço de jogo, procurando criar vantagens numéricas proporcionando maiores condições de eficácia ofensiva e defensiva.

Limitações das Condicionantes estruturais

As decisões/ações individuais coordenadas dentro de uma dinâmica coletiva, emergem a partir da interação de múltiplos constrangimentos inerentes à tarefa objetivada em cada método de treino. Como tal, é importante que as tarefas propostas pelo treinador sejam pertinentes para a evolução dos jogadores, indo ao encontro da lógica interna do jogo, do modelo a implementar na equipa e das características dos métodos propostos (Castelo, 2010). No decorrer do processo de treino existe a necessidade de gerir os detalhes sem nunca esquecer que o jogo é um sistema dinâmico, o que poderá por vezes originara que o efeito do treino não tenha o transfere que se deseja para a competição. Mantendo este raciocínio, Castelo (2010), diz-nos que todas as tarefas devem manter a funcionalidade que se pretende em jogo, respeitando e reconstruindo a sua lógica interna, através de uma permanente relação entre a percepção e a ação que acontecem em jogo, o que significa que a contextualização das tarefas deverá ser um critério central a respeitar no processo de treino. Uma aplicação desadequada das condicionantes estruturais i.e., desenquadrada do modelo de treino e de jogo a implementar ou descontextualizada das particularidades de uma forma específica de jogar, poderá levar a que os comportamentos ou prestações competitivas sejam desajustados ao que se inicialmente previa, sob o risco de ocorrerem alguns tipos de limitações. A primeira limitação será de ordem psicológica, quando se induzem os jogadores a uma decisão ineficaz Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 70

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e desadaptada do contexto e a segunda, de ordem motora, que fomenta a impossibilidade de desenvolvimento e aperfeiçoamento de certos comportamentos tático-técnicos.

Momentos de aplicação das Condicionantes estruturais

Segundo Castelo (2010 cit. por Correia 2013), a operacionalização das condicionantes estruturais dos exercícios específicos de treino desenvolve-se em duas unidades básicas de programação, a sessão de treino e o microciclo de treino. Na sessão de treino, a conceptualização, organização e a aplicação das condicionantes estruturais dos exercícios específicos de preparação deverá terem linha de conta dois aspetos fundamentais, ou seja, em que partes da sessão de treino devem ser aplicadas e a sua sequência lógica dos meios de treino. Relativamente às partes da sessão de treino em que devem ser aplicadas, estas surgem com mais regularidade na parte principal da sessão, já que é neste momento que as principais tarefas de aprendizagem, desenvolvimento e aperfeiçoamento dos jogadores e equipa. No que diz respeito à sequência lógica dos meios de treino, esta deve ser cumprida i.e. respeitada no decorrer da sessão de treino, potenciando uma elevada inteligibilidade, transferibilidade e adaptabilidade na transição de um meio de treino para o seguinte. No microciclo de treino, importa analisar o mesmo sob dois aspetos cruciais: Primeiramente a aplicação das condicionantes estruturais e a sua aproximação à competição (Castelo, 2010). Neste ponto, Castelo (2010 cit. por Correia 2013), refere que importa diminuir as condicionantes à medida que nos aproximamos da competição, já que os jogadores poderão beneficiar de contextos idênticos à realidade competitiva à medida que se aproximam da mesma. Tal como referenciado para a sessão de treino, o microciclo deverá ser operacionalizado, ao nível das condicionantes estruturais, segundo uma lógica entre cada sessão de treino tendo em conta um conjunto de fatores, entre os quais: - Nível de desenvolvimento do modelo de jogo; - Observação e análise da competição; - Aspetos da sessão anterior; - Conhecimento do próximo adversário.

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Como componentes estruturais do exercício de treino, das quais resulta o nível de adaptação funcional dos jogadores, temos: volume, intensidade, densidade e frequência.

Componente volume Representa o aspeto quantitativo da atividade do jogador ou da equipa, sendo exprimido por unidades de medida em função de tempo, distância, número de repetições, entre outros. O volume altera-se em função do modelo de jogo, isto é, para uma equipa que assente o seu processo ofensivo, por exemplo, num ataque continuado necessitará de acumular volumes elevados. O seu incremento pode ser conseguido pelo aumento da duração do exercício, pelo aumento do número de repetições, pelo aumento do tempo de execução, pelo aumento da duração da sessão de treino e pelo aumento do número de sessões de treino. Esta componente apenas determina o grau de especificidade do método de treino relativamente ao modelo de jogo quando complementado pela intensidade (Castelo, 2010 cit. por Correia, 2013).

Componente Intensidade Representa o aspeto qualitativo da atividade do jogador ou da equipa, isto é, trata-se da frequência de execução motora dos jogadores ou da equipa em resposta às situações de treino na unidade de tempo. Podemos verificar 4 níveis de intensidade – baixa, média, ajustável às capacidades do jogador ou da equipa (ótima), e elevada. Esta componente pode ser manipulada através da prestação do jogador – consoante o seu nível maior ou menor de preparação para a atividade proposta – da especificidade das acções motoras – quanto maior for a proximidade do exercício de treino com o modelo de jogo e as condições reais da competição, mais intenso será – do aumento da complexidade – no sentido em que quanto maior a quantidade de informações que o jogador tenha de percecionar e processar, mais intenso será o exercício – da manipulação da densidade – número de exercícios realizados na unidade de tempo bem como a forma de recuperação entre estes, sendo o exercício tanto mais intenso quanto menor o tempo de pausa – da pressão do factor psicológico – quanto maior a pressão sobre os processos de perceção de informação e tomada de decisão maior a intensidade do exercício – e da variação do ritmo de jogo – maior ou menor consoante ordem e velocidade de execução das ações, espaço onde ocorrem e a sua distribuição no tempo. A intensidade pode ser avaliada pela monitorização da frequência cardíaca e da contemplação de zonas de intensidade (Castelo, 2010 cit. por Correia, 2013).

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Componente Densidade Representa a relação entre o exercício ou série de exercícios realizados e o repouso, na unidade de tempo. Em termos práticos é consubstanciada pela pausa utilizada entre exercícios por forma que exista uma relação ótima entre exercício e recuperação. Esta componente contribui para a eficiência do processo de treino evitando que os jogadores atinjam estados críticos de fadiga, ou mesmo exaustão, e estabelecendo uma correta relação entre o esforço que resulta da prática de um exercício e o repouso entre repetições ou entre este e outro exercício. A densidade varia em função do tempo de pausa entre cada exercício de treino, a intensidade de cada exercício, a duração total do exercício, do número total de repetições ou séries do exercício, da capacidade de rendimento do jogador e da complexidade/dificuldade do exercício. As pausas de recuperação tanto podem ser de tipo completo – permitem uma recuperação que possibilita que reiniciem o mesmo ou iniciem outro exercício em condições mínimas de fadiga – incompleto – ao iniciarem a atividade seguinte os jogadores ainda sentem os efeitos do exercício anterior - ou reduzido – os jogadores apresentam uma capacidade de resposta diminuída quando iniciam a próxima atividade – como ter forma ativa – quando os jogadores executam ações complementares que visam o acelerar dos processos de recuperação no decurso da pausa – ou passiva – quando os jogadores não efetuam qualquer tipo de ações motoras complementares ou adicionais no decurso da pausa. Os treinadores recorrem geralmente à monitorização da frequência cardíaca, à sua capacidade de observação ou ao pedido de opinião ao jogador, e à ressíntese do sistema de energia utilizado, para determinarem os tempos de pausa adequados à recuperação dos jogadores (Castelo, 2010 cit. por Correia, 2013).

Componente Frequência Representada pelo número de repetições de um exercício ou séries de exercícios de treino na unidade de tempo, seja na sessão, no microciclo ou no ciclo anual de treino (Castelo, 2010 cit. por Correia, 2013).

Na construção dos exercícios específicos de treino, poder-se-á desenvolver diversos enredos com o intuito de promover um determinado cenário de treino, levando a que o treinador possa direcionar esse mesmo exercício para um objetivo específico. Deste modo, o treinador tem a sua disposição diversos elementos que poderá utilizar para induzir e potenciar a exploração de novas ações e/ou executar ações criativas para situações ou problemas, utilizando as condicionantes estruturais dos exercícios específicos de treino (Correia, 2013). Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 73

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Como condicionantes estruturais do exercício de treino temos: condicionante regulamentar, condicionante espaço, condicionante tático-técnica, condicionante tempo, condicionante número, condicionante instrumental.

Condicionante Regulamentar

De modo a proporcionar ambientes de treino próximos da realidade competitiva, dever-se-á ter em consideração a componente regulamentar do jogo. Segundo Castelo (2010 cit. por Correia,2013), o regulamento de uma forma geral, operacionaliza alguns aspetos, i.e., normaliza as ações dos jogadores, estabelecendo diferentes graus de liberdade; determinam as prescrições necessárias, com o intuito dos jogadores poderem intervir convenientemente, nas situações/problemas, favorecendo a sua resolução, bem como a continuidade das decisões/comportamentos dos intervenientes na situação; apresentam-se como elementos definidores dos meios específicos de treino, consubstanciando o seu sentido, porque está integrado nele, fazendo assim parte da sua própria essência e; fomentam a necessidade dos jogadores resolverem estratégias, de forma a poderem usufruir de condições mais vantajosas, para se atingir eficazmente os objetivos pretendidos, sejam intermédios ou finais. No que diz respeito a estruturação e conceptualização dos meios específicos de treino, a condicionante regulamentar poderá apelar a três condições fundamentais. A primeira condição refere-se a redução das prescrições regulamentares, ou seja, diminuindo algumas prescrições normativas, irão proporcionar-se situações proveitosas para dar continuidade às decisões/ações dos jogadores (Castelo, 2010 cit. por Correia, 2013). Seguidamente, e como segunda condição fundamental, a manutenção das prescrições regulamentares, onde se procura simultaneamente, potenciar e consolidar as diferentes decisões/ações, i.e., adaptabilidade e sustentabilidade na resolução dos problemas decorrentes dos métodos específicos de treino. Assim sendo, desenvolve-se uma aproximação ao padrão e aos níveis de eficiência/eficácia planeada para o ciclo de preparação da equipa (Castelo, 2010 cit. por Correia, 2013). A última condição fundamental é a criação de prescrições não regulamentares. Neste caso específico, criam-se prescrições e condicionalismos mais severos, do que aqueles que se apresentam nos regulamentos do jogo, de forma a direcionar, particularizar e a focalizar o ciclo de percepção/ação na resolução dos problemas apresentados, relativamente a um modelo de treino e de jogo que se procura implementar (Castelo, 2010 cit. por Correia, 2013). Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 74

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Condicionante Espaço

O espaço de jogo apresenta-se como um dos elementos estruturantes da organização dinâmica da equipa (Castelo, 2010 cit. por Correia, 2013), já que podemos verificar que dentro deste mesmo espaço, a equipa se configura de um modo coletivo (dispositivo tático) e que atribui a cada jogador uma missão tática específica. Com base nestes pressupostos, posicionamento e missão tática, dentro de um determinado espaço momentâneo ou pré definido, que o jogador gere as suas decisões/ações para a resolução de problemas inerentes a cada fase de jogo (defesa/ataque) (Correia, 2013). Deste modo podemos afirmar que as alterações do espaço de jogo, influenciam diretamente os processos de seleção de informação pertinente dos jogadores, o que por inerência afecta a dimensão motora da ação individual, que por último tem influencia direta sobre os comportamentos dos companheiros e adversários. Utilizando portanto, o espaço como uma condicionante estrutural dos exercícios específicos de treino, impõe-se que a compreensão da importância deste na execução de diferentes comportamentos motores seja clara e objetiva. Dimensão do Espaço Como se pode constatar, a área de atividade prática é fundamental para um eficaz desenvolvimento das tarefas perspetivadas (Castelo, 2010 cit. por Correia, 2013). Como tal, dever-se-á ter em conta na estruturação das dimensões dos exercícios, alguns pressupostos, entre os quais o número de jogadores envolvidos, os métodos de jogo ofensivo e defensivo a desenvolver e a prescrição de outras situações a estabelecer na realização de ações individuais ou coletivas (Castelo, 2010 cit. por Correia, 2013). Na dimensão do espaço de treino, a variável numérica, no que diz respeito a jogadores, surge para Castelo (2010 cit. por Correia, 2013), como aquela que mais influencia os treinadores na determinação espacial do exercício. Neste âmbito, ao analisarmos a relação entre o espaço regulamentar de jogo (100x68) e o número de jogadores por equipa (20), não incluindo o guarda-redes, verificamos uma relação de 340m²/jogador (Castelo, 2010 cit. por Correia, 2013). Tendo em atenção este valor limite, e segundo Castelo (2010 cit. por Correia, 2013), deverá estabelecer-se uma relação jogador/espaço mais conveniente para o eficaz desenvolvimento das tarefas a realizar, designando por norma, uma relação espaço/número de jogadores na ordem dos 5x3,4 metros por jogador (valor médio de 17 m²). Deste modo, à medida que se reduz o número de jogadores diminui-se, o espaço e os seus valores médios como representado na tabela 7. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 75

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Tabela 7 - Relações numéricas, espaços de atividade, áreas de atividade e valores médios de espaço de atividade por jogador (Adaptado de Castelo, 2010 cit. por Correia, 2013)

Relativamente as diferentes dimensões do espaço, Castelo (2010), considera três situações básicas distintas independentemente das relações com diferentes condicionantes estruturais. A primeira de espaço reduzido, quando as dimensões deste não ultrapassa os cinquenta metros de comprimento. Seguidamente, espaço próximo da competição, quando o comprimento não ultrapassa os setenta metros e aproximadamente 64/68 metros de largura, ou seja, ¾ do campo. Por último, espaço idêntico à competição, quando este é constituído pelo espaço de jogo regulamentar.

Utilização do espaço A utilização do espaço de treino poderá ser efetuada de inúmeras formas. Para este fato, Castelo (2009 cit. por Correia, 2013), refere quatro dimensões possíveis. O espaço independente, onde os jogadores de cada equipa podem ocupar e atuar num determinado espaço sem que haja qualquer interferência no respetivo espaço do adversário. O espaço comum, onde todos os jogadores poderão intervir nas diferentes áreas de atividade, dependendo sempre das situações específicas e dos acontecimentos no decorrer do treino. Espaços Mistos, o que obriga a existência dos dois espaços referidos anteriormente, independentes e comuns respetivamente. Nestes casos específicos, só determinados jogadores poderão intervir em diferentes espaços e outros atuarão nos seus espaços respetivos. Na quarta dimensão de utilização do espaço, o interdito, poder-se-á simultaneamente dentro das anteriores três formas (independente, comum e misto), criar zonas interditas para todos ou somente para alguns jogadores.

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Condicionante Tático-Técnica

Com o intuito de resolver as situações/problemas com que os jogadores se deparam no decurso do jogo de futebol, impõem-se que a condicionante tático-técnica seja utilizada de uma forma rentável e correta do ponto de vista metodológico e, que apresente como pressupostos uma série de aspetos fundamentais definidos por Castelo (2010, cit. por Correia, 2013), tais como:

- Sistematização e ordenação das situações a treinar. Devido à necessidade de construir um processo de ensino/aprendizagem ao longo do tempo, este deverá corresponder a uma certa ordem e lógica que preveja situações de conceção do elementar ao complexo assim como, do individual ao coletivo; -Carácter adaptativo das situações. Neste caso, torna-se imperativo que os jogadores estejam inseridos em contextos, onde os efeitos sejam mais elevados, quanto mais possibilidades houver de os colocarem a decidir/agir perante situações que não estão préestabelecidas, e onde exista variabilidade e imprevisibilidade; -Carácter indutivo e dedutivo das situações. Na operacionalização e conceção dos meios específicos de treino, será coerente estabelecer um equilíbrio entre situações indutivas, i.e., criadas pelo treinador (rotinas e padrões de jogo) e a capacidade dos jogadores e equipa criarem as soluções corretas e necessárias à resolução dos problemas.

Segundo Castelo (2010 cit. por Correia 2013), a estruturação, conceptualização e operacionalização dos métodos específicos de treino, no que diz respeito a esta condicionante estrutural, poderão apelar a quatro condições fundamentais. O factor inicial refere-se ao condicionamento do número de alvos, ou seja, um maior número de alvos poderá possibilitar a concretização de uma série de aspetos, entre os quais a manutenção de uma direcionalidade das atitudes e comportamentos dos jogadores; o aumento da taxa de êxito através do incremento das possibilidades de concretização dos objetivos e; a compartimentação das fases ofensiva e defensiva com o intuito de poder estar atento ao detalhe dos processos individuais e coletivos que suportam as referidas fases. Relativamente ao condicionamento da utilização do membro inferior poderemos dar significado a esta situação devido ao fato de o jogador poder melhorar as suas capacidades de intervenção motora do membro não dominante, não os devendo submeter a esta situação de um modo regular (Castelo, 2009 cit. por Correia, 2013). Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 77

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Condicionar relações táticas espaciais refere-se a obrigatoriedade dos jogadores que estão em posse da bola terem uma relação com determinados colegas (médio defensivo ou ponta de lança) e/ou com espaços específicos do campo como p.ex. um setor ou corredor; Condicionar a direcionalidade do jogo. Neste caso, o jogador ou equipa são induzidos a direcionar as suas ações/decisões para um determinado espaço ou dar um determinado sentido as suas intervenções.

Condicionante Tempo

Toda a estruturação das ações motoras de um jogador, bem como da organização coletiva de uma determinada equipa, estão associadas a condições temporais (Castelo, 2005 cit. por Correia, 2013). Neste contexto, uma ação utilizada sem ter em conta o tempo para a resolução dos problemas situacionais, não pode fazer sentido, i.e., para que exista eficácia, o jogador, necessita de adequar o seu comportamento à situação, assim como, à velocidade necessária para solucioná-la. Nestas circunstâncias, poder-se-á considerar também a existência de um tempo “coletivo”, ou seja, que reflete o grau de sincronização de uma equipa. Deste modo, é na combinação das ações referidas anteriormente, individuais e coletivas respetivamente, que se caracteriza o nível de eficácia do jogador e em definitivo de uma equipa (Castelo, 2009). No que diz respeito à construção dos exercícios de treino, a manipulação da condicionante temporal, quer aumentando, quer diminuindo o tempo, vai de certo modo constranger o jogador na obtenção dos seus objetivos e no êxito das suas ações motoras. Esta situação coloca-se devido ao fato do jogador ter de encontrar soluções motoras eficazes e adaptadas ao contexto. Como tal, ao constranger o tempo de resolução do exercício, menor serão as possibilidades de se atingir elevados níveis de performance (êxito), em função dos objetivos predeterminados. Esta condicionante estrutural, na sua conceptualização e operacionalização poderá atender a três fatores fundamentais:

- Produção energética, ou seja, no jogo de futebol não é raro observar-se diversas sequências com níveis de exigência fisiológica, de forma intervalada, em períodos de tempo com pausa curta ou longa. Desta forma, teremos também de entender que nem todos os jogadores são submetidos a períodos intensos ao mesmo tempo que outros, nem à mesma tipologia de esforço, contemplando colegas e adversários. Como tal a intermitência derivada da lógica do jogo de futebol que, tanto requer deslocamentos à máxima velocidade (com e sem bola) como deslocamentos a passo, estabelece um perfil fisiológico específico, o qual, é suportado pelas Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 78

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diferentes vias de produção de energia (Castelo, 2010 cit. por Correia, 2013). No que diz respeito à duração e intensidade no decorrer dos meios específicos de treino, poderão ser consideradas quatro diferentes vias de produção energética. A primeira a contemplar é a anaeróbia alática, onde o exercício não deve ultrapassar os doze segundos, para uma intensidade máxima de execução motora (Castelo, 2009 cit. por Correia, 2013) e, o tempo de pausa entre cada repetição será entre cinco ou seis vezes o tempo de execução (Castelo, 2010 cit. por Correia, 2013). A fonte anaeróbia lática, poderá atingir os três minutos para uma intensidade de esforço sub-máxima ou máxima (Castelo, 2009 cit. por Correia, 2013) e relativamente ao tempo de pausa entre repetições, este deverá ser o dobro do tempo de atividade (Castelo, 2010 cit. por Correia, 2013). Outra fonte energética a considera é a aeróbia, onde o esforço terá uma intensidade sub-máxima com uma duração longa, i.e., entre os trinta e os quarenta e cinco minutos (Castelo, 2009 cit. por Correia, 2013É de realçar que este tempo poderá ser fracionado e as pausas poderão ser ativas e curtas (Castelo, 2010 cit. por Correia, 2013). Por último, há que considerar a utilização de fontes energética de carácter misto, aeróbio e anaeróbio, relacionada com exigências momentâneas do jogo, determinadas pelas diferentes tarefas do exercício de treino, com momentos de elevada e reduzida solicitação (Castelo, 2009 cit. por Correia, 2013).

- Tático-Estratégica. Esta sub-categoria da condicionante estrutural temporal, levanos à criação de enredos situacionais com o intuito de potenciar um pensamento estratégico

e subsequentemente

fazer

emergir, individual

e

coletivamente,

decisões/ações numa determinada direção. Ou seja, através da indução do pensamento estratégico dos jogadores atingir o objetivo do jogo, valorizando certas situações, de uma determinada forma (Castelo, 2010 cit. por Correia, 2013).

- Variação do tempo e decisão/ação. Neste caso específico, poder-se-á manipular o tempo de resolução das situações, aumentando ou diminuindo o número de toques na bola por intervenção, o número de ações de passe possíveis para atingir o golo ou o tempo para a organização das fases de construção do processo ofensivo e da criação de situações de finalização (Castelo, 2010 cit. por Correia, 2013).

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Condicionante Número

Ao concebermos constrangimentos ao nível da condicionante numérica, acabamos por criar situações que os regulamentos do jogo de futebol não contemplam, i.e., limitações ou regras direcionando as decisões e comportamentos dos jogadores de encontro aos modelos idealizados previamente pelo treinador. Deste modo, a estruturação, conceptualização e operacionalização dos métodos de treino, segundo Castelo (2010 cit. por Correia, 2013), poderá apelar a três condições fundamentais: - Número de contactos na bola por intervenção. Ao condicionar o número de contactos na bola por intervenção, poderemos realizá-lo de quatro formas diferentes, dependendo dos objetivos a atingir. No primeiro caso, de um modo fixo, os jogadores terão de dar obrigatoriamente o número de toques estabelecido pelo treinador. Poder-se-á estabelecer também um número limitado de toques, onde os jogadores na resolução das situações contextuais poderão dar toques até ao número estabelecido. Na prescrição mista do número de contatos na bola por intervenção, pede-se que para determinados comportamentos táticotécnicos exista um número fixo, enquanto que para outras ações não. Finalizando, o número de contato por intervenção poderá ser livre, não havendo uma prescrição nem limitação aos toques a realizar por cada jogador.

- Número de ações de passe. Nesta situação específica do número de ações de passe, também se poderá, tal como anteriormente descrito para o número de contatos na bola por intervenção, prescrever um número fixo, limitado misto e livre. - Número de jogadores. Na utilização dos meios específicos de treino, teremos indubitavelmente relações numéricas a aplicar, entre grupos de jogadores ou equipas. No entanto, poderemos obter relações numéricas de duas diferentes tipologias, ou seja, de igualdade numérica, quando as duas equipas em confronto têm o mesmo número de jogadores ou em determinados espaços. Mas também, de superioridade versus inferioridade numérica quando existe vantagem de uma das equipas. Por sua vez, esta vantagem poderá obter-se ainda em determinados espaços ou perante certas condições.

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Condicionante Instrumental

A condicionante instrumental, é um factor que estabelece as características e o número de instrumentos a utilizar para o treinador possa potenciar e cumprir de um modo eficaz as tarefas a que se propõe em determinado exercício. Poder-se-á encontrar diversos instrumentos à disposição dos treinadores, entre os quais, bolas, balizas, sinalizadores, barreiras, estacas, etc., que durante o processo de preparação de uma equipa potenciam a possibilidade de se atingirem com mais frequência, fluidez e coerência estratégico-tática os objetivos e/ou as tarefas dos meios de treino (Castelo, 2010 cit. por Correia, 2013). Com a utilização e aplicação de diversos instrumentos de uma forma adequada, criam-se condições para que os jogadores possam, no decorrer dos meios específicos de treino, atingir um elevado nível de sucesso. Por outro lado, a inexistência de instrumentos suficientes para a aplicação dos meios de treino, torna-se evidentemente impeditiva para a aplicação e obtenção da qualidade do processo, pois deste modo, reduzem a possibilidade de uma ampla opção de organização, conceção, operacionalização e análise do processo de treino.

Abordagem Baseada nos constrangimentos (ABC)

A ABC, tem sido desenvolvida com o intuito de compreender teoricamente os constrangimentos mais importantes que se exercem sobre o desempenho dos praticantes de actividades desportivas, tanto num nível inicial como num nível avançado de prática (Araújo, 2005). Esta enfatiza o estudo da coordenação, as suas mudanças e evoluções na aprendizagem, procurando categorizar os muitos constrangimentos, assim como as diferenças individuais que cada jogador trás para o treino (Araújo, 2005). Sendo esta abordagem suportada pela psicologia ecológica e pela teoria dos sistemas dinâmicos, é verificável que assuma muitas das suas características, tal como a exploração dos constrangimentos que os rodeiam de forma a permitir que se manifestem padrões funcionais de comportamento em contexto específico (Araújo, 2005). Segundo Passos, Batalau, and Gonçalves (2006), no modelo de Newell (fig. 20) estão presentes três categorias de constrangimentos que interagem para a emergência (i.e. surgimento de forma espontânea sem qualquer ordem exterior) de um padrão ótimo de coordenação de uma tarefa específica:

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Figura 21 - Como emerge a coordenação e controlo do acoplamento percepção-ação a partir da interacção dos constrangimentos (tarefa-envolvimento-praticante) (adaptado de Araújo, 2005)

Constrangimentos do praticante Referem-se às próprias características dos atletas, tais como os genes, a altura, o peso, a composição corporal, as conexões sinápticas no cérebro e as características psicológicas tais como as cognições, as motivações e as emoções, as qualidades físicas designadamente a força, resistência e velocidade (Araújo, 2005; Passos et al., 2006).

Constrangimento do envolvimento O segundo ponto refere-se aos constrangimentos do envolvimento que estão relacionados com as condições de ambiente que rodeia o sujeito, i.e. são externos ao sujeito e à tarefa mas afetam o seu desempenho, tais como a luz ambiente, a altitude ou a temperatura, a gravidade, ou até mesmo os fatores socioculturais se tornam constrangimentos chave, os quais incluem a família, amigos, expectativas sociais, valores, assim como normas culturais (Araújo, 2005; Passos et al., 2006).

Constrangimento da tarefa. Por último, o terceiro constrangimento é aquele que se refere à tarefa. Estes são normalmente mais específicos que o anterior constrangimento, já que se designa a um desempenho particular. Esta categoria de constrangimentos inclui os objetivos, as regras de um desporto específico, os utensílios e engenhos usados durante uma atividade, os campos e as respetivas marcas (Araújo et al., 2005). Os constrangimentos da tarefa mais importantes a considerar segundo Araújo et al. (2005), parecem ser aqueles que estão relacionados com a

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informação disponível nos contextos específicos do desempenho, que os atletas podem usar para coordenar as suas ações.

No entanto, apesar de podermos observar estas categorias separadamente, cada uma delas não atua por si só no comportamento dos jogadores, já que os constrangimentos relevantes destas categorias interagem para influenciar o desempenho (Araújo, 2005 cit. por Correia, 2013).

5 - Classificação dos métodos de treino para o futebol A temática da classificação dos exercícios de treino tem sido alvo de vários estudos e reflexões dos mais de diversos autores, na tentativa de uniformizar a terminologia, facilitando desta forma a comunicação entre a comunidade conectada ao treino desportivo de futebol. No entanto, esta não é uma matéria sobre a qual se chegue facilmente a um entendimento ou consenso global. Os métodos de treino que o treinador poderá utilizar no seu quotidiano diário são imensos, existindo uma variabilidade enorme de opções, não havendo portanto uma fórmula única e correta de abordar o treino desportivo no jogo de futebol. Percorrendo alguns autores conseguimos classificar os exercícios de treino existentes. Segundo Bragada (2000), vários autores da Teoria Geral do Treino Desportivo têm tentado classificar os exercícios. Para Manno (1990) os exercícios no desporto podem ser classificados segundo vários critérios, como a finalidade (desenvolvimento da resistência, da força, etc.), pela globalidade ou pelas zonas musculares implicadas, ou então, com base na afinidade que exige entre o rendimento desportivo e o exercício escolhido. Bragada (2000) resume o anteriormente referido ao afirmar que é necessária uma classificação racional e funcional, na qual os exercícios se associam aos fins e objectivos do treino, no contexto que realmente os justifica o da respectiva modalidade. Ainda Bragada (2000) para a classificação dos exercícios tem por base três critérios de referência (a) o exercício específico da competição (modalidade); (b) forma interna: características particulares do sistema neuromuscular e metabólica e (c) a forma externa: sequencia dos movimentos, classificando os exercícios em: 1- Competitivos prática das competições em condições reais ou simuladas; 2 - Específicos - formas externas muito similares à sequência de movimentos competitivos, mas que apresentam desvios nas características de carga e/ou apenas abordam alguns elementos ou combinações complexas da competição. Podem privilegiar aspectos condicionais, coordenativos ou tácticos; 3- Dirigidos Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 83

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- solicitam os grupos musculares responsáveis pelo rendimento competitivo, e/ou as capacidades coordenativas que lhe estão na base; 4- Gerais - Todos os restantes não compreendidos nas situações anteriores. Queirós (1986), definiu a seguinte classificação de exercícios tendo em atenção um conjunto de reflexões de outros autores, no domínio específico do treino de futebol: - Os Exercícios fundamentais: são todas as formas de jogo que incluem a finalização como estrutura elementar fundamental; ou seja são todos os exercícios em que, qualquer que seja a forma, a estrutura e a organização da actividade, a finalização (obtenção de golo), representa, no domínio das tarefas definidas, a meta fundamental a atingir. Este tipo de exercícios contempla três formas fundamentais distintas: i. Forma Fundamental I – ataque sem oposição sobre uma baliza; ii. Forma Fundamental II – ataque contra defesa sobre uma baliza; iii. Forma Fundamental III – ataque contra defesa sobre duas balizas. - Os exercícios complementares: são todos aqueles em que, qualquer que seja a forma ou a estrutura organizadora da actividade, não incluem como estrutura de base fundamental a finalização; estes exercícios podem ser ainda caracterizados pelas: i. Formas integradas – são exercícios que incluem elementos de dois ou mais factores de preparação; ii. Formas separadas – são aqueles que incluem elementos de um factor de preparação e se desenvolvem fora das condições de jogo

Construir uma classificação metodológica universal, parece assim, ser uma tarefa que muito complexa mas de elevada utilidade. A tabela abaixo apresentada, representa algumas dessas tentativas realizadas por vários autores ao longo dos últimos anos:

Tabela 8 - Taxonomias classificativas de exercícios de treino de futebol (adaptado de Faria, 2010)

Autor

Ano

Wade (1976) cit. Queiroz (1986)

1976

Worthington (1980) cit. Queiroz (1986)

1980

Academia Internacional da

1984

Categoria - Introdutórios - Grupo ou classe - Jogo - Treino técnico com bola - Treino funções - Treino fases (sectores) - Treino de Jogo (jogos reduzidos) - Introdutórios - Superiores

Sub-Categoria

Atividades Individuais (jogador/bola)

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Fifa (1984) cit Queiroz (1986) - Competitivos

- Fundamentais (finalização é fator fundamental) Queiroz

1986 - Complementares (finalização não é fator fundamental)

Atividades c/ Companheiro (ataque x defesa) Atividades Grupo (função na equipa) Atividades Equipa (ataque x defesa) Fundamental I: Ataque x 0 + GR Fundamental II: Ataque x Defesa + GR Fundamental III: GR + Defesa x Defesa + GR Integrados Separados

Corbeau

1989

Castelo

1996

Castelo

1996

Godik & Popov

1998

Cook

2001

Castelo

2003

Castelo

2004 / 2006

- Simples - Intermédios - Complexos - Jogos Aplicação - Competição - Especiais - Gerais - Técnicos - Tácticos - Físicos - Especializados - Não especializados - Correção do posicionamento das ações táticas - Técnicos, descontextualizados das situações de jogo - Jogo Condicionado - Aumento do número de repetições na unidade de treino - Circulações Táticas - Potenciação do comportamento Técnico - Tático específico do jogador dentro da organização tática da equipa - Potenciação das fases de Jogo ofensiva e defensiva - Situações de jogo - Preparação Geral (sem utilização da bola) - Específico de preparação geral (sem finalização) - Específico de preparação (com finalização) - Descontextualizados - Conservação posse bola - Organizados em Circuito

Propriamente Ditos Adaptados

Situacionais Estandardizados

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- Lúdico – Recreativos - Concretização do Objetivo do Jogo - Metaespecializados - Padronizados - Setores - Situações Fixas de Jogo - Competitivos

Analisando a tabela, podemos observar que as formas de classificação dos exercícios ao longo da história do treino desportivo de futebol pelos mais diferentes autores, são suportadas por diferentes categorias e regidas segundo diferentes critérios. Para efeitos de estudo e recolha de dados a realizar neste trabalho de investigação, irá ser utilizada a taxonomia proposta por Castelo (2009). Segundo este, foi sua intenção, com a construção desta taxonomia, classificar e ordenar toda uma panóplia de métodos e meios, com carácter geral e específico existente para o ensino/treino de futebol. Estabelecendo e respeitando simultaneamente, um conjunto de regras orientadoras, sob as quais assentam pressupostos lógicos e inteligíveis, suportados por conhecimentos atualizados do jogo (Castelo, 2009). Nesta classificação dos métodos de treino, importa também estabelecer as suas subdivisões, ordenando-as e interligando-as funcionalmente segundo conceitos, ou seja, sobre uma ideia ou representação geral, baseada em diferentes níveis de complexidade (leia-se aproximação à realidade competitiva) (Castelo, 2009).

São assim considerados nesta taxonomia: 5.1 - Métodos de preparação geral (MPG) Segundo Castelo (2009), no âmbito dos métodos de preparação geral estes não incluem a bola regulamentar de jogo como elemento central de decisão/ação dos jogadores, isto é, elimina-se a funcionalidade das conexões entre informação específica e disponível da ação de jogo. Fomentam a preparação multilateral dos jogadores, direcionam os processos de recuperação e, criam uma base funcional sobre a qual se apoiam de forma sustentada os outros métodos de treino (Castelo, 2009). Este tipo de métodos manifesta-se na mobilização das capacidades condicionais gerais e específicas que suportam o jogo de futebol, tais como:

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• Resistência (Aquisição /Processos de Recuperação – Regeneração); • Força; • Velocidade; • Flexibilidade;

Neste âmbito relacionado exclusivamente com a dimensão física, consideramos de igual forma as inter-relações entre as várias capacidades, como por exemplo: a força de resistência, velocidade resistente, etc. Enquadramos igualmente nesta família as questões relacionadas com a coordenação, com o equilíbrio e ritmo/cadência motora (Castelo, 2009). No presente trabalho para efeitos de recolha de dados, serão ainda diferenciados e distinguidos os exercícios de preparação geral referentes aos processos de mobilização articular (Ativação/preparação inicial do organismo para a parte principal do treino.

5.2. Métodos específicos de preparação geral (MEPG) De acordo com Castelo (2009), no que se refere aos métodos específicos de preparação geral, estes utilizam a bola como centro de decisão/ação dos jogadores e da equipa, num contexto espacial, temporal, numérico e instrumental adaptado, no sentido de se estabelecer conexões relevantes do jogo entre informação e ação, mas que têm como objetivo imediato atingir o objetivo do jogo: o golo. Todavia, abrindo-se esta possibilidade, esta jamais será realizada de forma imediata e espontânea, isto é, será sempre necessário cumprir com êxito um conjunto de tarefas intermédias, predeterminadas para posteriormente usufruir de condições regulamentares para a concretização do golo (Castelo, 2009). Existem quatro tipos básicos de MEPG: (1) aperfeiçoamento das ações específicas do jogo (também denominados de descontextualizados), (2) manutenção da posse de bola, (3) organizados em circuito e, (4) lúdico/recreativos.

5.2.1. Aperfeiçoamento das ações específicas do jogo (Descontextualizados) Estes métodos de treino são conceptualizados e operacionalizados, através de um conjunto de decisões/ações específicas, as quais, são realizadas sem terem em conta, os contextos situacionais que, o jogo de futebol estabelece e desenvolve (Castelo, 2009). Estão relacionados fundamentalmente com o desenvolvimento e aperfeiçoamento das ações técnicas

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de base que sustentam a componente decisória/motora do jogo de futebol, sob condições de execução descontextualizadas da complexidade tático-estratégica da competição.

5.2.2. Manutenção da posse de bola Os métodos de treino para a manutenção da posse de bola são realizados no sentido de manter as conexões decisão/ação emergentes no jogo, na direção de um objetivo concreto e útil, mas condicionando-a à impossibilidade de finalizar (Castelo, 2009). Não havendo possibilidades imediatas de atacar a baliza adversária, os jogadores e a equipa deverão ter a capacidade de manter a bola em seu poder, pautando as suas decisões/ações pelo lado da segurança e equilíbrio, garantido o controlo momentâneo do jogo, de forma a evitar as constantes recuperações de bola do adversário e perigosas transições na direção da sua baliza. Este tipo de métodos desenvolve-se sobre as seguintes subdivisões: Tabela 9 - Subdivisões dos métodos de treino manutenção posse de bola (Adaptado Castelo, 2009)

MEPG

Categorias

Descrição

Espaço reduzido

Manutenção de posse de bola

Espaço regulamentar

Métodos de jogo

Áreas de jogo reduzidas e descontextualizadas (Fomento da relação velocidade/ Qualidade de decisão / execução Próximo das condições reais de jogo /Espaços específicos – direccionalidade dos comportamentos Objetivos intermédios – acesso a espaços específicos – Possibilidade de concretização objetivo do jogo

Variantes Manutenção Objetivo do exercício encerra-se na manutenção da posse de bola dentro de um mesmo espaço de jogo

Objetivos táticos múltiplos Pretende-se que o sucesso obtido na manutenção da posse de bola seja um objetivo intermédio do exercício para posteriormente atingir o sucesso na sua finalidade fundamental

5.2.3. Organizados em circuito Os métodos de treino organizados em circuito têm na sua matriz fundamental, o desenvolvimento de um conjunto de tarefas motoras diferenciadas ou similares, do ponto de vista técnico, técnico-tático, físico, …, sendo cumpridas em torno de um espaço, cujo regresso Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 88

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volta sempre ao ponto de partida, independentemente do número de vezes que este é realizado (Castelo, 2009). As tarefas a realizar durante o circuito poderão ser individuais ou grupais, mais ou menos complexas do ponto de vista tático-técnico ou mais ou menos exigentes do ponto de vista fisiológico.

5.2.4. Lúdicos/Recreativos Estes métodos de treino têm na sua raiz lógica estrutural e funcional, a criação de um sentido de tensão modelada (em termos energéticos, emocionais e sociais) de carácter individual e grupal, uma vez que se formula, na maior parte dos casos, em situações “jogáveis” e, simultaneamente, de alegria, de divertimento, de prazer, uma vez que o produto final desse “jogo” não é o resultado numérico atingido (vitória ou derrota),mas sim e, fundamentalmente, o momento vivido. (Castelo, 2009) Pretendem-se fomentar as relações intrapessoais e interpessoais dos jogadores, apelando ao seu lado emocional inerente à sua dimensão humana.

5.3. Métodos específicos de preparação (MEP) Segundo Castelo (2009), Os métodos específicos de preparação (MEP) constituem-se como o núcleo central da preparação dos jogadores e das equipas, considerando constantemente as condições estruturais e funcionais em que os diferentes contextos situacionais de jogo se verificam. Estes estabelecem uma relação particular, definida e direcional, com o grau de recrutamento dos recursos dos jogadores. Ora, como o grau de mobilização desses recursos depende predominantemente do nível de adaptabilidade dos jogadores e da equipa ao processo de preparação, este processo consubstanciará uma maior ou menor pressão sobre os mecanismos de adaptação individual e colectiva. Individual, porque mobiliza os fatores de ordem fisiológica, psicológica e motora. Colectiva, porque envolve fatores de carácter estrutural, funcional e relacional (modelo de jogo adotado) (Castelo, 2009). Através da utilização destes métodos garantimos uma maior adaptabilidade funcional dos jogadores à competição, através da criação de contextos e dinâmicas situacionais que possuam na sua conceção e operacionalização, regularidades comportamentais fundamentais que caracterizam a lógica interna do jogo de futebol. Existem seis tipos básicos de MEP: (1) Finalização (também denominados para a concretização do objetivo do jogo); (2) Potenciação das missões táticas dos jogadores no quadro da organização da equipa (também denominados de Metaespecializados); (3) Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 89

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Desenvolvimento de padrões e rotinas de jogo (Também denominados de padronizados); (4) Sincronização das ações dos jogadores pertencentes a um mesmo setor, bem como a sua interação com os demais setores da equipa (também denominados de setoriais e intersectoriais); (5) Desenvolvimento dos esquemas táticos; (6) Competitivos com diferentes escalas de aproximação à realidade. 5.3.1 Finalização (Concretização do objetivo do jogo) A prática sistemática dos métodos de treino de finalização cria condições favoráveis ao aperfeiçoamento e desenvolvimento da ação tático/técnica de remate, que é “simplesmente” a ação mais importante do jogo de futebol. Desenvolvem-se assim, contextualidades situacionais de carácter individual e coletivo propício à concretização do golo, de forma imediata e consecutiva (Castelo, 2009). Podemos classificar este tipo de métodos perante as seguintes subdivisões: Tabela 10 - Subdivisões dos métodos de treino de finalização (concretização do objetivo do jogo) (adaptado de Castelo, 2009)

MEP (Tipo)

Categorias Individualizados

Finalização (Concretizaçã o do objetivo do jogo)

Após Combinação Tática

Circuito

Nº reduzido de jogadores e espaço

Descrição Potenciam o aperfeiçoamento da ação técnica de remate à baliza, para concretização do golo, sob condições de reduzida complexidade; Podem ser precedidos de trabalho físico A ação final de remate à baliza para concretização do golo, é preenchida por combinações táticas simples, diretas que representam a articulação/interação de um grupo de jogadores perante contextos situacionais parciais do jogo Desenho padronizado de um conjunto de estações comportando ações e comportamentos diferenciados ou semelhantes, mais ou menos complexos, que objectivam a finalização, e que os jogadores têm de realizar continuamente, com tempos de recuperação curtos e ativos, assegurando uma elevada densidade de solicitação motora/mental. Criação de contextos de treino competitivos e motivantes, que devido à sua reduzida área de jogo e reduzido número de jogadores, potencia as decisões/ações de finalização em situações de complexidade aumentada

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6.3.2. Potenciação das missões táticas dos jogadores no quadro de organização da equipa (Metaespecializados) Todas as equipas promovem uma colocação específica da equipa dentro dos limites estabelecidos pelas Leis do jogo. Esta ocupação espacial exprime-se numa área mais ou menos alargada, que se expande ou se comprime em função de um imaginário baseado em corredores (laterais e central) e de sectores (defensivo, intermédio e ofensivo). Neste âmbito, ao delimitarmos os espaços de atividade dos jogadores, objetivamos a racionalização e a otimização das acções individuais e coletivas, durante a fase ofensiva e defensiva do jogo, estabelecendo um tempo e um espaço concreto de intervenção, no qual cada jogador decide e age de forma adequada, em função dos problemas levantados pelas condições de variabilidade situacional (Castelo, 2009). Pretende-se através da utilização destes exercícios potenciar as missões táticas dos jogadores dentro da organização estrutural coletiva da equipa.

6.3.3. Desenvolvimento de padrões ou rotinas de jogo (Padronizados) Estes meios suportam-se num conjunto de rotinas e sub rotinas de jogo, manifestadas na análise das regularidades comportamentais individuais e coletivas da equipa, as quais apresentam um elevado grau de probabilidade de ocorrerem, relativamente a outras plausíveis ou possíveis, tanto no ataque como na defesa (Castelo, 2009). Fomentam e induzem determinados comportamentos e tomadas de decisão dos jogadores, no sentido individual, na articulação intrassectorial ou intersectorial, como fazendo parte de uma organização coletiva superior. Apesar desta necessidade de interação nos diferentes níveis de organização da equipa (jogador, sector e entre sectores), todas as decisões/ações executadas pelos jogadores, mantêm um certo grau de autonomia, improvisação e criatividade, na direção de um projeto e objetivo comum (Castelo, 2009).

6.3.4. Sincronização das ações dos jogadores pertencentes a um mesmo sector, bem como a sua interação com os demais sectores da equipa (Setoriais e intersetoriais) A matriz fundamental destes meios de treino, deriva da existência de uma actividade individual e cooperativa dos jogadores pertencentes ao mesmo sector (defensivo, intermédio e ofensivo) ou em articulação com os outros sectores de jogo, denominado de trabalho intersectorial. Neste âmbito, programa-se e operacionaliza-se de forma simultânea ou Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 91

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sequencial, através da qual se envolve todos ou parte dos elementos pertencentes a cada sector de jogo, bem como sincronizando-os com a ação dos elementos radicados em outros sectores de jogo (Castelo, 2009). Este tipo de exercícios, tornam-se fundamentais na organização particular e geral da equipa, articulando e sincronizando as suas partes micro e macro numa dinâmica lógica e funcional. Podem ser desenvolvidos nas seguintes subdivisões: Tabela 11 - Subdivisões dos métodos de treino sectoriais (adaptado de Castelo, 2009)

MEP (Tipo)

Categorias Articulação intra sectorial (1 setor de jogo) Sobre 2 ou 3 setores de jogo

Secundados por métodos de jogo ofensivos

Setores

Objetivos estratégicos e táticos múltiplos

Em espaços regulamentares (organização colectiva)

Ondas (3 equipas)

Descrição Preocupação com a interacção entre um grupo de jogadores que desenvolvem de forma coordenada as suas ações dentro de um mesmo setor de jogo Preocupação com a interação de um grupo de jogadores não apenas dentro de um mesmo setor de jogo mas também comunicação com outros setores de jogo Preocupação em criar condições de articulação inter sectorial que concretizem os comportamentos inerentes à organização ofensiva da equipa no seu modelo de jogo Criar condicionantes no exercício de treino que façam emerger comportamentos de articulação intra e intersetoriais que comportem soluções de resolução tático-estratégicas variadas Aquisição cognitivo-motora (contra oposição alternada passiva-ativa) dos comportamentos ofensivos ou defensivos pretendidos para um próximo momento de competição específico. Exercício realizado dentro dos espaços regulamentares (à escala) Elevada transitoriedade de momentos de confrontação entre 3 equipas numa dinâmica sequencial de duelos 1x1+1 (sendo que a equipa a entrar substitui a equipa que não concretizou objetivos delineados para o exercício)

6.3.5. Desenvolvimento de esquemas táticos Segundo Castelo (2009), operacionalmente estes meios de treino desenvolvem-se num quadro de uma dada sincronização e, sequência comportamental individual e coletiva. Neste sentido, racionaliza-se comportamentos e soluções estratégicas/táticas em função da situação de jogo, encontrando-se as melhores condições de êxito com vista à concretização dos objetivos do ataque ou da defesa. Procuram-se através destes métodos, desenvolver na equipa um conjunto de soluções que sejam pré determinadas e padronizadas naquilo que são as Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 92

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rotinas e princípios macro que sustentam o modelo da equipa para estas situações, e que ao mesmo tempo comportem uma elevada adaptabilidade tático-estratégica em função do contexto específico em que estas se irão desenrolar em competição. 6.3.6. Competitivos com diferentes escalas de aproximação à realidade A conceptualização e a aplicação de métodos de treino competitivos consubstanciam uma adaptação funcional, quer individual, bem como coletiva, mais completa, complexa e específica dos jogadores à realidade competitiva do jogo de futebol. Contribuindo assim, com especial eficácia na harmonização entre as várias componentes do processo de treino ajustando os fatores de preparação de carácter individual, sectorial, intersectorial e da equipa (Castelo, 2009). A aleatoriedade e imprevisibilidade e transitoriedade de cenários que sustentam o jogo de futebol estão aqui contextualizadas e simuladas, assim como a necessidade fundamental das ações individuais e coletivas da equipa se traduzirem em meios de organização táticos e estratégicos de qualidade superior, que se traduzam em elevados níveis de competitividade e rendimento. Estes exercícios podem ser desenvolvidos sobre várias subdivisões, maioritariamente resultantes dos diversos condicionalismos estruturais já abordados anteriormente, que lhes podem ser aplicados. Para análise específica deste trabalho abordaremos as seguintes classes: Tabela 12 - Subdivisões dos métodos de treino competitivos (adaptado de Castelo, 2009)

MEP (Tipo)

Categorias

Fundamentais

Função de uma ação individual/ coletiva

Competitivos

Dividindo o tempo em jogos parciais Em função das situações fixas Controlo do tempo de jogo Em função do resultado

Descrição Preocupação com a aproximação das condições de treino à competição na sua lógica regulamentar, podendo eventualmente haver um ajuste nas condições estruturais no que respeita ao número de jogadores (sempre igual nas duas equipas), o espaço de jogo disponível e, o tempo de jogo do exercício Possibilidade de valorização de determinado comportamento / ação técnica, tática ou estratégica de cariz ofensivo ou defensivo Fomento da atitude competitiva, possibilitando às equipas a discussão da vitória final (na globalidade do exercício), após a contabilização do número de vitórias, empates ou derrotas nas situações competitivas parciais Potenciar durante o exercício competitivo o surgimento deste tipo de situações e valorizar o golo obtido resultante através destas Induzir nos jogadores e equipas a necessidade de controlar o tempo de jogo, penalizando ou valorizando a obtenção do golo nos chamados “tempo chave” em que tem um maior impacto a sua obtenção Desequilíbrio constante do resultado de jogo, resultado da vontade própria ou condições estabelecidas previamente pelo treinador, que propicia uma constante

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Número de toques Desequilíbrio numérico

readaptação comportamental individual e colectiva às equipas em competição em função da sua situação momentânea de jogo (Vantagem/ Desvantagem) Aumento do processamento de informação e tomada de decisão / Aceleração da execução da resposta técnicotática / Elevação do ritmo das ações de jogo Manipulação das condições momentâneas de jogo de uma equipa, provocando desigualdades numéricas que promovam readaptações constantes como forma de resposta à situação contextual de jogo

O organograma seguinte sintetiza a totalidade da taxonomia anteriormente apresentada:

Figura 22 - Organograma da taxonomia classificativa de exercícios de treino para o futebol (adaptado Castelo, 2009)

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Rui Alexandre Horta Viera - Conceptualização do modelo de jogo Tabela 13 - Organização dos métodos de treino e as suas Dimensões (adaptado de Almeida, 2014)

Dimensão Horizontal (Grandes famílias de exercícios – Diferenciação/ Individualização) MPG (Métodos de preparação geral)

MEPG (Métodos específicos de preparação geral)

Não incluem a bola regulamentar de jogo como elemento central de ação/decisão dos jogadores

Utilizam a bola como centro da ação em contextos de jogo adaptados /Não têm como objetivo imediato atingir o objetivo de jogo: o golo

MPG (Métodos de preparação geral)

MEPG (Métodos específicos de preparação geral)

MEP (Métodos específicos de preparação) Núcleo central de preparação dos jogadores e da equipa / Consideram constantemente as condições estruturais e funcionais em que os diferentes contextos situacionais de jogo se verificam MEP (Métodos específicos de preparação)

Dimensão vertical (Divisões de cada Macro Família) Resistência (aquisitiva) Resistência (corrida regenerativa) Força Velocidade Flexibilidade Coordenação motora Mobilização articular / Ativação

Aperfeiçoamento técnico Manutenção da posse de bola (MPB) Organizados em circuito Lúdico/Recreativos (L-R)

Finalização Metaespecializados Padronizados Setoriais e intersetoriais Esquemas táticos / Bolas paradas (E.T.) Competitivos

Dimensão Diagonal (Sub divisões – Interatividade dos diferentes métodos Para esta dimensão apenas vão ser referenciadas as subdivisões dos métodos que no decorrer da análise efectuada à dimensão vertical, mostraram uma interactividade conceptual e operacional, justificativa de ser analisada mais pormenorizadamente

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Capitulo IV – Apresentação e discussão dos resultados

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1 - Análise Global – Análise global aos métodos de treino utilizados ao longo da época desportiva Dimensões Taxonómicas A estrutura e funcionalidade da taxonomia baseia-se numa dimensão lógica e representação geométrica, baseada em três eixos directores fundamentais: (i) o horizontal. Agrupa as grandes famílias dos métodos de treino, partindo do seu arco conceptual, o qual, por sua vez, assenta numa identidade com características exclusivas e individualizáveis, bem como de uma integridade metodológica decorrente da realidade competitiva (ii) o vertical. Estabelece as diferentes subdivisões que todos os métodos de treino agregam e desenvolvem no quadro do seu perímetro conceptual, evidenciando contextos situacionais de jogo de maior ou menor complexidade e dificuldade e (iii) o diagonal. Atende à interactividade dos diferentes métodos de treino, através das suas subdivisões, as quais em certas condições e circunstâncias poderão pertencer a diferentes eixos ou deslocar-se de um eixo horizontal ou vertical para outro (Castelo, 2015b). 1.1. Dimensão horizontal O primeiro pressuposto estrutural para a diferenciação dos vários métodos de treino, suporta-se na utilização, ou não, do instrumento mais importante do jogo de futebol: a bola. Com efeito, partindo de uma visão dualista do jogo, considera-se que a equipa estando em posse de bola ataca, enquanto a outra defende. Independentemente do cumprimento, ou não, das finalidades e objetivos inerentes a cada uma destas fases do jogo. Na verdade existe a possibilidade, em virtude de certas circunstâncias do jogo, a equipa que detém a posse da bola não ter qualquer intenção em atingir o golo. Apesar do referido, seja qual for a posição do jogador no quadro da sua organização dinâmica, este será sempre um potencial atacante ou defesa, quando a sua equipa detiver, ou não, a posse da bola. Todavia, do ponto de vista do processo de treino, a bola por si só, nada representará se não estiver integrada em contextos situacionais de jogo, em que se define por exemplo: um determinado espaço de prática, a utilização, ou não, das balizas ou de outros instrumentos representativos, de jogadores em condições de cooperação ou oposição, a utilização de prescrições que constrangem o sistema decisório e motor dos jogadores, entre outros aspetos. Nesta questão é evidente não ser absolutamente necessário que todos estes constrangimentos estejam representados, no mesmo momento, para a persecução das tarefas inerentes aos diferentes métodos de treino. De forma diametralmente oposta, os métodos de treino que não envolvam a utilização da bola Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 97

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regulamentar de jogo, impossibilita de imediato a concepção e operacionalização de contextos situacionais que determinam a construção de uma correta atitude ofensiva e defensiva, a tomada de decisões emergentes relativamente às informações relevantes proporcionadas pelo meio envolvente e da execução de comportamentos específicos de forma a solucionar as diferentes situações de jogo. No caso vertente evita-se que os jogadores explorem as suas possibilidades de intervenção no desenvolvimento de cada tarefa proposta. Em resumo, os métodos de treino que não utilizam a bola como elemento central de decisão/ação dos jogadores, desenvolvem-se, primordialmente no sentido do melhoramento das suas capacidades físicas, de forma individualizada ou interdependente (Castelo, 2015b). O segundo pressuposto estrutural na diferenciação dos métodos de treino baseia-se na concretização objectiva, o maior número de vezes possível, da finalidade do jogo: o golo, ou em simultâneo, bem como em separado evitar a sua concretização. A formação e o aperfeiçoamento da organização de uma equipa de futebol, passa inevitavelmente pelo seguinte objetivo: marcar golos na baliza adversária e evitá-los na própria baliza, pois só assim se atingirá a vitória. Esta premissa, que habitualmente não é mencionada pela sua “clara evidência”, é aquela que condiciona todo o trabalho coletivo. Logo, como princípio de base, todas as decisões/ações se dirigem na perseguição desta finalidade intrínseca do jogo, atingindo-a ou evitando-a o maior número de vezes. Assim, marcar golos e evitá-los é a finalidade do jogo, quando despida de qualquer estratégia particular pré-definida e independentemente do contexto tático e das circunstâncias competitivas em que cada equipa se encontre. Para a concretização do objetivo do jogo, utiliza-se inevitavelmente balizas regulamentares e os correspondentes guarda-redes, bem como contextos situacionais de oposição e cooperação, mediados por diferentes tipos de complexidade e dificuldade, os quais se aproximam, significativamente, ou não, das condições de luta competitiva (Castelo, 2015b). A primeira via de análise, classifica os métodos de treino segundo a sua dimensão horizontal, tendo os seguintes resultados:

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Rui Alexandre Horta Viera - Conceptualização do modelo de jogo Tabela 14 - Análise global: Resultados da dimensão horizontal

Métodos de treino (Dimensão horizontal) Preparação Geral geral (MPG) Ap. Técnico Específicos de M. Posse de bola preparação Circuito geral (MEPG) Lúdico-recreativos Finalização Metaespecializados Específicos de Padronizado preparação Setores (MEP) Esquemas táticos Competitivos Total

TOTAL

%

1631

31

1034

19

2694

50

5359

100

Dimensão Horizontal MPG 31% MEP 50% MEPG 19%

Figura 23 – Análise global: Percentagens relativas dimensão horizontal

Ao analisar os resultados obtidos, na totalidade das sessões de treino analisadas, verificamos a relevância dos métodos específicos de preparação, com o valor de 50% do volume total de treino. Este dado, vai ao encontro da opinião de Castelo (2009), quando refere que os MEP constituem-se como o núcleo central da preparação dos jogadores e das equipas, considerando constantemente as condições estruturais e funcionais em que os diferentes contextos situacionais de jogo se verificam. Consubstanciando-se estes como potenciadores fundamentais da utilização dos recursos comportamentais específicos que sustentam a lógica interna do jogo de futebol, a sua predominância de utilização em relação aos demais é sustentada pela elevada adaptabilidade que estes transportam no transfer treino/competição. Esta adaptabilidade é expressa na funcionalidade, que se pretende que seja ótima, dos comportamentos individuais e coletivos inerentes ao modelo de jogo do treinador. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 99

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Os Métodos de preparação geral e os Métodos específicos de preparação geral, foram utilizados em percentagens inferiores aos Métodos específicos de preparação, tendo os MPG um

volume

superior

relativamente

aos

MEPG.

Estando

a

conceptualização

e

operacionalização de ambos relacionada com o complemento e suporte que estes conferem aos praticantes e às equipas, a sua utilização não poderá ser desvalorizada. Os MPG no recurso ao desenvolvimento das qualidades físicas de suporte ao jogo, e os MEPG, na potencialização da relação do jogador com a bola e das inter-relações básicas em condições de reduzida complexidade quer de cooperação (entre colegas de equipas) quer de oposição (contra adversários), são complementos essenciais de suporte à atuação central e primordial quer em condições virtuais (treino) ou em condições reais (competição).

1.2. Dimensão vertical Ao estabelecermos as diferentes classes ou famílias dos métodos de treino (dimensão horizontal da taxonomia) importa de imediato dar-lhe profundidade sistematizando a panóplia de possibilidades de concepção e aplicação de meios de preparação dos jogadores e das equipas (dimensão vertical da taxonomia). Esta dimensão vertical identifica, estrutura e organiza os diferentes métodos de treino. Segundo diferentes conceitos, objetivos, regras e momentos próprios de aplicação durante a sessão ou do microciclo de preparação dos jogadores ou das equipas, mantendo-os unidos no quadro de uma matriz lógica, inteligível e metodológica de um processo de preparação (Castelo, 2015b).

Entrando nas divisões que caracterizam cada macro família taxonómica, podemos constatar os seguintes resultados:

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Total

%

Métodos de treino (Plano anual / Global) Geral 1631 MPG Ap. Técnico 272 M. Posse de bola 690 MEPG Circuito 55 Lúdico-recreativo 17 Finalização 437 Metaespecializado 123 Padronizado 95 MEP Setores 430 Esquemas Táticos 50 Competitivos 1559 5359 Dimensão Vertical

Dimensão Horizontal

Tabela 15 - Análise global: Resultados da dimensão vertical

31% 5% 13% 1% 0.3% 8% 2% 2% 8% 1% 29% 100%

Dimensão Vertical

Esquemas Tácicos 1%

Competitivos 29%

Setores 8% Padronizados Metaespecializa Lúdico2% Finalização Recreativo dos 8% 2% 0%

MPG 31%

Ap. Técnico 5% Circuito 1%

M. Posse Bola 13%

Figura 24 – Análise global: Percentagens relativas dimensão vertical

Podemos constatar uma predominância da utilização dos métodos de preparação geral, dos métodos de treino competitivos e dos métodos de treino de manutenção de posse de bola. Em sentido inverso os métodos de treino lúdico-recretivos foram utilizados numa percentagem bem próxima do zero (0.3%) e, os métodos metaespecializados (Potenciação das missões táticas dos jogadores no quadro de organização da equipa), padronizados (desenvolvimento de padrões ou rotinas de jogo) e em circuito tiveram uma utilização diminuta. De um modo geral, a explicação para estes fatores deve-se, à escolha de métodos competitivos (práticas do jogo em situações reduzidas e próximas do real tanto em espaço como em número de jogadores), como método preferencial para o desenvolvimento do Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 101

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método

de

jogo

da

equipa,

combinando

diferentes

estruturas

(defesas/médio,

médios/avançados, defesas/avançados, e todas as variantes decorrentes das missões táticas delineadas em cada microciclo, em função dos objetivos propostos a alcançar). Os métodos de esquemas táticos apresentam um valor muito baixo, este fundamento deve-se a uma opção técnica que devido ao pouco tempo para treinar (apenas três sessões semanais) optou por não treinar situações fixas de jogo, sendo treinadas apenas após a mudança da equipa técnica. Os exercícios de sectores representaram a segunda maior percentagem de MEP utilizados, representando cerca de 8% do tempo total de treino. Foram utilizados com vista a sincronizar e desenvolver a articulação dos sectores da equipa e entre os sectores da equipa. Estes foram, igualmente, os métodos escolhidos para o treino de pontuais adaptações ao modelo de jogo e, acima de tudo, para possibilitar o treino estratégico/tático de preparação para a confrontação com os diferentes adversários. No modelo de jogo adotado pela equipa, a mobilidade posicional delineada para o processo ofensivo, era muito reduzida, dando preferência a uma estrutura menos flexível e mais rígida no posicionamento dos jogadores, com poucas permutas e compensações. Sendo assim o método de treino metaespecializado é o método que melhor permite dentro do espaço de jogo, a indução de uma especialização comportamental para as missões inerentes a cada posicionamento tático, reproduzindo assim em processo de treino, as especificidades do modelo pretendido. O método de treino por setores consubstancia a dinâmica de jogo, nas interacções entre os setores e as alternâncias posicionais entre os jogadores dentro do sistema de jogo da equipa. Analisando os valores obtidos, o método metaespecializado apresenta uma percentagem inferior ao método por setores. Penso que este tipo de exercícios poderia ter tido um maior impacto no processo de preparação da equipa, servindo o método sectorial de complemento ao mesmo. Os MPG foram os métodos mais utilizados, com 31%. A maior percentagem de MPG verificou-se ao nível do trabalho de resistência (40%) e mobilização articular (24%), seguidos dos trabalhos de força (15%), flexibilidade (14%) e velocidade (7%). Os aquecimentos ocuparam uma parte do trabalho de resistência e flexibilidade (no seu total 44%). A percentagem dos aquecimentos é explicada pela opção de iniciarmos as sessões de treino, maioritariamente com exercícios de mobilização geral. Nas restantes categorias, podemos constatar um equilíbrio naquilo que foi a necessidade de utilização de cada uma delas, tendo os métodos de posse de bola uma ligeira Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 102

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vantagem (13%), utilizada com objetivos táticos em espaços reduzidos ou manutenção em espaços reduzidos como parte do aquecimento e também os métodos de finalização (8%) com um valor igual ao trabalho sectorial nos MEP. As restantes percentagens refletiram valores bastantes proximais, o que reflete a diversidade e variedade de estímulos fornecidos à equipa ao longo de toda a época desportiva. Este princípio de treino metodológico da variabilidade, torna-se importante e fundamental, pois deve existir uma variabilidade de meios de preparação utlizados de modo a provocar uma menor monotonia nos contextos de exercitação, evitando assim uma possível estagnação do rendimento desportivo (Castelo, 2009). Na tentativa de perceber as razões que levaram às maiores percentagens de utilização dos métodos de preparação geral, métodos competitivos, e métodos de manutenção de posse de bola, podemos refletir sobre as seguintes questões: 1º - Métodos de preparação geral (qualidades físicas) (31%) Como já foi citado anteriormente, a utilização dos MPG está essencialmente relacionada com o desenvolvimento das qualidades físicas do jogador, que servem de suporte às ações técnicotáticas características do jogo de futebol. Sabendo também de antemão, que o desenvolvimento destas capacidades tem uma maior adaptabilidade funcional quando efectuado de forma específica, não podemos excluir os benefícios que a opção esporádica e circunstancial, por um trabalho deste género, poderá ter sobre a potencialização da dimensão motora do futebolista. A sua aplicação tem como objetivos, desde a necessidade de desenvolvimento isolado de uma ou outra qualidade física, aos processos de recuperação de esforços de elevada intensidade (caso da recuperação após competição), passando pela asseguração de uma transferibilidade contínua entre as sequências de exercícios de treino utilizadas na sessão de treino. Aprofundando a análise à utilização deste tipo de métodos constatamos os seguintes resultados:

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Métodos de Preparação Geral 40

22 14

13 7

Mobilização / Articular

Resistência

Força

Velocidade

4 Flexibilidade

Coordenação Mot.

Figura 25 – Análise global: Percentagens relativas subdivisões dos métodos de preparação geral

- Existe uma predominância do trabalho de resistência e do trabalho de mobilização articular / ativação inicial. Para perceber melhor o conceito de resistência no futebol, é necessário perceber e caracterizar o tipo de esforço a que um futebolista é sujeito durante a competição. O futebol incorpora períodos de exercício de alta intensidade intercalados com períodos de exercício de baixa intensidade (Svensson & Drust, 2005). Ekblom (1986), Reilly & Doran (2003) e Reilly & Thomas (1976) citados por (Svensson & Drust, 2005) referem que as demandas fisiológicas do futebol exigem que os jogadores para serem competentes, a sua aptidão física deve incluir potência aeróbia e anaeróbia, força muscular, flexibilidade e agilidade. O futebol é um desporto intermitente que se caracteriza por aproximadamente 1200 mudanças acíclicas e imprevisíveis de actividade (todas entre 3 a 5 segundos), envolvendo, entre outros, 30 a 40 sprints, mais de 700 mudanças de direcção, e 30 a 40 “tackles” e saltos. Além disso, o jogo requer outras acções intensas como desacelerações, remates, dribles, e “tackles”. Todos estes esforços impostos aos jogadores contribuem para tornar o futebol fisiologicamente muito exigente. Análises revelaram que os jogadores de futebol de primeira classe realizam 2 a 3 Km de alta intensidade de execução (> 15 km/h) e aproximadamente 0,6 quilómetros de sprint (> 20 km/h). Além disso, estas distâncias de corrida e sprint correspondem, respectivamente, a 28% e 58% mais que os níveis de jogadores de nível moderado profissionais (Iaia, Rampinini, & Bangsbo, 2009). A distância total percorrida durante um jogo é 10.86±0.18km para jogadores de topo e 10.33±0.26km para jogadores de Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 104

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nível moderado (Mohr, Krustrup, & Bangsbo, 2003). As equipas menos bem sucedidas apresentam maiores decréscimos na distância total de sprint percorrida durante uma partida, o que sugere que a capacidade de realizar actividades de alta intensidade ao longo de um jogo é muito importante. Cada uma das posições de jogo é caracterizada pelo seu próprio perfil de actividade e diferentes requisitos tácticos em relação ao movimento da bola. Os defesas centrais percorrem menos distância a alta intensidade de execução, enquanto os avançados realizam mais sprints e um número maior de actividade de alta intensidade, quando a equipa detém a posse de bola do que os médios centro e os defesas. Durante a segunda parte do jogo, a distância total e de alta intensidade sofre uma queda acentuada, com a quantidade de esforços de alta intensidade a apresentarem valores 20% a 40% menores nos últimos 15 minutos do jogo em comparação com os 15 minutos iniciais. Um maior decréscimo na corrida é observado quanto mais actividade for realizada na primeira parte do jogo. Estes resultados indicam que os jogadores apresentam níveis de fadiga no final de um jogo e, esporadicamente, durante um jogo (Iaia et al., 2009). A fadiga também pode ter um impacto negativo na precisão, com os jogadores menos aptos a mostrar uma deterioração mais acentuada no desempenho técnico (Rampinini et al., 2007). Segundo Mombaerts (1991) 61% do trabalho em jogo é realizado com predomínio da fonte aeróbia, com valores de VO2max de 60% a 75% e com velocidade de 3 a 10Km/h; 24% do trabalho é desenvolvido no limiar anaeróbio conforme a qualidade atlética do jogador com valores de 80% a 85% do VO2max e 10 a 17Km/h; cerca de 14% do trabalho é desenvolvido utilizando a capacidade anaeróbia aláctica, em “sprints” curtos de 2 a 3 segundos (10-15m) com velocidades compreendidas entre os 18 e 27Km/h. O mesmo autor alertou para o facto de ao longo dos anos haver uma evolução no volume de “sprints” curtos: 1947 (71); 1970 (145); 1985 (185); e 1989 (195). Mombaerts (1991) afirma que 50% do tempo de jogo se joga sem bola. No tempo que se joga com bola as acções desenvolvidas são: passes (33%); domínio e controlo de bola (20%); duelos 1x1a nível do terreno de jogo (20%); duelos 1x1 aéreos (10%); esquemas tácticos (10%); intercepções (5%); e remates (2%). Agnevik (1975) e Jacobs (1982) citados por Mombaerts (1991) constataram a existência de uma depleção quase completa dos “stocks” de glicogénio no final do jogo, relativamente aos dois tipos de fibras musculares. Esta “depleção” tem implicações ao nível da força muscular, prestação técnica e prestação motora ao nível das distâncias e intensidades dos deslocamentos.

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Resistência Específica Os jogos reduzidos podem ser usados como um modo eficaz de treino para melhorar a aptidão aeróbica e performance de jogo em jogadores de futebol. Não foram encontradas diferenças entre o treino específico e genérico (treino intervalado), a escolha do modo de treino aeróbio deve ser baseado principalmente na necessidade prática. Por exemplo, jogos reduzidos podem ser uteis para o treino de aptidão aeróbia e componentes táctico-técnicas simultaneamente. Este factor pode ser uma vantagem especialmente para jovens jogadores de futebol, promovendo a melhoria das habilidades motoras específicas do desporto. Além disso, o uso de jogos reduzidos aumenta a motivação dos jogadores e faz com que o treino aeróbio de alta intensidade seja mais aceitável da parte dos jogadores (Impellizzeri et al., 2006). Para preparar fisicamente um jogo, o planeamento do treino deve incluir várias actividades físicas específicas, como jogos modificados, treino táctico e treino técnico, bem como a realização de jogos de preparação (que são partidas de futebol competitivos) contra equipas adversárias. É evidente que cada actividade física durante o treino de futebol irá melhorar a condição física dos atletas de diferentes maneiras, colocando diferentes tipos de cargas fisiológicas aos jogadores (Eniseler, 2005). Os valores mais altos de frequência cardíaca ocorrem durante o jogo de futebol (frequência cardíaca média = 157 ± 19 b/min), e os valores mais baixos de frequência cardíaca ocorrem durante o treino técnico (frequência cardíaca média = 118 ± 21 b/min). Além disso, os valores médios da frequência cardíaca durante as actividades de treino táctico e técnico foram menores do que aqueles apresentados durante o jogo modificado. A razão para os valores mais altos de frequência cardíaca durante a partida e actividades de jogos modificados em comparação com os valores durante o treino táctico e técnico de futebol podem ser justificados porque o jogo é jogado com a presença física e pressão de um adversário. Os jogadores reagem a este tipo de pressão e movem-se mais rapidamente durante o jogo, o que resulta em aumento das taxas de frequência cardíaca (Eniseler, 2005). - O tempo utilizado em processos de mobilização articular/ ativação para parte principal do treino, sobressaiu dentro da dimensão relativa á preparação geral. Este tipo de trabalho é utilizado numa fase inicial da sessão e teve como principal preocupação, preparar especificamente o futebolista para a parte principal do treino, solicitando os grupos musculares e articulações que serão predominantemente utilizados nessa mesma fase. Normalmente, o volume por sessão deste tipo de exercícios não era muito elevado, mas a frequência com que foi utilizado, principalmente quando o clima era mais desfavorável, foi Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 106

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bastante elevada. A média encontrada para o volume de exercícios de mobilização articular por sessão de treino foi de aproximadamente 6 minutos por sessão. Esta percentagem de trabalho relativo à resistência, foi realizado sempre num contexto descontextualizado do jogo, onde o principal objetivo era desenvolver a resistência de base e a resistência aeróbia individual e coletiva através de circuitos ou percursos realizados sem bola. Quanto às restantes capacidades condicionais, é de destacar o equilíbrio existente nos valores relativos de utilização do trabalho de força e do trabalho de flexibilidade, o que denuncia uma preocupação com o desenvolvimento multilateral do atleta. A velocidade apresenta-se com a percentagem mais baixa dentro dos exercícios de preparação geral. Este tipo de trabalho foi utilizado como forma de particularizar o desenvolvimento físico da equipa, submetendo circunstancialmente o grupo de trabalho a um tipo de trabalho físico de carácter geral que fosse de encontro as suas carências momentâneas. Este trabalho foi sempre realizado em dominante física e sem regime técnico, fato que poderia ser melhorado, permitindo aos jogadores realizar uma ação técnica característica do jogo de futebol, aumentado assim o número de contactos com a bola e incrementar um fator motivacional (bola) neste tipo de trabalho. Ainda, no planeamento das ações técnicas a desenvolver sob a forma de regime, poderia existir uma preocupação com a especialização de funções decorrente dos posicionamentos e missões táticas de cada jogador dentro do modelo da equipa. Para além do desenvolvimento multilateral, importa perceber a forma como estas foram aplicadas no microciclo, tendo como base de preocupação o princípio da heterocronia. O gráfico seguinte demonstra os resultados obtidos:

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Capacidades Motoras / Microciclo de treino 3ª Feira

Resistência

Mob. Articular

Força

5ª Feira

6ª Feira

Flexibilidade Velocidade Coordenação Mot.

Figura 26 – Análise global: Distribuição das capacidades motoras pelos dias do microciclo semanal

Através da análise do gráfico, é perceptível a predominância do trabalho de desenvolvimento da força nos dois primeiros treinos do microciclo (terça feira e quinta feira) e nunca no último treino da semana (sexta feira). Nos dia de treino do microciclo mais próximo da competição existe imperou o desenvolvimento da velocidade (sexta feita). O trabalho de desenvolvimento da resistência foi realizado preponderantemente no início do microciclo com o primeiro treino (terça feira) a apresentar valores muito elevados em relação aos restantes dias do microciclo. Quanto à flexibilidade e a mobilização articular, observou-se uma distribuição relativamente homogénea pelos dias semanais. De destacar também que os dias mais relevantes de desenvolvimento da velocidade, não coincidem com os dias mais relevantes do trabalho efetuado relativo à coordenação motora, aspeto que deveria ter sido melhorado devido à forte interdependência existente para potencialização de um efeito complementar positivo na performance do atleta.

2º - Métodos competitivos (29%) Como já vimos anteriormente, a conceptualização e a aplicação dos métodos de treino competitivos consubstanciam uma adaptação funcional, quer individual, quer coletiva, mais completa, complexa e específica dos jogadores à realidade competitiva do jogo de futebol (Castelo, 2009). O elevado grau de identidade que este tipo de métodos tem com as particularidades únicas e caraterizadoras de uma competição oficial, tornam-no num meio de preparação essencial para o treinador, onde as suas vantagens operacionais são vastas, desde

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que estes sejam aplicados com critério significativo dentro da sessão de treino ou sequência de sessões de treino. A metodologia específica de treino de uma qualquer modalidade desportiva, suportase na programação e aplicação de métodos e meios de preparação que, recriem cenários e condições contextualmente similares àquelas que ocorrem durante a luta competitiva, isto é, que melhor se identificam com as condições reais de competição. A conceptualização e a aplicação de métodos de treino competitivos consubstanciam uma adaptação funcional, quer individual, bem como colectiva, mais completa, complexa e específica dos jogadores à realidade competitiva do jogo de futebol. Contribuindo, assim, com especial eficácia na harmonização entre as várias componentes do processo de treino, ajustando os factores de preparação de carácter individual, sectorial, intersetorial e da equipa. Promovendo-se a adaptação dos jogadores a uma constate e frequente alteração organizacional da equipa, bem como dos contextos situacionais de jogo. Estes métodos de treino são em tudo semelhantes à essência e natureza da competição do jogo de futebol, logo, são aqueles que mais se aproximam, do ponto de vista estrutural e funcional, das exigências e das condições reais inerentes à luta competitiva. Neste quadro, as ações de resolução das situações de jogo que derivam dos cenários inerentes à construção destes métodos de treino são suportadas por ações individuais, balizadas por um projeto coletivo e por imponderveis que advém da aleatoriedade, imprevisibilidade e transitoriedade do próprio jogo. As ações individuais e coletivas ganham um significado relativo, isto é, não surgem como objetivos em si mesmo, mas sim, como meios pelos quais os jogadores e a equipa materializem as suas intenções táticas e atitudes estratégicas, na procura de uma meta comum (Castelo, 2015b). Os objetivos a atingir por estes exercícios de treino são: (i) fomentar a aproximação das condições de treino às condições da competição, de forma a aperfeiçoar as atitudes e comportamentos tático/técnicos dos jogadores, (ii) articular os diferentes setores da equipa (defensivo, médio e ofensivo), com o intuito de melhorar o trabalho colectivo, (iii) avaliar o modelo de jogo estabelecido na sua globalidade, pondo-o à prova em diferentes condições competitivas, (iv) aperfeiçoar as relações intrínsecas entre os fatores de preparação da equipa, (v) experimentar o plano de jogo construído para a competição futura, de forma a aperfeiçoar as condições e as circunstâncias para a sua eficaz aplicação, (vi) testar as atitudes e temperamentos dos jogadores perante condições competitivas na qual têm de relacionar com verdadeiros adversários e árbitros, (vii) aproveitar para incutir ritmo competitivoa jogadores que, por qualquer razão, denotam atrasados na sua preparação relativamente aos restantes Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 109

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colegas e, (viii) criar condições para aumentar os níveis de confiança dos jogadores no desenvolvimento das suas ações em condições objetivas de jogo (Castelo, 2009).

Como já foi descrito anteriormente podemos subdividir este tipo de métodos em várias categorias possíveis. Estas subdivisões são predominantemente fruto de uma utilização criteriosa

das

condicionantes

estruturais

dos

exercícios

competitivos,

aplicando

constrangimentos de vários tipos nos atletas, nas tarefas ou no envolvimento que façam emergir os comportamentos individuais ou coletivos desejados pelo treinador. Analisando esse vasto espectro de subdivisões possíveis utilizadas ao longo da época desportiva, obtemos os seguintes resultados:

Competitivos (Subdivisões) / Plano Anual Percentagem

70

15

11 0 0 Fundamentais Função (Acção Dividindo o Em função das Controlo Em função do coletiva / tempo de jogo situações fixas tempo de jogo resultado Individual) em parciais 4

0 Número de toques

0 Desequilibrio númerico

Figura 27 – Análise global: percentagens relativas subdivisões dos métodos competitivos

Podemos constatar a importância dada fundamentalmente a duas variantes (Subdivisões): a) realizado sob as condições fundamentais da competição, no que diz respeito ao seu não condicionamento regulamentar, mas com possíveis adaptações interdependentes nos condicionantes, espaciais (espaço de jogo), numéricas (número de jogadores – igual para duas equipas) e temporais (tempo de jogo); b) Realização em função de uma determinada ação coletiva ou individual, definida pelo treinador. Relativamente à primeira opção, estes valores devem-se à preferência do treinador pelo jogo não condicionado em relação ao possível condicionamento regulamentar como método de ensino do modelo de jogo e método de treino. Este valor foi também inflacionado pelo fato de que no último mês antes da alteração Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 110

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na equipa técnica, o microciclo de treino foi constituído muitas vezes apenas situações competitivas fundamentais após o aquecimento. Está também inserido neste valor, o tempo de jogo de dois jogos de treino realizados com vista à preparação e avaliação da equipa para a competição. No que diz respeito à segunda opção, a justificação encontrada para este tempo de utilização prende se com a possibilidade de valorizar dentro do exercício competitivo, determinados comportamentos e rotinas individuais ou coletivos, de elevada compatibilidade estratégico-tática, que o treinador pretende que sejam desenvolvidos no seu modelo de jogo. Esta subdivisão teve o seu valor também inflacionado após a alteração da equipa técnica, onde passou de 2% para 15%.

É importante referir que por diversas vezes, a utilização do tipo de métodos competitivos (principalmente da subdivisão fundamental), constrangendo-os das mais variadas maneiras, sobre as ações dos jogadores ou equipa, no próprio envolvimento em que se desenrola o exercício ou nas tarefas a ele inerentes, foi a forma encontrada pela equipa técnica para motivar um grupo de trabalho que em diversos momentos apresentou um número reduzido de jogadores nas sessões de treino e que como já foi referido, era um grupo de trabalho todo ele amador. Não sendo o jogo de futebol, a sua profissão, este era ao mesmo tempo a sua paixão, logo fez sentido para a equipa técnica adotar esta opção metodológica numa tentativa de manter os níveis emocionais e motivacionais elevados.

3º - Métodos Manutenção da posse de bola (13%)

Em terceiro lugar nos métodos mais utilizados, ficaram os métodos de manutenção da posse de bola. A posse de bola é a capacidade do jogador ou equipa de estar no controlo da bola contra o adversário, com resultado em: habilidades, velocidade e confiança, apesar da pressão do adversário (Amuchie & Amodu, 2002). Por outras palavras, é a habilidade e a capacidade de jogadores de uma equipa para manter a posse de bola o maior tempo que puder, enquanto a equipa adversária tenta recuperar a posse de bola. A posse de bola tem de ser vista como o primeiro passo para o desenvolvimento e culminação do processo ofensivo. Usufruir da posse de bola é condição fundamental para a concretização dos objectivos fundamentais do ataque: a progressão/ finalização e, a manutenção de posse de bola. A manutenção da posse de bola pressupõe evitar o risco irracional presente em alguns jogadores que, em diferentes Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 111

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circunstâncias do jogo, perdem a posse de bola. Agindo desta forma, estes comprometem todo um esforço colectivo que, determinou a sua recuperação, bem como, todos os comportamentos de carácter ofensivo até esse momento executados (Castelo, 2009). Em função de um conjunto de circunstancialismos inerentes ao próprio jogo, independentemente da dimensão estratégica e táctica (plano) da equipa para essa partida, a resolução de diferentes contextos situacionais prever a impossibilidade temporária de se progredir ou, de se atacar a baliza adversária em condições que possibilitem, um sucesso mínimo aceitável. Neste sentido, não havendo ou não se percepcionando essas condições mínimas, os jogadores devem manter a posse de bola, de forma, a temporizar o processo ofensivo até que essas condições se reúnam. Assim, a maximização deste objectivo até que essas condições se reúnam. Assim, a maximização deste objectivo pressupõe: (i) avaliar e resolver as situações de jogo, em função do binómio risco/segurança, (ii) quebrar o ritmo de jogo do adversário e, (iii) controlar a iniciativa do jogo. (1) Avaliar e resolver as situações de jogo em função do binómio risco/segurança. Cada jogador quando intervém sobre a bola, deverá percepcionar e avaliar prognosticamente de forma realista, quais as vantagens e desvantagens, para os objectivos tácticos da sua equipa, da execução deste ou daquele comportamento. Assim, dentro de um leque mais ou menos largo de opções. É preferível uma acção táctico/técnica “a mais” do que, uma acção que entregue a bola ao adversário. Logo, uma determinada intervenção táctico/técnica pode não constituir a solução mais adequada para uma dada situação momentânea de jogo, mas permite à equipa manter a posse de bola que, é sempre um aspecto positivo. (2) Quebrar o ritmo do jogo adversário. Os jogadores deverão ter o sentido e a sensibilidade táctica de, em certas situações de jogo, terem que quebrar o ritmo de jogo do adversário. Para que isso aconteça, assumem comportamentos que, imprimam um ritmo mais conveniente à sua própria equipa. Ou, criar uma falsa noção de ritmo que, proporcione uma acentuação da iniciativa do ataque, através de acções colectivas realizadas em profundidade, aproximando-se da grande área adversária, a partir da qual se circula a bola em termos de largura, utilizando os jogadores dos sectores mais recuados. (3) Controlar a iniciativa do jogo. Assumir uma iniciativa constante e agressiva de jogo é um dos pressupostos fundamentais para: (i) surpreender o adversário, (ii) cansá-lo fisicamente, (iii) obriga-lo a jogar sobre uma grande pressão psicológica Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 112

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e, por último (iv) criar condições favoráveis, para que a equipa adversária evidencie situações de crise de raciocínio táctico. (Castelo, 2009).

Manutenção de posse de bola (Subdivisões) / Plano Anual Percentagem

42 29 15

6 Espaço Reduzido Espaço Reduzido (Manunteção) (Objetivos táticos)

Espaço Regulamentar (Manutenção)

8

Espaço Métodos de jogo Regulamentar (Objetivos táticos)

Figura 28 – Análise global: percentagens relativas subdivisões dos métodos competitivos

Através da análise do gráfico acima é possível observar a importância dada aos métodos de manutenção de posse de bola em espaços reduzidos. Esta subdivisão pretende fomentar a relação velocidade/ qualidade de decisão / execução através de áreas de jogo reduzidas e descontextualizadas. Ainda nesta subdivisão, a percentagem de exercícios realizada com objetivos táticos apresenta um valor superior (42%) em relação aos de manutenção (29%). Através deste método era pretendido fomentar a relação dos jogadores com a bola, a intensidade do passe e a velocidade de circulação da bola. A percentagem de exercícios de manutenção em espaços reduzidos – manutenção (29%), justifica-se uma vez que este tipo de exercícios foram executados geralmente, como complemento ao aquecimento, podendo também por vezes serem enquadrados na fase inicial da parte principal do treino.

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3x3 - 4x4 Estruturas dois setores Sem fora de jogo Após recuperação de posse, transição rápida para golo Limite de contatos com a bola por jogador

3+1 x 3+1 – 4+1 x 4+1 Estruturas de dois setores Sem fora de jogo Após recuperação de posse, passe longo para apoio em desmarcação de apoio e transição rápida de zona para finalizar

6+1 x 6+1 – 7+1 x 7+1 Estruturas de dois setores Sem fora de jogo Após recuperação de posse, passe longo para apoio em desmarcação de apoio e transição rápida de zona para finalizar numa das mini balizas

6x6 – 8x8 Estruturas de dois setores Sem fora de jogo Para finalizar numa das mini balizas terá de ser realizado um passe por entre uma porta de entrada Objetivos diferenciados entre as equipas Alternância jogo exterior / interior

Figura 29 – Métodos para manutenção da posse de bola (espaços reduzidos – objetivos táticos)

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O exemplo anterior (fig. 22), ajudar-nos-á resumidamente a compreender quatro exercícios padrão deste método (de entre vários utilizados durante a época), existindo um variado número de condicionantes em cada um dos exercícios - variantes de espaço, número envolvidos, apoios exteriores que adaptam o exercício às condições e necessidades circunstanciais da equipa sem perder a funcionalidade e objetivos inerentes à sua conceção fundamental. Todos os exercícios de manutenção da posse de bola foram operacionalizados em contextos potenciadores do desenvolvimento e aperfeiçoamento do nosso modelo de jogo, à excepção de alguns exercícios realizados no aquecimento que tinham como objetivo apenas complementar o aquecimento realizado e desenvolver a capacidade de decisão / ação tal como a intensidade do passe. Neste tipo de exercícios, não foi descurada a possibilidade de desenvolver e aperfeiçoar outros fatores de rendimento individual ou coletivo de cariz tático, técnico, fisíco ou psico-emocional, relacionados com o modelo de jogo da equipa. Perto do final da temporada a equipa apresentou um número muito reduzido de jogadores para treinar e os métodos de manutenção da posse de bola tiveram para além dos objetivos tático/técnicos, objetivos de cariz físico relacionado com o treino da resistência específica de jogo. Olhando para o trabalho realizado neste método ao longo da presente época, podemos concluir que este foi operacionalizado diversas vezes em condições descontextualizadas daquilo que é a lógica interna do jogo, como meio aperfeiçoador das ações técnicas dentro de um elevado constrangimento temporal ou espacial, mas devido ao nível técnico/tático do plantel e a baixa velocidade decisional, estes exercícios proporcionaram um estimulo ajustado à complexidade que os jogadores precisavam, tendo consciência que por vezes pode tornar o processo ofensivo da equipa pouco consequente, perdendo a posse de bola objectividade, retirando o caracter de a posse de bola ser um meio para atingir um fim.

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Métodos Setoriais (Sincronização das acções dos jogadores pertencentes a um mesmo sector, bem como a sua interacção com os demais sectores da equipa)

Métodos Setoriais (Subdivisões) Articulação Intra-setorial (1 setor)

7% 40%

Sobre 2 ou 3 setores de jogo

35% Secundados por métodos de jogo ofensivos 18%

Objetivos estratégicos e táticos multiplos

Em espaços regulamentares (Org. coletiva) Figura 30 – Análise global: Percentagens relativas das subdivisões dos métodos setoriais

Existiu uma predominância dos métodos sectoriais realizados sobre dois ou três setores de jogo. Este tipo de exercícios caracterizam-se por uma preocupação com a interação de um grupo de jogadores não apenas dentro de um mesmo setor de jogo mas também comunicação com outros setores de jogo. O exercício seguinte foi um dos mais utilizados com representatividade desse tipo de metodologia:

Figura 31 - Métodos de treino setoriais: Exemplo exercício sobre dois ou três setores de jogo

GR+10 x 10+GR – As equipas jogam tentando alcançar o objetivo do jogo respeitando as condicionante definidas pelo treinador. Trabalho de ligação sectorial (Defesa-Meio campo / Meio campo - Ataque). Subida dos defesas laterais para setor médio; Movimentos de apoio do médio defensivo no setor defensivo; Movimentos de apoio dos dois avançados (alternado) no setor médio. Ocupação de dois setores no processo defensivo (Setor defensivo e médio). Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 116

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Métodos para a concretização do objetivo do jogo (finalização)

Finalização (Subdivisões) Individualizados 33%

25% 0%

Após combinação tática Circuito

42%

Nº reduzido de jogadores e espaço

Figura 32 – Análise global: Percentagens relativas das subdivisões dos métodos de finalização

Existiu uma predominância dos métodos de finalização realizados em circuito. Este tipo de exercícios caracterizam-se por serem moldados através de um desenho padronizado de um conjunto de estações comportando ações e comportamentos diferenciados ou semelhantes, mais ou menos complexos, que objectivam a finalização, e que os jogadores têm de realizar continuamente, com tempos de recuperação curtos e ativos, assegurando uma elevada densidade de solicitação motora/mental. O exercício seguinte foi um dos mais utilizados com representatividade desse tipo de metodologia:

Finalização (Circuito) 1x0+GR / 1x1+GR Exercício realizado em circuito. Os jogadores realizam ações de drible, passe longo e finalização. Finalização realizada sem oposição após receção orientada para a baliza e progressão prosseguida de um drible sobre dois obstáculos. Finalização realizada após situação de confronto 1x1 (variações do tipo de oposição entre passiva e ativa)

Figura 33 - Métodos de treino de finalização: Exemplo exercício em espaço reduzido com número reduzido de jogadores

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2 - Análise Macro – Comparação dos métodos de treino utilizados entre o período pré competitivo e período competitivo O quadro e gráfico abaixo apresentados, expõem resumidamente a atividade da equipa, quer nos momentos de preparação quer nos momentos de competição, ao longo da época desportiva, separando a atividade em período pré-competitivo do período competitivo. Não está contemplado nenhum período transitório, pois ao longo da época desportiva, não existiram períodos significativos de paragem entre períodos de competição. Tabela 16 - Comparação geral período pré competitivo com período competitivo

3 12 0 4 4 990 0 360 360

73.3 0 26.6 26.6

Período Competiti vo 18 de Agosto a 18 de Janeiro 22 67 22 2 24 5440 1980 180 2160

1350

100

7600

Período Pré Competitivo

Calendarização Microciclos Sessões de treino Oficial Competição Não oficial Total Minutos de treino Oficial Minutos de Não oficial competição Total Tempo total (treino + competição) Volume Sessão de treino (média)

%

28 de Julho a 16 de Agosto

83

%

Total

71.6 26 2 28

25 79 22 6 28 6430 1980 540 2520

100

8950

81

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Treino / Competição (Pré Competitivo / Competitivo) % 80 70

73,3 71,6

60 50 40

Pré Competitivo

28

30

26

26,6

20

26,6

Competitivo

10 0 Treino

0 Competição oficial

2 Competição não Competição Total oficial

Figura 34 – Comparação entre período pré competitivo e competitivo

Os resultados em cima apresentados, de uma forma geral, indicam que existe uma aproximação relativa entre os dois períodos, naquilo que são os tempos utilizados em preparação para a competição (treino) e a competição propriamente dita. Esta constatação vai de encontro ao que defende Aroso (2010) citado por Almeida (2014), que diz que o período pré competitivo, deve ser feito seguindo os princípios de progressividade e adaptabilidade aos exercícios de treino, às sessões de treino, às competições e aos microciclos de treino que são caraterizadores e orientadores do período competitivo. Ao analisarmos o volume médio das sessões de treino entre os dois períodos de treino, constatamos que este desceu na passagem do período pré competitivo para o período competitivo. Nesta lógica, faz sentido compararmos os vários métodos utilizados quer num período quer no outro. Os resultados relacionados com a dimensão horizontal da taxonomia estão abaixo representados:

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Métodos de treino (Dimensão horizontal) / Período pré competitivo x Período competitivo 60 50 40 MPG 30

MEPG MEP

20 10 0 Período pré competitivo (%)

Período competitivo (%)

Figura 35 – Análise macro: Percentagens relativas dimensão horizontal

Como podemos verificar, existe uma oscilação ocorrente entre as percentagens das categorias da dimensão horizontal da taxonomia classificativa dos métodos de treino, entre o período pré competitivo e o período competitivo. Estes resultados não vão de acordo com a ideia realçada anteriormente pela maioria dos autores referenciados na revisão bibliográfica, relacionada com a necessidade de aproximação metodológica entre os dois períodos de trabalho, ou até mesmo com a sua dissolução conceptual. É possível concluir que houve uma alteração dos métodos mais utilizados no período pré competitivo para o período competitivo, sendo que no primeiro os MPG foram os métodos mais utilizados, passando depois a ser os MEP os métodos mais utilizados durante o período competitivo. Este facto mostra que durante o período pré competitivo a principal preocupação foi preparar a equipa em termos físicos, individual e colectivamente, passando no período competitivo a dar mais importância ao trabalho de organização individual e coletiva da equipa potenciando o modelo de jogo da mesma. Na perspectiva da utilização dos MPG, verificou-se uma variação como referido anteriormente, indo de encontro a uma metodologia tradicional ou convencional. Sendo nos MEP que verificamos a maior alteração das percentagens de trabalho entre os dois períodos, passamos a nossa análise metodológica para um plano mais micro, analisando as várias dimensões específicas inerentes a macro família dos MEP.

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MEP Período pré competitivo x Período competitivo 40 35 30 25 20 15 10 5 0

34 28,1

9,76

9,46 2,1

2,79 0

2,1 1,7 0

Período pré competitivo (%) 0

1,13

Período competitivo (%)

Figura 36 – Análise Macro: Percentagens relativas subdivisões métodos específicos de preparação

Como podemos observar no gráfico acima, existem algumas diferenças quanto aos métodos de treino nos dois macro períodos da época. Esta circunstância vai contra a ideia defendida por vários autores de que logo a partir dos primeiros microciclos de treino, deverá haver uma identificação gradual e progressiva com os exercícios de treino que servirão de base a todo o trabalho que será realizado durante a época desportiva. Segundo Castelo (2009), com o princípio da ciclicidade, o aumento das capacidades funcionais dos jogadores, que corresponderá por inerência ao melhoramento do seu rendimento desportivo, tem um carácter cíclico, assim como a estrutura (objetivos, conteúdo, forma, etc.) dos exercícios ou séries de exercícios que constituem as sessões de treino necessárias para o atingir. Assim, torna-se essencial instituir um padrão de trabalho desde o início, estabilizando a forma de trabalho, horários, treino, recuperações e conteúdos. Ao observar o gráfico 11, os valores relativos aos métodos competitivos surgem como o elemento central para a optimização do modelo de jogo nos dois macro períodos da época. O método sectorial apresenta no período pré competitivo um valor de 0%, passando no período competitivo para 9,76%. Após analisar este valor podemos concluir que o trabalho sectorial deveria ter tido uma maior importância no período pré competitivo para depois no período competitivo dar continuidade ao trabalho desenvolvido anteriormente, não passando de um trabalho não utilizado para o segundo trabalho mais utilizado dentro dos MEP. Os métodos metaespecializados passam de um valor nulo de utilização para um valor de 2,79%, sendo que após analisar em detalhe este método conclui-se que apenas foi utilizado nas Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 121

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últimas seis semanas da época, numa altura em que surgiu a necessidade de alterar o sistema tático principal da equipa já com a nova equipa técnica em vigor. Os esquemas táticos também são um trabalho que deixa de ter uma percentagem nula no período pré competitivo e passa a ter um valor reduzido de 1,13%. Após analisar em detalhe esta micro família de trabalho dentro dos MEP, constatamos que também foi utilizado apenas nas últimas seis semanas da época desportiva. A opção do treinador de não trabalhar este tipo de exercícios no período pré competitivo e no período competitivo deve-se ao facto de a equipa dispor de pouco tempo para preparar a competição, logo este tipo de exercício tinha um grau de importância na preparação menor do que os exercícios competitivos que eram o método preferencial para potenciar os comportamentos e posturas dos jogadores e da equipa em relação ao modelo de jogo.

3 - Análise Micro - Número e Tipo de Microciclos e Sessões de Treino Foram conceptualizados e operacionalizados 25 microciclos de treino, tendo efetuado um total de 79 sessões de treino. O número de treinos por microciclo variou entre 3 e 4. A média de treinos por microciclo foi de 3.

Número de treinos por microciclo 5 4 4 4 4 Nº de treinos

4 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 2

Treinos

1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 Microciclos Figura 37 – Número de treinos efetuados por microciclo

Como é possível observar através da análise do gráfico em cima, o período pré competitivo é o período com mais sessões de treino por microciclo, sendo que no período competitivo apenas no primeiro microciclo (microciclo 4) a equipa realizou quatro sessões de treino. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 122

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Realizando uma distinção dos dias de treino disponíveis para treinar, considerando a sua distância temporal à competição, podemos enquadrar um mínimo de três tipos de dias distintos: (i) recuperação pós-jogo, (ii) operacionalização aquisitiva e (iii) véspera de jogo.

Dias de treino discriminados pela distância à competição 27

31 21

Recuperação Pós Jogo

Operacionalização aquisitiva

Véspera de Jogo

Figura 38 – Volume total de dias de treino discriminados pela distância à competição

Podemos verificar, das 79 sessões de treino efetuadas, 27 sessões (34,2%) foram de recuperação pós-jogo, 31 sessões (39,2%) foram de operacionalização aquisitiva e 21 sessões (26,6%) foram de véspera de jogo.

4 - Análise Micro – Definição de um microciclo tipo, representativo dos métodos de treino mais utilizados para cada dia semanal Ao longo da época desportiva 2014-2015, os microciclos de trabalho da equipa do Clube Atlético Riachense, foram muitos constantes, fruto das datas referentes aos momentos de competição serem sempre ao mesmo dia e devido ao facto de o plantel ser amador e da necessidade de organização dos jogadores da sua vida profissional fora do clube. O gráfico seguinte sintetiza a globalidade dos microciclos de trabalho na relação existente entre os momentos de preparação (treino), competição e descanso (folga):

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Período competitivo - Microciclo semanal (Treino / Competição / Folga %) 100 90

Percentagens %

80 70 60

Total Treino %

50

Total Competição %

40

Folgas %

30

20 10 0 2ª Feira 3ª Feira 4ª Feira 5ª Feira 6ª Feira Sábado Domingo Figura 39 – Caraterização geral tipologia microciclo competitivo (distribuição treino/competição/folgas)

Período pré competitivo - Microciclo semanal (Treino / Competição / Folga %) 60

Percentagens %

50 40 Total Treino % 30

Total Competição %

20

Folgas %

10 0

2ª Feira 3ª Feira 4ª Feira 5ª Feira 6ª Feira Sábado Domingo Figura 40 – Caraterização geral tipologia microciclo pré competitivo (distribuição treino/competição/folgas)

Como podemos observar, no período competitivo o dia primordial de competição foi o Domingo, sendo que a quinta-feira apresenta uma percentagem muito diminuta de competições, isto, deve-se ao fato de a competição no Campeonato Nacional de Seniores ser sempre disputada ao Domingo (salvo alterações requeridas pelos clubes) e também os quatro jogos relativos à Taça de Portugal se realizaram ao Domingo. Os dias mais preenchidos com

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sessões de treino foram os de terça-feira, quinta-feira e sexta-feira. Os dias em que foram concedidas mais folgas foram os de segunda-feira, quarta-feira e sábado. No período pré competitivo, é de destacar uma maior heterogeneidade na distribuição dos momentos de competição pelos dias de quarta-feira, sábado e domingo. Os dias predominantes de treino mantiveram-se nos dias de terça-feira, quinta-feira e sexta-feira, mas a quarta-feira apresenta um valor próximo dos três referidos anteriormente. As folgas concedidas foram predominantemente à segunda-feira e ao domingo. Através da análise dos gráficos podemos referir que devido ao elevado número de competições ao domingo no período competitivo, as competições no período pré competitivo poderiam ter sido organizadas de forma diferente privilegiando o domingo em função do sábado para a realização das mesmas de modo a ir de encontro ao microciclo tipo do período competitivo logo desde o início do período pré competitivo.

Análise diária da Dimensão Vertical De seguida irá ser analisada a dimensão vertical tendo em conta os dias mais representativos dos dias de treino da equipa, a terça-feira, a quinta-feira e a sexta feira.

Dimensão vertical - Distribuição de utilização no microciclo

3ª Feira 5ª Feira 6ª Feira

Figura 41 – Percentagens relativas métodos de treino num microciclo tipo (Dimensão vertical)

Como é possível analisar no gráfico acima os métodos utilizados preferencialmente no treino de terça-feira, são os métodos gerais, de aperfeiçoamento técnico e os sectoriais, sendo Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 125

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que os métodos em circuito e lúdico recreativos que apresentam valores muito reduzidos de utilização como constatado em cima, apenas foram realizados no treino de terça-feira. Quando analisamos os treinos de quinta-feira é possível identificar os métodos utilizados preferencialmente neste dia, sendo estes: os métodos metaepecializados, os competitivos e os de manutenção da posse de bola. Relativamente aos treinos de sexta-feira, é possível concluir que este dia foi utilizado preferencialmente para treinar os métodos: de esquemas táticos, os de finalização, os padronizados e os competitivos. Segundo Castelo (2009) os exercícios de aperfeiçoamento técnico relativamente ao microciclo semanal de preparação, a aplicação destes exercícios de treino deve situar-se predominantemente nas sessões logo após a competição, diminuindo a taxa de utilização consoante a aproximação à competição seguinte. Quanto aos exercícios de manutenção da posse de bola, Castelo (2009) refere que relativamente ao microciclo semanal de treino, não existem momentos mais ou menos apropriados para a sua utilização. Em relação ao microciclo semanal de treino, os exercícios em circuito devem ser fundamentalmente utilizados no primeiro ou segundo dia de trabalho depois da competição, sendo totalmente desaconselhado a sua utilização nas restantes sessões de treino (Castelo, 2009). Os exercício lúdico-recreativos no que se refere ao microciclo semanal de trabalho, Castelo (2009) refere que estes devem basicamente posicionar-se na sessão de treino anterior ou, imediatamente posterior à competição, sendo que a sua utilização fora deste contexto particular, somente deve derivar do fato da existência de sessões de treino duplas em que, a concentração de fadiga nos jogadores é elevada, possibilitando formas lúdicas de recuperação ativa. Quanto aos exercícios de finalização, no que concerne ao microciclo de preparação da equipa, estes devem ser aplicados em todas as sessões de treino variando de um nível de complexidade menos no início da semana (preocupação no aperfeiçoamento dos pontos críticos da ação) e de maior complexidade (aproximação às condições reais de jogo) à medida que se aproxima da competição (Castelo, 2009). Relativamente aos exercícios metaespecializados, estes devem ser aplicados fundamentalmente nas primeiras três sessões de trabalho, diminuindo a sua utilização à medida que se aproxima da competição (Castelo, 2009). Os exercícios padronizados, no que concerne à sua utilização no microciclo semanal de preparação da equipa, esta deve situar-se predominantemente nas primeiras três a quatro sessões, logo após a competição, diminuindo a sua taxa de utilização, consoante a aproximação à competição seguinte (Castelo, 2009). A utilização dos exercícios de setores no microciclo semanal de preparação deve ser fundamentalmente na segunda ou terceira sessão de trabalho aumentando Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 126

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a sua preponderância à medida que se aproxima da competição (Castelo, 2009). Quanto aos exercícios que promovam as situações fixas de jogo, a utilização dos mesmos deve situar-se de forma predominante nas últimas três sessões de trabalho, isto no plano coletivo, sendo que no plano individual é aconselhável que os jogadores, que normalmente repõem a bola em jogo, pratiquem um pouco todos os dias (Castelo, 2009). Por ultimo, relativamente aos exercícios competitivos, Castelo (2009) refere que estes exercícios de treino podem ser aplicados no máximo uma vez por semana, numa sessão de trabalho suficientemente distante da competição anterior da competição futura. Tabela 17 - Resumo dos diferentes exercícios analisados e os momentos mais apropriados para a sua aplicação relativamente aos dias que compõem o microciclo de preparação da equipa. Adaptado de Castelo (2009)

Competitivos

Esquemas Táticos

Setores

Padronizados

Metaespecializados

Finalização

MEP

L-R

Circuito

Manutenção posse bola

Microciclo semanal de prepara de uma equipa para a competição

Aperfeiçoamento

MEPG

Competição anterior 1º dia de treino 2º dia de treino 3º dia de treino 4º dia de treino 5º dia de treino Competição futura Para comparar o trabalho realizado durante a época desportiva do Clube Atlético Riachense com as referências do autor acima temos em primeiro lugar de adaptar o conhecimento, pois a equipado CAR apenas realizava três sessões de treino por semana e com dias fixos (terça-feira, quinta-feira e sexta-feira). Os exercícios de aperfeiçoamento foram realizados maioritariamente à terça-feira, sendo que este é o primeiro treino da semana para a equipa, logo, foi um exercício bem aplicado durante a época, apesar de aparecer uma ligeira percentagem à quinta-feira no penúltimo treino do microciclo semanal e, aqui sim esta pequena percentagem podemos considerar que não foi bem aplicada. Os exercícios de manutenção de posse de bola aparecem com uma distribuição quase equitativa pelos três treinos da semana com uma maior percentagem no treino de quinta-feira, sendo assim, tendo Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 127

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em conta o autor referido, estes exercícios foram aplicados de forma correta durante a época desportiva. Os exercícios em circuito e os exercícios lúdico-recreativos apenas foram utilizados na primeira sessão de treino da semana, apesar de ser o segundo dia de treino após a competição, tendo em conta o fato de ser o primeiro treino, podemos afirmar que foram aplicados de forma correta. Os exercícios relativos à finalização apresentam o seu valor mais alto no treino de sexta-feira, com a terça-feira em seguida e a quinta-feira a ser o dia com menos aplicação deste tipo de exercícios. Segundo o autor acima referido a aplicação nos três dias está correta, mas é de ressalvar que quanto ao tipo de complexidade dos exercícios utilizados, a complexidade foi sempre baixa, longe das condições reais do jogo, não indo de encontro ao autor. Relativamente aos exercícios metaespecializados estes foram aplicados apenas nos treinos de quinta-feira e de sexta-feira, sendo que a quinta-feira foi o dia com maior aplicação deste tipo de exercícios. Tendo em conta mais uma vez a adaptação ao contexto da equipa do CAR, a aplicação dos exercícios metaespecializados no treino de quinta-feira podemos considerar que é correta pois é o segundo treino do microciclo, mas a aplicação no treino de sexta-feira não foi correta devido à aproximação da competição como refere Castelo (2009). Os exercícios padronizados apresentam o seu valor mais alto nos treinos de sexta-feira e depois no treino de quinta-feira, sendo que nunca foram utilizados no treino de terça-feira. Utilizando a bibliografia acima referida, a aplicação elevada deste tipo de exercícios no treino de sexta-feira foi incorreta, apesar de mais uma vez tendo em conta o contexto da equipa, a aplicação no treino de quinta-feira considero correta. Quanto aos exercícios sectoriais, é possível verificar que a sua utilização é descendente ao longo da semana, sendo a terça-feira o dia com maior aplicação destes exercícios, de seguida a quintafeira e por último a sexta-feira. Mais uma vez, recorrendo ao autor descrito, podemos concluir que estes exercícios foram aplicados de forma incorreta, sendo que a ordem da aplicação dos mesmos deveria ser ascendente, com uma maior utilização no último treino do microciclo e podendo mesmo começar a ser aplicado apenas na quinta-feira e tornar nula ou quase nula a aplicação deste tipo de exercícios no primeiro treino da semana (terça-feira). Os exercícios competitivos foram aplicados com uma distribuição pelas três sessões de treino, sendo que no primeiro treino da semana (terça-feira) apresenta o valor mais reduzido, à quinta-feira a percentagem de aplicação mais alta e a sexta-feira como o segundo dia com a maior percentagem de aplicação. A aplicação deste tipo de exercícios foi incorreta ao longo da época, tendo vários microciclos a utilização destes exercícios nas três sessões de treino e, também a elevada percentagem na última sessão do microciclo se apresenta como um aspecto Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 128

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negativo na sua aplicação. Considerando o treino de quinta-feira como o treino mais distante da competição anterior e da posterior, a aplicação deste tipo de exercício nessa sessão de treino é correta. 4.1 - Microciclos representativos dos métodos de treino mais utilizados 4.1.1 - Microciclo tipo com 2 momentos de competição

Manhã

Tarde

Domingo

2ª Feira

3ª Feira

4ª Feira

5ª Feira

6ª Feira

Sábado

Domingo

Descanso

Folga

Folga

Folga

Folga

Folga

Folga

Descanso

Folga

▪ MPG (Resistência / Força) ▪ Manutenção Posse de Bola (espaços reduzidos com obj. táticos e manutenção) ▪ Finaliazção (nº reduzido de jogadores e espaço)

Folga

Jogo

Jogo

Folga

▪ MPG (Resistência) ▪ Setoriais (sobre 2 ou 3 ▪ Padronizados setores de ▪ Finaliazção jogo) (nº reduzido de ▪ Competitivos jogadores e (práticas do espaço) jogo em ▪ Competitivos situações próximas do real)

Durante toda a época desportiva, a equipa disputou todas as competições oficiais ao Domingo o que levou a que não existisse alterações nos dias de treino. Houve apenas um momento na época onde o microciclo sofreu alterações nos dias de treino devido às festividades da época (Natal e Ano Novo) onde a equipa treinou na segunda-feira, na quintafeira e na sexta-feira, jogando na mesma ao domingo.

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5 - Conclusões Fazendo uma análise geral e reflexão ao trabalho elaborado, posso realizar as seguintes constatações finais:

- O controlo e a análise do treino são ferramentas imprescindíveis para o sucesso do trabalho do treinador. A consciência do que foi operacionalizado permite ao treinador reflectir sobre o seu trabalho diário e procurar melhorar treino após treino em busca de uma melhor performance coletiva e individual e de resultados desportivos positivos;

- A dimensão tática é a referência de todo o processo de treino, sendo as restantes dimensões um suporte da mesma;

- O Modelo de jogo assume-se como o aspeto central que define todo o processo de treino;

- As potencialidades do exercício de treino, como ferramenta operacional para a concretização das intencionalidades do treinador e optimização do modelo de jogo, constituem-se como uma certeza;

- A intervenção do treinador no processo tem uma importância chave ao longo da época desportiva, assumindo-se como líder do mesmo e fazendo com que as coisas aconteçam em função dos objetivos definidos para a sua forma de jogar;

- A constituição de uma taxonomia de exercícios de treino para o jogo de futebol, traz enormes benefícios à comunidade profissional relacionada com esta área, na medida em que estabelece uma linguagem comum e um conhecimento teórico-prático fundamental de base, que reflecte as situações mais representativas a desenvolver na relação do binómio treinocompetição. Parece importante que cada treinador, após perceber os pressupostos das diferentes taxonomias publicadas, consiga adaptar o seu processo de treino, na direção da maior funcionalidade possível dentro do contexto do próprio clube/equipa;

- Uma das virtudes da taxonomia utilizada, prende-se com a imprescindibilidade de perceber a forma como os diferentes métodos de treino, apesar de descenderem de um elemento comum que é a competição, podem interagir naquilo que é a sua volatilidade, diferenciação e Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 130

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exclusividade funcional. O treinador ao conseguir entender as várias subdivisões dos métodos de treino, que operacionalizam as interações acima referidas, consegue tornar o exercício de treino mais adaptável e mais reativo, que por sua vez se torna mais funcional na estimulação ótima das necessidades da sua equipa e também na resposta imediata ao surgimento de possíveis fatores externos que possam de algum modo condicionar a dinâmica do treino;

- Não menos fundamental no processo de treino, a utilização das condicionantes estruturais do exercício de treino como ferramenta metodológica, de forma a constranger o exercício e fazer emergir os comportamentos individuais ou colectivos que o treinador deseja. Esta ferramenta foi utilizada ao longo da época com vários fins de cariz conceptual e estratégico, de forma individual ou coletiva, perspetivando a estimulação integrada de todos os fatores de rendimento: técnico, tático, físico e psicoemocional;

- Da análise global efetuada à utilização dos métodos de treino ao longo da época desportiva, verificamos uma predominância da utilização dos métodos específicos de preparação, representados essencialmente pelos métodos competitivos e em seguida pelos de finalização e logo de seguida pelos setoriais. Esta constatação vai de encontro à necessidade demonstrada na revisão de literatura em que os MEP são os exercícios que maior aproximação fazem às lógicas e características do jogo de futebol, sendo os métodos preferenciais na optimização do modelo de jogo conceptualizado. A exploração das virtudes deste tipo de métodos, na manipulação e articulação criteriosa das suas subdivisões, foi uma ferramenta metodológica determinante, na criação de contextos de prática estimulantes, com elevada transferência funcional para as situações de competição. A introdução de oposição no exercício, sob diferentes sistemas de complexidade, poderia ter sido mais aproveitada pela equipa técnica, como forma de concretizar esta ideia, tendo em conta que os exercícios de finalização por exemplo foram quase sempre realizados sem oposição, desvirtuando algumas leituras do meio envolvente que o atleta tem de ter em conta no momento de finalizar. Ao não adoptar a postura metodológica referida anteriormente, o trabalho foi aplicado para todos os atletas da mesma forma e ao longo dos microciclos de trabalho também sem alterações, não correspondendo as carências técnico-táticas-estratégicas mais significativas apresentadas pela equipa. Tendo em conta a heterogeneidade da composição da equipa que se traduziu na também heterogeneidade dos minutos de jogo por jogador da equipa, a utilização de exercícios com baixa complexidade poderia servir para aumentar os níveis de confiança e Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 131

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satisfação do um grupo de jogadores que sabiam que muito provavelmente não seriam primeira opção para jogar, pois os exercícios de menor complexidade têm uma maior possibilidade de os jogadores terem sucesso nas suas ações.

- Exercícios de setores e metaespecializados apresentam conforme os dados indicam percentagens de aplicação muito baixas, factor que deveria ser diferente, pois estes dois tipos de exercícios têm um papel na operacionalização das rotinas e padrões de jogo que se pretendem melhor identificáveis do modelo de jogo, devendo funcionar como uma primeira fase de uma progressão e evolução metodológica dos exercícios como contemplamos da dimensão diagonal dos métodos de treino para os exercícios competitivos;

- De realçar igualmente, é a grande percentagem de utilização dos métodos de preparação geral como complemento fundamental do processo de treino quer nas fases de preparação, transição ou recuperação do esforço despendido em exercício. Olhando para a dimensão vertical este método conta com a maior percentagem de aplicação em treino. Durante a época desportiva o treinador demonstrou sempre um grande interesse em trabalhar de forma isolada as capacidades motoras, principalmente a resistência e de seguida a força. A aplicação destes métodos tanto no período pré competitivo como no período competitivo estavam sempre relacionados com a aquisição de capacidade condicional que servisse de suporte à performance específica do atleta em competição. O foco elevado no treino da resistência de forma isolada, sem a introdução da bola ou do objetivo do jogo, levou a alguma desmotivação no processo de treino. Durante a aplicação destes exercícios, houve uma despreocupação total em introduzir na sua operacionalização a ação técnica ou uma estimulação do sistema nervoso central através da tomada de decisão;

- Respetivamente à periodização da época desportiva, e de como esta influenciou o processo metodológico da equipa, podemos sintetizar as seguintes constatações: existiram diferenças entre os valores relativos de utilização dos métodos de treino (dimensão horizontal) entre o período pré competitivo e período competitivo, o que não revela uma preocupação em criar hábitos e rotinas dentro do grupo de trabalho. No período pré competitivo existiu uma grande preocupação em preparar a equipa em termos físicos, individual e colectivamente, trabalhando de forma isolada as capacidades motoras. Este aspeto manteve-se durante o período competitivo, mas a sua taxa de aplicação reduziu, passando no período competitivo o Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 132

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treinador a dar mais importância ao trabalho de organização individual e coletiva da equipa potenciando o modelo de jogo da mesma através dos exercícios competitivos que foram em ambos os períodos o elemento central na optimização do modelo de jogo. Analisando os exercícios setoriais podemos observar que este passa de uma percentagem de 0% no período pré competitivo para uma percentagem de 9,76% no período competitivo, não mostrando uma preocupação mais uma vez em criar hábitos e rotinas dentro do grupo de trabalho. Seria preferível focar a preparação da equipa de uma forma evolutiva e gradual no que diz respeito à complexidade, de induzir na equipa as ideias de jogo desejadas, permitindo uma abordagem mais fechada na sua decisão-ação para uma abordagem mais aberta do ponto de vista da decisão, com um número elevado de possibilidades de exploração do meio envolvente;

- O número de treinos destinados à operacionalização aquisitiva durante a época desportiva foi superior ao número de treinos de recuperação após jogo e de véspera de jogo o que permitiu operacionalizar o modelo de jogo da equipa; 

- Na definição do microciclo tipo, surgem alguns elementos que contribuíram para que não exista diferenciação de mais do que um microciclo, tais como: o fato de a competição ser sempre no mesmo dia (domingo), não existindo nenhum momento de competição (à excepção do período pré competitivo) em que o microciclo contasse com três competições e, o contexto do clube em que o plantel era constituído totalmente por jogadores amadores com outras ocupações profissionais para além da ligação ao Clube Atlético Riachense que levou à necessidade do estabelecimento dos dias de treino sem alterações e de apenas três sessões por microciclo. O microciclo tipo não apresentou diferenças significativas ao longo da época desportiva. Apesar do largo abrangimento operacional que as subdivisões dos MEP oferecem em conjunto com a criteriosa utilização das condicionantes estruturais do exercício, esta não foi a forma como o treino foi adaptado às necessidades circunstanciais da equipa, servindo de exemplo para o referido, que se olharmos para o tipo de exercício mais utilizado para a operacionalização do modelo de jogo (competitivos) e analisarmos as suas subdivisões e a sua aplicação na época desportiva, concluímos que os exercícios competitivos fundamentais apresentam uma taxa de 70% de aplicação. No que diz respeito à forma de encarar a recuperação após esforço, não existiram diferenças ao longo da época desportiva. Os treinos relativos à recuperação após esforço basearam-se na adaptação estrutural dos MEPG (manutenção de posse de bola), MPG (resistência e força) e nos MEP (finalização); Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias- Faculdade de Educação Física e Desporto 133

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- A realização deste trabalho num contexto desportivo amador, permitiu-me perceber e entender em muitas situações o futebol no seu estado mais genuíno, onde o prazer pela prática e o sentido de fazer parte de algo tem de ser uma preocupação constante do treinador perante o seu plantel e, não menos importante permitiu-me desenvolver a capacidade de adaptação constante às mais diversas contrariedades que o clube e a equipa passaram durante a época desportiva;

- A produção deste trabalho, reforça a importância fundamental que tem para a função profissional de um treinador de futebol, ser detentor de um vasto conhecimento teórico relativamente ao processo de planeamento, materializado numa capacidade de operacionalizar de forma dinâmica no plano prático sobre o campo de treino e suportada na necessidade de constantemente reflectir sobre a realidade teórico-prática, permitindo um aumento do seu conhecimento específico sobre este fenómeno desportivo tão complexo e com um grau de incerteza muito elevado relativamente ao rendimento.

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